0001
Andréia...
O mundo não me trouxe tais respostas,
Aguardo calmamente este desfecho.
Chicotes vão lanhando as minhas costas,
Na luz dos meus amores, nenhum fecho...
Quem dera minha sorte sem desleixo,
Quem dera meu destino, vida em postas,
O peso desta vida, não me queixo.
Queria só saber se tu me gostas!
Apostas que já fiz, perdi de vista.
Amor não é nenhuma panacéia...
Não creio em sentimento que resista
Aos ventos e tempestas da saudade...
A noite de meus sonhos, claridade
Encontra nos teus olhos, linda Andréia...
0002
Ângela
Noite vem outra vez, me encontra só...
Os raios deste sol não me aqueceram.
A vida se refaz, retorno ao pó
A sorte e meus amores me esqueceram...
Destino tão cruel quanto o de Lot,
As rodas da fortuna se perderam.
Quem quis da vida festa e pão de ló
Já sabe que alvoradas não romperam.
No fundo se perdeu, sem despedida...
Saudade que já tive e não trarei.
A morte vem tecendo sua lei,
Desfeita a liberdade, morte em vida...
No peito o frio vago nega a vela,
Só Ângela, num anjo se revela...
0003
ANA
ANA: cheia de graça.
Vinda da noite estrela que me guia,
Seu brilho transformando minha vida.
O canto desta noite, fantasia,
A lua não pretende despedida.
Nos olhos dos cometas, ventania,
Minha alma, em desalento, vai perdida.
Silêncio nos amantes, noite fria,
A noite vai morrendo, amanhecida...
Embora tão distante, dos meus braços,
O canto que se escuta, não disfarça.
Teu rosto nos espaços, finos traços...
Coretos alegrando plena praça,
Em gracioso desejo, branca garça.
Vai Ana, caminhando, plena graça!
0004
ANGÉLICA
ANGÉLICA: pura como um anjo.
Celestiais delírios dum poeta!
Compostos de ilusão e de tormento.
A vida se perdendo em nova meta:
Caminho que me leve o pensamento.
No mundo tantas vezes fui asceta,
Distâncias percorri, amado vento.
Tentando ser teu arco, fui a seta.
Amor que me deflagra o sentimento!
Ah! Celestes desejos! Fantasias...
Nas telas que pintaste teus arranjos,
As cores boreais, as poesias...
Por quantas vezes alma levo bélica,
Mas os teus braços, mansos, calmos, anjos
Sossegam meus tormentos, minha Angélica!
0005
ANITA com estrambote
A luz que te traria me enganou,
Não trouxe nem sequer um vago lume.
Saudade que senti, ressuscitou
Nas asas desse amor, um vaga-lume!
Carrego o muito pouco que sobrou,
A dor, o medo, a ponta de ciúme,
A dúvida feroz, ser o que sou?
Não posso perseguir o teu perfume,
(A rosa que deixaste, não brotou...)
Perdoe se não posso estar contigo,
Meu grito nunca mais te importará.
À noite, adormecido, não consigo,
Saber o quanto a dor traga infinita,
Estrela dos teus olhos brilhará
No que me restará de vida, Anita!
0006
APARECIDA
No mel de tua boca, pleno gozo,
Nos ventos, meu orgulho de lutar.
Por vezes, meu caminho é andrajoso,
Distantes esperanças, céu e mar...
Vitórias sempre deixam orgulhoso
Quem sempre se perdeu por não amar.
Chama queimará pobre teimoso
Ao largo das estrelas, ao luar...
Travando mil batalhas contra a sorte,
Espero preservar a minha vida.
O coração boêmio teme a morte.
A juventude morre, má, fendida.
Amor que representa duro corte,
Renasce em teu olhar; Aparecida!
0007
ARACI: a mãe do dia, a aurora.
Noite que me traria teu amor,
É noite engalanada maviosa.
Explode-se nas chamas, esplendor!
