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Saturday, November 25, 2006

ÚRSULA

ÚRSULA: pequena ursa.


Refeito deste susto que passei
Em busca dum amor mais que perfeito
Em mansa claridade já me deito
E quero me esquecer que nunca sei

Se queres ou não queres minha lei
Se sabes ou não sabes do meu leito.
Da boca que me morde o meu confeito?
Jamais serei aquilo que sonhei!

Eu quero a mansidão sem ter espora
A parte que me cabe não demora
Sei que serei feliz ao lado teu.

Mas posso te dizer deste meu verso
Que rasga sem temer teu universo
E acende a luz em Úrsula, sem breu...

Felicidade

Quem, nesta vida, sempre imerso em pleno lodo
Espera pelo mar em noite maviosa,
Aguarda na esperança o perfume da rosa
Não sabe que será simples parte do todo

Que formando um conjunto esparso em todo espaço
Faz parte como tudo em volta, natureza.
Não sabe conhecer sequer uma beleza
E perde todo o tempo em vôo cego e baço.

E tudo que aprendeu esquece totalmente
Não sabe que esta vida esboça a forma santa
Da natura tão febril, dessa alegria tanta
De ser uma fração de tudo, simplesmente...

Pois neste vasto mundo a força mais robusta
Não sabe seu caminho, espera seu destino
Na lua que nasceu a vida de um menino
Não sabe se será ou não será augusta.

Não há sequer quem viva em total claridade
Assim caminha a vida em luta desumana,
A luz que nunca brilha em pouco tempo emana
Aquele que não sabe e perde essa verdade

E acha que desse mundo é parte mais imensa
Um dia saberá imerso em turbilhões
Que fora mera parte, uma gota em bilhões
Felicidade então será t’a recompensa.

Pois todo esse universo em margem infinita
Circula num caminho estranho e sem final
No rumo que não traço imenso e sideral
Apenas uma coisa em todas é bendita

E sempre se trará no rosto mais feliz,
O gosto da conquista, o louro da vitória
Por mais que maiorais não trazem toda glória.
Na opressão de minha alma, o medo me desdiz.

Quem dera se tivesse o rumo que esperei
Por mares sem sentido em busca da verdade
Nas luas que vasculho a mera claridade
Não trazem o que quero, e não serão a lei.

Com meu olhar mais fixo espreito meu futuro
A porta que se fecha, abertos meus umbrais,
Deixa-me nessa espera, aguardo e quero mais
Da vida que não tramo o chão que piso, duro...

A mão do meu destino espera sem demora,
A prece que não fiz, o manto que me cobre
Na noite que não traz o sino que se dobre,
E tudo que não pude o sonho rememora.

Se fiz minha cantiga aguardando alvorada
Que jamais terá sido aquela que esperava,
Talvez sem ter carinho a noite me tragava
E depois me deixava exposto sem ter nada.

Marcadas pelo açoite em busca desta serra
Que pode me levar aos campos que desejo,
A parte que me cabe, em lágrimas, não vejo
Esconde-se ferina e matando desterra...

Por mais que sempre tento esbarro sem resposta
Na dor que não se cala, o gozo e a saudade.
Não sei mais ir liberto, em tal disparidade
Que faz do meu futuro uma simples aposta.

No sonho que propus um pouco de esperança
Espera sem demora o fim desta tristeza
A mágoa e a mentira, o laço da riqueza
Que trava e não perdoa e nem a vida alcança;

Busquei felicidade, essa libertação,
Nas mesas do banquete em festas e navios,
Saveiros, mansos cais, orgias loucos cios,
No rosto da promessa em toda vastidão.

Nas jóias, no castelo, em tudo com fervor,
Por mais que procurasse um sonho tão risonho,
A cada dia via um olhar mais tristonho
Em cada novo rosto expressão de pavor...

Nesta alegria falsa, o riso sem motivo,
Na festa que termina e nunca determina
Nos céus que imaginei, em nada se destina
A tal felicidade, o meu sonho mais vivo.

Depois de, já cansado, esperar pela resposta
Por mundos viajar fiquei decepcionado
E resolvi dormir, exposto ao duro fado.
Nunca serei feliz! Eu perdi minha aposta...

Porém, na noite calma, um suave calor,
Em sonhos, de repente ouço uma mansa voz
Que fala bem baixinho: o mundo é bem atroz
Mas a felicidade? É simples, está no amor!

Amor em desespero

Procurei meu amor da mocidade
Esquecida e perdida nos alvores
Neste inverno fatal, nos estertores
Finais, quando me resta só saudade...

Agora em meu jardim, as flores mortas,
Somente erva daninha sobrevive.
São restos que carrego d’onde estive
Penetram minha casa, abrem as portas,

Tomando minha sala, entram no quarto,
Deitam-se nessa cama e já me abraçam.
Envolvem meu pescoço se entrelaçam
E tentam sufocar. Da vida farto

Espero o desenlace deste abraço,
Aos poucos apertando mais e mais
Até que sofrimento e dor, jamais!
Ao fim deste namoro nem um traço

Do que fui restará mais neste mundo.
Coberto pelas folhas, sufocado,
Nesta agonia tudo terminado
Trazendo a liberdade, num segundo...

De tais folhas e galhos, sinto o gosto
Agridoce da vida que se vai...
Em momento algum nada me distrai
Nem mesmo a cicatriz mascara o rosto.

Recordo-me que um dia fui feliz,
Eu tinha todo amor que se deseja.
Meus irmãos, minha mãe, a vida beija
De forma tão sutil... Tudo o que quis

Se perdendo nas curvas do caminho,
A cada dia, aos poucos, foi morrendo
A esperança que tinha. Corroendo
A minha sorte, até ficar sozinho...

Não tenho sequer medo, a dor levou...
De tudo que guardei apenas vento
Da saudade me traz contentamento.
A solidão foi tudo o que restou.

Agora em meu jardim esta quimera
Crescendo pouco a pouco e me matando
Nos galhos e nas folhas me mostrando
Tal qual fosse o sorriso duma fera.

Da venenosa amiga e seus tentáculos
O carinho final que tanto espero.
Em momento algum, nunca desespero,
Talvez sejam meus últimos obstáculos.

A sombra da mortalha que virá,
Nas costas minhas asas já não pesam,
Sem ar, as minhas pernas se retesam
E sinto que minha hora chegará

Nos braços desta amada e doce planta
Que sabe que me cura quando mata
No derradeiro beijo em serenata
O frio dentro d’alma se agiganta

E sigo meu caminho, agora em paz...
Porém quando te vejo do meu lado,
O abraço como fora um apertado
Nó pressinto que amar não fui capaz!...

Tamires

: Paz

Não quero transformar a nossa casa
Num terreno propício para a guerra,
Amor sem ser feliz logo desterra
Ao ver nosso castelo ardendo em brasa.

Se tudo que vivemos nos abrasa
Total devastação na nossa terra
Meu barco, solto ao mar, à deriva, erra.
Sou pássaro perdido sem ter asa.

Em verdadeiro campo de batalha
Não posso mais conter, a dor se espalha;
E nada do que fomos vida traz...

Espero que te lembres de Tamires,
Em seu exemplo belo tu te mires
E em nosso mundo voltará a paz...

Priscila

: Aquela que pertence ao passado, antiga


Nas espirais do tempo amores esquecidos...
A vida prega peça em quem não tem memória.
Viver um grande amor é se render à glória.
A vida é festival dos amores vividos...

Lembro-me, adolescente, em tempos ermos, idos.
No começo do sonho em que resume história
D’homem envelhecido, essa dor peremptória
Da saudade cruel de amores vãos, perdidos...

Morava na cidade, a mais doce menina
Que tinha, com certeza, a boca mais divina
Entre todas. Rainha, a mais bela da vila...

Em plena juventude, instintos incontáveis.
O beijo não sacia, as noites memoráveis.
No centro do meu mundo, em tudo, só Priscila...

Paula

: Baixa estatura, pequena.


Andava semi-nua a deusa maviosa,
Por onde ela passava um rastro de beleza.
Estrela salpicava o andar desta princesa.
O rastro que deixava olor de bela rosa...

Eu, pobre aventureiro, em vida mansa e prosa,
Ao ver a tal princesa, a dama de nobreza
Rara em desfile tal, passei a ter certeza,
A vida, ato divino explode venturosa...

Bem sei que não consigo imaginar a cena,
Quando Deus luminoso esculpiu a pequena
Obra prima que passa enfeitiçando a rua.

Só posso agradecer por estar vivo então,
Aplaudindo de pé, um pobre coração,
Por Paula enlouquecido, a deusa semi-nua!

Patrícia

: Aquela que pertence à Pátria


Quando me deixar lembre; a porta fica aberta.
Não é por mal, entenda a porta não se fecha.
Alguém pode esquecer o medo ou a mecha,
Ou quem sabe um novelo inteiro, esteja certa.

Acontece que amor é sentimento instável,
Da mesma porta que entra, a mesma quando sai.
A casa não tem base, um dia a casa cai,
E eu bem quero ficar, preciso ser amável.

Amor dolente vai, amor dolente vem,
A cama que ficar é noite do meu bem...
Pr’a dizer a verdade, amor: uma delícia.

Mesmo quando o fim surge, amor segue o caminho...
Prefiro ficar só do que ficar sozinho.
Amanhã amor abre a porta com Patrícia...

Pámela

: Doçura, muito doce


Abelha forja o mel do pólen delicado
Que rouba desta flor em súbito revôo,
Beleza deste fato, encantos tais ecôo
Abelha qual Cupido, o pólen, o recado

Que a flor manda p’ra flor, um canto apaixonado!
A dor do meu amor por certo te perdôo,
Flor, colibri, abelha... Amor que eu abençôo!
Do perfume da flor, o mel adocicado...

Pois Deus ao te encontrar, a filha mais amada.
Por certo descobriu o brilho da alvorada,
E mais do que depressa, o Deus se emocionou.

Da abelha e do seu mel, do pólen dessa flor.
Do perfume à doçura,da doçura, ao amor...
E Pamela, em doçura, esse Deus transformou...
Onde estás meu amor? E por que foste embora?
Minha janela aberta aguarda essa presença
Pois tudo está tão triste...Espero recompensa
Da prenda que não veio. A solidão demora...

Meu canto rasga o céu numa esperança em prece.
O mau jardim distante, esquece-se da flor,
A cada novo sonho, um mínimo rumor,
Meu peito enamorado aos poucos desfalece.

Percebe que não vens... E não virás jamais.
Em torno dessa lua o grito doloroso,
A minha alma chorosa, um espectro andrajoso,
Procura por parada, a vida nega o cais...

Tantas vezes sozinho. Em busca da verdade,
A dor dessa saudade espreita na tocaia...
O meu mar tão distante, a fina areia a praia...
Só me resta essa cruz, a dor da soledade...

Um dia fui feliz, um breve dia assim.
O beijo amaciado, a mansidão da noite...
O vento que soprava espera teu pernoite
Trazendo, no horizonte, amor que não tem fim...

Mas nunca regressaste espero-te cansado...
A solução da vida, a paz tão almejada.
O tempo vai passando, e não me sobra nada.
Meu leito de viúvo, a cama, o triste fado...

Nas cinzas do cigarro, imagem espectral,
Um resto de conhaque o pensamento voa..
Uma alma dolorida embalde inda ressoa,
A noite vai passando ... Inferno sideral.

O meu canto tristonho, amargura da vida.
O meu peito vazio, a noite sem ninguém.
Tortura o vento frio, aguardo pelo bem
Que sei que não virá, a noite está perdida.

Sou preso em dissabor, do amor que nunca tive
Quimera que me mata, a noite sem desejo.
O manto que me cobre, o sonho que versejo.
O templo que carrego, a saudade revive...

A marca mais profunda, imensa cicatriz,
Em brasa tatuada, espessa e dolorida,
Um bem que nunca veio, uma gota de vida
Num oceano, imersa, e como ser feliz?

Paloma

: Pomba


O céu em claridade absurdamente bela,
Aos rasgos desta lua encontra sua amada.
Pressente que depois da longa e calma estrada,
Não há sequer um porto, e a lua se revela.

Esse astro enciumado, o céu amado dela,
Esconde-se na treva, a face descorada;
Quem nunca vira a lua assim apaixonada,
Espanta-se com isso: a noite perde a tela...

