2073
A sorte me acompanha lado a lado.
Às vezes benfazeja. Outras nem tanto.
Avança entre verbenas, rosa e cardo
Trazendo fantasia ou desencanto
Na multifacetária confluência
Metamorfose vária; sigo em frente
Do prêmio concebendo a penitência
Detalhes disfarçando o continente.
Felicidade trama o desengano
A luz prenunciando a treva imensa.
Entrando tantas vezes pelo cano
Recebo do vazio, a recompensa.
Mas vale; com certeza, toda a luta
A glória que em vitória nos enluta...
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A glória que em vitória nos enluta
Transformações diversas, momentâneas
A voz que em tempestades não se escuta
Imagens tantas vezes instantâneas.
A cura prometida remedia,
Deixando por seqüela a solidão.
A noite tropical gelada e fria
No olhar de quem amei; a decepção.
Metades inexatas da maçã
Negando o paraíso que eu buscava,
Eclipse escurecendo uma manhã
A neve transtornando toma a lava.
Antíteses perfeitas, gozo e dor,
Olhar em calafrios, puro ardor...
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Olhar em calafrios, puro ardor;
Vontade que não cessa; correnteza.
O fogo da paixão abrasador,
Toda a razão, decerto se despreza.
Incêndios redentores, morte à vista
De um jeito mais sutil me escravizando
Enquanto a liberdade já se avista
Amor vai pouco a pouco devorando.
Não deixa sobrar nada. Nem resquícios.
Jogando contra as pedras, fortalece,
Mergulho dos diversos precipícios,
Nem mesmo ao que pretendo, ela obedece.
Paixão inebriante perde o rumo.
Num gozo sem igual; eu me consumo...
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Num gozo sem igual; eu me consumo
Tornando os meus sentidos mais sensíveis
Bebendo de teu corpo todo o sumo
Compartilhando sonhos invencíveis.
Vestígios de mim mesmo; encontro em ti
Pegadas espalhadas neste porto.
No veio de teus braços me perdi
Ao nosso amanhecer eu me reporto
E faço deste mote o meu cantar.
Tu trazes com firmeza, égide, escudo.
Sem fronteiras, teus mares navegar
Mergulho delicia e vou com tudo.
Ao destemer enganos me liberto,
Contigo o céu jamais nasce encoberto...
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Contigo o céu jamais nasce encoberto
Na clara expectativa demonstrada
Por vezes solidão eu já deserto
E vejo algum sentido nesta estrada.
Fecundidade que trará colheita
Frutificando qualidade rara
Ao mesmo tempo em que comigo deita
E constelar, maravilhosa ampara
Bailando sobre os sonhos, valsa e festa.
Jazigos de nós mesmos esquecidos
Jogados numa senda que funesta
Um dia retocou nossos sentidos.
Porém no limiar da fantasia
Cenário mais sublime, amor recria.
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Cenário mais sublime, amor recria,
Traduzido no olhar desta sirena
Vestindo em meu cantar pura alegria
Tornando a minha noite mais amena.
Quem dera se eu pudesse, num momento,
Beber de tua boca méis tão raros,
Teus seios, teus carinhos, meu ungüento
Minutos tão gostosos e preclaros.
Roçando a tua pele, mansamente
Sentindo os teus cabelos me tocando,
Neste vôo libertário num repente
O amor que a gente faz se derramando,
Beijar teu corpo inteiro, ser só teu,
Num mundo que o desejo concebeu...
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Num mundo que o desejo concebeu
Eu sigo cada passo que tu deixas
Adentro este infinito teu e meu,
Esqueço que tivera, outrora, queixas
A gueixa amorenada Diva bela,
Suaves transparências, fogaréus,
Caminhos delicados que revela
Permitem que se toquem sonhos, céus...
Tua presença aqui, reveladora
Tornando cada passo mais audaz,
Imagem fartas vezes redentora
Um bem insuperável já me traz.
E assim, dois viajantes do infinito
Fazendo da alegria, o mesmo rito...
