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Saturday, February 20, 2010

25242

Os sonhos mais gostosos de sonhar
Permitem que se veja a liberdade
Tramando desde sempre a claridade
E nela com certeza mergulhar

Aos raios mais sublimes do luar
Percebo que a real felicidade
Não necessita mesmo que se brade
Tampouco desconhece algum lugar

Vivendo por viver sem ter razões
Nesta beleza rara em que compões
A vida bem melhor de ser vivida,

Sem termos nem perguntas, só respostas,
As horas entre luzes vão dispostas
E sabem decifrar sem despedida.

25241

Aos poucos me envolvendo, me enlevando
Vontade de poder estar contigo,
Vivendo mansamente em tal abrigo,
Um mundo mais tranqüilo, até mais brando

E quando em tempestades eu me abrando
Não vendo após o cais qualquer perigo,
Assim enamorado enfim prossigo
Até que eu te perceba retornando,

Vivendo sem perguntas nem por que
No amor que tanto quer quem nele crê
Passível de pensar eternidade,

E mesmo que se torne agora infindo,
Um sonho que invadindo já deslindo
E dele toda a glória que me invade.

25240

Querendo simplesmente te encontrar
Depois dos temporais e ventanias
Aonde nosso encanto tu desfias
Tecendo novos raios do luar,

Escuto neste instante a preamar
E quando as noites seguem bem mais frias
Em ti farto calor que em luzes crias
Tocando a minha pele, devagar,

Arrasto-me deveras aos teus pés,
E preso nas entranhas do desejo,
O quanto mavioso o amor prevejo

Sem medos, nem correntes ou galés,
Vivendo a liberdade do querer
A recompensa é feita no prazer.

25239

Não deixe que estas ânsias determinem
O fim de um caso raro em pleno amor,
E sendo necessário recompor
Momentos que deveras nos dominem

Enquanto novos dias exterminem
O que se fez outrora em plena dor
Sentindo deste encanto o raro ardor,
Aonde os meus temores se suprimem,

Verás nos olhos meus a poesia
E dela a realidade se recria
Moldando um novo tempo de viver,

Aonde se enverede em voz suave
Sem medos nem terror que ainda agrave
Tornando mais difícil meu prazer.

25238

Sobeja majestade em vossos olhos
Divina criatura feita em luz,
O amor quando em amor nos reconduz
Deixando no passado os vis abrolhos

Recolhe na florada, ensandecido
Momentos deslumbrantes, bom perfume,
Bem antes que minha alma se acostume,
Acende-se a vontade na libido

E tendo-vos por ama e por senhora,
O quão maravilhoso e perolado
Delírio quando estou ao vosso lado,
E nesta voz suprema ora se aflora

Encanto sem igual que derramais,
Delírios em delícias sensuais.

25237

Aonde imaginavas um acerto
Decerto nada tendo, desviaste
O olhar em tanta fúria e num contraste
Criaste em nossa vida um vão deserto,

E quando deste fato ora me alerto,
Embora te pareça ser um traste,
Vagando em noite imensa desabaste
Medonhas excrescências: rumo certo.

Visões de outros momentos já passados
E os olhos muitas vezes embotados
Confusas as imagens, percebera.

Exposto aos mais terríveis pesadelos,
Agora mais tranqüilo posso vê-los
E nele se repete a mesma fera.

25236

Gentis, desconcertantes vastidões
Entoam luzes fartas e serenas,
Além do que pensara em duras penas
Encontro as maravilhas que ora expões,

E tendo nos meus braços soluções
As dores se transformam e pequenas
Jamais perturbariam, pois apenas
São faces que deveras recompões.

Esboço novos passos noite adentro,
E quando neste intento me concentro
Vislumbro o que queria e procurava,

Aonde quis momento em sintonia,
A música se espalha e se irradia,
Vai libertando esta alma, outrora escrava.

25235

Uma alma enfraquecida não percebe
O quão dificultoso o caminhar
Em meio às tantas pedras e buscar
Além do que do amor já se recebe,

O quanto deste sonho se concebe
E bebe-se deveras devagar
E quando novamente eu vasculhar
Veremos noutro encanto a rara sebe,

Em glebas tão distantes e sombrias
Durante muitas horas, tantos dias
Seguimos rastros outros que encontramos,

E após diversos ermos, descaminhos,
Agora que sabemos tão sozinhos,
Prazer incomparável; desfrutamos.

25234

Em ásperos caminhos, vossos passos
Levando à mais completa solidão
E quanto aos novos dias, mostrarão
Além de meros erros, velhos traços,

Enquanto os olhos restem quietos, baços,
Ordenhas de ilusões não nos trarão
Tampouco uma esperança ou solução,
Engodos cometidos; toscos, crassos,

E sendo-vos melhor não ter agora
A fonte luminosa em que se aflora
A benção de saber em voz constante

O quão soberbo andar se preconiza
Transformando tempesta em mera brisa
Nas guerras ou na paz, já triunfante.

25233

Faço-vos Senhora em cada verso
Declarações que ousando vos falar
Derramam sobre nós raro luar
Tomando em claridade este universo,

Nas ânsias do desejo sigo imerso
Servindo-vos qual fora a um altar
E em vós aprendo logo a decifrar
Delírio dos meus cantos mais diverso.

E quando vedes noite enluarada
Derramais vossos sonhos nesta estrada
E nela ao encontrardes meus caminhos

Percebei quão sobeja fantasia
Aonde a luz superna se irradia
Tomando-nos na força dos carinhos.

25232

Desprezos que trazeis em vosso olhar
Estranhas desventuras me causando,
Aonde houvera um tempo desde quando
O Amor se poderia imaginar

Servindo-vos deveras e encontrar
Momento tão suave, ameno ou brando,
E mesmo quando em luz alvoroçando
Falena num instante a se encantar

Adona-se dos sonhos, poesia,
E dela em ventos mansos se porfia
Tecendo nobre e raro amanhecer,

Servir-vos ó senhora dos meus ais
Enquanto o vosso encanto; derramais
Navego ao vosso claro e bel prazer.

25231

Agonizando em vida, um louco amante
Percebe o quão inútil caminhar
E tendo muitas vezes que enfrentar
Perigo audacioso e mais constante

Ainda prosseguindo sempre avante
Não deixa de tentar e de sonhar,
Embora muitas vezes sem lugar
Procura pelo amor, seu diamante.

Andara tantas noites sem saber
Aonde em que estalagem me esconder
Lutando com gigantes ou moinhos,

E agora que te tenho em minhas mãos
Percebo o quanto os sonhos foram vãos
E os dias continuam tão sozinhos.

25230

Das águas cristalinas sei a fonte
E dela me fartando a cada dia,
Enquanto aos mais diversos sonhos guia
A mão que se estendendo no horizonte

Transforma nosso amor em rara ponte,
E nela novos campos eu veria
Sabendo desde sempre esta alegria,
Que a cada amanhecer logo desponte

Deixando como um rastro o brilho farto,
Do qual jamais deveras eu me aparto,
E sei que escravizado em tal algema

Por mais que enamorado nada tema
Eu sigo em luzes várias, movediças
Exposto aos dissabores e cobiças.

25229

Como se fosse amor sábia ventura
À qual já se atrelasse uma esperança
Vivendo dos agouros da lembrança
Eterna busca ainda em vão perdura,

E quanto mais se quer e se procura
Distante deste olhar, amor se lança
A mão já com certeza não alcança
Sobrando a quem deseja esta loucura.

Essencialmente eu vivo só por que
Nas sanhas deste encanto que se vê
Ao longe, minhas tramas me conduzem,

Mas quando me aproximo, logo escapas
Da essência do viver percebo as capas,
Aonde os meus anseios vãos reluzem.

25228

Falo de ti a todos os que vejo
E sinto que a resposta é o mesmo não
Enquanto as horas todas mostrarão
O quanto da emoção fora lampejo,

O beijo mais audaz não antevejo
Tampouco alguma luz ou solução
Esqueço qualquer rota ou direção
Perdendo desde sempre o bom ensejo,

E sendo assim navego em mar sombrio
Diverso do que tanto fantasio
Sem porto que me abrigue, ancoradouro,

Que faço sem poder ter florescido
Jardim há tantos anos esquecido,
Porém só para mim, raro tesouro.

25227

Nos louros da vitória se expressara
A glória que jamais se fez inteira,
História tão comum e corriqueira
Agora se apresenta como rara,

Vencido e vencedor, a mesma cara
Reflexo desta luta costumeira
Vivendo em precipício sempre à beira
A morte a todo dia se declara

Nas formas mais sutis ou agressivas
Enquanto de prazeres tu te privas
Virando um prisioneiro do presente,

Audaciosamente esta caterva
Aos poucos dominando já te enerva,
Mas logo silencias tão descrente.

25226

Das fadas e princesas do passado
Ainda guardas cenas na memória
E mesmo quando muda toda a história
O sonho vez por outra relembrado,

O tempo diz do templo abandonado
E nele tão somente rala escória
Do quanto se fartou como em vitória
Desenho na parede mal pintado,

E as horas vão passando e nada vindo,
O amor que outrora fora quase infindo
Esvaecido em cenas de novelas,

E quando lacrimejas, voz embarga
A doce fantasia agora amarga
Menina que inda existe tu revelas.

25225

Gritar teu nome estúpida quimera
Durante a noite fria em que talvez
O sonho aonde a vida se desfez
Quem sabe noutro sonho regenera

E a vida seduzida em primavera
Mostrando de algum jeito a lucidez
Diversa do que agora ainda vês
Não seja tão somente vaga espera,

Ansiosamente escuto a voz do vento
E nela com certeza, me apascento
Lembrando que virás, mas não sei quando,

E enquanto a noite avança e o sol renasce
A vida repetindo o mesmo impasse,
E eu aqui sozinho te esperando.

25224

Lembrando a despedida em dores fartas
Aonde não queria perceber
Que após a fantasia esvaecer
Enquanto dos meus braços já te apartas

E os sonhos mais felizes tu descartas
Deixando neste instante se antever
Que apenas me emoldura o desprazer
Jogadas sobre a mesa velhas cartas

Ainda não decifro seus sinais,
Mas onde houvera luzes magistrais
Agora tão somente a escuridão,

Sorvendo cada gota do passado,
Retrato na gaveta amarelado,
Traduz toscos momentos que virão.

25223

Ser-vos-ia deveras mais fiel
Não fossem vossas luzes tão dispersas
Enquanto ao perceber nossas conversas
Em laços discordantes, sigo incréu

E temo perceber que assim ao léu
Em novas maravilhas vão imersas
As ânsias pelas quais sendo perversas
As noites onde o amor procura o véu

E se amortalha em turvas nuvens foscas,
Tornando nossas vidas quase toscas
Invariavelmente dispersando

As raras maravilhas desfraldadas,
Agora com certeza malfadadas
Alegrias fugindo em turvo bando.

25222

Outrora em vossas noites se adonando
Das minhas emoções, senhora e diva,
E quando a própria vida já nos priva
De um tempo mais suave, ou mesmo brando

As flores novamente ver brotando
Cevadas pelas mãos de uma alma altiva
Enquanto desta forma outra cativa
E o amor no pleno amor se eternizando.

Vestindo-vos de glória mais sobeja
O quanto meu desejo vos deseja
Permite-me sonhar com novos dias,

Aonde poderia ter nas mãos
Além do roseiral, diversos grãos
E deles vos servir em fantasias.

25221

Assenta-se em canteiros magistrais
A rosa que cevara com carinho
Deixando no passado o ser sozinho
Mostrando o que desejo e quero mais,

E quando em entrelinhas demonstrais
O vosso encanto e nele eis o caminho
Que tanto eu procurara e me avizinho
Bebendo em belas taças de cristais,

Diamantinas noites em vós tendo
Aos mais sublimes ápices, ascendo
E nada me impedindo posso ver

O dia em luzes fartas que ora vedes
E nele saciando antigas sedes
Dourando em vossas mãos, o amanhecer.

