AFRODISÍACO PORRETA,

1

Essa vida tem histórias
Que traduzem muito bem
Quando bate o desespero
E resposta nunca vem,
Relembrando há muito tempo,
Num enorme contratempo,
Tantos anos sem ninguém.

2

Um sujeito sem carinho,
Homem quase já velhusco,
Nem de quenga algum afeto
Na memoria quando busco,
Recordar da sua lida,
Vejo a face carcomida
Pelo mundo amargo e brusco.


3

Procurando em noite plena
Quem pudesse em companhia
De tão feio, esse sujeito,
Nem sequer uma vadia
Nem que fosse uma rampeira
Nem por sonho ou brincadeira,
A festinha toparia.

4

Se virava então sozinho,
Mas isso não dá prazer,
O que possa na verdade
É fingir o que quer ser,
E tentando até dormir
E quem sabe no porvir
Encontrar um bem querer.

5

Desde moço, na verdade,
Infeliz não teve paz,
Todo amor nunca seria
O que a vida quer e traz,
Nunca fora enfim bonito
Magricelo qual palito,
E hálito de Satanás.

6

Antes deste tal de bulin
Já sofria pra danar,
Apelido? Mais de cem,
Era mesmo de assustar,
Mas o tempo foi passando
E decerto piorando,
Começava a acostumar.

7

Mas como o diz o ditado
Mesmo que tenha chulé
Um sapato sempre encontra
Quem decerto tem um pé,
E num fora diferente
Com o pobre do vivente:
Encontrara uma mulher.

8


Não que fosse bonitinha,
Mas pro moço era uma mis,
Cambetinha e até zarolha,
Com dois parmo de nariz,
O que importa, mula manca,
A verdade não desanca
Quero mais e peço bis.

9

Acontece que o sujeito
Depois de tanto penar
Ao olhar a peladinha
Sem saber o que falar
De nervoso deu em nada,
O que fora grande espada
Arresolveu arriar.

10

Procurando benzedor,
Catuaba, e até codorna,
A verdade não se fez
Deixando nesta madorna
O danado adormecido
Quase pobre falecido,
Água fria não se amorna.

11

Resolveu então depressa
Procurar algum doutor
Que pudesse resolver
Num momento alentador
Onde tudo resolvido
O negócio já comprido,
Já mostrando o seu valor.


12

Apois sendo examinado,
E nada tendo o sujeito
O doutor passou remédio
Prá sanar esse defeito,
Na verdade o que inda havia
Era falta de energia
E isso logo dá-se um jeito.,

13

Resolveu mostrar serviço,
Contratou especialista
Dona formada no amor
E ficou mais otimista,
Preparou banho de cheiro,
Com perfume do estrangeiro
Parecia até artista.

14

Pobre moça, mas que susto,
Ela teve essa infeliz
Coisa que nunca pensara
Na carreira, meretriz,
Ao chegar, a porta aberta,
Entrou mansa e toda esperta,
E encontrou o que não quis.


15

O corpo tava estendido,
Numa cena inusitada,
Todo bem arrumadinho,
Com as calça já arriada
E desfivelado o cinto,
Com o pobre do seu pinto,
Preso firme na tomada.