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Saturday, August 19, 2006

Sodade

Nus óio dessa sodade,
Preguntei móde sabê
Adonde a felicidade,
Pudia mió se escondê,

Num incontrei a resposta,
Prá pregunta qui eu fiz,
Pois, di mim, sodade gosta,
Sem ela, num sô filiz...

Travei briga com Maria,
Joaninha me dexô,
Chorei de noite e de dia,
Sodade do meus amô...

Minha casa lá pur riba,
Naquele canto de morro,
Quando a sodade s’arriba,
De vórta, prá lá eu corro...

Minha mãe dexô tristeza,
Quando Deus, triste levô,
Tanta dor, que marvadeza,
Sodade foi que restô...

Faz treis meis que nunca chove,
Nessa terra, sô dotô,
A sodade me comove,
Meu canto só sabe dô...

Nu mei dos espin da vida,
A sodade machucô,
No amô, na dispidida,
A sodade é uma frô...

Os espin que ela carrega,
São por Deus, abençoado,
A sodade faiz entrega,
Nesses peito apaxonado...

Fiz cabana de sapé,
Pra morá com meu amô,
Mas, leite sem tê café,
Sodade foi que restô...

Vida sem sodade, cansa.
É cavalo sem arreio,
Sodade, no peito avança,
Trazeno a lua, no seio...

Quano pito meu cigarro;
Da páia do mío, feito.
Na sodade, eu me agarro,
Martrata cumo malfeito...

Minha Rita é tão bunita,
Prefeita cumo uma frô,
Sodade meu peito agita,
Ao ti vê, bem disparô...

Rélojo contano as hora,
Trais sodade sem ter pressa,
Meu amô, já foi-se embora,
Coração bateu depressa...

Vi meu bem saindo fora,
Me dexô na solidão,
Quê que vô fazê agora,
Sodade no coração...

Vórta pra mim, querida,
Num me fais ingratidão,
Sem ocê, a minha vida,
De sodade, vale não...

Meus óio anda tristonho
Pércurando pur vancê,
Tenho sodade do sonho,
Onde pudia eu te vê...

Sodade é coisa facêra,
E besterenta tômbém,
Vivi minha vida entera,
Com sodade desse arguém...

Vento balança o teiádo,
Onde fiz minha chopana,
Sodade quema um bucado,
Arde qui nem taturana...

Se tenho medo da vida,
Da morte num tenho medo,
A sodade dói doída,
Mas dela, sei o segredo...

Sodade faiz tempestade,
Dirruba casa e barraco,
Como dói a tar sodade,
Parece chute no saco...

Eu rezei prá Santo Antoim,
Prá móde pudê casá,
Finar de tudo, foi soim,
Só sodade vai restá...

Tenho sodade num nego,
Essa é a maió certeza,
Sodade cravando o prego,
me furano de tristeza...

Pedi perdão pru meu Deus,
Pulos pecado que tive,
Sodade, nos óios meus,
Em cada lágrima, vive...

Mardiçoei minha sorte,
Foi o que eu pude fazê,
Bejo de sodade é morte,
Dessa morte vô morrê...

A solidão é fera e me devora

A solidão é fera e me devora,
Não permite meus passos sem temor,
Trazendo essas angústias que, d’outrora
Foram as companheiras dessa dor...

O tempo vagaroso, faz d’agora,
Em lágrimas vertidas, carpidor.
Minh’alma sem destino, vaga, chora...
Sozinho, penitente, mal d’amor...

A solidão, tempero do meu karma,
É fustigante como um maremoto,
Quem dera não saber da medonha arma;

Seus olhos se repetem, cada foto,
Pois, só tua presença é que desarma
A dor fatal da fera em que me emboto...

Quisera ter, da sólida braúna

Quisera ter, da sólida braúna,
A eternidade, força em que me apego;
Na raridade bela da graúna,
A grandeza marinha que navego...

Poder lutar, jogando nessa iúna,
Com toda força; o medo eu arrenego,
Sair ao mar, das dunas, minha escuna;
Vadio o peito, vago sendo cego...

Nas minhas mãos sedentas por batalhas,
Meus pés na dança-luta, capoeira,
Não quero nem carrego essas mortalhas,

Minha senzala, nunca a verdadeira,
É meu caminho pleno, tantas falhas
Trago, meu coração sem eira e beira...

Eu recebi respostas pelo vento

Eu recebi respostas pelo vento,
Dessas indagações, que um dia, eu fiz.
Por onde surgirá contentamento,
Qual o momento, enfim, de ser feliz.

Para onde irá, depois, o esquecimento,
Minh’alma, de tormentos, meretriz,
Na soma, diminui meu pensamento,
Vivendo, vou morrendo por um triz...

O vento percebendo tanto medo,
Me respondeu, temendo minha dor,
Ao fim de tudo, sabe meu segredo,

Traz no sopro o saber caminhador;
De quem viveu, outrora, no degredo,
As respostas? O vento já levou...

Por amar assim, sendo verdadeiro

Por amar assim, sendo verdadeiro,
Jamais conseguirei ser um liberto,
Amando de tal sorte, por inteiro,
Sem perceber qu’andei mais incompleto.

Amor sugando, tudo, meu ceifeiro,
Não restando, portanto, nem meu teto,
Sem ter início, sequer paradeiro.
Amor, o precipício de tod’afeto...

Num desejo cruel, sou seu escravo,
Noutro momento cego, sou vazio,
Meus passos, indecisos, logo travo,

Quem me dera pudesse não ser cio,
Quem me dera tu fosses rosa, eu cravo...
Quem sabe, saberia amor vadio...

Recebendo o carinho desta brisa,

Recebendo o carinho desta brisa,
Me lembro de teus beijos, minha amada.
Nos afagos senti; pele tão lisa,
Minhas mãos penetrando tua estrada...

Todas minhas quimeras, amortiza
O suave calor dessa empreitada,
Todos os meus demônios, exorciza.
Pois se te quero sempre, diga nada...

Na delícia voraz de teu carinho,
Nessa carícia atroz, que sei saudade,
Procuro vorazmente pelo ninho,

Pois bem sei que jamais será tão tarde
Que nunca mais serei, enfim, sozinho,
Pois encontrei, enfim, felicidade...

Meu soneto traduz meu sentimento

Meu soneto traduz meu sentimento,
Num vértice profundo e mais preciso,
Repele o que tortura, num momento;
Enfim vai transmudando dor em riso...

Soneto que persigo em pensamento,
Na calma desse porto que, enfim, viso,
Nos versos que insistente, tanto tento,
Levar, minha alma, sempre ao paraíso...

Se choro, já nem sinto bem por que.
Meu canto, transgredindo meu silêncio,
Nas rimas, vou vivendo por viver.

Atravesso essas dores, ponte pênsil,
Passando pelo mundo, tento ler,
O que mimeografai, no meu estêncil...

Claridade dos olhos, na lembrança

Claridade dos olhos, na lembrança;
Desses olhos que foram os meus guias.
Quem me dera, pudesse ser criança,
Mergulhando em teus olhos, fantasias…

Pelas ruas distantes d’esperança,
Bem sei que, de viés, também me vias;
De mãos dadas, unidos nesta dança,
Sem temer as penumbras mais sombrias…

Tinha, em teus olhos, lume e farol, brilho.
Seguia sem temer pelas tempestas.
Eu jamais me perderia nesse trilho;

Vertendo em claridade; tantas festas,
Sem temer nem a morte nem exílio,
Teus olhos, velas, trilhas nas florestas…

O meu verso, reverso da medalha

O meu verso, reverso da medalha;
Cortando, penetrando devagar,
Dilacera, sangrando qual navalha
Triscando a melodia do vagar…

Meu tempo, contratempo, Deus me valha
Pois quando estou vagando bar em bar;
Amores mal vividos, qual mortalha,
São tantos que naufrago nesse mar…

Vivendo sem ter cálice nem vinho,
Servindo de repasto para a dor.
Amante sem ter cama, sem ter ninho.

Meu verso, se traduz, encantador;
Reflete tanto amor, mas vou sozinho,
Buscando, no luar, ser o que sou…

Friday, August 18, 2006

Quando andando, descalça, na fogueira

Quando andando, descalça, na fogueira,
As brasas nem tocando nos teus pés,
Eu percebi então; ser verdadeira,
Minha sorte, jogada de viés...

Embarcação naufraga, vai sem eira,
Procuro-te, sereia, meu convés.
Daria toda vida, caso queira,
Nem contaria nunca, mais que dez...

Rendido assim, percebo teu domínio,
Nem quero mais lutar contra evidência,
Tua força de ferro, eu alumínio,

Quem dera que tivesses tal clemência.
Amor de formas belas, longelínio,
Tão fraco, eu só te peço paciência...

No gosto verdadeiro desta lua

No gosto verdadeiro desta lua,
A marca da pantera traz o mote,
Ato vai repetido, sei atua,
No verão mais sedento sem o pote...

Sou de terras mineiras, em Papua,
Encontrei cavalgando, fui a trote,
No calor do deserto tanto sua,
Que tirei paletó, calça e culote...

Envernizei meus lumes e solfejos,
Vagando o trem, na curva sem vacilo.
A morte tem, trancados, seus desejos...

De corte, bala, câncer ou bacilo,
No pé da Minas, quero novos queijos,
Para poder viver bem mais tranqüilo...

Minhas mãos, silenciosas e audazes...


Minhas mãos, silenciosas e audazes, procuram a cura e a santidade, nos seios que sei meus e sonhei eternos. Ternos e tenros, nos trinos dos passarinhos que passam pelo alpendre, onde se prende meu amor. Armas e almas se confundem, nas pernas e nas nossas bocas; tempestades e repasto. Do nefasto não a distância aumenta; um gosto de menta exalado pelo hálito que por hábito, habito. O teu doce perfume, meu lume e ciúme, no azedume da saudade...
Cada adendo aditado, ansiado e amado, amiga e amargura, âmago da cura que procuras em todo sentido. Idos e vivos, meus dedos são caçadores.
Tua nuca se oferece ao beijo e ao desejo, meu desejo e desespero. Espero o teu gozo, nos gonzos e nos gostos que gesticulas e gotículas, ausculto.
Te cultuo e te crispo, num duo arrepio, num átimo, um ótimo, um último pendão. A flor, a múltipla ação, na multiplicação...
Quero saber-te inteira, na teia que me prendes, prisioneiro, pretérito e futuro, no muro preterido do passado. Passo a passo, me confesso sendo senda e sendo sobra, sendo solar e sendo porta, porão e sótão, só e tão, inteiramente, teu...
Mas nada queres, nem mereço, obedeço...Teu começo é meu princípio, meu ópio, meu contrário, me contrario...
Vou ao rei, sou ao rio, sorrio, serei, sobras e cobras as sondas e as ondas que aprofundas num sorriso, num só riso, pré siso e preciso, necessito...
Me situo entre o teu e o uno, verso mar, universo, onde sou inverso e perverso, não canto. Tatuo...
Tacitamente, a mente mente e macula. Na gula de tua boca e seus lábios, sábios hábeis e abertos, na certeza do contato, do portanto e de tanto, amiga, a migalha que me deste, confete e crosta, resta somente um gole, uma fala, uma gala, que regala e me faz ficar comovido, como a vida, como o vidro, devido e decidido. Estampado...

Malinculía

Essa dor que me fais cósca,
Me dá um prazê danado,
Quando a sodade se enrosca,
Coração apaxonado,
É dô trazeno alegria,
Essa tár malinculia...

Quano o vento venta forte,
Me lembro dessa muié,
Só queria ter a sorte,
Na casinha de sapé,
De cantá, na poesia,
Essa tár malinculia...