Perfuma meu desejo, linda rosa,
Vestido carmesim, cadê rubor?
Se entrega no festim, audaciosa,
Vulcânica, desmancha-se em calor,
Em meus braços, dilui-se, vaporosa!
Na noite dos desejos e carícias,
Imerso em teus delírios e delícias,
Prazeres que em loucura revesti.
É mar que, enluarado, me convida,
Orgástico, fecunda e se engravida,
Na aurora, mãe do dia, em Araci...
0008
ARIADNE
ARIADNE: castíssima.
Magia encantadora conheci,
Nos frêmitos divinos, coração!
Por mundos tão fantásticos saí,
Procurando encontrar a solução
Do vazio que estava todo aqui,
Na quimera feroz, a solidão.
Anseio seus mistérios, me perdi,
À procura do afago, seu perdão!
És pura, teus caminhos sem deslizes,
Sem marcas, que enodassem teu passado.
Por mais que sempre foram infelizes,
Os dias que passast; mas, dulcíssima
Perdoa coração apaixonado.
Ariadne, mulher linda e castíssima!
0009
Angelina
Angelina: Aquela que é como um anjo, pura
Num vestido de chita bem rodado
Caminha esta princesa e me domina.
No tempo que sofri, e foi passado,
Procurando, nas matas, rica mina.
Meu mundo parecia desgraçado,
A lua no meu céu já não domina.
Embalde vasculhei o povoado,
Queria te encontrar, bela menina!
Olhando para o chão, onde buscava,
Não pude discernir tua beleza.
A luz do sol já não iluminava,
Meu mundo resumia-se em tristeza.
Mas, quando mais eu me desesperava
Achei em Angelina, tal pureza!
0010
Antonia
Antonia: Aquela que está na vanguarda, inestimável
Alvorada que busco, meu desejo..
Nos braços das estrelas, adormeço.
O canto que dedicas, não mereço,
O medo de morrer me enche de pejo!
Na palidez tristonha, nada vejo,
A vida me transmuda sem tropeço.
Espero fantasias, adereço,
Em meio a tempestades, peço um beijo!
Nos campos procurando uma açucena,
A cor maravilhosa da verbena
Encanta meus olhares, me alucino...
Por quantas noites, tive tanta insônia,
Amor é sentimento em desatino.
A minha salvação: amada Antonia!
0011
Antonieta
Amor que recomeça e não termina,
Se faz destas terríveis emoções.
É fonte do desejo, minha mina,
Embalde procurando corações.
Escuto tua voz; é minha sina,
A vida vai passando aluviões...
Gorjeio da saudade me alucina,
As pálpebras verbênicas, paixões!
Os olhos baços, tristes te procuram,
Num átimo te encontram, mas cometa...
As dores que provocas não se curam.
A morte se aproxima, mas me engana...
Noutro momento, lúbrica espartana
Deitada em minha cama, Antonieta!
0012
Arlete
Arlete: Penhor, garantia
Trago-te meu delírio e meu remendo...
Minha alma se esgotou sem teus pendores...
As ondas que navego, sem as cores,
São lumes que jamais, de novo, acendo...
Carinhos tão chagásicos vivendo,
Palpitam no meu sol, meus estertores...
Martírios deste mundo sem amores,
O corte do desejo repreendo!
Meu mundo não precisa fantasia,
Fanáticos momentos são inglórios...
A morte dos meus sonhos, sem velórios,
O canto da saudade é garantia.
Meu astro se desfaz, puro confete,
Renasce nos teus braços, Bela Arlete!
0013
Astride
Astride: Rainha dos belgas
Tu vais tranquilamente pelas ruas,
Procuro tuas cores, belo outono...
Imagens de mulheres lindas, nuas
Meu mundo se resume em abandono!
As bocas que sonhei, deveras cruas,
Agora não freqüentam o meu sono.
Mulheres se passaram, foram luas.
De destino cruel, eu sou o dono!
Mas eis que minha sorte se revela,
Na curva desta estrada, se avizinha!
