Sem ter sequer a mágoa e a coragem
Não quero me vingar do que passei.
Só quero que tu saibas que a viagem
Prossegue pelo mar que desejei.
Não tenho mais temor nem piedade,
Às vezes sou nefasto, outras sou são,
Procuro dirimir a dor que invade
Sem ter sequer escrúpulos, em vão...
Tomo por testemunha a luz solar
Que queima e que mormaça meu querer.
De novo, com certeza, irei de amar,
De novo, pelos menos, quero crer.
Não leve tanta lágrima contigo,
Perceba que inda sou teu grande amigo...
X
Quando andava sozinho pela estrada
Depois de ter pescado uma ilusão,
Achando que talvez a namorada
Viesse como um trem numa estação.
Com hora e com destino bem traçados,
Na santa ingenuidade de menino,
Apenas ao andarmos abraçados
Selava em pensamento, o meu destino...
O tempo se passou e eu a revejo
E volto a ser menino por um dia,
Depois de tantos anos ganho o beijo
Com quem sonhara em minha fantasia...
Menino novamente; volto a ser,
Contigo, nesta estrada, a percorrer...
X
Quando o templo do amor eu conheci |
X
Amor quando em procura de um engenho
Que o faça mais perfeito e sedutor
Demonstra esta ternura que, sei, tenho,
E forja uma obra prima: o pleno amor.
A vida traz contrastes de matizes
Que sempre valorizam a pintura,
Amor quando nos toma
Prepara
Em cada poesia que preparo
Com ânsias de poder fazer meu rito
No ritmo mais fecundo e bem mais caro
De ter o grande amor, vivo e bendito...
Embora o sentimento sempre seja
A dor que dá prazer e que lateja...
X
Um verdadeiro feito amor consegue
De ser bem mais potente que uma dor,
A vida em desamor nunca prossegue
Aborta-se sem ter sequer calor.
Amor quando se apossa já domina,
Não deixa um sentimento sem resposta.
É mar que me domina e descortina
Banquete na minha alma, sempre exposta.
Não me cuido do medo de te amar,
Eu sei que bem o que quero; destemido.
Nas asas que me deste p’ra voar
Eu sinto meu destino resolvido.
Se olhar-me com cuidado, tu verás,
O bem que tanto amor, em mi, já faz...
X
Eu quero esse cantar
Rompendo
Sempre louvando a solidariedade
Criando uma corrente em vários nós.
Eu quero que o futuro traga à vida
Todo o valor que sei, a vida tem.
Não haja mais infância desvalida
Nem a velhice triste, sem ninguém.
Que em toda terra espalhe uma esperança
De um povo mais unido e mais feliz,
A noite tão vazia já se cansa
De ter somente o não; como raiz.
Que o AMOR seja infinito e sempre eterno
Que surja o belo estio após o inverno!
XX
Imensa adoração que te dedico
Com versos, com palavras, com amor...
Ao ver tua presença; sempre, fico
Extasiado e pleno em esplendor.
Num trono de fulgores, te elegi
Rainha dos meus dias mais felizes,
Certeza de saber que estás aqui
Transforma as minhas chagas, cicatrizes...
Quando eu cruzava tristes, vãos desertos,
Na busca pelo oásis da paixão,
Os ventos que batiam tão incertos,
Apenas prometiam solidão...
Agora que te achei não largo mais,
Não quero te perder, amor, jamais!
X
Os olhos tão formosos de quem amo
Emprestam a beleza para o céu.
Olhando para estrela sempre chamo,
Teus olhos são pintados a pincel
Por um artista raro e talentoso,
Um deus que imaginou coisas de amor,
Por certo tal artista vaidoso
Também de ti tornou-se adorador.
E sinto a tentação de Akenaton,
Vivendo este desejo sem limite.
Na formosura imensa, todo o tom
Que sei, faria inveja à Nefertiti...
Teus olhos sedutores são sinais
Divinos deste amor que imploro mais...
X
Eu quero o teu amor completo e puro,
Sem ter mais que temer nem o ciúme.
O chão que se aparenta, às vezes, duro,
Por vezes já me traz doce perfume.
Eu quero o teu amor sem preconceito,
Sabendo que é direito ser feliz.
Amor que noutro amor vai satisfeito,
Nos dá nosso destino de aprendiz.
Em cada cicatriz refaz-se forte,
Sem medo da ferida e da batalha,
Amor que sobrevive até na morte,
E sabe perdoar pecado e falha.