25220

Com o desabrochar da flor que tanto
Desejei ver enfeitando o meu canteiro
Depois de ter cevado o tempo inteiro,
Alvissareira rosa à qual eu canto

E neste puro encanto sei o quanto
O amor se fez real e verdadeiro
Dos sonhos o mais nobre mensageiro
Deixando no passado a dor e o pranto,

Eu sinto ser possível novamente
Um dia mais feliz. Por isso bem
Conheço quando a sorte me contém

E nada mais sequer teima ou desmente
A glória insofismável de ser teu
Vivendo o que o amor nos concedeu.

25219

Quem dera se pudesse ter ainda
O gosto desta boca junto à minha,
Suprema maravilha feita em vinha
Que a vida num segundo já deslinda

E traz esta emoção sobeja e linda
Numa insânia constante onde se alinha
O corpo seduzido que ora vinha
Beber da poesia rara e infinda.

Vencido pelas ânsias desde quando
Eu pude perceber já me tocando
Os lábios sensuais desta mulher,

E agora que sou dela e só por isto
Do sonho mais audaz nunca desisto,
E nele todo o bem que uma alma quer.

25218

Aonde houvera pássaros e aurora
Eu poderia crer ser mais possível
Que a vida se mostrasse noutro nível
Aonde a luz que agora nos decora

A cada novo dia mais se aflora,
Mutável fantasia sendo crível
Felicidade então viva e plausível
Decerto voltará e não demora.

Mas vendo esta aridez feita em asfalto,
Em plena solidão fria me assalto
E vejo que a penumbra é uma constante,

E sendo sonhador por natureza
Talvez ainda saiba a correnteza
Na límpida beleza noutro instante.

25217

Enquanto dos fantasmas inda corres
Fugindo destas sombras mais estranhas
Vagando sem destino por montanhas
Ausente da ilusão onde socorres

Percebendo então São Martin de Porres
Que possa te ajudar nas várias sanhas
Ainda mesmo amiga se não ganhas
Ou mesmo quando em lágrimas escorres

Não creia na derrota, pois é fato
Na força insuperável me arrebato
E faço desta crença a minha luz,

Não deixe a dor tornar-se soberana
Nossa Senhora de Copacabana
A um bom caminho logo te conduz.

25216

À rosa se recende a maravilha
Que tanto procurei e não sabia
Aonde talvez fosse fantasia
A poesia ainda vaga trilha

Enquanto um novo rumo se engatilha
Audácia mesmo às vezes sendo fria
Mergulha noutras sendas e porfia
Momentos de prazer; e a estrela brilha.

Alçar cometas tantos, vários céus
E neles me perder, sonhos ilhéus
Vencendo os mais complexos desalentos

Aonde não pudesse ver a luz
Imagem neste espelho reproduz
Além de meras cruzes e tormentos.

25215

Quis o Fado que arruda benfazeja
Trouxesse a boa sorte a quem possua
E a leve junto a si, e enquanto atua
Decerto não há mal que não proteja.

Então bendita planta sempre seja,
A preferida de quem já continua
Fazendo a cada dia falcatrua
E até quem no futuro isso deseja.

Mas veja quão diversa a sina e a sorte,
Pois tendo uma arruda que conforte
Arruda sem ajuda foi flagrado,

E agora Deus me acuda em corre-corre
Sem ter Arruda aquele que o socorre
Arruda contradiz a sorte e o Fado.

25214

Palpitas entre beijos, fogaréus
E tramas as venturas mais audazes
Enquanto novamente tu refazes
Dos erros cometidos, velhos léus

Antanho percebera falsos céus
E neles recriaras torpes fases
Aonde mal percebes incapazes
Delírios encobertos, mausoléus

Ocultas nas entranhas sortilégios
Vendendo as ilusões de privilégios
Ou régios caminhares entre luas,

Mas quando me aproximo e te desvendo,
O todo resta apenas como adendo,
E mesmo em falsos palcos inda atuas.

25213

Um alquebrado sonho diz amor
E tudo se deriva deste vão
Aonde muitas dores mostrarão
Apenas esta angústia se compor,

Vencido pelos medos, meu andor
É feito de total ingratidão
Negando em gelidez todo o verão
Destroços do que outrora fosse flor,

Desembainho atroz e fria lança,
Mas quando a tempestade enfim avança
Recolhe-me ao vazio de onde vim,

Seguramente nada me sustenta,
Somente esta ilusão ainda alenta
Regando vez por outra o meu jardim.

25212

Nascendo a primavera aonde outono
Vivera com terror e frialdade
Pensara tão somente na saudade
Que a cada amanhecer mais desabono,

Do tempo inacessível não me adono
Tampouco vejo em ti a liberdade
Que tanto procurara e não me invade,
Deixando para trás o sonho e o sono.

Explícitos momentos de alegria
Uma alma solitária fantasia
Aonde solidária quis a festa,

Mas quando nada vindo, desespero,
Nas ânsias deste encanto me tempero
E a sorte se esvaindo em cada fresta.

25211

Uma alma que gorjeia em solilóquio
Vencendo os desamores que enfrentara
Enquanto todo amor já não declara
Num sonho em que jamais quero, retoque-o,

E quantas ardentias; necessito
Para poder vencer trevas soturnas,
As ânsias tão comuns sendo diuturnas
Transformam pensamento em brado e grito

Argutas emoções, ânsias diversas
Audaz e carcomida noite inglória
Aonde se pensara na vanglória
Agora noutras sendas sonhas, versas,

E teimas em fluir entre meus dedos,
Levando junto a ti, tantos segredos.

25210

A primavera feita em gozo e festa
Lasciva sobre alfombras traz desnuda
A carne que buscara em fúria aguda
E toda esta loucura rege e empresta

Volúpia que em delírios sempre atesta
A sorte onde deveras traz a muda
Mergulho nesta insânia sem a ajuda
De quem já desconhece o amor que resta

Ejeto os meus fantasmas, fanatismos,
E sei dos mais terríveis cataclismos
Gerando dentro em mim o fogaréu

Que possa transcender à própria vida
E enquanto deste intento a alma duvida
Eu alço neste instante inferno e céu.

25209

Uma alma que se mostra em fogo e lava
Hospitaleiros sonhos, inda tenta
E segue mesmo em fúria violenta
Vagando sem destino, feito escrava

Que em águas sempre turvas já se lava
Perece esta emoção e segue atenta
Por vezes destemida se apascenta
Enquanto noutro tanto se moldava

Escusas excursões pelo meu ser
Demonstram esta sede de viver,
Que tanto me maltrata e me inebria,

E dela sendo servo, não liberto,
Seguindo sempre em rumo vão e incerto,
À margem do que dita a fantasia.

25208

Fragrante Rosa em Jericó plantada,
Como a lua formosa, e esclarecida,
Como o sol entre todas escolhida,
E como puro espelho imaculada.

Virgem antes dos séculos criada
Para Mãe do supremo Autor da vida,
Para fonte de graça dirigida,
E de toda a desgraça reservada.

Pois a vosso rosário se dedica
Esta academia, em que tanto acerta,
Consagrando-se a vós, divina Rosa:

Claro, patente, e manifesto fica,
E conclusão é sem falência certa,
Que do mundo há de ser mais gloriosa.


GREGÓRIO DE MATOS

A Rosa que entre Rosas se fez Santa
Formosa em raro brilho ostenta a luz,
E dela este Cordeiro atado à Cruz
Cujo holocausto ainda nos encanta.

A força que Ela emana, sendo tanta
Às multidões diversas já conduz
Divina Criação se reproduz
Na Imagem mais fiel e Sacrossanta.

Da Glória em Graça feita, olhai por mim,
Em Vós percebo além deste jardim,
Superna Maravilha em divindade,

Dos nomes o mais simples vos daria
O Amor, pois em Amor se fez Maria
E Dela a Soberana Majestade.

25207

Canoras expressões de sonho e alento,
Das ânsias entre lágrimas sobejas
Além do que talvez inda desejas
Encanta-nos o amor doce tormento

No qual por vezes quero ou mesmo tento
Viver além do quanto sei que almejas
Nos céus que em esperanças azulejas
Legando ao nada ser, o sofrimento,

Adentrando diversas fantasias,
Ao mesmo tempo negas e confessas
Das várias ilusões, cenários, peças

Por onde nossa história tu desfias
Fazendo de bom grado esta ironia
Que à própria sensatez já desafia.

25206

Ó Musas o meu canto vos implora
A paz de um manso lago em placidez,
Dourado caminhar onde se fez
A noite sem estrelas desde outrora,

Em eras tão diversas, mágoa aflora
E do estro transformado em sensatez
Mudando em poesia a sua tez
A fonte ora salobra se descora,

Dos bardos ouço a voz e não respondo,
Ecoam dentro em mim brados distintos
Vulcões há tantos anos sei extintos,

E a força incontestável já se impondo
Não deixando fluir a água serena
Sulfúrica verdade me envenena.

25205

No imarcescível sonho eterna fonte
Por onde porejara uma esperança
Que aos vários caminhares já se lança
E dentre tantas dores se desponte,

A vida muitas vezes nega a ponte
Ao flóreo vicejar enquanto avança
E traz nos antros frios da lembrança
Visão em triste agouro do horizonte.

Às Musas destes vates liras cantam
Idolatrando assim belas deidades
Tramando sobre a Terra claridades

Que enquanto nos tocando sempre encantam,
Descendo o imenso rio em belas margens
Sobejas e divinas paisagens.

25204

Que a terra seja mansa ao caminheiro
Depois de percorrer sendas diversas
E nelas as belezas mais dispersas
Trazendo um novo rumo ao mensageiro

Dos deuses e das musas, companheiro
Enquanto sobre os vales, rios; versas
Palavras que pensara mais perversas
Num verdejante prado enlevo e cheiro.

Dourados os lauréis que ora desfilas
Celeste maravilha em nobres filas
Levando em teu olhar, altares vários

Bebendo desta fonte cristalina
O quanto em luzes calmas nos fascina
O sobejo esplendor destes cenários.

25203

Nos mares onde outrora navegara
Buscando a calmaria que inconstante
Trazia a embarcação sempre adiante
Do tempo em noite imensa e lua clara.

Um perecível sonho, fragilmente
Exposto aos vendavais não resistira
E quando só restara simples tira
A vida sem pudores volta e mente

Dizendo ao velho andejo marinheiro
Que tudo continua como outrora
Naufrágio com certeza não demora,
E o canto se tornando o derradeiro

Desmancha qualquer forma de esperança
Enquanto à morte a sorte já se lança.

25202

Socorrem-me diversas fantasias
Durante a minha estada neste inferno
Aonde imaginar um tempo terno
Nefastas explosões; por certo, urdias

E delas não percebo mais sinais
Apenas os destroços que me tocam,
E quando estas escórias desentocam
Fantasmas que pensara terminais

Assombram-me terrores conhecidos
E deles recomposto, não permito
Sequer ouvir ainda um brado ou grito,
Há tanto desprezados nos olvidos

E sendo que ressurges por instantes
Figuras do passado, degradantes.

25201

Teu nome se traduz em fogo e lança
E quando me perguntam se talvez
Ainda possa crer na sensatez
Depressa se perdendo esta esperança.

Verdade não se cala e nem percebes
O quanto inútil ser já se adivinha
Nas hordas que vieste, erva daninha
Agora se espalhando em outras sebes,

Sedenta de vingança fera espúria
Por onde caminhavas nem um rastro,
E quando se perdera vela e lastro,
Apenas sobrevive a imensa fúria

Na qual eu me alimento e te devoro,
E a morte de tal fera, eu comemoro.

25200

Pergunto quase sempre e não sei quando
Alguém trará consigo esta resposta
A mesa há muito tempo deixei posta,
A casa ora vazia, te esperando.

Não posso suportar tamanha ausência
E vejo a minha vida se puindo,
O que pensara outrora fosse infindo
Agora se percebe em decadência,

Vencer os meus terrores; é possível?
No amor que tantas vezes fiz meu mote,
Sem ter a fantasia que se adote
Transforma-se afinal em perecível

Momento de completa insensatez,
Que a realidade amarga já desfez.

25199

A vida pode sim me maltratar
E destroçar o que inda resta em mim
Depois de ter cevado este jardim,
A tempestade chega devagar

Não deixa restar nada do que outrora
Granara sobre um solo mesmo agreste,
E quando em noite clara tu vieste
Promessa de alegria que se aflora,

Porém o tempo tem nas armadilhas
Diversas e complexas ilusões,
E quando noutra face tu te expões
Aonde posso ver as maravilhas

Que um dia se tornaram mais constantes
E agora vejo: falsos diamantes.

