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Saturday, July 30, 2011

- NAVEGANTES DO PRAZER

- NAVEGANTES DO PRAZER


No quanto este desejo me alucina.
Derramas o teu mel em minha boca,
Bebendo cada gota desta mina,
A fonte que em prazeres desemboca...

Passeio por teu corpo; sei das rotas,
Decifrando vontades, teus anseios,
Adentro mansamente belas grotas,
Acaricio então teus rijos seios...

Desfruto desta intensa maravilha,
Até que venha em forte corredeira
O gozo em que mergulho, cada trilha
Levando a doce senda costumeira.

E assim, destes prazeres navegantes,
Levitam totalmente, por instantes...

NÃO RESTARÁ SEQUER SAUDADE

Pressinto que esta noite não virás,
Embora esteja sempre à minha cama,
Terei algumas horas mais de paz.
Mas sei inevitável esta trama...

O teu olhar faminto e até voraz,
Prenunciando o fim, comédia e drama,
Eu sei que a liberdade sempre traz,
Porém minha alma tola, inda reclama,

Pudesse resistir mais alguns dias,
Mas tudo tem seu tempo, eis a verdade.
Realizei algumas fantasias,

Porém a maioria se perdeu,
De tudo o que ficar; sequer saudade,
Apenas o vazio, treva e breu...

QUEM DERA SE EU PUDESSE TE ESQUECER

quem dera se eu pudesse te esquecer...
talvez ainda houvesse uma esperança
de ter uma ilusão que não se alcança
fadado inutilmente ao tal sofrer...

o quarto abandonado, posso ver,
em cada canto apenas a lembrança
de quem levou consigo a temperança,
pingente dos meus sonhos, passo a ser.

Eu quis amar além do que devia,
Do quanto a dor existe, eu mal sabia,
Hipnotizado enfim, não percebia

Que tudo fora apenas fantasia.
E quando o teu olhar, sonho recria,
Eu morro um pouco mais a cada dia...

ABANDONANDO O BARCO

A juventude foge entre meus dedos,
Abandonado barco que se vai.
Não posso mais saber dos seus segredos,
O pano desta vida, manso, cai.

O quando ser feliz, velhos degredos,
Sorriso do passado, vejo o pai
Que aplacava sereno, tantos medos,
O tempo num momento, assim se esvai.

Agora o que me resta é tão somente
O túmulo dos sonhos, onde jaz
O quanto que busquei, não fui capaz,

E o fim que a cada dia se pressente
Fechando os olhos tristes de um poeta
Numa viagem trágica e incompleta...

VELHA CRENÇA

Já não mais me coubera a velha crença
Do quanto a vida trace num destino,
Apenas quando vejo e me fascino,
O amor traz no final a recompensa,

Quem sabe a cada dia se convença
Do tempo mais audaz e esmeraldino
Enquanto noutro tom, o desatino,
Expressa a dor temível, vida tensa.

No quanto ser feliz é o quanto importa,
Abrindo o coração; imensa porta,
Deixando para trás qualquer batalha,

O sonho se aproxima da verdade
E bebe com certeza a claridade
Que aos poucos no infinito ora se espalha.

PEGADAS

Perseguindo as pegadas que tu deixas
Enquanto caminhaste pelas ruas,
O velho sentimento mata as queixas
E deusa dos meus sonhos, tu flutuas.

Enredo-me em teus braços, liberdade,
No afã de ser feliz, bem que podia
Trazer para o mundo a claridade
Que maravilhas fartas, irradia

O canto que me enleva e me consola,
O risco que corremos, sem temores,
E o pensamento voa, assim decola,
Semeia pelo espaço, luzes, flores.

E tu que és primavera; doura o sol,
E entornas teus encantos no arrebol...

MEUS OLHOS SONHADORES

Apenas a fumaça do cigarro
Envolvendo os meus olhos sonhadores,
E quando da ilusão eu me desgarro
Procuro pela luz de outros albores.

As marcas do que fomos, logo varro,
E teimo em meu jardim sonhar com flores,
A velha sutileza de um escarro
O tempo ressuscita antigas dores.

Quase que consegui fugir, mas morro,
A solidão em forma de socorro
Alia-se aos fantasmas que carrego.

Da vida, a melhor parte foi contigo,
Encontro nos escombros meu abrigo,
E teimando em viver, inda te nego...

- NEBLINAS

- NEBLINAS

Notívago, minha alma de noctâmbulo
Deambulando em becos mais escuros,
Equilibrando os passos, um funâmbulo
Vivendo entre temores, mil apuros.

A peça se anuncia num preâmbulo
Passando por momentos bem mais duros,
Às vezes preferia ser sonâmbulo,
Errante sobre pedras, altos muros...

Mas amo as frias trevas e neblinas,
Enquanto a palidez tanto me atrai,
Na quase transparência; já fascinas

E tomas as vontades num repente,
E quando a noite escura; vem e cai,
A névoa sedutora enfim se sente...

Quantas vezes, Amor, me tens ferido? HOMENAGEM A BOCAGE

Quantas vezes, Amor, me tens ferido? HOMENAGEM A BOCAGE

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Bocage

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

1

“Que seja o mal e o bem matiz da vida”
E desta forma a sorte se lançando
Num ar tempestuoso ou mesmo brando
Enquanto traz o ungüento diz ferida.

Assim nesta diversa variedade
Vê-se tanta alegria quão tristeza
Da mansidão imensa correnteza
Do sim ao não total diversidade,

O todo se moldando desta forma
A cada novo dia chuva e sol,
E nesta discrepância no arrebol,
Decerto se transmuda e se transforma.

Diferenças profundas ou sutis
Assim do bem, do mal, vário matiz.

2

“É lei da Natureza, lei da Sorte,”
A que permite a glória em abissais
Caminhos divergentes; demonstrais
Em vossos dias vejo vário Norte

Portanto em tais momentos divergentes
Angústias em sorrisos, sóis e luas
As almas demonstrando em cores cruas
Felizes ou quem sabe; penitentes.

Assim nesta suprem maravilha
Desfeita e recomposta a cada instante
Lapida-se deveras diamante
Vulgar cristal também decerto brilha.

As sendas percorridas sendo assim,
O início para alguns traduz o fim.

3

“Travam-se gosto e dor; sossego e lida”
No mesmo vão momento, sombra e luz,
Ao nada ou ao tanto nos conduz
A estrada que pensaras já perdida.

O quanto se fazendo do tão pouco,
O mundo perpetua dor e riso,
Assim inferno e limbo ou paraíso,
Enquanto já me curo, me treslouco.

Assisto ao mais perfeito ou tanto inglório
E sei que do talvez possa vir nada,
Ou tudo se fazendo desta estada
Diverso estoque traz o vivo empório.

Mesquinhas noites dizem dias bons,
Mudando a cada instante, ritos, tons.

4

“Este intervalo da existência à morte”
Permite que se veja e sinta tanta
Felicidade e dor enquanto encanta
Na imensidade plena nos comporte

Traçando assim real dicotomia
Versando sobre tudo em pouco tempo
Deveras alegria e contratempo
Mudanças onde tanto se porfia.

Gerando esta fantástica emoção
Do ser e do jamais alcançarei
Matizes diferentes, mesma grei
Transcorrem na diversa direção.

Aonde sendo cais, ida e partida,
Ao mesmo tempo encontro e despedida.

5

“Que variedade inclui esta medida”
Da sorte muitas vezes traiçoeira
E quando se pensando muda inteira
A sanha que pensara-se perdida.

Por vezes nosso rumo se transmuda
E sendo assim deveras mais fugaz,
Ao mesmo tempo o medo, angústia e a paz,
O quão se faz enorme ou tão miúda.

Estradas nos levando ao mesmo fim,
Percalços entre espinhos, pedras, urzes
E ledos caminhares traçam luzes,
Demônio se transforma em querubim.

Bendizes ou maldizes uma sorte
Que tanto desagrade quão conforte.

6

“Para que nosso orgulho as asas corte”
A vida nos prepara uma surpresa
Enquanto em tão diversa sobremesa
Por vezes o sorriso dita a morte.
Caladas noites, dias desumanos,
Hedônicos caminhos quando orgásticos
Deveras muitas vezes são sarcásticos
Mudando a todo instante velhos planos.
Riquezas e misérias costumeiras,
Matizes em prismáticos desníveis,
Momentos muitas vezes aprazíveis
Espinhos traduzindo estas roseiras.
Assíduas variantes de um delírio
Trazendo mil prazeres num martírio.

7

“Depois com ferros vis se vê cingido”
Podendo muitas vezes transformar
E quando se lapida maltratar
Deixando o original em triste olvido.
Por sortes tão diversas caminhamos
E temos nossos passos rumo ao nada,
Mudando a direção da velha estrada
Por vezes somos servos, somos amos.
E quando se percebe em rituais
Complexos nossos dias propagados,
O vento transformando nossos Fados,
Momentos dolorosos, magistrais.
Assim errôneos seres quais cometas,
Enquanto no vazio te arremetas.

8

“Onde o sol, bem de todos, lhe é vedado”
As sombras dominando este cenário
Ao mesmo tempo enquanto frágil, vário
Mostrando noutra face, transmudado,
A velha luminária se transforma
E quando se percebe mais sombria,
A vida gera a luz e se recria,
Na eterna mutação, que é lei e norma.
Perfaço a mesma estrada e nela vejo
As plantas entre inverno e primavera
Enquanto o sol ardente nos tempera,
O frio muitas vezes diz desejo.
Sincrônicos? Jamais. Disparidade
Ditando a mais sublime realidade...

9

“Como que até regia a mão do Fado”
Expressões diferentes traduzindo
O que talvez pareça ser infindo
E ao fim decerto está ora fadado.
O quadro se tecendo a cada dia
E nele as pinceladas são constantes,
Por quanto se percebem variantes
A sorte muitas vezes desafia,
E o senso se percebe inexistente
No quase e no tanto, muito além,
Divina discordância se contém
Por mais que alguma luz ainda tente.
Ao término da vida em inconstância,
Na morte única voz sem discrepância.

10

“Tal qual em grau venerando, alto e luzido”
O Fado transcorrendo em tempestades
Ao mesmo tempo quando mais agrades
Maior o temporal já pressentido.
Assisto á derrocada tão vulgar
Naufrágio da esperança, ancoradouro
Diverso do que outrora em nascedouro
Pudera ainda mesmo adivinhar.
Desespero gerado a cada queda
E nela outro momento mais profundo,
No qual sem ter defesas eu me inundo
Por mais que a própria vida, assim nos veda.
E o rumo variável do viver
Transforma medo em glória, dor/prazer.

11

“O mortal, sem querer é conduzido”
Dos píncaros aos vários abissais,
Momentos entre tantos temporais,
Depois o vento leva em vago olvido.
Somando estes tropeços com acertos,
Deveras poderemos perceber
Numa inconstância eterna o mesmo ser
Caminhos muitas vezes entreabertos.
Portais fechados, rotas discrepantes,
Formando e reformando em tantas cores,
Diverso do que outrora ainda fores
Verás novas estâncias por instantes.
Assíduas raridades, dias bons,
E duras tempestades noutros tons.

12

“Quão fácil de um estado a outro estado”
Mutáveis faces dizem este espelho,
E quando nele às vezes me aconselho
Percebo santidade num pecado.
Ousando ser feliz de vem em quando,
Teimando contra a força da maré,
Não sei o que deveras é; não é,
A cada novo tempo transformando.
Geração em geração se modifica
E o quanto do passado ainda trago,
Ao mesmo tempo é dano, duro estrago,
O dia após o dia se edifica.
E quando se percebe; nada mais
Do que pensara em cores magistrais.

13

“Quantas vezes, Razão me tens curado?”
O Amor que tanto atrai enquanto dói
Ao mesmo tempo tudo já constrói
Depois se vê deveras destroçado.
Assim nesta diversa maravilha,
O medo quando em luzes se transforma,
Mudando a cada instante a sua forma
Porquanto nova senda sempre trilha.
Pudesse ter nas mãos a direção
Qual fora um velho e bravo timoneiro,
Mas quando se mostrando corriqueiro
Rebenta num momento este timão.
E o tanto que pensara ser um cais,
Esbarra em tão diversos vendavais.

14

“Quantas vezes Amor, me tens ferido?”
E traças com terror o que era nobre,
A manta me aquecendo já descobre
E o frio novamente se é sentido.
Percebo nestas luzes tão complexas
Resíduos da sombria ingratidão,
Aonde se pensara no verão
Inverno traz tormentas desconexas.
Perfilo dor e pranto em pleno gozo,
E sinto quão diversa a vida traça
Às vezes se perdendo na fumaça
O quanto se pensara fabuloso.
Porém no amor insisto e não me canso,
Mesmo tempestuoso, frio ou manso...

