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Saturday, December 2, 2006

Amando quem não amava
Amado por quem amei
Tanto tempo assim passei
E nada me completava.
Um dia quis ter Maria
Mas Maria não me quis
Com Renata fui feliz
Mas não durou nem um dia.
Maria vendo Renata
Agora Maria quer
Eu não entendo a mulher
Quanto mais ata, desata.
Vou fazer um juramento
De não tentar entender
O siso quero manter,
Se não vai perdido, ao vento...
Os enganos que, hoje, faço
São causados pelas dores
Que vieram dos amores
Que perderam forte laço.
Esperando teu abraço,
Vou vivendo sem prazer
Meu amor, como é incrível,
Viver um sonho impossível
Como é possível viver?
Assim vou ficar louco
Sem saber se tu desejas
Embora, nestas pelejas,
O POSSÍVEL SEJA POUCO!
As rosas do meu jardim
Procuram por olhos teus,
Que, um dia, já foram meus,
Mas nada encontram, no fim.

Elas e todas as flores
Sabem todas dos meus ais.
Também sentem minhas dores,
Pois não voltarás jamais!
Amor vendo que sofria
Por causa do bem querer
Que me fazia sofrer
Fosse de noite ou de dia.
Em conjunto com destino
Tantas fez que isso mudou,
Mas a saudade chegou
E voltou o desatino.
Nessa briga quem sofreu
Os males desta saudade
Que nascem na tempestade
Em trevas escuro breu.
Uma quer que não mais ame
Outro quer que eu sempre adore,
Uma quer que sempre chore
Outro quer que eu não reclame.
Que faço Meu Deus da vida?
A quem obedeço enfim?
Onde quer que eu me decida
Eu irei sofrer no fim...

Pena de Mim

Conheço desde menino
A dor que tanto me dói
E, que aos poucos, me corrói
E domina o meu destino.
Amor sempre me ordenou
Que eu tentasse ser feliz
Mas, vivendo por um triz,
Todo o meu rumo trocou.
Se nada mais me oferece
O destino traiçoeiro
Amor assim verdadeiro
Na vida não aparece.
Vivo sem tranqüilidade
Pedindo só teu amor,
Em troca recebo a dor
E a danada da saudade.
Vou levando, assim, a vida,
Sempre sofrendo no fim
Até que alguém se decida
E tenha pena de mim...

AMOR QUE TORTURA

Amor que tortura
De noite na cama
Que apaga essa chama
Faz a noite escura
Maltrata demais
Não deixa que eu ame
Nem quer que reclame
Já não satisfaz.

Amor que maldito
Me trouxe veneno
Amor tão pequeno
Me deixando aflito.

Não vê que te quero
Morena faceira
Minha vida inteira
Em ti me tempero
E perco o juízo
Não foste bondosa
Perdi minha rosa
Cadê paraíso?

Sem amor sou ninguém!

O mundo, meu inimigo
Não permite que te tenha
E, muito menos, que venha
Viver a vida comigo
Pois sei que temes perigo.

Mas perigo não te trago,
Meu amor protegerá
Estando aqui ou por lá
Só darei o meu afago,
Amor com amor, eu pago.

Mas se não queres vir
O que vou fazer da vida,
Pois, pense nisso e decida
Tudo que posso pedir,
Pois nada pode impedir

Um amor quando se tem,
Não há nada que convença
Em amor a recompensa
Que em amor já me convém.
Pois sem amor, sou ninguém!

Princípio e Fim

Vencido pela saudade
Deixado na solidão,
Vai batendo o coração
Sem saber felicidade.
Procuro uma novidade
Que me traga teu perdão
Pelas ruas da cidade,
Mas só escuto teu não.

Tanta dor e tanto engano
Que já tive nesta vida
Meu amor logo decida
Qualquer que seja teu plano
Amor sempre soberano
Minha noite está perdida
Minha sorte decidida
Não quero viver insano.

Não me fale que esqueceste
Desse amor que tanto quis
Por eles vou infeliz
Em nada te convenceste.
Pois logo te aborreceste
Com os versos que te fiz,
Da saudade sou matiz
Desde que, amor, perdeste.

Nada faço sem perder,
Minha vida é incompleta
Nem consigo ser poeta
Quanto mais te convencer.
Tudo que quero saber
Qual teu rumo, tua meta.
Minha vida se completa
Nesse amor que quero ter,

Tua boca carmesim,
Tua pele de alabastro,
Meu amor perdeu o lastro,
Tenho que viver assim?
Mas eu tento até o fim.
“No meu céu, tu és meu astro,
Por isso sigo teu rastro,
És princípio e és meu fim...”
Bebendo do vento
A brisa que deu
A todo momento
Coração ateu
Não sabe da noite
Que trouxe esse frio
Coração vadio
A cada pernoite
Procura por ela
Que nada me fala
Coração se cala
E nada revela.
Total perfeição
A moça que tinha
No meu coração
Virou avezinha.
Fugiu desse ninho
Que tanto sofreu
Sou qual passarinho,
Que, triste, morreu!
Eu amo essa moça
Que já não me quer
De que serve a louça
Sem nenhum talher?
Procurando teu olhar
Nos olhos que não concebo
Onde posso te encontrar
Buscando não te percebo.
Nem nas estrelas que vejo
Nem na lua te antevejo.

Tenho os meus olhos cansados
De buscarem olhos teus,
Noites claras, calmos prados
Nuvens chumbo, negros breus.
Até no mar te procuro
No passado e no futuro.

Tanto tempo que te quero
Mas não sei mais onde estás.
Amor que tanto venero
Sem te ter cadê a paz?
Não vejo sequer pedaço
Vou perdendo p’ro cansaço.