Me dexô tanta tristeza,
Mas cumo é bom recordá,
Me lembrá das safadeza,
Só pru móde namorá,
Como é bom, na noite fria,
Essa tár malinculia...

A viola chora mansa,
O grilo canta, tristonho,
Meu coração só amansa,
Se eu pego firme no sonho,
Vida seguindo vadia,
Nessa tár malinculia...

Vou viveno sem tê medo,
Lev’essa vida na fé,
Vou guardando esse segredo,
Pescando no Jereré,
Meu Deus me levô Maria,
Só restô malinculia!

No trapézio caído, machucado

No trapézio caído, machucado,
O coração saltou sem perceber;
Foi, pesando assim, meio para o lado...
Deveria, por certo, bem saber,

Que coração, batendo apaixonado,
Não conhece da vida nem por quê;
Quisera conhecer seu triste fado,
Bater descontrolado por você...

O salto, enfim, direto no vazio;
Sem ter, ao menos, rede pra aparar,
Meu coração, tão louco neste cio,

Errou, assim, de tempo e de lugar.
Agora vai meu peito, vai vadio.
Procura um coração, lá no luar...

Vivendo sem ter medo, tudo nego

Vivendo sem ter medo, tudo nego.
Afago a fera louca que devora,
Cravando no meu peito estaca e prego;
Dessa vida, contar hora por hora.

Na despedida, nada sei, renego
Meus passos, sentimento que m’aflora,
Quem me dera saber luz, mas sou cego,
Querendo teu carinho... Nada agora...

Criei, minha epiderme, tal defesa,
Que; embora sem sentir, no fundo, mata.
Não temeria nada, com certeza!

Mas sei, que, na verdade, é só bravata.
Fingindo ser mais forte, na grandeza;
Meus olhos, mal contendo essa cascata...

Meu amor, quem me dera ser teu elo

Meu amor, quem me dera ser teu elo,
Atar-me ao infinito por teus laços;
Ouvindo um doce canto, violoncelo.
Perder-me sem ter medo em teus compassos...

Dançar contigo, amor que tanto velo,
Nas noites ao luar, junto a teus braços...
Saveiros cortam mares; tão singelo
O brilho dos faróis, desenha traços...

Quem me dera poder ter a certeza,
De que um dia, virás bailar comigo,
Seria ter tão bela realeza.

Ser mais que teu amante, teu amigo;
Flutuando, audaz em tal leveza,
Ser muito mais feliz do que te digo...

Thursday, August 17, 2006

A História de uma escalada ao Pico da Bandeira

Santa Martha, aos pés do Pico da Bandeira, tem um acesso dos mais difíceis e proibitivos ao cume da mais alta montanha do Sudeste brasileiro.
Nos idos de 1940, a subida ao Pico era algo quase que impossível, pois as matas eram habitadas por um sem número de feras, inclusive as temidas pintadas.
João Polino sabia destas dificuldades, mas o espírito aventureiro do jovem não conhecia nem medo nem obstáculos.
Um dia, surpreendendo a todos, avisou que iria escalar aquele “morrinho”, e que isso era somente um treino para aventuras maiores, já que sonhara ser um alpinista; o primeiro alpinista santamartense.
O povoado em polvorosa, as mocinhas casadouras suspirando, aquela fama momentânea que trazia tanto acalanto para a alma do João.
No dia marcado, colocou uma garrucha no bornal, com um canivete no cinto e se preparou para a perigosa subida.
Seu José Reis, conhecendo bem o nosso herói, tentava consolar Dona Oracina que, a essa altura do campeonato, desfiava um rosário de ladainhas e orações, na tentativa de proteger, de alguma forma, o seu intempestuoso irmão.
A mata fechada trazia mistérios e assombrações. Além das jararacas usuais, a possibilidade de se encontrar com o saci pererê, o caipora, a mula sem cabeça, entre outras, era real.
Corpo fechado, João não temia essas coisas. A bem da verdade, não tinha medo de nada. De nada e nem de ninguém. Quem vencera os alemães, na guerra, e encarara o lobisomem, isso tudo era café pequeno.
Falando em café, tomou um derradeiro cafezinho com guarapa e arribou-se.
A subida, de início, era mesmo complicada, além de ter muitas pedras, havia também uma mata que se fechava a cada metro subido.
Mas, por incrível que pareça, depois de certo tempo, começara a suavizar e, após a mata apareceu uma planície surpreendentemente branda, com um manacial de águas cristalinas maravilhoso, tendo ao fundo uma cachoeira extremamente bela, enfeitada por orquídeas e bromélias floridas.
João, surpreso com a paisagem paradisíaca, achava que estava sonhando e, embevecido, deitou-se à margem de tão bela cascata.
Sonhara, e sonhara de olhos abertos...
De repente, uma voz macia se ouviu, uma voz feminina encantadora.
Ao abrir os olhos, João se deparou com uma indiazinha, uma bela adolescente, dona de olhos amendoados e de uma pele extremamente bela, com dois seios pequenos, convidativos...
Ao ver essa miragem, João se assustou e, entre acordado e sonhando, tentou entabular um diálogo com aquela visão.
Ao perceber que a menina chorava, João perguntou qual o motivo de tal choro.
Ao saber que a menina era uma princesa, filha de um cacique muito cruel que a impedira de se casar com um jovem a quem ela dedicara seu amor, João sentiu verdadeira pena da moça.
Conversa vai, conversa vem, de repente, a menina começou a falar mais mansamente, olhando fixamente para os belos olhos azuis do nosso herói.
João, timidamente, começou a ficar meio corado e tentou consolar a garota, mas esquivando-se de olhar para ela.
Quando, de repente, a menina começou a falar de seu sofrimento, olhando cada vez mais fixamente para João, e se aproximando, a ponto de João sentir o delicioso cheiro das flores silvestres que emanava o hálito da mocinha, João reparou que o que imaginava ser impressão era, na verdade, a constatação da atração da indiazinha por ele.
A menina, então, não escondeu mais o seu desejo e, de forma objetiva, declarou que somente um outro amor poderia salvá-la e esse novo amor começara a surgir em seu coraçãozinho puro.
João, embevecido, quase cedeu; mas se lembrou a tempo, da promessa que fizera a si mesmo: casar-se com Rita, a irmã de seu amigo José Reis.
Rita, a essa época era ainda uma criança, linda nos seus dez anos de idade.
João, com o peito dilacerado, disse então à pobre jovem que não poderia ficar com ela, já que prometera seu amor a outra moça...
Neste instante, chorando, a menina deitou-se e, para susto de João, foi se endurecendo ficando cada vez mais pétrea, até que, num instante, aquela menina, cujo coração fora tocado pelo amor duas vezes e impedido em ambas, e se transformara em pedra, uma pedra sem sentimentos; se transformou numa montanha gigante, toda de pedra, mantendo o formato de uma menina deitada.
Assim surgiu a Pedra Menina, que até hoje está lá, aos pés do Pico da Bandeira, testemunha do grande amor da indiazinha por João Polino que, fielmente manteve sua palavra e se casou com dona Rita, com quem vive feliz até hoje...

A Natália - Soneto

Meus parabéns, Natália, te desejo.
Com certeza serás muito feliz.
A vida, tão suave, num bafejo,
Em sua melhor cena, bela atriz,

Trará o som tão belo desse arpejo,
Horizontes abertos, são servis
De tua sorte, velho realejo,
Afastará, nefastos sonhos vis...

Não precisas de luz, és luminária.
Por onde andas, brilhas, por si só.
Nunca conhecerás sorte contrária...

A vida te tratando a pão de ló,
Pois amor te fará destinatária,
De tudo que há belo e do melhor!

Sextilhas Eu sou mineiro de Minas

Eu sou mineiro de Minas,
Lá das tais Minas Gerais,
Canto versos, faço primas,
Até não conseguir mais.
O meu pai foi sertanejo,
Minha mãe foi só desejo...

Nas montanhas fiz a rede
Pro meu corpo descansar.
Fui matar a minha sede,
Bem distante do teu mar.
Nasci lá na Mantiqueira,
Na minha terra mineira!

Quem me ensinou a pescar,
Foi o meu velho Francisco,
Como é belo esse luar,
Mesmo crispando o corisco.
Na beleza das campinas,
Vou te conhecendo, Minas.

São diversas minhas dores,
Como é belo entardecer,
Tuas matas, meus amores,
Nos teus braços, vou morrer!
Nas tuas guerras fiz paz,
Em teus abraços, Gerais!

Sopro o vento lá na serra,
O vento vem de mansinho,
Canta o canário da terra,
Também canta o coleirinho...
Tanto canto que é capaz,
Encanta Minas Gerais...

Meu lamento vem distante,
A saudade dess’ alguém!
Meu amor, por um instante,
Tanto amor tamanho trem...
Sou mineiro e tenho fé,
Nascido em Muriaé!

Menina, faça o favor,
De me prestar atenção,
Tô falando d’ocê sô!
Vem vindo do coração.
A dor não mais arremata,
Pois sou mineiro da Mata!

Viola de doze cordas,
São cordas do coração,
Vê menina, vai acordas,
Chora meu violão!
Eu sou mineiro da Mata,
Ouça a minha serenata!

Eu comi feijão tropeiro,
Misturado com tutu,
Eu bem sei do mundo inteiro,
No buraco do Tatu...
Minha mãe é carioca
Mas conheceu engenhoca!

Tomei muita da guarapa,
Adocei o meu café,
Onça matei foi no tapa,
Com pescoção e chulé...
O meu pai de Miraí,
Bem perto d’onde nasci!

Fiz meu canto no repente,
Nem pensei no que ia dar,
Em careca, passo o pente,
Tiro poeira do mar.
Tanajura? Comi prato.
Bebi Iara no regato...

Vou terminando meu verso,
Tô cansado de rimar,
Vou buscar meu universo,
Juro, mais tarde, voltar...
Agora vou terminando,
Devagar, já vou andando...

Nas montanhas Gerais, terra mineira

Nas montanhas Gerais, terra mineira;
Onde o mar se transforma na lagoa.
Terra minha, Alterosa, verdadeira.
Da cachaça, torresmo, vida boa...

Vontade de não ser, sendo a primeira.
Caçando melodia na garoa...
Sapo boi, na boiada, a galopeira.
É muito bom viver assim, à toa...

O suor escorrendo pela cara,
A vida transcorrendo devagar.
Vê, repara, teimosa, pensa, pára...

Faz que irá, mas nem tenta começar
De Jessé, de Jessé, nas céu a Vara...
E vem me comover, baita luar!

Trago minhas quimeras escondidas

Trago minhas quimeras escondidas,
Quisera poder, último momento,
Saber sem tem segredos dessas vidas;
Que passeiam caladas, movimento...

Nas filas nas favelas, desabridas...
Tornando mineirices em tormento.
Mar impossível, cala-se nas bridas...

Minha manhã, melindre tão solar.
Meu amanhã, sorvido em ilusões!
Minas, não vou, jamais quero encontrar;

Novo pó, refletido nos porões,
Sem porém, sem talvez, num novo altar.
Velhas jaulas, clausuras, meus leões...

Asma

Morena, em tua boca sei fantasmas,
Dos beijos que me destes, sem ter medos...
Mas quando cultivavas tuas asmas,
Os teus gemidos foram teus segredos..

Achava, num momento: eram miasmas,
Que vinham sem profundos arremedos...
Então quisera Deus, virem do plasma,
Quando, passava, célere, meus dedos...

Agora sei que tinhas tantas crises,
Enquanto cria fazer-te gozar,
Nunca foram, portanto, mais felizes,

Os nossos bons momentos, sem vagar.
Te comparei; melhor entre as atrizes;
Teus gemidos profundos, sufocar...