Irada, a branca lua, abrasa-se ligeira,
De súbito, essa noite, acende uma fogueira.
A luz, incrível lua, ao universo soma

Um rastro qual solar em plena madrugada.
Estrelas vão correndo, em total debandada,
A causa do ciúme: os olhos de Paloma!
Num sonho espectral tive intensa sensação
Da morte em eminente aspecto mais cruel.
Nem bem adormecido, em plena convulsão,
Senti a mão macia e um negro e triste véu
Qual fosse ave agourenta em sobrevôo manso.
Pensei que fosse embora, o sentido, não alcanço...

Perfume adocicado em plena fantasia.
Um olhar sorridente estende seu carinho.
A noite que era quente, em um segundo; fria.
Cruel ave agourenta, espero, volta ao ninho...
Mas nada, estava ali, sorridente e mordaz.
Há muito tempo vivo esquecido da paz.

Nada falava, quieta. A noite se passava
Naquele ritual, macabro ritual...
A morte que eu sonhara eu nunca imaginava
Que fosse assim, tortura... Achara tão banal
Que explicações sem nexo eu procurava dar.
Delírio, fantasia... Ao sabor do luar..

Pois bem sabes a lua em momentos assim
Muitas vezes traz culpa em situações vãs.
Lunático, isso mesmo, essa ave vive em mim!
Acordando comigo em todas as manhãs,
Me acompanhando sempre, existe no meu ego
É manto que me cobre e sombra que carrego.

Dormirei mais tranqüilo e depois isso passa.
Qual nada! Inda está lá, sorridente e sutil.
Por um momento ou outro eu sinto que me abraça.
Meu peito ardendo em brasa, a noite não se abriu
E deixou essa quimera em forma de mortalha.
Não me deixará nunca. A noite vem, não falha...

Se cada vez que tento, embalde, descansar
A sombra não deixar de vir, o que farei?
Onde eu acharei força e paz para tentar
Viver? A cada dia enlouqueço...Cansei,
Mas no dia seguinte, a vida continua.
O trabalho não pára e não posso fugir.
Ao voltar para a casa eu não posso dormir.

Já tentei sair, dormir num outro quarto,
Dormir em outra casa, inútil, não me deixa...
Marcada cicatriz, dela não mais me aparto.
Pontual é dormir ela vem, não desleixa.
Namoro, casamento...Esqueci, estou só.
E rezo, toda noite, em prece peço dó

Mas nada me responde, a quimera não larga!
Eu peço minha morte, assim talvez, quem sabe...
Esta rapineira ave estúpida e vil praga
Se vá para não mais e tudo isso acabe...
Te peço Meu Senhor, desesperadamente!
Escute meu pedido, o lamento de um demente!

Há quase um mês não durmo, e sempre esse fantasma;
O sorriso calado, a mão fria, o vazio...
É sombra, espectro, Fado, ou será simples plasma,
Um pesadelo, cisma? O fato é que é sombrio.
Cansado, estou cansado... Eu não suporto mais...
Milagres? Já não creio. Eu só imploro Paz!

Decerto que acostumo, eu quase já não ligo.
A sombra me domina em todos os momentos...
Nem ansiada cura, embalde, não persigo.
A cada dia sinto o fim dos meus tormentos.
Essa presença fria, um câncer terminal,
É minha companhia, o meu amor fatal!

Olívia

: Azeitona, oliveira


A chuva cai... Recebo o teu carinho triste
De quem amou demais e não teve perdão.
De quem sabia que, depois, a solidão
Se instala e toma cada espaço que inda existe.

Eu estou aqui. Sei que nada disso importa
Para quem sofreu e não sabe disfarçar.
Eu posso prometer a terra e o luar,
Tua alegria está atrás daquela porta.

Eu bem que tento embora eu saiba não consiga
Trazer uma esperança. Espero que prossiga
Sem esse sofrimento inútil que domina.

O meu verso calado, o peito está cansado
De saber que não tens o amor tão esperado.
Minha esperança, Olívia, a cor esmeraldina...
As asas da saudade abertas em meu peito
Invadem cada canto e não me dão sossego.
Voltando de onde vim acham-se no direito
De dominarem tudo, então eu peço arrego.

É duro compreender o que querem as asas
Nem elas sabem, o que posso te dizer
É que me queimam, isso eu sinto nessas brasas
Que sabem misturar a dor com meu prazer.

Me lembro delas um dia onde a tristeza
Se mostrava rainha em mansa sutileza,
Saudade de quem fui, principalmente disso.
Da minha mocidade esquecida faz tempo!
Agora em meu outono o brilho perde viço
A opacidade surge e cada contratempo!

Na seda dessa pele, a morena me acende.
As asas da saudade abertas novamente,
A mão da lucidez vem e de novo estende
O meu manto outonal, ela nunca me mente!


Ainda bem que existe alguma lucidez,
Senão, ‘stava perdido, a dor então, medonha!
Tudo tem a sua hora e tudo a sua vez...
Mas o meu coração, desgraçado, inda sonha!
: Cheirosa, perfumada


Companheiro da fera inebriante:amor;
Por vezes me esqueci que as mágicas mulheres
Guardam cada segredo em diversos talheres
Nas gavetas do sonho, em cálices de dor.

Muitas vezes estranho o mistério da flor
Carnívora. Também fazes o que quiseres
Nas tocaias. Inseto, a presa, se não queres
Depois de mastigada expulsas com vigor.

Porém a perfumada e olorosa rosa,
Absoluta malícia esperando ansiosa
Que um colibri se chegue e carregue seu beijo

Para outra rosa, assim num cio delicado
O pobre beija flor foi, sem perceber, fado.
Olinda; serei flor, colibri ou desejo?

Olga

: Santa, sagrada



Esqueceste-me. Bem sei que não fui fiel;
Tantas vezes errei e te peço perdão
Por não ter conseguido encontrar solução
Para meus erros, fui muitas vezes cruel

Do doce prometido eu te guardei o fel
E por isso nosso amor foi tão vazio, vão.
Agora imerso em treva aguardo a solidão
Que virá fatalmente, inferno e vida ao léu...

De tudo que sei resta um gosto meio amargo
Assim como se esperança esvaísse. Me embargo
E quase não consigo expressar minha dor.

Me trazias um brilho em forma de alegria,
Mas tolamente fiz com que morresse fria
A noite que trouxe Olga, o símbolo do amor.

Ofélia

: Serpente, cobra



Nos meus sonhos, desejo e tempestades vagam
Prazeres e ternura em murmurante voz,
Delícias e tortura uma mistura atroz,
As garras desta fera arriscam-se e me afagam.

Na chama sideral estrelas vãs se apagam,
Deixando um rastro triste enorme e tão veloz
De estrelas mortas que todas as penas pagam,
Dura desesperança e nada vem após...

Nos meus sonhos a serpe imersa em vil peçonha
Prepara o bote, deixa a vida de quem sonha
Em infernal espreita. A morte é tão escura...

Gosto abjeto da morte explode na garganta
Da vítima fatal. A serpente me encanta
E somente em teu beijo, Ofélia, terei cura...

Odila

Cansado de cantar minhas tristes mazelas,
Preparo uma canção que seja cristalina,
Dedicada à mulher. Num olhar me fascina,
Desejoso e voraz, com o brilho das velas

Acesas qual a brasa. A vida, em torno delas,
Apresenta-se sempre imersa em paz divina
E tão profundamente amável que domina.
Um olhar feminino emoldurando telas...

A mulher em desejo, um cio bravo, indócil,
Transforma a solidão num simples, mero, fóssil.
É flor que, delicada, amargura destila,

É languidez audaz, caçadora voraz.
Sua voracidade um agridoce traz.
Sou vítima fatal de t’as garras, Odila!

Salmo 25 - Versos Brancos

Elevo-te minha alma. Em ti, meu Pai, confio.
Que eu não seja humilhado; inimigos não triunfem
Sobre mim. Que não seja humilhado também
Os que esperam em ti. Mas sim, os traiçoeiros!
Mostre-me teu caminho e também t’as veredas.
Guia-me na verdade, ensina-me, és meu Deus
De minha salvação. Espero-te o dia todo!
Da tua compaixão, lembra-te meu Senhor.
E da benignidade, elas são eternas!
Não lembres do pecado em minha mocidade,
E nem das transgressões, tenha misericórdia,
Pela tua bondade, esqueça dos meus erros.
Bom e reto, o Senhor, ensina aos pecadores
Os caminhos e guia os mansos no que é reto.
Veredas do Senhor são de misericórdia
E verdade a quem guarda o pacto e testemunhos,

Por amor do teu nome, a minha iniqüidade
Que é grande, Pai, perdoe. Homem que teme ao Pai
Ensinará o rumo ao qual tu seguirás.
Próspero será, e a terra será sua,
Dos herdeiros, também. O conselho do Pai
E o saber do seu pacto é para os que temem.
Ao Pai, o meu olhar estará sempre posto,
Meus pés desatará. Tenha misericórdia
Estou desamparado estou também aflito.
Pai, olhe para mim. Coração alivie,
Da angústia, me tirai. Olhe minha aflição,
Repare minha dor, perdoa meus pecados.
Meus inimigos veja e verás cruel ódio.
Guarda a minha alma e livre, pois em ti, meu refugio.
Retidão me proteja .Em ti, Pai, eu espero.
Redime, de Israel de todas as angústias!

Nefertite

: Amor, sensualidade, atração

A vida sem seu braço esquece do deleite.
Chorando, convulsivo, a madrugada fria...
Minha esperança, breve, escapa.Fugidia...
Quem dera se eu pudesse, atar-me, como enfeite,

Ao corpo da pantera. Espero que m’aceite
Ao menos um segundo... O meu mundo teria
O brilho d’uma lua. A vida sorriria...
No braço que preciso, aguardo que me estreite!

A solidão atroz aguarda pelo encanto
Da deusa que se esconde, em alvo e belo manto.
Adormeço e não tenho a presença que espero...

Qual falena procuro o lume, mas não vem.
Outra noite se passa; outra vez sem ninguém
Rainha Nefertite: amor, desejo fero!

Núbia

: Ouro, terra do ouro

Não falo da tristeza. Ela sempre virá,
Quer queira ou nunca queira, a vida continua...
Em busco de carinho, o meu destino: rua!
Muitas vezes sozinho, aqui ou acolá.

Procuro meu socorro. Em vão! Não chegará...
No frio de minha alma, o meu corpo já sua.
A vida que sonhei, jurei que era sua.
Mas não vieste e, só, vida segue má...

Amor, dedicação... São sentimentos frágeis.
As mãos que me negaste, em sonhos eram ágeis.
Reparo bem na sorte...Essa palavra é dúbia.

Pensamos, num segundo em coisa benfazeja.
A sorte de viver, o que mais se deseja...
Porém a minha sorte, esvaiu-se com Núbia...

Norma

: Mulher de origem gaulesa


Entardecer... Risonho e delicado brilho.
O sol se esmaecendo encontra a bela lua.
Esta, envaidecida, abre-se toda nua.
Eu, quieto voyeurista, olho e me maravilho!

E depois, satisfeito, o sol segue seu trilho...
A lua se levanta... Orgástica, flutua.
Natura, enamorada... A noite continua...
Quem sabe, dessa lua, amor é belo filho...

Por vezes; encantado. Em outras, tão vazio...
Ao sol vai abrasado, à lua quieto e frio...
Termina num outono, o que nasceu n’estio...

Nas normas desta vida, o nosso amor nasceu...
Tu foste o forte sol, a triste lua: eu...
Ah! Norma, o nosso amor? Apenas breve cio...

Noemi: Noêmia

Minha agradabilidade, flor de beleza



Pressinto; a morte vem... Amiga mais cruel.
Levarei pouca coisa: um resto de saudade,
Um gosto de tristeza, a mansa claridade...
A receita da vida; o mel... Bastante fel.

Chuva... Sol... Desamor... Cumpri o meu papel.
Vivi, no meu outono, a flor da mocidade.
Criei algum fantasma... Andei pela cidade
Buscando o meu caminho... O meu destino? Céu?

Pode ser... Mas será? Cometi os meus erros...
Casei-me, descasei... Nos velórios, enterros,
Casamentos...Cinema! O beijo da morena!

Depois: filho e filho... A vida me foi leve...
Uma coisa ficou. Sonho rápido e breve...
Noemi, juventude... Apenas uma cena...

Nívea

: Branca como a neve

Resquícios de alegria; um mavioso estio...
O céu se torna espesso, as nuvens vão chumbadas...
O tempo, que era claro: em raios, trovoadas...
A tarde me promete um mundo duro e frio.

