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Monday, February 1, 2010

23996

Plenilunio

Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencórea lua,
Também envolta num sudário - a Dor,
Minh'alma triste pelos céus flutua!

Augusto dos Anjos

Eu trago dentro da alma a solidão de quem
Durante a vida inteira à espera de um carinho,
Mortalha feita em dor; prossigo tão sozinho,
Olhando com cuidado, eu sei que ninguém vem.

Mergulho no passado e sinto a voz de alguém,
No encanto deste canto entrego-me, mansinho,
E quando em farto brilho, eu deito e já me aninho,
O sol adentra o quarto e não vejo ninguém...

Uma alma entristecida aguardando o final,
A lua se deitando e pálida; invernal
Expõe minha nudez e assim enlouquecido,

Percebo o quanto a dor espalha-se em meu quarto
E quando da esperança, ao fim eu já me aparto,
Eu penso que é melhor não ter sequer nascido...

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