Brindo outra vez, teimando no martírio

Brindo outra vez, teimando no martírio,
Bem sei que me fugiste, sem perdão...
Busquei-te nas campinas como o lírio,
O que causava inveja a Salomão...

Não mais esquecerei, nem em delírio,
As mãos que me afagavam, com paixão...
Restando tão somente, esse pão sírio,
Do banquete servido, ao coração...

Não mais quero tratar amor tão tétrico,
Nem quero percorrer teu céu, sem lua.
Nas minhas serenatas, assimétrico,

O canto repetido te faz nua.
Te conheci, preciso e milimétrico,
Por isso, na distância, alma flutua...

Mãe

Lembro-me, molecote impertinente,
Teimando sem ter pressa de voltar.
Correndo pelas ruas, livremente,
Querendo, tantas vezes, ir voar...

As mãos cansadas juntas, penitente,
Pedindo a Deus num nunca mais parar:
Faça desse menino, um ser contente.
E que tenha alegria no seu lar...

Hoje te vendo, bela e forte ainda,
Agradeço-te tanto e não percebes,
Queria te dizer: és muito linda!

Contigo caminhei todas as sebes,
Contigo, a natureza se deslinda...
Tens o maior amor e nem concebes!

O menino correndo pela sala

O menino correndo pela sala,
Sem perceber as dores dessa vida,
A minha solidão, então se cala,
Prepara sua triste despedida...

Te vendo tão liberto; tanta fala,
A vida me traduz: valeu a lida,
No meu peito apertado, já se entala
Essa palavra mágica; sentida,

Por todos os meus nervos, mais sensíveis,
Trazendo à tona toda essa verdade,
Florindo esse deserto, com incríveis

Flores azuis, vermelhas, liberdade...
Essa palavra viva em tantos níveis;
Poder dizer, enfim, felicidade...

Te vendo, assim deitada, sobre a cama

Te vendo, assim deitada, sobre a cama;
Suas coxas expostas, ao lençol,
Percebo porque sinto arder a chama,
Queimando bem mais forte que o sol,

Amores e desejos, tudo inflama,
A nuca sugerindo, cachecol,
Tentar compartilhar toda essa trama...
Ser tua casa enquanto caracol...

Trocar tantas carícias sem pecado,
No gosto de teu seio, meu deleite,
Poder sentir que estou apaixonado.

Na boca tanto gozo, tanto leite,
Meu corpo, tremulando, meu recado,
Clamando que, contigo, sempre deite...

Soneto Tens, na pureza dálma

Tens na pureza d’alma, sortilégios;
Que não consegue conceber , quem vive,
Buscando, desta vida , privilégios.
É o mais sublime templo onde eu estive,

Tem a sabedoria dos colégios,
Ao conhecer-te, juro que contive,
Meu amor tão capaz de sacrilégios,
Bem capaz de galgar esse declive,

Somente por prazer de ter teu solo,
Pela delícia frágil, de te ter.
Deitado tão solene, no teu colo,

Vivendo tantas glórias, por prazer;
Envolto em tuas rendas, já me embolo,
E censurar-me, diga, quem há dê?

Wednesday, August 16, 2006

Eu busco, n’aguardente tal resposta

Eu busco, n’aguardente tal resposta,
Que possa permitir sobrevivência...
A mesa da taberna está disposta,
Teus olhos, no luar, coincidência...

Esses casais rodando, o medo tosta,
Queimando meus sentidos, sem ciência
De quanto me doeram tanta crosta
Criada nos fantasmas, providência...

Bem sei que se pudesse ser teu dono,
Não mais prosseguiria solitário,
Portanto, vou seguindo no abandono,

A tristeza fazendo aniversário...
Nem sei mais o canto que eu entono,
A cabeça girando, o calendário...

Nessas folhas caídas , meu outono

Nessas folhas caídas , meu outono,
Da vida vai distante a primavera.
Quisera não viver esse abandono,
Nem conhecer ardor dessa quimera...

Vem vindo devagar; quando ressono,
Inverno terminal. Ai quem me dera;
Meu Pai me concedesse; como abono,
Pudesse ressurgir, qual fora fera,

Nos tempos tão felizes que se foram...
Menino, procurando meu futuro,
Não sabendo, entretanto quanto é duro.

Perder os amores que ficaram,
As esperanças todas, se acabaram.
Já fui, agora espreito sobr’o muro...

Quando busco o calor na noite fria

Quando busco o calor na noite fria,
Encontro, tantas vezes, verdadeiro,
A chama que transforma essa agonia,
Deliciosa chama desse isqueiro...

Que traz a luz; penumbra e poesia,
No meu cigarro, brilho mais useiro,
Traz toda essa esperança que eu queria,
Vertida nessas cinzas , meu cinzeiro...

Sim, fugiste; fumaça, labareda...
Restando apenas tristes recordares,
A sombra, esfumaçada, na vereda;

Por onde tu partistes, nos luares.
Só peço a Deus, então, que me conceda:
Poder te procurar, por esses bares...

Tanto sorriso exposto sem ter senso

Tanto sorriso exposto sem ter senso,
Em tal sentido inverso aos meus desejos.
Se quis, não fora simples, nem imenso,
Teve essa dimensão, são benfazejos.

Nos ínfimos detalhes, sempre penso,
No que não poderia falsos beijos,
Por onde andaria? Fico tenso
Imaginando luzes, teus lampejos...

Se nesse gargalhar, me trazes luto,
É que, embora vagão, conheço o trem.
Não venhas me dizer que sou tão bruto,

Bem sei que depois, sabes o que vem,
Minhas melancolias; sei, amputo...
Não restando mais nada nem ninguém...

A minha mão passeia , calmamente,

A minha mão passeia , calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.

Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...

Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.

Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.

Eu te peço perdão, meu companheiro,

Eu te peço perdão, meu companheiro,
Pelas tristes palavras que te digo.
Amigos sempre fomos; tempo inteiro.
Desde guris, revoltos sem castigo.

Vivendo sem temer, sem paradeiro.
Eu não tinha segredo algum contigo,
Juntos nós encarávamos vespeiro,
Não conhecemos medo, e nem perigo...

Mas, agora desculpe esse covarde,
Que não teve coragem de negar,
Pois bem sabes, se o peito mais nos arde,

É coisa bem difícil controlar,
E antes que tudo cegue e seja tarde,
Vou, tua amada prenda, namorar...

As cores verdadeiras que traduzem,

As cores verdadeiras que traduzem,
Diversas sensações que nos afloram,
Têm nas suas origens, tantas luzes,
Que, sempre transitando, não demoram.

Num prismático sonho, me conduzes,
Arco íris fantástico onde oram,
Os que amam, tentando tirar urzes
E espinhos tão venais que as adornam.

Não quero simplesmente do coral,
Essas preciosidades que desfraldas,
Viver completamente luz cabal,

Que vem desse brilhar das esmeraldas,
Nem do belo rubi, carmim carnal,
A magia das cores onde esbaldas...

Meu Senhor! Eu te imploro, por favor.

Meu Senhor! Eu te imploro, por favor.
Não me deixe morrer sem Seu alento...
Não tenho mais vergonha desse amor
Que me trouxe na vida, sofrimento.

Nem sei mais onde posso, nem compor;
As minhas melodias. Bebo o vento,
Tentando tempestades onde for,
Viver de tal maneira, não agüento...

Me deixe simplesmente ser feliz,
Eu não quero outra coisa em minha vida...
Felicidade; escondes, onde? Diz...

Procuro em vão, buscando outra saída,
Em cada canto, busco olhos anis,
Azuis olhos marinhos, despedida...

Tens amores servis? Não mais os quero.

Tens amores servis? Não mais os quero.
Quero tal liberdade que permita
Construindo sem jaulas, mesmo o fero,
Mesmo que me transforme sem pepita.

Amores sem as ânsias não é vero,
Por mais que, tão teimosa, se repita;
Vivendo por viver sem lero-lero
As dores que esse peito tanto agita...

Quero amores libertos passarinhos,
Não quero prisioneiros sem espaço
Procuro perceber os teus carinhos

De noite, descansando meu cansaço,
Amores libertários são qual vinho,
Seu valor maturando num abraço...

Oitavas Sertanejas - Minha alma já vai perdida...

Quando quis viver contigo,
Bem sei que não me querias,
Meu amor, de tão antigo,
Traz em suas cercanias,
A certeza do perigo,
Desse medo que vivias.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Quis viver com muito luxo,
Quis meu tempo de reinar,
Carregando meu cartucho,
Bala de todo lugar,
Sou deveras, meio bruxo,
Nessa arte de magiar.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Da morte sei a sentença
E também sei o perfume,
Não há quem me convença,
Nem que meu revólver fume,
Não vai morrer de doença,
Carne irá virando estrume...
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Sei de tanta malvadeza ,
E também sei da saudade,
Tanta vida essa incerteza
Sua melhor qualidade,
Vivendo minha tristeza,
Amores; sei de verdade.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Bebi medo de serpente,
Comi carne de ururbu,
Minha sina, sei caliente,
Na pena preta d’anu.
Todo ser sobrevivente,
Fugindo qual inhambu.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Matei muitos, de emboscada,
Não sei mais quantos matei,
Dessa vida levo nada,
Nada da vida levei,
A não ser essa esporada,
Desse reinado sem rei.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Pois perdão; peço de fato,
Sei o quanto errei também,
Fiz de sangue, um regato,
Nunca respeitei ninguém,
Tanta morte por contrato,
Por real ou por vintém,
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Eu sei, confesso o pecado,
Pequei, já não tenho cisma,
Bem sei quanto estou errado,
Não precisa cataclisma,
Nem me chamar de safado.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

No segredo dessa vida,
Nem precisa repetir,
Minha alma já vai perdida,
Foi tudo o que eu consegui,
Sei que a vida vai sofrida,
Perdão, não custa pedir...
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Oitavas Sertanejas - Galopando a Beira Mar

Quando eu conheci Serena,
Num galope a beira mar,
Aquela bela morena,
Tinha tudo pra encantar,
Coração bate, dá pena,
Dá vontade de chorar,
Nunca mais poder cantar
Num galope a beira mar...

Serena foi minha vida,
A razão do meu viver,
Tanta dor já tão sentida,
Sem vontade de sofrer,
Eta vida mais sofrida,
Não cansa mais de doer,
Viola canta, luar...
Num galope a beira mar...

Minha voz anda cansada,
Cansada de tanto pedir,
Minha moda vai cantada,
Cantada móde sentir,
A viola enluarada,
Que canta quase a carpir,
Tanta coisa, sem parar,
Num galope a beira mar...

Levei Serena pra casa,
Como manda o coração,
Tanto casa, quanto embrasa,
O luar do meu sertão,
Meu amor quando se atrasa,
É problema e solução.
Como era belo sonhar
Num galope a beira mar...

Com Serena tive filho,
Dois ou três se não me engano,
Do amor seguindo o trilho,
Passa dia, mês e ano,
Mas o tempo tem gatilho,
Detonando tanto plano.
Nunca mais vou esperar
Num galope a beira mar...

O amor, de maravilha,
Transformado na tristeza,
Na promessa dessa ilha,
No meio dessa beleza,
Toda dor vem de matilha,
Acabando a realeza.
Tanta coisa pra contar
Num galope a beira mar...

Serena foi assassina,
Do que belo, tinha em mim,
Maltratando minha sina,
Fazendo tão trist’assim
Tanta dor que desatina,
Do amor, foi meu Caim.
Me matando, devagar,
Num galope a beira mar...