25198

Distante de quem quero, perguntando
Aonde se escondeu a estrela guia,
Inútil sem te ter, a poesia
Aos poucos noutra senda se formando,

Vagar inutilmente em noite escura,
A lua que entre brumas ora espreita
Enquanto a dor deveras se deleita
A vida se resume na procura

Insana e inconsistente, mas audaz
Por quem desejo tanto e não me quer,
Nas mãos abençoadas da mulher
Destino que inconstante já se faz

A minha redenção? Ainda aguardo,
A dúvida se torna imenso fardo.

25197

Aonde, meu amor, posso buscar
A fonte de uma eterna juventude
Tomando noutro rumo ou atitude
A imensa maravilha céu e mar,

Esculpo com cinzéis que tu me deste
Imagem redentora de um amor
Que quanto mais audaz quero compor
Maior a divindade que ele ateste.

Seguir por flóreos rumos entre espinhos
Vagando nos canteiros mais bonitos
Tramando em paz superna velhos ritos,
Não vejo mais meus dias vãos, sozinhos,

E sei que também queres tal momento
E nele mesmo em guerra, eu me apascento.

25196

Meus olhos vão famintos, são sedentos,
Buscando o teu olhar, doce miragem
E dele se permite servo ou pajem
Em meio aos dias frios, violentos,

E quando me percebo nos teus braços
Entendo ser feliz como se fosse
Um dia bem tranqüilo, e até mais doce
Do que pensara em tempos idos, lassos,

Agora me permito neste verso
Cantar esta beleza incomparável
Do sonho que se mostre mais amável
Do quanto já sofri, muito diverso,

Vivendo a cada dia esta emoção
Meus olhos outros rumos saberão.

25195

Não deixa de querer cada carinho
Quem sabe e reconhece que amor vem
E nele toda a sorte diz do bem
No qual com muita fé ora me alinho.

Espero poder ter alguma chance
De demonstrar o quanto te desejo,
E sei que na verdade sem ter pejo
A vida se mostrando a meu alcance

Permite que se diga em poesia
O quanto não teria nem coragem,
Se amor ao perpetrar esta viagem
Qual fora rara estrela já me guia

Levando ao glorioso amanhecer
Envolto pelas luzes do prazer.

25194

Tocado pelos sonhos, doces ventos
Clamando por quem tanto desejei
O amor que pela vida eu espalhei
Trazendo esta ventura, sem tormentos,.

E sinto quão profusa maravilha
Expressa neste olhar embevecido,
O medo há tanto tempo adormecido
Enquanto uma esperança ora palmilha

As sendas mais sublimes da esperança
Na plácida beleza deste lago,
Delírios entre encantos, se eu te afago
A vida sem terrores segue e avança

Até chegar ao fim da caminhada,
Seara por brilhantes, polvilhada.

25193

Não posso mais ficar aqui sozinho
E deixo-me levar pela emoção
Pensando nos momentos que virão
Tornando mais tranqüilo o velho ninho,

Aonde um ansioso passarinho
Depois de tantas noites de verão
Agora na completa solidão
Ausente das delícias de um carinho.

Escute a voz do vento a nos chamar,
E veja sob os raios do luar
Beleza desta noite soberana,

O amor quando se entranha nada vê
E a vida passa a ter algum por que
E a sorte transparente não engana.

25193

Não posso mais ficar aqui sozinho
E deixo-me levar pela emoção
Pensando nos momentos que virão
Tornando mais tranqüilo o velho ninho,

Aonde um ansioso passarinho
Depois de tantas noites de verão
Agora na completa solidão
Ausente das delícias de um carinho.

Escute a voz do vento a nos chamar,
E veja sob os raios do luar
Beleza desta noite soberana,

O amor quando se entranha nada vê
E a vida passa a ter algum por que
E a sorte transparente não engana.

25192

Preciso de teu corpo, meus ungüentos
Que sanam as feridas do passado
Encontro neste solo abençoado
E dele com certeza mansos ventos

Trazendo esta alegria que deveras
Não posso mais conter, e em voz altiva
Mantendo esta esperança sempre viva
Num doce paraíso que ora geras

Viver sem ter razões, sabendo quando
O tempo nos transforma em eternais
Bebendo deste néctar quero mais,
Caminho pouco a pouco demonstrando

Fantásticos momentos de alegria
Que uma alma apaixonada fantasia.

25191

Salvando um coração tão pobrezinho
Destas vicissitudes, dor e pranto,
Enquanto houver o sonho ainda canto,
Das sendas de um amor eu me avizinho,

Longe de tantos erros cometidos,
Andando sem olhar sequer pra trás
O amor a cada dia já me traz
Momentos entre luzes consumidos.

Viajo em suas mãos e a liberdade
Alçando com delírios e prazeres
Unidos neste intento, pois, dois seres
Encontram a real felicidade,

E um verso simples nasce deste todo,
Numa expressão suave e sem engodo.

25190

Se fez mais forte em versos a esperança
De um dia bem melhor e mais tranqüilo,
E em cada fantasia que desfilo
Diversa do sentido de vingança

O olhar se perde ao longe, no horizonte
E vê dentre montanhas, o nascer
Da lua a pratear e embevecer
Traçando outro caminho que me aponte

A sorte de saber felicidade
Ausente dos meus dias, infelizes,
E em meio aos temporais, diversas crises
Que a voz de uma esperança ao menos brade

E mude a direção dos ventos, pois
Dela depende a glória de nós dois.

25189

Sou anti imperialista, pois cristão
E odeio qualquer forma de injustiça,
Jamais permitiria ser omissa
A voz quando se vê uma opressão

E sei que novos dias mostrarão
Em renovada cor velha cobiça
A areia sempre foi tão movediça
Assim como inseguro, o próprio chão,

E quando no futuro agora lês
O império que virá será chinês
Autoritário e mesmo tão pragmático

Sem nada que respeite ou o desbanque
Futuro que prevejo assim, dramático,
Trará saudades deste velho, o ianque.

25188

Ausência de esperança ora me leva
A crer neste vazio como herança
E quando o meu olhar enfrenta a treva
Ao horizonte atroz inda se lança

A mão que poderia crer na ceva
Apenas aridez ainda alcança
Amores arribando em tosca leva
Não deixam nem resquícios na lembrança;

Audaz e pertinaz caminho eu tento,
E nele um lenitivo, algum alento
Que possa permitir o renascer

Da vida prometida em profecia,
Porém a realidade dura e fria
Transfere para nunca o amanhecer.

25187

Nefasto deus não quero e nem desejo
Que alguém possa viver tal heresia
E quando a falsa imagem se recria
Diversa deste amor que tanto almejo

O amanhecer em paz já não prevejo,
Tampouco se percebe a fantasia
Moldando com prazer a alegoria
Num mundo mais tranqüilo, amor sobejo.

E tudo se transforma no vazio
Que tanto nos maltrata e nos corrói,
Uma esperança aos poucos se destrói

Felicidade, um sonho que ora adio
Olhando para trás vejo o depois
E a morte tão presente entre eles dois.

25186

Aonde se tentara paz e amor,
E nisto a liberdade como um hino,
Um sonho mavioso e até divino
Que vejo todo dia decompor.

Cantávamos a Terra em esperança
E toda a maravilha feita em flores
Canhões já se calando; e os dissabores
Morrendo sem qualquer ódio ou vingança.

O tempo se mostrou torpe corsário
Mudando este refrão que nos guiava,
Seara libertária agora escrava
Futuro novamente temerário

Do canto em que se quis libertação
O sexo com a droga diz prisão.

25185

Atrozes almas alçam infinitos
E visam o possível renascer
Noutra alma tão diversa ou noutro ser
E assim ciclos se fazem sem conflitos.

Assíduas ilusões vencem verdades
E volvem envolvendo vastos vãos
Atípicas paisagens, novos grãos
Refazem noutra senda a eternidade.

Implícitos desejos se fomentam
E deles outras vozes ou imagens
Escravos, vendilhões, patrões e pajens
As vidas desde então retroalimentam

Arquétipos diversos vida e morte,
Num único conjunto que os comporte.

25184

Imensa majestade em faustos feita
Sidéras paisagens desvendadas
Veredas pelas luzes decifradas
Uma alma ao percebê-la se deleita

E do éter que esvaece entorpecente
Lascívias entre lânguidas promessas
Luxuriosamente; recomeças
Mesmo que nova saga se apresente.

Num hermetismo insólito e insensato
Astúcias entre farpas e delitos,
Carbônicos viveres, infinitos
Renovam-se mudando de formato

E assim do fogo fátuo; outra quimera
Real diversidade regenera.

25183

Debaixo dos colchões do Vaticano
Esconde-se a verdade sobre Cristo,
Repito novamente e até insisto
Não posso conviver com tal engano,

O Pai sendo absoluto e soberano
Num paradoxo é vil? Pois se hoje existo
Do amor insofismável não me disto,
E faço parte mesmo de algum plano.

Mas quando vejo a imagem demoníaca
Usada como fosse uma batina
Enquanto ao próprio Deus já sabatina

Numa ânsia tresloucada e até maníaca
Pergunto quem te fez venal Igreja?
Maldita para o eterno sempre seja.

25182

Angustiosamente sigo a vida
Entregue aos dissabores tão normais
Momentos que pensara magistrais
Tramando da alegria a despedida,

A sórdida figura que esculpida
Em mármores diversos, transformais
Em farsas costumeiras e venais,
Enquanto a realidade dilapida.

Não vedes quão passível de loucura
Quem tanto sem progresso já procura
Algum remanso à beira da torrente,

E mesmo que inda encontre algum resquício,
A sorte se transforma em precipício
Por mais que uma ilusão ainda invente.

25181

Absconsas profecias se refazem
Nos modernos oráculos, falsários
Procuram tão somente os honorários
E vários imbecis já se comprazem;

Espúria corja expondo em cartas, dados,
As toscas quiromantes do presente
No milenar engodo se pressente
Os dias muitas vezes malfadados,

Vendendo as ilusões, serão poetas?
Assépticos ignaros vitimizam,
Enquanto maravilhas otimizam
Palavras benfazejas e diletas

Visionárias vendetas no balcão,
Meu Pai, como é difícil ser cristão!

25180

Dejeto entre os dejetos, simples pária
Aonde mergulhasse em frio ocaso,
Se às vezes falsa luz da qual me aprazo
Expressa uma versão vã, visionária

Nas sombras dos errantes vagabundos,
Andarilho pagão, noites a fio,
Exílios mais constantes e me alio
Aos vermes mais espúrios ou imundos.

Jogado pelas ruas, ébria cruz
Visões entre paredes e senzalas
Olhando tal figura já te calas
E em mim, a tua imagem reproduz

Embora em contra-senso tão venal,
Delírio compartilhas; sensual.

25179

Angustioso rumo se procura
Durante os festivais em raras luzes,
E enquanto as maravilhas reproduzes
A noite fica sempre mais escura.

Beligerante imagem, roubo e morte,
Prazeres que desfrutas com regalo,
Silenciosamente nada falo,
Apenas peço a paz, frágil suporte.

Seviciando a fétida figura
Em asquerosa imagem construída,
Uma alma que se dá prostituída
E nela a realidade se afigura.

Que sendo sempre assim, pois que assim seja
Depois louvamos Deus na nossa Igreja.

25178

Mas quem te disse que o Diabo é feio?
Figura tão formosa e atraente
Prazeres espalhando e de repente
Nas suas chamas bebo e me incendeio.

Num gozo insaciável, belo Febo,
Ansiosamente exposto nas vitrines
E quando novos rumos determines,
Um ser tão sedutor ora concebo.

Promessas de momentos em fulgor,
Delícias entre jogos, droga e sexo,
Até que se perdendo todo o nexo
Esplêndida beleza a decompor,

Enxofre? Não. Perfuma em maestria
Enquanto te encantando, à morte guia.

25177

Amenas madrugadas e eu observo
Do alto deste prédio as variantes
De uma cidade em sonhos delirantes
A cada capitão servido um servo.