A luz que bruxuleia como vela,
Num segundo, em farol já se transforma.
Beleza sem igual, a noite forma,
Astride, neste outono, uma rainha!
0014
Augusta
Augusta: Aquela que é majestosa
Pensei que conhecesse meus desejos...
Pensei apenas soube dos meus erros
Ao conhecer os campos dos desterros
Onde repousam, néscios, nossos beijos!
Procurei por entranhas e sentidos,
Os vales, cordilheiras, foram vãos.
Pensávamos amores como irmãos
No fundo, sentimentos corrompidos...
Agora que conheço meus defeitos,
Meus lábios te procuram como um sol...
Meus olhos devorando fartos peitos.
Na vida, esse delírio já me incrusta
Eu te amo! Te procuro, girassol,
Na tua majestade, amada Augusta!
0015
Áurea
Áurea: Aquela que é dourada, de ouro
Olhos fitos buscando por um sol.
Encontro essa riqueza que deixei.
Em meio aos arquipélagos, atol,
Ilha aonde pensava ser o rei!
Minha boca ansiosa te beijei,
Num momento julgava-me farol.
Como é cruel, Meu Pai, a tua lei!
Agora vou sozinho, um catassol!
Dourados os caminhos que passara,
Inebriei-me, tonto, mas passou...
A jóia que dispunha; viva e rara
Depois desta tormenta, sobrou nada!
Vazio o coração agora vou,
Buscando te encontrar: Áurea dourada!
0016
Núria
A vida, caminheira, não se cansa.
Traduz-se em divinais formas e brilho.
Trazendo no seu bojo uma esperança.
Depois de tanta dor, me maravilho
Com olhos que iluminam canto e dança.
Percebo-te num claro e belo trilho,
A luz desta esperança já te alcança.
Num lago, fino amor, de mãe e filho...
Quimeras e disfarces, falsos medos...
Os mágicos delírios de mulher.
No fundo, desvendando-se segredos.
Nos mares, nas montanhas cessas fúria,
Caminhos d’oceanos se quiser,
Teus versos sempre encantam, maga Núria!
0017
Bárbara
Bárbara: Estrangeira
As cinzas apagadas, quero o fogo!
Nas chamas destes braços, meus confeitos
Eu peço, te repeço, tanto rogo!
Amores que plantei eram perfeitos...
Nas sendas dos meus sonhos, teu olhar...
No mundo que encontrei és um vulcão!
Por tantos universos vou te amar!
Explodes em delírios coração.
Na brasa que trouxeste meu desejo.
Quimeras esquecidas não as tenho...
Embora tantas vezes feche o cenho.
Na noite que rolamos verdadeira...
Sentidos e carícias relampejo.
Bárbara, meu amor, luz estrangeira!
0018
Benedita
Nossa casa, resquícios dum passado
Cruel, difícil, livre, encantador!
Vivemos triste mundo amortalhado,
A vida já não tem nenhum valor!
Maldita esta saudade, vou de lado,
Espero por um dia redentor!
De colmo, nossa casa, seu telhado,
Porém era sincero, teu amor.
Num êxtase vivemos nossa história.
Idílico caminho sem volta
O tempo derramou a nossa glória.
A noite que nos viu, morrendo aflita,
Em loucos sentimentos, se revolta...
Saudades do teu brilho, Benedita!
0019
Berenice
Berenice: Portadora da vitória, vencedora
Esmolei tantas vezes teu carinho!
Meus versos em total monotonia...
Um coração morrendo, pobrezinho,
Espera enfim, nascer de novo, um dia...
Meu velho paletó recende linho,
A chuva no meu peito, nunca estia...
No meu canto, assum preto fez o ninho,
Calada, adormecida, a poesia!
Cinzentas brumas, mares inconstantes,
Derrotado procuro por teu colo.
Um dia fomos lúdicos amantes,
O tempo tão cruel tudo desdisse...