Depois de muita insistência
Agora que me cansei,
Já quase sem paciência,
Depois de tudo, encontrei.
Do começo até o fim,
Escondida dentro em mim!

Amor e Ilusão

Eu nunca mais terei alguém assim
Que me traga o sorriso a cada dia
E me mostre que amar é poesia
E que o bem dessa vida não tem fim...

Que sorria comigo meu sorriso,
E que traga esperança no olhar.
Que saiba simplesmente amar,
Construindo sem dor, o paraíso...

Alguém que caminhe meu caminho
Pelas trevas e breus da solidão
Que saiba, delicada, dizer não,
Mas me traga a certeza em nosso ninho.

Eu jamais poderia me esquecer
De tudo que vivemos, nesta vida.
A dor que me trouxe esta partida,
Em meu peito, calando, faz sofrer.

Nunca mais poderei ser tão feliz,
Ao perder tudo aquilo que já tive,
Vontade de morrer, eu mal contive,
O meu céu, da tristeza fez matiz.

Toda noite que passa, inda procuro
Os olhares mais belos que existiram
E, que desde o momento que partiram
Tudo, no meu viver, ficou escuro...

Mas, à noite, sozinho no meu quarto,
Quando esse vento bate na janela,
Eu bem sei que decerto é, de novo, ela.
E nos seus braços, louco, então me farto.
Os céus estão em festa, meu amor!
Um ano a mais vivendo essa ventura
De estar ao lado teu, tanta ternura,
O mundo todo mostra este esplendor.

Recordo-me das noites que passara
À espera deste bem que nunca vinha.
Uma alma não suporta, se sozinha,
A dor que nos maltrata e desampara.

Por tanto que passei sem ter ninguém
A noite sem ter sonhos, enfadonha.
Promessas de uma vida mais risonha,
Na busca em desespero por um bem...

Em meio a tempestades que chegavam
Dos dias solitários que previa.
Embalde sem saber d’uma alegria
Os céus, sem esperanças, se nublavam...

Mas quando parecia mais distante
O rumo que tentava percorrer,
Das trevas, bela luz eu pude ver,
Um brilho diferente e deslumbrante.

Vontade de dançar a noite inteira
Vontade de sonhar sempre acordado,
Estavas finalmente, aqui do lado,
Em ti a derradeira companheira!

Mais um ano se passa e sou feliz!
Ao lado de quem sempre desejei
Rainha que, no mundo, me fez rei
Da vida quero mais e peço bis...

No nosso aniversário, se pressente,
Que sempre junto a ti eu hei de estar.
Contigo eu aprendi o que é amar.
A Deus agradecer esse presente
Que tanto procurava, pela vida.
E que recebo sempre, em ti, querida!
Tristeza de partir deixando o amor
Nas mãos desta saudade traiçoeira.
Os olhos embotados de poeira
No rumo da saudade, traidor.

Onde a dor se retrata mais tratante.
Destrata todo trato que tramamos
Momento em que por vezes nos amamos,
Ficando, nesta estrada, tão distante.

Os danos da saudade e da distância
Se podem destruir o sentimento,
Ao mesmo tempo traz o sofrimento
Que tento disfarçar com inconstância.

Fingindo que não quero quem eu amo
Esqueço que não posso te esquecer
Pois vivo meu viver em teu viver
E amo nosso amor, chama que chamo.

Pretendo que se fores, flores nego.
Beijando as flores belas do caminho,
Sabendo que se fores, o espinho
Em todas essas flores já carrego,

Mas medo de perder faz meu degredo
Na estrada que saudade me deixou.
Por isso meu amor eu tenho medo,
E não irei partir, aqui estou.

Tempo de Amar

Tempo que devorando me devora,
Acaba tão depressa que nem sinto.
O tempo que eu queria, não te minto,
Parasse e não passasse a toda hora.

Pressinto que não tenho tempo, amada,
De ter o teu amor que sempre quis.
Se o tempo de viver, de ser feliz,
Passando não me deixa quase nada.

Se espero, desespero, e não me tens.
E se corro, escorrendo o tempo voa,
Impávido não pára e nem perdoa.
Esquece tão depressa se não vens.

Portanto neste tempo tanto tento,
Que invento a todo tempo teu amor.
E se tento escapar, por onde for,
Teu amor nunca sai do pensamento.

Amor em Carrossel

Amor, quanto mais dou, maior eu fico
E nesta roda viva eu já me encharco
Descrevo toda vez esse mesmo arco
Que em mim nunca termina e multiplico.

Nesse moto perpétuo renovando
O mesmo sentimento que me move.
A pedra do caminho se remove
De amor que gera amor, me alimentando.

Se pago teu amor com mais amor,
Amor que te paguei, amor recebo.
Recebo tanto amor que não concebo
Que amor é desse amor o gerador.

Porém se me desejas desamor,
Amor que tanto trago não te basta,
A vida sem amor já se desgasta
E salva-se somente noutro amor...

Obra Prima

Fazendo a Natureza, a obra prima,
De todas as belezas, fez a sua.
Toda a divina chama continua
Mostrando amor de Deus, perfeita estima.

Estrelas nos olhares, radiantes.
Nas formas belas ninfas desejosas.
O carmesim dos lábios, roubam rosas
Desejos que seduzem, deslumbrantes.

Em toda a mansidão a tempestade
Não cabe nos desejos femininos.
Amores divinais, perfeitos hinos,
Em flores e suores, claridade.

Estampas a magia nos seus seios
Alimentam, por certo, esses infantes,
Alimento dos sonhos delirantes
Que amantes, torturando, traçam meios.

