1961
Prazer que eternamente revigora
Mistura cheiros, teus nossos desejos.
Bem mais do que talvez simples lampejos
Eu quero novamente a qualquer hora.
Dentro de ti uma esperança explora
Caminhos delicados e sobejos.
Amar não necessita de traquejos
É só fluir que o jeito não demora.
No cerne da questão eu sinto o cais
Repetição do jogo? Quero mais,
Bisando e reprisando não represo
Deixando em corredeira nosso rio,
Amor não é decerto um desafio,
Cativo deste sonho em ti vou preso...
1962
Cativo deste sonho em ti vou preso,
A gente briga tantas vezes... tolos...
Tristeza vem regando nossos solos,
Depois- parece até que estou surpreso,
Chorando pelas ruas, indefeso
Buscando em outras sanhas, outros colos,
Encontro tão somente duros dolos
Jamais escaparei, não vou ileso...
Tentando te esquecer eu volto a ti,
Eu mal consigo acreditar: perdi...
Apenas me rondando uma saudade.
O nosso caso vai chegando ao fim,
Trazendo nosso amor dentro de mim,
Eu não conhecerei mais liberdade...
1963
Eu não conhecerei mais liberdade
Na morte que não quero carregar,
Martírios vão distantes do meu mar
Se a gente renovasse a mocidade...
Mas vendo tão somente o que em verdade
Não posso e nem consigo desfrutar
Eu bebo toda noite este luar
Sabendo em cada raio, falsidade.
Quem dera a vida fosse em paz, harmônica
Porém a solidão se faz atômica
E deixa o coração em sobressalto.
Tomando a minha vida já de assalto,
Interagindo sempre com vazio
Invento um novo dia sem fastio...
1964
Invento um novo dia sem fastio
Portando em minhas mãos verso ou adaga
A vida me cortando enquanto afaga
Velocidade imensa, vento frio.
Sacrílega emoção inverna estio
Lacrimejante sonho então me alaga
Saudade com carinhos quando é paga
Restituindo em nós antigo fio.
Sombria madrugada se aproxima
Neblina vai tomando nossa estima
Calado, resta o peito e nada mais.
Dissabores florescem nos meus olhos,
Recolho a fome e o medo, vários molhos
Imagens distorcidas; perco o cais...
1965
Imagens distorcidas; perco o cais
E sigo em temporal sem ter promessa
Do claro amanhecer noutra remessa,
Somente os teus sorrisos nos bornais.
O quanto eu desejei em rituais
Aonde a solidão não se confessa,
Mas tendo em minha vida sempre pressa
Desprezo que chegou, tu demonstrais...
Paragem necessária? Não conheço
Amor não sabe assim meu endereço
Correspondências vibram ilusões.
As horas se arrastando quais correntes,
Os olhos são vazios e dementes,
Saudade se derrama aos borbotões...
1966
Saudade se derrama aos borbotões
Vontade de ficar... o tempo passa...
O sonho se perdendo na fumaça,
Oculta estrelas, muda as direções...
Tomado por ingênuas ilusões
Somente restará nuvem que embaça
O coração entregue a tanta traça
Não traça nem sequer as soluções.
Não peço mais perdão. Prossigo só,
Pretendo renascer do mesmo pó
Jogado nas estradas, nos caminhos.
O quanto é solitário o bem querer
Estampa na parede o que fiz crer
Amarelada flâmula: carinhos...
1967
Amarelada flâmula: carinhos
Esquecidos no passado mais remoto.
O quanto de desejo vejo roto
Trazendo hibernação aos nossos ninhos.
Sabendo que andaremos mais sozinhos,
A vida se perdendo num esgoto,
Lutando, minhas forças eu esgoto,
Não adiantam tantos burburinhos...
Purpúreas violetas na janela,
Do amor que arrebatou Duran, Florbela
Meu verso se embebeda e me inebria.