Altos céus mergulhei, caí ao solo.
Tu és vitoriosa, Berenice!
0020
Bernadete
Bernadete: Aquela que tem a força de um urso
A nossa casa, amor, já não existe...
Procuro meus quintais, não mais os vejo.
Meu bem, a vida queda-se tão triste!
A morte vem chegando, em seu cortejo!
Um frágil coração jamais resiste
À ausência dolorosa do teu beijo!
Sou pássaro faminto, sem alpiste,
Sou tarde que perdeu seu azulejo!
Vivendo de ilusões cadê a casa
Onde fomos felizes? Sem jardim,
Mergulho esse infinito, sem ter asa.
Meu mundo se perdendo, sem confete...
É quarta feira, cinzas, mesmo assim,
Teu nome irei gritando: Bernadete!
0021
Bernarda
Eu ando a mendigar pelas estradas
Buscando por amparo e nada vem...
Ninguém a me sorrir, noites geladas,
Anseio por carinhos, mas ninguém!
As rosas se morreram desfolhadas,
Os cálices de vinho, quero alguém!
As ondas se passaram naufragadas
Distantes dos meus sonhos. Perco o trem...
Não tenho mais saída, sou revés.
Rastejo pelo mundo, quebro os pés.
A morte, redentora, não se tarda!
Uma esperança frágil inda resta,
Quem sabe voltarei de novo à festa
Da vida, nas mãos santas de Bernarda!
0022
Berta
Berta: Brilhante, gloriosa
No fundo do oceano revoltoso,
Serpentes, calabares tão terríveis
Abismo tão profundo, tenebroso.
Gigantes monstruosos, invencíveis!
Tanto brilho estrelar, misterioso,
Dos peixes abissais, seres incríveis!
Caminham quais cometas! Glorioso
Mar de fantasmagóricos desníveis...
Céus de estrelas diversas, tão gigantes...
Nas luzes de cometas e quasares,
Universos de cores radiantes!
Amor, no sentimento delirante,
Amantes se iluminam nos luares...
E Berta, gloriosa e tão brilhante...
0023
Betânia
Betania: Simplicidade, humildade
Trago as sombras antigas de quimeras,
Caminhando por pedras entre urzes...
As fontes desejadas, as esperas,
Já se despedaçaram, velhas cruzes...
Derradeiros prazeres, mortas eras,
Invernaram-se inteiros, negam luzes...
Soledades, tristezas, vis crateras;
Em guerra corações, setas, obuses...
Distante do castelo das perfídias,
Uma bela mulher adormecida...
Em volta da tapera, mil orquídeas.
Toda simplicidade da beleza...
És última esperança desta vida,
Betânia, teu amor, uma riqueza!
0024
Bianca
Noite clara de amor, imensidão!
Nos céus e nas montanhas tanta alvura...
Nas palavras, no vento, mansidão..
Um sendeiro fantástico de ternura.
Marinhos caracóis trazem paixão
As ondas se rebentam com brandura...
Espumas, calmaria... Na amplidão
A lua se deslinda em paz, brancura...
Uma nova sereia traz o mar.
Os cavalos marinhos, os corais,
As águas transparentes, o luar...
Estrelas desfilando; noite branca...
Amor que revelou-se mostra a paz,
Nos olhos radiantes de Bianca!
0025
Brígida
Na derradeira noite deste amor
Que nos trouxe tristeza e alegria
A vida se mostrou ao teu dispor,
Em plenas convulsões da fantasia
Dançávamos felizes sem temor
Das horas de torpor, melancolia...
Esquecemos que toda bela flor
Por certo murchará, num triste dia!
Dores antigas matam sentimento.
Nada mais restará senão adeus...
Palavra sem sentido, leva o vento.
Minha alma não se cansa de lembrar
O beijo que trocamos, sonhos meus,
Ah! Brígida! No amor, foste ao luar!
0026
Brigite
Brigite: Aquela que guia
Tateando, procurei por teu carinho
Como se fora náufrago sedento.