Vestida se desnuda então reveste
Meus passos na nudez que se prepara
Amando sem temer a jóia rara,
Dos sonhos de nudez, minha alma veste.

Amor Possessivo

Por seres da maneira que tu és,
Assim tão possessiva, mas formosa.
Transformas toda noite em gloriosa
Desde que eu sempre esteja assim aos pés.

Vivemos toneladas de prazeres
A cada novo dia que te adoro,
Porém se a cada dia não te imploro,
Prazeres se perdendo, não me queres.

Se quero teu amor, eu quero o gozo
Embora teu amor não seja meu.
Mas queres meu querer somente teu.
De tudo o que mais queres ‘stou cioso.

Não vejo meu olhar em teu olhar
Mas queres que eu enxergue por teus olhos.
Carrego meus espinhos, tantos molhos,
Sem olhos, como os olhos vou mirar?

Preciso de viver urgentemente
Urgente, é necessário que eu mais viva
A vida que da vida sobreviva
Não podes ter a minha totalmente!

Mágoas

Cansado de chorar a cada dia,
tristezas que me trazes a cansar-me.
Pedindo, por favor, quero o desarme,
antes que me desarme uma alegria.

Desamas se rechaças quem sempre ama,
embora não percebas, mas me cansa.
O sonho de viver já não se alcança,
nas dores que me causas, finda a chama.

Nas chamas que não deixas mais acesas,
amores se esfumaçam quando chamas
e dizes que, tristonha, ainda me amas.
Não creio nos amores em tristezas.

E tentas convencer que é mesmo assim,
Que a dor se cura em dor que a dor produz
assim como da luz se faz a luz.
Que todo meio sempre vem do fim.

Nas mágoas que magoas minhas mágoas,
Não curam minhas mágoas nem me deixam.
Os olhos embotados já se queixam,
de tanto que choraram , tantas águas...

Nas Batalhas do Amor

Por cima dessas mágoas que causaste
Em termos mais doridos que trocamos
Amamos e portanto desarmamos
As armas do combate, mas trocaste.

Vencido por verdugos sentimentos
Abates meus amores no combate.
Amando essa guerrilha me marcaste
Com lanças e terríveis sofrimentos.

Não quero combater a quem desejo,
No afã de me mostrar como se fere
Esfera desdenhosa que interfere
E causa sensação de nojo, pejo...

Rendeste meu amor em pouco tempo
Só pude, em desespero, te esperar.
Temperas teus desejos sem amar
E sempre que procuras, contratempo.

Atado sem sair, perdendo o espaço,
Disfarço meu cansaço desta luta.
Amor que se deseja e se reputa
Na disputa revela o seu fracasso!

Salmo 28 - Versos Brancos

Não te cales meu Pai, as minhas súplicas
Ouça pois minhas mãos estão erguidas.
Juntamente com ímpios, com iníquos,
Não me arraste, Senhor; falam de paz
Mas têm todo mal dentro de s’as almas.
Retribui-lhes segundo as suas obras
E segundo a malícia dos seus feitos.
Retribui-lhes o que eles mereceram.
Bendito seja o Pai por ter me ouvido!
Pois és a minha força e meu escudo,
Todo o meu coração, em ti, confio
Pois sei que sempre irás me socorrer,
E em teu nome, Pai, eu louvarei.
Do seu povo és a força e fortaleza
Salvadora p’ra quem, por ti, ungido.
Teu povo, salve Pai, abençoando
A tua herança, sempre, os exaltando!

Amor e Sofrimento

Queres que eu te dedique sofrimento?
Por tanto que não fiz e não faria,
Sem termos que lutar pela alegria,
Não valorizaremos sentimento.

A sorte que bafeja mansamente
Talvez não seja aquela que virá.
O mundo que pretendo nos trará
Um porto, nos receba calmamente.

Por vezes, desfavores são favores,
Amor que veramente tanto estimo
Não posso embriagar com o meu mimo.
A liberdade salva, então, amores.

Percebo que, pareça mais incrível,
Não queres meu amor, e sim o teu
Refletes tanta luz que morro breu
Embrenho meu desejo mais falível
Nas trevas que me deste como amor.
Não posso dedicar a minha dor!

XÊNIA

: significa estrangeira.

Das terras estrangeiras o meu sonho!
Em forma de mulher encantadora
Das dores que carrego, redentora
De todos os caminhos, mais risonho.

Quem teve tanta dor, mundo medonho,
Já sabe que ao te ter a vida aflora
E jamais deixará quem tanto adora
Não quero mais saber e te proponho

Que vivas, do meu lado, o que me resta
Abrindo meu futuro. Na seresta
Onde sempre estivemos, par constante,

A nossa melodia nos levanta.
E com bela voz , Xênia sempre encanta...
Deixa-me ser, da vida, novo amante!

Vívian, Viviane, Viviana...

Alegria



Alegria nascendo a cada dia
Trazendo um vento calmo de esperança
Na luta sem final contra a lembrança
De toda dor que mata a fantasia.

A cada novo tempo, a poesia
Inunda-se e não quer sombras da vingança
Rondando nosso amor em aliança
E trama contra a noite negra e fria...

Crisântemos florescem no jardim,
Eu guardo belas flores dentro em mim
Pedindo que este canto nunca engane.

Por mais que seja triste a madrugada
A vida se refaz nesta alvorada
Que me trouxe tanto amor de Viviane...

VITÓRIA

: nome da deusa mitológica que garantia a vitória.


A vida sempre trouxe tanta dor,
Embora em poucas lutas que venci
Guardei essa esperança por aqui
Sabendo que jamais verei a cor

Duma felicidade e seu calor.
Por tanto que lutei sempre esqueci
Que a noite quando chega traz em si
O frio da saudade em seu vigor.