Eu quero o teu amor, querida amiga,
Que a todo e qualquer ser, decerto abriga!
X
No rosto deformado da esperança |
X
Neste canteiro enorme da paixão
A rosa que se esmera em perfumar,
Depois de certo tempo abre o botão
Quem sabe poderá de novo amar?
Eu quero ser, quem sabe, o colibri
Que pousa nesta rosa e que a deslinda,
Não sabes, mas te quero sempre aqui,
Tu tens este poder; ó rosa linda!
Por vezes, ao beijar-te me espezinhas
Bem sei que pode ser tua defesa,
Mas quero tuas noites sempre minhas,
Amor sempre nos serve cama e mesa.
Permita que te toque um passarinho
Que cego, tantas vezes perde o ninho...
X
Não deixe que a miséria passe em branco,
A fome nunca é boa conselheira,
Sorriso deve ser aberto e franco,
Uma amizade é para a vida inteira...
Será que tens ouvido para ouvir
E olhos para ver o que tu vês?
Na mão que se estende a te pedir
Imagem deste Cristo em que tu crês.
Passamos pela vida sem saber
Que tantos somos nós, mas um somente.
O próximo reflete o mesmo ser
Que inunda-te de vida totalmente.
O que nos deixará em liberdade?
Somente o pleno amor duma amizade...
X
Amigo não permita que a criança |
X
Na minha escura sorte procurara
Durante tanto tempo, sem ter sorte
A jóia que eu sabia cara e rara
Do amor que fosse guia e fosse norte.
Pois vindo deste peito já sangrante
O medo de saber-te mais calada,
Desmascarado o medo deste instante
Encontro-me contigo, minha amada.
Neste ansiado encontro o meu futuro,
A sorte se lançando num segundo,
Aguardo uma ilusão que negue escuro
E trague a sensação de sentir fundo
O gosto do prazer correspondido,
Que me deixou assim; tonto, aturdido...
X
Ao procurar abrigo nos teus braços
Sabia que podia já contar
Com toda a garantia destes laços
Tão fortes que ninguém pode apartar.
Consolo para os tristes pensamentos
No apenamento duro de minha alma,
És garantia certa dos momentos
Onde nem a beleza já me acalma.
Suave, o teu perfume, companheira
Recende a um jardim de alfazemas,
Por mais que se persiga a vida inteira,
Douradas garantias destas gemas
Que formam estas pedras lapidadas
Duma amizade sempre de mãos dadas...
X
Eu peço-te que cuide deste amor
Com toda essa presteza que anuncias,
Fazendo como faz o bom pastor
Proteja nosso amor nas noites frias.
E seja meu humano cobertor,
Aqueça sempre, todos os meus dias,
Preciso do carinho protetor
Que trame nosso amor em harmonias...
Perceba que cuidar dos sentimentos
É como preservar as alegrias,
Em todos os difíceis, maus momentos,
Permita que se encontrem fantasias
Que submergindo tantos sofrimentos,
Nos traga aos corações, as sinfonias...
X
Amor que se entregando não descansa
Se cansa de saber quanto me dói
Ausência de qualquer uma esperança
Que sabe que somente amor constrói.
Vivendo sem lembranças do que fora
A vida sem ter chamas onde arder,
A sensação real e redentora
Que traz uma alegria pro meu ser.
Banhado com meu sangue sem demora,
Amor se fez mais belo e iridescente,
Sabendo que quem sabe faz agora,
Amor é muito mais do que pressente.
Permite que se trague um novo dia
Repleto de ternura e de ousadia...
X
Amor, um sentimento tão tirano
Que, déspota, não deixa respirar,
Causando, se traído, desengano,
Recende a fantasia e ao penar.
Converte todo bem em um talvez,
Invade sem pedir calma ou licença,
Nunca sabe esperar a sua vez,
Às vezes punição ou recompensa.
Amor que me injuria quando exalta,
Exala tal perfume que inebria,
Quanto maior se sente mais a falta
Ausente, traz uma alma mais vazia.
Amor que nos derrota na vitória
É rumo que se perde em plena glória!
X
Querido sonetista, nos teus versos,
Encontro as mais diversas emoções,
Viajo e me transporto
Que
Guerreiros, minuano, chimarrão,
Dos pampas, teu cantar chegou aqui.
E já veio inundando o coração,
Tanto carinho sempre vejo em ti.
