2003
Felicidades; feito um chafariz
Nos olhos de quem sabe e quer bem mais
Que apenas receber da vida o cais,
Querendo plenamente ser feliz.
O quanto uma saudade me desdiz
Mudando em noite tensa os rituais
Que um dia percebera sensuais
E agora já sonegam o que eu quis.
A dança em contradança faz a festa,
Porém a solidão é o que me resta
Depois da caminhada desditosa.
Promessas esquecidas no quintal,
A vida que pensara triunfal
Matou no meu jardim, jasmim e rosa...
2004
Matou no meu jardim, jasmim e rosa
O que se fez bonito e vicejante
A marca que carrego neste instante
Pressente tão somente a duvidosa
Senda tantas vezes caprichosa.
Não quero o sentimento que humilhante
Roubando da ilusão tal diamante
Permite uma palavra desastrosa.
Estros de um trovador que teima tanto,
Embora recolhendo o desencanto
Espera nova safra da esperança.
Assim, vago partícipe da vida,
Andando com minha alma distraída
Distância sem limite, o sonho alcança.
2005
Distância sem limite, o sonho alcança
E vaga o tempo inteiro, chove e ri.
Às vezes ilusão caindo em si
Esquece o que pensara ser criança
Apenas sortilégios da lembrança
Tramando o que jamais eu descobri,
O tempo de sonhar, eu já perdi
Agora é necessária esta mudança.
Martirizando o verso, sigo em frente
O quanto amor terrível e indolente
Não sossega e galopa sem destino
Permite-me dizer do vago passo
Vencendo sem temores cada espaço
Menino sem juízo e tão ladino...
2006
Menino sem juízo e tão ladino,
O peito desnudado com sarcasmo
Andando convulsivo num espasmo
Estende uma emoção num gozo a pino.
Se nada nem futuro eu descortino,
Eu creio no poder de cada orgasmo,
Deixando para trás qualquer marasmo
Ao mesmo tempo canto e me azucrino.
Na crina dos meus sonhos, pesadelos,
A moça desgrenhando os seus cabelos
Estende num sorriso, este convite.
Bisando o que se faz doce e risonho
O amor jamais se mostrará bisonho
No encanto temerário se acredite!
2007
No encanto temerário se acredite
E faça deste sal nosso tempero,
O quanto necessito e não mais quero
Não deixa mais conselho e nem palpite
Lapido com palavras em grafite
O vento que se deu em desespero
As mutações que na verdade eu gero
Neste caminho que o vazio emite.
As dálias e os crisântemos, canteiros
Os olhos e as montanhas, velhas buscas,
O quanto em poesia já me ofuscas
Expressa em fantasias, nossos cheiros
Ronrona uma alegria zombeteira,
Sem cinzas, eu matei a quarta-feira...
2008
Sem cinzas, eu matei a quarta-feira,
Comparsa desta sanha, minha amiga
Não posso converter amor em briga
Nem quero a fantasia derradeira.
A lua se fazendo uma empreiteira
Empresta tanta luz que, farta abriga
Mulher estonteante, mas não liga
Parece que não quer embora queira...
Desbaratando as tramas, mesma teia
Que tece em disparate e me incendeia
Indexando calor com gozo pleno.
Ao ver inebriado tal beldade
Eu digo adeus, perdendo a liberdade
Buscando em tempestade, mar sereno...
2009
Buscando em tempestade, mar sereno
Eu sei que não terei sequer um riso
De quem ao se entregar diz paraíso,
Mas sabe disfarçar qualquer aceno.
Se na verdade o nada eu concateno
O quanto que ganhei foi desaviso
Se às vezes em teu sonho eu me matizo
No fundo, não resisto e em vão aceno.
Amor que tantas vezes me confunde
Ao mesmo tempo goza e já contunde
Deixando em desespero quem pensava
Beber na madrugada o fino mel
Da boca em gargalhada mais cruel,
A cada novo beijo traz a trava.