Mas nada me trará outro caminho.
Meu mundo percorrer a pé, sozinho,
E nada mudará a triste história...

Porém ao acordar nesta manhã,
Ao ver essa menina, novo afã,
Será que enfim, terei minha Vitória?

VIRGÍNIA

: virgem, virginal.

Castelos e sereias, a princesa...
O corte tão profundo já levou.
De toda a fantasia que ficou,
Um gosto tão amargo da tristeza...

Mas a tarde trará nova certeza,
Mesmo que o sol que veio não brilhou
Outro virá trazendo o que sonhou.
Enfim te cercará de tal beleza

Que nunca lembrarás do antigo sol.
A vida te promete este farol
Que sempre te trará a claridade!

E tudo que parece tão distante
Muda-se, de repente, num instante,
Virgínia, e te trará felicidade!

VERÔNICA

Nos jardins desta vida, tantas flores,
Os retratos divinos da esperança.
Por onde meu olhar, feliz, alcança
Milhares e milhares, meus amores!

Um dia, nosso Deus em seus favores
Aos homens, nos deixou essa lembrança:
Apenas quem tiver alma tão mansa
Que saiba conhecer os seus olores

E guarde, na memória seus perfumes
Será um ser liberto de queixumes.
Por isso dos jardins a mesma tônica:

Felicidade está muito mais perto
Do que tu pensas. Disto esteja certo.
No meu jardim plantei amor: Verônica!

VERA

: fé ou verdadeira.


Não suporto a mentira que vivemos!
Somente uma verdade nos liberta
Disto que te falei esteja certa,
Assim em nosso mundo já morremos.

De tudo que na vida não sabemos
Apenas uma porta sempre aberta
Deixando essa emoção em vivo alerta
Teremos o futuro que queremos.

Não deixe que termine tudo assim,
Não sabe como dói amaro fim
Do amor que sempre quis a primavera!

Portanto não me mintas por favor.
Por fim irás matar o nosso amor,
Esmague, amada Vera, essa quimera!

VANESSA

: designa um tipo de borboleta.

Amor em suas asas tão serenas
Traz-me um gosto mais doce de saudade,
Que, ao relembrar, me dá felicidade
Das tardes que vivemos, bem amenas...

Um bando de fantásticas falenas...
Depois de tudo, a dor: fatalidade
Que cessa todo o sonho, liberdade!
Agora no meu peito, tantas penas!

Vencido pela tarde que se foi,
Meu canto angustiado, um peixe boi,
Aguarda pela noite que não vem...

Será que nosso Pai já me esqueceu?
Embalde, meu carinho percorreu
Em busca de Vanessa mas, ninguém!

VANDA

: peregrina.

Mares e marés, matas, cachoeira
O canto da promessa já se cala.
A dor que me tortura a vida inteira
Batendo nesta porta, entra na sala...

E traz a tempestade verdadeira
Que pesa em minha vida, dura mala
Que toma em meu destino, a dianteira.
Calando-me não deixa sequer fala.

Quem sabe encontrarei no fim da vida
Depois de tanto amor em despedida
Depois da solidão que me comanda...

No cimo das montanhas, meu cansaço,
A peregrina persigo, nenhum traço
Mostra-me onde encontrar a amada Vanda!

VALQUÍRIA

: na mitologia Viking, as valquírias eram deusas de grande beleza que carregavam para o paraíso os guerreiros mortos em combate.


Na guerra que travei eu quis a morte
Não venha discutir mas estou triste
Porém que sempre sonha não desiste
E a força que me move hoje é meu norte...

Tentei nessa batalha ter o corte
Profundo ao qual jamais alguém resiste
Para minha tristeza a morte assiste
E não veio. Vontade foi tão forte

Mas trago meu destino malfadado.
O tempo se passou, tudo acabado
Não pude desfrutar desta certeza.

Agora que estou velho, nunca mais.
O resto dos meus dias, vou sem paz
Pois não verei Valquíra e nem beleza...

VALÉRIA

: cheia de saúde.

Por tanto ou por um canto que não trago
Recebo teu perdão de sobremesa.
O rosto que se esconde, da princesa
Não deixa nem sequer mais um afago.

Na doce mansidão perdi meu lago
Agora se me banho é de tristeza.
Vencido por querer a realeza
O mundo não me deu sequer um trago....

Não deixe que a saudade te machuque
A morte sim, permita que caduque
E não venha falar de coisa séria.

A força que te move me remove
O beijo que me deste me comove
Me deixa alucinado: amor – Valéria!

VALDA/VALDETE

: dirigente.


Percebo meu futuro da janela
Espero mas não posso mais contar
Com a luz, com o brilho do luar
Já que nem toda noite se revela.

Meu barco vai sem quilha e perde a vela
Dentro de pouco tempo, naufragar.
Não quero ser sozinho e peço par,
Amor que me liberta desta cela

Por onde nem a luz deu sua cara,
Corcel que voa solto já dispara
Em busca de outro céu não se repete.

No risco que permite minha caça
Amor que não consigo se esvoaça
E dorme nos teus braços, ó Valdete

ÚRSULA

: pequena ursa.


Refeito deste susto que passei
Em busca dum amor mais que perfeito
Em mansa claridade já me deito
E quero me esquecer que nunca sei

Se queres ou não queres minha lei
Se sabes ou não sabes do meu leito.
Da boca que me morde o meu confeito?
Jamais serei aquilo que sonhei!

Eu quero a mansidão sem ter espora
A parte que me cabe não demora
Sei que serei feliz ao lado teu.

Mas posso te dizer deste meu verso
Que rasga sem temer teu universo
E acende a luz em Úrsula, sem breu...