Friday, July 29, 2011

IRONIA

IRONIA

Sidéras impressões ainda vivas
Mostrando em seus sinais o que tivemos
Nas mãos e na verdade não soubemos
Por mais que as almas fossem tão passivas,

E quando em tuas mãos, minhas cativas
Usando para a fuga os mesmos remos,
Decerto desta vez nós percebemos
O quão do prazer ainda privas.

E teimas em tocar este passado,
Aonde se podia destroçado
Deixado quase à míngua, moribundo.

Tu vens com sorriso de ironia
E toda esta mortalha se recria
De imensa pestilência ora me inundo.

SERENA

Serena madrugada já distante
Aonde percebi em luz suave
O quanto se tornara mais constante
A sorte que decerto feito uma ave

Em liberdade alçando o deslumbrante
Caminho como fosse bela nave
Num átimo o momento fascinante
Voando sem ter nada que inda entrave

As sendas libertárias de um desejo
Mudança que deveras eu prevejo
Há tanto e jamais eu pensaria

Que fosse tão sublime e de repente
Traçando um mundo raro em nossa mente
Sobrevoando em paz tanta agonia.

Agridoce eternidade...

Agridoce eternidade...

Momentos, momentos e nada mais que a eternidade.
Sem saudade e sem amanhã, trazendo a fonte da juventude nos olhos, meus olhos vagando o tempo todo, vaga mundos, todos os mundos incrustados nos teus olhos...
Quando te vi, percebi que nada mais teria, nem poderia ter a não ser tua boca, doce boca na minha mergulhada, atada para uma vida, para todas as vidas, nossas vidas...
Braços e abraços, enlaces e faces se tocando...
Amar-te, redundância, ânsia e angústia.
Ter-te, onda do mar, marés e manhas.
No suave murmúrio de tua voz, queima o lume das estrelas, minha estelar, refletes o mar em tua íris...
Para sempre a juventude que exalas, entranhada no velho peito; forçando a porta devagar...
Temia não te encontrar; na verdade, eu te esperava. Espreitava-te em cada esquina, na maciez da voz que me traga e me transforma.
Na serenidade da tempestade que desarruma, alaga, invade e acalma.
Na mansidão da loucura que se permite e arremata, mata macia, serena...
Vigorosa vertigem que não permite outro passo, imobiliza, petrifica.
Te quero a esmo, sem sentido, desprevenido, desprovido, inválido, invadido...
Me transportaste ao Nirvana, ao infinito...
E agora, como fico?
Precipício...

MEU AFRODISÍACO

O meu afrodisíaco perfeito...
Deitada se esmiúça em desafio.
É fera que amedronta, em pleno cio,
Proclama-se senhora do meu leito.
Sem hora chega, vê-se no direito
De vasculhar meu mundo fio a fio.
É vela que devora o meu pavio,
É rasto que me leva e rasga o peito!

Na lúbrica ternura, tantas unhas...
As garras incrustadas entram fundo.
Amor que tanto quis, sem testemunhas;
Em plena madrugada, nos motéis
Amores vão cumprindo seus papéis
Nos jogos sedutores, entrelaces...
Nas ânsias me devoras, perco o mundo,
Nos nossos loucos gozos, tantas faces...

- O TEU C...

- O TEU C...

De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.

Adélia Prado.

Adoro quando empinas; desejosa
O rabo mais perfeito que conheço.
É dádiva divina e preciosa
Além do que sonhara. Eu não mereço

A grata maravilha que orgulhosa
Escondes nesta saia. Mas te peço
Resistes e me dizes dolorosa
Esta satisfação onde enlouqueço.

Prometo mil carinhos e salivas,
Depois de muito tempo, cedes rindo.
Tu sabes que este cu deveras lindo

É o sonho que alimento todo dia.
Amada, em tua xota uma alegria
Porém só neste c.., as perspectivas...

ANTES QUE ME CRITIQUEM, O SONETO SOMENTE COMPLEMENTA O TEXTO BÁSICO DE ADÉLIA PRADO.

TROVEJANDO

TROVEJANDO

Morena, quando eu morrer,
me enterre no mesmo dia;
Eu quero ser enterrado
no coração de Maria.


Meu amor, minha morena
Como eu gosto de você,
Mas por favor tenha pena
Eu já cansei de sofrer...

De tanto amor que te tenho,
Moreninha minha flor,
Toda noite amor, eu venho,
Procurar o teu calor.

Eu te dou minha varanda
Eu te dou minha emoção
Vem logo meu amor, anda;
Pois é teu meu coração...

Meu coração não se cansa
De querer o teu carinho,
Eu te dou uma aliança
Já não vamos ser sozinho...

Sei que um dia vou morrer
Mas te peço por favor,
Não precisa nem sofrer,
Eu não quero sua dor.

Mas me enterre bem ligeiro
Nem espere o sol raiar,
Sem teu amor verdadeiro,
Como é que eu vou ficar?

A primeira trova é da região Nordeste de Minas Gerais

- AULAS DE AMOR E DE SEXO.

- AULAS DE AMOR E DE SEXO.


... Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr...

Aula de amor
Bertolt Brecht


Adoro o teu traseiro quando empinas
Mostrando belas pregas languescentes
Penetro com tesão estas campinas
Com línguas, lábios, falo, todos quentes.

Faminto esgoto o cio neste rabo
Que sem pudor me dás neste momento.
Penetro sem ter pena, até o cabo
E sinto um belo gozo em movimento.

Rebolas, arreganhas e devoras,
Eu sei que tens virtudes e valores,
Mas sexo, querida não tem horas

Nem honras que se medem por si só.
Em aulas sensuais, bons professores
Não sabem de vergonhas, medo ou dó.

O AMOR EM PAZ com estrambote

Teus negros olhos, prenhes de candura,
fitaram-me sem pejos, mendicantes,
cobrindo-me com lavas escaldantes,
que até perdi o rumo e compostura...

Ah! Súplices olhares! Que loucura!
Daqueles que só lançam bons amantes...
Que não se vê nos olhos das bacantes,
E nem nos olhos da menina pura...

De mim arrancam mil suspiros roucos,
E de meus lábios tantos, tantos ais...
e me envenenam com seus mil quebrantos...

Despertam dentro em mim desejos loucos
daqueles que ninguém sentiu jamais...
Ah! Esses teus olhos de olhares tantos!

Edir Pina de Barros

Tocando com teus olhos minha face,
Marcantes emoções que me prometes
E quando nos meus braços te arremetes
É como ter um doce e manso enlace,

O todo noutro instante se mostrasse
Em festas, serpentinas e confetes,
Do Paraíso são belas maquetes
Enquanto cada olhar teu me tocasse.

Percebo o quão eu possa ser feliz,

Traçando em versos toda esta vontade
Marcando o quanto a vida em luz invade
E o quanto deste encanto já se faz.

Tramando quais faróis em noite rara,
Profundidade da alma se escancara
E vejo finalmente o amor em paz.

SOU FELIZ!

A mãe, amante, o dínamo e a potência
Aonde se quis reino; escravidão
E ao mesmo tempo é âncora e um arpão
Distante da longínqua adolescência.

Marcada pela dor e paciência
No olhar inda o sinal da emigração
Os dias venturosos voltarão?
Acreditar talvez seja inocência,

Mas quando estás deitado em meu regaço,
Os sonhos de menina; então, refaço.
Diversa realidade contradiz,

Mas posso com orgulho neste dia,
Falar com emoção e galhardia:
Sou negra, sou mulher e sou feliz!

VALMAR LOUMANN

SEXTINA 8

Nas mãos tão dedicadas de uma amiga
Fiel, em sentimentos mais vivazes
A permissão perene que prossiga
Os sonhos mais difíceis e tenazes.
Que a vida assim serene e que consiga
A sorte nos mostrar bem mais capazes.

Meus passos na verdade são capazes
De ter dentro do sonho a velha amiga
E quando esta esperança enfim consiga
Trazer noutros momentos mais vivazes
Os dias com certeza tão tenazes
No canto sem igual que ora prossiga.

A vida de tal forma assim prossiga
E nisto vejo os sonhos mais capazes
E sinto em tuas mãos firmes tenazes
Na sensação suave e mesmo amiga
Firmando com teus olhos mais vivazes
Até que a liberdade em paz consiga.

O quanto se deseja e já consiga
Enquanto a nossa luta assim prossiga
Palavra abençoada, em tons vivazes
Em dias mais suaves e capazes
A luta se demonstra mais amiga
Vencendo estas batalhas tão tenazes.

Os ermos de minha alma são tenazes
E cada novo tempo que eu consiga
Trazer esta esperança mais amiga
Enquanto o caminhar sempre prossiga
Mostrando tais momentos e capazes
Do todo em luas claras e vivazes

Meus olhos em momentos mais vivazes
Tramando este caminho onde tenazes
Momentos desenhados são capazes
E mesmo que a mudança enfim consiga
Traduz esta esperança que prossiga
Na paz tão desejada, clara e amiga.

Por isso minha amiga mais vivazes
Aonde já prossiga em tais tenazes
Momentos que eu consiga, enfim capazes.

APAIXONADAMENTE

Dos pântanos que a vida me apresenta
Durante a noite imensa em solidão,
Vestindo em falsa seda esta ilusão
A vida se transborda em vã tormenta,

E quando um novo dia a gente tenta
As horas mais doridas mostrarão
O quanto que sonhar se faz em vão
Nem mesmo o amanhecer ainda alenta.

E quando perceber o fim de tudo,
Nas ânsias de um prazer eu não me iludo,
Apaixonadamente vejo assim

O todo se perdendo em mil pedaços
E aonde se pensara em fortes laços
Percebo do final, um estopim.

GRANDE AMOR

Querida por quem sabe e reconhece
O quanto me dedico, mesmo quando
O amor em outra face transmudando
Aos meus desejos foge e até me esquece,

E quando nova teia em paz se tece
Anseio este momento audaz ou brando
E visto esta ilusão já me entregando
Delírio feito em glória, gozo e prece.

Assim passando os dias olho à frente
E mesmo quando só e descontente
Uma esperança é minha companheira

Não deixo que este medo me domine
Ao grande amor minha alma se define
A serva mais leal e verdadeira.

VALMAR LOUMANN

O FOGO INSUSTENTÁVEL DA PAIXÃO

Afundo-me em terrível solidão
E bebo destas águas poluídas
Quisera em minhas mãos ser como Midas
E ter tanto poder, transformação,

Mas sei que novos dias mostrarão
Aonde se perderam nossas vidas
E todas as imagens destruídas
Ao fogo insustentável da paixão

Serão incineradas, com certeza,
O tempo passa e como correnteza
As pedras ficarão pelo caminho,

Jamais imaginara um fim tão triste,
Mas alma sem remédio ainda insiste
E em sonhos mais felizes eu me aninho.

CONVULSÕES

Esqueço dos problemas mais vulgares
Nos braços do meu homem, mensageiro
De um Deus maravilhoso e verdadeiro,
Prazer que tanto bebo em tais altares,

E se, num novo encanto tu notares
O quanto meu amor se faz inteiro
Sabendo ser amante e companheiro
Deixando para trás noites e bares.

Avançamos deveras nossas sendas
Descobres os desejos, sedas, rendas
Vagando por meu corpo sem fronteiras

E sabes muito bem me incendiar
E quando o gozo intenso eu derramar,
Nas fartas convulsões já corriqueiras.


VALMAR LOUMANN

Thursday, July 28, 2011

O AMOR HOMENAGEANDO VICTOR HUGO

O AMOR HOMENAGEANDO VICTOR HUGO



de Victor Hugo


Pois que a beber me deste em taça transbordante,
E a fronte no teu colo eu tenho reclinado,
E respirei da tu’alma o hálito inebriante,
- Misterioso perfume à sombra derramado;
Visto que te escutei tanto segredo, tanto!
Que vem do coração, dos íntimos refolhos,
E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,
- A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos;
Pois que um raio senti do teu astro, querida,
Dissipar-me da fronte as densas brumas frias,
Desde que vi cair na onda da minha vida
A pétala de rosa arrancada aos teus dias…
Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:
- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,
Levando na torrente as vossas murchas flores
Ninguém há de colher a flor que eu tenho n’alma!
Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito,
A taça derramar em que me dessedento:
Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito;
E, em mim, há mais amor que em vós esquecimento!
(Tradução: Álvaro Reis)
1

“E, em mim há mais amor que em vós esquecimento,
E vosso sendo assim, jamais eu poderia
Viver sem ter no olhar a imensa fantasia
E dela com certeza eu tenho o meu sustento.

