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Depois de um tempo amargo, ora remoto
O amanhã se promete mais airoso
De estrelas, coração em paz eu loto
Provendo amanhecer maravilhoso.
Recôndita emoção já se aflorando
Refaz antigo passo, trama a festa
Um dia que virá; decerto brando,
Felicidade plena, cedo atesta
Vivendo o que me resta do teu lado,
Não temo mais as pedras nem espinhos.
Num tempo tão perfeito vislumbrado,
Certeza de alegria, lua e pinhos.
Que toda fantasia, num instante
Em glória extasiante nos encante...
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Em glória extasiante nos encante
Deixando no passado um sonho aflito
Solidão se mostrando mais distante,
Acode-nos o canto tão bendito
Moldando um novo sonho deslumbrante,
Ganhando sem limites, o infinito,
Soltando em pleno espaço, num instante
Alçando o paraíso em belo rito.
Amiga não se esqueça de que a vida
Deve ser sempre amada e tão querida.
Estenda em tuas mãos um alvo lenço
E a paz que procuramos; já sabemos
Tomando em nossas rotas, mãos e remos
Da força da amizade eu me convenço...
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Da força da amizade eu me convenço
Delícia em liberdade já sentinto,
Aos olhos de quem ama, um brilho intenso
A cada novo dia, ressurgindo,
O medo de perder, tornando tenso
O canto que se fez em dia lindo,
Porém se na amizade eu sempre penso,
O vento em calmaria já vem vindo
Batendo na janela enfim me traz,
A perfeição dileta, plena paz
Deixando para trás uma agonia.
Eu tenho nos meus olhos a certeza
De um tempo em que o carinho já se preza
Quem sabe esta amizade me diria...
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Quem sabe esta amizade me diria
Das horas que decerto não sabiam
Olhares de quem ama e não confia,
Distâncias gigantescas já traziam,
Na pérfida ilusão que parecia
Que nunca, novamente raiariam,
Mas nasce em luz mais branda um novo dia
Que em versos tantas glórias me diriam.
Esperança que se mostra benfazeja
A quem; perfeito encanto assim deseja.
Uma amizade muda toda a história
Calando a mais terrível solidão,
Tomando em luz brilhante, esta amplidão
De dores e de bênçãos, divisória...
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De dores e de bênçãos, divisória
A força que suplanta céu e mar
Meu sonho de amizade é feito em glória,
Sem medos que nos possam maltratar,
Mudando num momento nossa história,
Alçando a liberdade de um luar.
Quem dera se eu pudesse sem vanglória
De toda esta alegria desfraldar.
Assim, talvez não venha dor profana,
Que mata e; muitas vezes, desengana.
Supera com firmeza, medo e intriga.
No encanto que se mostra em clara luz
O nobre sentimento se conduz
Nos passos de meu sonho, minha amiga.
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Nos passos de meu sonho, minha amiga,
O laço mais estreito que nos une.
Que a sorte benfazeja nos bendiga,
Senão a morte vem e cedo pune
Aquele em quem a paz já não se abriga,
Embora tantas vezes creia imune
Permite que o caminho em paz prossiga
Sem nada que o impeça ou importune
Aberto o peito, a vida não se cansa
De ter numa amizade esta esperança
Negando qualquer forma de embaraço.
Azulejando a vida, vou contente,
Sabendo deste sonho tão premente
Receba cada verso que eu te faço..
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Receba cada verso que eu te faço
Com coração aberto, pois garanto
Que sempre que eu puder estreito o laço
E seco toda a dor, enxugo o pranto,
Pois pode enfim contar com o meu braço,
E em toda a mansidão de cada canto
Firmando com ternura, passo a passo,
Entendo na amizade um brando manto.
Sem medo do que venha acontecer,
Trazendo em segurança o alvorecer
Fazendo da esperança um bom ungüento.
O quanto é necessário prosseguir
Vislumbra em calmaria este porvir
Deixando bem distante algum tormento.