E vendo esta caterva que borbulha
E segue seus caminhos tão diversos,
Percebo em variados universos
A mesma incoerência em cada bulha.

Acasos entre ocasos, farsas tantas
Iludidos e tolos caminheiros
Do Demo, são pacatos tais cordeiros
Usando como em série mesmas mantas

Esbaldam-se nas teias que os amarram,
Enquanto em podres Cristos sempre escarram.

25176

Nas ânsias deste pária que vasculha
Escombros pelas ruas e sarjetas,
Aquém do Paraíso que prometas
A ponta envenenada desta agulha

Adentra a pele em rugas tão precoces,
Os pelos abundantes, o mau cheiro,
Um ato tão vulgar e corriqueiro
Por mais que em fantasias tu adoces

Espalha pelas ruas da cidade
A imagem mais perfeita do que seja
Humanidade herética; em bandeja
De prata nos servindo a realidade.

E assim vestindo a rota fantasia
Demônio eternamente se recria.

25175

Microscópicos seres devorando
O que se fez gigante e autoritário
Um homem desprezível, temerário,
Agora num silêncio eterno e brando.

As vísceras expostas carcomidas,
As órbitas vazias, nada vêm
Aonde fora tanto hoje ninguém
Na cíclica verdade traz ás vidas

Banquetes decompostos, fino prato,
Carcaça pouco a pouco destroçada
A alma há tanto tempo sepultada
Satânica figura em seu formato,

Enquanto se gargalha Satanás
Herético poder torpe e voraz.

25174

As velhas carcomidas heresias
Vendidas como fossem salvação
Deveras nos trazendo a adoração
Diversa da verdade que querias.

Amor feito em perdão, lição superna
Infelizmente tanto desprezada,
A quem se deve tudo, resta o nada
Depois se quer pensar em vida eterna?

Hereges companheiros de viagem,
A alma sempre pesa se cristã
A vida se permite noutro afã
Delírios e delícias, vã miragem.

Mais fácil se levar pelo prazer
Ilimitado gozo a nos perder.

25173

Vindictas tu preparas, armadilhas
E delas não consigo decifrar
Sinais que possam mesmo protelar
A morte que deveras ora trilhas,

E sinto nas noctívagas matilhas
Nas noites mais escuras, sem luar,
Espreita num instante a desnudar
Mesmo que disto diste algumas milhas.

Assim a cada dia me preparo,
Pois sei quanto o demônio não é claro
Usando de artimanhas mais sutis,

Enveredando sendas prazerosas,
Emerge qual a rosa dentre as rosas,
Beleza que em si própria contradiz.

25172

Antíteses que formam vidas várias
Na mesma e tão complexa residência
Gerando a mais venal coexistência
Formada por visões que, temporárias

Tramando uma passagem movediça
Que ao mesmo tempo fere e às vezes cura,
Porém dicotomia se em loucura
Nefastas luzes traz sobeja liça.

E vendo tais figuras desconexas
Não posso me furtar às evidências
Tampouco ao ignorar t’as inocências
Preconizando vias mais complexas

Que levam às diversas direções
E nelas fragilmente tu te expões.

25171

Luxúrias entre orgias e bacantes
Espúrias ilusões que o tempo leva,
E quando após o rito, encontro a treva,
Percebo que o prazer traz por instantes

Excêntricos momentos que finitos
Resíduos muitas vezes entorpecem
E quando tais delírios se oferecem
São meros na verdade até restritos

Enfáticos, porém vagos caminhos
Levando aos mais diversos arremates,
E quando só por eles tu combates
Os dias que virão; ledos, sozinhos

Retratam o vazio que se cria
Na falsa sensação de uma alegria.

25170

Unindo nossos corpos num desejo
Explodem-se emoções, raros matizes
E sendo, como sempre mais felizes
Etéreas sensações agora almejo,

Vivendo esta fantástica viagem
Sem ter sequer fronteiras nem descanso
O auge que neste instante quero e alcanço
Traduz aos olhos vagos, a miragem

Esplêndidos caminhos desvendados,
Delitos cometidos, sacros ritos,
E quando penetramos infinitos
Sabendo desvendar tais Eldorados

Jamais nos permitindo a solidão,
Prazer a traduzir constelação.

25169

Efervescência intensa à flor da pele,
Desejo que incontido nos inflama
Mantendo sempre acesa a imensa chama
Ao farto desvario nos compele,

Ardentes emoções, jogos sutis,
Eternidade feita nos segundos
Aonde se envolvendo mais profundos
Anseio que em momentos tudo diz.

Suores e sussurros; saciados
Dois corpos irmanados num só gozo
Instante formidável, fabuloso
Enlanguescidos seres endeusados.

E lassos entre laços, firmes nós,
Delírio insaciável, fogo atroz.

25168

A paz que eu procurava e não sabia
Vestindo de funéreas emoções
Agora quando em luto tu me expões
Gerando algum sorriso de agonia,

Há tanto que deveras percebia
Brotando sobre a terra aos borbotões
Em gêiseres, em lavas e os vulcões
Permitem que se crie a alegoria.

Afãs diversos, lutas feras, claras
Por mais que outra saída; imaginaste,
Esta aparente dor traça o contraste,

Pois dela a paz que tanto desejaras
Num descanso sobejo e sem igual,
No encerrar deste ciclo, natural.

25167

Abstinência de luz trazendo agora
Esta hiperestesia que, constante
Se expressando das sombras, neste instante
Vaga fluorescência que se aflora.

E desta opacidade gero então
Hipersensível ser que não se omite
Tampouco reconhece algum limite
E as mais frágeis luzernas mostrarão

Caminhos que deveras desconheces,
E nunca imaginara, pois sombrios,
Herméticos lugares que, vazios
Sequer em fantasias ora teces,

E assim ao prosseguir em vãos escusos,
Decifro os meus prazeres mais profusos.

25166

Da longanimidade sigo ausente
Aonde se pensasse em brilho e incêndio
Apenas desfilando o vilipêndio
E a paz feita em ternura que se ausente.

Não posso me furtar aos desenganos
E como fosse um réptil ora rastejo
Deixando no passado o vão desejo
Adentrando os esgotos, podres canos

Encontro ali enfim o que buscara
Após as cicatrizes coletadas
Vagando pelas ruas e calçadas
A cada novo passo, nova escara

Mergulho nestas turvas galerias
E ali, conheço enfim, as alegrias.

25165

Em contraposição ao supernal
Entranho pelas furnas do viver
E sinto neste vão tanto prazer,
É como se pudesse triunfal

Galgar meu habitat mais natural
E nele de tal forma me envolver
Mimetizando ali, um torpe ser
Que um dia imaginara desigual.

Do subsolo entranhando as galerias
Diverso deste sonho que ora urdias,
Um subterrâneo verme me alimento

Das trevas e da sombra, escuridão,
Da vida a mais perfeita tradução
Mesmo calado e imerso sigo atento.

25164

Doía qual um membro que amputasse
E mesmo em dor terrível persistisse
Por vezes cria ser uma tolice,
Algia que gerasse algum impasse

Do tempo que virá e do que fora
Na persistência vã do que era morto,
É como não soubesse de outro porto
Tampouco de outra senda promissora

Quedara-se em espúria letargia,
E dela nem sequer um movimento,
Mortalha não servindo mais de alento,
No congelar da vida, o mesmo dia.

Aonde conseguir a liberdade?
Um torpe prisioneiro da saudade...

Friday, February 19, 2010

25163

Tornando o meu sonhar mais satisfeito
Após as discordâncias do passado,
Andando por caminho torto, errado,
Entregue às ilusões, sonho desfeito.

Agora que te encontro e abro o peito
Confessando deveras o pecado
O dia nascerá iluminado
A paz a nortear cada preceito.

Não me deixo levar por desenganos
A vida se transforma e novos planos
De fato mudarão o seu sentido,

O mundo preconiza nova chance
E nela uma certeza que se alcance
O raro paraíso prometido.

25162

Deixando para sempre más lembranças
E velhos dissabores que coleto
Enquanto nesta vida o predileto
Caminho se perdendo enquanto lanças

Os olhos para as nuvens, esperanças
Audazes percorrendo este dileto
Delírio pelo qual eu me completo
E ao mesmo tempo aguardo estas vinganças.

Alçara um eldorado em pensamento,
Mas quando da verdade estou atento
O mundo desabando sobre nós,

E o quanto fui feliz inutilmente,
A vida a cada dia me desmente,
Num rastro que se mostra duro e atroz.

25161

Agora que encontrei amor perfeito
Depois de tão sofrida caminhada
Aonde se imagina mansa estrada
Desfiladeiro imenso; onde me deito

E o amor insanamente faz seu pleito
Tomando já de assalto a destroçada
Alma pelo sonho abandonada
Felicidade enfim é meu direito,

Escusos becos, ruas sem saída,
Assim se demonstrara a torpe vida
De um tolo e descabido sonhador,

Mas quando se pensara já perdido,
Jogado nos porões de um vago olvido,
Ela adentrando a porta traz o amor.

25160

Comigo em tanto amor pra sempre avanças
Deixando para trás vicissitudes
E mesmo que deveras inda mudes
De ti só guardarei boas lembranças,

O amor traz alegrias, medos, lanças
E nele se percebem atitudes
E mesmo que deveras não ajudes
As noites ao te ter sempre são mansas.

Quem tanto se mostrara um infeliz
Agora que a verdade contradiz
Encontra-se em sobeja maravilha,

Por sendas tão tranqüilas que eu caminho,
Aonde há tanto tempo era sozinho,
Uma alegria imensa a alma palmilha.

25159

Amor em primavera neste outono
Conflitos entre o ser e o querer ser
Mudanças tão difíceis de prever
Ludibriando o tempo já me adono

E quando na quietude até ressono
As súcias demoníacas a ver
Percebo quão inválido o poder
E sinto-me deveras como um mono.

Espúrias as imagens refletidas
Mostrando quão inúteis estas vidas
Assaz maravilhosas por momentos,

Velhaca criatura fantasia
Além de um simples gozo em alegria,
Bebendo depois disso os sofrimentos.

25158

Fazendo as flores raras, folhas belas
Outono transformado em primavera
E quando a solidão se degenera
Destino bem diverso tu já selas

A fantasia velha castelã
Usufruindo os gozos de um reinado
Há tanto tempo inválido e fadado
À realidade amarga, torpe e vã

Deixando prosseguir tal heresia
Minha alma se transporta ao nada ter
E molda noutras formas de prazer
O que talvez em paz nem pensaria,

Fazendo da emoção sua trincheira,
Atocaiando a presa, guerrilheira.

25157

De quem sempre vivera em abandono
Pegadas pela vida se apagando,
Não posso mais sonhar nem quando
Entregue totalmente em manso sono,

Nas ânsias de um prazer me desabono
E perco a direção, já desabando
O todo que eu pensara se mostrando
Desnudo coração, amor detono,

E sinto que talvez tenha somente
Sementes de uma inválida colheita
Às vezes de tocaia esta alma espreita

E mesmo quando vê; logo desmente
Montando um mundo escuso e virtual
Jogando no porvir a pá de cal.

25156

As noites pululando em zil estrelas
O vento uivando adentra na janela
E toda a fantasia se revela
Nas ânsias e desejos de contê-las

Há tanto desejara enfim revê-las
Imagem deslumbrante que tão bela
Futuro extasiante agora sela
Na mágica ilusão de recebê-las

Deitando em minha cama, carinhosas,
Constelação soberba feita em rosas
Perfumes que saciam tais vontades,

Um sonho sem igual tão prazeroso
E nele esta promessa rara em gozo,
Realizada quando o quarto; invades.

25155

Sonhando com teus beijos noite afora
A vida se transforma em poesia,
Minha alma embevecida fantasia
E num sublime sol já se decora,

Enquanto a maravilha assim demora,
O amor em explosão conduz e guia
Quem tanto em solidão se maldizia
Vivendo uma emoção que se assenhora

Tomando já de assalto uma alma triste,
E vendo que o futuro ainda existe
Resisto e luto agora pela vida

Há tanto desprezada e sem sentido,
O amor abrindo então olhar e ouvido
Percebe esta esperança ressurgida.