O amor que em vós nasceu e em mim se fez alento
Enfrenta, destemido, a noite atroz e fria
E sabe desfrutar de toda esta alegria,
E tendo-vos senhora, em vós meu pensamento.

Sabe do quão divino é nosso amor, querida
Encontro em vossa luz, decerto o meu abrigo
Viver-vos com ternura aonde em paz prossigo

É como se pudesse entregar minha vida
A quem tanto redime e mostra este caminho
Aonde em paz jamais eu seguirei sozinho...

2


“Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito;”
E sinto que talvez ainda em fogaréus
Eu poderei saber da Terra tantos Céus
E tendo neste amor além de simples pleito

Certeza de um caminho em luzes sendo feito
Cobrindo-me esta paz em claros, mansos véus,
Os dias do passado, outrora tão incréus
Agora em tanto amor deveras me deleito.

Servir-vos sem pensar em qualquer recompensa
Podendo caminhar em meio aos temporais,
Sabendo quanto brilho em mim vós derramais,

Minha alma enamorada, em vós somente pensa
E tem esta certeza, embora tão fugaz
Do quanto amor é belo e nele imersa a paz.


3

“A taça derramar em que me dessedento:”
Vivendo a plenitude em vós glorificada
Singrando um mar imenso em noite enluarada
Bebendo da alegria expressa em manso vento.
Eu quero em vós a fonte aonde o meu alento
Encontra esta certeza em paz abençoada
Percorrendo universo adentrando a alvorada
E ter além de tudo o amor como provento.

Espessas ilusões escassas nuvens vejo,
O sol tomando a cena, um ar nobre e sobejo,
Entranha-se no olhar beleza iridescente
Prismática emoção, delírio triunfal,
Ensandecido gozo, amor tão magistral
Manhã tão soberana, agora se pressente...


4


“Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito,”
Alçar um infinito e ver além do mar,
Mas saiba que talvez ao sonho se entregar
Desejo que vos toma, enfim já satisfeito.
O amor não tem razões, e segue tendo em pleito
Apenas o carinho e nele ao se tocar
Tereis sem perceber, a terra, o céu, luar
Tocando mansamente, em ânsias vosso leito.

Escuto a vossa voz clamando por quem tanto
Deseja vosso amor e quando também canto
Pensando em vosso beijo, o mundo se transforma,

Amor já não respeita enfim qualquer espaço,
E quando em luz intensa o rumo eu quero e faço,
Descumpro sem pensar, deveras qualquer norma...

5

“Ninguém há de colher a flor que tenho n’alma”
Tampouco poderá negar a primavera
Após se perceber terrível dura espera
Apenas o saber do amor ora me acalma

E tenho ainda em mim bem vivo o velho trauma
Do quanto doloroso enfrentar a quimera
Da solidão cruel imensa e fria fera,
Porém quando vos vejo encontro enfim a calma.

Nefastos dias, tive, e neles o terror
De não poder jamais viver um grande amor,
E agora que vos tenho eu sei quanto é divino

O bem maior que existe e nada o calará,
O sol que agora sinto, eterno brilhará
E nele com certeza, em paz eu me alucino...

6


“Levando na torrente as vossas murchas flores”
Depois da primavera aonde me entreguei
A seca dominando então a bela grei
Diversa do que outrora anunciara albores.

E sei que em vossas mãos, os dias sofredores
Traçando em tosca luz o que tanto sonhei,
Secando então tal mar, aonde eu mergulhei
Deixando no lugar um lamaçal de dores.

Esgarça-se a esperança e nada mais me resta,
A vida sem amor, deveras tão funesta
E a solidão transtorna andejo coração

E sei que depois disso, a noite não termina,
O amor quando se acaba, extingue a velha mina
E a seca então destrói a imensa plantação...

7


“- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,”
Dizia assim ao vento um tolo coração,
Espelho sonegando e dando outra visão,
Deixando tão somente, a face escusa da alma

Em transparente ocaso, o fim já se aproxima
E nele nada tendo, apenas o vazio,
Deveras este inverno aplaca algum estio
E assim morrendo logo o que se fez estima.

Não posso caminhar em meio aos temporais
E tendo-vos querida, o olvido, sonegais
Mas sei o quanto é duro, o espelho, nunca nega

E tendo esta certeza, o tempo se escorrendo,
Apenas cada ruga, imenso dividendo
E o timoneiro teima e em duro mar navega.

8


“Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:”
Jamais o temeria, e sei quanto é capaz
De ter felicidade uma alma mais audaz
E nele ainda creio em dias, sóis e flores.

Não posso me negar a crer nos redentores
Caminhos que percebo ao trafegar em paz
Vencendo o meu temor, por vezes tão mordaz
E ter após a chuva, estrelas multicores.

O céu que tanto quero em plenilúnio imenso,
Em vós tanta alegria, eu sei desejo e penso
Traçando a cada dia um raro amanhecer

Vivendo a poesia e nela me entregando
Sabendo quão divino um ar sobejo e brando
Envolto pelo brilho enorme de um prazer...


9

“A pétala de rosa arrancada aos teus dias”
Deveras poderá quem sabe te trazer
Alguma novidade em raro amanhecer
Diversa do que outrora ainda mais querias.

Servindo como posso à tua fantasia
Quem dera se pudesse em mim vivo poder
De ter em minhas mãos, o quanto te querer
E nele traduzir a luz que se irradia

Tocando em teu olhar o brilho deste sol,
Reinando soberano em todo este arrebol,
Traçando uma esperança em plena solidão.

Da pétala arrancada eu sinto que talvez
Refaça-se o perfume embora já não vês
Primaveras em paz, transbordando em verão.

10


“Desde que vi cair na onda da minha vida”
A imensa maravilha em luzes tão sutis
Deveras me fazendo, então bem mais feliz
Traçando de repente, enfim uma saída.

A sorte que pensara outrora já perdida
Agora se permite em cores menos gris
Trazer mais soberano amor que sempre quis
Deixando no passado a sorte dolorida

De quem se fez tão só, buscando a claridade
E tendo em meu caminho, amor que é de verdade
A força sem igual decerto me movendo,

Negando a palidez do medo que se estampa
Moldando uma esperança, invés de fria campa
Na glória de um prazer, fantástico e estupendo...


11

“Dissipar-me da fronte as densas brumas frias,”
Gerando com certeza o amor que mais desejo
Sabendo a cada instante além deste lampejo
O quanto é necessário as várias alegrias.

Tomando o coração divinas poesias
E nelas o melhor, do todo que prevejo
Traduz felicidade, além do quanto almejo,
Sonhando em farta luz, belas alegorias.

Não vejo outro caminho a não ser o do amor
E quando nele imerso eu penso em vos propor
Além de um simples passo em rumo à eternidade

A sorte mais audaz de um infinito sonho,
Deixando adormecido o mundo tão tristonho,
Bebendo desta fonte, amor, que nos invade...

12


“Pois que um raio senti do teu astro, querida,”*
E dele se percebe a intensa claridade
Trazendo ao meu olhar sublime liberdade
Mudando num repente a direção da vida.

O quanto eu te desejo e sonho a cada instante
Mergulho em teu abraço e bebo da saliva
Deliciosamente em ti, a noite é viva
E a lua sobre nós, deveras deslumbrante.

Quisera ter agora o quanto necessito
Do amor que tu me deste e nele se moldar
Além da soberana estrela constelar
O gosto sem igual, intenso do infinito.

E amar-te é muito além de simples poesia,
É ter em minhas mãos, total soberania!

13


“A boca em minha boca e os olhos nos meus olhos”
Assim eu poderia enfim saber da glória
Do amor que tanto tenho e nele esta vitória
Cevando cada flor, matando então abrolhos.

Viver a fantasia e nela perceber
O quão maravilhoso é ter bem junto a mim,
Aquela que domina, em luzes meu jardim
Na fonte delicada, em gozos me embeber.

Pudesse ter no olhar apenas a lembrança
Da rara poesia aonde amor se deu,
O mundo na verdade eu sei, seria meu,
E a sorte mais ausente, a mente agora alcança

Vivendo esta beleza em face deslumbrante,
No amor que com certeza, aos poucos me agigante!


14


“E tive o teu sorriso e enxuguei o teu pranto,”*
Deveras tanto amor jamais imaginara
A vida sempre fora, atroz e sendo amara
Trouxera tão somente a dor e o desencanto.

Agora quando eu vejo o olhar ensandecido
O tempo que se foi, na ausência de um carinho
Mergulho em tal abismo e sigo então sozinho,
Vivendo do passado aonde encontro olvido?

O quanto se perdeu e tudo fora em vão
Somente em meu olhar a dor me consumindo,
O mundo que pensara outrora ser infindo
As dores do viver, em trevas mostrarão

O rumo em descaminho em mim eu sei se esconde
E amor por onde estás? Responda. Diga aonde...

15


“Que vem do coração, dos íntimos refolhos,”
E neles falsidade encontro invés de paz,
Apenas o vazio, imenso e duro antraz
Penetra duramente invadindo os meus olhos.

Recebo tão somente a voz da ingratidão
E nela não encontro além deste vazio
Que em verso triste agora, aos poucos eu desfio,
Negando desde sempre a força de um verão.

Pudesse transformar a lágrima em sorriso,
Vivendo plenamente o amor que tanto quis,
Seria finalmente, então bem mais feliz,
Quem sabe assim veria, enfim o Paraíso?

Mas quando eu te percebo; ausente e tão alheia,
A solidão, somente, aos poucos me rodeia...


16


“Visto que te escutei tanto segredo, tanto!”
E agora não podendo enfim seguir meu rumo,
Os erros que cometo, engodos que eu assumo,
Traçando em meu caminho um turvo e negro manto.

Acordo e quando vejo o leito solitário
Percebo que jamais terei o teu amor,
Sem ele com certeza, a vida perde a cor,
E o tempo se tornando, então duro corsário

Levando o meu tesouro, o barco perde o cais,
E sem ancoradouro, aonde poderei
Viver se não consigo encontrar noutra grei
Momentos que bem sei já foram magistrais,

Recebo a tempestade e nela tanto medo,
E embora inda relute, afinal, eu já cedo...

17

“Misterioso perfume à sombra derramado”
Deixando para trás o que pensara vida,
E assim sem perceber se tenho uma saída,
Vivendo do que fora à luz do meu passado,

Escarpas que enfrentei, montanhas, cordilheiras
A sorte destroçada, o tempo todo em vão
O corte preparado, as dores que virão
A noite solitária, estrelas derradeiras

Mergulho neste abismo e vejo o nada ser
Tocando mansamente a pele em carne viva,
O gozo desejado, a solidão me priva
E tendo tão somente agora o desprazer

Mortalha que carrego um luto eterno insano,
Dizendo deste amor, envolto em desengano...


18


“E respirei da tu’alma o hálito inebriante,”
Tocando a tua pele em rara maravilha
O amor que tanto quero e sei o quanto brilha
Qual fora desta vida, incrível diamante

Trazendo em todo verso, insuperável sonho
E quando nele imerso eu bebo a claridade
E dela enfim traduzo a luz da liberdade
Que agora com carinho, em sonetos componho.

Viver eternidade a cada poesia
E dela transformar o mundo em plena paz,
Deixando o sofrimento agora para trás
Tocado pela glória aonde se irradia

Beleza sem igual ternura fabulosa
Cevando em ti querida, a bela e rara rosa!

19


“E a fronte no teu colo eu tenho reclinado,”
Sabendo quão divino o amor que me conduz
Ao braço redentor e nele tanta luz
Diversa do que outrora eu vira em meu passado,

Singrando em ti o mar aonde um cais divino
Pudesse me trazer a fonte de um desejo
Que a cada amanhecer em ti sempre prevejo
E dele todo o brilho aonde me alucino.

Em ti encontro enfim a paz que tanto quero,
No amor mais desejado, o sonho enternecido
A glória de saber: a vida faz sentido,
Tocado pelo encanto o mais puro e sincero.

Amar e ser amado: intensa maravilha
É como imenso sol eterno que ora brilha.




20


“Pois que a beber me deste em taça transbordante,”
E dela me sacio um pouco a cada dia,
Vibrando com prazer, amor ora me guia
E leva ao mais perfeito e raro diamante.

Eu quero estar convosco e ter em vossas mãos
A glória de saber o quão maravilhoso
Caminho que percorro em luz e pleno gozo
Deixando no passado os dias frios, vãos.