TERESA

: a que veio da ilha de Tera.


Das distantes quimeras de minha alma
A luz sempre escondida, nunca brilha...
Meu pensamento, louco sempre trilha
Embora tanta dor não traga calma.

Futuro que se esconde em minha palma
Talvez inda prometa a maravilha
Atada no meu pé a triste anilha
Mostra-me que o futuro não acalma...

A minha sorte, embalde tanto insista
Não posso permitir que a morte assista
Sem ter nenhum clarão de tal beleza.

O canto que me trazem as sereias
Morrendo tresloucados nas areias
Dos deserto, se foram com Teresa,,,

TELMA

: desejo, vontade.

Eu sempre te quis, nunca percebeste
Em tua vida leve e sem pecado.
Meu mundo sempre trouxe amargurado
Desejo que jamais tu recebeste

Durante toda a vida. Nunca leste
Os caminhos que traça o triste fado.
O mundo, que percebes encantado
Te engana com pois em ouro não reveste...

Agora que tu sabes que te quero,
Embora doloroso, sou sincero
E trago, no meu peito, esta saudade

Dos tempos onde tinha um doce beijo
Que morreu p’ra nascer esse desejo,
Ter-te, Telma. Me mate essa vontade!

TATIANA

: variação feminina do nome do filósofo Tatiano.


Menina nunca esqueça que o encanto
Que trazes nesta vida é passageiro.
Depois deste janeiro, o derradeiro
Sonho virá trazendo um triste pranto.

E nestas flóreas sendas um manso canto
De um pássaro ferido por inteiro
Será talvez teu único parceiro
Todo universo está em desencanto!

Mas não temas a noite, ela virá
E tantos pesadelos te trará
Perceba, a juventude sempre engana...

Teus olhos de risonhos, doces brilhos,
Procurarão, embalde novos trilhos,
Feliz serás, mesmo assim, Tatiana!

TÂNIA

: forma familiar de Tatiana.

Relembro-me de tudo o que passei
Nesta busca infrutífera e sem fim
De tudo que guardei dentro de mim,
O mundo delicado que sonhei.

O resto de esperança que guardei
Num canto, abandonado, do jardim.
As horas se escorrendo vão assim
Como se fossem corpos que deixei...

Carrego tanta morte em meu passado
O coração bandeia e vai de lado,
Amores num rosário que desfio.

E Tânia, adormecida já ressurge
A dor que me causara sempre ruge
E me faz, novamente, o dia frio...

Tamires

: Paz

Não quero transformar a nossa casa
Num terreno propício para a guerra,
Amor sem ser feliz logo desterra
Ao ver nosso castelo ardendo em brasa.

Se tudo que vivemos nos abrasa
Total devastação na nossa terra
Meu barco, solto ao mar, à deriva, erra.
Sou pássaro perdido sem ter asa.

Em verdadeiro campo de batalha
Não posso mais conter, a dor se espalha;
E nada do que fomos vida traz...

Espero que te lembres de Tamires,
Em seu exemplo belo tu te mires
E em nosso mundo voltará a paz...

TAÍS

: penitente.

Não posso perceber quanta vitória
No gozo deste amor que sempre quis.
Se nessa amarga vida fui feliz
O gosto da delícia na memória.

Vencido pelo amor em plena glória
Não deixo meu caminho e peço bis
Recebo do teu céu lindo matiz
E mudo, num segundo minha história...

Bem sei que sempre sofres por enganos.
Teu coração permita novos planos,
Quem sabe encontrarás quem sempre quis.

Nos castelos sem fadas nem princesa
A vida se transcorre em tal leveza
Que sempre desejou minha Tais...

SUSETE

: diminutivo de Susana.

Vencido pela noite que chegava,
Deitado sobre a cama sem prazeres
Distante dos amores e quereres.
Aquela a quem amara não deixava

Sequer a sua sombra. Não contava
Com os olhos sombrio das mulheres
Que nunca mais teria. Mas se feres
Com a boca em mordida que beijava

Não podes entender que, nesta vida,
Nem sempre aguardarei a despedida.
Quem nos dá carinho nos reflete.

Portanto não se esqueça da semente
Que maltratada torna-se serpente,
Mas se bem cultivada dá Susete!

SUSANA

: lírio gracioso. É o nome da personagem bíblica que encama a castidade.


Nos campos onde espero ter meu fim
Os perfumes silvestres me dominam.
Minhas noites, nas flores se alucinam
E deixam bem distante meu jardim.

Tem rosas, tem crisântemos, jasmim.
Porém os tais perfumes desatinam
Aquelas que, passando, se destinam
Aos campos que inda guardo dentro em mim..

De todos os desejos que esqueci
Um deles rememoro quando vi
Dos sonhos que perdi, tanto martírio,

Os olhos perfumados, soberana
Flor, que sempre floresce em ti, Susana,
Que me perfuma o campo, branco lírio...

SORAIA

: estrela da manhã (o planeta Vênus).

Desta brilhante estrela matinal
Pressinto nosso amor como um corcel
Que, livre, caminhando pelo céu
Traz-nos esta alvorada divinal!

Quem dera viajar por belo astral
Em busca deste belo carrossel
Que trouxe nosso amor num carretel
De estrelas com doçura virginal.

Não deixe que a manhã tão ciumenta
Encubra tanto brilho. Violenta
Esta aurora te pede: nunca raia!

Porém em minha vida minha amada
A vida já se mostra irradiada
Nos olhos qual fogueira, de Soraia!

Solidão

Seu riso tão medonho me apavora.
Ouvindo essas pegadas pela noite
Levanto, lhe procuro, mas demora;
Inverno dentro d’alma, um frio açoite
Destrói e me tortura, nunca pára.
Aguardo em minha cama, seu pernoite
O braço que me estende me antepara...