Amigos são tão raros nesta vida,
Ser teu amigo sempre, já me ufana,
Presença companheira e tão querida,
Orgulho desta terra de Quintana!
Não devo mais ficar aqui, calado,
Chaplin venho dizer: muito obrigado!
X
Esperança perdida? Nunca mais!
Agora não consigo mais deixar
De crer que poderei deixar pr’a traz
Quimeras que vieram par em par.
Eu vejo destroçadas as tristezas
E sinto tanto bem por ser assim,
A vida se envolvendo nas certezas
Da paz que retornou, até que enfim!
Amiga, como é bom saber que vivo
Nos braços da esperança mais feliz:
Da liberdade inteira de um cativo
Que foi por tanto amor, um aprendiz.
Amiga; não mais choro uma saudade;
Agora eu encontrei felicidade!
X
Eu nunca mais terei contentamento
Se não tiver teu corpo contra o meu,
Numa explosão de imenso sentimento
Que forma, num instante, luz no breu.
Um sentimento assim, que me entontece
E me faz perder senso e ser audaz,
Numa emoção que sempre vem e cresce
Em forma de esperança mais tenaz.
Eu nunca mais terei uma alegria
Que não surja do amor que hoje me cura
Em toda uma beleza
Depois
Eu nunca mais verei u’a solução
Distante do sangrar de um coração...
X
Oh! Bem aventurados os que sabem
Que amor é o caminho mais sensato,
Pois neles universos todos cabem,
Carregam dentro em si manso regato.
São bem aventurados os amigos,
Que sempre se oferecem em ajuda.
Nos braços companheiros os abrigos
Não deixam que uma dor sempre te iluda.
Amor com amizade são perfeitos,
Não posso discordar desta verdade,
Quem sabe defender dos preconceitos,
Dos medos e de toda falsidade.
Amor que não permite insanidade
Deságua em belo mar: o da amizade!
X
Não quero que transportes o meu sangue
Em pleno coração mais distraído.
Nem quero hemorragia que se estanque
Nos beijos que te dou, estou vencido.
Não quero que me tomes a minha alma,
Pois sinto que não tenho mais remédio.
Nem mesmo uma emoção nova me acalma
Pretendo me inteirar no meu assédio.
Eu na verdade sou o que preferes,
O gosto desta boca é todo teu,
Não guardo mais sequer os caracteres
Pois tudo o que já fui, amor perdeu;
Eu sou simples cativo que te busca,
De uma maneira mansa, mas tão brusca...
X
O meu hábito antigo de entregar |
X
Duras as leis do amor e da amizade,
Apenas as consigo adivinhar
Sei que elas não permitem claridade
Ofuscam cada verso que eu cantar.
Meus lábios quando osculam os teus lábios
Convidam para a noite em bom festim,
Segredos dos amores, toscos... Sábios?
Impedem que tu venhas para mim...
Mas, entretanto, quando me desejas,
Eu sirvo-te, cativo deste encanto.
E qual u’a fera louca tu me beijas
Deixando por completo o manso manto.
Quem dera descobrir esses mistérios
Que tecem neste amor, vários critérios...
X
É madrugada fria, estou sozinho, |
X
Não quero embriaguez de uma aguardente
Com toda toxidade que transtorna,
Nem quero mais andar como um demente
Sem rumo que, vazio, não retorna.
Não quero este mistério tão difuso
Que faz com que eu não saiba discernir,
Deixando-me deveras tão confuso
Que não tenha sequer como seguir.
Na sensação feroz da solidão,
Andei por tantos bares sem destino.
Agora quero ter esta emoção
De ser bem mais que um louco em desatino.
Procuro em meu caminho e o que se vê?
Eu quero inebriar-me de você!
X
Rasgo dos mundos, mantos tão etéreos |
X
Na multidão de versos que proponho |
X
O fruto do desejo é nosso amor,
Orgástico delírio que vivemos,
Na sinergia intensa, protetor,
É mais que pensamos e queremos.
Formando uma vulcânica erupção
Em lavas que se escorrem, tresloucado.
Convulsos em magnífica explosão
Num mar de tanto sonho derramado.
O fruto do desejo redimiu
Um coração que fora sem sentido,
Percebo que este encanto ressurgiu
De quem já fora um dia, desvalido...
O fruto do desejo sem juízo,
Nos abriu o portal do paraíso!