E sendo-vos senhora, agora mais fiel
Encontro finalmente a luz que tanto quis
Podendo então dizer: agora sou feliz
E tenho esta visão sublime deste céu

Aonde a estrela guia eleva-me deveras
Trazendo para a vida eternas primaveras!


*

AS DIVERSAS COLOCAÇÕES EM VÓS E TU, SÃO DO TRADUTOR

LOUCURA...

Visão enfeitiçada pelo deus
Desnudo que se entranha em minha cama,
Debaixo dos lençóis acesa a chama,
Momentos ansiados, teus e meus,

Buscando desde sempre meus Romeus,
A sorte muitas vezes se derrama
E quando a solidão expõe a trama
Traçando nos meus dias tanto adeus,

Agora sucumbida à tal loucura
Depois de muito tempo em vã procura
Encontro o meu caminho junto a ti,

E sei desta delícia permitida
Mudando neste instante a minha vida,
As dores do passado? Eu esqueci.

VALMAR LOUMANN

FOGOSA

Fogosa, eu te procuro a noite inteira
Numa ânsia desejosa e tão audaz,
O amor quando em delírios já se faz
Entrego-me mulher e companheira,

Por mais que tanto amor inda se queira
A vida sem prazer não satisfaz
Contigo encontro o gozo feito em paz,
Paixão que me arrebata, a derradeira.

Assim corpos unidos e sedentos,
Expostos aos mais fortes, raros ventos
Ferozes caminhares, madrugadas

Loucuras; compartilho e sendo tua
A pele em transparência, seminua
Umedecidas sendas desvendadas.

VALMAR LOUMANN

DESEJOS

Tua pele roçando a minha pele
Desejos confluentes ditam normas
E quanto dos desejos tu me informas
Vontade de te ter já me compele,

E mesmo que a saudade ainda apele
Mudando novamente suas formas,
Deveras não sacias nem conformas
Prazer que a cada vez maior nos sele.

Meus seios em teus lábios, arrepios,
Expondo num instante meus rocios
Encontro-te em ternura e fúria, ereto.

E quando extasiada em tuas mãos,
Inundação entorna-se em meus vãos
E louca de prazer, eu me repleto.

VALMAR LOUMANN

TUA VISÃO

Tua visão tomando o pensamento,
Ao ver tanta beleza me inebrio
O amor ao se fazer um desafio
Transborda em alegria e sofrimento,

Vontade de te ter cada momento,
Teu corpo delicado e tão esguio,
No encanto que deveras eu recrio
O mundo aonde o amor se fez atento,

Tocando as tuas mãos, tua nudez
Tomada por total insensatez
Uma alma feminina se entorpece

E quando te beijando enfim me vejo,
Ansiosamente exposta ao teu desejo
Um dia em raras luzes amanhece.

VALMAR LOUMANN

ACALANTO PARA O MEU AMOR...

ACALANTO PARA O MEU AMOR...

Dorme minha querida
Espero o teu acordar.
Estarei aqui
Te esperei tanto
Tanto tanto tanto...
Nossa vida...

Dorme minha menina
Espero-te a cada dia,
Estarei aqui.
Meu acalanto
Tanto tanto tanto
Descortina...

Dorme assim minha amada
Toda nossa poesia..
Estarei aqui.
Secando o pranto
Tanto tanto tanto...
Madrugada...

ABSCESSO DA ALMA

ABSCESSO DA ALMA


Mel que ancora
No peito de outrem
No fel minha âncora
Procuro, mas quem?
Averso aos versos
Aversão
Reversão
Imersão
Na merda
Da vida
Sem mèr,
Sem mère
Sem rumo
Sem prumo.
Assumo os meus erros
Aterros da sorte
Que importa se o norte
Sem porto e sem nexo
Infeliz retrocesso.
Abscesso da alma...

ABRAÇOS DA PAIXÃO

ABRAÇOS DA PAIXÃO

Nas tramas que me envolveste
Nos abraços da paixão,
Esperando meu cansaço
Vou vivendo uma ilusão
Sabendo que nosso amor
Já transborda em emoção.
Tudo o que quero na vida,
Nosso amor, a solução...

Mas nada do que se foi
Amanhã não posso ter
Depois de tanto sonhar,
Tanto amor para viver,
Eu encontro meu caminho
Nos teus braços me perder
Não quero mais solidão,
Em teu amor quero crer.

E vasculhando a gaveta
Onde deixei teu retrato,
Encontro tantas promessas
Tanto amor assim de fato
Se mostrando mais inteiro
Amor que é sempre insensato,
Vou mergulhar meu desejo
Nas águas do teu regato...

ABORTO

ABORTO


Crianças; como lanças
Em ares tíbios
Estrídulos e risos
Nova esfera.
Espera feliz
De um novo tempo
Nas hortas dos sonhos
Em viveiros.
Negando cativeiros
Correm
Provocando os ditames
E pré-conceitos.
Pena que o tempo passa...

ABISMO

Abismo inebriante da loucura
Ao mesmo tempo intenso e pavoroso,
Se sonho em várias cores e matizes
Prenuncio o desejo em faca e gozo.

Sou dois pólos serenos, insensatos,
Mas amo-te de forma mansa e crua.
Na multiplicidade em que vivo,
Minha alma de pesada já flutua.

Aos círculos dantescos voltarei,
Bem antes, esperança já me enreda;
Eu quero o vergalhão exposto na alma,
Que fere meus sentidos e me veda.

Sou parte mais constante deste todo
Que forma a sensação de ser amado,
Não vejo por que queres não reter
O gosto do prazer proporcionado...

ABASTA TÊ CORAÇÃO - ALEGORIA SOBRE VERSOS DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

Seu moço mi dê licença
Deu falá ansim procê.
Nóis avéve nas duença,
Nóis num prendeu a lê...
Nóis é tudo anarfabeto,
E nóis num qué sê esperto...

Eu sei vancê é dotô,
Hôme di sabedoria,
Nóis é tudo lavradô,
Nóis ganha tudo prú dia,
Mais nóis num sêmo ladrão,
Nóis tem munta inducação!

Vancê é hôme letrado,
Sabe falá dos ingreis,
Nóis é uns bicho acoitado,
Mai que már que a gente feiz?
Nóis tudo véve nos mato,
Na bêrada dos regato...

Nóis perciza se entendê,
Nóis é tudo brazilêro,
A gente perciza vivê
Im riba desse polêro,
Mai seu dotô arrespeito,
Nóis tem os mermo derêito...

O sinhô é um dotô,
Das hingiena bem sei,
Mai pru quê que ocê pensô
Qui pudia sê um rei?
Vancê num tem humirdade,
Pérciza tranquilidade,

Cada veiz que ocê parece
Vem falá que é um dotô,
Né disso que nóis carece,
Nóis perciza é de valô,
Os sertanejo trabáia
Carregano uma cangáia...

Os hôme da capitá,
De Sum Paulo, num percebe
Qui nóis mórre de trabaiá.
O dinhero qui nóis recebe
É que é bem poquim seu moço,
Dá mar e mar prus almoço.

Nóis num sêmo vagabundo,
Nóis sêmo é pobre dotô,
Nóis véve no memo mundo,
Nóis tudo é trabaiadô,
Vassuncê é que num sabe
Quantas dô num hôme cabe...

Vancê num teve seus fio,
Cumeno os resto dus boi,
Vancê num véve no estio,
Num sabe memo onde foi
Qui nasceu nosso Sinhô?
No mei dos trabaiadô!

Vancê num tem os dereito
Da inguinorança insurtá,
Se vancê qué sê eleito,
É mió ir istudá
Um pôco deste sertão,
Prá incontrá solução...


Vancê véve avoano,
Mai num pára prá zoiá,
As coisa tá miorano,
Mai vancê qué piorá.
Nóis tudo têmo esperança.
Num vem matá a criança...

Nóis pudia inté lhi ouvi,
Mais perciza de inducação,
Di cachorro prá lati,
Avéve cheio o sertão,
Tem um cabra na Bahia,
Qui inté onti inda latia...

Um coroné marvadeza,
Ixproradô da mizéra,
Um moço da realeza,
Latia pió que fera,
Apregunto pru dotô,
Pronde esse cabra vazô?

Nóis num perciza chibata,
Nóis num qué mais sê robádo
Dessa gente que martrata,
O pobre já tá cansado,
Nóis qué é sujeto amigo,
Prá num corrê mais perigo...

Do sangue da gente pobre,
Munta gente empaturrô,
Robáva até memo uns cobre
Munta gente inté matô,
Mais as coisa tá mudano,
Já cansamo desse engano...

Os coroné que restaro,
Tão do lado do dotô,
Nóis num é mais tão otáro,
Nosso pobrim acordô,
Nóis qué tê liberdade,
Percizamo dignidade.

Nóis sabêmo que vancê,
Amigo dos coroné,
Num consegue convencê
Nóis sabemo o que nóis qué,
É um Brazi mais cristão,
Onde nóis tudo é ermão!

Os nosso fio merece
Um Brazi munto mió,
Tanta dô que nos padece,
Vancê nunca têve dó...
Só fala das capitá,
Vancê qué nus enganá!

Me faláro qui o dotô
Gosta di riligião,
Parece num iscutô,
A voiz do seu coração.
Jesus Cristo nasceu pobre,
I foi vendido pruns cobre.

Cunhicia o traidô,
Mesmo ansim vancê num sabe
Qui Jesus o perduô,
Essas coisa é qui num cabe
Na cabeça de vancês,
Dispois do qui Juda feiz...

É qui o pobre seu dotô,
Num véve di falsidade,
Sabe munto dá valô
A verdadera amizade.
O erro é que é odiado,
E o amigo, perdoado...

Mai num vô falá mais não,
Nem ovi vancê num qué,
Mai vem cá pru meu sertão,
Vai miorá sua fé,
Isquece essa gente má,
Isquece dus coroné,
Vancê vai se adimirá
De vê cumo miorô,
Eu sei, vancê é dotô,
Mais perciza de lição,
Vem abri seu coração,
Sabê da gente mais pobre,
Qui véve de valentia,
O quanto qui uns poco cobre
Dá prá cumê pur uns dia...

Quando Jesus, no deserto,
Veno seu povo faminto,
Pegô uns pão i uns pêxe,
Póde crê qui eu num minto,
E falô pru povo dêxe
Qui nóis num vai mais morrê
Dispois di tudo vancê,
Num intendeu o recado,
Desse povo disgraçado,
Si juntô aos coroné,
Dexâno esse povo a pé,
Inda vem falá di fé?

O qui vancê num divia
É a pobreza insurtá
Nossa dô que se alivia,
Com vancê vai piorá,
As coisa das nossa terra,
As coisa desse Brazi,
As montanha e as serra,
Beleza que nunca vi,
Tanta amô mais verdadero,
Vendê prus cabra estrangero?
Vancê diz que vende não,
Mais qué vendê avião!
Dispois cumo acreditá
No qui vancê fô falá!
Se o prefêto da cidade
Quisé vendê otromóve,
Cum toda a tranquiladade,
Num vai sobrá um imóve...

Seu dotô, já vô imbora,
Tô cansado de falá,
Vê se prus cabra de fora
Finge sabê iscutá,
Vem cá pra minha tapera,
Passá uns dia de fome,
Vai vê qui a vida dum home,
É di trabáio i di fé,
O só isturricadô
Rezamo prá São José,
Nosso trabáio e valô,
Num depende mais da chuva,
Nem di seca ou di istiage
Memo que venha sauva,
Os coroné, pilantrage,
Nóis num morre mais de fome.
Arrespeite entonce o home
Qui nus deu essa vantage,
É um pobre nordestino,
E num é um dotô não,
Passô fome, foi minino,
Aprendeu iducação.
Ouça as palavra dotô,
Vai fazê um bem danado,
Aprenda a dá mais valô
Presse povo istrupiado,
Quem sabe vancê intenda,
Qui prá sê um bom cristão,
Nóis num percisa contenda,
Abasta tê coração!

SOLIDÃO

Por que fazes assim com quem deseja
Estar sempre ao teu lado, a vida inteira.
A solidão cruel aqui lateja
Na ausência desta amada companheira.

A lua que se esconde sertaneja
Deixando esta incerteza, derradeira,
A dor em agonia, malfazeja,
Sangrando e destruindo esta bandeira

Do amor que sempre foi minha esperança
Apenas o vazio me tomando.
Restando tão somente uma lembrança

De um tempo mais feliz. Mas é passado.
Meu sonho se perdendo e desandando,
Seguindo sem ninguém, abandonado...