Na fumaça da vida, enchente vaza o rio;
Alaga todo o campo, encharca essas estradas.
Assim como minha alma, estão enlameadas.
Acordo e não te vejo. A fantasia crio;

Promessas? Ilusão... Níveo dia? Jamais...
Eu te chamo, ninguém... O dia? Nunca mais...
Noite eterna, doída... O sol jamais virá...

Persigo uma lanterna (esperança) e se apaga...
A noite na minha alma, eterna e dura praga.
Ó meu Deus me responda: onde Nívea andará?

Nice

: Vitória



Paraíso em teu canto, ave bela e mais rara...
Ergueste teu castelo em meio a tempestade.
Feito de etéreo fumo, asas da liberdade.
A mão que me maltrata; a mesma que te ampara.

Persegues nova vida em sonhos, mansa e cara.
Onde tenhas amor, sincera amizade
E a paz d’um paraíso: a tal felicidade!
Teu canto encantador, a vida tão amara!

No teu castelo em dor, a flor perde perfume,
O sonho se esvaindo, o que sobra? Queixume...
Amor que sempre fora o retrato da glória,

Adormecido... Quieto... Espreita atocaiado,
Que outro castelo surja em outro, manso, prado.
Nas asas da ave, Nice; a força da vitória!

Neusa

: Nadadora

Nas ruas desfilava a bela forma, esguia;
Trazia em seu olhar, um raio de luar.
Vontade de viver, vontade de chorar...
Amor fora distante, em plena asa do dia...

Sua beleza rara, a deusa não sabia;
Criança que matava, a cada meu sonhar,
Não via, distraída, a promessa de mar
Que, embalde lhe trazia, em minha poesia...

As ilusões cruéis fatais e terebrantes...
Meu mundo se perdia em olhos tão distantes...
Quem dera Deus me desse amor da bela deusa...

A vida, num repente, em rara em mansa luz,
Talvez não me pesasse e fosse leve, a cruz...
Nas ruas desfilava, a minha deusa: Neusa...

Neide

: Nadadora

Na noite, caminhando pelos bares,
Em busca deste sonho que morreu.
Mesmo na claridade, o negro breu.
As lágrimas impedem os luares...

Procuro nos bordéis e nos altares;
Amores que se foram, restou eu...
Nem sombra do que fui sobreviveu.
Nesta noite de ronda, dor aos pares

E meus olhos perseguem esperança...
A cada novo beijo, nova dança,
Aumenta esta distância: vida e paz...

Ninguém percebe, morro a cada instante.
Procuro minha amada, minha amante...
Só Neide a me salvar da dor voraz...

NATÁLIA E NATACHA

: Nascimento, dia natalício


Há tempos fui feliz pois era amado.
Tantas vezes sorria, até cantava
Por caminhos risonhos. Esperava
Que a vida sempre fosse um verde prado...

Tinha você... Meus filhos... Ao meu lado!
A cada novo dia renovava
Minha felicidade. Nenhuma trava...
Mas a cruel quimera, o triste Fado

Num instante infeliz tudo mudou.
E nada do que fui aqui ficou...
A morte me rondando, sorridente...

Mas quis Deus, num momento de carinho,
Que eu não seguisse o rumo mais sozinho
Renasci em Natália, de repente...
Vasculhei minha gaveta
Procurando tua foto.
Amarelada pelo tempo,
Esquecida em algum canto.
Amassada...

A vida é mesmo engraçada.
Por causa desta foto
Chorei léguas de saudade...

Coração é moleque
E não guarda recado.
Vai trem, vem trem, vai trem, vem trem...
Fica a estação!
Passo a passo,
Meu passado
Sina e fado
Aço e sina
Corte são
Cortesão
Assassina
A moça e o passo.
Pásso preto
Açum preto
Cego canta
A mão espanta
E ouve a promessa...
A mão se esquece
E recomeça
O velho passo...

“Maria foi passear
O passeio de Maria
Ainda faz mamãe chorar”

Saudade da casa velha
Do mel da abelha,
De toda a telha
Que fez goteira.
A porteira
O gado.
O fado
Levou....

Restou meu peito.
Vadio e pesado
Carrega todo o passado
E nem abre a porteira...
Mais uma noite branca! Agora não tem jeito.
No cabaré vazio um cheiro de masmorra.
Não surge um que explique e ao menos me socorra.
É greve de mulher? Alguém fez um mal feito?

Nem mesmo essa aguardente, aquela batizada,
Me esquenta nessa noite. O frio é de lascar!
Vontade de gritar, vontade de dançar!
Vontade de xingar em plena madrugada.

Nem ao menos Maria, a das coxas roliças,
A da boca pequena, a mordida gostosa,
A lambida sofrida, a mão maravilhosa...
A dos restos mortais, Maria das carniças...

Nem ela. Ao menos ela! Eu vou voltar p’ra casa.
Prá casa não me lembro, aqui tem um pé sujo.
Depois daquela esquina, depois do Caramujo,
Eu acho que é ali. Eu boto fogo na brasa...

“Refúgio da Moleca”, o nome do boteco.
Será que aceita cheque? Estou meio lesado.
Prá quê eu vou ficar assim tão preocupado?
Mas se o lugar for bom, depois tem repeteco!

Eu soube que Joana, antiga cafetina
Andou em confusão com Chica Quero Quero.
Nessa panela velha, eu acho que tempero.
Pois Joana é danada, acha cada menina!

Depois disso eu garanto eu não vou mais ligar.
É disse que me disse, eu falo mas eu nego.
Martelo pede cabo o cabo pede prego.
O prego quer martelo... E como vou ficar?

É melhor me calar. Assunto que encomprida
Depois de muito papo aumenta como o quê;
De pequeno, gigante, aí é que você vê.
Amanhã pego o trem, ‘stá na hora da partida...

Mais uma noite branca, e daí o que fazer?

Minas é tão distante acho que não vou não.
Depois o que fazer? Voltar para a mesmice?
É tanta da fofoca, um disse que me disse.
Depois tem problema. A Paula Caminhão.

Eu prometi casar! Cachaça vagabunda!
Foi só tomar um trago, a noite estava fria...
A cama bem quem quentinha, a coceira subia.
É num buraco desses que um caboclo se afunda.

A mãe dela é comadre e meio aparentada.
A cabeça não pensa, a gente é que se lasca.
No fim valeu a pena, a boa da borrasca.
Eu soube, assim por alto, ela caiu na estrada.

Mas, de qualquer maneira a volta é complicada.
Minha mãe está velha e a noite é muito nova...
Eu sei que ela não gosta e sei que não aprova
O fato d’eu chegar em plena madrugada.

Meu pai era peão, e bom de montaria,
Morreu numa tocaia, a mando de um ricaço.
Que depois foi prefeito e que já foi pr’espaço.
Fez aqui, aqui paga a minha avó dizia.

Já tava me esquecendo o meu nome é Gilberto,
Me chamam de Mineiro, eu gosto mais assim...
Eu trabalho no cais, já mexi com jardim,
Faço qualquer serviço, até que sou esperto.

No Rio de Janeiro estou já faz um tempo,
Morei lá no Turano, agora, no Salgueiro.
Sim, eu já fui casado, agora estou solteiro.
Tanta coisa já fiz... Já tive contratempo.

Eu sempre defendi o pão do dia a dia
Trabalhando, vendendo ervas medicinais,
Outras ervas vendi, outras coisinhas mais.
Não venha recriminar, noite sem rango é fria...

Minha mãe? Sabe não! Mas com quatro crianças?
Fazer o quê? Se dane. A vida é muito dura,
Eu preciso de grana, a barra tá escura.
O que você me disse? Esqueça as esperanças!

Isso é papo furado, a barra está pesada.
Jacaré fica quieto? A cobra dá o bote.
Vendia sim senhor! De porção até lote.
Pelo menos assim, a barriga pesada!

Mas voltar para trás? Deixar a molecada?
Nem pensar seu doutor! Favela é um perigo!
Aqui posso falar, mas lá? Eu nem te digo.
A boca e a formiga. Eu não falo mais nada!

Voltando a vaca fria, eu não volto pra Minas.
Minha vida é aqui, com todos os problemas.
Com toda confusão. Tenho lá meus dilemas,
Tem a Praça Mauá e tem essas meninas...

Nara

: O que está bem próximo, mais próximo




Quem me dera sonhar um verso mais feliz
Que me trouxesse paz sensação que não vi.
A minha vida, triste, esqueci, por aqui...
Minha alma, tão sozinha esteve por um triz.

Nos bares, cabarés, minha alma meretriz;
Sou pó, sou resto, o nada. O futuro? Perdi
Em meio a tanta coisa, a lama onde cai,
A faca penetrante, a marca, a cicatriz...

Na pureza do olhar desta mulher tão bela,
A garra da pantera, estico e se revela.
Tua carne desejo, o beijo desampara...

Porém nesse segundo, ingenuidade tua,
Que me amas, eu percebo... Enfim achei a lua!
Enfim achei a vida, e me salvaste, Nara!

Nancy

: Aquela que é cheia de graça




Toda a minha emoção, é verso sem sentido.
É canto que maltrata um coração sem lume.
É flor que não encanta, a falta do perfume.
É mar que não navego o leme dividido.

Morto, no esquecimento, a sensação do olvido
Invade minha cama, escuta meu queixume.
Sou boca que te morde, a falta de costume,
Retrato na gaveta, há tempos esquecido.

Sou fumo que evapora esparso em triste vento.
Poeira dessa estrada, o céu sem firmamento.
O pouco do que fui, está guardado em ti.

Pois foste um relampejo, um pouco de esperança.
Confesso, nunca mais, saíste da lembrança.
Meu único momento feliz, contigo, Nancy...

Nair

: Aquela que é luminosa



Quem neste triste mundo se perdeu
Nunca teve os caprichos bons da sorte,
A paz nunca chegou. Viveu sem norte,
O sonho que foi claro escureceu.

Quem sempre desfrutou do negro breu,
Sabe a profundidade e dor do corte.
Em plena vida aguarda a fera morte.
Esquece de viver, assim como eu.

Sou trama que não teve mais emenda,
Um velho beduíno sem a tenda.
Sou noite solitária e dolorida...

Nair é com certeza o santo cais.
Depois um outro porto, nunca mais.
A última esperança em minha vida!

Nadir

: Vigilante

Quem fora simplesmente mar vazio,
Espera com total ansiedade,
Que a vida sem ter rios de saudade
Não deixe seu amor morrer vadio...

Deleita-se com brilho em mar sombrio,
Acalenta ilusão de liberdade.
Esquece a noite fria e sem maldade
Aguarda por calor no novo estio.

O sonho de salvar-se vai crescendo
Enquanto o duro inverno vai morrendo.
Embora nunca deixe de sentir

O frio que, covarde não lhe deixa.
Quem foi do amor escravo espera a gueixa
Que vai se incorporando e traz Nadir.

Nadia

: Espírito de luz




Em toda tua vida, em tudo foste eleita,
No sonho que me embala, intensa claridade.
No tempo que me resta, a plena eternidade.
Minha alma ao te saber, se eleva e se deleita.

A mão tão delicada, a boca mais perfeita...
O lume d’uma estrela imensa intensidade,
Espírito de luz, total imensidade!
O dia em que chegaste, a vida satisfeita!

Meu verso te procura em cada pensamento,
O medo que tortura, esparsa-se no vento.
Ao ver-te, me imagino, alçando pleno vôo...

Quanto mais alto estou, mais perto estou de ti.
Emoldurou-te Deus, no sonho que perdi.
Nádia, desde que foste, eu nunca me perdôo!
Minha alma não sossega, aguarda um novo sonho.
Onde possa encontrar amor em profusão.
Minha alma sempre esquece: amor é perdição.
Mas um dia, quem sabe, o sol chegue, risonho...

Os segredos da vida escondem-se no mesmo
Instante que nasci, depois? É descobrir...
É vontade de ficar, mas tendo de partir,
Vivendo a cada dia, o tempo corre a esmo...

É brincar de esperança e saber que jamais
Terá u’a recompensa... e sofrer meio a toa,
E reclamar que a vida, ingrata, te magoa.
E de repente achar que já sofreu demais...

Eu bem sei deste jogo, amor vira pantera
E depois de um minuto a vida recomeça.
Mas eu também não tenho a sombra d’uma pressa,
Se morreu, já passou, a vida nunca espera...

Depois o botequim, a dança na boate,
Outra morena passa, o beijo não demora...
A vida não tem pressa, a noite não tem hora...
Morena caçadora, em um segundo abate.

A noite no motel, a taça de champanha,
Nessa cama redonda, a cabeça girando...
Aquela velha história, o tempo vai passando,
A dor parece um monte, o prazer é montanha!