2010
A cada novo beijo traz a trava,
Fechando o meu caminho, trama o cofre,
Amor que vem chegando assim se chofre
Ao mesmo tempo é gelo, neve e lava.
Quem ama na verdade sempre sofre,
A ventania corta; forte e brava
A chuva que maltrata, uma alma lava
Enquanto o seu prazer, decerto aljofre.
Rocios que trocamos, gozo em festas,
De todas as vontades tu me atestas,
Marcando com as unhas minha pele.
A garra da pantera revira olhos,
Estrelas multicores, flor aos molhos
Loucura que me atrai, logo repele...
2011
Loucura que me atrai, logo repele
Assim vou me perdendo em farta insânia
Deixando bem distante alguma inânia
Aonde a solidão, inerme apele
Amor que vem roçando nossa pele
Impede com certeza uma vesânia.
Paixão acastelada diz citânia
Tomando deste sempre, nos compele.
Amor que com desejos não camuflo,
À luta em desvario quando insuflo
Pressinto, na colheita uma fartura.
Misturas entre pernas, olhos, dedos,
Desvendam com delírios os segredos,
À plenitude em gozo, amor augura...
2012
À plenitude em gozo, amor augura,
Paloma libertária em alvo véu
Percorre imensidão, ganhando o céu
Apascentando a vida em rara alvura.
Alvíssaras emergem da ternura
Estrelas da emoção que num cordel
Fazendo dos prazeres meu farnel
Esplêndidas imagens. Festa e cura.
A par desta divina confluência
Tiara dos meus sonhos com clemência
Estendem nos varais das esperanças
O riso de quem vive as temperanças
Do amor; o bem sublime em perfeição
Tomando em calmaria, uma explosão...
2013
Tomando em calmaria, uma explosão,
Suores escorrendo pelo rosto,
Amor quando dos medos ganha o posto
Encarna a procurada redenção.
Nas mãos do marinheiro, o doce arpão
Cravando e despedindo o vil desgosto,
Fazendo da alegria o seu recosto
Descarta num segundo a dor e o não.
No fogo abençoado de nós dois
Não deixarei mais nada pra depois
Vivendo a cada instante, o derradeiro
Quem tem amor sem gládio por parceiro
Já sabe caminhar por entre os astros
Reconhecendo em paz, pegadas, rastros...
2014
Reconhecendo em paz, pegadas, rastros
Deixadas pelos sonhos e vontades.
Vislumbro nos teus braços, claridades,
Amor reconhecendo nos canastros
As formas e os desejos; alabastros
Nas mãos de um escultor, as qualidades
Sublimes deste artista, sem alardes
Invadem com beleza e ganha os astros.
Num cântico que é feito em placidez
Amor que tantas vezes já se fez
Suprema redenção da vida humana,
Entrega-se ao desejo mais clemente
Mudando qualquer sina, toma a gente
Embora a sorte eu saiba ser cigana...
2015
Embora a sorte eu saiba ser cigana
Não temo os disparates do destino
Os erros quando posso, eu elimino
E a vida então se aflora soberana.
Num palacete ou mesmo na cabana
Na névoa vislumbrando um sol a pino,
Do velho transformado num menino
O amor mostrando a face mais humana
Ascende sobre todos, não escolhe,
E mesmo ao insensato já recolhe,
Um sentimento nobre enquanto pária.
A luz que nos desnuda temerária
Inflama, transtornando em destemor.
Inebriante audácia diz amor...
2016
Inebriante audácia diz amor
Roubando a nossa paz, nos apascenta,
A mansidão insana e violenta
Da glória que nos toma num torpor
Viagem por um mundo encantador
Ao mesmo tempo em risos, traz tormenta
Um novo amanhecer em guerra inventa
Ao tímido transporta o destemor.
Aos poucos transbordando em desvario
Inunda em placidez as calmas margens
Roteiros tão diversos de viagens
Dos mares invadindo o manso rio
Espalha sobre nós em cores gris
Felicidades; feito um chafariz.
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