Abandonado pela sorte

A sorte abandonando meu caminho
Não deixa-me saber por onde irei.
Deveras nas estradas que passei,
Amores esquecidos, velho ninho.
Perdido procurando as esperanças
Não vejo um horizonte que me caiba
Não sei se saberei o que se saiba
Nas curvas mais fechadas das lembranças.
No meu destino mel não se percebe
O mal o fel o bem não se misturam
Porventura serei o que procuram
Aqueles que a ventura não concebe.
Do tédio meu remédio, uma migalha
Que o mal, em meu caminho, sempre espalha.
Um mal nunca se cura noutro mal
Assim como com mel não se mistura
O fel que recebi da criatura,
Que sempre produziu só fel e mal!

VESTIDA DE SAUDADE

Amor que tão distante, em vão não me compete...
Vestida de saudade, a lua se entristece...
É lagrima que cai, inunda este carpete.
A dor, embevecida, amarga tela tece...
Amor que nunca cura, embalde se repete,
Não adianta crença, esqueça sua prece...
Desfila a solidão, a lua por vedete,
Minha pobre esperança, em lágrimas fenece...

Porém me resta o canto, o meu fiel parceiro...
A benção mais divina inunda o mundo inteiro!
Por tanto tempo quis o brilho da manhã
O sol que me ilumina, enfim por companheiro;
Fazendo, no meu peito, aurora desfilar
O canto abençoado atravessando o mar...
Inunda o sofrimento, acorda o meu luar.
Nas bênçãos deste amor, o meu belo amanhã!

CARA E COROA

Abelhinha faz seu mel
Espalhando a floração,
Mas inverte o seu papel,
Quando mostra o seu ferrão...

HOMENAGEM A CHARLES BAUDELAIRE

HOMENAGEM A CHARLES BAUDELAIRE
Charles Baudelaire

Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,
Inebria-se ao sol o infante deserdado,
E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante
Há um gosto de ambrosia e néctar encarnado.

Às nuvens ele fala, aos ventos desafia
E a via-sacra entre canções percorre em festa;
O Espírito que o segue em sua romaria
Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.

Os que ele quer amar o observam com receio,
Ou então, por desprezo à sua estranha paz,
Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,
E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.

Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto
Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;
Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,
E se arrependem por lhe haver cruzado os passos.

Sua mulher nas praças perambula aos gritos:
“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,
Farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,
E assim, como eles, quero inteira redourar-me;

E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,
De nardo e mirra, de iguarias e licores,
Para saber se desse amante tão intenso
Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.

E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,
Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;
E minhas unhas, como as garras das Harpias,
Hão de abrir um caminho até seu coração.

TRADUÇÃO DE IVAN JUNQUEIRA



1


“Hão de abrir um caminho até seu coração”
As garras da ilusão às quais tu te entregaste
A vida em dor imensa expondo tal contraste
Em traiçoeira luz demonstra a podridão

Inerte em cada ser e nele se verão
As marcas mais sutis do medo que entranhaste
Ferrenha tentação aos poucos gera o traste
Que tanto se expusera em tétrica versão.

A morte me sondando encontra tão somente
A fétida impressão do quanto poderia
Em lástimas trazer além desta agonia

O que gerara vã, estúpida semente
Um pária na avenida esgota-se em vazios
Enquanto insanamente adentro podres rios...

2


“E minhas unhas, como as garras das Harpias,”
Penetram tua pele expondo esta carcaça
E quando apodrecendo o olhar futuros traça
As noites tão sutis, deveras morrem frias,
O quanto desejara e nada mais terias
Somente o que não vês, o tempo atroz já passa
Deixando tão somente além desta fumaça
Entregue em suas mãos, as mortes que ora crias.
Estúpida quimera, a sorte desairosa
Canteiro em aridez, negando qualquer rosa
Esgota qualquer fonte e mesmo que inda houvesse
Momento mais feliz seria insensatez
Somente na mortalha agora sei que crês
E trazes no vazio, uma oração em prece...

3


“Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;”
Açoitando o quanto em lágrimas se fez
Gerando a podridão e dela a insensatez
Na gélida manhã, meu mundo sendo vão,
Escreve com terror, a negra solidão,
Diversa da que tanto ainda em sonhos vês
A vida não teria, ao menos seus porquês
O resto do que sou jogado em turvo chão.
Alheio caminheiro encontra o descaminho
E mede com temor o quanto me avizinho
Da morte redentora, a pútrida carcaça
Que tanto desejara e agora se percebe
Somente em vil navalha, adentrando esta sebe
Aonde uma esperança, aos poucos se esfumaça...



4


“E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,”
Não poderei seguir mesmo contra as marés
Aonde se acorrenta em firmeza os meus pés
Algemando com terror as horas mais esguias
E nelas com astúcia; as mãos aonde guias
Astuciosamente as farpas e as galés,
Deixando para trás, o que pensaram fés
Amarga realidade; em trastes, desfazias.

Esgarça-se a esperança e nada mais percebo
Somente esta aguardente amarga que inda bebo
Expondo a minha face em trágica figura
Enquanto a luz se afasta e a noite me procura
O resto do que fora amante solitário
Esconde-se da luz e segue temerário...

5


“Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores”
E deles produzir cenários mais cruéis
E quando se bebesse apenas estes féis
O mundo não teria ainda novas cores.
E sei que te seguindo aonde ainda fores
Deixando para trás o que pensara em méis
Seria bem melhor em vários carretéis
Usando da clemência invés de tais terrores.

Mas sôfrego caminho imerso em solidão
E bebo da mortalha e nela o meu verão
Eternizado em dor explode em neves fartas
Assim desta passada atroz e mesmo inútil
O que pensara ser bem mais que simples fútil
Estrada sem final, da qual já não te apartas...

6


“Para saber se desse amante tão intenso”
Ainda poderia crer algum momento em paz
O quadro em luz opaca, agora se desfaz
Deixando em seu lugar este vazio imenso.
E quando noutro rumo eu teimo e ainda penso
Meu passo não se faz e tudo ainda traz
A voz já tão cansada um ar bem mais mordaz
Do qual com galhardia, às vezes me convenço.

Eu poderia ter além da podre face
Algum momento aonde expondo um vago impasse
Trouxesse mesmo alento a quem se faz mortalha,
Mas nada me impedindo eu sigo em voz atroz,
Bebendo cada gota, exposta e tão feroz,
Da morte que me toca e agora me agasalha.

7


“De nardo e mirra, de iguarias e licores,”
O mundo prometera a quem se deu em paz,
Momento mais feliz, e nele satisfaz
O quanto se deseja além destes fulgores,
Mas quando a realidade agrisalhando cores
Expõe o fardo amargo e nele a voz mordaz
Do peso da esperança, eu sei tanto voraz
Matando no canteiro o que pensara flores.
E tendo esta verdade em minhas mãos exposta
A carne dia a dia, eu sinto decomposta
E o medo trafegando aonde quis delírio,
Açoda-me o vazio e nele eu me desfaço,
Pudesse traduzir bem mais tranqüilo o passo,
Mas resta ao caminheiro apenas vil martírio...


8


“E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,”
Após a noite aonde imaginara um brilho
E nele com ternura, enquanto maravilho
Podendo até tentar um dia claro e imenso.
Mas quando o sol renasce eu sei e me convenço
Do quanto em dor e medo, ainda tonto trilho,
Esgarça-se este pano e puído trama o denso
Caminho aonde tanto eu quis acreditar
Possível ter a sorte em luz quase solar
De um tempo mais feliz. Quem dera se possível,
Mas tudo não passando apensa de ilusão,
As horas transcorrendo o fim me mostrarão,
E o corte se aprofunda e o medo em mim, terrível.







9


“E assim, como eles, quero inteira redourar-me;”
Viver como se fosse um momento feliz
Aonde a realidade em luzes me bendiz
E tendo plena glória enfim poder guiar-me

Mostrando ao meu caminho o quanto pude amar-me
Embora seja amarga e imensa a cicatriz
Do quanto poderia ainda mais que eu quis
Sem ter no olhar a cruz que tanto me desarme

Expresso a solidão em verso mais venal
E tendo ausente porto, adentrando esta nau
Vencendo o dissabor em tétrica aversão

Amor em dores feito escravizado ser
Na angústia traduzida além de algum poder
Traçando o que bem sei expõe a podridão.

10

“Farei tal qual fizera ídolo de outros ritos”*
Seguindo o meu caminho em luzes variáveis
E nelas poderei momentos adoráveis
Diverso do que outrora imaginara em mitos,
Os dias que passei em rumos mais finitos
Podendo acreditar nos cantos tão louváveis
E mesmo quando imerso em solos quando aráveis
Ainda que eu tentasse ouvir do sonho os gritos
Jamais eu poderia entranhar a verdade
Sem ter dentro de mim o quanto ainda brade
O peso do passado; expressa o nada ser
E quanto mais voraz, ainda que tentasse
Mantendo tão somente a dor de algum impasse
E nele com certeza o rumo em vão perder...

* o verso original seria “Farei tal qual os ídolos dos velhos ritos”, mas como há quebra de ritmo com relação ao alexandrino tomei a liberdade de alterá-lo para não perder o ritmo.



11

“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,”
Mergulharia em vão nos braços do vazio,
E quando tendo o não, eu mesmo me recrio
Podendo ver no fim, quem tanto ainda me arme
E sendo sempre assim, a voz que ao revoltar-me
Sonega uma alegria, e expressa o resguardar-me
Qual fora o desalento e nele o desafio
Ainda que dorido, o medo assim desfio
Gerando o meu pavor, e nele o revoltar-me.

Estúpida quimera, a sorte do não crer,
Encontra algum alento aonde pude ver
A sombra do passado em mim já lacerando
O que talvez pudesse entranhar a verdade
E nela o desafio além do que degrade
Matando a sonhadora em fogo amargo e brando.


12


“Sua mulher nas praças perambula aos gritos:”
E nesta insensatez se percebe o quão dorida
Se mostra a realidade amarga desta vida
Aonde se mostrasse estúpidos tais ritos.
O sonho mais atroz invade os infinitos
E traz uma alegria há tanto em despedida
E nela a sordidez, aos poucos sendo urdida
Mostrando-se em nudez os cantos mais aflitos.

Eu pude perceber a minha própria dor
Ao ter no meu olhar a vida a decompor
Palavras tão venais resumem a ilusão
E nela perecendo o encanto que eu queria,
Traçando a realidade, esqueço uma utopia
E sei das vastidões dos nadas que virão.



13

“E se arrependem por lhe haver cruzado os passos”
Qual fora algum demônio astuciosamente
Seguindo cada traço, um pária, este demente
Ocupando sem trégua aos pouco seus espaços
Deixando o caminhar em tons sombrios, lassos
Vencendo destemido o quanto ainda sente
Aquele que pensara apenas tão somente,
Vivendo por viver, sequer deixando traços.

Assisto à derrocada enfim dos meus anseios
E bebo a tempestade, adentrando os seus veios,
Nefasta maravilha exposta a cada olhar
E tendo esta certeza, a morte companheira
Por mais que ainda tente, inútil se não queira
A sombra do futuro, em trevas irá tomar.


14


“Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,”
Mas sabe muito bem o quanto se desfez
Quem tanto imaginara além da lucidez,
Por isto da verdade, eu sinto que me afasto,

E o gesto quase insano, há tanto tempo gasto,
Diverso do que ainda eu sinto que tu crês
Mudando a direção, negando seus porquês
Gerando do vazio, o quadro em que o repasto

Pudesse ter além de um sórdido momento,
No qual com total fúria às vezes me alimento
Arcando com engano e treva que se gera,

Bebendo a podridão que exalas quando ris,
E mesmo assim ainda, eu creio-me feliz,
Podendo ter no olhar, a apascentada fera.


15


“Eis que misturam cinza e pútridos bagaços”
E desta estupidez na qual eu me criara
A fome não sacia, a sorte se faz rara,
E o gozo não me deixa ao menos leves traços.

Realço cada passo em busca dos regaços
Aonde talvez creia amor já se declara
E quando me entranhando em noite fria e amara,
A morte se aproxima, e trama em duros laços

Errático caminho aonde ainda trilha
A lua ensandecida, espúria maravilha
Vestida em plena prata, anunciando o sol,

Mas como se nublando a vida me tortura
E quando se percebe a madrugada escura
Tomando em cinza intenso as cores do arrebol.




16


“Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto”
Apodrecendo a cruz matando assim o Cristo,
Negando amor, perdão, deveras eu insisto
Quando percebo assim, aspecto tão nefasto

Do quanto ainda vive, embora um tanto gasto
O vendilhão canalha, um pútrido e vão cisto
Adentrando num Templo, aonde não resisto
E vejo com terror enquanto enfim me afasto.