Percebendo a jogada, a vida não tem freio.
Passa noite após noite o dia sempre vem.
Se hoje estou tão sozinho, amanhã? Sem ninguém.
Tudo bem. Nasci só. Que há um Deus, eu creio.

E que eu vou morrer. Certo, isso eu tenho certeza
Absoluta. Se dane! A cachaça me cura.
Eu não quero saber se é clara ou se é escura
Se é loura ou se é morena, o que importa? Beleza!

E um jeito sem vergonha, um beijo mais macio,
Um cheiro de pecado, o gosto do veneno.
Amor não tem tamanho, ou grande ou é pequeno,
O que importa em verdade, o resultado do cio...

Um dia inda me mudo, ou nunca mais, quem sabe...
Se mudar, cadê limo? Assim vivo melhor.
Danado colibri. A flor? Eu sei de cor.
Nesse mundo de Deus, toda saudade cabe...
Amor que tanto mimo escusa-se de engano.
Minha alma feita seixo, em águas se lavava.
Qual alga neste mar, nos sonhos flutuava.
A noite que chegou, promete duro dano.

Quem sabe deste amor, se lava em desengano.
Em calmaria audaz traz vulcânica lava.
Na boca, mais mordaz, a faca, em costas, crava.
Amor sabe procela, embarca no oceano...

Vestígios de saudade, a tarde sempre traz.
O rumo do meu verso, a lágrima distrai.
A tarde em minha vida, ao meio dia cai,
De tudo que escrevi, só peço a minha paz.

Não sou mais controverso, aguardo teu recado,
O mar deste universo, espreito da janela.
A cor desta morena ou jambo ou canela.
O mote que me deste, escuro e maltratado

Peço-te não perdoe, espero teu castigo;
A mão anda cansada, estreita, dura, em prece.
Amor que tanto mimo, a lua não merece.
Depois de tanta coisa, eu quero estar contigo.

Um carro em disparada, a rua é tão deserta,
O manto da alvorada, estrelas são a linha.
Amor que se conteve, agora não és minha!
Depois de tanta luta, esqueces minha oferta.

Bendita claridade! Embora esteja escuro.
O vão já se desaba e caio desta ponte.
No meu olhar, distante, aguardo um horizonte.
O chão , depois do tombo, eu sei que é bem mais duro.

Vestígios do que fui, te trago na bandeja.
Da santa guilhotina, o resto sempre é teu.
Na faca que me lambe, o meu amor morreu.
Amor que nunca tive, o pranto não deseja.

Repare nesta estrela... O brilho é muito escasso.
Cometa repentino, espero um novo dia.
Agora, não se esqueça, a velha fantasia.
O mundo me carrega, aguardo um novo passo.

Em verso alexandrino, eu canto esta desdita.
O sol que não raiou, estrela que não veio...
O mundo que restou... Só quero ter teu seio.
A noite me embriaga... A cachaça é maldita!
O nó, minha garganta, a lágrima desata.
Distante, teu caminho, aguarda a velha fera.
Quem dera minha amada, a morte da quimera.
O canto mais sofrido, a noite já retrata.

Me perco em tua ausência, a vida me maltrata.
A fortuna me trai, traz garras de pantera.
A razão me abandona, a morte já se esmera.
A vida, traiçoeira, a sorte é tão ingrata.

Espero o meu triunfo, a paz nunca revejo.
O sonho deste amor, em solidão trovejo.
Na braça deste rio, as margens se abarrancam.

O fogo que queria, a chama se apagou,
A lágrima que escorre, expõe tudo o que sou;
Agora é meu final: sangrias não se estancam...
A mão que acaricia, em garra já se atreve.
A noite não permite o brilho em novo dia.
O canto que me deste, a dor o revestia.
No sol do nosso amor, o lume não se escreve.

De todo nosso sonho, a manhã morreu breve.
O que levamos? Nada. Amor não mais havia...
A lágrima forjada, a carícia mais fria.
Agora o tempo corre, a vida se faz leve!

Não sinto mais cansaço, esqueço o meu tormento.
Não quero mais mentira abraça-me a verdade.
Não quero nem aceito a tua piedade.

Notícias que me deste, espalho-as no vento.
A lágrima que corre, o sol que anda mais forte.
A voz tão engasgada, aguarda minha morte...
MOTE


Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente...

Luís de Camões





Amor, a tempestade, em calmaria breve
É pesadelo louco. Espero e me destrói
Ao mesmo tempo cura, amputa e tanto dói!
É fardo que carrego e que me deixa leve.

É mão que me tortura, em carinhos se atreve.
Depressa, cicatriza, um segundo, e corrói.
Esfacela meu sonho; a vida, me constrói.
É frio no deserto, e sol em plena neve.

Amor manto desnudo, e clara madrugada;
Serpente que me beija, a boca envenenada.
Derrota na vitória, os louros na derrota!

É pleno contra-senso, um barco sem destino.
Ao velho, pleno encanto, e volta a ser menino.
Amor é louco guia, esquece-se da rota!
Belo templo do amor, por toda a minha vida
Em cada novo dia, em sonhos visitei.
Amar era promessa e também foi a lei.
A luz que iluminava, agora destruída...

Procuro pelo templo, aguardo uma saída;
A mata que o cobriu, em sonhos, alcancei.
Das urzes do caminho, as lágrimas, eu sei.
Ó templo que se esconde! A treva irá, vencida?

Na mão, carrego a foice, a última esperança!
Desbasto o triste mato, em plena confiança.
Nos braços, tanto espinho, os olhos marejados...

O templo não vislumbro, o tempo vai passando...
Despojos da saudade, o caminho se fechando.
O corte mais profundo. Os sonhos des’perados!
Por que tu me deixaste? Em vão eu te pergunto...
A vida parecia um pássaro contente.
A paz nos comovia; amar eternamente!
Na dor que me legaste, a morte é meu assunto.

Amor quando se quer é bom que seja junto.
Ó tempo que vivi, eu era tão contente!
Amor era meu guia...A vida, mais urgente.
O mundo mais feliz, fantástico conjunto.

Mas Deus, tempestuoso, em prantos me deixou,
Um canto de agonia, o que de mais restou.
Minha alma se transtorna, ausência me corrói...

Álgida madrugada, aurora nunca vem.
Acordo. Aqui do lado, espero, mas ninguém!
Tu foste muito cedo. Ah como a vida dói!
Meus campos se alegrando, escondem meus segredos...
Nas águas, a frescura, o brilho do cristal;
O vento mais solene, as roupas no varal...
Distante, já percebo, o sol nos arvoredos.

Na noite que passou, livrei-me dos meus medos.
Meu peito, agora, aberto, aguarda o teu sinal;
A vida se promete, um brilho sideral.
Saudade já mergulha, invade outros enredos.

No deleite do verde, as mãos mais olorosas
Matar a minha sede, em águas deleitosas.
A noite que virá é toda do meu bem.

A bela flor silvestre encharca-se em perfume.
Do sol que me irradia, o mais perfeito lume.
Na noite que virá; nós dois e mais ninguém!
Sim! Desde aquela noite os meus sonhos deixaste.
Eu nunca imaginei, um dia em esquecer-te.
Por tanto que te quis jamais pude entender-te;
Amor que se morria, em vão, não renovaste.

No mundo caminhando, apenas sou um traste.
Por certo não consigo o prazer de entreter-te.
Desculpe se, talvez, eu venho aborrecer-te;
O certo é que não amo, e por isto, magoaste.

Nesta noite passada, em perfeita harmonia,
Dormi sem ter problema, a noite não foi fria.
O manto que me cobre alvura dum lençol.

O mar que já não tempesta. A mansidão da paz.
Um vento tão macio, a noite sempre traz...
Olhar que me queimava agora é um farol...
Destino tão cruel são duros os meus fados!
Os sonhos de mudança em teus braços levaste.
O tempo se passou e nunca regressaste.
Agonizo sem ter o bem dos teus cuidados...

Os males que deixaste, em mim são redobrados.
Ó Deus, não acredito, o quanto tu mudaste!
Um vaso que se quebra, a luz que carregaste.
Os dias sem teu canto, em vão, desesperados!

O sal da minha vida, o pranto que vivi;
A sorte que não veio... O que restou, aqui
Um homem retraído, o manto da saudade.

Dobra-se um triste sino em homenagem tétrica
O verso que te faço, embalde, perde métrica
Na trilha do destino, eu vou, sem claridade!
Quero-te totalmente! Eu quero ser teu fardo.
Eu sei que, na verdade, escondeste de mim
O que te deixou triste. Eu sei que mesmo assim,
O amor sempre tem sido imagem dura, um cardo.

Desculpe se não sou, um vate nem um bardo,
O manto que te cobre espelha meu jardim,
A cor da bela rosa, o cheiro do jasmim.
Cupido me acertou, dos céus, o fino dardo.

Meu verso vai capenga, e quase desvalido,
Buscando teu abraço, um beijo, assim, partido.
Exuberante lua, aguarda teu sorriso.

No cimo da montanha, o reflexo do sol,
A brisa, quase mansa, a cama, o meu lençol;
Só falta te encontrar pr’a ser o paraíso!
A vida passa, brusca; e , nela, a sensação
Desoladora e triste, o gosto mais amaro.
Deixa-me, então, decerto, o desejo mais raro.
O de percorrer, livre, espaço e amplidão!

Nunca despreze a dor, nem negue o seu perdão.
Amor belo, de outrora, a morte sente o faro
E em menos d’um segundo, está no desamparo!
Amor é qual semente, a rega brota o grão.

Não despreze a mulher mesmo que não a queira.
Amor nunca permite afronta nem cegueira.
O vaso que se quebra, aceita nova cola.

Mesmo que nunca seja igual depois da queda.
Amor sempre se paga, o beijo é a moeda.
Por fim, amor não sabe e não respeita escola!

Luciana

: Luz, iluminação


Que importa ser feliz? A vida não promete...
Um rasgo de saudade invadiu o meu quarto.
De tanto que sofri, eu ando meio farto.
A lua já fugiu, intrépida vedete...

Depois que já se foi o amor de Elisabete,
Meu coração não quer saber de novo parto
Na parede, jurei, não quero mais retrato.
No carnaval da vida, em cinzas meu confete.

Versejo e não me caso; amores vêm e vão!
O que ficou aqui? Vadio coração!
A mentira do amor, te juro, não me engana!

De fraudes ando cheio, agora vou vazio.
Sossego meu cantar, não quero um novo cio...
Mas eis que em ti, reparo e embarco em Luciana!

Lucia

: Luz, iluminação

Orvalhada manhã, um vento tão suave.
O sol emoldurando esta cena fantástica.
A mão de um deus artista, a cena, bela plástica.
Meu coração amante a bordo desta nave...

Um passarinho livre, uma apaixonante ave,
No trilho desta luz minha alma fica estática.
Vento em minha narina, uma essência aromática
Num átimo embriaga. A vida sem entrave...

Delícia desta paz, é tudo que preciso.
No orvalho da manhã, decerto, o paraíso.
Na maciez do canto, um sonho de pelúcia...

Um beijo da alvorada, o coração desmaia...
Debaixo deste sol, a onda em minha praia,
Amor tão transbordante: a luz que me traz Lúcia...

Lucélia

: Luz, iluminação



A lua no sertão, meu amor sertanejo...
Abrindo essa janela a lua, intensa brilha.
Promete a minha vida imensa maravilha.
A lua se esbaldando, espelha meu desejo...

Vem cá minha morena, espero por teu beijo.
A lua faz o claro, então vamos na trilha.
As urzes no caminho, espreita e armadilha;
Um sonho cristalino; olhar brilhante vejo!

A lua, companheira, anseia pela aurora.
Estrela tão formosa, a cena se decora!
Ó lua do sertão! Meu sonho e minha luz!

Lucélia me deixou, roubou a claridade.
A lua que carrego, a lua da cidade...
Da lua do sertão, ficou só a saudade...

Luana

: Africano, de Luanda


África, paraíso! Em sonhos, a percorro...
Deserto, na savana, em meio a tantas cores...
Um leão corre solto... As matas, suas flores.
Um céu pleno de anil, na rubra terra, o forro...

Um peito enamorado em busca de socorro;
Buscando, na floresta, o cheiro dos amores.
Na savana angolana, estrelas multicores!
Estou apaixonado! Em braços mansos, morro...

Lembro-me da menina, uma deusa angolana!
Seus olhos, meu farol; quão bela era Luana!
A vontade de voltar, o meu coração manda.