25154

Os céus já se tornando raras telas
Romântico caminho se desnuda
A lua entre as estrelas já se escuda
Imagens deslumbrantes, raras, belas.

E quando neste quadro tu revelas
A sorte extasiante, uma alma muda
Expressa no silêncio e se transmuda
Rompendo as mais terríveis, duras celas

E liberta caminha em desvario,
Audaciosamente eu desafio
Catervas que talvez ainda tema,

E rompo neste instante tais grilhões
Enquanto em luz sublime tu expões
As marcas indeléveis desta algema.

25153

Morena; amar eu quero em cada cena
Mal importando o texto e a\qualidade
Enquanto este cenário amor invade
Entrega se mostrando intensa e plena,

Assídua maravilha desfrutada
Delitos cometidos, despudores,
Dos sonhos e delírios multicores
Um brinde que se faz à nossa estada

Vetustas ilusões? Reais momentos
E neles com total satisfação
Estrelas no infinito mostrarão
Caminhos que impedindo sofrimentos

Demonstrem diademas e colares
No iluminado céu, nossos altares.

25152

Da sorte que bem perto já me acena
Enveredando cada amanhecer
E sorvo da alegria e do prazer
Vontade satisfeita, agora plena,

Acasos entre lances discordantes
Volúpias nos encantam e dominam,
E quando nossos corpos determinam
Roubamos das estrelas, diamantes

Redemoinhos tantos, carrosséis
Rondando, a bela lua avermelhada
Trilhamos com certeza a mesma estrada
Bebendo em rara fonte, puros méis,

Numa explosão de fogos multicores
Celebração ao deus que traz amores.

25151

Dançamos nossos corpos nesta busca
Insaciavelmente não descanso
Aonde se pudesse algum remanso
Vontade é bem maior e logo ofusca

Numa ânsia incontrolável e insensata
Voracidade assim à flor da pele,
Ao gozo incomparável me compele
Enquanto este delírio me arrebata,

Desvendo os teus segredos, vago estrelas
Adentro estes fantásticos recantos
E envolto pelas teias dos encantos,
Delícias que procuro ora contê-las

Seguindo cada passo que tu deixas,
Alheio às mais diversas, toscas queixas.

25150

Ensimesmando hermético e monástico
Não tendo uma resposta que inda possa
Além de se mostrar nefasta fossa
Resolvo me calar num ato drástico.

Espasmódico rito me inebria
Em solilóquio, às vezes eu me indago
Galgando em desespero um vão afago
Insólita e canalha fantasia,

Esboço reações que não virão,
E teimo em provocar os deuses falsos,
Os santos que conheço são descalços
De toda forma amarga de ambição.

Inconfundível traço de união
Levando ao descaminho ou salvação.

25149

Em simultâneos jogos, treva e luz
Ascendências diversas sobre mim,
Demônio disfarçado em querubim,
Reflexo que se inverte em contraluz,

No gozo pelo gozo se disfarça
Imagem distorcida de algum deus,
Depois se preparando um vil adeus
Somente aí percebo a torpe farsa,

Envolto pelas ébrias fantasias
Querência superando o bem querer,
Na angústia insaciável do poder
Satânicas figuras já desfias,

E delas bebo até que esteja farto,
Enquanto de algum Éden já me aparto.

25148

Conflitos entre um ente e sua essência
Diversas magnitudes, mesmo ser,
Na luta quase insana posso ver
A morte do que fora uma clemência,

E não posso chamar coincidência
Aquilo que talvez sem entender
Desfruta sempre fútil tal prazer
E dele, só por ele, a penitência.

Limite feito amor, paz e perdão,
Vitoriosas hordas não verão
Já que o prazer embota enquanto tento

Conciliar as luzes divergentes
Enquanto o paraíso tu desmentes
Afasta-te de tal discernimento.

25147

Vultos quase informes do passado,
Apóiam-se no umbral e vejo bem
Que quanto mais a noite desce vêm
Tecendo um quadro amargo e assombrado

Vencido pela insânia, nada levo
Senão uma incerteza fria e atroz,
Ao abafar assim a minha voz
Destroçando a esperança que inda cevo

Deixando esta carcaça sobre o solo,
E peremptoriamente nada resta
Imagem destruída e tão funesta
Enquanto inutilmente eu já me imolo

Nas ímpias profundezas de minha alma,
Um distorcido luar traz a calma.

25146

Beligerantes forças me entranhando
Vivendo sem saber qual melhor sorte
Se aquela que deveras me conforte
E torne o pensamento bem mais brando

Ou mesmo a que me expõe em carne viva
E traz a fome insana e transparente
Voracidade imensa, fúria ardente
Aonde quem tem não foge sobreviva

Às várias intempéries do caminho,
Audácia a cada passo, salto e luta
Um louco caminhante não reluta
Da morte inconseqüente me avizinho

E crio paradoxos e os sustento,
Indiferente ao medo e ao sofrimento.

25145

Ladeira aonde expresso queda e dor
Ao mesmo tempo leva ao mais sublime,
Por tanto que estimule ou mesmo estime
Na frágil consistência deste andor,

Arruinando enquanto fortifica
Matando devagar, traduz a cura,
Além ou bem aquém do que procura
Uma alma que deveras não se explica

Tomada pelo medo ou pelo anseio,
Escrava dos pudores ou prazeres
Enquanto não decifras teus quereres
Em gozos desprezíveis banqueteio

O que virá depois, nesta fornada;
A paz eterna, a fúria ou mesmo o nada?

25144

Simétricos caminhos, paralelos
Levando aos mais diversos descaminhos,
Aonde se fizessem toscos ninhos
Apenas disfarçando em tais alelos

Metades discordantes, mas iguais
Levando ao Paraíso ou ao Inferno,
E quando nas estradas eu me interno
Externo os meus desejos sensuais

Limites sempre tênues, liberdade
Fazendo o desfazer ou recriando
E sendo quase sempre manso e brando,
Ao mesmo tempo enquanto se degrade

A vida na total dicotomia
Prazer que glorifica se recria.

25143

Esta engrenagem tosca se destrói
E nada poderá restituir
Após a sede imensa e sem porvir
Invés de cultivar, o homem corrói

E bebe a podridão que agora espalha
Tornando nossos rios simples valas,
E quando se percebe em tiros, balas
Saudoso das adagas, da navalha,

Explodem o seu tosco semelhante
E pensa ser um deus, vil criatura,
Retrato distorcido da amargura
Um bípede canalha e mal pensante

Esgota-se em si mesmo enquanto traça;
Da criação divina, mera traça.

25142

Seguindo os rastros vários que deixaste
Na curta caminhada pela Terra
Minha alma maravilhas já descerra
E tem nesta visão raro contraste

Quem dera se soubéssemos trazer
Da bela teoria às nossas vidas
Em bases tão mordazes sendo urdidas
Mormente se entranhando no prazer

Talvez aqui pudesse ser edênico
Lugar onde existisse a liberdade
Na faceta real que não degrade
Um mundo em luzes fartas e ecumênico;

Porém prostituído o verme vaga,
Endêmico demônio, podre praga.

25141

Fatídico momento se aproxima
Deixando mil cadáveres no chão,
E quanto às tempestades, sobrarão
As sombras do que fora outrora estima,

A marca da pantera em cada face
Descubro minha pele e vejo o quanto
Tomado pelo horror e desencanto
Ainda prosseguindo em vão impasse

Adentro os meus demônios e os decoro
Com todos os meus erros e pecados,
Urdidos pensamentos, desmembrados
Canibalesco verme, eu me devoro

Não deixo nem sinal de uma existência
Há tanto desfraldando incoerência.

25141

Fatídico momento se aproxima
Deixando mil cadáveres no chão,
E quanto às tempestades, sobrarão
As sombras do que fora outrora estima,

A marca da pantera em cada face
Descubro minha pele e vejo o quanto
Tomado pelo horror e desencanto
Ainda prosseguindo em vão impasse

Adentro os meus demônios e os decoro
Com todos os meus erros e pecados,
Urdidos pensamentos, desmembrados
Canibalesco verme, eu me devoro

Não deixo nem sinal de uma existência
Há tanto desfraldando incoerência.

25140

Espíritos venais soltando as feras
Esgarçam a esperança mais sutil,
Aonde este demônio refletiu
Aborto sonegando as primaveras

Efervescentes noites de neon
Mendigos e vadias pelas ruas
Nas ruínas do passado continuas
Mantendo o descalabro em mesmo tom,

E quando vês a foto: alto relevo,
Esboças reações horrorizadas
Depois esqueces tudo nas baladas
E segue Satanás em doce enlevo,

Assim para a total putrefação
Humanidade segue, sem perdão.

25139

Espionando ao longe, um astro vê
A sórdida e terrível criatura
Que enquanto se destrói vaga e procura
Insana uma verdade; mas não crê

Aonde se pudesse ter a sorte
Nefastas imundícies se espalhando,
O vendaval inglório outrora brando
Traduz o irresistível dom da morte

Um títere somente desce o rio
Os capitães do mato ressurgidos
Das feras incrustadas os rugidos
A liberdade é um torpe desafio,

Impávido o cadáver de um senhor
Transforma a servidão em vil louvor.

25138

Usando uma lanterna em noite escura
Qual fosse algum filósofo de outrora,
Aonde em que barril a alma se ancora
Deixando resolvida esta procura,

Há tanto se repete e sem bravatas
Histórias conhecidas e constantes,
Aonde imaginara diamantes
Os sonhos se derramam em cascatas

Não sobra nem sequer as mãos de quem
Há tempos se fez símbolo e disfarça
Inevitavelmente exposta a farsa
O tempo jamais poupa, enfim, ninguém,

Onde beijara agora só escarro,
Um ídolo banal com pés de barro

25137

Aonde se pensara em luz sidérica
Apenas sombras foscas e neblinas
Enquanto te denigres me dominas
Em voz estridulosa quase histérica,

A força necessária mesmo homérica
Já não comporta formas cristalinas
E quando desgrenhada te alucinas
Vontade insuperável fria e feérica

Jamais resistiria aos dissabores
Que explanas e derramas onde fores
Tornando assim inóspito o viver,

Herméticas saídas, labirinto,
Há tanto o amor imenso segue extinto
Deixando como rastro um desprazer.

25136

De uma alma que se perde, sentinela
Tentando o refazer em nova história
O quanto se perdera na memória
Aos poucos insolente se revela,

Apáticos caminhos desvendados
Medonhas as quimeras, pesadelos
Meus dedos quase sempre ao percebê-los
Adentram paraísos destroçados

E vejo nesta herética figura
Retrato insofismável do que fora
Outrora alma nobre e promissora
E agora noutra face se afigura

Provando do veneno que destila
No inferno virtual, se esvai, se exila.

25135

Sidérica ilusão em fogo e chama
Adentro alabastrinos espetáculos
Aonde imaginara vãos tentáculos
Efervescência adentra e em fúria clama,

Harmônicas essências bom perfume,
Sulfídricos fantoches se esvanecem
Enquanto insofismáveis luzes tecem
Nos olhos mais satânicos, o ardume

E o vento promissor de um novo dia
Arranca das entranhas; vil Mefisto
E impávido ou mordaz, ainda insisto
Nesta insana batalha em fantasia.

Imagem que se inverte especular,
Sorriso demoníaco a brilhar.

25134

Na rara rutilância da esperança
Que após as desventuras inda brilha
Escolta quem caminha e da armadilha
Refugiando ao longe ora se lança

Preparam-se solares compaixões,
Mas quando se percebe em vãos esgares
O quanto desejavas transformares,
Ausência de alegria, pois repões

E nisto perpetua-se esta espera
Refeita num florir sempre abortado,
Aonde se queria já granado
Inútil florescer da primavera

Que embora seja bela trama o luto
Desfeito quando expõe um novo fruto.

25133

Se eu trago aqui estigmas vários
Da torpe confraria dos humanos,
A cada vez que vejo em desenganos
Percebo quão nefastos os corsários

Eternos sacripantas, vãos insetos
Inermes criaturas, quais helmintos
Nos olhos cabisbaixos seus instintos
Levando aos dissabores mais abjetos

Chupins que se revezam noutras cenas
Seres fantasmagóricos, venais
Entranham-se quais fossem vis chacais
Ou mesmo as histriônicas hienas

Assim em descaminhos decorara,
A humanidade, aos poucos destroçada.