Estranho este poder aonde não houvera
Da furiosa garra exposta de uma fera
Matando este cordeiro há tanto em sacrifício,

E quando se mostrara outrora mais cruel,
Poder sem ter limite, além do próprio Céu
Gerando em nome D’Ele o “sacrossanto” Ofício!

17


“E empenham-se em sangrar a fera que ele traz”
Vorazes seres tais que adentram cada sonho
E neles o retrato audaz, feroz, medonho
Qual fosse nesta vida, a angústia mais voraz,

E tendo em meu olhar, a face tão mordaz
Do quanto imaginara e agora decomponho
Num ato quase insano e nele já me exponho
Enquanto ao longe; vês e sei que satisfaz

Instinto mais cruéis, da estúpida pantera
Que apenas um vacilo, espreita e tanto espera
Devora com terror, as vísceras expostas

E quando me percebo inerme, sob as garras
Fatídico prazer; em ti vejo as fanfarras
E nelas o delírio em carnes decompostas...

18


“Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,”
Os medos mais sutis, as armas escondidas
E neles eu me espelho e vejo sendo urdidas
As farsas pelas quais expões todo o receio,

E quando no vazio, estúpido inda creio,
Enganos mais venais, as honras esquecidas,
A lágrima que escorre encobre tais feridas
E nelas eu percebo, em ti claro recreio.

Bebendo cada gota esgotas todo o sangue,
E tens no teu olhar, a podridão do mangue
Tocando com furor, o charco que hoje sou,

E nele se entranhando, em lástimas farsantes,
Matando com sorriso, os sonhos delirantes
A fera se sacia e come o que restou...


19


“Ou então, por desprezo estranha à sua paz, “
Mergulhasse num mundo aonde não teria
Sequer algum alívio e a morte então seria
Um rumo desejado, o que me satisfaz,

A pútrida verdade, o sonho não desfaz
Aonde se pudesse além da fantasia
Mortalha com certeza, em mim já caberia
E nela o meu futuro, espúrio e tão mordaz.

Ou então por somente acreditar no não
Jamais eu saberia aonde a sorte insiste
E o coração atroz, deveras sempre triste

Sem ter e nem saber se há rumo ou direção
Batendo por bater aguarda então meu fim,
E nele a redenção e a paz dentro de mim...


20

“Os que ele quer amar o observam com receio,”
E nada mais trarão somente este vazio
Que tanto me maltrata e mesmo desafio,
Não tendo mais saída, ainda busco o veio

Por onde eu poderia estar da morte alheio,
A porta se fechando, amenos os estios
Que tanto procurara e agora sem pavios
Não posso mais tentar o encanto que eu anseio.

Quando esgarçada sorte entranho em luz opaca.
No peito se cravando amarga e fina estaca
A morte se aproxima e nela vejo o brilho

Aonde desvendara os ermos que busquei,
Sabendo da verdade, antevejo esta grei
Que agora, sem destino, em paz superna, trilho...

21

“Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta”
A medonha figura aonde se mostrara
A face verdadeira embora mesmo amara
Deixando para trás a sorte que inda resta.

O quanto se percebe a vida assim funesta
E o beijo em falsa luz, deveras escancara
A imensidão da dor que em ti já se declara
Matando o que talvez ainda seja aresta

De um tempo mais feliz, passado sem sentir,
Morrendo dia a dia o que se fez porvir
E tendo no vazio, apenas o retrato

Do quanto fora luz e agora nada além
Da treva mais feroz na qual já se contém
O que ainda vivo, espreito e desacato...


22


“O Espírito que o segue em sua romaria”
Traduzindo a face espúria da verdade,
E quando a dor enorme adentra em fúria, invade
Deixando alheia então diversa fantasia
O corte se aprofunda, e a morte geraria
Naquele que talvez aos poucos se degrade,
Marcada a ferro e fogo a dura realidade,
Negando algum sorriso a quem não poderia

Saber do quanto dói a ausência da esperança
E quando a minha voz, ao nada ora se lança
Reflexos de quem tanto amou e não sabendo

Do quanto bebe em luz, quem trevas traduzira
Distante deste olhar, acende-se uma pira
E nela ainda vejo, inglório dividendo...




23


“E a via-sacra entre canções percorre em festa;”
Deixando para trás as dores tão diversas
E quando sobre o sonho ainda sei que versas
Depois de certo tempo, ao nada já se empresta

O coração de quem sabendo ser funesta
A vida tão atroz em luzes mais dispersas
Sombria realidade; aonde vejo imersas
As dores mais venais, e a morte; aos poucos, gesta.

Eu quero ter à frente o olhar audacioso
Enquanto se prepara ainda sinto o gozo
No qual mergulharia o resto que inda trago

E nele tão somente o peso que carrego
Sabendo ainda ser o passo audaz e cego
Escuso caminhar sem luz e sem afago...


24


“Às nuvens ele fala, aos ventos desafia”
E sabe que não tem sequer uma esperança
Aonde poderia a voz que não se lança
Trazer após tempesta a noite menos fria.

O quanto se perdeu e o tanto que faria
Não fosse a vida assim, amarga e dura lança
Deixando no passado apenas a lembrança
Da morte que se dando esgarça a fantasia.

E o beijo amargo e falso, apenas destempera
Gerando o nada ser, estúpida quimera
A porta se estraçalha e nada se percebe
Senão a dor feroz e atroz do que jamais
Servira como amparo em meio aos temporais,
Destroçando sem dó resquícios desta sebe...


25


“Há um gosto de ambrosia e néctar encarnado”
Na boca que me morde e teima ser venal,
Aonde se faria um rito triunfal
Apenas o vazio aos poucos desvendado
O cheiro que percebo assim adocicado
Na pútrida certeza, o medo sem igual
E o corte se aprofunda, eu sei quanto é fatal
Traduz o que seria ao menos um pecado.

Satânico e mordaz, sorriso em face exposto,
O olhar decepcionado e mesmo decomposto
De quem se fez a fera e tenta disfarçar
Deixando no passado apenas o vazio,
E nele o quanto quero e teimo e desafio,
Matando o que restara ao menos, soube amar...

26


“E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante”
A pútrida carcaça exposta ao forte vento
Explode em raro gozo, e nele me apascento
Deixando um resto amargo e mesmo deslumbrante.
O tempo nunca pára e sei do quão distante
Dos olhos de quem ama a luz de um vão tormento,
Mas tudo se transforma em fúria e desalento
Qual fora um falso brilho, inerte diamante.

Esbarro no passado e vejo a sua face
E nela se permite o quanto em tosco impasse
Futuro se desnuda audaz e em voz sombria,

A morte é solução, demônios me rondando,
Aonde se quisera um mundo ao menos brando,
Somente a solidão, deveras se porfia...


27


“Inebria-se ao sol o infante deserdado,”
E deixa demarcada a face em cicatrizes,
De tanto que pensara envolto nos deslizes
Encontro tão somente o que pensei passado
E o gosto do futuro há tanto abandonado
Diverso do que agora ainda queres, dizes
Espúria realidade, envolta em tais matizes
Trazendo enfim o céu, sem luz, acinzentado.

Nas ruas párias, sinto o quanto se fez claro
O desamor que vivo, e neles desamparo
Traçando o dia a dia, em mortalhas desfeito,
E o beijo da pantera estraçalhando o rosto,
Carcaça da ilusão, meu corpo decomposto
Seguindo sem destino, embora satisfeito...


28


“Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,”
O corpo putrefeito, a carne exposta e crua,
Deitando sob a fonte argêntea desta lua
Que mesmo em tal fastio encontro deslumbrante.

A morte é talvez tudo o quanto neste instante
Ainda sobre mim, domina e se cultua
A porta da ilusão expressa a própria rua
E nela uma alma bebe a luz inebriante

Do quanto poderia e nada então se fez,
No olhar do caminheiro há tanta insensatez
E o fim se aproximando, e nele se redime,

Certeza que terei, não nego e nunca fujo,
O coração imerso em lama, podre e sujo,
Sabendo que terá castigo após tal crime...

Wednesday, July 27, 2011

SEXTINA DUPLA 01

Meu barco se perdendo em tempestade
Distante dos teus braços, sigo só.
Não tendo mais sequer a claridade
Percebo bem longínquo o porto, o cais
Quem dera se eu pudesse ter o amor
Decerto eu poderia ser feliz.

Quem busca nesta vida ser feliz
Ao enfrentar a dura tempestade
Já sabe da importância de um amor
E nunca quer seguir assim tão só.
E busca na alegria ter seu cais,
Farol de uma esperança – claridade!

Percebo em teu olhar tal claridade
Que sabe me deixar bem mais feliz
Proporcionando à sorte um belo cais
Vencendo a mais terrível tempestade.
O coração amante não vai só
Ao ter a calmaria feita amor.

Seguindo os rastros mansos deste amor
Percebo ao fim do túnel, claridade
Que surge quando um sonho não vai só
E me permite ser enfim feliz
Embora a vida traga a tempestade
O amor leva meu barco para o cais.

Encontro nos teus braços o meu cais
Levado pelos ventos deste amor
Depois de ter vencido a tempestade.
Nos olhos de quem amo a claridade
Iluminando a glória: ser feliz,
Caminho de quem nunca vive só.

Quem pensou tantas vezes ser tão só
Ao ver no colo amado, um doce cais
Já sabe que é possível ser feliz,
Pois tem a fortaleza deste amor
Bebendo da alvorada a claridade
Não teme mais sequer a tempestade.

O meu passado em plena tempestade
Daria uma certeza de ser só
Não fosse ter a sorte e a claridade
Depois de tantos anos, como um cais
A maga sensação do pleno amor
Promessa de um futuro mais feliz.

Não tendo mais temores, vou feliz
O peito aberto enfrenta a tempestade
Contando com a força deste amor
Que nunca me abandona e deixa só.
Quem sabe que terá na vida um cais
Das trevas faz surgir a claridade.

Dos teus olhares sinto a claridade
Tornando o dia-a-dia, enfim feliz.
Ancoradouro belo, um raro cais
Afronta com bonança, a tempestade,
Matando a sensação amarga e só
Revigorado sempre pelo amor.

No barco, o timoneiro sendo amor
Traz a inerente luz e claridade
E segue o seu destino por si só
E tem por garantia o ser feliz,
Apascentando sempre a tempestade
E chega calmamente a qualquer cais.

Vagando a noite inteira, busco um cais
Levado pelos ventos de um amor
Enfrento a ventania, a tempestade,
Seguindo passo a passo a claridade,
Decerto assim serei bem mais feliz
Desembarcando aqui, não vou mais só

E peço assim querida, uma vez só,
Recebe o meu saveiro no teu cais
Deixando-me contente e mais feliz.
E ao ter o teu carinho, meu amor
Na paz que me transmite a claridade
A vida não trará mais tempestade.

É dura tempestade o ser tão só
Porém em claridade sei do cais
Que quando em pleno amor nos faz feliz.

SEXTINA DUPLA
Obs A sextina dupla foi composta inicialmente por Petrarca e Dante

Quanto custa um mecenas...

Quanto custa um mecenas...