São tristezas, duras penas,
Têm o gosto da mortalha,
Só pedia a Deus, apenas,
Outro tipo de cangalha,
Noites mansas, mais amenas,
Na minha casa de palha.
Poder sonhar com meu lar,
Num galope a beira mar...

Já cantei minha verdade,
Fiz meus versos sem vergonha,
Procurei felicidade,
Que é coisa que se sonha,
Pelo campo ou na cidade,
Não é coisa medonha.
É meu direito tentar,
Num galope a beira mar...

O veneno em minha veia,
Corre solto, vai matando,
Essa aranha fez a teia,
Minha vida foi sugando,
Minha carne foi a ceia,
Ela foi me envenenando.
Até conseguir sangrar,
Num galope a beira mar...

Quando vi nos seus olhinhos,
Verdes olhos cor de mata;
Percebi que seus carinhos,
Me diziam, ser ingrata,
Aquela por quem meus ninhos
Sonhavam amor em cascata,
Nunca mais eu vou cantar,
Num galope a beira mar...

Tuesday, August 15, 2006

O Copo

No teu seio, transportas tanto alento,
Ajudas mitigar tanto calor,
Afagas com carinho, o cão sarnento,
Permites seduzir, brindar amor.

Nos ritos transportando o que é bento,
Servindo sem temer servo ou senhor,
Em todos os momentos tens assento,
Te fazem mensageiro até da dor...

São muitos que preferem ver vazio,
Eu sei que estás, deveras, meio cheio.
Se na tristeza, manso, acaricio,

Na alegria, te invado, sem receio,
Sorvendo-te qual fora fera em cio,
Sem temer sequer críticas d’alheio...

Em meio a peripécias dessa sorte Soneto

Em meio a peripécias dessa sorte,
Que muitas vezes nega meu futuro,
Sem ter nem mais espreita que m’aporte
As velhas condições: saltar o muro.

Nas minhas sentinelas, sei o corte,
Profundo, cáustico, feroz, perjuro.
Adaga remoendo traz a morte,
Meu mote serpenteia, cai maduro.

Não quero mais a dama de vermelho,
Nem quero mais a luta sem descanso,
Em prol daquilo tudo me assemelho,

Ao penetrar do bico, tenaz ganso...
Não quero perguntar ao meu espelho,
Se fui, quem fui, serei, terei remanso...

Nasci naquela tapera Sextilhas

Nasci naquela tapera,
Perto da curva do rio,
Onde à noite tanta fera,
Traz mais forte seu bafio,
Derrubando, sem demora,
Sem temer nem ir embora...

Tanta dor que me tempera,
Não me deixa mais vazio,
De tocaia, vou de espera,
Conheço vela e pavio.
Nem todo ovo que se gora,
Nem todo gosto d’amora...

Joguei cravinote longe,
Matei onça de empreitada,
Minha mãe fugiu com monge,
Pelos palpos dessa estrada.
Não tem mais como pereça
Virou mula-sem-cabeça!

Puxei forte da peixeira,
Sangrei mais de dez safados,
Fiz da morte, coisa useira,
Cantei rimas desfiados,
Fiz das primas meu deleite,
E não há quem não me aceite...

Sou peste sem pestanejo,
Desejo toda morena,
No meu sonho sertanejo,
A dor de longe, me acena,
Quem quiser ser a mulher,
Tenho casa de sapé.

No umbigo da montaria,
Atrelei minha placenta,
Vou correndo a fantasia,
Quero ver quem me agüenta,
Sou, de lado, vou de banda,
Vendo sangue na quitanda...

Tropecei nesse defunto,
Esquecido no relento,
Tanta coisa que fiz junto,
Meu olhar mais remelento,
Trago o gosto da remenda,
O luar faz minha tenda...

Mas não temo nem temia,
Venda nova nem fracasso,
Mingau da vida rugia,
No poleiro do cangaço.
Fiz mais três combinação,
Quisera ser Lampião!

Teimoso qual cascavel,
Escorpião da caatinga,
Roubando o brilho do céu,
No véu da noiva respinga,
Cascata da melodia,
Dourando essa cercania...

Meu falar enviesado,
É difícil traduzir,
É que, nele, vem atado,
O que melhor vai luzir,
Tradução de coração,
É brotado de emoção.

Vingança tem saliência
Coça na mão e no coldre,
Se for boa eficiência,
Traz logo, cheiro de podre.
Urubus descendo ao chão,
Querem dizer proteção.

Não virei mais à tardinha,
Nem de noite mais virei,
Na calada, vai sozinha,
A rainha desse rei.
Que não tem nem pode ter,
Contas para receber.

Já cumpri meus mandamentos,
Já te fiz meus rapa pés,
Nas feridas, sei ungüentos,
Misturando tantas fés.
Mastigando tais mezinhas,
Riscando com ladainhas...

Minha manta sei de couro,
Como é de couro o chapéu
Na boiada, meu estouro,
É o estorvo do meu céu.
Buscapé buscando gente,
Queima tudo, de repente.

No repente da viola,
Eu puxei minha peixeira,
Arrebentei a sacola,
Fiz promessa a vida inteira,
Nada consegui depois,
Na boiada, fui os bois...

Ferido de morte triste,
Aposentei o meu laço,
Esqueci tudo que existe,
Abandonado sanhaço,
Fui marcado sem perdão,
Tanta dor no coração.

Agora tô sossegado,
Já não tenho mais vontade,
Acabei envenenado,
Por essa estranha maldade,
Que matou o matador,
Essa praga: o tal amor!

Meu amor traduzido maciez

Meu amor traduzido maciez,
Na mansidão serena de teu beijo,
Traz formas delicadas; é, talvez,
A mais sublime fonte do desejo...

Meu amor mais sincero, desta vez
A noite transformada onde te vejo,
Caminhando, seduz tanta altivez...
Amor, meu derradeiro amor, lampejo

De divinal delírio, simplesmente.
Crivado de estelares porcelanas,
Busco em ti, conhecer toda vertente,

De tantas quanto belas, pois insanas,
Maneiras de matar-me de repente,
Sorvendo todo néctar que me emanas...

Oitavas camonianas - Sertanejo...

Por tudo que passei já nessa vida,
Te peço perdão pelos desatinos,
Sei bem porque nascido em despedida,
Conheci os diversos sóis, meninos,
Navegantes que, errantes nesta lida,
Não conhecem senão nem seus destinos.
Vi tudo quanto posso, nego nada,
Nada nego e sossego, minha amada...

Explodindo balão nem sei junino,
Na festança embolada, penitência...
Meus fracassos selados que eu assino,
Libélula voraz da coincidência.
Salgado em insalubre lar marino,
Balanço, transgredindo essa impotência
Que faz de meus melindres borbotão,
Vou borboleteando essa amplidão!

Moleque; fui sacado, por safado,
Sereno, fui moleque sem paragem.
Nem sabia sertão soubera prado,
Vivendo na completa vadiagem,
Sem nem conhecer fada; quiçá fado,
Pescando no meu rio, velha margem...
Solitárias, lombrigas na barriga;
Por mais que não quisesse, tanta briga...

Decadentes; de leite, caem dentes,
Restando meu sorriso de faminto,
Não quero pretender que tu me esquentes,
Nem que disfarce, finja que só minto,
Finos, nas cabeleiras, passas pentes,
Crescendo molecote, frango e pinto.
Nas penumbras noturnas lobisomem,
As minhas tempestades, todas somem...

Fui crescido na marra, sem pergunta,
Jogando futebol pelas calçadas,
Um menino levado, quando junta;
Preparem-se, nem noites mais caladas,
Resistem aos malandros nem se muita.
Forçando ser feliz nestas estadas,
Criando serpentina faz confete,
Sei, jamais haverá nenhum bofete...

Criado sem tempero nem espora,
Vazando pelos muros do vizinho,
Sem ter tempo perdido, sem ter hora,
Estilingue matando passarinho.
O melhor do viver é sempre agora,
Amanhã, talvez, tétrico, sozinho...
Brincando levarei felicidade,
Quem sabe saberei saber idade...

Sabedoria, sendo meu confeito.
Gosto de podridão deliciosa,
O que fiz, já farei, senão tá feito...
Lúdico esse luar, me trouxe Rosa,
Amor tragado estraga, rasga o peito...
Faz olhar as estrelas, deixa prosa
O calado moleque. Parapeito
Da vizinha mostrada sensual
Mostra blusa entreaberta, casual...

Besteira amar tão jovem! fala o pai;
A mãe, conhecedora da tristeza,
Avisa: Quem está dentro já sai,
Amor significando estupideza,
Trama vazia, tanta dor atrai,
Diga: quem poderá, tal realeza,
Ludibriar, vivendo em tal cenário,
Cantando livremente, qual canário!

Quadras

Amores, amizades, alegria,
Palavras que; compondo minha vida,
Traduzem, no meu canto, fantasia,
Deveras, vai seguindo, Aparecida...

Beleza da bondade, beatifica,
Muda meu sofrimento em ser feliz,
Das dores mais cruéis, me santifica
Em tudo que traduzes, Beatriz...

Cabendo certamente meu carinho,
Em tudo que pensei tão cristalina
Quanto fosse capaz, sem ser sozinho,
Das fontes mais felizes és Cristina...

Devendo devedor divino Deus,
Serem os meus segredos sem marquise,
Eu te vejo, reluzes nesses breus,
Me trazes sensações, feliz Denise...

Eu espero esperanças nos teus beijos,
Na vida não sei dor que não se aplaine,
Vivendo, convivendo com desejos,
Te quero, te pretendo, doce Elaine...

Fervem fervores, febre e fogaréu.
Minha vida, transcorre vai mais branda,
Quando estou procurando azul do céu,
Somente encontrarei a ti, Fernanda...

Gosto gesto gozando gota a gota,
A toda solidão a vida impele,
Mas quando, a solidão queimando, rota,
Recolho-me aos braços de Gisele...

Horas horrores, honra e homenagens,
A quem a vida amou, serena brisa,
Não quero mais saber dessas paragens,
Distantes dos teus olhos, Heloisa...

Instantes imortais, idolatria;
Dessas noites passadas tão insone,
Que nunca mais parece, vem o dia,
Noites brancas, sozinho, sem Ivone...

Jogos jamais jogados, jogatina...
No tabuleiro-vida que me engana,
Sabendo ter teu jeito de menina,
Sabendo ser teu homem, Ó Joana...

Liberdade levando leve luz,
Descanso em meu brinquedo de pelúcia,
Buscando tanto brilho que reluz,
Vivendo por viver, amada Lúcia...

Marcado morredouro mantimento,
Sofrimento passando a ser a tônica
Do que mais poderia ser lamento,
Vou salvo, acreditando só em Mônica!

Nascendo naufragado, néscio não,
Provando essa amargura que venci.
Maltrata devagar meu coração,
Que bate, tresloucado, por Nadir...

Ouvindo ondas ouvi outras ondinas,
Que, por mais igual, nunca se repete
O mar dessas belezas, das meninas,
Que nunca chegariam ser Odete...

Palavras perseguidas plenitude,
Não sabem nem conhecem a delícia,
De ter todo bom senso e atitude,
Que surgem tão somente em ti, Patrícia...

Restam risonhos risos e resquícios,
Desse delicioso amor que agita,
Salvando-me de todos precipícios,
Só quero mergulhar em ti, Ó Rita...

Sabendo sentimentos sem saudade,
Melhor que ti, somente se for clone,
Igual são muito poucas, na verdade...
Sereno, saberei ser teu Simone...

Trazendo tempestades tropicais,
Em meio a tanto canto e mais beleza,
Bebendo, vou tragando e quero mais,
De tudo que vivi em ti, Tereza...