X
No tempo em que sonhara desmedido, |
|
X
Se quando me amparaste nos teus braços
Houvesse mais cuidado em me reter
Talvez não se rompessem nossos laços,
Talvez inda pudesses ser meu ser
Cativo deste amor que dedicamos
Sem termos nem sequer ansiedade,
Aos poucos os carinhos derrotamos
Aos poucos transformados em saudade...
Tua palavra amiga sustentou
Durante tanto tempo meus anseios,
Agora que te vejo cedo estou
Saudoso deste colo, dos teus seios...
Amada me perdoe se eu lutei
Contra este amor imenso, nossa lei...
X
Amor que na abundância ou na miséria
Não deixa de querer quem te quer bem,
Do abismo mais profundo à noite etérea,
Envolto nestes mantos sempre vem...
Não me permite mais tomar assento
No banco das tristezas e das dores,
Em meio a tais carinhos me contento
E flagro-me roubando jardins, flores...
Livre dos medos tolos, insensatos,
Caminho em cordilheiras mais audazes,
Bebendo a mansidão destes regatos
Percebo em nosso amor forças tenazes
Que tanto acariciam que alucino,
Completam meus desejos de menino...
X
Meu verso te procura no universo |
|
X
A música encantada da amizade
Ecoa no meu peito como prece,
Garante em meu viver, tranqüilidade
E sinto que este amor por ti já cresce.
Eu sei que não consegues discernir
Amor dum sentimento bem mais nobre,
Por isso venho aqui para pedir
Que saibas que o que sinto já me encobre
De uma alegria imensa e benfazeja
De ter essa emoção encantadora,
Meu corpo te procura e te deseja
Minha alma já te sabe redentora.
Tu és bem mais que simples companheira,
És minha amada amiga, a verdadeira!
X
Meu canto de agonia que se esparsa |
X
A tarde que me trouxe esta alegria |
X
Mais uma noite fria e sem ninguém,
Apenas esse vento na janela
Procuro sempre em vão pelo meu bem,
A vida se entregou ao lado dela...
O resto do que fui caminha a esmo
Sem ter sequer destino, vou vazio...
Quem dera que eu pudesse ser o mesmo
Antes que o coração calasse frio...
Amor, por que partiste, diga enfim,
Meus versos não suportam a distância
A morte vem rondando, chego ao fim,
O sofrimento imenso em tal constância
Permite que eu escute sempre o não,
E morra, a cada dia, em solidão!
X
Quando as espadas ferem quem disputa
Os jogos da emoção, doce pecado.
A mansidão se torna força bruta
O meu olhar se entorna apaixonado.
Do gládio que me invade, hemorragia,
Dilacerante seta que entontece,
Vai maculadamente a fantasia
Não adianta mais sequer a prece.
Em todas as arenas, derrocadas,
O coração repasto de tais feras,
As sanidades estão já destroçadas
Nas garras das paixões, fatais panteras...
Entregue aos teus desígnos, fero amor,
Não me adianta ser gladiador!
X
As catedrais divinas deste amor |
X
Quem pensa em ser poeta tem que ter
O pensamento livre, sem amarras,
Não pode se deixar mais submeter
Ao egoísmo torpe em tristes garras.
Vivendo a poesia como um todo;
Quem ama sempre a vida vai buscar,
Mesmo na ostra que vive em pleno lodo,
Inspiração liberta p’ra cantar...
Amada, por favor, não tolha o sonho
Que nunca se deixou ser um cativo,
Por vezes meu cantar é mais risonho
Que a dura realidade onde estou vivo...
Não queira confundir a poesia
Com vagas sensações do dia a dia...
X
Que a voz do trovador sempre te exalte
Em versos mais singelos ou mordazes.
Que a vida de quem canta já se paute
Por sonhos mais felizes ou audazes.
Tantas noites passadas nestes bares
Sonhando com justiça e com amor.
Em cada companheiro mil altares
Em cada novo canto o meu louvor.
Que a voz tão insegura de quem canta
Não deixe de calar a sensação
Que toda essa alegria seja santa
Que traga para nós uma emoção
Distinta da ilusão que nos castiga,
Que emane da cantiga a voz amiga!
X
Vou célere fugindo de mim mesmo, |
|
X
É noite em plenilúnio dentro da alma,
Em festas meus desejos qual crisálidas
Percebem teu carinho que me acalma
Deitando em tua cama flores cálidas.
Eu tento percorrer o teu sacrário
Sabendo que encontrei a solução
Que mata meu destino temerário
E invade de prazeres a paixão.