25132

O próprio sofrimento nos ensina
Que a vida se cumprindo como um fardo
Impede a consciência de algum cardo
Negando dos prazeres fonte e mina,

Emana-se deveras cristalina
A voz deste cantor, sobejo bardo,
Mas quando em caminhada, eu me retardo
Paisagem decomposta me domina.

Num êxodo constante não percebes
Quaisquer transformações nas velhas sebes
E bebes poluída insensatez.

Num abrasivo solo incandescente
A cena modifica num instante
E tudo o que era sacro se desfez.

25131

Carrego no meu dorso o fardo imenso
De quem tentou tramar escapatórias
Em noites tão soturnas quão inglórias
Sem ter em minhas mãos, o branco lenço.

Se às vezes no passado ainda penso
As bocas esfaimadas das memórias
Rasgando os pavilhões, matam vitórias
E assim sem ter mais nada, sigo tenso.

E em tais vicissitudes desprazeres.
Aquém do que talvez ao recolheres
Ainda imaginaras ser possível

Beber alguma gota da querência
Que morrendo ao relento em indulgência
Demonstra quanta a vida é perecível.

25130

Ao colher as flores do canteiro
De uma existência espúria e mesmo vã
Sabendo que talvez noutra manhã
O encanto se demonstre derradeiro,

A vida se perdendo no cinzeiro,
Na poesia, ancoro o meu afã
Distando da verdade que malsã
Esboça este fantoche corriqueiro

Exploro os descaminhos que não sei
Tampouco penetrasse em minha vida,
Há tanto sem remédio e já perdida,
Somente a fantasia gera a grei

Aonde possa ter felicidade,
Ao largo do final que me degrade.

25129

Heterogêneos rumos pela vida
Por vezes contradizem o que somos,
E deles percebendo vários gomos
Ao mesmo tempo enquanto não decida

Escolhas são difíceis, eu entendo,
Mas nada que te impeça de pensar
Na morte ou na passagem a tornar
Uma existência como um mero adendo

E dele ser possível ganho ou dano,
Escusas desventuras, belos ritos,
Momentos de loucuras nos aflitos
Terrores pelos quais eu já me dano

Princípio ou mesmo fim, já não importa,
Certeza há muito tempo eu vejo morta.

25128

Diversidade espúria em tom amargo,
Difícil carregar pesada carga,
E quando a voz se cala ou mesmo embarga
Letárgico momento em desencargo,

Num aterrorizante descalabro
Fenecem esperanças, turva turba
Visão do meu passado me conturba
E as escotilhas todas, teimando abro.

Naufrágios e corsários, ritos, farsas
Esgotam-se emoções em luzes pálidas
Aonde se pensasse nas crisálidas
Metamorfoses toscas,vis e esparsas

Assíduas as procelas, derrocadas
Embarcações há tanto abandonadas.

25127

Na multiplicidade do sensório
Prazeres entre lutas e batalhas,
Nas mãos deste verdugo, tais navalhas
No olhar ensandecido, altar, velório.

Esgares entre fúteis gargalhadas,
Esmagam cada parte, pernas, braços,
E quanto mais apertam estes laços
Palavras vão surgindo embaralhadas,

Fraturas cervicais, a morte vem,
Minuto interminável, vã tortura,
E incrível que pareça, bebo a cura
Distingo entre os carrascos este alguém

Que ao escarrar no rosto condenado,
Expõe-se como fosse abençoado.

25126

Amargas e insensatas sensações
Sevícias entre gozos e promessas
E quando em tuas pernas tu tropeças
Cadáveres diversos já me expões

Jazigos da esperança em luz sombria
Arcanjos disfarçados em demônios
Afloram sem controle, meus hormônios
E orgástica loucura se desfia

Bacantes gargalhares dionísicos
Vorazes garatujas caricatas
E quando os nós mais firmes tu desatas
Hemoptises traduzem gozos tísicos

Apodrecendo em vida, assim me exponho,
Na derme decomposta, odor medonho.

25125

Monótono caminho para a morte
Percorro diariamente e não percebo,
Um ser idiota; eu não concebo
Além do que deveras me conforte

Esqueço entre as vielas cada parte
Do todo que se fez estupidez,
Imagem desvalida que se fez
Servindo tão somente de descarte

Argutas armadilhas, arapucas,
Os dias são venais e não perdoam
As horas sempre fúteis já se escoam,
Prazeres que de antanho tu caducas

Resíduos minerais, espectros ósmicos
Sonhando siderais castelos cósmicos.

25124

Fluindo entre meus dedos, o futuro
Que tantas vezes quis e não sabia
Morria no descrédito; agonia
Eflúvios do passado em ar escuro

Não quero mais sentir a mão pesada
Do escárnio que desfraldas ao me veres
Tampouco apodrecer nestes quereres
Aonde se traduz o eterno nada,

Intensas sensações de dor e medo
Aventa-se possível liberdade,
Mas quanto a vida nos degrade
À fúria do não ser calo e concedo

Um último momento de esperança
Que ao fogo dos incréus minha alma lança.

25123

Ferozes sacripantas vis beatos
Nefastas demoníacas figuras
Imiscuindo insanas quase obscuras
Profanam natureza em torpes atos,

E desta horda maldita já se emana
O fétido terror que agora embrenha
Uma alma sem pudor, tudo desdenha
E bebe desta lástima mundana

Uivando, uma alcatéia; escuto ao longe
Confrades da caterva que se expõe
E a morte insaciável decompõe
Sorriso de um falsário, quase um monge

No alforje carregando escalpes tantos,
Espalham no arrebol, vis desencantos.

25122

Amargas sensações se repetindo
Avesso à claridade em trevas sigo,
E faço do sepulcro meu abrigo
A névoa se transforma em bem infindo

Opacas maravilhas, lusco fusco
E os mochos entre tantos pirilampos
Abrindo em noite densa, novos campos
Espectros; fátuos fogos, ora busco

Chacais se aproximando, e da matilha
O bote se prepara e descarnado
Cadáver do meu sonho abandonado,
Fosforescente ao largo ainda brilha

Os ventos entre as árvores ululam
E as sombras dos meus erros; vãs, pululam.

25121

Assisto ao meu horrendo e terminal
Momento sobre a Terra; um vão planeta
Enquanto ao subterrâneo me arremeta
Nefasta maravilha ritual,

Velando o corpo inerte exposto às larvas
Que enfim irão fartar-se em tal festança
Deixando no passado uma esperança
Em meio às vagas trevas, toscas, parvas,

E neste funeral a despedida
Há tanto deseja por parentes,
E a fera gargalhando, expondo os dentes
Carcaça pouco a pouco apodrecida

Resume uma passagem leda e inglória
E esboço num esgar, fatal vitória.

25120

Da consciência humana; nada herdado
Que possa traduzir felicidade,
Enquanto a redenção ainda aguarde
Bebendo a podridão do antepassado,

Extraviando a sorte em jogatinas
Audazes, mas estúpidos caminhos,
Vinagre destruindo raros vinhos
As dores são eternas concubinas.

Insaciável ser, tosco glutão
Não vê que destroçando o seu porvir
Na fúria inconseqüente, destruir
Tramando apocalipses que virão

Vendendo a salvação por uns trocados
Dantescos caricatos destroçados.

25119

Antíteses se mostram: gozo e dor
A vida se alimenta de outra vida,
E quando se percebe apodrecida
Uma alma leva à treva, ou mesmo à flor,

Reabastecendo assim, o eterno ciclo
Satânica figura; uma deidade
Escorre sobre a Terra a humanidade
E nela novamente eu me reciclo

Sabendo que depois virá decerto
Um ser evoluído ou mesmo não,
E quando se fizer tal mutação
Quem sabe outro caminho sendo aberto

Deste primata bípede um adeus,
Imagem semelhança de outro Deus.

25118

Fluidificando o outrora quase sólido
Caminho mais audaz, porém perverso,
Eu sigo ensimesmado e assim imerso
Transformo o pensamento em louco bólido.

Insólitos desejos em neblinas,
Cadáveres dos sonhos insepultos
Vislumbro de soslaio toscos vultos
Enquanto mais distante te alucinas

E bebes desta ingrata tentação
Gerada em uterinas podridões
E delas os demônios que assim expões
Belas alegorias mostrarão,

Imagem sedutora e tão formosa,
Entranha-se deveras prazerosa.

25117

Um dínamo que move terras, mares
Esta esperança atroz nos devorando
E sabe destroçar, pois desde quando
Erguera nos desertos seus altares

Alimentando a fome insaciável
Da tosca criatura que se vende
Enquanto falsamente se arrepende
Tentando um céu distante, imaginável.

Atravessando assim em descaminhos
Os passos de um bendito Criador,
Aonde poderia crer no amor
Apenas espalhando seus espinhos,

Jardins que outrora foram metas belas
Utópicas veredas; vãs, revelas.

25116

Galgasse cordilheiras e veria
A Terra em plena paz, bela e singela,
Mas quando mais de perto se revela
A fera intolerável não sacia

Da própria espécie expondo uma sangria
Apodrecendo o verde desta tela,
Gerando em coisas fúteis, torpe cela
Num consumismo espúrio, fantasia.

E chutando o mendigo, a prostituta
A canalha se julga mais astuta,
E serve a Satanás, o deus hedônico,

E serva dos prazeres e delírios
Prepara a cada dia, seus martírios
Num mundo sem justiça e desarmônico.

25115

Do que será capaz a humanidade?
A torpe turba segue ao cadafalso
Gerado pelo próprio gozo falso
No escárnio e insensatez que tudo invade

Por mais que a cada dia se degrade
Não vê, corja imbecil, novo percalço
E segue este demônio e neste encalço
O nauseabundo odor mostra a verdade.

Acossando corsários siderais
Na fúria inesgotável, animais
Em total desvario negam luz.

E enquanto este cordeiro, eterno luto,
Bendito dentre todos, uno fruto
Lacrimejando exposto em fria cruz.

25114

Audazes os espectros dos alquímicos
Modernos caricatos, santos vãos,
Espalham pela Terra podres grãos
E seguem descaminhos, toscos, cínicos.

Seria na verdade até grotesca
Não fosse tão terrível pantomima
Que enquanto nos saqueia também prima
Pela voracidade gigantesca,

Já bastaria a Vós, querido, a Cruz,
Caterva imunda bebe todo o sangue
Até que este cadáver ora exangue
Com ossos já puídos, rotos, nus

Levante-se e feroz mostre outra face
E toda a humanidade, em paz, desgrace.

25113

A força de uma crença incontestável
Mantém superstições medonhas vivas,
Por mais que existam luzes cognitivas
Reproduz-se a figura detestável

Criada por astutos bandoleiros
Há tempos nos concílios e tratados,
Medonhos caricatos desgraçados
Vendendo falsos santos, corriqueiros,

Seria muitas vezes enfadonho
Não fosse tão cruel farsa canalha,
Enquanto o pobre Cristo em vão trabalha
Na viva consciência que ora exponho,

Os homens sem defesas andam nus
Expostos aos vorazes urubus.

25112

Fenômenos que outrora pareciam
Sinais de Deus ou mesmo dos demônios
Nas ânsias e delírios dos hormônios
Delitos e pecados propiciam,

Por vezes não sabemos explicar
E logo vem à tona outra crendice
A história tantas vezes contradisse
Loucuras, convulsões, treva ou altar

E assim entre fantasmas, santidades
Vivemos até hoje em ignorância
Terrível desvario ou discrepância
Contradições espúrias, novidades.

E a corja insaciável continua
Em cada templo, igreja até na rua.

25111

Contraídos, os músculos da face
Expõem estas verdades que inda oculto,
Satânico caminho, espúrio culto,
A cada novidade que desgrace

Momento quis pacífico, outro estorvo
Esgotos freqüentados com regalo,
E quando vejo a cena, nada falo,
Na fria expectativa, qual um corvo

Espero rapineiro, o fim de tudo,
E nos escombros fétidos mergulho,
Revolvo estas escórias, pedregulho,
Nos túneis entre corpos, não me iludo,

Por mais que a realidade se degrade
Encontro uma real felicidade.