Solange

: Majestosa, solene

Angelical formato majestoso
Que sempre me iludiu, agora vejo.
Foram tantos momentos de desejo
E jamais esperava pelo gozo

De poder me sentir tão orgulhoso
Por roubar desta deusa um simples beijo!
Lembrando deste fato então versejo.
Meu mundo não se mostra tenebroso...

Nos céus que te procuro nunca estás,
Na mão que me acarinha mais audaz
Eu sinto essa presença que inebria...

Em Solange uma arcanja em delírio,
Em tuas asas deixo meu martírio
Mergulho na infinita fantasia!

Sofia

: Sabedoria


E Vênus procurava quem seria,
Dentre todas as damas e princesas
Aquela que por ter delicadezas
E formas que gerassem alegria,

Pudesse competir com ela, um dia...
Em todos os momentos, incertezas
Criadas pelas várias naturezas
Que fazem da mulher a fantasia;

(Encontrou na beleza de Sofia...)

Porém, no momento de vingança
Uma deusa detém a dura lança
E pára com tamanha rebeldia...

Minerva ao ver a sua protegida
Salvou a preciosa e bela vida.
No belo também há sabedoria!

Simone

: Aquela que ouve, ouvinte

Os sons desta alvorada em minha vida
Refletem mansidão que sempre quis
A vida se transforma em seu matiz
E traz essa esperança adormecida...

Mentiras e verdades, despedida
Sempre traz, não se escreve o que se diz.
Porém quando no mundo for feliz
Não deixe que a saudade dolorida

Traga o gosto feroz desta vingança.
Não derretas o resto da aliança;
Apenas reconstruas tua estrada.

Simone, uma princesa que é tão cara,
A treva em tua vida já se aclara.
Apenas vem surgida a madrugada!

Silvia

: A que pertence à selva


Nossa noite será bem mais tranqüila.
Os ventos que sopravam se acalmaram.
Os medos que tivemos se acoitaram
A lua enamorada sobre a vila...

O canto que trouxeste já destila
O gozo dos que nunca procuraram
Outro colo sequer pois se encontraram...
A vida não perdoa quem vacila

Por isso nosso amor sempre vigio,
Em momentos mais belos, pleno cio,
Eu penso em preservar nosso desejo.

Não me envergonho e grito a todo mundo
Que da força do amor eu já me inundo
Com Sílvia, em minha vida, eu sempre vejo.

Silvana

: Que vem da floresta, das selvas

As matas me preparam a surpresa...
Encontro várias garras afiadas...
Minhas costas estão todas lanhadas
Pela força que emite a natureza.

O manto que te cobre, de nobreza
D’ébano. Mal surgidas madrugada
Os rastros tão sutis destas pegadas
Me levam à fantástica beleza!

As unhas me penetram e torturam
As presas me maltratam e me curam.
A vida me parece soberana!

Em múltiplos delírios sigo a noite,
O beijo da pantera, meu açoite;
Os olhos tão brilhantes de Silvana...

Shirley

: Brilhante


Falar do nosso amor é repetir
Os versos que procuro pela vida.
A noite sem te ter cai dolorida
Estrela sem te ver não quer mais vir...

Então eu venho em preces te pedir
Que nunca mais me fale em despedida.
A morte sempre atenta e desmedida
Quem sabe, de repente, vai surgir?

Me deixas cada noite, vais aos céus
Levando em tuas mãos os alvos véus.
Em prantos minha noite continua...

Mas Shirley, minha deusa por que esfumas?
As noites tão distantes perdem plumas
Mas ganham no teu brilho, minha lua!

Sheila

: Ausência de visão


Embalde tantas vezes procurei
Pelas ruas e estradas, o meu rumo...
Por vezes acredito que acostumo,
Mas sempre que puder eu lutarei...

Esse caos que em meu mundo foi a lei
Não pode permitir meu novo aprumo,
Em espinhos fatais já me perfumo.
Porém deste seu rosto esquecerei!

Não me venha falar inda me quer.
Eu busco cegamente uma mulher
Que me traga essa luz que já vivi.

Em Sheila irei buscar a claridade,
Embora na cegueira da verdade,
É nela que estará o que perdi!
O que seria o mundo sem coração? Exatamente o mesmo que uma lanterna sem luz: nada! Goethe

Quem não ama e não sente desta vida
O gosto da alegria e da tristeza
O sonho e fantasia da beleza,
A glória de viver se foi, perdida...

Também quem não sentiu o vento manso
Batendo levemente no seu rosto
Ou não teve sequer nenhum desgosto
E nunca descansou em um remanso.

Quem jamais percebeu suavidade
Na mão que acaricia levemente,
Quem nunca teve o gozo da semente
Que brota, num segundo, eternidade;

Vencido pelo medo nunca amou
Nem soube da fantástica ilusão
Que comanda esse jovem coração
Num rumo mavioso, Deus traçou.

Quem jamais sentirá dor e saudade
Do beijo que esta vida nunca deu,
Quem sempre se esqueceu e não viveu,
Distante se escondeu da majestade

Divina desta vida em pleno gozo.
Não sabe do sabor e frescor d’água
Da fonte cristalina. Pura mágoa
Domina um ser humano desastroso...

Pois quem, sem coração, vai pelo mundo,
Mal sabe que jamais será capaz
De entender o valor da eterna paz.
Pois nasceu e morreu, tudo num segundo...

Selma

: Variante de Anselmo, protegido pelo elmo divino



Deus protege quem ama e não maltrata,
Essa verdade trago sempre em mim.
Quem faz do amor princípio meio e fim,
Conhece a maravilha da cascata,

Já teve seu prazer na serenata,
Sente a delicadeza do jasmim
E sabe cultivar belo jardim.
Das flores, com carinho, sempre trata...