Distante, no Brasil, um verso triste faço.
Quem dera viajar rasgando todo espaço
E num segundo só,voltar para Luanda!

Lourdes

: Alta e escarpada


Em plena cordilheira um condor alça vôo.
Andina claridade o vento forte e frio.
Meu coração gelado outrora tão vadio,
Olhando lá de cima, amores sobrevôo.

As dores que causaste eu bem que te perdôo,
Do alto da montanha espero um novo cio...
A moça que reparo à beira deste rio,
Corpo delicioso, eu sempre me atordôo.

Nesta pele morena, a boca deslizar!
Amor sempre alucina o meu peito, o luar...
Quem não amou, na vida, embalde teve nada!

Mergulho sobre a moça um vôo magistral,
Nos meus braços, retenho, o sonho genial,
Com Lourdes que sonhei, bem alta e escarpada...

Lorena

: Louro ou folha de louro

Na flor mais olorosa amor mais que perfeito...
Na dança, uma promessa, a tal felicidade!
Amor quando sincero, escusa-se de alarde.
Espero por teu colo, aguardo no meu leito...

Embora verdadeiro, escondo meu defeito.
Não venha me dizer que é pura falsidade.
É que paixão não deixa a tal sinceridade
Ser plenacomo quero. Amor é desse jeito!

Mas eu posso dizer que te amo plenamente,
Pois em todo esse jogo, a gente sempre mente!
Em toda a minha vida eu quis essa morena.

Agora, a primavera explode num verão
A dor, antiga fera, em plena solidão!
Total felicidade: abraço-te Lorena!

Lívia

: Pálida, lívida

Cinzas, a tarde cinza em nuvens, escondida.
A chuva que virá decerto me entristece...
Em lágrima vertida, em pranto, minha prece...
Parece que perdi o rumo, em minha vida!

Quem fora mais sereno aguarda que decida
A mão que me machuca, o canto se endurece;
Na tarde nebulosa, a tempestade desce...
A juventude morta esconde-se, perdida...

Um dia, a mocidade em toda plenitude,
Sonhei com teu carinho, amor sempre se ilude.
Manhã ensolarada, a primavera cálida...

Depois, entardeceu... Tantas nuvens chegaram...
A tarde acinzentada; as manhãs se acabaram...
Lembranças doces, Lívia, alvor da manhã pálida...

Lílian Liliana

: Lírico, ou lírio

Célere veio a noite entranhada de medos...
Um sorriso resiste, a noite não perdoa.
O pensamento livre, os céus já sobrevoa.
Quem sabe desta noite encara seus degredos.

Pensamento me leva, acima d’arvoredos.
A noite se revolta, um brado forte ecoa.
Da luta não me solta, embarco na canoa
Dos sonhos, companheira... Eu guardo seus segredos...

Também conheço o dia, aurora é minha amiga.
A noite não percebe a morte que periga!
O brilho da alvorada, espreita este martírio.

Bem sabe que travei com a noite em tempestade.
Na luta que sonhei, venceu a claridade!
Em Lílian minha amada, a força d’alvo lírio!

Ligia

: Natural da Lígia, região da antiga Alemanha


Eu gostava do mar, isso nunca escondi.
Mar, praia, areia, sonho! As ondas e sereias.
Amando sobre a onda, o sol tramando teias...
No Rio de Janeiro, em Santos ou aqui.

Praias, ondas, marés... Nas conchas, belo canto,
Na pele, puro bronze, o tempo não tem pressa...
Porém a tempestade, explode mais depressa.
As ondas em procela, o mundo em desencanto...

Meu verso, enamorado, esgota-se na lama.
O sol que fora amigo, explode em dura chama...
O tempo transtornado, um resto de esperança

Adormecida luta, embalde, se destrói.
A craca em meu navio, o casco já corrói.
É morte, sem ter Lígia, a negra noite avança!

Lidiane: Irmã

Um canto de saudade... Um resto de paixão...
Amante dedicado, espero por teu colo...
Mergulho num segundo, o meu limite é o solo.
Sonhando, vou morrendo, em busca do perdão!

Valsavas, numa noite, em plena fantasia...
O teu vestido, branco, um sonho mais feliz.
A vida me sorria, o teu amor me quis!
As águas deste rio, o vento me trazia...

Porém, em mendicância, a noite ressurgiu.
O canto da esperança esconde triste ardil.
A noite em minha vida, abraça-me, feroz!

Bradando, então, teu nome; espero, enfim, notícias.
Quem dera reviver meu mundo de delícias...
Amada Lidiane, escute minha voz!

Lídia: Irmã

Lídia: Irmã


No cigarro que fumo amor em espirais...
Distante, cai a noite; o vento me tortura...
O canto que sonhava, estribilha: jamais!
Não quero conceber minha total loucura!

Alvíssima menina, o meu preciso cais.
A barca que sonhei, no mar de tanta alvura;
Esconde-se infeliz, tanta tristeza traz...
Quem dera se tivesse amor que, santo, cura!

Vivendo a solidão, cigarros devorando,
O medo desta luz, que tanto me fascina.
Embalde, procurando, o mar que fosse brando...

Sou pobre passarinho engaiolado em dor.
O rosto que se mostra, a mais doce menina...
O vento me tortura, em Lídia, meu amor...

Nesta ânsia de viver, por vezes penso

Nesta ânsia de viver, por vezes penso
Como é difícil perceber o sonho.
O mundo me promete ser imenso,

O que me resta é meu olhar, medonho!
Embalde tantas vezes me pergunto
Onde estará essa mulher vibrante

Depressa, no silêncio, mudo assunto
Encontro teu fantasma, delirante!
O sonho que deixaste, se esvaiu...

Mundo... Em tolos fantasmas me desfaço...
A força que pressinto traz ardil,
Em plena tempestade não disfarço...

Mendigo alguns olhares, vida nega...
Procuro pelos cantos, nada encontro.
O brilho do passado inda me cega,

A vida traz em si, um desencontro...
Quem dera transformasse dor em ouro.
O medo não seria companheiro,

O aço penetrando fundo, o couro.
Vasculho por espaços, mundo inteiro...
O beijo que recebo, solidão!

As vagas que navego, meu naufrágio.
Embalde procurei, peço perdão.
A morte de repente, meu adágio.

Vencidas as quimeras, vou sozinho...
O pranto não decorre da saudade.
Revôo deste pobre passarinho

Por sobre toda a paz desta cidade.
Ser feliz parecia meu direito.
Pesados olhos, canso-me da luta.

Revejo quanto tempo em desrespeito
Vivi, ao me guiar por força bruta.
Deram-me tão somente sensações

Da vida tão inútil sempre a esmo..
Meu canto enfim se forma sem ter paz.
Motivo desta angústia, sempre o mesmo.

A coragem de viver, não tenho mais...
O manto que me cobre, soledade...
O frio que me dobra, sem promessas.

Um vento em tempestade já me invade
Virando minhas luzes às avessas.
Em plena negritude, um pesadelo...

Imensos fogaréus rolam espaços,
O mundo se desfia qual novelo,
Diabólicos miasmas abrem braços

Abarcam os meus pés e não os soltam;
A noite esmigalhando, me sufoca.
Os mares, em procelas, se revoltam.

Fantástica pantera sai da toca,
Os olhos do passado me mirando.
O beijo das quimeras, louca prenda.

O universo vomita, procurando
Meu caminho, meu passo e minha senda.
Desesperado, nada me sustenta.

Em fogo me enveredo por caminhos
Distantes...A minha alma, louca, tenta
Encontrar noutras terras novos ninhos...

A vida se demonstra vã, embalde...
Os furacões, tufões, a tempestade.
Viver me parecendo ser a fraude

Divina, um louco blefe, falsidade.
Vejo-me sem ter porto nem saída,
O cais se revelando tão distante.

A morte se mostrando, sorridente;
A ponta enegrecida da navalha,
O frio revelando-se, envolvente...

Minha pele, poreja e se retalha.
Nos poros destilando podre sangue,
Acaba-se,em delírios a esperança...

Entretanto, do pobre e néscio mangue,
Um ser maravilhoso já me alcança.
Nos olhos redenção de primavera.

Nos lábios, o desejo descoberto,
A mansidão distante nega a fera
Que morre em coração, puro e aberto.

Vejo-te, minha luz e salvação.
Surgida no momento mais mordaz...
Nos olhos, a promessa do perdão,

Sorriso delicado de quem ama.
Risonho, meu caminho, pede paz,
Apagas, num segundo a negra chama

A NOTÍCIA

Ela acordou bem cedo, o sol não tinha vindo;
A roupa no varal quarando, pede sol
No rádio que escutava, as notícias chegavam.
Notícias doutro tempo onde fora feliz.
Sempre se repetia aquele mesmo fato.
O rádio prometia, a vida, então negava.
A mesma novidade, esperança não morre!
Parecia que o rádio havia se esquecido
Que o tempo nunca pára, as coisas sempre mudam!
O marido se fora em busca da morena,
Uma vizinha antiga, o caso também era...
Tudo bem, nunca amou! Dera graças a Deus!
Um homem não tem dona... é bicho do sereno!
A revolta maior foi a televisão.
Comprada em prestação. Novela? Nunca mais!
Ainda bem que tinha o rádio que gostava.
O rádio e a notícia: a notícia de sempre...

Alma em carrossel

Minha alma não sossega, aguarda um novo sonho.
Onde possa encontrar amor em profusão.
Minha alma sempre esquece: amor é perdição.
Mas um dia, quem sabe, o sol chegue, risonho...

Os segredos da vida escondem-se no mesmo
Instante que nasci, depois? É descobrir...
É vontade de ficar, mas tendo de partir,
Vivendo a cada dia, o tempo corre a esmo...

É brincar de esperança e saber que jamais
Terá u’a recompensa... e sofrer meio a toa,
E reclamar que a vida, ingrata, te magoa.
E de repente achar que já sofreu demais...

Eu bem sei deste jogo, amor vira pantera
E depois de um minuto a vida recomeça.
Mas eu também não tenho a sombra d’uma pressa,
Se morreu, já passou, a vida nunca espera...

Depois o botequim, a dança na boate,
Outra morena passa, o beijo não demora...
A vida não tem pressa, a noite não tem hora...
Morena caçadora, em um segundo abate.

A noite no motel, a taça de champanha,
Nessa cama redonda, a cabeça girando...
Aquela velha história, o tempo vai passando,
A dor parece um monte, o prazer é montanha!

Percebendo a jogada, a vida não tem freio.
Passa noite após noite o dia sempre vem.
Se hoje estou tão sozinho, amanhã? Sem ninguém.
Tudo bem. Nasci só. Que há um Deus, eu creio.

E que eu vou morrer. Certo, isso eu tenho certeza
Absoluta. Se dane! A cachaça me cura.
Eu não quero saber se é clara ou se é escura
Se é loura ou se é morena, o que importa? Beleza!

E um jeito sem vergonha, um beijo mais macio,
Um cheiro de pecado, o gosto do veneno.
Amor não tem tamanho, ou grande ou é pequeno,
O que importa em verdade, o resultado do cio...

Um dia inda me mudo, ou nunca mais, quem sabe...
Se mudar, cadê limo? Assim vivo melhor.
Danado colibri. A flor? Eu sei de cor.
Nesse mundo de Deus, toda saudade cabe...

Até que sou feliz, e gosto do verão.
O vento é generoso, as pernas da morena...
Também é perigoso, amor trocando pena...
Hoje, amanhã, depois...Lá vem outra paixão!

E tudo recomeça, a cachaça, o bar...
As pernas, a morena, o beijo, esse motel.
E tudo vai girando, enorme carrossel...
Minha alma não sossega e prá que sossegar?

Thursday, November 23, 2006

Investes travestida de vestal,
Embora te conheça rapineira.
A morte sempre foi teu pedestal,
De luto enegreceste esta bandeira.

Misera serventia no final
Fazes do que jamais terás.Certeira
No traiçoeiro bote. Canibal!
Envolta na mortalha, carpideira.

Espíritos maléficos, teus guias.
Abortas sentimentos mais humanos,
Os sonhos que me deste, são profanos.

Das bocas que escarraste vêm sangrias.
Fingiste venalmente. Não perdôo!
Nas asas abutrinas podre vôo!
Um vaso quebrado,
Um disco arranhado,
Um velho fado,
O monte de esterco
E o risco de incêndio...
Maria se foi,
Foi-se meu mar.
Ia a promessa,
Promessa de vida
Vida com canto,
Um canto sem jardim,
Jardim sem perfume,
Perfume sem flor
A flor pede vaso,
Um vaso quebrado...

salmo 20

Te amo meu Senhor, és minha força!
A rocha, fortaleza e liberdade;
Onde está meu refúgio e meu escudo.
Meu Pai, tu és a força e salvação!
Invoco o Senhor digno de louvor
E isso me salvará dos inimigos.