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Deixando bem distante algum tormento.
A vida se permite a teus carinhos
Amiga, não se esqueça um só momento
De todo amor que uniu nossos caminhos,
Buscando uma alegria, vou sedento,
Bebendo da amizade doces vinhos,
Poeira no meu peito toma assento,
Ternura emoldurando nossos ninhos,
Valores que amizade nunca nega,
Em mares tão fantásticos, navega
Enquanto uma esperança já comanda
A vida de quem sabe o que mais quer,
Do jeito mais sublime que vier
No peito em que emoção deseja e manda...
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No peito em que emoção deseja e manda
A correnteza às vezes se faz brava,
A vida que em momentos já desanda,
Trazendo uma tristeza feita em lava.
Alvoroçando estrada outrora branda,
Deixando no caminho amarga trava,
Formando desventura tão nefanda,
Que mais profundamente me cortava,
Os golpes mais cruéis já recebidos
Turvando em treva imensa os meus sentidos.
Amor em solidão sonhos degrada.
A sorte se perdendo num segundo,
O corte feito em sabre é mais profundo
Doída, a minha voz desesperada...
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Doída, a minha voz desesperada
Deixando bem distante uma ternura
A marca da tristeza afigurada
Mostrando tão somente a desventura
Restando em nossa vida quase nada,
A noite ressurgida em treva, escura,
A sorte em outros tempos bem fadada,
Agora vai mudando de figura
E traz desesperança como marca,
Naufraga em solidão a minha barca
Em portos tão funestos ancorados
Os gozos de quem sempre quis bem mais,
Distante de teus braços, perco o cais
Remansos em tormentas, alagados...
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Remansos em tormentas, alagados
O medo de viver queimando lento
Os sonhos que tivera, espedaçados,
O mundo se pintando em fingimento,
Os dias vão passando, transtornados,
Sobrando tão somente um vão tormento,
A seca dissemina sobre os prados,
Da esperança sequer um bom momento,
As águas já secando em plena fonte
As nuvens mais sombrias no horizonte
Destino noutros rumos, vai malgrado
Açoites da ilusão, minha alma afásica
A boca que me morde, assim, chagásica
Meu passo segue, enfim, desencontrado...
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Meu passo segue, enfim, desencontrado
Distante do que fora paz e abrigo,
A morte já mandando o seu recado,
Encontra a cada curva, outro perigo,
A dor vai ecoando em alto brado,
Um passo para frente e não consigo,
Atado aos elos duros do passado.
Um sonho que me acalme, em vão, persigo.
Quem sabe em ilusão ressurja um dia
Nos brilhos da alvorada: fantasia
Trazendo novamente a claridade
Mas nada do que eu possa vislumbrar
Permite que eu consiga imaginar
Depois do temporal, tranqüilidade...
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Depois do temporal, tranqüilidade
Que há tanto tempo eu sempre perseguia
E sinto vir o vento da amizade,
Em mansa sensação de calmaria,
Trazendo para a treva, claridade,
Raiando em emoção santa alegria,
Quem sabe ser possível liberdade,
Além do que pensara, até sabia,
Refazendo o meu canto, em novo verso,
Alçando em pensamento outro universo
Embora muitas vezes caprichoso
Que possa permitir um canto leve,
No amor que uma amizade sempre ceve
Um dia que virá maravilhoso...
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Um dia que virá maravilhoso
Impede totalmente a derrocada
Do canto da amizade, desejoso,
Percebo a vida sempre iluminada,
Depois de caminhar tão receoso,
Encontro uma esperança demarcada
No sonho que me fez mais orgulhoso
De ter sempre ao meu lado em minha estrada,
A força que me toma e assim me abriga,
Nos braços de quem amo; minha amiga
Um sonho mais audaz, feliz eu boto.
Meu verso se apazigua neste instante
Bebendo o farto mel, doce e constante
Depois de um tempo amargo, ora remoto.
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