Por tanto tempo, pálido, sozinho,
Clamando por teu nome, livre vento...
Aos poucos, sem te ter, tanto definho,
Pois não me sais jamais do pensamento!
Sou pássaro tristonho sem ter ninho,
A chaga terebrante pede ungüento!
Angústias acompanham meu desejo.
Quem me dera beijar salgada pele...
Caminhar por estradas de azulejo,
De ladrilhos dourados, tua trilha...
É beleza sem par que me compele
Brigite, teu caminho, maravilha!
0027
Bruna
Bruna: Escura, parda
O sol se transformando em espetáculos!
As praias, belos mares e sereias
Amor se diluindo, seus tentáculos,
Invadem litoral, quentes areias...
Morenas desfilando. Nos oráculos,
A febre dos amores me incendeias...
Nos altares divinos, tabernáculos,
Nas praias os desejos entram veias...
Caminhos de corais, longas jornadas,
As ilhas tão distantes, minha escuna..
Belas sereias, nuas, encantadas...
Elfos e silfos, vento manso, sonho...
Num marulho suave, um barco ponho...
Meu barco, meu amor, morena Bruna...
0028
Cacilda
Cacilda: Lança de combate
Não temo esses combates nem as lutas.
Cerrando os tristes olhos, te encontrei.
As noites sem carinho são mais brutas,
Nos campos de batalha fui o rei!
Agora que, distante, tudo enlutas
Agora que, perdido, não te achei;
Escondo-me, procuro escuras grutas,
Feridas que me causas, não curei.
Flamejas nas mortalhas que me deste,
Penetras corações com tuas setas...
A vida passa a ser um simples teste.
Desfolhas, nos teus beijos, toda flor!
Qual Eros, suas flechas prediletas,
Cacilda, tua meta é meu amor.
0029
Camila
Camila: Aquela que nasceu livre
Liberdade! Meu canto te procura
Nas penumbras longínquas, siderais...
A noite terminou bem mais escura,
Espreita negras nuvens colossais.
A dor de amar demais jamais se cura.
Crepúsculos tristonhos, abismais...
Bebendo desta mágoa, sem brandura,
A vida emoldurando catedrais!
Nos dourados veludos, no cetim
A maciez da pele, veleidade...
Encantamentos, lábio carmesim...
O mel que tua boca já destila,
O canto deste amor à liberdade:
Só encontrei no teu cantar, Camila!
0030
Cândida
Cândida: Aquela que é alva, pura
Folhas secas, tristonhas, sobre o chão...
Silenciosas tardes, vento frio.
Meu pranto de ansiedade, coração,
Esperando, seguindo tão vazio...
Tanto tempo perdido, vou em vão...
A chuva me impedindo o claro estio,
Em busca simplesmente do perdão.
Deste nada, total nada, sombrio...
Mas, de repente, brilhos no horizonte...
A Terra se cobrindo de esplendor.
As águas renascendo velha fonte.
A luz iluminando noite escura.
De novo conhecer o que é amor!
Olhos desta mulher, Cândida, pura...
0031
Carina
Carina: Aquela que tem graça, delicadeza
Tuas mãos delicadas, tão sensíveis.
Promessas de carinhos e de paz...
Teus passos pelas ruas, inaudíveis,
Flutuas, com certeza! Sou capaz
De naufragar meus sonhos impossíveis
Nos mares que me trazes. Tanto faz
Se, nas estradas loucas, invisíveis
Preciso for voar, serei audaz!
Teus dias se transcorrem graciosos,
A vida sem teu beijo, desatina...
Os dias se tornando belicosos
Se não estás comigo, cristalina!
Meus olhos te procuram, ansiosos,
Onde está delicado amor? Carina...
0032
Carla
Desejados carinhos desta lua...
Infinitos os raios que me dás,
À noite, a esperança que flutua
Me traz a verdadeira e mansa paz..
