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O céu vai renovando o seu matiz
Mudando a direção de velhos ventos,
Agora um velho quer ser aprendiz
E muda sem saber os sentimentos.
Prazeres são momentos, nada mais
Olhares vão vazios pelas ruas.
Meus gozos são moleques canibais
Fotografias e cenários, divas nuas.
As mesmas que se vendem por trocados,
Ou mesmo por milhões, não muda nada.
Internteticamente meus enfados
Decifram esta história mal traçada.
Num léxico diverso, demorou,
O ferro na boneca naufragou...
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O ferro na boneca naufragou,
O beijo na verdade foi à toa.
O quanto meu desejo desejou
Ainda refletindo não ressoa.
Mineiro quando vê de perto o mar
Esquece da lagoa, num segundo.
Vontade de em teus braços mergulhar,
Porém o coração é vagabundo...
Um troço que destroça o tal do amor,
Eu truce uma esperança que trucida.
Vem logo desfrutar desse calor
Que vale, com certeza, toda a vida.
“ Um bolo de fubá, barriga d’água”
Faz tempo que não vejo alguma anágua...
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Faz tempo que não vejo alguma anágua,
Também não reconheço um galocha
A fossa traduzia alguma mágoa
A rosa que eu pensei não desabrocha
Cabrocha? Foi embora e não voltou.
Amores virtuais são um barato.
O beijo numa tela se trocou
Paixão se traduzindo em um retrato.
Canastras, canastrões são iguarias
Epístolas, pistolas dão recado.
Vernáculos diversos, novos dias
O resto vai ficando assim de lado.
O dia não permite mais estrelas,
Tua nudez, em vídeos me revelas...
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Tua nudez, em vídeos me revelas
Deliciando assim deste cenário.
Mergulho em fantasia tantas telas
Sem medo, sem pudores, temerário...
Às vezes sonegando alguma imagem
O pensamento alçando outro momento,
Precede com certeza uma miragem,
O fogo consumindo calmo e lento.
Mas nada do que fomos, realidade,
Apenas um segundo em frágil troca,
Amor que traduzindo liberdade
Em falsas emoções já se reboca.
Tentando ser feliz de qualquer jeito,
Eu durmo em fantasia, insatisfeito...
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Eu durmo em fantasia, insatisfeito
Acordo em solidão, fazer o quê?
Procuro teu fantasma quando deito
Apenas o vazio é que se vê!
Macabras esperanças sem juízo
Espectadoras frágeis da ilusão
Pressentem um fantástico sorriso
Encontram neste nada a solução.
Assíduas sementes que espalhaste
Decerto não terão bom resultado
A foto prenuncia algum desgaste
O tempo sem amor é desprezado.
Bailando a noite inteira em minha cama,
Que faço se não tenho, acesa a chama?
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Que faço se não tenho, acesa a chama?
Não posso desdizer o que sonhei,
Apenas não desvendo a nossa trama,
Nem quero a fantasia como lei.
Metáforas à parte estou cansado
De tanto procurar o que não vem,
O bonde dos meus sonhos, atrasado
Durante muito tempo perco o trem.
Morena que encontrei no Tororó
Menina que dançava esta ciranda
Deixando o coração vazio e só
Saudade do que fomos já desanda.
E nada do que eu cante mais encanta
Silenciando assim minha garganta...
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Silenciando assim minha garganta
Eu tento desvendar algum mistério
Mas nada do que tento se adianta
A vida não permite mais critério.
Se eu sério não seria o que persigo,
Se eu riso não queria teus ouvidos.
O piso na verdade é bem antigo
Os ventos seguem sempre desvalidos.
Oráculos mentiam sobressaltos
As sanhas foram sempre mentirosas.
Não posso superar velhos ressaltos
Espinhos valorando velhas rosas.
Tentáculos fazendo circulares
Sorrisos transformados em esgares.
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Sorrisos transformados em esgares
Desesperança toma esta paisagem
Por onde descaminhos procurares
Talvez ainda veja outras imagens.
Amor em fim? Mentiras deslavadas.
Mas teimo em ser hipócrita, um falsário.
Anjos da guarda, arcanjos, gnomos, fadas
O lucro com certeza é solitário.
Mecanismos diversos comerciam
O que pensara ser doce farnel,
Estrelas alugadas propiciam
Vendetas de melados feitos mel.
Um coração latino americano
Ingênuo, vai entrando pelo cano...
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Ingênuo, vai entrando pelo cano
Aquele que quisera algum augúrio
Nas coxas da morena o desengano
Mostrado num sorriso quase espúrio.
Cartadas, jogatinas, o poder
Transforma qualquer ser em mandatário.
A cafetina passa agora a ter
Toda atenção, tomando este cenário...
Amante desnudada na revista
É como bomba atômica. Decerto
Não há, eis a verdade quem resista
Ao ver o paraíso assim aberto
Vendido por milhares de reais
Em poses tão gentis e sensuais...
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Em poses tão gentis e sensuais
A doce transparência traz aos olhos
Os seios que decerto magistrais
Recebem silicone em flor, aos molhos...
Milagres da informática, eu bem sei,
Transformam qualquer forma em perfeição.
Qualquer pilantra agora vira rei
Safadeza virando o ganha pão.
A boçal que bigbroda em belas pernas
Paparozeada num estúdio
Escondendo sutis suas cavernas
Expressa sem temor e sem repúdio
O que nas falsas cenas se recria
Gerando tão somente a fantasia...
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Gerando tão somente a fantasia
Adendos mais diversos eu percebo,
Do quanto minha voz já se esvazia
Do vago de teus olhos inda bebo.
Melancolia vive em cada verso
Legado com sarcasmo que inda trago
De tudo o que sonhei não tendo um terço
Aceito, mesmo à prazo, algum afago.
Olhar que no passado ainda cravo,
Não vê sequer pegadas, mesmo assim
O mar que se fizera outrora bravo
Secando não diz nada para mim.
Nos seios da montanha, dorme a lua
Teus seios, minha cama, deusa nua...
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Teus seios, minha cama, deusa nua
Apronta maravilhas num olhar.
Enquanto a nossa festa continua
A vida se entregando devagar.
Assíduos sentimentos nos tocando
Melífera expressão de fogo abrasa
Paisagem com delírios retocando
Mudando a velha imagem desta casa.
Beber de teus desejos cada favo
Entoando palavras mais gentis.
Teu corpo em prazeres eu desbravo
Querendo novamente, eterno bis.
O quanto toda noite amor eu vejo
Nas ancas da morena, esse molejo...
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Nas ancas da morena, esse molejo
Clamando para a festa que virá
O quanto desfrutando do desejo
Pretendo sempre mais e quero já.
Na boca da sereia algum sorriso
Cerumens sonegando em audição
Encanto deste canto em paraíso
Juízo, na verdade não sei não.
Voando libertário, o pensamento,
Estanca esta sangria diz amor
Placenta não sustenta esse rebento
Desejo não traduz farto vigor.
E mecanicamente amor se faz.
Mentira deslavada aguarda a paz...
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Mentira deslavada aguarda a paz
Mudando a direção de cada vento.
O tempo na verdade não mais traz
Senão o que sonega o sentimento.
Assim em barco frágil inda persisto
Sem cais ou porto sigo timoneiro.
Apenas no vazio que eu conquisto
Uma expressão correta diz cinzeiro.
Teimoso da esperança, eu não me afasto
E deixo que ela volte toda noite.
Embora o coração se mostre gasto,
Na boca da alegria, um velho açoite.
E mesmo sem viver o bem que quis,
O céu vai renovando o seu matiz.
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