Vogando meus carinhos nos teus mares
Na doce sensação destes sargaços,
Entregue aos teus delírios, meus luares,
Encharcam-se na alvura dos espaços
E quero teu amor vivo e noctâmbulo
Que sempre me procura, amor sonâmbulo...
X
Não penso neste amor, em gratidão,
Nem quero que me beijes por beijar.
Apenas te proponho uma emoção
Que faça sem ter asas, revoar...
Não falo desta chaga que carrego
Nem conto a cicatriz exposta em ti.
Eu sei bem d’onde venho e nunca nego,
Só sei que nos teus braços me perdi.
Acendo este cigarro, veja a fumaça,
Assim; o nosso amor não quero ter.
Eu quero te levar, de noite à praça
Depois o teu prazer no meu prazer...
Esqueça essa mão vil do meu passado,
Perceba quanto estou apaixonado!
X
Cevaste meu amor por tanto tempo,
Agora que me tens fazer o que?
Não quero que me vejas passatempo
Apenas um brinquedo em que se vê
O gosto da vitória na batalha,
A sensação suprema de ganhar,
Meu canto enamorado já se espalha
O que fazer senão te amar?
Cavaste na minha alma uma esperança
De ser além do amor, ser imortal.
Eu vejo, do brinquedo já se cansa,
Não quero ser apenas um jogral.
Eu quero me perder nestes teus rios
Embora eu já perceba, são tão frios...
X
Perdido para sempre em tua rede
Não quero me ausentar das belas teias,
De teu amor eu tenho tanta sede
Teu sangue se imiscui nas minhas veias.
Meus olhos se perdendo sem ter rumo
Bebendo de teus olhos sonhadores,
Eu quero deste amor inteiro o sumo,
Eu quero me encantar com tuas flores.
Não vejo aterradoras diferenças
Que possam impedir o nosso enlace,
Pois saiba que teremos recompensas
Se não nos ocultarmos. Nossa face
Em um espelho só já se mostrara
Mostrando o que sentimos: jóia rara!
X
Paixão é sentimento tão selvagem
Que trama uma loucura enquanto corta,
Permite ao pensamento tal viagem
Que arromba qualquer casa e qualquer porta.
Paixão que nos treslouca e alucina
É quase convulsão em tempestade.
Nos toma a liberdade e nos domina,
Nos matando em fatal ansiedade.
Sentir tão fascinante e doentio
Flambando o coração em doce amaro,
Promessa de calor que traz o frio,
Derruba enquanto quer dar todo amparo.
Paixão é negação do próprio ser
Tortura e dá vontade de viver...
X
O manso caminhar por esta vida,
Em tantas tempestades, sempre acalma.
Certeza de uma paz já ressurgida,
Com toda uma alegria dentro da alma.
Por mais que seja sonho, nunca deixe
De ter esta esperança dentro em ti.
Amor que multiplica pão e peixe
Num acalanto doce, sempre vi.
Espero que este amor seja contigo
O mesmo que comigo já caminha.
Amor que nos protege, bom abrigo,
Na dor e na tristeza nos aninha...
Amor que se traduz sinceridade,
No rumo das estrelas, amizade...
X
Para onde fores, minha amada, irei;
Trilhando o mesmo rumo, mesmas ruas...
Seguindo estas pegadas, buscarei,
Usufruir das luas, nuas, tuas...
Por mais que a noite venha tão sombria,
Eu vejo uma mudança destes ventos.
Pressinto que terei tanta alegria
Em meio a tão felizes sentimentos...
Se acalmo estas tormentas dentro em mim,
Bem sei como foi triste um vão adeus,
Mas vejo que terei amor sem fim,
Promessa que senti nos olhos teus.
E seguirei teus passos onde fores,
Nas sendas infinitas dos amores!
X
Não falo deste mar que não me lembro |
X
Florescem sob a lua, teus encantos,
No teu corpo as marcas do prazer,
Cobrindo tua pele como mantos
Entranham cada parte do teu ser.
As loucas, transtornantes fantasias,
São tuas cicatrizes favoritas,
Espelham nossas doces sinfonias
Tocada pelas bocas tão benditas...
Os astros te observando tecem lumes
Nos céus qual pirilampos fluorescentes,
As flores se encharcando de perfume,
Se abrindo e se mostrando enlanguescentes...
Florescem novamente meus desejos,
E rendo-me aos teus sábios lábios, beijos...