A visagem serena, bela, nua,
Desta mulher fantástica, voraz,
Que navega meu mar, numa charrua...
Na visão mais dileta, mais audaz...
Um escultor, ao vê-la, disse: parla!
Meu canto de louvor a ti dedico.
As palavras, não gasto numa charla.
Meu rimar, ao sonhar-te, sempre rico.
Amor igual ao meu, somente explico
No brilho dos teus olhos, bela Carla!
0033
Carmem
Carmem: Poema, versos, poesia
Quem dera ser poeta e te dizer
Das nuvens e das chuvas que não trazes
Da noite que te encontra meu prazer.
Da vida que te trouxe tantos ases.
Das asas que carregas, sem saber.
Tua vinda renasce em mim, as frases
Vindas do coração. Tento ler
No livro de esperanças, luas, fases...
Quem dera em mansos versos proclamar
Beleza que encontrei no teu olhar.
Quem dera conhecer a fantasia
Que encharca tua noite de luar.
Que traz toda a pureza deste dia,
Quando encontrei-te, Carmem, poesia...
0034
Carmo
Carmo: Religiosa
Altares dos amores que sonhei
Nossas manhãs, cetim e veludo.
Amor que sempre, louco, procurei
Tuas mãos são promessas. Não me iludo.
Teus palácios, castelos, tua lei.
No templo do talvez e do contudo,
No teu mundo de sonhos, mergulhei.
Retorno do teu reino, quieto, mudo...
Amar perdidamente, minha sina...
Os versos de ansiedade e de tortura...
A noite simplesmente me alucina.
Nas torres, teu castelo, tanta altura,
Meus olhos se turvando em tal neblina.
Meu amor te encontrou, Carmo, tão pura...
0035
Carol
A vida amanhecendo ensolarada.
Andorinhas, pardais, cantam bom dia,
Nas árvores louvando. A passarada,
Plena satisfação na cantoria!
Um manto de esplendor, de fantasia,
Se espalha na manhã, linda, orvalhada!
O mundo inteiro vive essa alegria,
Todos, menos minha alma apaixonada!
Uma nuvem tristonha perde o sol,
Embora tanta vida se deslinde.
A natureza, bela neste brinde,
Esquece deste pobre girassol.
Antes que esta manhã, linda, se finde;
Espero por teu beijo enfim, Carol!
0036
Carolina
Nos campos verdejantes, belas flores...
Perfumes de diversas qualidades.
Abelhas, passarinhos, tantas cores.
Batendo um coração, tristes saudades...
Nos céus as alvoradas são favores
Divinos. Nestes campos, nas cidades,
Procuro pelos rastros dos amores;
Embalde, nunca vejo claridade!
A vida sem te ter, já se amofina,
O mundo não permite um triste canto.
A noite, no meu peito descortina,
Ofusca essa beleza, nega encanto.
Meus dias procurando Carolina,
Nas águas deste rio, todo o pranto!
Carolina: Fazendeira
0037
Cassandra
És minha companheira mais fiel!
Toda dor que esta vida sempre dá
Momento tão difícil, mais cruel,
Na lua que jamais retornará,
És a certeza plena que há um céu!
Amiga, onde estiveres, estou lá,
És todo o meu sustento, meu farnel!
Meu sonho, nunca mais, se findará!
Por vezes me encontraste abandonado,
Sozinho, sem promessas de esperança.
A vida parecendo um peso, um fardo...
Rastejo minhas dores, salamandra,
Teus braços me levantam, na aliança
Eterna deste amor, minha Cassandra!
Cassandra: Auxiliar do homem
0038
Cássia
Minerva, num delírio sedutor,
Ao ver esta mulher que caminhava.
Momento de raríssimo esplendor,
Um pássaro a voar, manso, cantava
Os hinos mais perfeitos ao amor.
Aurora deslumbrante demonstrava
Belezas e perfumes, rara flor...
Vulcânicos fulgores formam lava.