Vivendo vou vencendo vacilantes
Momentos em que tento abrir cratera,
No peito que batia já bem antes
De poder conhecer a bela Vera...

Vou tentando saber do que não sei

Vou tentando saber do que não sei,
Ouvindo a melodia mais suave,
Já estive em Pasárgada, fui rei,
Todas as prostitutas, minha nave

Aberta vai caber, o que sonhei;
Falando nisso, todos sonhos grave,
Por favor, nesse tempo que passei,
Na busca do que quero, sem entrave...

Querendo não querendo, vou sutil,
Ser sertão sertanejo, ser servil,
Ser vil com as metástases fatais.

Néscios são os meus vícios mais boçais,
Em tantos precipícios naturais,
Que já me prepararam nest’abril!

Quando vim do sertão trouxe saudade Soneto

Quando vim do sertão trouxe saudade,
Do canário da terra, coleirinho,
Um sabiá perdido na cidade,
Amor me maltratando, vagarinho...

Depois de conhecer simplicidade
É tão duro saber que se é sozinho,
Aqui eu conheci a falsidade,
Como dói passarim fora do ninho...

Eu trouxe tanta coisa no bornal,
A foto amarelada de Maria,
As lembranças da fruta no quintal...

A manga, guariroba, a melancia,
As águas do riacho, qual cristal,
Somente dor restou, dessa alegria...

Tenho as marcas Soneto

Tenho as marcas sangrentas do passado,
Cicatrizes no peito sofredor,
Quisera ter vivido do teu lado,
As horas mais difíceis, meu amor...

Estás tão diferente, tenho andado
Em busca do que fomos, onde for.
Nada além me restando, nem bocado
Do sonhos que sonhei, fui sonhador!

Sentindo o bafejar da morte vindo,
Pretendo adeus num último soneto,
Que seja a solidão da dor se abrindo,

Derradeira loucura que cometo,
Quero morrer nos braços, sonho lindo,
Dessa mulher que amei, isso eu prometo!

Monday, August 14, 2006

Oitavas - Todos os sentidos...

Vencendo tantos medos chego a ti,
Para dizer do quanto que procuro,
Na vida ser feliz. Do que senti
Tão logo vi teus olhos sobre o muro.
Nesse momento mágico vivi,
A claridade vívida n’escuro.
Sentidos fervilhando sem cansaço,
Meus braços mendigando teu abraço...

És maciez sonora , belo canto,
Embora nos acordes dissonantes,
Traduzem meus ouvidos, teu encanto,
Quisera concederes, cedo e antes,
Cristalina pureza, me agiganto
Quando mostras; canora voz, sublime...
Tua bela voz, lúdica, suprime...

Emanas um perfume delicado,
Qual rosas, num jardim celestial,
Bem quisera viver deliciado,
Minha dama da noite, vendaval
Fustigando a janela, vou; ceifado
De malícias, verter em bem, o mal.
Somente do suave olor que emanas,
Nos céus, vou construir nossas cabanas...

Tens o sabor dos lábios divinais,
Humana criatura não conhece,
Sentindo o paladar dos imortais,
Em ti, qual fosses deusa, numa prece,
Persigo tua boca, quero mais.
Devora-me e decifro, magistrais
Enigmas; soberana fantasia,
Poder sentir teu beijo, uma ambrosia...

Na pele delicada que te veste,
Sentindo a maciez dos teus cabelos,
Apalpo tantos rumos, leste e oeste,
Na maciez da cútis, são novelos
Feitos da pura seda, que reveste
Entre tantas, sublime em envolvê-los,
Teus seios recobertos de camurça,
Ao senti-los, meu tato tanto aguça...

Meus olhos, quando vejo tal beleza,
Insanos não conseguem enxergar,
Mais nada do que tenha a natureza,
Nem céu, nem as estrelas, nem o mar.
Escravos; são servis a ti, princesa,
Consegues a beleza embelezar.
Te vejo como náufrago sedento,
Sereia, tanto canto exposto ao vento...

Oitavas - No mundo cruel...



No mundo mais cruel que concebias,
Cabia meu tormento em tuas liras,
Percorrendo vazio, tantos dias,
Sem saber que fingias tantas miras,
Nas penumbras fatais, sem melodias,
De tua mão, sentida flecha, atiras.
Querendo sufocar minha cantiga,
De tantas quanto herdei a mais amiga...

Vivendo essa funérea desventura,
Que traduz a verdade em sofrimento,
Concebo claridade, minha jura,
Tragada pela luta, meu tormento...
Amargo o vinho, âmago, tortura,
Na amargura de todo meu lamento.
Amei-te, no passado mais distante,
Por sorte, meu amor foi inconstante...

Bem sei que naufragaste outro desejo,
De quem não poderia te negar.
Flagrada pois, em cândido cortejo,
Atada a vários braços ao luar.
Mereces bem, portanto escarro e beijo,
Escárnio de quem possa procurar
Em ti, por algo além do sensual,
És página virada dum jornal!

Não vejo em ti, portanto nada além
De restos esquecidos sobre a mesa,
Se eu já te quis, agora me és ninguém,
Não vou te negar glória na beleza,
Nem vou mentir, deveras, foi meu bem...
Mas hoje, tão distante realeza;
Se faz passado pútrido e mordaz.
E, francamente, não te quero mais!

Andaluz - Soneto

Pela areia molhada dessa praia,
Desfilo toda minha solidão.
Por mais que o pensamento me distraia,
Nada tenho, procuro solução,

Para que toda angústia se distraia,
Abandonando esse cruel pendão,
Disfarçado, vestido de cambraia,
Permitindo sentir que amor é vão.

Tentáculo medonho me conduz,
Impede minha livre caminhada,
Na busca do quer fora minha luz...

Na praia em que eu te espreito, não há nada
A não ser a lembrança da andaluz,
Que fora tão somente, minha amada...

A Segunda Guerra Mundial - João Polino, herói de Santa Martha

Nos idos dos anos quarenta, havia uma ebulição no mundo, a segunda guerra mundial era a notícia em todos os jornais e rádios do país.
A entrada do Brasil na guerra mexia com os brios do nosso amado povo e, em Santa Martha não era diferente.
No único rádio do distrito, que ficava na praça principal, João Polino, ao invés da maioria da população que se espremia para poder ouvir o programa musical de Francisco Alves na Rádio Nacional, se interessava verdadeiramente pelo que ocorria do outro lado do mundo.
Como bom comunista, sem o saber, torcia imensamente pela vitória dos Aliados contra o regime fascista de Mussolini e, principalmente, contra o nazismo alemão.
Nas discussões que se faziam em torno das mesas do principal botequim do distrito, o “Santamartense”, não media palavras e nem conseqüências ao defender o líder russo.
Do outro lado, alguns descendentes de italianos ou de alemães eram as principais vítimas das críticas e comentários do nosso herói.
Até que, um dia, a despeito de todos aqueles que achavam que o jovem era somente um “catador de marra”, ao saber da entrada do Brasil na guerra e a convocação de Voluntários para irem ao combate, não pestanejou.
Entrando em contato com alguns conhecidos, no Rio de Janeiro, se ofereceu para entrar em combate.
Foi um Deus nos acuda; sua irmã, Oracina, estava assustada com tal atitude mais radical do tempestuoso irmão.
Não houve quem o demovesse da idéia, nem mesmo o pároco de Santa Martha, o padre Josias, velho conselheiro do vilarejo.
Ao dizer que havia recebido a confirmação de que tinha sido aceito, João causou verdadeiro clímax entre os habitantes. Não foram poucas as moçoilas que suspiraram frente à possibilidade de, simplesmente, conversar com tal herói.
Num dia frio, daqueles que ninguém esquece, partiu nosso amigo para o Rio de Janeiro, em busca das aventuras que a Europa preparava...
Passados seis meses da viagem, eis que uma notícia caiu como uma bomba em Santa Martha. No domingo, no trem das sete horas, iria chegar de retorno do Velho Continente, o heróico João Polino.
Banda de música na Praça, feriado escolar, todo mundo alvoroçado para recepcioná-lo.
Às sete e meia, pois o trem sempre atrasa, chegou com toda pompa e circunstância, para deleite de toda a população, o nosso Pracinha.
Fogos de artifício e os dobrados tocados no coreto da Praça Santa Bárbara. Os alunos da Escola Municipal, uniformizados, com Dona Louza à frente, reverenciavam o maior herói da história Santamartense.
Depois do rasta-pé que durou a madrugada inteira, João Polino, vivendo como se fosse um sonho, custara a dormir.
No dia seguinte, logo cedo, foi até ao armazém do Seu José Reis, usufruir um pouco da fama.
Ao ser indagado como fora a experiência, João não pestanejou: Que a Guerra estava sendo muito difícil, que tinha matado mais de quarenta alemães, etc. Falara, inclusive, que a Alemanha era muito bonita, e que não tinha dúvidas de que, assim que o povo alemão fosse libertado do nazismo, o país iria se recuperar.
José Reis, quieto, ouvia tudo e nada falava...
Mas, ao perceber que João se referia à Alemanha e não à Itália, estranhou.
-Hei João, quer dizer que a Alemanha é muito bonita? Aonde foi a pior batalha?
-Berlim. Respondeu João Polino, sem pestanejar...
Educadamente José não falou nada, e nem comentou o fato de João ter retornado a Santa Martha com uma morenice de fazer inveja...

No cansaço da lida sem ter tréguas,


No cansaço da lida sem ter tréguas,
Sentimentos sutis, fazendo ninho,
Percorrendo o sertão, cobrindo léguas,
Vou sem me desviar do meu caminho...

Montados nos corcéis, cavalos, éguas,
Poeira das estradas faz carinho.
Minhas antigas dores são perpétuas,
Meus olhos marejados, vou sozinho...

Não temo, muito menos, quero mágoas.
Na vida, me protege minha Santa.
Cobrindo minhas dores, qual anáguas;

Cruéis temeridades, ela espanta.
Fui batizado e prossegui, nas águas,
Daquele ribeirão que, ao longe, canta!

Transeunte que passa pelo rio,

Transeunte que passa pelo rio,
Não percebes sentido no que digo,
Meu mundo foi ficando mais vazio,
De todas as angústias; do perigo,

Conheço tal transtorno, mas me rio.
Das vezes que sonhei, tantas contigo,
Não pude perceber quanto é vadio.
O triste coração, levo comigo...

Sonhava com teus passos, nessa guia.
Andando, me deixaste, sem ter meta.
A vida, transportada, em fantasia.

Nos traços vigorosos, linha reta.
Vou transformando em versos, poesia.
Vivendo minha sina: ser poeta!

Trovas a oito mãos






I
Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...

Bebi a fresca da fonte
no remanso m'afoguei
para encontrar o amor...
mas como se não conheço?

Bebi tanta água salgada
das lágrimas que chorei
toda a imensidão é nada
deste mar em que afoguei!

Lágima que virou mar
onda que invade ponte
dor que sai a te buscar
esquina sem horizonte.


II
Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...

Na saudade fiz meu ninho
nas suas penas deitei
afundei em seus espinhos
da lua me distanciei.


A saudade é uma noite
Com luar, clarão e dor
Mas é dona do açoite...
Açoite chamado amor.

A saudade é sempre ontem
no alvorecer de hoje
porta afora sonhos partem
lembrança de ti não foge.



III
Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei

Beija-flor não me beijou
na boca que ofertei
acabei ficando louca
por bocas que não beijei!

Beija-flor é traiçoreiro
Trai cantando na alvorada
E prendeu no cativeiro
A boca tão mais beijada!