Pois tive essa certeza, minha amada,
Quando a vi me trazendo essa alvorada
Co’o brilho matinal de forte sol.

Minha vida, de novo em primavera,
A morte sem perdão desta quimera.
Em Selma, linda luz deste farol!

Sebastiana

: Aquela que é venerada e reverenciada


Venero nosso amor, tenha certeza.
Quem sabe não precisa discutir
O mundo que perdi está aqui
Nos lábios que refletem a beleza...

O rio deste amor, em correnteza
Carrega tantas dores que sofri.
Se o fio da meada eu já perdi
Encontrei no teu braço a fortaleza.

Amor que nunca pede um vil engano,
E traz a juventude como um pano
De fundo que reveste minha amada.

A noite que não trai traz Sebastiana
Em meio à fantasia mais temprana
És, pela vida afora, venerada!
Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável. Sêneca


Procuro por um ponto de partida
Que leve meu saveiro para o mar
Evitando as procelas. Navegar
Calmamente, sem dores, pela vida...

Eu sei que esta viagem traz os medos
Naturais de quem sempre foi sozinho.
Mas sei quanto é preciso ter um ninho
Depois de tantas lutas e degredos...
Se quiseres conhecer uma pessoa, não lhe perguntes o que pensa, mas sim o que ama.
(Santo Agostinho)
Quando te conheci eu já sabia
Que teria em minha vida tal beleza
Emoldurada em luz, viva certeza
E que sempre me encanta, a cada dia...

Pois sei que és rara e guardo tua luz
Que me protegerá a vida inteira.
Serás a derradeira companheira
Sem a qual a vida não conduz

Ao destino feliz que se deseja.
Pois embora não saibas, te conheço,
E nisso tudo vejo e reconheço
Que estás dentro daquilo que eu almejo.

Ao te ver passeando pela estrada
Na mansidão suave de teus passos
Prendi de imediato todos laços
E sinto que acertei nesta mirada.

Bem sei do que preferes, nesta vida
Amores que traduzem todo o norte
Que traças com teu pulso firme e forte
Mesmo quando a tristeza for sentida.

Eu, que muitas vezes me enganei
Achando que encontrara minha sorte,
Aos poucos se revela a dura morte
De todos os destinos que tracei.

Depois destas quimeras mil enganos.
Depois destes tormentos e desditas,
Das falsas e terríveis, más pepitas
Que marcaram com traços desumanos,

Descobri que não basta só saber
De onde vem p’ra onde vai, como se chama...
Simplesmente sabendo do que se ama
Já se torna possível conhecer
Se queres vivem bem para ti, deve viver bem para os demais. Lúcio Anneo Sêneca

Se queres alegria, a distribua.
A vida necessita do sorriso.
Pois a morte virá sem ter aviso
E quem sempre sorri, manso flutua...

A tua vida espelha a minha vida,
Estou em feliz em ti e vice-versa,
O resto, neste mundo, é só conversa;
A lua que não se acha, vai perdida...

Espero teu carinho em ansiedade
Esperas meu amor tão calmamente,
Unidos, nos tornamos, de repente
Um elo que trará eternidade...

É bom saber que sempre estás feliz,
Embora tantas urzes nos caminhos.
Essas águas que movem os moinhos,
Nunca voltam jamais pedirão bis...

Mas seja, desta casa, a claridade.
Entregue teu amor manso e sincero,
De ti jamais desejo nem espero
Pois sei que tu trarás em liberdade.

De tua mocidade traga o brilho,
De minha sobriedade deixo a vela.
Do encontro divinal já se revela
O rumo que teremos, nosso trilho...

Eu sou feliz por seres sempre minha,
Nas horas mais difíceis, o meu porto.
Um dia, quando o sonho semimorto,
Irei para os teus braços, andorinha.

E fecharás os olhos de um poeta
Que amou e que sofreu demais na vida.
E mesmo assim na nossa despedida,
Saiba que nossa vida foi completa!
Se não tivéssemos defeitos não sentiríamos tanto prazer descobrindo os dos outros. Conde de La Rochefoucauld


Sei que não sou perfeito e não serei.
Eu trago um triste fardo e nunca nego
Dos ancestrais humanos e carrego
Com toda mansidão que sempre usei.

Quem sabe seus pecados dá um passo
Importante na busca do perdão
E mata, pouco a pouco, a solidão.
A mão que me desenha esquece o traço

Mostrado num espelho que destrói.
Não fale dos meus erros como sendo
Aqueles que condenam, mesmo crendo
Que conhecer-se sempre só constrói...

Mas sei por que sempre ages desta forma,
Te dá prazer saber: não sou perfeito.
Com isso também se achas no direito
De romper sem temor a regra e norma.

Teu regozijo, sinto, em minhas falhas.
Escute eu nunca quero o teu fracasso.
Mas serás mais feliz se romper laço
Atado nos meus atos que embaralhas

Com os teus. Pressentindo vou dizer;
Querida tu procuras teu disfarce
Tentando te encontrar na minha face;
E nisso desfrutar do teu prazer!
Se choras porque não consegues ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas. Tagore


Quando estás solitária e tão tristonha,
Envolta em tempestades violentas
As nuvens se aproximam, chegam lentas
Do belo dia em treva mais medonha!

Tuas lágrimas formam forte chuva,
Se evaporam e voltam nas tempestas.
Não deixam neste espaço sequer frestas,
Inundam o teu leito de viúva...

Tristes nuvens tomando todo o céu...
O sol, envergonhado, não desponta.
O mundo num dilúvio se dá conta
E manda a mansa noite como um véu...