25110

Percebo neste século nefasto
As nuvens que negrejam nossos dias,
Das brumas e neblinas percebias
As sombras do futuro e se me afasto

Encontro a cada infausto outro motivo
Fomentando o terrível pessimismo
Espero o derradeiro cataclismo,
E enquanto isto não vem, eu sobrevivo.

Ascendo aos meus infernos, paz e guerra,
Soturnas paisagens, podres lagos,
Aonde imaginara alguns afagos
O que se fez carícia ora se encerra

Restando tão somente este abismal
Caminho para o rito terminal.

25109

Gargalha em ironia uma alma insana
Bebendo destes charcos, me alimento
E quanto mais audaz; ledo tormento,
Verdade incontestável nos engana,

Esgarçando os meus pés em espinheiros,
Pereço a cada dia em que me ausento
Deste vigor terrível, violento,
Momentos que bem sei são derradeiros,

Dilacerada há tanto uma esperança
Numa espectral imagem, decomposta,
A carne se desfaz em pasta exposta
E ao tétrico vazio já me lança

Amputo cada sonho, demoníaco
No olhar envilecido de um maníaco.

25108

Na milenária dor hereditária
Carrego em convulsões os meus demônios,
Quais fossem realmente patrimônios
Entranhados em mim qual alimária

Vestindo esta macabra fantasia
Edênicos caminhos desconheço,
E quando me perguntam o endereço
Satânica resposta já se urdia

Surgindo dos meus ermos, fartas brumas
Rendendo as homenagens a Satã
A vida se resume neste afã
Deveras, companheira, ora te esfumas

E seguimos nos pântanos o caminho
Enquanto nos escombros eu me aninho.

25107

No subsolo encontrando as minhas luzes
Servindo de repasto a tais necrófagos
Durante a minha vida em vãos sarcófagos
Imagem que deveras reproduzes

Em celerados rumos, desconexo
Vagando entre as penumbras, solidão,
Somente os desvarios mostrarão
Além deste prazer de sangue e sexo.

Esgoto-me nas trevas e neblinas
Medonhas caricatas criaturas,
E quando embasbaca tu procuras
Motivos pelos quais já te alucinas

Encontras no meu rosto o especular
Delírio que ora entranhas sem pensar.

25106

Com avidez rasgando a minha pele
As garras entranhando, vão profundas
Sorvendo do veneno que me inundas,
Satânico caminho me compele,

E sei que talvez possa ser feliz
Bebendo deste sangue ensandecido,
E quando meus fantasmas eu agrido
A realidade invade e contradiz

Espúrias fantasias vãs quimeras,
As ondas deste mar tão poluído
E a fúria insaciável da libido,
Afloram-se famintas, loucas feras

E sei que assim encontro algum motivo
Que possa me manter; ainda, vivo.

25105

Bravias tempestades, vendavais
Explodem-se em pedaços, restos vários,
Aonde houvera gritos temerários
As garras; em silêncios, entranhais

E expondo com terror esta ossatura
Entregue aos vossos torpes desatinos
Olhares piedosos e assassinos,
Um ar mais respirável se procura

Não tendo mais saída; sigo entregue
E tudo em tal volúpia; ensandecida
Vós devorais o que restou de vida
Demônio in saciável não sossegue

Enquanto ainda houver respiração,
O resto; as rapineiras findarão.

25104

Ardendo em febre e quase entorpecido,
Heréticos demônios me acompanham
Espaços, pouco a pouco, vêm e ganham
Do corpo há muito tempo esvanecido,

Empedernidas rotas, voz sombria
Arquétipos de sátiros fantasmas
As horas em silêncio, vagas, pasmas,
No olhar enlouquecido, uma agonia.

Olhando para trás percebo a causa
Das pútridas veredas que ora entranho,
Um ser se decompondo, vão e estranho,
Inútil meu lamento, peço pausa

Mas tudo se acelera e dos destroços
Só restarão cabelos, sombras e ossos.

25103

Erguendo o meu olhar em ânsias várias
Esquivo-me de espectros do passado,
Encontro o meu cadáver; transtornado
Visões tão funestas, temerárias

Demônios me rondando, sombras, trevas
E esta figura insólita sorri,
Percebo que este eflúvio vem de ti
Enquanto uma alma espúria; ao largo levas

Eviscerado; aguardo o meu final,
Agônico e jogado às rapineiras
Nas sombras; com sarcasmo tu te esgueiras
E o corpo decomposto, cheira mal,

Escombros do que fui; agora ao vê-los
Adentro; sepulcral, meus pesadelos.

Thursday, February 18, 2010

25102

A lua sobre a areia, plena, imensa,
Na eterna mocidade se desnuda
Transcende à própria vida e nos ajuda
A crer na eternidade em recompensa,

Permita que minha alma se convença
Que mesmo tão pequena e até miúda
Jamais se omitirá, ficando muda
Derrame-se em força rara, pois intensa.

O tempo vai criando as armadilhas
E nelas mal percebes quando trilhas
Vagando muitas vezes sem destino.

Mas saiba que da luz somos reflexos,
Por mais que se procurem rumos, nexos,
Sob as garras venais me desatino.

25101

Permite que voemos fantasias
O cálice do amor feito em cristal
Trazendo ao mesmo tempo mel e sal
Aporte de emoção, duras sangrias,

Destrói e reconstrói em poesias
Naufraga enquanto ancora a velha nau,
Relevos entre o bem, o medo e o mal,
O amor é muito além do que sabias,

Vivê-lo em plenitude, dor e glória,
É lua que extasia, merencória
Bastante, mas deveras incompleto,

É sim que prenuncia a negação
É neve temporã, toma o verão,
Maldito sentimento, o predileto.

25100

Nós dois, entranhados de magias
Procurando esta alquímica poção
Aonde as alegrias mostrarão
Delírios mais diversos que querias,
E além destas divinas fantasias
O amor que nos ensina esta lição
De solidariedade, vinho e pão
Que em mágicos momentos tu recrias.

Erguendo ao grande amor imenso altar
E a cada anoitecer poder louvar
Em forma de prazer e de atitude
Quem tanto nos renova e nos permite
Sonhar sem ter fronteiras nem limite
Mantendo viva em nós, a juventude.

25099

Na treva, a solidão, seguira os passos
De quem me abandonara há tantos anos,
Somente no caminho, desenganos,
Sequer eu percebera leves traços

E agora depois disso, os olhos lassos
Esqueço do passado; velhos planos
E os dias que virão, tolos e insanos
Na ausência do calor de teus abraços.

Excêntricas paisagens, pesadelos,
E quando me percebo a revolvê-los
Encontro o desvario por resposta,

A sorte se ausentando dos meus dias,
Restando tão somente as poesias
Minha alma entre os espectros segue exposta

25098

“De tanta inspiração e tanta vida”
A poesia traz em suas sanhas
As luzes e os terrores onde entranhas
A sorte tantas vezes esquecida,

Traçando desde o encontro à despedida
Enquanto em suas águas tu te banhas
Ou mesmo em seus espinhos tu te arranhas
E quando te serena abre feridas

Verdugo que apazigua e mesmo cura,
Nas ânsias mais diversas diz loucura,
Da forma que te alerta já te engana,

Esculpe com palavras, canta em versos
Tecendo em suas frases, universos,
Das artes, com certeza, a soberana

CITAÇÃO DE ÁLVARES DE AZEVEDO.

25097

Na noite que se vai; em nada penso
Somente nas angústias que trouxeste,
Aonde imaginara luz celeste
Eu vejo este vazio, agora imenso,

E quando noutras sendas eu compenso
A dor de me saber alheio e agreste
Colhendo o dissabor que tu me deste,
O amor transcorre vago e sempre tenso,

Audaciosamente quis a luz,
Porém quando ao vazio me conduz
O sonho que deveras fora belo,

As ondas deste mar destroçam tudo,
E mesmo quando insano eu já me iludo
Ruínas o que resta do castelo.

25096

Deixando bem distantes, agonias
Não posso mais voltar a ter nos olhos
Somente estes temores, tais abrolhos
Que a cada nova ceva sempre crias,

Estraçalhando assim a poesia,
Vencendo com terror farta beleza,
Aonde se pudera ter leveza
Apenas tempestade ainda urdia

Quem tanto eu desejei; fonte de sonhos
E agora percebendo esta cilada.
Não acredito, pois quase em mais nada
Os dias que virão serão medonhos

Marcados pelo medo e pela dor,
Matando em nascedouro, cada flor.

25095

As marcas desenhadas numa areia
Demonstram que passaste nestas plagas
E enquanto a fantasia; assim afagas
A lua se derrama bela e cheia,

O amor incomparável nos rodeia
E dele estes prazeres quais adagas
Penetram mais profundo em noites magas
Trazendo tudo aquilo que se anseia,

Descreves com carinho cada fato
E quando neste instante eu me arrebato
Tomado por insânia e insensatez,

As ondas deste mar ficam mais fortes,
Sabendo que deveras me confortes
Após a tempestade que se fez.

25094

Por certo as ondas levam e as marés
Transportam os desejos mais atrozes
E quando ouvindo ao longe belas vozes
Olhando calmamente de viés

Mergulho neste mar e te procuro,
Qual fosse a mais perfeita das sereias,
E mesmo em oceano, ora incendeias
Imenso fogaréu tomando o escuro,

E sinto um raro encanto quando cantas
E as ânsias se transformam; maravilhas,
E sinto quanto mais querida, brilhas
As forças que me impelem sendo tantas

Num átimo percebo ser feliz,
E em ti encontro tudo o que mais quis.

25093

Depois nada encontrando, quem rastreia
Espera pelo menos um momento
Aonde se permita um pensamento
Tramando em noite clara a lua cheia

Vencendo a tempestade que rodeia
Sagacidade implícita no vento
Enquanto nos teus braços me acalento,
A vida em plenitude uma alma anseia

Vestindo as ilusões que tanto quis
Podendo finalmente ser feliz
Não tenho mais desculpas, quero além

De todo o sentimento que concebo
No amor em magnitude que recebo
A paz que imaginara ele contém.

25092

Nas marcas das pegadas sigo o rastro
Por onde caminhaste noite afora,
E quando esta saudade já se aflora
A vida vai perdendo rumo e lastro,

E quando pelas sendas eu me alastro
Buscando quem mais quero sem demora,
Imensa ansiedade me devora
Guiado pela lua ou qualquer astro

Que possa refletir tanto fulgor
Produto soberano deste amor
Aonde se percebe a claridade

Imensa que transcende à própria vida
E o que já fora outrora vaga ermida
Agora em luz intensa já me invade.

25091

Testemunhas do amor que sei demais
Enquanto tal beleza maravilha
Uma alma que deveras bebe a trilha
Aonde vós deveras já passais,
Sabeis destes soberbos, magistrais
Momentos onde o sol mais forte brilha
Por mais que amor traduza uma armadilha
Reflete em si pureza dos cristais.

E quando me entregando sem defesas
Às fortes e soberbas correntezas
Jamais me impediria de seguir
Sabendo quão difíceis as cascatas
Porém suas passadas mais exatas
Levando-nos a um manso e bom porvir.

25090

Roubando de meus lábios, tentação
Angustiadamente a vida trama
Delírios entre trevas, luz e chama
Trazendo a fantasia ou mesmo o não,

E quando se transforma em solidão
Ou claro amanhecer ela já trama
E para um belo sol ela nos chama
Mostrando os brilhos tantos que virão

Esboçando a um só tempo; guerra e paz
E enquanto nos maltrata satisfaz
Esta ânsia dolorosa de um prazer,

Esqueço os dissabores, dessedento
Angústias preconizam tal tormento
E nela muitas vezes ser/não ser.

25087

Aflora no meu corpo tal desejo
Vontade de fazer da poesia
Além de simplesmente quente ou fria
Momento de prazer real, sobejo.

E quando me percebo logo vejo
Que tudo não passou de alegoria,
Quem sabe não duvida e até recria
Da própria morte a sorte de um lampejo.

Mas sei que o verso em rimas é tão chato
E quando a realidade desacato
Pareço um Don Quixote ou arremedo,

E tento disfarçar minha ignorância
Rimando com total deselegância,
Porém sigo teimoso e nunca cedo.