Beija-flor , pro vagalume:
_"Beijo a rosa , quebro o azul!"
Este, morto de ciúmes
perde o norte, a rosa do sul!



IV
Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...

Beijou-me a boca da noite,
taciturna e sombria
bafejou-me mil açoites
no dorso de longos dias!


Da noite, fugi da boca
O seu beijo eu não quis
Ainda não estou louca...
O que eu quero é ser feliz!

Cai no frio do braço
do rio que canta em seixos
levou pra longe o abraço
do beijo, hoje me queixo.

V
Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...

Cravo cheirando a vigor
beija a rosa linda e rosa
viceja as suas cores
mas de amor a rosa morre!


Cravo macho perfumado
meu morango do agreste
Por tanto te ter amado
Vou contigo pro nordeste!

Bem mais nobre a margarida
vestida de camponesa
corola cheia de vida
por todo o lado viceja.

VI
Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...

Sou gaúcha verdadeira
nasci olhando o mar
cá destas serras fagueiras...
de beleza sem igual!


Sulmatogrossense eu sou
nasci bem longe do mar
na planície que moldou
este vasto meu amar!

Fiz de conta não amar
mares de "não me contes"
minas pus-me a chorar
na serra virei pedra e fonte.


VII
Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...

Lancei as cartas na mesa
pra ver a vida girar.
Girou com tal rapidez
que não consegui jogar!

Sete ondas eu pulei
Para ver se dava sorte
E quase eu encontrei
No azul a minha morte!

Meu barco, casca de noz
na imensidão se perdeu
também me perdi de nós
no norte que Deus me deu


VIII
Alameda d'esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...

Cheiro do pão e cafe
emanam das emoções
das sangas molhando os pés,
daquelas saias crianças!

Tamarindo tão formoso
emoções da minha infância
guardo seu gosto cheiroso
nos armários da lembrança!

O licor de tamarindo
evaporou-se no céu
da boca tua, pedindo
o torpor de um beijo meu.


IX
Bebo a vida sem ter medo,
Posso `té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...

Dei a volta no meu rancho
campeando a esperança...
penduraram-na num gancho
que ficou cá na lembrança!

Devorando a Vida eu vou
antes me dovore ela;
Sou melhor do que eu sou
se pintada em aquarela!

A vida eu saboreio
pelas beiras, devagar
não vou direto ao recheio
onde vou te degustar.



X
Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...

Penso que faço poema,
mas acho que é engano
o poema é semente,
a poesia é seu chão!


Já não sei mais escrever
escrever eu nunca soube;
A poesia, pode crer
Em meu peito nunca coube!

Se consumo poesia
bem mais ela me consome
se me atropela de dia
comigo, à noite não dorme.




XI
Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.

Por aqui fiz a morada
não me interessa partir,
tão pouco quero voltar,
quero seguir e vou indo...

O que mais amo no mundo
é do amor a sensaçao:
Em bem menos de um segundo
eu encontro outra paixão!

Ente partir e ir embora
coube-be igual partilha
meu abrigo porta afora
fez-me igual, estrada e ilha.


XII
Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.


Entre a vida e morte,
qual a sorte da primeira,
se a outra deita e rola
durante a vida inteira?

Morte e Vida Severina
o poeta não sabia,
Vida é sorte que termina
ou se a morte ali cabia!

Bem me quer o mal da sorte
na pedra onde gravou
aqui jaz minha morte
que minha vida enfeitou

XIII
Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!

Entre o forte e o fraco
alojei o equilíbrio
quando abri meus curtos braços
só abracei o vazio!

Forte como o vento eu sou
Em noites de vendaval
Varro tudo que encalhou...
tudo o que me fez mal!

Fui buscar no realejo
um pranto em novo canto
forte fiz-me em teu beijo
morri em teu olhar de quebranto.




Marcos Loures
OlgaMatos
Fátima Cunha
Elane Tomich

Quando vou caminhando nas estradas Soneto

Quando vou caminhando nas estradas,
A cada curva, sinto essa presença.
O vento bafejando, vão cansadas,
Minha mãos que queimavam, velha crença:

A de poder sentir; tão amparadas,
Quanto foram. Bem antes que a doença
Abatendo meus dias, invernadas
Mais antigas, cruéis, sem recompensa!

Quando caminho a esmo pelas campinas,
Onde, crianças, fomos sem ter medo,
Nas fontes luminosas, cristalinas,

Por onde tantas vezes, meu degredo,
Sangrando sem saber se nisso atinas,
Guardando, fielmente, meu segredo!

Sunday, August 13, 2006

Trovas

Querida, te quero tanto,
Como é grande o meu amor,
Só em ti vejo esse encanto,
Só de ti quero o calor...

Nas águas daquele rio,
Encontrei bela sereia,
Meu coração tão vadio,
Batendo forte, incendeia...

Nesses cigarros que fumo,
Te vejo nas espirais,
Meu amor grudou, fez grumo,
Não te deixarei jamais...

Minhas mãos estão cansadas,
De procurar por carinho.
Perdido nas madrugadas,
Vou andando assim sozinho...

Trovejando tanta trova,
Levando a vida contente,
Vou feliz e isso prova,
Que trova faz bem pra gente!

Nas minhas matas mineiras,
Nunca fui um caçador,
Nas minhas noites festeiras,
Eu perdi um grande amor!

Amor doendo de leve,
O frio dessa garoa,
A solidão é tão breve,
No fundo, essa vida é boa...


Essa cachaça danada,
Arrepia o coração,
Eta vidinha safada,
Faz tão bem, às vezes não!

Conheci bela morena,
Que no Tororó deixei,
Sua lembrança me acena,
Me dizendo: Já fui rei!

Hoje tenho tantos medos,
Isso confesso, sem dó.
O maior dos meu segredos:
Não me deixes ficar só!

Trovas e Contra trovas Marcos e Olga Matos

Cabem tantos pesadelos,
Nos sonhos da minha amada,
Quem dera pudesse vê-los
Não sonharia mais nada...

Lá vêm eles despontando
das cavernas mais profundas...
peçonhentos os pesadelos
nos bebem da borda ao fundo!


A viola ponteada,
No canto do boiadeiro,
Viajando, corta estrada,
Nesse sertão brasileiro...


uma viola ponteada
chama uma gaita chorona,
se acompanham abraçadas
pespontando a milonga!


Rosa vermelha seduz,
A branca acalma o sentido,
O meu amor já reluz,
Sem ele, sigo perdido...


Se nosso amor fosse lume
toda a nossa amargura
seria facho de luz
quando brotasse o ciúme

Trovas faço sem parar,
Meus versos trago n' alforje,
Quero montar, no luar,
No cavalo de São Jorge...

Cavalgo crinas da brisa
sopro no vento meu verso
colho da rima um sorriso
que me espia pelas frestas!


Mariana passa leve,
Leve Maria pro mar,
Maria, a vida tão breve,
Mais breve, quero casar...


Uma pomba lerda voa
traz a tristeza nos pés
perto de mim não pouses
lepra fétida não quero!!

Temporal tem tempestade,
Raio, corisco e clarão,
O amor tem tempestade,
Faz tremenda confusão...


Ventania escureceu
o azul que escapuliu
pois o amor não socorreu,
era fraco e se sumiu!


Quero beijar sua boca,
Mas você não quer mais não,
Minha amada ficou louca,
Maltratou meu coração...

Um louco entende outro
na loucura de querer,
pois se um querer se for,
é por que de amor morreu


Trago a tesoura do tempo,
Para cortar a paixão,
Não posso ter contratempo,
Vou cortando de raspão...


O tempo tem parentesco
com a vida e a morte
na morte vê um pretexto
para acabar com a sorte!


No meio da capoeira,
Caipora se escondeu,
Meu amor, na vida inteira,
Caipora já fui eu!


As asas do grande vento
a Teiniaguá desejou
para encantar um Romeu,
mas foi má e não logrou!


Me disseram, que maldade,
Que não posso mais amar,
Me negaram claridade,
Se esqueceram do luar...

Disseram-me, ora veja,
que não devo mais amar!
Mas como resistirei
se o luar me banhar?


Espada corta fundo,
Machucando de mansinho,
Tanta espada nesse mundo,
Mas me inundo de carinho...


Os punhais são traiçoeiros
se impondo como espadas.
Mas qual nada... a pequenez,
quanto maior mais se apaga!



Marcos Loures
Olga Matos

Eu ando procurando meus disfarces Soneto

Eu ando procurando meus disfarces,
Em meio a tantas vidas que passei.
Milhares, diferentes, tantas faces.
Fugindo, procurado, sem ter lei.

Não pude nem tentei que me amasses,
Somente teu sofrer, pelo que sei,
Seria tua herança, meus enlaces,
Sofrimento, matéria em que sou rei!

Nos túmulos cativos que carrego,
Correntes me ataram pela mão.
Em meio a tanta luz, seguindo cego,

Nos fúnebres delírios do perdão,
Não posso nem desejo, tudo nego,
Seria tão somente uma ilusão.

Trovas

Não serás minha semente,
Pois não aprendi plantar,
Minha vida vai contente,
Tanta luta por lutar.

Amando de tarde e noite,
Consegui sobreviver,
Solidão foi meu açoite,
Foi embora, ao ver você!

Da dama amada da festa,
Nada ajuda a recordar,
A tristeza abriu a fresta;
Essa porta, vou fechar...

Computador que computa,
Computador esqueci,
Computada a força bruta,
Vou computando daqui...

Bocas beijo sem ter nojo
Bocas que riem de mim,
Nessas bocas vou ao bojo,
Bocas vermelho-carmim...

Tens tentado me iludir,
Eu bem sei que isso é verdade,
Tanta vida só por ti,
De falsa felicidade...

Vascaíno, é meu cunhado,
Mas já me deu outra pista,
Vivendo assim, enganado,
Ele é anti-flamenguista...

Trovas

Nasci na terra mineira,
Na pequena Muriaé,
Minha sina verdadeira,
Tá nas mãos duma mulher…

Faço versos, brincadeiras,
Canto no meu poetar,
Alegrias verdadeiras,
Só encontrei no luar…

Tucanolândia - capítulo 39 - Da saúde das cadeias.


Uma coisa que chama a atenção no reino da Tucanolândia é a falta de capacidade de percepção da oposição xexelenta ao grande Gerente Gerald (GGG), o famoso extragrande.
Reclamaram muito do que poderia parecer a ilógica contabilização como gastos de saúde os serviços públicos a detentos nas penitenciárias.
Para quem sabe ler um pingo é letra e nada melhor do que escrever certo por linhas tortas.
Obviamente o investimento em penitenciárias tem tudo a ver com a saúde pública.
Como todos sabem, o sistema prisional de Saint Paul é um dos mais avançados e salutares do mundo, com a distribuição justa de presos por cela, com uma das alimentações mais saudáveis possíveis e com um tratamento sobremaneira digno dos presos.
Os serviços prisionais das cadeias de Saint Paul são elogiados por todos os defensores dos direitos humanos.
O preso em Saint Paul tem uma qualidade de vida exemplar, podendo ter o uso de celulares, podendo comprar e vender todos os tipos de mercadoria, dentro da cadeia. Tendo acesso livre a mulheres, televisões de plasma, advogados exclusivos, entre outras mordomias.
Será que essa saúde do delicado sistema penitenciário não é visto por esta oposição absurda e sem caráter?

Vai meu mar amar maré Décimas

Vai meu mar amar maré
Maresia mar e sina,
Amando Mar e Marina,
No meu mar, morreu a fé,
Nadava, mas não deu pé.
Fui tragado por sereia,
Que cantando, fez a teia,
Que prendeu seu grande amor,
Nem por reza ou por favor,
Cessou brasa, que incendeia...