Minerva, se encantado, prontamente,
Mandou iluminar os teus caminhos...
Levando seus talentos para a mente
Desta mulher. Das flores, fez acácia
Beleza feita em cachos de carinhos...
Ao mundo, então, brindou contigo, Cássia!
Cássia: Distinta, sábia
0039
Cassiana
É certo que pequei, eu não discuto.
Errei ao perseguir teus mansos passos.
Tantas vezes, perdido, fui tão bruto.
Outras tantas, busquei-te, vãos abraços...
Ao longe, transtornado, então me enluto;
Por ter, assim, entrado em teus espaços;
Tens razão: destruir um podre fruto,
Rebentará, decerto, falsos laços.
Mas peço, por favor, por caridade,
Não deixes este sonho se acabar!
Em vão, já procurei pela verdade,
A luta se mostrou leda, temprana...
A noite, meu amor, trouxe o luar,
Te espero, minha amada Cassiana!
Cassiana: Justiça
0040
Catarina
Mocidade vibrante, me estonteia...
Audácias e desejos são constantes.
Nas luas e nas ruas tece teia,
Viaja por planetas mais distantes.
A noite, nas delícias, incendeia,
Os raios do luar, simples amantes...
Nos cantos e motéis, noturna ceia,
Os corpos se entrelaçam, delirantes.
Mocidade... Faz tempo que não vejo...
Meus carinhos dormitam na incerteza,
O peito, démodé qual realejo,
Na visão de teu corpo se alucina...
És manto de pureza e de beleza.
Por que tu demoraste, Catarina?
0041
Cátia
Sim, decididamente não me queres!
Os teus olhos trazendo esta verdade.
Tantas vezes carrego meus halteres
Tentando convencer-te. Vaidade
E suplícios. Em vão! Sei que preferes
Palavras envolventes, claridade,
Os lumes estrelares. Caracteres
Mais concisos, assim, restou saudade!
Que poderei fazer? Não faço verso!
Meu mundo se resume: academia!
Nos músculos está meu universo!
Cátia, estarei buscando um claro dia,
Torrente caudalosa e tão completa,
Que me faça acordar, livre, poeta!
0042
Cecilia com estrambote
Não podes ver o brilho deste sol,
A tarde emoldurada, várias cores.
O lume não te serve de farol,
Nem beleza incerta destas flores!
Porém, toda a candura dos olores,
A forma delicada, o girassol,
Ternura que carregas, teus pendores!
No canto mais feliz do rouxinol
(Delícia de saber tantos amores!)
Por certo teus sorrisos
Demonstram
Carinhos e desejos, nas carícias,
No olor e maciez da bela tília.
A vida se transborda nas delícias
Dos olhos deste amor. Minha Cecília!
Cecilia: Ausência de visão, cega
0043
Célia
Amar como eu te amei, a vida inteira...
Sem medo e sem vontade d’um adeus.
Em cada noite, a lua mensageira
Trazendo claridade nos meus breus.
A tarde das angústias, derradeira,
No amor, meu sacrifício, louva-deus!
Não canto despedida, faço esteira
Dos raios, dos luares, louvo a Deus...
Embora já temi o meu destino,
A morte não trará essa incerteza.
A vida noutra vida outra beleza!
Eterno coração, velho menino...
Amor igual ao nosso, mansa fera,
Só Célia me traria, tão sincera!
Celia: Aquela que é sincera e verdadeira
0044
Celina
Nasceste na nascente do universo,
Olhar primaveril tão envolvente!
Te canto mergulhado no meu verso,
Procuro teu olhar em toda a gente.
Meu mundo sem teu canto é tão disperso,
Em tristes melodias, de repente,
Transborda neste mundo. Sou reverso,
Avesso, sem te amar perdidamente!
Nos céus donde vieste, na alvorada,
Promessas benfazejas de fortuna!
A noite em tempestades, mais soturna,
Espreita, de tocaia, me alucina!