Cordas duras da morte me cercaram
Perdição em torrentes já temi.
As cordas do Seol já me cingiram
Tantos laços da morte, de surpresa...
Angustiado, invoco meu Senhor
Do seu templo divino, ouviu a voz
O meu clamor chegou aos seus ouvidos...
A terra se abalou e se tremeu,
As bases desses montes se moveram
Porquanto meu Senhor se indignou.
Fogo devorador em sua boca
Fumaça das narinas, brasas ardentes!
Os céus, Ele abaixou e veio á Terra,
Sob os seus pés, as trevas mais espessas;
Num querubim montou e voou sim,
Sobre as asas do vento, ele voou!
Seu retiro secreto, fez das trevas,
Escuridão das águas, pavilhão,
Assim como as espessas nuvens, céu...
Do resplendor desta presença santa
Saíram saraivadas chamas, brasas.
Então o meu Senhor trovejou voz,
Por entre tantas brasas, chamas, fogo.
Despediu suas setas e as espalhou
Raios multiplicou e os perturbou
Já vejo os leitos d’águas. Fundamentos
Deste mundo se mostram, descobertos;
À tua repreensão sopro do vento
Das narinas do Senhor, meu Grande Pai...
Estendendo seus braços me tomou,
Me tirando das águas que são muitas!
Do inimigo mais forte me livrou,
E dos que me odiavam e eram fortes!
Quando em calamidade, me flagraram,
Mas o Senhor, meu Pai, foi meu amparo!
Num lugar espaçoso me levou,
Por que tinha prazer também em mim.
E me recompensou o meu Senhor,
As minhas mãos tão puras, a justiça,
As conhecem meu Pai, o Meu Senhor!
Eu guardo seus caminhos, não me afasto,
Por isso sou, do Pai, recompensado.

Eu nunca me afastei dos estatutos,
E todas ordenanças eu conheço!
Fui irrepreensível diante dele,
De toda iniqüidade, me guardei!
Por ser mais justo, puro diante dele,
Eu fui recompensado pelo Pai!
Com o benigno sempre és mais benigno;
Para o homem perfeito és mais perfeito!
Para aquele que é puro sempre és puro;
Para com os perversos, o contrário!
Pois que tu livras o povo tão aflito,
Mas os olhos altivos, os abates!
Acendes a candeia meu Senhor,
As trevas que são minhas, alumias!
Eu salto uma muralha com meu Deus
Também com seu auxílio vejo a tropa.
Seu caminho é perfeito, meu escudo!
São todas as promessas já provadas.
O Meu Senhor é Deus, o meu rochedo
Deus me cinge de força em meu caminho.
Faz dos meus pés como os das corças rápidas,
Nos lugares mais altos, me protege...
As minhas mãos prepara p’ra batalha,
Meus braços vergarão um brônzeo arco...
Da tua salvação me deste o escudo.
A tua mão direita me sustém;
Toda a tua clemência me engrandece!
Alargas os caminhos que já vejo,
Impedindo que os pés meus resvalem.
Persigo os inimigos, os alcanço.
Só retorno depois de consumi-los!
Os transpasso de forma que não se ergam,
Os deixo, então, caídos sob meus pés!
Na peleja, cingiste-me de força,
E prostras sob mim, os inimigos!
Que me dêem as costas, também fazes,
Aos que me odeiam, os destruo, Pai!
Clamam, porém não há libertador,
Clamam ao meu Senhor, não os responde!
Como o pó frente ao vento, os esmiúço.
Como a lama das ruas, lanço fora!
Me livres das contendas deste povo
Me fazes, das nações, sua cabeça.
Quem não me conhecia, se sujeite!

Salmo 19

Os céus proclamam glória de meu Deus
Sua obra, o firmamento me anuncia.
Um dia se declara a outro dia.
Conhecimento, a noite passa a outra.
Não há palavras, fala, nada escuto...
Mas sua linha e fala: universais!
Qual noivo que se alegra quando sai,
Qual herói a correr sua carreira,
Deus pôs em tudo, tenda para o sol,
Que se estende por todo esse universo,
Ao seu calor, por isso, nada foge!
A lei do meu Senhor, perfeita lei,
Minha alma refrigera e aos mais simples
Já dá sabedoria, Meu Senhor!
Todo o seu testemunho é mais fiel.

Seus preceitos são retos e me alegram.
Seu mandamento é puro e me ilumina.
Temor ao Senhor, limpo e permanente.
Juízos do Senhor veros e justos!
São bem mais desejáveis do que ouro;
Mais doce do que mel que vem em favos.
Para quem os guardar, a recompensa.
Quem pode discernir os próprios erros?
Me purifique então dos que não sei.
Me guarda da terrível presunção
Que nunca se apoderem mais de mim!
Então, serei perfeito em Deus, Liberto!
Os termos que eu disser mais agradáveis,
Assim também meditação perante
A tua face Deus, que é minha rocha
E redentor!

Salmo 18

Te amo meu Senhor, és minha força!
A rocha, fortaleza e liberdade;
Onde está meu refúgio e meu escudo.
Meu Pai, tu és a força e salvação!
Invoco o Senhor digno de louvor
E isso me salvará dos inimigos.

Cordas duras da morte me cercaram
Perdição em torrentes já temi.
As cordas do Seol já me cingiram
Tantos laços da morte, de surpresa...
Angustiado, invoco meu Senhor
Do seu templo divino, ouviu a voz
O meu clamor chegou aos seus ouvidos...
A terra se abalou e se tremeu,
As bases desses montes se moveram
Porquanto meu Senhor se indignou.
Fogo devorador em sua boca
Fumaça das narinas, brasas ardentes!
Os céus, Ele abaixou e veio á Terra,
Sob os seus pés, as trevas mais espessas;
Num querubim montou e voou sim,
Sobre as asas do vento, ele voou!
Seu retiro secreto, fez das trevas,
Escuridão das águas, pavilhão,
Assim como as espessas nuvens, céu...
Do resplendor desta presença santa
Saíram saraivadas chamas, brasas.
Então o meu Senhor trovejou voz,
Por entre tantas brasas, chamas, fogo.
Despediu suas setas e as espalhou
Raios multiplicou e os perturbou
Já vejo os leitos d’águas. Fundamentos
Deste mundo se mostram, descobertos;
À tua repreensão sopro do vento
Das narinas do Senhor, meu Grande Pai...
Estendendo seus braços me tomou,
Me tirando das águas que são muitas!
Do inimigo mais forte me livrou,
E dos que me odiavam e eram fortes!
Quando em calamidade, me flagraram,
Mas o Senhor, meu Pai, foi meu amparo!
Num lugar espaçoso me levou,
Por que tinha prazer também em mim.
E me recompensou o meu Senhor,
As minhas mãos tão puras, a justiça,
As conhecem meu Pai, o Meu Senhor!
Eu guardo seus caminhos, não me afasto,
Por isso sou, do Pai, recompensado.

Eu nunca me afastei dos estatutos,
E todas ordenanças eu conheço!
Fui irrepreensível diante dele,
De toda iniqüidade, me guardei!
Por ser mais justo, puro diante dele,
Eu fui recompensado pelo Pai!
Com o benigno sempre és mais benigno;
Para o homem perfeito és mais perfeito!
Para aquele que é puro sempre és puro;
Para com os perversos, o contrário!
Pois que tu livras o povo tão aflito,
Mas os olhos altivos, os abates!
Acendes a candeia meu Senhor,
As trevas que são minhas, alumias!
Eu salto uma muralha com meu Deus
Também com seu auxílio vejo a tropa.
Seu caminho é perfeito, meu escudo!
São todas as promessas já provadas.
O Meu Senhor é Deus, o meu rochedo
Deus me cinge de força em meu caminho.
Faz dos meus pés como os das corças rápidas,
Nos lugares mais altos, me protege...
As minhas mãos prepara p’ra batalha,
Meus braços vergarão um brônzeo arco...
Da tua salvação me deste o escudo.
A tua mão direita me sustém;
Toda a tua clemência me engrandece!
Alargas os caminhos que já vejo,
Impedindo que os pés meus resvalem.
Persigo os inimigos, os alcanço.
Só retorno depois de consumi-los!
Os transpasso de forma que não se ergam,
Os deixo, então, caídos sob meus pés!
Na peleja, cingiste-me de força,
E prostras sob mim, os inimigos!
Que me dêem as costas, também fazes,
Aos que me odeiam, os destruo, Pai!
Clamam, porém não há libertador,
Clamam ao meu Senhor, não os responde!
Como o pó frente ao vento, os esmiúço.
Como a lama das ruas, lanço fora!
Me livres das contendas deste povo
Me fazes, das nações, sua cabeça.
Quem não me conhecia, se sujeite!


E que eles me obedeçam ao me ouvir
Com lisonja, estrangeiros se submetam!
Estrangeiros, tremendo, desfalecem
Dos seus esconderijos, sim, já saem!
Te exalto, meu Senhor de salvação!
Meu Deus me dá vingança e meu poder,
Livra-me de inimigos e me exalta
Livra-me de ser homem violento.
Por isso, meu Senhor, te louvarei
Entre todas nações te louvarei!
Dá grande livramento pr’o seu rei
Dá benignidade a quem ungiu.
E para com Davi, seus descendentes,
(Para sempre!)
Rastejo meus remendos pela casa,
O gosto sanguinário da miséria.
Um parto prenuncio mas se atrasa,
A faca penetrando minha artéria.

Da cicatriz medonha feita em brasa,
Minha alma contamina-se. Bactéria
Voraz, o corpo traga, tudo arrasa!
A morte, meu remédio, mansa e séria!

Abutres desejosos já me rondam...
Carpideiras audazes já me sondam,
O meu corpo entranhado perde luz.

Imersa neste mar, desesperança,
A noite terebrante e má, avança...
Na boca e nos meus olhos, verto em pus...

Promessa aterradora de vingança,

Promessa aterradora de vingança,
A vida se perdeu sem diapasão.
As flores que não têm caramanchão,
Demonstram seu perfil: desesperança!

Recendem velhos cravos na lembrança,
São formas de total abnegação,
São vasos que se quebram, nosso chão.
No fundo representam arco e lança.

Promessa desmedida, sem critério.
Não deixa que eu vislumbre sequer rumo.
Queima-me, me tortura qual cautério.

Vencido nas batalhas mais venais.
Desejo de viver, tonto, me aprumo.
Em meio a tais promessas, peço paz!

Por qual torpe motivo me beijaste?

Por qual torpe motivo me beijaste?
Deitada, enamorada em mansa rede.
Bem sei que tu jamais tivera sede
Da boca que por vezes, profanaste.

Esse lugar, que me deixaram, vê-de:
Permite tanto sonho e vil desgaste
A noite que me deste, retrataste;
Na vil fotografia da parede.

Beijaste minha boca sem perfume,
Tramaste, com certeza, algum ciúme.
Disputas entre vermes não consinto.

Rascunhos desenhados, garatujas,
Na boca que mordeste, mil corujas,
Inebriadamente, sem absinto.

O meu canto tristonho, outono em primavera...

O meu canto tristonho, outono em primavera...
Promessas deste sol desfeitas num segundo!
Quem dera me esconder desta cruel quimera..
Do brilho da esperança, embalde, já me inundo...

O gosto desta boca, amor enfim, quem dera!
A vida que pretendo esgota num segundo;
Abre, no peito triste, a colossal cratera.
Rasgando o coração, um corte tão profundo!

Sem você, já me perco... O meu rumo, deserto...
Sem você nada tenho, o que resta sou eu.
Sem você o meu canto, em pranto se verteu.

Sem você... Pesadelo... Eu nunca mais desperto!
Sem você : ter um Deus no qual não crê
É triste seguir só, morrendo sem você!
I


Nas horas da manhã, a brisa calma e fresca,
Buscando neste afã, um sonho mavioso.
Não posso me esquecer da cena pitoresca,
Nos teus olhos posso ver futuro tenebroso...

Por certo já te amei, na vida vão momento,
Julgava fosse rei, sobrou saudade imensa...
O vento que me deste, agora é um tormento.
Meu peito se reveste, espera a recompensa...