Francisco Caçapa era uma das figuras mais conhecidas de Muriaé. Tido como extremamente culto, seus conhecimentos não ultrapassavam as sinopses, as manchetes de jornal, as orelhas dos livros e os comentários sobre esses.
A partir de tal conhecimento, intervinha em todos os assuntos que, porventura, alguém colocava em debate.
Como todo bom farsante, freqüentava com assiduidade ímpar, os botecos da cidade.
Casara com Leonor, dona de rara beleza, quando essa estava aflorando os seus quinze anos, menina pobre, ludibriada pela boa conversa do falsário.
Com o tempo, e a continuidade dos estudos, começara a perceber que entrara realmente em uma canoa mais do que furada, arrombada.
Terminando a faculdade de História, começara a lecionar nos colégios da cidade, inclusive no Estadual, onde conseguira, via concurso público, um cargo efetivo.
Paralelamente a isso, Francisco, percebendo que a esposa era auto suficiente economicamente, deu maior vazão à sua vocação natural.
“Intelectual que se preza, vive para aprofundar seus conhecimentos, e o trabalho formal é incompatível com essa árdua missão de penetrar nos mistérios da humanidade”; dizia, citando um pobre coitado que escolhera para fonte de suas máximas.
Além de tudo, Francisco era um admirador dos generais que governavam esse país, citando como exemplo de dignidade uma meia dúzia de pessoas ligadas ao poder.
Arenista de primeira hora, nacionalista como poucos, achava realmente que o país estava num momento mágico. Odiava, portanto qualquer coisa que cheirasse a esquerda, xingando a quem não gostava de ofensas como “comunista de meada”, “subversivo”, essas coisas...
Uma de suas principais vítimas era Eduardo, professor de Geografia, colega de Leonor.
Rapaz franzino, oriundo do “morro da rádio”, bairro proletário de Muriaé, estudara com muitas dificuldades, formando-se em Itaperuna, cidade próxima.
Francisco, como todo bom vagabundo falaz, resolveu se candidatar à vereança local.
Filiado à Arena 1, contava a eleição como certa, acreditando na “amizade” de seus pares e na admiração dos mais humildes.
Em primeiro lugar, os que ele achava que eram seus iguais, simplesmente se divertiam às suas custas, observando o pensamento obtuso e inconseqüente.
Os mais simples odiavam a conduta pernóstica e o narcisismo.
A fama de vagabundo suplantara, há muito a de “intelectual”.
Nessa mesma eleição, Eduardo, movido pelo sentimento de mudança e pelo sonho libertário da juventude, resolveu se filiar ao MDB e se candidatar também.
Leonor, já há um tempo, mantinha encontros escondidos com Edu. Sendo que tinham uma casa em Itaperuna, especialmente montada para esses encontros.
O divórcio ainda não havia e a situação de uma mulher “separada” perante a hipócrita sociedade tradicionalista de Muriaé impedia-na de agir com mais firmeza.
A situação dela, perante a candidatura do marido e do amante, ficara um tanto quanto difícil.
No dia da eleição, uma surpresa.
Nenhum dos dois se elegeu, mas, para surpresa de Francisco, a seção eleitoral onde ele e sua esposa votaram só contabilizou um voto para ele.
Pediu recontagem e bradou aos quatro cantos que a eleição fora fraudada.
Nada adiantou o voto solitário não encontrou par na recontagem.
Ameaçou, bradou, xingou indo quase às vias de fato com Leonor.
Mas, conformou-se.
A partir daquele dia, encerrou sua carreira política.
Leonor, cada vez mais abertamente, começou a freqüentar Itaperuna todas as semanas.
Francisco começou a perceber o preço que cobra um Mecenas.

SEXTINA 7

Nas mãos tão dedicadas de uma amiga
Fiel, em sentimentos mais vivazes
A permissão perene que prossiga
Os sonhos mais difíceis e tenazes.
Que a vida assim serene e que consiga
A sorte nos mostrar bem mais capazes.

Meus passos na verdade são capazes
De ter dentro do sonho a velha amiga
E quando esta esperança enfim consiga
Trazer noutros momentos mais vivazes
Os dias com certeza tão tenazes
No canto sem igual que ora prossiga.

A vida de tal forma assim prossiga
E nisto vejo os sonhos mais capazes
E sinto em tuas mãos firmes tenazes
Na sensação suave e mesmo amiga
Firmando com teus olhos mais vivazes
Até que a liberdade em paz consiga.

O quanto se deseja e já consiga
Enquanto a nossa luta assim prossiga
Palavra abençoada, em tons vivazes
Em dias mais suaves e capazes
A luta se demonstra mais amiga
Vencendo estas batalhas tão tenazes.

Os ermos de minha alma são tenazes
E cada novo tempo que eu consiga
Trazer esta esperança mais amiga
Enquanto o caminhar sempre prossiga
Mostrando tais momentos e capazes
Do todo em luas claras e vivazes

Meus olhos em momentos mais vivazes
Tramando este caminho onde tenazes
Momentos desenhados são capazes
E mesmo que a mudança enfim consiga
Traduz esta esperança que prossiga
Na paz tão desejada, clara e amiga.

Por isso minha amiga mais vivazes
Aonde já prossiga em tais tenazes
Momentos que eu consiga, enfim capazes.

A MINHA POESIA

A MINHA POESIA

A vida não se fez conforme eu quis
E nisto pouco importa sim ou não,
Não quero os raios fartos do verão
Nem mesmo o céu etéreo, amargo e gris
Seguir a correnteza como eu fiz,
Não tendo em minhas mãos este timão,
Apenas carregar a embarcação
A um porto dos meus sonhos, chamariz.
Falena que seguira a tênue luz
O tanto onde sonhara e o vão compus
Sem ter sequer além uma ousadia,
Usando da palavra, um instrumento
De um mundo em incertezas me alimento
E dele faço a minha poesia.

MEU CANTAR

Se este meu cantar versejo
Com trovejo e com vontade
Meu amor é realejo
Que me deu tanta saudade.
Se te quero como queres
Se me queres como eu quero,
Nunca vão faltar talheres
No banquete que eu espero...
Na lua botei a rede
Noutro lado presa ao sol.
Deste amor morro de sede,
Sou teu louco girassol.
Sol nasceu no firmamento
Eu firmei meu coração.
Te afirmo a todo momento
Confirmo minha paixão...

A TE AMAR

Deitado em minha rede quero o colo
Onde me derramando me consolo
Olhando para o sol sempre a brilhar.

Menina, esta paixão é meu delírio
Que salva meu destino do martírio
Do medo de morrer sem te encontrar.

Eu quero saciar o meu desejo
Na boca que promete tanto beijo,
No corpo que me fez enlouquecer.

Minha alma anda cativa e não se solta,
Só pede teu carinho e tua escolta,
E vive nos teus braços a se perder.

Enredos que fizemos são profanos,
Não quero mais saber de desenganos
Cansei de sofrer tanto sem ninguém.

Morena vem comigo, vem sonhar,
Eu quero; meu amor, te namorar,
Na noite prometida pro meu bem...

À minha musa II

À minha musa II

Se tantas vezes luto, agora festa,
Meus dias vagabundo, agora canto..
Nas horas mais difíceis foste fresta
Nos dias sofredores, meu encanto.

Buscando tuas mãos, encontrei fada.
As marcas do destino nunca saem.
Que bom estar contigo, minha amada,
Os meus olhos sorrindo não me traem..

Querida companheira estou contigo,
Em todos os momentos desta vida.
A curva do caminho traz perigo,
Na curva do teu corpo, distraída,

Derrapo meus sentidos, perco o chão.
Não deixe que se acabe o sentimento,
Amor que não precisa de perdão,
É livre passarinho, solto ao vento...

Vestido de esperanças te procuro,
Encontro um verde prado a me esperar,
Dos males deste mundo, já me curo,
O rumo dos meus olhos, teu olhar...

Menina sei por certo nossos rios,
Deságuam no oceano deste amor...
Não deixe que meus sonhos sempre esguios,
Nas ilusões te traga meu pavor...

Nas noites que lutamos, sem espadas,
As bocas nos servindo de punhais...
São noites mais difíceis, pois geladas,
As ruas vão sonhando seus metais...

Nos cantos desta noite, retratadas,
As dores que se tornam desleais;
Navegam procurando a madrugada.
Por vezes nos amamos, canibais...

Não deixe que se chegue indiferença
Preciso de teus braços p’ra nadar.
Amar quem só recebe recompensa,
É simplesmente troca, sem amar...

Amores que vivemos são tão raros,
Nas noites mais difíceis, aquecer...
Os vasos conservamos, pois são caros,
Assim como é querido o bom viver...

Tua beleza intensa faz feliz,
Viver tuas promessas, me faz rei...
Na cama minha intensa meretriz,
Nas ruas minha dama, disso eu sei...

Morrer ao lado teu. Ó quem me dera!
Viver as fantasias dolorosas...
Nas curvas do teu corpo, primavera,
As tuas mãos sedentas, carinhosas...

Belezas sem igual, ninguém mais tece,
Da forma que forjaram, resta nada...
Amar-te se tornou a minha prece.
Nunca te deixarei abandonada...

Meus olhos esquecidos sem descanso
A musa que me inspira, com certeza,
Promete-me viver doce remanso...
Castelos dos meus sonhos, realeza...

Não deixe que termine nosso caso,
Não quero mais viver sem teu perdão...
A vida sem te ter, me leva: ocaso,
Mas quando junto a ti: é solução!

Menina me ninando teu carinho,
Na rede descansando nossos beijos...
Libertos encontrando um manso ninho,
A vida se renova, nos lampejos.

Musa, minha rainha e minha amada,
Princesa que me fez um sonhador.
Escuta esta canção apaixonada
É feita da verdade deste amor...

À minha Musa I

À minha Musa I

Meus versos, universos procurando,
No seio da mulher que tanto sonho...
Teus mares meus saveiros navegando.
Os olhos que te perdem, mar medonho...

O tempo que não tive, vai passando.
Mortalhas estendidas no porão...
Esparsos, os meus sonhos formam bando,
Invadem teu veleiro e coração...

Mascaro minhas dores com teu riso,
Massacro meus amores sem perdão...
De tudo o que vivemos, teu sorriso,
Reflete tanta luz nesta amplidão!

Na sede que matamos, mutuamente...
Meu canto que persigo não preciso...
As luas vão rodando em minha mente.
Nos olhos, minha amada, o paraíso...

Te faço meus poemas, sem segredos...
Esqueço de minha alma, redundante...
Não deixe que esses torpes, frios medos
Impeçam teu caminho, sempre avante...

Meus versos inundados de desejo
Não trazem suas rimas: solução.
A vida que conheço no teu beijo,
Impede conceber a solidão...

A boca que profanas, sempre mente.
Bem sabes que vivemos sem martírio...
Amamos e sofremos simplesmente,
As luzes deste amor, feliz colírio...

Cantando nas gaiolas tristes cantos...
Amores se tornando prisioneiros...
Não posso permitir os desencantos,
Amor que não morremos, verdadeiros...

Espero por teu verso, minha amada.
Mas não demores nunca, tenho pressa...
A noite que na aurora, vai calada,
Esquece de cumprir sua promessa....

Os raios boreais minha aquarela.
O medo de sofre mais desengano...
Teu rosto emoldurado, bela tela,
Pinacoteca minha, disso ufano...

Afrodite, decerto, tem inveja
Da beleza sutil desta mulher...
Hermes, extasiado te deseja,
Teu brilho é invulgar, não é qualquer...

Dancemos homenagens para o deus
Que permitiu a vinda desta musa...
Teus olhos na verdade são ateus,
Espreito belos seios nesta blusa...

Meus versos desejando: sou feliz.
Não nego meu amor: eu te venero...
Vivendo minha sorte por um triz,
És muito mais que penso, nem espero...

Amada, minha ninfa, meu tormento...
A noite que passamos, sem marasmo...
Esqueço assim qualquer um sofrimento,
Envolto nas delícias deste orgasmo...

RESQUÍCIOS DA INFÂNCIA

As nuvens vão vagando pelo céu,
Barquinho em correnteza, de papel,
O canto da ciranda cirandou.

Encontrei a morena amor sem dó,
Na terra que sonhara, em Tororó,
Nos braços da morena agora estou.

O anel que era de vidro se quebrou
O amor que era tão pouco se acabou
Apenas a lembrança inda ciranda,

Do bosque solidão achei o anjo
Num grupo sertanejo toca banjo,
Assim a minha infância já desanda.

O gato já fugiu de dona Chica,
Minha morena, agora ficou rica,
Foi de marré, marré, marré d’ici,

Sobrou essa morena em minha rede,
O resto? Pendurado na parede,
Morreu? Bem, na verdade, mora aqui!

LUZ CRISTALINA

Noite avassaladora refletida;
Belo espelho das águas, ao luar...
As estrelas cadentes, esse mar,
As horas mais tristonhas, de partida...
Um gole de conhaque, alma doída...
Procuro simplesmente, te encontrar,
Noite, tapeçaria, faz sonhar;
Quem me dera morresse, despedida,

Em meio a tal nobreza divinal.
M’abriria então, Deus, o seu portal,
Guardaria essa imagem na retina...
À noite tanto amor que me alucina
Morrer de tanto amor, eu sou capaz.
As mãos te teceram, imortais,
Em tal momento orgástico de paz,
Te emolduram, amor, luz cristalina!

A Minha Amada

A Minha Amada


Um canto na madrugada,
Traz um gosto de tristeza...
Saudade da minha amada,
Levito nessa beleza...

Silencio sobre tudo,
Não quero falar mais nada...
Vou calado, sigo mudo,
Esperando minha amada...

Não sei falar mais de dor,
Caminho sempre n’estrada,
Estrada do meu amor,
Estrada da minha amada...

Na curva dessa saudade,
Capotei, curva danada...
Vou viver felicidade,
Nas curvas da minha amada...

Trago meu peito cansado,
Minha mão, no peito, atada...
Peito bate des’perado,
Saudades da minha amada...

Menina quero teu colo,
Deixa de ser tão levada;
Vou te deitar neste solo,
Te fazer a minha amada...

Eu nem sei de valentia,
Nem quero cair da escada;
Seja noite ou seja dia,
Eu só quero minha amada...