Um dia a mais, noutro tempo Décimas

Um dia a mais, noutro tempo.
Noutro tempo fui tão só,
Doendo a vida, dá dó,
A quem tempo e contratempo,
No meu tempo, passatempo,
Foi solitária agonia
Que me fez perder Maria,
Que me trouxe solidão,
Nunca sim, somente não,
Naufragando a poesia...

Na casa antiga, de telha Décimas

Na casa antiga, de telha,
Rede posta no quintal,
Roupa quara no varal,
Amor traz forte centelha
Trazendo a lua vermelha;
Fazendo brilhar o sol.
Tudo vai agindo em prol
Da felicidade ativa,
Dos meus olhos és cativa,
Nossa vida no arrebol...

Sextilhas a quatro mãos Marcos Loures e ZF Marques

Nessa curva da saudade,
Encontrei meu bem querer,
Procurei felicidade
A razão para eu viver.
Mas, me deixaste sozinho,
Coração tão miudinho...



Me deixaste a saudade
Quando te dei meu amor
Pagaste com crueldade
Mergulhaste-me na dor
Porque és só vaidade
Peito frio, sem calor



Foste buscar n'outros braços,
Aquilo que eu quis te dar,
Meus olhos ficando baços,
Silêncio no meu cantar.
Me negaste teu anel,
Por que foste tão cruel?


Mas irás buscaf em vão
Procurando sem achar
Quem te dê ao coração
A certeza de amar
Pois quem vive sem paixão
Seu destino é penar


Quis te dar minha amizade,
Nem isso quiseste ter,
Para falar a verdade,
Eu preferia morrer,
A viver sem teu carinho,
Meu coração pobrezinho...


Não entendes sentimento
És apenas carne fria
Espalhando sofrimento
Sem jamais ter alegria
Não terás o meu lamento
Pois me salva a poesia


A vida segue doendo,
Eu, na vida vou tão só,
Na vida, sigo morrendo,
E ninguém, de mim, tem dó.
Quero somente te ver,
Não consigo te esquecer...


Já passei pela tortura
De buscar-te como louco
Vou em busca da ventura
De chamar-te fiquei rouco
Sei que vou achar a cura
Não és mais o meu sufoco



Marcada por essa sina,
Minha vida não tem graça.
Sem saber, és assassina,
Culpada pela desgraça,
Que se abate sobre mim,
Não sabes que és tão ruim...


Gostarias de saber
Que ainda penso em ti
Te apraz o meu sofrer
Tal frieza nunca vi
Consegui te esquecer
O meu peito agora ri



Meu amor, por caridade,
Não me deixe morrer não,
Me mande essa novidade,
Ajude meu coração.
Fale que gosta de mim,
Não me deixe, triste assim...



Podes ir, não voltes mais
Pra bem longe, eu espero
Me esquece, se és capaz
Mas te lembres, não te quero
E na hora maias fugaz
Te desprezo, isto é vero!


Marcos Loures

ZF Marques


13 ago 2006

Trovas a seis mãos

I
Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...


Bebi a fresca da fonte
no remanso m'afoguei
para encontrar o amor...
mas como se não conheço?


Bebi tanta água salgada
das lágrimas que chorei
toda a imensidão é nada
deste mar em que afoguei!



II

Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...

Na saudade fiz meu ninho
nas suas penas deitei
afundei em seus espinhos
da lua me distanciei.

A saudade é uma noite
Com luar, clarão e dor
Mas é dona do açoite...
Açoite chamado amor.


III

Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei


Beija-flor não me beijou
na boca que ofertei
acabei ficando louca
por bocas que não beijei!


Beija-flor é traiçoreiro
Trai cantando na alvorada
E prendeu no cativeiro
A boca tão mais beijada!



IV

Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...



Beijou-me a boca da noite,
taciturna e sombria
bafejou-me mil açoites
no dorso de longos dias!


Da noite, fugi da boca
O seu beijo eu não quis
Ainda não estou louca...
O que eu quero é ser feliz!


V

Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...


Cravo cheirando a vigor
beija a rosa linda e rosa
viceja as suas cores
mas de amor a rosa morre!


Cravo macho perfumado
meu morango do agreste
Por tanto te ter amado
Vou contigo pro nordeste!


VI

Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...

Sou gaúcha verdadeira
nasci olhando o mar
cá destas serras fagueiras...
de beleza sem igual!


Sulmatogrossense eu sou
nasci bem longe do mar
na planície que moldou
este vasto meu amar!

VII

Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...


Lancei as cartas na mesa
pra ver a vida girar.
Girou com tal rapidez
que não consegui jogar!


Sete ondas eu pulei
Para ver se dava sorte
E quase eu encontrei
No azul a minha morte!



VIII

Alameda d'esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...


Cheiro do pão e cafe
emanam das emoções
das sangas molhando os pés,
daquelas saias crianças!


Tamarindo tão formoso
emoções da minha infância
guardo seu gosto cheiroso
nos armários da lembrança!



IX

Bebo a vida sem ter medo,
Posso `té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...



Dei a volta no meu rancho
campeando a esperança...
penduraram-na num gancho
que ficou cá na lembrança!


Devorando a Vida eu vou
antes me dovore ela;
Sou melhor do que eu sou
se pintada em aquarela!


X

Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...


Penso que faço poema,
mas acho que é engano
o poema é semente,
a poesia é seu chão!


Já não sei mais escrever
escrever eu nunca soube;
A poesia, pode crer
Em meu peito nunca coube!




XI

Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.


Por aqui fiz a morada
não me interessa partir,
tão pouco quero voltar,
quero seguir e vou indo...


O que mais amo no mundo
é do amor a sensaçao:
Em bem menos de um segundo
eu encontro outra paixão!



XII

Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.


Entre a vida e morte,
qual a sorte da primeira,
se a outra deita e rola
durante a vida inteira?



Morte e Vida Severina
o poeta não sabia,
Vida é sorte que termina
ou se a morte ali cabia!



XIII

Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!


Entre o forte e o fraco
alojei o equilíbrio
quando abri meus curtos braços
só abracei o vazio!


Forte como o vento eu sou
Em noites de vendaval
Varro tudo que encalhou...
tudo o que me fez mal!



Marcos Loures

OlgaMatos

Fátima Cunha

Menina, me dê licença... Resposta - Olga Matos

Minhanossassinhorinha,
desceu tudo redondinho,
fazendo cosquinha aqui,
na palma dos meus dedinhos...

o pensamento rebola,
mando a peraltice imbora,
amarro os braços na hora
que a insensatez explode!

E então pacientemente
gatafunho inocente
versos insonsos, descrendo
que assim sejam para sempre!

Trovas

Cabem tantos pesadelos,
Nos sonhos da minha amada,
Quem dera pudesse vê-los
Não sonharia mais nada...

A viola ponteada,
No canto do boiadeiro,
Viajando, corta estrada,
Nesse sertão brasileiro...

Rosa vermelha seduz,
A branca acalma o sentido,
O meu amor já reluz,
Sem ele, sigo perdido...

Trovas faço sem parar,
Meus versos trago n’ alforje,
Quero montar, no luar,
No cavalo de São Jorge...

Mariana passa leve,
Leve Maria pro mar,
Maria, a vida tão breve,
Mais breve, quero casar...

Temporal tem tempestade,
Raio, corisco e clarão,
O amor tem tempestade,
Faz tremenda confusão...

Quero beijar sua boca,
Mas você não quer mais não,
Minha amada ficou louca,
Maltratou meu coração...

Trago a tesoura do tempo,
Para cortar a paixão,
Não posso ter contratempo,
Vou cortando de raspão...

No meio da capoeira,
Caipora se escondeu,
Meu amor, na vida inteira,
Caipora já fui eu!

Me disseram, que maldade,
Que não posso mais amar,
Me negaram claridade,
Se esqueceram do luar...


Espada corta fundo,
Machucando de mansinho,
Tanta espada nesse mundo,
Mas me inundo de carinho...

Trova

Teu senão foi meu talvez,
Nunca mais quero teu sim,
Pois, desde a primeira vez,
Tô sofrendo, triste assim...

Décimas - Não quero falar teu nome,

Não quero falar teu nome,
Tenho medo de lembrar,
Da vida que tive lá,
Dessa tristeza e da fome,
Tenho medo que me embrome,
De novo tal tempestade,
Que com toda falsidade,
Machucava sem perdão,
Destruía o coração,
Sem nenhuma piedade...

Sina




Tanto medo sem motivo,
Eu garanto pro senhor,
Que, por mais que esteja vivo,
Nunca mais incomodou,
A gente tem, com certeza,
Um pé atras, posso crer.
Mas, em toda a natureza,
Outro igual nunca vai ter.
Nascido de mãe nervosa,
E de pai desconhecido,
Vivendo a vida tão prosa ,
Tendo esse olhar mais perdido.
De menino, ele assombrava
Quem passasse no caminho,
Nunca que ele descansava,
Mesmo que andasse sozinho.
Criado por tia tonta,
Sem ter noção do pecado,
Qualquer coisa que se apronta,
Nem adivinha o recado.
Sendo feito de garrucha,
A caneta que escrevia,
Se esfregando, usando bucha,
Pele dura, nem ardia.

Sem medo de bala ou faca,
Sem temer Deus nem diabo,
Fincando o chão com estaca,
De vivente, dando cabo.
Foi moleque temerário,
Dono de todo o sertão,
Não precisava honorário,
Nem tampouco gratidão.
A morte feito lazer,
Não precisava pagar,
Não queria nem saber,
Tinha prazer no matar...
Pouca gente duvidava
De toda essa valentia,
Sua fama já se dava,
Pelo sertão, percorria…
Mas, na semana passada,
Um fato então lá se deu,
Nas matas das Embolada,
Onde o capeta nasceu.
Tocaiaram Chico Bento,
Deram três tiros de sobra,
Fora esse envenenamento,
Da mordida duma cobra,
Cascavel que deu o bote,
Mas um cabra sertanejo,
Resistindo até a morte,
Na desgraça dando beijo,
Mas, para azar do destino,
Dessa ele não escapou,
Foi-se embora tal menino,
Que a desgraça carregou;
Por cima das tempestades,
Que a vida madrasta armou,
Esquecendo as crueldades,
Que falam que praticou.
Na verdade era um garoto,
Morte sempre bafejou,
Da sorte só teve arroto,
Inté que um dia, voou…

Irresponsabilidade

O descalabro absoluto tomou conta de São Paulo, a ponto de termos dois governos no Estado, um omisso e outro atuante.
Quando vemos um Governador de Estado, por meros interesses políticos de preservar uma candidatura fadada ao insucesso, expondo a riscos gigantescos toda uma população indefesa, podemos perceber, as causas da desestruturação do Estado Paulista.
A inoperância e a fragilidade se demonstram em cada atitude do Governador, herdeiro da mesma inoperância e incapacidade dos governos anteriores.
O poder efetivo, em São Paulo, se faz por detrás das grades de um sistema penitenciário corrupto e ineficiente.
O Governador de São Paulo, Marcola, conta com o apoio das atitudes omissas oriundas do Palácio dos Bandeirantes, desde há muitos anos.
Como se pode tentar negar a incapacidade de um Governo que, várias e várias vezes se viu mercê dos aprendizes da FEBEM?
A negativa de se aceitar o apoio do Exército sob a efígie do medo de se submeter a um Governo Federal politicamente adversário, denota a falta de responsabilidade de Cláudio Lembo e da cúpula governamental paulista.
A atitude do Secretário Saulo de tentar transferir as responsabilidades ao PT e ao Governo Federal, dá a dimensão exata da tentativa de Geraldo Alckmin, representante do que há de mais podre na política nacional, tentar transferir todas as culpas das corrupções usuais nos governos tucanos e pefelistas, para os petistas.
Vergonhosa e absurda atitude, de uma infelicidade a toda prova. Dando a real dimensão do que esperaria o nosso povo se, por uma destas desgraças irrecuperáveis, tipo tsunami, a candidatura dessa turma vencesse de novo.
Isso teria conseqüências avassaladoras sobre a economia e a soberania nacional.
Tanto descaso do Governo Paulista já está ultrapassando as raias do bom senso, cabendo, inclusive, por total irresponsabilidade, abrir-se um processo por crime de responsabilidade.