X
O tempo tão voraz derruba tudo,
Não deixa pedra sobre pedra... Nada...
Amor que te emprestei, porém; contudo,
Ainda faz a vida ser dourada...
Nesta profundidade em que me embrenho
Dos sonhos que não tive e nem vivi,
Aos poucos solidão fecha o meu cenho,
E sinto que talvez, eu te perdi...
Mas teimo em te manter nestas ruínas
Do que restou de mim, por sobre a terra,
Meus olhos se elevando nas colinas
Adivinhando a dor da dura guerra,
Procura por teus olhos, ansiosos,
Nos sonhos deste amor, voluptuosos...
X
O medo de morrer sem ser feliz |
X
As dores que formaram nebulosas
Nos sonhos imprecisos deste amor,
Agora se permitem novas rosas
Tão orgulhosas sabem como a flor
Perfuma um desejo tão sutil
De ter-me novamente redimido
De todo este meu mal, amor gentil
Faz-me da morte estar, ser renascido.
A força que me atrai também revela
Que posso ser feliz, talvez um dia,
Pintando um novo amor em nova tela
Nesta aquarela santa da alegria.
A solidão recolhe suas garras,
Rebento, com o amor, estas amarras!
X
Meu coração não deixa-se domar, |
X
Não deixe que agonize este desejo
De ter uma esperança mais bendita,
Futuro nebuloso sempre vejo
Se calas tua voz que é tão bonita.
Cadáver andrajoso pelas ruas,
Não quero mais a sina que percebo,
As horas transtornadas cortam cruas,
Nevasca dentro da alma já recebo.
Arrasto uma esperança moribunda
Atada qual corrente nos meus pés,
A solidão se emerge mais profunda,
Meu barco sem destino e sem convés.
Amor que tanto quis e desejei,
Qual fora um morto vivo, agonizei...
X
Vagando por mim mesmo, me perdi,
Não sinto mais a força que esperava,
De tudo o que sonhei, restei aqui,
A morte em tempestade beija e lava,
Eu sei que não devia ter sonhado,
Um sonhador merece tal castigo,
O coração se cala amargurado,
A vida se demonstra em desabrigo...
Eu sinto a solidão batendo à porta,
Sorrio: estás de volta companheira!
Achei que te veria, enfim, já morta,
Mas selas meu destino, derradeira.
Sentindo que a rotina recomeça
Minha alma sem sentido, vã, tropeça...
X
O frio que cortava o pensamento
No fio da navalha sempre andei.
Querendo desfrutar deste momento
Percebo que jamais conseguirei...
Cortando qual um aço mais feroz,
Bem fundo em minha carne lacerada,
O gosto da saudade invade a foz
Do rio que morria sem ter nada.
Sou verso e sou reverso da medalha,
Apenas um despojo que carregas,
Bem fundo e sem sentido a faca talha
Um coração exposto em várias pregas.
E calo meu sorriso em vil destroço,
Na morte de minha alma, já remoço...
X
Eu quero o nosso amor numa cabana Na roça, na montanha ou na fazenda, Bebendo uma garapa, pura cana, Passada com jeitinho na moenda. Eu quero uma casinha bem bacana Comprar café e fumo numa venda, O pó duma saudade o vento espana A solidão, distante, vira lenda... Comer queijo com broa de manhã, Regado com café e leite cru. Fazer de uma alegria nosso afã, Quarar nossa esperança no varal, Nadar na cachoeira inteiro e nu, Fazendo muito amor no matagal... |
X
Pobre pescoço andava tão sozinho,
Em busca de quem desse uma atenção,
Depois de tanto tempo sem carinho,
A cervical estúpida região,
Aos poucos se mostrando em desalinho,
A todos resolveu vir dar lição.
Ladrando e se mostrando podre linho
Só quis aparecer, o pescoção.
Cansados de tamanha pescocice
Alguns pediram mais educação,
Que a cervical dizia em asneirice...
Assim passaram meses, anos dias,
Pescoço continua
Só Pedindo
X
Por tanto tempo andei sem ter ninguém, Nas ruas, nas bodegas, botequins, Cansado destas noites de meu bem, Ou outras melodias mais afins. A noite em polvorosa vai e vem, Minha alma carcomida por cupins Olhando para os lados perco o trem E morro nessas saias, puros brins. Depois de tanta saia procurando, A azul e amarela quis meu beijo, Aos poucos, devagar foi me encantando. Agora está deitada aqui comigo, Passando as várias fases do desejo, Agora em outra saia peço abrigo... |
X
Pretendo sim, usar perfeito zoom
Para mostrar-te inteira em emoção.