Vergalhão cortou bem fundo,
Sangria desesperada;
Quer dor maior nesse mundo?
Distância de minha amada...

Vento ventou no telhado,
Chuva caiu na calçada.
Triste sina, triste fado,
Procuro por minha amada...

Toda fumaça que eu trago,
Vai subindo espiralada.
No pulmão faz tanto estrago,
Volta pra mim, minha amada!

Não quero nem mais viver,
Vida vai descontrolada.
Procurando, por você,
Sem encontrar; minha amada...

Quero poder noutro dia,
Estar co’alma lavada.
Oh! Meu Deus, como eu queria,
Saber de ti, minha amada!

Tanta maldade na terra,
Voa então, minha alma alada,
Sobe morro, desce serra,
Procurando a minha amada...

Lavei meus olhos tristonhos,
Na poça d’água parada.
Vou sonhar todos os sonhos,
Até sonhar minha amada...

Amor me pegou de banda,
Escondido, de empreitada;
Lua daqui, de Luanda,
Traz para mim, minha amada...

A moça bonita dança.
Moça da saia rodada;
Coração traz esperança,
Da dança da minha amada...

Pedra faz onda no rio,
Depois de ter sido lançada;
Vou vivendo o desafio
De ondear minha amada...

A safira dest’anel,
Aonde foi encontrada?
Olhei pra terra e pro céu,
Encontrei a minha amada...

Diamante traz riqueza,
Jóia muito procurada;
Mas muito maior beleza,
Nos olhos da minha amada...

No sertão cantando primas,
Tem viola enluarada;
Encontrei todas as rimas,
Nos lábios da minha amada...

O que presta nessa vida,
Nunca foi coisa comprada;
Minha alegria perdida,
Encontrei na minha amada...

Tanta verdura gostosa,
Delas fiz uma salada.
Vida vai maravilhosa,
Nos beijos da minha amada...

Serpenteia minha sorte,
A vida é carta marcada.
Jogo pesado, de porte,
Aposto na minha amada...

Vaso duro não se quebra,
Nem fica a casca arranhada;
Tão lindas, quando requebra,
As ancas da minha amada...

É de Deus a escolhida,
Foi, por ele, abençoada.
Nunca mais quero outra vida,
Nos seios da minha amada...

Canto cantiga de roda,
Samba, bolero e toada.
Planta crescendo na poda,
Quero colher minha amada...

Cantor que canta forró,
Canta xote e embolada;
Nada no mundo é melhor,
Que os braços da minha amada...

Quando cheguei lá de Minas,
“Truce” queijo e até coalhada.
“Truce” coisas tão divinas,
Só num “truce” minha amada...

Da chuva eu sou só um pingo,
Mas você quer trovoada.
Quando choro, esse respingo,
Vai molhar a minha amada...

Toda essa reza que eu rezo,
Na Igreja ou na orada.
Tudo que eu deveras prezo,
Encontro na minha amada...

Na vida perdi o freio,
Capotei numa guinada.
A vida me pôs arreio,
Nas pernas da minha amada...

No circo triste da vida,
Eu perdi a minha entrada.
Só encontrei despedida,
Só me restou minha amada...

Eu sofri tanto, bem sei,
A vida me deu esporada.
Aqui, ao menos sou rei,
No reino da minha amada...

Chora cavaco chorão,
A noite vai embalada.
Vai chorando o coração,
Lágrimas de minha amada...

Dançando xote e baião,
Danço até uma lambada.
Só não danço solidão,
Peço perdão, minha amada...

Errei demais, eu sei bem,
Minha vida é toda errada.
Sem você não sou ninguém,
Me desculpe, minha amada...

Feira boa é a que tem,
Muita coisa variada.
Só não encontro meu bem,
Onde estás, ó minha amada?

Te procurei num castelo,
E não passei da fachada.
Todo dia, então, eu velo,
Na busca da minha amada...

Eu tentei cantar um hino,
Vitrola tá enguiçada.
Quem me dera ser menino,
Para cantar minha amada...

Com varinha de condão,
Eu encontrei minha fada.
Só me restou ilusão,
Encantar a minha amada...

Trabalhei por tanto tempo,
Cavoucando com enxada.
Mas foi tanto contratempo,
Onde “plantei” minha amada?

Já tive tanto revés,
Eta vidinha azarada!
Lavei navio e convés,
O mar levou minha amada...

Mulher ficando nervosa,
Entra muda e sai calada.
Mas feliz, fica bem prosa,
Fala pra mim, minha amada...

Lá na casa que eu morava,
Dizem que é mal assombrada.
Mas era eu quem chorava,
Só por você minha amada...

De tanto amor nessa vida,
Eu a levo endividada.
Vou fazer a despedida,
Já cansei da minha amada!

HOMENAGEM A ANTERO DE QUENTAL

HOMENAGEM A ANTERO DE QUENTAL

Antero de Quental

Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos…

E eu mesmo, com os pés também imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos…

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.


1

“Na comunhão ideal do eterno Bem”
Sagrando o nosso amor a cada verso,
E ter em minhas mãos este Universo
Aonde o ser feliz deveras vem

E em todos os momentos diz de alguém,
No qual meu sentimento siga imerso
Por mais que o caminhar mostre diverso
O rumo onde se expressa o que contém.

Divina providência feita em luz
À qual um brilho raro me conduz
Levando a cada dia um infinito

E nele alçando além do simples gozo,
Um templo feito em glórias, fabuloso,
Tornado muito mais que um mero mito.


2


“Juntos no antigo amor, no amor sagrado,”
Seguimos rumo ao éter. Sou feliz
Em ter sob os meus olhos o que quis,
Vivendo muito além deste passado,

O dia sempre estando iluminado,
A sorte que desejo já bendiz
E o tempo sem remorso ou cicatriz
Transcorre num caminho ora traçado

Por mãos abençoadas, redentoras,
Aonde outrora em noites sofredoras
Ditara a solidão, venal e a atroz,

E quando me percebo junto a ti,
Renasço e recupero o que perdi,
Felicidade ouvindo a minha voz.


3


“Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,”
Encantos sem igual que me entorpecem,
E neles os desejos já se tecem
Traçando este futuro que ora vem

Dizendo do passado sem ninguém,
As dores que vivemos não se esquecem,
Mas quando em nossas vidas amanheces
O sol toda a beleza em si contém.

Não posso mais seguir sendo tristonho
E quando um novo tempo; assim componho
Trafego por estrelas, constelar.

E posso até dizer que sou feliz,
O amor que me invadindo tanto diz
Permite por espaços navegar...

4

“De novo, esses que amei vivem comigo,”
Os sonhos mais felizes que eu pudera
Traçando novamente a primavera
Trazendo ao trovador, encanto e abrigo.

Por vezes tão diverso do perigo
O mundo em luzes fartas se tempera,
Criando este palácio da tapera
Mostrando todo encanto que persigo.

Alcançarei além do simples fato
No qual com todo o brilho me retrato
Ungindo o meu caminho em paz imensa,

E tendo teu amor, enfrento as dores,
Seguindo meu amor, por onde fores,
Ao fim felicidade é recompensa...

5

“Fechar os olhos, sinto-os a meu lado”
E tento perceber a maravilha
Do sonho que deveras luzes trilha
Traçando um novo dia abençoado.

Há tanto um sofredor, desalentado
Não via estrela imensa que ora brilha,
A sorte se tornando uma armadilha,
O encanto em desencanto destroçado.

E quando eu percebi tua chegada
Imagem tão sublime e delicada
Fazendo do meu canto, uma alegria.

E agora que percebo quão feliz
O mundo aonde o sonho expus e quis
Tocado tão somente por magia...

6


“Mas se paro um momento, se consigo”
Vencer os dissabores mais constantes
Sabendo quão sobejos, delirantes
Os mundos que deveras eu persigo,

No encanto sem igual quero e prossigo
Vivendo sem temores, radiantes
Delírios entre cantos deslumbrantes
Jamais imaginando dor, castigo.

Querendo estar contigo o tempo inteiro,
O encanto se mostrando derradeiro,
Não mais comporta o medo e o sofrimento,

E tendo nos teus olhos os meus guias
As noites não serão atrozes, frias,
Tampouco sobre nós o imenso vento...


7



“E entre ela, aqui e ali, vultos submersos”
Assim a noite passa turbulenta,
E quando se pensara em quem me alenta
Ausente dos meus olhos claros versos,

Os dias entre dores vão imersos
Nem mesmo uma esperança me apascenta,
A sorte que deveras já se tenta
Perdida nos caminhos mais diversos.

Entranham-se terrores, mas persisto
E sei que na verdade se inda existo
Somente por tentar amar demais.

E não concebo enfim, outra saída,
Se perco pouco a pouco a minha vida,
Em ti encontro enfim, um tenro cais...


8


“Só vejo espuma lívida, em cachões,”
E neles turbulências ditam sortes,
Na ausência do que outrora foram nortes
O que fazer se perco as direções,

E quando a realidade tu me expões
Sem ter quem na verdade te confortes,
Olhando num espelho, vejo as mortes
E nelas talvez nossas salvações.

Esgoto as minhas últimas palavras
Tocando estas daninhas que ora lavras
Permitindo espinhoso este canteiro,

E o canto a quem me entrego em ladainha
Há tanto com certeza nos convinha,
Por ser esteja certa, o derradeiro...

9


“Na corrente e à mercê dos turbilhões,”
Já não consigo mais vencer quimeras
E sei que tanto queres quanto esperas
De todos os temores, soluções.

E quando se mostraram os verões
Aonde se pensara em primaveras,
Apenas os invernos, frias feras
Que agora sem temores recompões.

As cúpricas folhagens deste outono,
Do medo e do terror ora me adono
E adorno-me somente do granizo.

Esqueço que talvez houvesse um porto,
Já me percebo ausente e semimorto
Seguindo em passo trôpego e impreciso...

10


“E eu mesmo, com os pés também imersos”
No imenso lamaçal chamado vida,
Há tanto se perdendo distraída,
Deixando para trás meus tristes versos,

E quando em outros rumos vão dispersos
Caminhos onde outrora uma saída
Se via na verdade é vã, perdida,
E nela estão ausentes universos.

Descrevo com terror cada momento
Aonde se mostrasse em desalento
A fúria do vazio em que mergulho.

Aonde imaginara flórea senda
A vida não permite e já desvenda
Somente um espinheiro, um pedregulho...

11


“Na fuga, no ruir dos universos”
Já não conseguirei saber se outrora
O sol que se demonstra firme, agora
Trouxera raios frágeis e dispersos,

Aonde no passado em vão submersos
Desejos se perderam sem ter hora,
Porquanto noutro porto a paz se ancora,
Calando o que talvez pudesse em versos

Dizer com tal clareza sobre o amor,
Que tanto desejei e sem louvor
Expressa a derradeira luz, mas tento

Viver além do quanto poderia
Saber que mesmo sendo fantasia
Encontro no meu sonho algum alento...


12

“Levados, como em sonho, entre visões,”
Os dias onde outrora fui feliz,
Enquanto toda a sorte se desdiz,
As dores em terríveis borbotões,

Bebendo as minhas lágrimas expões
Toda a fragilidade e a cicatriz
Que habita dentro da alma, uma infeliz,
Esconde as mais diversas emoções.

Esgarçam-se os meus dias, vagamente,
A sorte sem alento também mente
E tudo não passado de uma farsa.

O quanto imaginara ter nas mãos,
Momentos que não fossem todos vãos,
Nem mesmo uma ilusão finge ou disfarça.

13


“arrastados no giro dos tufões,”
Os sonhos se perdendo em pesadelos,
Não pude e nem devia mais contê-los
Sabendo tão ausentes os verões.

E neles as tristezas e aversões
Envolvem minha vida em vãos novelos,
E quando se pudesse percebê-los
Ausentes dos meus olhos, tentações.

Escassas noites feitas em ternura,
E quando a sorte invade e me amargura
Não deixa sequer sombra do que outrora

Já fora uma alegria, agora morta,
Fechando eternamente a minha porta,
Somente a solidão, chega e devora...


14




“Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,”
Não pude nem sequer saber aonde
A sorte benfazeja ora se esconde,
Deixando assim calados os meus versos.

Pudesse ter nos olhos universos,
E o quadro mais feliz. Ninguém responde,
Calado, persistindo inda que eu sonde
Por mundos mais complexos e diversos.

Amores se perdendo em solidão,
Os dias novamente mostrarão
O quanto fora inútil caminhar.

Sozinho sem ter eira nem morada,
A noite que julgara enluarada,
Neblina sonegando este luar...