A lua que morreu, nasceu lá no estrangeiro
O vento se esqueceu buscando este luar
As ondas que conheço, espero por inteiro,
Amor que não mereço, aguarda um novo mar...

Quem dera ser feliz, meu sonho de criança
Felicidade quis, distante está de mim...
Não tenho outra saída, aguardo esta esperança,
O bem maior da vida, a luz antes do fim...

Manhã que me tortura a lua me deixou,
A vida que era pura, espera um novo trilho...
No lume deste dia, meu coração vagou,
Em plena poesia, amor, meu estribilho...

Em vão, persigo agora, a mansidão da vida...
Quem foi feliz outrora, aguarda novo tempo;
Um peito tão errante vivendo a despedida,
Da noite fui amante, agora contratempo!

Mulher, bela visão! Teu brilho se faz cálido.
Em plena solidão, vislumbro meu futuro...
Entretanto, o meu rosto em um segundo, pálido!
Saudade tomou posto, o templo faz-se escuro!

Essa dor que me assombra esconde meu desejo,
Do que já fui, nem sombra, um mendigo andrajoso...
Aguardo minha morte... Inútil, mas versejo.
Quem já perdeu seu norte, a vida não traz gozo...


II



Dos mares que lutei, nada mais resta...
Nem ondas nem falésias, morro só!
Quem sempre imaginara louca festa
Não deixa nem sequer marcas, é pó!
A dor que enfim carrego não contesta
As lágrimas que escondo, negam dó.
Resumo meus poemas em delírios.
Amar não pode ter tantos martírios!

Tragado por quimera, já não luto...
Vestido deste lodo que legaste,
No peito que cravaste, negro luto..
Quem dera fosse colmo, simples haste,
O vento não seria assim tão bruto...
A força do meu peito, já arrancaste!
À noite, nos meus sonhos, solidão!
Embalde bate um louco coração...

Não consigo, jamais, te perdoar,
Sou triste mariposa sem ter lume.
Por vezes imagino onde encontrar
As forças para ter novo perfume.
Minha esperança morre com luar,
Ninguém pode escutar o meu queixume...
Meus versos se perderam, pedem rumo...
Na voz da solidão, perco meu prumo!

No dia que nasci, sorte maldita!
As conjunções astrais, mau veredicto...
Meu mundo se transforma na desdita
Meu grito vai embalde, mais aflito!
A morte dolorosa já me fita
Meu sonho morre em astros, no infinito!
Amor se desenhando qual navalha,
A dor inevitável, nunca falha!

Meu rumo necessita do astrolábio
Perdido em minha luta contra o mal.
A boca que me beija, um frio lábio
Que morde com delírio canibal.
Na vida sempre tento ser mais sábio,
Mas resto parcamente, morte e sal...
Procuro novos braços nova fonte.
O céu já se nublou, sem horizonte...




III








Quem me dera ser feliz!
O meu sonho te esperava,
Deste vulcão foste lava
Na vida, tu foste atriz...
Meu amor, tanto te quis
Mas nunca tiveste pena,
Saudade de longe acena
Tanta alegria de outrora
Há muito já foi embora
Minha morte faz-se plena!

Procurei por novo dia
O tempo foi se escorrendo,
Minha esperança morrendo,
A noite que veio, fria,
Me restou a poesia,
Companheira predileta,
Minha vida está repleta
De tanta desesperança,
Somente em minha lembrança
Minha vida se completa...

Tempo que já se passou
Das águas puras da fonte,
Dessa estrada, dessa ponte
Que depressa despencou
Nada mais me restou.
Da verdura desta mata
Do véu daquela cascata,
Enegreceram essa água
Todo o meu canto de mágoa
Encanto que me maltrata!

Tinha bem perto meu pai,
A minha mãe companheira...
Uma paz tão verdadeira...
Da lembrança não me sai...
Saudade distante vai
Me restando a solidão!
Me arrasta como tufão,
Minha noite faz escura,
Procuro pela ternura
Não encontro solução!

Vencido pela quimera,
Não conheço mais carícia
Da vida a mansa delícia
Já se foi! Ah! Quem me dera!
Morando nesta tapera
Saudade me traz calafrio,
Não tenho manto pro frio,
Não tenho mais esperança.
Eu já matei a criança,
Agora sigo vazio!

Meus bons tempos, quando infante,
Correndo pelo quintal,
A lua, sensacional,
O meu sonho delirante,
Agora nada adiante
Vou seguindo qual funâmbulo
Pelos bares um noctâmbulo,
Embriagado de vinho
Um caminheiro sozinho,
A morte como preâmbulo!

Meu peito que foi sinfônico
Orquestra novas desgraças,
Dormindo no chão, em praças,
O meu canto sai afônico,
Todo o meu amor mecônico
Sou aborto que viveu
No meu coração ateu;
Me elevo como miasma,
Vivendo pobre fantasma,
Não sabe que já morreu!

Minha vida não tem cura,
A morte é minha aliada,
Trazendo na mão, a fada
Se aproveita da loucura
E mata toda a ternura
Se deita na minha rede,
A morte me mata a sede
Companheira dos enganos.
Desfazendo todos os planos,
Me lança contra a parede!

Ah! Meus versos como dói!
O meu barco naufragado,
O meu mundo desmanchado
O tempo negro corrói
Tanta saudade destrói
Quem procurou ser feliz,
A lua por meretriz,
O sol por triste verdugo,
Na vida virei refugo,
Minha sorte não me quis!

Meu canto, minha agonia...
Vai torpe desconsolado.
Um grito desesperado.
É pura melancolia.
É noite má e bravia.
Um canto sem esperança;
Da morte, firme aliança,
Felicidade? Resquício.
Vivendo no precipício
Minha morte já me alcança!


IV



Felicidade some, embalde procurei...
Fogo que me consome em minha vida é lei!
Por vezes, vou calado, esperando o final!
Meu sonho sideral, morre no triste fado.
Procuro pelo prado, encontro podre astral.
Vida que é canibal, meu sonho amortalhado!

O grito da procela, estupenda visão!
O meu barco sem vela, esqueceu direção...
Minha vida, sem ninho, espedaça-se nua.
Minha alma não flutua, explode, vou sozinho..
Qual pobre passarinho, a luta continua...
Minha casa é na rua, o meu remédio, o vinho!

Sou esboço mal feito o resto que se perdeu.
Meu mundo não tem jeito, o que sobrou fui eu...
O meu canto distante embalde nunca ecoa...
Perdi minha canoa, a luta foi constante
Quem se sonhou amante, em gaiolas não voa
Vida? Quem dera boa! A morte é meu brilhante!

Temida podridão devorando-me vivo
Resto de coração finge-se mais altivo...
Minha noite incendeia, a madrugada some...
Já não há luz que assome, enredo-me na teia...
Lume que não clareia, amor sempre consome...
Noite fria de fome, amor morto na veia!

No cigarro que fumo, esperança dilui
Vida, perdido sumo, em fumo leve flui...
Dor, minha camarada, amo-te mais que tudo!
Tantas vezes vou mudo, aguardando esta fada!
Na mão da minha amada o tapa onde me iludo,
Outras vezes, contudo, a dor não me diz nada!

Quantas vezes te quero e nunca estás aqui!
O teu beijo mais fero, o melhor que sofri!
Te canto no meu verso, em onda tão profusa
Minha lua cafuza espalha no universo...
Dor que tanto converso, abre meu peito e blusa...
A vida tão confusa... O meu mundo disperso!




V



A minha dor companheira
Abraça-me docemente,
Girando na minha mente.
Deita na minha esteira
Amante tão verdadeira
Traz a vida de repente!

No brilho da cortesã,
O gosto da minha morte,
Procuro num doce afã
Outro destino, outra sorte...
Quem sonha com amanhã
Não escuta o brado forte
Da dor que sempre domina,
Meu desejo e minha sina!

Vasculho nesta amplidão
A lua que não quis vir.
Eu venho embalde pedir,
Onde está a solidão?
Pergunta meu coração.
Neste breu em vão luzir!

Nunca mais vai me deixar,
Me observa assim, calada
Minha dor é meu luar,
Está quieta ali, sentada...
Em seus raios morro mar
Muda, não me fala nada...
No canto da boca, um riso,
Promessa de paraíso!

Não sei se te queria ou não...

Não sei se te queria ou não...
O certo é que sonhava algumas vezes.
Bem perto, distante, tanto faz
A minha boca te procurava.
Mas, engraçado, meus olhos não te viam...
Era bonita, disso eu tenho certeza.
Sem rosto definido, ou coisa assim,
Mas realmente muito bonita!
Os meus sentidos todos te sentiam.
Menos a visão.
Essa não podia dizer
Se eras branca, negra, morena, asiática
Apenas te desejava.
Tua nudez era ansiada!
Deveras ansiada e
Imaginada!
Teus seios me pareciam deliciosamente
Lactogênicos.
E o sabor deste leite entranhava meus lábios...
O leite que nunca produziste,
Ou quem sabe será meu.
Mel e manto, espantos...
Outra coisa que me chamava a atenção
Era o perfume de teus olhos.
Tinham um quê de pêssego e de maçã.
Transcendiam a um tempo onde fui feliz.
Vestido desta fantasia, não pude deixar de te ouvir.
A tua voz era algo assim como
Se uma sereia.
Serei-a? me perguntaste.
Sim serás...
Sinceras as minhas respostas.
Uma sereia que sabe o sabor do sal.
Do salgado desta vida e dos meus olhos...
Por que não voltas?

Minha musa morrendo... O que faço?

Minha musa morrendo... O que faço?
Não posso permitir que isso aconteça!
Sem a musa é possível que pereça
O sonho que me trouxe um velho traço.

Na morte desta musa, me desgraço,
Que em meu canto ninguém mais adormeça!
A vida só me dá dor de cabeça,
Sem musas meu poema foi pro espaço!

Velório destas musas pede rito.
Meu grito sem atrito no infinito.
Meu canto, seu quebranto, tanto manto...

Depressa, traz compressa tenho pressa!
Meu remo, meu remédio, outra remessa!
Ó musa vê se volta a seu recanto!
Eu não quero dizer medo de morte,
A sorte de viver não mais me encanta.
Me encanta simplesmente minha sorte
O canto que trouxeste, me agiganta!

Garganta milagrosa, canto forte,
A força do teu mundo, na garganta.
Um forte sentimento me levanta,
Levantes que trouxeste, grande porte...

Comportas tantas portas e saídas
Sorvidas minhas sortes já confortas.
Compostas de respostas divididas,

As vidas que divides, vão ao norte.
Norteio meu amor por tuas portas,
Conforta-me não ter medo de morte!

Lúgubre melodia que deixaste

Lúgubre melodia que deixaste
Nos maus momentos, todos, te relembro...
A morte deste amor deu-se em dezembro,
No mais exato instante que chegaste.

Teu corpo tão franzino tal qual haste,
Nas cicatrizes todas me desmembro,
Devorou cada parte, cada membro.
A vida, em podridão, já carregaste!

No beijo viperino, teu carinho,
Nas vísceras expostas, regozijo.
Rapineira, dos olhos forjas ninho.

Vestígios de ilusão, profunda chaga.
Navegas tua carne noutra plaga...
Mas volte, te esperei... Volte,isto exijo!

LARISSA

LARISSA

A noite me convida a passear
Sob as belas estrelas deste céu.
A luz que se reflete no luar
Emana da princesa, branco véu.

Nas ruas onde passo te encontrar
E como desfrutar do puro mel.
Bela noite, passando devagar,
Cometas desfilando, vão ao léu...

Nos cantos mais bonitos, tua voz.
Rainha dos meus sonhos de cobiça!
A boca que me morde tão feroz

Não sabe do prazer que desfrutei,
Da noite de luar quando fui rei,
Nos braços delicados de Larissa!

Lais: Democrática (grego), leoa (hebraico)

Lais: Democrática (grego), leoa (hebraico)

Prevejo minha sorte transformando
A treva do viver em cristalina
Água que me bendiz, se derramando
Na fronte da mulher que me alucina...

As dores se esvaindo, vão em bando,
Em busca de outro templo, de outra sina.
Nos páramos distantes se dourando
O manto que a verdade descortina...

Marmorizado brilho de esperança
Que nas constelações, livre, se avança.
É tempo de tentar ser mais feliz.

Amor que se desfez, podre e disforme;
Renasce nos teus olhos, belo, enorme;
Me leva nos pendores a Laís!

Wednesday, November 22, 2006

Kelly: Donzela guerreira

Kelly: Donzela guerreira
Não posso mais temer a tempestade,
Decerto me percebes mais audaz.
Não temo nem sequer a claridade
A minha vida passa em plena paz.