A noite solitária não avança
A morte passa ser uma esperança
Tomando a minha vida e a poesia...
1968
Tomando a minha vida e a poesia
Cada palavra mostrará o trilho
Que seguirá estrela farta em brilho
Tramando a glória em que este amor luzia.
Ao prosperar a plena fantasia
Meu coração, outrora um andarilho
Escuta esta canção em estribilho
E um mundo mais amável, cedo cria.
Recuperando esta vontade imensa
Vive alegria com total concórdia,
Deixando para trás qualquer discórdia
Prevê nos teus carinhos, recompensa.
Ao procurar em farta luz vitória
Transformará em redenção a história.
1969
Transformará em redenção a história
O sonho realizado feito amor
A cada novo verso que eu compor
Revivo esta presença na memória
Antigamente eu me pensava escória
Vivendo por viver, sem ter sabor.
Porém ao ver um mundo encantador
Prenunciando assim tanta vitória
Eu pude então dizer do amor que trago,
Além de simplesmente um breve afago,
Imensidão em vida, glória em paz.
Enquanto houver um sonho pra sonhar
Deitando na varanda este luar
Felicidade intensa? Sou capaz...
1970
Felicidade intensa? Sou capaz
De perceber no teu olhar querida
Suprema luz há tempos esquecida
Marcada por um sonho mais audaz.
Beleza que decerto, a noite traz
Em lua maviosa refletida
No corpo da mulher mostrando à vida
O bem da fantasia feita em paz.
Olhares se buscando, dois faróis
Que tramam nesta noite claros sóis
Dourando amanhecer inebriante.
Só quero receber em cada abraço
Encanto que se mostra e não disfarço
Fazendo uma alegria ser constante...
1971
Fazendo uma alegria ser constante
Meu verso te procura vida afora.
Se a chuva vai caindo desde agora
O sol renascerá em novo instante.
Não tendo mais o riso de um farsante
O tempo que virá nos revigora
E mesmo sem a lua amor decora
A nossa madrugada inebriante.
O verso que dedico ao nosso amor,
Tocando com carinho e com vigor
As mãos que se procuram mansamente.
Assim que o dia aqueça nosso quarto
Ao encontrar meu corpo exposto e farto
Decerto irá brilhar mais plenamente.
1972
Decerto irá brilhar mais plenamente
O olhar de quem se deu e não fugiu,
O amor que a gente sente tão sutil
Tomando a nossa vida num repente.
Querendo em mansidão estar contente
Amor, a fantasia permitiu
Carinho prometido descobriu
Caminho para os céus, iridescente.
Não quero uma emoção que seja afoita
Enquanto no teu braço amor pernoita
A vida se promete em luz suprema.
Rompendo estas amarras que trazia
Eu vejo o renascer de um belo dia
Quebrando o que se fez outrora algema...
1973
Quebrando o que se fez outrora algema
Prossigo o meu destino do teu lado,
De um jeito bem gostoso até safado
Desejo vai seguindo a piracema.
Não tendo em pensamento algum problema
Amor que eu tanto quero sem pecado,
A cada nova noite é demonstrado
Fazendo da alegria o seu emblema.
Bandeiras desfraldadas pedem paz
Enquanto em mil loucuras já se faz
O bem de tanto gozo se desfruta.
A glória de viver se mostra astuta
Deixando a solidão sem ter morada,
A vida do teu lado, extasiada...
1974
A vida do teu lado, extasiada
Permite que eu me expresse em cada verso
Vagando com presteza este universo
Nos braços da mulher imaginada.
Não tendo depois disso quase nada,
Não andarei sozinho e nem disperso
Nos braços de quem quero, estou imerso
À espera da fantástica alvorada
A barca dos meus sonhos singra o mar,
Bebendo da emoção vai ancorar
No porto que em belezas se assenhora.
Colhendo em tua boca o que plantei,
Agora com certeza eu já terei
Prazer que eternamente revigora
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