Eu canto esta canção desesperada,
Na espera de te amar, linda Celina!
Celina: Filha do céu
0045
Christiane
Num templo abandonado no deserto,
Encontro tua imagem, cristalina.
Dos sonhos que já tive, estive perto,
Imagem tão risonha, me alucina!
Não sabia: sonhava ou mais desperto,
À sombra do retrato, minha sina!
Amor, o sentimento que eu oferto,
Àquela cuja imagem determina.
Um sonho? Vão delírio de um poeta?
Não posso precisar, falta certeza.
Qual força me enlouquece e arquiteta
O rosto desta bela criatura?
Em pleno afresco fosco, esta beleza,
A amada Christiane brilha, pura!
Christiane: Seguidora de Cristo
0046
Cibele
Acima do que posso imaginar,
Repousa tão fantástica beleza!
O Olimpo, certamente faz brilhar,
Com lume e com potência de princesa.
Dos seus braços, nasceram terra e mar
Seu seio amamentou a realeza!
À noite resplandece no luar,
A vida fez nascer, sua grandeza.
O mundo, seus pecados e delícias,
Etéreos passageiros, sombra e luz.
O campo das estrelas, as malícias.
As ninfas, seu carinho e sua pele.
Nas Plêiades, desejo seu transluz,
Consorte, lhe encontrei, minha Cibele!
Cibele: Mãe de todos os deuses
0047
Cinira
No país dos meus sonhos mais sensíveis,
Um canto merencório me alucina.
Cantado por sopranos invisíveis,
A música me invade, cristalina!
Acordes dissonantes, tão incríveis,
A noite dos idílios descortina.
Trazendo tais tristezas incabíveis.
A lágrima maltrata e me domina!
Um som maravilhoso, mas tristonho,
Qual fosse maldição que se cumprira.
Meu mundo se refaz, procuro o sonho,
Envolto está no canto que delira...
Nos barcos deste sonho então me ponho.
Nesta harpa delirante de Cinira!
Cinira: Harpa de som triste
0048
Cíntia
Nas luzes tão serenas, minha amada,
Nos montes, nas florestas e nas matas.
Por entre cachoeiras e cascatas;
A vida se transcorre iluminada!
A sorte que me deste, minha fada,
Nas horas mais difíceis, me desatas.
Os cardos mais cruéis, tu não maltratas,
A seta que carregas, perfumada!
Os meus desejos são tuas vontades...
Dominas meus anseios com vigor.
Nas lutas pela vida, claridades,
És poderosa chama, sou fumaça;
Na vida sempre fui um caçador,
Mas, em teus braços, Cíntia, sou a caça!
Cíntia: Um dos nomes da deusa Diana ou Ártemis
0049
Clara
Os ventos e as nuvens, tempestade!
A noite se nublou, escureceu...
Na vida procurando claridade,
O mundo que sonhava, já morreu.
Tantas vezes vivendo ansiedade,
Mal posso definir, em pleno breu,
Àquela a quem amava de verdade.
A noite em minha vida, já choveu!
Minha alma em plenitude procelária,
Espera ansiosamente por um lume.
A morte, que antes fora imaginária,
Num átimo ressurge, já se aclara.
Minha esperança, frágil vaga-lume,
Repousa em teu desejo, ilustre Clara!
Clara: Brilhante, ilustre
0050
Clarisse com estrambote
Os céus só são brilhantes porque existes.
Em todos os amores que me deres,
Meus versos deixarão de serem tristes!
Tu és rainha e deusa, bela Ceres
Mas, verdadeiramente, não são chistes,
Eu encontrei em ti, tantas mulheres.
Apaixonadamente, lanças, ristes
(És banquete completo, mil talheres...)
Trago, nas entranhas, tantas dores...
Dum tempo que morri e ressuscito.
Vida se diluindo em estertores.
Vieste como luz, que enfim eu visse,
Trazendo as esperanças, vivo grito,
Da vida renascer em ti, Clarisse!
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