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Tuesday, January 26, 2010

23602

Tudo quanto penso

Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.

Fernando Pessoa

Deveras no que penso sou inteiro
E nada impedirá tal pensamento,
Vivendo imensamente este momento,
Jamais eu mudaria este tinteiro
Deserto em que mergulho, verdadeiro,
É o que decerto sou, e sem alento,
Tampouco no não ser eu me atormento,
Onde jamais estou, nisto me inteiro.
Sem nada a estar nem ter prossigo ali,
Da vida que por certo eu já vivi
Areia muitas vezes peneirada.
Numa extensão parada, vagos sigo
Na imensidão do nada, se prossigo,
Apenas adivinho a ferroada...

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