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Fazendo da alegria, o mesmo rito
Seguimos pela vida, companheiros.
Da força e da frieza do granito
A mansidão sublime dos ribeiros.
No quanto somos livres e cativos,
O nosso passo é firme, disso eu sei.
Olhares mais sublimes, sempre altivos
Trazendo toda a glória que sonhei.
Eu quero estar contigo a vida inteira
Assim não temerei qualquer espinho,
Sabendo deste amor, nossa bandeira
Jamais me sentirei ledo e sozinho.
A cada novo dia esta certeza,
Um gozo que se quer e tanto preza...
2081
Um gozo que se quer e tanto preza
Maravilhosamente moldurado
Evita em meus caminhos a surpresa.
A vida se passando com bom grado.
Assim durante um tempo, imaginei
Que nada impediria a caminhada.
Porém na tempestade eu mergulhei
Bonança resultou em simples nada.
Mortalha que carrego no meu peito,
Cadáver insepulto em ilusões
A morte se aproxima do meu leito
Trazendo tão somente negações...
As bodas que eu sonhara ledas festas
Infiltração tomando várias frestas...
2082
Infiltração tomando várias frestas,
A vida desabando pouco a pouco.
As noites que eu sonhara são funestas
Meu verso se esvazia, frágil, louco.
Quem um dia pensara ser feliz
Desmoronando sabe que não tinha
Senão uma ilusão que por um triz
Pensei durante a vida ser só minha.
A barca dos meus risos, naufragando
Distante do que quis ancoradouro,
O gesto carinhoso sem ter quando
Esconde noutras ilhas o tesouro.
Assim o quanto que pensei e não havia
Simplesmente falsária fantasia...
2083
Simplesmente falsária fantasia,
Mentiras que eu criei doce ilusão...
Um pássaro morrente em agonia
Não sabe conhecer arribação.
A morte com sorrisos mais gentis,
Espalha seus tentáculos vorazes.
Meu céu amanhecendo sempre gris
As bocas que se mordem quais tenazes.
Abrindo uma janela à esperança,
Teimosa mesmo frágil, vem sutil
E quando em tanto engodo ela me alcança
Espalha uma mentira amara e vil.
Quem dera se eu pudesse. Ah! Quem me dera
Ver renascer enfim a primavera...
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Ver renascer enfim a primavera
Um sonho tão distante de meus olhos.
A vida que em tristezas se tempera
Espalha tão somente estes abrolhos...
Não deixa que se veja um claro dia
Imerso entre estas nuvens tão espessas,
O tempo que em delírios se dizia
Deixando bem distante estas promessas.
Irônicas palavras de consolo,
Mentiras esgarçando uma ilusão.
Raízes do vazio invadem solo,
Retinas entranhando solidão.
Imerso no vazio deste jugo
Esperança, meu último verdugo...
2085
Esperança, meu último verdugo
Arrancando dos olhos qualquer brilho.
O resto do que fomos inda sugo
Sem nexo teus caminhos quero e trilho.
Olhando com sarcasmo cada passo
Que tento em multimídica expressão
A mímica ganhando algum espaço
Tecnologia esgarça o coração.
É pertinente um canto feito amor?
Impertinente verso não sossega.
Um barco inda movido por vapor
Em águas tenebrosas não navega.
Pleno de incertezas vejo o vago
Tentando depois disso algum afago...
2086
Tentando depois disso algum afago
Eu vejo em procissão os meus desejos.
Ressacas repetidas, peito gago
Prevendo da mocinha falsos beijos.
Nascido em estilingue nego o tiro
Embora a bala que me toca vem perdida.
O quanto sonegando não prefiro
Velejo em tempestade qualquer vida.
Movido à lenha, amor informatizo
Tentando me adaptar, eu não consigo.
A morte que virá não traz aviso,
Do riso em ironia faço o trigo.
Interior caminho desbravado,
A sorte me acompanha lado a lado.
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