Passando pelo céu, vai viajante louca Soneto alexandrino

Passando pelo céu, vai viajante louca.
Correndo sem parar, cometa sem destino,
Quando for misturar, minha na tua boca,
Regressarei, vou ser, novamente um menino.

Minha voz, noutro mar, noutro tempo, mais rouca;
Já poderá cantar, no dobrar desse sino,
Em cujo badalar, minha dor se fez pouca
E a alegria, verão, foi grande desatino...

Passageira a temer, tantas as desventuras
Que na vida irá ter, quem nunca pode amar.
Para quem, caminhar nas noites mais escuras.

Buscando do luar, farol para guiar,
Os passos a fugir de tantas amarguras.
A viajante vai, nem sab’onde parar...

Falando de você, por todo canto Soneto

Falando de você, por todo canto,
Não quero nem consigo mais mentir,
Seu nome, traduzindo tanto encanto,
O rumo, onde pretendo prosseguir.

Seus medos, e segredos, acalanto
Para as noites difíceis que vivi
Gritando aos céus perdido, cego. Tanto
Quanto sei, tão sem nexo, por aqui.

Senão é seu talvez, fazendo sina
Trazendo essa menina, que alucina.
Que me dá da suave rebeldia,

Acima do meu Deus, já me irradia,
No cálice vertido da sangria.
Que tanto me maltrata e desatina.

Menina, me dê licença...

Menina, me dê licença,
D”eu contar a minha história ,
Enquanto a cabeça pensa,
Vou falando de memória.
Nasci nas terras do Juca,
Lá pras bandas do Meião.
Saudade quando cutuca,
Maltrata meu coração.
Minha mãe foi benzedeira,
A melhor que havia lá,
Curava qualquer besteira,
Qualquer doença que há.
Com a fé de quem rezava,
Dia inteiro, se preciso,
Tanto mal ela curava,
E tá lá, no Paraíso.
Foi embora, a dor é tanta,
Mas, bonita sua cruz,
Morreu sexta feira santa,
Mesmo dia que Jesus.
Lá no Céu teve festança,
Movida a muito forró,
Teve prenda e teve dança.
Teve tudo o de melhor.
Meu pai, foi sertanejo,
Lavrador com muito orgulho,
Lutando com tanto pejo,
Viveu sem fazer barulho,
A morte também, destino,
Levou meu querido pai,
Deixando, tal desatino,
Que, da lembrança, não sai.
Fiquei sozinho na lida,
Sem mulher ou companheira,
Tudo que tenho na vida,
É a viola, estradeira.
Tenho o sol como meu guia,
A lua por namorada,
Vou cantando todo dia,
Canto só, sem ter parada.
Não quero cantar tristeza,
Nem tampouco solidão,
Vou cantando essa beleza,
A beleza do sertão.
A vida deu regalia
E tomou, sem perguntar,
Se era isso o que eu queria,
Mas não posso reclamar.
Foi Deus quem me deu o dom,
Dessa viola tocar,
Quando dela, tiro um som,
Canto sem pestanejar.
Não quero amar a ninguém,
Nem me prender a Maria,
Preciso de ter um bem,
Que a mim, não pertencia.
Pois somente assim, menina,
Não tendo amor que se implora,
Nem tendo vida que atina,
A minha viola chora...

João Polino e o Lobisomem

A lua em Santa Martha tem uma beleza ímpar. À época dessa historia, então, era de uma claridade ofuscante, ainda mais se fosse cheia.
Lua cheia inspira todos os poetas, ainda mais quando não há além dela, senão as bruxuleantes luminosidades que vêm dos candeeiros a querosene.
Isso era o que acontecia na década de quarenta, quando a iluminação tanto pública quanto nas residências era somente uma utopia.
João Polino, nesse tempo um jovem de pouco mais de vinte anos, dono de uma invejável valentia e de uma força inigualável, um verdadeiro sertanejo, acompanhado de uma indefectível garrucha, para o caso de ter que usar contra cães do mato, onças pintadas ou jagunços, reis da emboscada.
João era de boa paz, mas nada impedia de que houvesse alguma tocaia, por quaisquer motivos, ou mesmo sem.
A terra era sem lei, não tinha ninguém para coibir a violência que campeava, ainda mais por que a sede do município, Alegre, distava mais de cinqüenta quilômetros de terra batida e, muitas vezes, intransitável.
Noite de lua cheia, numa sexta feira, não tinha erro: lobisomem na certa.
E, em Santa Martha não era diferente. O lobisomem local era um jovem estranho: calado, ensimesmado, não se dando com nenhum morador do vilarejo, exceto João Polino, pois esse não tinha medo de nada e de ninguém.
Nos últimos meses, começaram a aparecer sinais da presença do Lobisomem. Durante a madrugada, várias vezes se ouvia um uivo longínquo, acompanhado do grito desesperado das galinhas e do gado.
No dia seguinte, a constatação: algumas cabeças de gado desaparecidas e muitas penas de galinha com o sangue espalhado sobre o chão, sinal da passagem do bicho.
Todos os habitantes começaram a olhar desconfiados para o pobre Joaquim, o nosso suspeito de lobisomagem.
Este, acuado e tímido, não respondia a nenhuma insinuação que fizessem, conversando somente com João Polino, a quem negava qualquer participação nos acontecidos.
João, entre preocupado com o gado que mantinha numa pequena propriedade próxima ao distrito e com o pobre Lobisomem, resolveu tentar tirar a limpo a história.
Corajosamente, resolveu amarrar seu amigo Joaquim numa pilastra, dentro de sua casa, e esperar pelo que aconteceria.
Naquela noite, ao ver que seu amigo mantinha-se acorrentado e ouvindo, distante os sons costumeiros, chegou a uma conclusão. Realmente, seu amigo não era lobisomem.
Mas, se não fosse ele, quem seria e como descobriria?
Astuto como ele só, João resolveu armar uma arapuca para descobrir o malfeitor e o malfeito.
Durante um mês, espalhou que tinha comprado umas vacas holandesas para leite, que eram campeoníssimas, tendo vencido exposições de gado até na longínqua São José do Calçado.
O assunto em Santa Martha não era outro, quando é que vinham as vaquinhas, quanto custou, etc.
João, perspicaz, ao ver na folhinha que a próxima lua cheia seria em cinco de agosto, deu a data do dia cinco, como a da chegada do gado.
Na data marcada, em conluio com o seu amigo Joaquim Lobisomem , ficou de tocaia à espera do maldito lobisomem.
Para sua surpresa, o que viu o deixou de queixo caído.
Um dos mais importantes coronéis de Santa Martha, seu Leôncio, estava chegando, disfarçadamente, com mais dois jagunços, na sua propriedade. Traziam algumas facas e, ao começarem a uivar alto, um deles foi até o galinheiro e matou algumas das mais gordas galinhas de João Polino.
Com o alvoroço formado, correram até ao curral, onde principiaram a laçar as vacas, pobre vaquinhas...
Nesse ínterim, João Polino, abismado com o que vira, partiu em direção ao curral e, garrucha em punho, começou a xingar e desafiar o coronel trambiqueiro.
Sem perceber, João foi agarrado e amarrado pelos jagunços do Coronel, que se preparava para esfaquear nosso herói.
Mas, subitamente, se ouviu um gemido assustador. Quando olharam para trás, puderam perceber, um lobo gigantesco, de pé, uivando e babando.
Em pânico, largaram João e saíram correndo, em desabalada carreira.
Quando João ficou a sós com o lobisomem, sem apresentar nenhum sinal de medo, chamou-o, carinhosamente, pelo nome.
Surpreendentemente, Joaquim se abaixou e começou a lamber, carinhosamente, as mãos de seu amigo.
E partiu, para nunca mais voltar, nas noites de sexta feira de lua cheia em Santa Martha...

Tucanolândia - capítulo 38 - quem tem Joseph não precisa gastar na saúde


O investimento em saúde no desgoverno de Geraldo não atinge sequer 12% da receita de impostos, desrespeitando assim o mínimo que foi determinado em lei a ser investido no setor. Este escândalo a tucanagem sorrateiramente maquia, retirando dessas receitas estaduais os R$ 1,8 bilhão que o governo estadual recebe pela lei Kandir. Desta forma a saúde paulista deixa de receber R$ 1,8 bilhão graças à péssima gerência de Geraldo Alckmin.


Essa oposiçãozinha não tem a menor idéia do que seja relação causal.
Tivemos, em Tucanolândia, o maior Ministro da Saúde da História da Humanidade, desmoralizando todos os incompetentes que trataram do assunto, através dos tempos, já que Dom Joseph Mountain na verdade, nunca tinha tido contato com saúde, a não ser quando lia o elucidativo Almanaque do Biotônico, famoso compêndio sobre o assunto publicado há décadas no Reino.
Dom Joseph era um renomado economista, com cursos e mais cursos, sendo reconhecido internacionalmente como tal.
E, mostrando sua genialidade, foi o maior destaque do Reino, na área da Saúde; imaginemos do que seria capaz tal celebridade à frente do Governo... Mas, como nada é perfeito, o povo de Tucanolândia preferiu aquele molusco barbudo...
Mas, voltando ao tema, havia uma lei que exigia um investimento de doze por cento da receita dos impostos na saúde.
Para que? Me responda com honestidade, depois de uma administração tão perfeita quanto da Dom Joseph Mountain , com resultados tão maravilhosos, tem cabimento se gastar tanta grana com a saúde?
Pensando nisso, dom Gerald Aidimin, desviou, sutilmente, a quantia de um bilhão e oitocentos milhões de reais, da saúde para outros setores mais importantes e mais urgentes, como a salvação do sistema bancário, entre outras coisas...

Tucanolândia - capítulo 37 - Quem tem um Gerente desses...

Tinha um pessoal em Tucanolândia que teimava e insistia num tal “Orçamento Participativo”. O que vinha a ser isso?
Nesse tipo de gestão, haveria uma participação da população em audiências públicas para a elaboração do Orçamento provincial.
A Assembléia Legislativa da Província de Saint Paul votou e aprovou uma lei que dava garantias de que a população participaria das decisões relacionadas à dotações orçamentárias.
Obviamente, como bom gerente e auto-suficiente nos assuntos ligados á província, Dom Gerald Aidimin não poderia aceitar uma idéia dessas.
Imaginemos que, como o bom Deus não dotara a todos da mesma genialidade administrativa de nosso amado líder, fosse facultado a um povo tão medíocre quanto o tucanolandês a escolha das prioridades.
Teríamos situações de extrema desvirtuação das funções do Estado.
O zé povinho iria querer, com certeza, mais escolas, hospitais, praças de lazer, essas coisas inúteis...
Com o veto do Presidente Provincial a essa absurda lei, o orçamento,
Para sorte do contribuinte, ficou absolutamente sob o controle de Dom Gerald que, assim como Dom Joseph Mountain foi considerado um dos mais representativos e geniais tecnocratas da História do Reino e, quiçá da humanidade!