Cantando sem temor, sequer, algum,
Eu falo da mulher em explosão.
Daquela que domina, mansamente,
E cobra, de repente, seus desejos,
É força que se mostra plenamente
Tornando-se maior sem fantasia;
Mesmo que de princesa haja lampejos,
Aumenta o seu poder a cada dia...
X
Interessante, às vezes me lembrar
De como começou o nosso caso,
Eu quase te perdi. Fora do prazo,
Por pouco não deixava-te escapar.
Te via e quase nunca percebia
O brilho dos teus olhos sobre os meus,
Dizia tantas vezes: Vai, Adeus.
E não te imaginava e nem podia...
Cansado desta vida só e a esmo,
Já tinha me esquecido de viver,
Meu sonho adormecido, sempre o mesmo,
Não tinha nem resquícios de prazer...
Mas quando eu percebi; meu coração
Atado nesse fruto temporão...
X
Alago-me nessa água que percorre
As pernas bronzeadas da morena,
Ao mesmo tempo afoga e me socorre,
Ao mesmo tempo sana e me envenena;
Riscando por um triz o mar inteiro,
Lavando a cicatriz com água benta,
No gosto deste sal um derradeiro
Desejo de paixão tão violenta...
Na proa deste barco eu sempre embarco
O mastro que quer vela e se revela
Deixando em todo porto o gozo, o marco,
Pintando no teu corpo a louca tela
Formada em aquarela, num lampejo,
Marcada ao fero fogo do desejo!
X
Ao ver nesta mulher a rosa plena
Que emana imensidão em cada passo,
Compassos esquecidos lua acena
E sinto-me no poço de seu braço.
Aberta a rosa inteira feminina,
Me nina em cada mina meu tesouro.
No gosto desta boca, me alucina
Menina minha sina é ter teu ouro
Marrom em tanto tom, novo matiz,
Os olhos são marrons, teus dons e brilhos,
Marrom o meu desejo e cicatriz,
Ronrona enlanguescente nos meus trilhos,
A rosa se acastanha e se bronzeia,
Na brônzea emoção de lua cheia...
X
Bateu na porta, abri depressa... Amor,
Fazendo estripulia, veio vindo
Devagar invadindo sem pudor,
E quase que zombando, estava rindo...
Naquele instante sinto que perdi
O rumo planejado há tanto tempo.
Aos poucos me tomou; me convenci
Que desta vez não era passatempo...
A mais bonita moça do cerrado
Morena com sorriso mais gostoso,
Domou meu ar, meu céu, beijo melado
Que tanto desejei, amor fogoso...
Agora que este amor é minha lei,
A porta, de uma vez, eu arrombei!
X
Canção da chegança dos marujos cantada por Manuel Lima e Antônio Tavares em Penha (RN) e anotada por Mário de Andrade em 1928)
Adeus, meu lindo amor
Eu vou embarcar
Até segunda-feira
Terça, quarta mais tardar
Eu vou embarcar
Não chore, minha amada eu vou voltar..
As ondas que me levam vão trazer
Esta saudade imensa vai buscar
Meu barco aqui de novo prá te ver...
Eu sei que terça feira vou partir,
Buscando no oceano o nosso pão,
Meu corpo sempre tem que prosseguir
Mas deixo aqui, contigo, o coração...
Adeus meu lindo amor, depois eu volto,
Quem dera se pudesse estar contigo,
Quando âncora levanto e a corda; solto,
Meu coração se perde sem abrigo,
Só levo teu sorriso e a saudade,
E deixo aqui; amor, felicidade...
X
Nossa casa é vazia sem você,
As flores vão murchando sem carinho,
Procuram jardineira, mas cadê?
Eu vivo uma gaiola, passarinho...
Não deixa que isso venha a acontecer
Eu quero esta presença que me embala
Nas noites que mal posso adormecer
Sua alma na minha alma não se cala...
Durante tanto tempo em minha vida
A sorte parecia que fugia
Uma esperança pobre e adormecida,
Sangrava, simplesmente, todo dia...
Agora que voltou, meu grande amor,
A fria casa, agora, tem calor!
X
Não quero este teu Deus que só castiga,
Vivendo entre seus filhos preferidos,
A mão divina é sempre mão amiga,
Não creio, enfim, que existam preteridos...