25088 - com estrambote

Que invade minha vida, com vontades
E tramas com delírios novas sanhas,
Assim querida amiga, tu me assanhas
E depois que consegues; logo evades;

(Assim é minha dura realidade,)

Ao mesmo tempo sonhos ou verdade
Loucuras e mentiras são tamanhas
Planícies contrastando com montanhas
Escuridão traduz a claridade.

Dos falsos brilhos sei me que cansei
E quando procurando noutra grei
A porta com certeza está fechada

Assim no perde e ganha a vida passa,
Mas sei que um dia então será da caça
E a caçadora foge, em debandada...

25086

Querendo sempre mais enfim prevejo
Que o fim se determina a cada dia,
O quadro aonde a luz diversa urdia
Aquém da realidade do desejo,

Expressa a fantasia que ora almejo,
Mas sei o quanto a vida me esvazia
Sonego passo a passo a fantasia
E tudo no final trazendo o pejo,

Faltando ao macarrão um molho e o queijo
Que faço se esta boca não mais beijo
Tampouco algum carinho tu me dás,

Assim o barco esquece cais e porto,
E o amor que tanto quis agora morto
Descansa eternamente em chata paz.

25085

Em nossa cama fogo e sedução
Mentiras que tratamos de esconder
Nas ânsias delicadas do prazer
As noites brancas ora mostrarão

Que tudo na verdade foi em vão,
E tendo novo rumo a escolher
Seria bem melhor o refazer
Num outro caminhar noutra paixão.

Mas tudo se perdendo no marasmo,
Ausente há tanto tempo ansiado orgasmo
O que nos alimenta é o dia a dia,

E dele se repete a ladainha
Diversa da que o sonho já continha,
E o nada vezes nada ora sacia?

25084

Ouvindo a voz sombria do passado
Sombras do que já fora outrora glória
O quadro se esvanece e nova história
Navega pelo mar entregue ao Fado

Escuto esta canção tão merencória
Tentando o renascer do abandonado
Ourives da palavra, destroçado
Jogado pelos cantos, vulga escória

Águas que nunca movem mais moinho
Medonhas tempestades e sozinho
Ousando ter nos olhos o fututo

Restando tão somente este vazio
Resisto e quanto mais eu desafio
Encontro o mesmo nada e não me curo.

25083

Deitando do teu lado, amor; lateja
Vontade de sentir teu pleno gozo,
O mundo do teu lado mavioso
A sorte se demonstra mais sobeja

Desvendo os teus mistérios que alma veja
Caminho delicado e prazeroso,
Um pária no passado, um andrajoso
O paraíso encontro e em mim poreja

Delírio feito em glória e divindade,
Bacanta fantasia rompe a grade
E tudo se transforma loucamente,

O todo se transborda num segundo
E quando nos teus mares me aprofundo
Uma explosão em luzes se pressente.

25082

E vens tão delicada, bela e nua
Tomando este cenário, louca atriz
No altar não sei se santa ou meretriz
Desvarios causando enquanto atua

E a noite se deleita em rara lua
O amor feito em prazeres não desdiz
A fúria emoldurada e sou feliz,
Vontade repartida, minha e tua,

E dessedento assim minhas vontades,
E quando paraísos tu invades
Derramas sobre mim, orvalho intenso,

Umedecendo em gozo este lençol,
A lua se entregando ao louco sol,
Do etéreo enlaguescer, já me convenço.

25081

Vibrando em mil vontades, a emoção
Transcende ao próprio ser ao traduzir
O quanto do total posso despir
E o quanto necessita proteção.

Nudez que com palavras mostrarão
Diversas muitas vezes do sentir
E quando me pecebo a impedir
Do meu eu a total devastação

Fingindo ou mesmo até mais verdadeiro,
Enquanto me entregando já me esgueiro
E nunca saberás quem sou de fato,

Por vezes no vazio ou no infinito,
Etereamente explícito conflito,
No ser ou poderia, eu me retrato.

25080

Deslinda-se em loucuras, sempre mais
Quem tanto desejou e não sabia
Que a vida é feita em lágrima e alegria
E assim momentos vários nos bornais,

Enquanto ao mesmo tempo, doces, sais
Não posso sonegar a fantasia,
E a realidade após retornaria
Metades se encaixando, desiguais,

Traduzo o que serei no que já fui,
E tudo desta forma ainda flui
Levando à foz diversa em mar incerto,

Mas quando me pergunto se eu desejo,
Início sem ter fim ou meio; almejo,
Porém qualquer desvio e já deserto.

25078

E a noite sem juízo, continua
Deixando nos motéis, os automóveis,
Indóceis passageiros, novos móveis
E a casa prosseguindo quase nua.

O quadro trasnfigura-se deveras
As cores são diversas das que eu vira,
E quando reunindo cada tira
A colcha de retalhos crias; geras.

Metade do que aprendo já deleto
Outra metade; esqueço dia a dia,
E quando o coração não fantasia
Cenário do viver fica incompleto,

Brincando com palavras, lavro a vida,
Adentro esta porteira. E a saída?

25079

Aporto tuas pernas, acho o cais
E sinto este arrepio benfazejo
O fim desta viagem, pois prevejo
Em ânsias e delírios magistrais,

Mas quando perceberes nunca mais
Virás satisfazer nosso desejo
O amor não poderia ser lampejo,
Que faço se tão pouco diz demais.

Eu sei que na verdade é movediço
O sentimento ao qual já não cobiço,
E trago em minhas mãos a velha adaga

De quem se defendendo contra-ataca
Os gumes tão diversos desta faca
Arranham no momento em que se afaga.

25077

Desfruto e quero sempre, cada flor
Ainda quando espinhos ela traz,
Assim vivendo em guerra busco a paz,
E nela com certeza o bem do amor.

A vida tem mistérios a propor
Alguma vez percebo pertinaz
Caminho que trilhando mais audaz
Permita no final, prazer ou dor.

Esqueço-me deveras do passado,
E bebo do futuro, extasiado,
Galgando um novo passo a cada dia,

Mas deixo para trás o que não serve,
Somente o que faz bem a alma conserve
E a cada amanhecer já se esvazia.

25076

E estouro sem limites, sem pudor
Porteiras que se fecham ao passado,
Um canto; há tanto tempo abandonado
Não posso desta forma, te propor,

Viver a plenitude e como for,
Deixando o apodrecido assim de lado,
Com pince nez e unando o amarrotado
Terno onde vejo a traça a decompor

Velhusco eu não traduzo por velhaco,
Axila; agora eu chamo de sovaco
E tudo o que se faz valendo a pena,

Perdoe este mofado cavalheiro
Das velharias toscas, companheiro,
Enquanto este futuro ao largo acena...

25075

Em secretos caminhos tão audazes
A juventude faz ao velho a troça
E quando desconhece uma carroça
Diversas novidades; tu me trazes,

Meus olhos; me perdoe se incapazes
De verem quanto a vida se remoça
E bebem da cachaça lá da roça
Enquanto; outra mstura; agora fazes.

Quem vive do passado é um museu
E tudo o que eu sabia se perdeu
Na nova maravilha feita em brilho,

Assim velho gagá, sem ter apoio
Distante e me isolando do comboio,
Estrada em pó, poeira, ainda trilho.

25074

Além do que pensaram incapazes
A morte desta estúpida quimera
Também levou consigo a primavera
Nas mãos das vagas turbas, vãs tenazes,

E tanto quanto eu posso já desfazes
E matas o que a vida não tempera,
Esqueço e combatendo a tosca fera
Os versos são apenas mais mordazes.

Arcaica poesia tão velhusca
Enquanto a novidade sempre busca
Formatos variados para o tema,

Mas sei que a liberdade diz nos versos
De outros caminhos vários e diversos,
Somente o desfazer o feito, algema.

25073

Audácias e loucuras, quero mais;
Mas sei que o canto é frágil e diz passado,
O sonho de um poeta ultrapassado
Revelam sonhos toscos e ancestrais,

Aonde se quiseram tais cristais
O verso que ora trago está mofado,
Camoniano sonho destroçado,
Os dias se repetem sempte iguais,

Neons toamando a cena, pobre lua,
A realidade, o vate desvirtua,
Combate tão inútil já não faço,

E sei que meu cantar envelhecido
Há tanto pelos cantos esquecido
Não deixará sequer um resto, um traço.

25072

Nas horas prazerosas entornais
Delírios que vós vedes nada valem
Bem antes que estas vozes já se calem
Ainda quero crer possível cais,

E tudo se transforma em vãos jograis,
E neles as certezas que me abalem
Do tanto que não vale, e me avassalem
Os versos que em verdade são banais.

Ausente da esperança; eu sinto em vós
Aquém do que pensara em mansa voz
O fim de um tempo aonde imaginara

Possível ter na lira alguma luz,
Ao nada onde deveras reproduz
Vazio em noite intensa, mas amara.

25071

As pistas para os sítios mais vorazes
Deixaste como um rastro em noite clara,
E o amor que tanto entranho quanto ampara
Traduz o quanto queres e me trazes

E quando balançando as minhas bases
Uma hora divinal e outrora rara
A porta dos delírios escancara
Fomentando os anseios mais audazes.

Escuto a voz de um tempo em que este encanto
Que agora ao vento lanço quando canto
Tramava maravilhas, mas inúteis,

Os sonhos esquecidos nalgum canto,
E tudo se tomando em vão quebranto
Os dias se repetem; ocos, fúteis.

25070

Nas guerras e nas lutas, tréguas pazes
Momentos de completo desvario
Ao mesmo tempo a seca traz ao rio
O quanto já não queres ou desfazes,

E quando me maltratas, satisfazes
A cada novo tempo me recrio,
E neste velho e tolo desafio
Parceiros de tormentos tão mordazes,

Na luta e na batalha eu te desnudo
E sinto que tu vens, mas sei, contudo
Jamais te mostrarás assim inteira,

E desta forma a vida nos engana,
Ao mesmo tempo escrava e soberana
Quem sabe mentirosa ou verdadeira?

25069

Nas grutas e montanhas das Gerais
Eu tive os dissabores e as delícias,
Os ventos entre as flores, as carícias
Dos tempoe que não voltam nunca mais

Mineiro sem ter mar, procura um cais
E dele sequer tendo mais notícias
Exponto o coração às vãs sevícias
Enfrenta tempestades magistrais

Sabendo diamantes, turmalinas
E quando apaixonado, me fascinas
E mostrando outra face, serenata

A fonte dos desejos habitando
Aonde fora manso e quase brando,
A fúria de um delírio se desata.

25068

E assim, espaços rotos, descobertos
Delitos cometidos, erros básicos
Os dias se repetem sendo fásicos
Às vezes pelas nuvens, encobertos,

Assisto à derrocada da esperança
E quando se desnuda esta tragédia.
Não minto e nem sequer faria média
Medonha tempestade à qual se lança

Despudoradamente o ser humano,
Astuciosamente a serpe ri,
E quando mal percebo estou aqui
E a cada novo dia mais me engano,

Matando o que talvez inda salvasse
E a vida num terrível; vão impasse.

25067

Nos nichos mais profundos, vãos abertos,
Delírios sem delitos ou pecados,
Momentos mais audazes e safados,
Alagam com prazer os teus desertos,

E sinto num espasmo, descobertos
Desejos entre fúrias desvendados
Os dias em delícias decorados
Os rumos antes vagos, ora certos.

Hedônicos desfiles, gozo e mágica
Aonde a vida fora outrora trágica
Se expressando diversa maravilha

O coração agora em liberdade
Algema-se ao calor que adentra e invade
E em plena noite escura, imenso, brilha.

25066

Adentro sem juízo e sem paragem
Searas onde o amor se faz inteiro,
E sendo dos meus sonhos, mensageiro
Encontra no teu corpo esta estalagem,
Perfaço repetindo tal viagem
Caminho tão gostoso e costumeiro
Delírio se torndando corriqueiro,
Aonde outrora fora uma miragem.
Fronteiras; desconheço e quando entranho
Defesas, barricadas, onde antanho
Jamais imagiara poder ter
As fartas maravilhs que me dás
E nelas reconheço sou audaz
Na ansiedade explícita, o prazer.