Recebo enfim a grande novidade
Que o vento da saudade já me traz;
De novo, pois, passeias na cidade.
Pensava tantas vezes: nunca mais!

Quem tanto amou implora se revele
Verdades que esquecidas me maltratam,
Destinos que se perdem, se desatam.

Quem fora amargurada me repele,
Quem sabe agora amores se relatam
Nos versos que dedico a ti, ó Kelly!

Kátia: Aquela que é nobre, pura e imaculada

Kátia: Aquela que é nobre, pura e imaculada


Por mais que te quisesse não devias
Fazer do meu caminho, minha cruz...
Embora te procure como luz,
A vida me apresenta novas vias...

As ruas que prometo são vazias,
Mas brilho de outros olhos já seduz
Quem pensa ter luz própria e que reluz,
Mesmo que carregando essas mãos frias...

Pensava que podia ser feliz,
Ser feliz, ser feliz! Repito tanto!!!!
Dos beijos que mentiste, peço bis.

Desejo ter fulgor da Via Láctea
No rastro das estrelas meu encanto,
Na espera deste amor que me deu Kátia...

Karina: Aquela que tem graça, delicadeza

Karina: Aquela que tem graça, delicadeza


Mudanças! Necessito de mudanças...
Já me flagraste tonto pelas dores
Que sempre impediram festas, danças...
Agora já não quero mais amores.

Um dia, me recordo das crianças
Correndo no jardim de belas flores.
As luzes que ficaram nas lembranças
Não me deixam sentir mais os olores...

Jogávamos no sonho nossas vidas
Julgávamos viver eternamente...
Histórias deste amor, mal resolvidas...

A noite vem trazendo chuva fina,
Meu mundo se desaba, de repente!
Nos escombros dos sonhos vi Karina...

Karen: Aquela que tem graça, delicadeza

Karen: Aquela que tem graça, delicadeza

Desfilando a beleza da pantera,
Caminha tão distante do meu dia...
A vida de esperanças degenera...
A noite que persigo, está vazia.

Quem dera seu amor ser meu, quem dera!
Os meus mares não passam, simples ria...
Na graça feminina mora a fera,
Que morde, que me rasga... Acaricia...

Nos passos veludosos nem barulho...
Num átimo mergulha, dá o bote.
Ser a caça, seria meu orgulho!

Mas olhares desvia e se disfarça
Na sua vida, simples estrambote
A espero afinal, Karen, minha graça!

Julieta

Julieta

Tempos distantes, longe, pego a pena
E desenho teus olhos radiantes!
Saudade deste tempo nunca acena,
Os ventos me trouxeram dois amantes!

Nas mãos mais imprecisas, triste cena!
As cores juvenis, embriagantes!
Olhos, luar... Amor cego condena
As dores vencerão, são mais constantes!

Um rouxinol cantando, a cotovia...
O sangue enrubescendo toda a neve...
Amor tão furioso morre breve.

Na morte deste amor; a dor, cometa...
Mas sempre viverás; és fantasia!
Amor que já renasce: Julieta!

JULIANA

JULIANA

Enrubescendo a face, envergonhada,
Calada, neste canto, uma menina...
Sonhando com favores de uma fada
A vida, tantos sonhos descortina!

Guerreiros são heróis de capa, espada,
Um príncipe virá! É sua sina...
Em plena fantasia, a madrugada
Num átimo abrirá toda a cortina...

Menina que carrega a dor temprana
Não sabe dos fantasmas que terá!
As sortes escolhidas da cigana,

O sonho da menina morrerá!
Mas, quieta, nos meus sonhos, Juliana,
Eternamente bela, brilhará!

Julia: Aquela que é brilhante, cheia de juventude

Julia: Aquela que é brilhante, cheia de juventude


Quem dera ter a força que me trazes!
Em tua vida, demonstraste gana.
O meu amor, lunar, muda-se em fases,
Desenhou minha sina, uma cigana...

Amor que não perdura, cadê bases?
A dor que não se cura, não me engana.
Nas cartas que escondi, perdidos ases.
Poeira da saudade? Amor espana!

Não posso reclamar tua atitude.
O mar que te deixou me trouxe luz.
Amor que se renova, traz saúde...

Desculpe se pareço meio rude,
A mão que me carinha, me conduz;
Nos olhos trago Julia, a Juventude!

Judite: Louvada

Judite: Louvada


Nos meus caminhos longos e tristonhos
As noites se fizeram revoltosas...
O rumo das estrelas nos meus sonhos,
Passam por essas sendas venenosas...

Deixaste tantas urzes nos medonhos
Rastros que irão levar às nossas rosas!
Por que essas duras sebes nos risonhos
Jardins de luas tão maravilhosas?

Nosso amor necessita dos espinhos?
Tão cruel essa lei que me legaste!
Das gaiolas vislumbro belos ninhos!

As dores nos amores têm limite!
Depois de tantas lutas, o desgaste...
São duros os caminhos à Judite!

Joice: Alegre, divertida, jovial

Joice: Alegre, divertida, jovial



Nesta manhã risonha estou feliz!
As dores se esconderam, nuvem leva...
Quem fora da alegria um aprendiz
Esquece que na noite vive a treva.

Manhã do meu amor, sempre me diz
Que em peito apaixonado nunca neva.
O brilho deste sol, lindo matiz,
É como um pescador com boa ceva...

Nas danças destas nuvens passageiras,
Meus olhos acompanham o festejo.
Reflexos do rei sol nestas ribeiras!

Libélula voando... A lavra, a foice...
Nos olhos regozijos do desejo!
Na minha juventude, um brilho, Joice!

Joana: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso.

Joana: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso.


O rio deslizando em cachoeira,
O vento assobiando mansamente.
A mata se entregando vorazmente,
Aguarda a noite plena e verdadeira...

Os sapos, as corujas nesta beira
De rio, tanto amor solto se sente
Nas pedras, nos remansos... Claramente,
A terra se enamora mais faceira.

Rios, matas... Meu sonho delirante...
Sozinho, procurando minha amante,
A vida me traz cura, noite sana...

Dois olhos graciosos se debruçam;
Claridade do amor, já me esmiúçam,
Acordo em teu olhar, benção! Joana!

Jéssica: Jeová é salvação

Jéssica: Jeová é salvação


Não chore tanto assim, o dia virá!
As dores são promessas de esperança.
Nas mãos deste teu Deus, de Jeová,
Amor virá com paz numa aliança...

A lua irá brilhar, lado de cá,
Nunca deixe morrer esta criança
Que brinca no teu peito e viverá
Enquanto houver um Deus e confiança!

No brilho das estrelas, o perdão,
Nos raios da manhã, sol gigantesco!
Nosso amor se alimenta de ilusão.

Não de deixe levar em perdição,
Jéssica, um pesadelo assim, dantesco,
Não vive em nosso amor, de salvação!

Jenifer

Jenifer

Recebi sua carta, minha amiga.
Em todas as palavras um adeus...
No fundo de minha alma vá, prossiga,
Consigo não irão os olhos meus...

A sensação que tenho, tão antiga,
Desfeitos tantos sonhos de himeneus,
E de querer, enfim, que já consiga
Viver mais plenamente os sonhos seus...

Bem sei que depois disso vou sozinho...
É certo que tentamos ser felizes.
O fio deste amor jamais foi linho,

Não quero recordar a nossa dor.
Vivemos nosso céu, vieram crises,
Jenifer me trará de novo amor!

Janine: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso

Janine: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso


Amor que tão distante, em vão não me compete...
Vestida de saudade, a lua se entristece...
É lagrima que cai, inunda este carpete.
A dor, embevecida, amarga tela tece...

Amor que nunca cura, embalde se repete,
Não adianta crença, esqueça sua prece...
Desfila a solidão, a lua por vedete,
Minha pobre esperança, em lágrimas fenece...

Porém me resta o canto, o meu fiel parceiro...
A benção mais divina inunda o mundo inteiro!
Por tanto tempo quis o brilho da manhã!

O canto abençoado atravessando o mar...
Inunda o sofrimento, acorda o meu luar.
Nas bênçãos de Janine, o meu belo amanhã!

Janice: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso

Janice: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso

No viço destas folhas, primavera
Reflete-se nos raios deste sol;
Paramento divino, girassol
Altares catedrais, uma tapera.

Tudo reluz, paisagem, quem me dera
Pudesse percorrer, ser o farol.
A natureza orgástica... Na fera
Que repousa, reparo um triste rol.

As marcas tão profundas, dentes, garras.
Escondo-me, sou presa, neste arbusto,
Num átimo rompendo essas amarras

Reparo nos teus olhos, minha fada...
De frágil, num repente, sou robusto.
Na força que me dás, Janice amada!

Janete: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso

Janete: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso



Fonte límpida e fresca dos amores...
Nos cantos destes pássaros felizes,
As searas prometem tantas flores,
Abraçadas nas asas das perdizes...

Na pompa onde se mostram tais pendores,
Não sei desses receios nego crises.
Os alamos as luzes os odores
No mato se misturam mil matizes...

Neste missal criado por um Deus
Luxuoso desfile se repete,
Nas várzeas e montanhas, olhos meus

Deslumbramento tal que me compete
Pintar na poesia luz e breus,
No centro deste quadro está Janete!

Jane: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso

Jane: Deus é cheio de bênçãos, Deus é gracioso



O sol posto, nas nuvens solidão!
Meu verso enamorado de teus braços.
Embalde repetindo esta canção,
Meu sonho procurando teus espaços.

Aguardando-te intero o coração
No tinteiro da tarde nos terraços
Mais altos, nos bordados da amplidão,
Precisamos atar os velhos laços...

Ficavas abrigada das tempestas,
Amor não necessita que se explane
É gás que me cintila em gozos, festas.

Lembrança dolorosa não se acoite
Amor que não se orgulha deste açoite,
Descansando nos braços teus, ó Jane

Jandira: Abelha do mel

Jandira: Abelha do mel




Na brancura, luar, tão mavioso!
A pele me recorda pura seda,
Busco-te, meu olhar vai sequioso,
Nesta grande alameda, na vereda

Florida por jasmins. Neste oloroso
Caminho, minha vida se envereda
Buscando meu futuro glorioso
Esperando que amor divino ceda.

Te quis ó companheira iluminante
Não deixe que essa vida em vão me fira,
Te quero como amigo e como amante.

Me deixe ser deveras teu gigante,
No meu canto amantíssimo, és a lira;
Vereda dos meus sonhos? É Jandira!

O frio penetrante me esmigalha

O frio penetrante me esmigalha
Transforma toda força em simples pó.
Desnudo só me resta esta mortalha,
Não quero mais usar, mas estou só!

Na noite refrigério qual navalha
Escuto lá, distante esse rondó
Um canto tão comprido que dá dó
Minha memória, ingrata, sempre falha...

Sei que não significa novidade,
É bem comum na minha “mocidade”...
O tempo se revela bem pesado!

Voltando ao vento frio que falava,
Pressinto um prato quente, talvez fava.
Nas falta desse dente, um ensopado...

Qual verme que mutila e decompõe

Qual verme que mutila e decompõe
Qual triste podridão que se revela.
A marca da miséria já se expõe
Qual barco no naufrágio perde vela.

A morte anunciada já compõe
O prato que devora, podre tela.
Meu sonho neste verme a vida põe
Quem dera ver-me, enfim, longe da cela.

Medonha que aprisiona meu futuro
Trazendo o vero gozo deste não.
O manto que me cobre, vil, escuro.

Exposto, decomposto, um coração.
O chão que me domina frio e duro.
O beijo que me resta, podridão!

Em meu canto, me espanto e te procuro.

Em meu canto, me espanto e te procuro.
Me curo em tua cura e teu decoro.
A lua em seu encanto me faz coro.
Clareia e me incendeia nega escuro.

Vencido tenho sido mas não ligo.
Me abrigo do perigo em tuas mãos!
Os chãos que da amplidão perecem vãos,
Disfarçam noutra face do perigo...

Vorazes as audazes asas, ases,
Sem freio sem receio, caçam meio
Encontram seus encantos no teu seio.
Os versos que enveredo são mordazes.

Mentiras quando atiras sobram tiras.
Tiaras e searas são serpentes.
Os pentes nos repentes quando sentes
Se entranham e se estranham, ledas liras.

Meu mote neste pote forte fica.
Fortifica quem liça faz a festa.
Me resta tão somente frágil fresta.
Amor que não se entende, não se explica!