O Pai que deu amor e nos abriga
Não é o causador desses gemidos,
Amor só se conquiste a não se obriga
Tampouco os seus pendores divididos.
Eu creio neste Pai amante amigo
Que sempre repartiu o peixe e o pão,
Desculpe, quero crer; mas não consigo.
A vida me mostrou com claridade,
A força tão enorme do perdão
No santo manto feito na amizade...
X
Um Deus onipresente e onipotente
Não vê um inimigo em cada canto.
Aos filhos este Pai tão semelhante
Que achá-los diferentes causa espanto...
Um pai que ama seu filho está contente
Mesmo em diversidade de outro canto,
Não creio ser possível que se tente
Deixar de ter amor e ter encanto
Apenas por que o filho não se vê
Parecido ou refletido neste Pai,
Prossigo respeitando quem se crê
O filho preferido do Senhor
Porém eu não admito quem já vai,
E quer o monopólio deste amor...
X
Eu sei que quando falas no meu nome
Uma saudade bate lá no fundo...
A nossa cicatriz nunca mais some,
O corte foi cruel e mais profundo...
Por mais que uma certeza já te tome,
Esquece, e me recordas num segundo.
A noite em solidão sempre consome
Não há lugar pra ti, no imenso mundo...
Querida estou aqui, pensando nisso,
Da flor que sem querer, perdeu o viço,
Nos olhos tão vazios sem ninguém...
Amada espero a volta deste amor,
Que foi neste jardim, mais bela flor,
Te peço, meu amor. Agora... Vem!
X
Quando tu me falaste num adeus
Senti todo meu mundo desabar,
Meus olhos já perdiam-se nos teus,
Sem o sol, como vive este luar?
Os dias se passaram, tão ateus,
Somente uma tristeza em meu olhar,
Cheguei a praguejar contra meu Deus,
Perdido, sem nem ter com quem contar...
Não fora uma amizade verdadeira
Talvez eu nem pudesse resistir...
Eu pensei ter perdido a vida inteira
Sem ter nenhum apoio onde escorar,
Agora, minha amada; vai me ouvir
A vida vai voltando ao seu lugar...
X
No culto divinal ao deus amor, Meus olhos embargados não te esquecem, Teus passos e caminhos sempre tecem Destino deste louco sonhador... Não quero teu amor em sacrifício Difícil entender se assim fizeres, Só quero; no banquete, teus talheres Eu te ofereço amor, meu sacro vício. Querida embalde a vida nos desfaça Eu clamo eternidade para ter Zil anos desfrutando do prazer De ter o nosso amor em plena graça. Permita-me sonhar, sei impossível, Mas somos um só ser, indivisível... |
X
Quando temos os olhos mais cansados
Na busca por dispersas ilusões
Sabemos quanto somos desprezados
Envoltos nos delírios das paixões.
Amada, meus caminhos desviados
Me levam, com certeza, p’ra rincões
Tão ermos, muitas vezes são marcados
Por outros desvarios e emoções...
Mas sei que mal, enfim, noite termine
Eu posso avaliar aonde errei;
Espero que a saudade determine
E eu cumpre meus presságios pela vida;
Mudando em nova sorte a velha lei
Que traga uma alegria mais sentida...
X
O tempo modifica todos nós,
Bendito seja o vento da mudança,
O que já fui e sou, serei após?
Contínuos os fascínios desta dança
No atar e desatar de antigos nós
Romper, formalizar outra aliança,
O tempo é companheiro, mas algoz
Forjando uma incerteza e uma esperança...
Converte amor em ódio ou em desprezo,
Produz numa amizade, indiferença,
O manto da tristeza sói obeso,
E uma saudade imensa do que fomos,
Amigo, ser feliz não é doença,
A fruta se divide em vários gomos...
X
Quando estou recolhido no meu quarto
Eu sinto o bafejar do calmo vento,
Depois de ter vivido um sonho farto
De amor que não me sai do pensamento,
Escuto tua voz chamando ao senso
Imerso em tal delírio, te procuro,
Depois de certo tempo o mar extenso
Da solidão me mostra o quarto escuro.
Levanto; fecho esta janela e deito.
E te sinto tocar a minha boca,
Beijando-te adormeço satisfeito,
Refém desta emoção sagrada e louca...
E sonho com teus olhos, teu carinho,
Assim eu vou vivendo em nosso ninho...
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