Porém nem tanta estrela e plena lua
Não conseguem vencer o negro manto
Que cobre o teu olhar perdendo encanto.
A dor, em plena noite continua...

Um dia, o sol virá com claridade
Absoluta, vencendo o sofrimento.
O tempo vence tudo: esquecimento.
Não restará sequer uma saudade...

Aí, com força plena de seu brilho,
O sol invadirá o teu sorriso,
Trazendo p’ro teu mundo o mais preciso
E claro rumo, um sempre claro trilho.

Verás então estrelas, lua e sol,
Com toda a fantasia que merecem,
Os amores, as dores, sempre tecem
No fim da tempestade um bel farol.

Não deixes que essa dor, essa tristeza,
E o medo de sentir raio solar
Impeçam a tua alma de voar
Nos céus que nos envolvem em beleza.

Amiga, ser feliz é simplesmente
Deixar que o sol rebrilhe em tua vida
A sorte que julgavas já perdida,
Retorna num segundo, de repente!
Se alguém está tão cansado que não possa te dar um sorriso, deixa-lhe o teu. Provérbio chinês

Eu sei que estás cansada desta vida...
Tantas dores mataram teu sorriso
O mundo te negou o paraíso,
A sorte que querias, vai perdida...

Aquele que sonhavas foi embora.
O dia prometido nunca veio.
Deixando o teu olhar a esmo,alheio...
A dor mais violenta já se aflora.

As promessas e enganos te levaram
Aos mais distantes campos da existência
Onde a dor se assomando sem clemência
Teus sonhos nos amores naufragaram...

Adormeces sozinha, sem ninguém,
E pensas que esta vida já se esvai..
Pensaste ser feliz, a noite trai
E nunca mais será a do teu bem...

Vestida de viúva, guardas luto
Em mortalha sofrida e sem encanto,
Teus olhos sempre vertem-se no pranto
O vazio da noite, é sempre bruto.

A máscara dorida da saudade
Está tomando o rosto de quem ama.
Não resta nem sequer faísca e chama
A morte te promete lealdade...

Não posso te dizer quase mais nada,
A não ser que estarei sempre contigo,
Eu tento proteger-te do perigo,
Da dor que sempre traz a madrugada.

Amiga, minha amada te proponho
Um dia mais feliz de mansa lua
A vida não se acaba, continha
Embora teu tormento mais medonho.

Se não posso trazer-te o paraíso,
Se não posso fazer-te mais feliz,
Eu te darei, ao menos, mais gentis
Sonhos. E, se quiseres, meu sorriso!
Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha. Gandhi

Seus erros são meus erros, meu amor.
Bem sei que sempre estamos tão unidos,
Os campos que freqüenta, mal floridos,
Não cultivei, deixou morrer a flor...

Muitas vezes a gente não percebe
As falhas que levamos pela vida.
A marcha pode ser mais dolorida
Se as urzes permanecem nessas sebes.

Amar não é somente acalentar,
Se precisar, também é corrigir,
Só ter a liberdade de ir e vir

Muitas das vezes trai o vero amar.
Não queira mais, por isso punição.
Eu lhe peço querida, seu perdão

Sara

: Princesa


Beleza tão sutil e delicada
Caminha pelo reino dos meus sonhos...
Morando nos castelos mais risonhos,
A mão que acaricia, mão de fada...

Vestida em maviosa madrugada
A lua proibiu mares tristonhos
Desertos dos amores, mais medonhos
Nunca mais virão, minha adorada!

O canto da sereia que me ilude
Na voz dessa princesa traz saúde...
Toda a dor desse mundo ela antepara

Com seu sorriso manso e desejado.
O meu mundo será sempre encantado
Enquanto estás aqui, princesa Sara!

Sandra

: Defensora da humanidade


Em seus braços eu vivo uma ilusão,
Seu amor me defende e nisso sonho.
Pois tudo nessa vida a que proponho
Encontra em seu carinho, proteção...

Não sei o quanto custa uma paixão
Sem ser correspondida. Trago a sorte
Bendita e benfazeja do seu norte.
Em seu nome, a perfeita tradução...

Mas, quando a madrugada traz o frio,
O medo de perder, um calafrio,
Abraças-me em perfeita sincronia.

Sandra eu viverei sempre do teu lado
Sem temer a saudade nem o Fado
Em nossa cama reina essa alegria!

Samara:

Aquela que é guardada por Deus, protegida por Deus

Meu Deus quando te fez nunca pensara
Que tudo que sonhei estava em ti.
As dores que passara, já perdi
Nos teus olhos amada jóia rara...

Em busca da doçura, a vida amara
Te escondeu mas, deveras, ei-la aqui
Os medos que maltratam já venci.
Agora sou feliz, minha Samara..

Carrego minhas cruzes meus espinhos
Mas tenho a recompensa dos carinhos
De quem, num belo dia, Deus me deu.

Meu jardim florescendo em teu perfume,
Não guardo dessa vida um só queixume.
Pois sei que nosso amor, Deus protegeu!

Samanta

: Ouvinte

Escute meu lamento, por favor.
Minha voz embargada te suplica
A noite sem amor já se complica
E espera um novo canto com ardor!

Sonhamos nosso caso com fervor
Porém a dor não cala e já replica
No amor, delicadeza de pelica,
Na vida essa rudeza sem amor...

A minha mocidade não suporta
Escuridão. Fechada a minha porta
Nada mais restará, a alma se espanta

E busca, com certeza uma paragem.
Te quero, companhia na viagem
Que leva até a morte. Vem, Samanta!

Sabrina

: Donzela sabina, antigo povo itálico

Mergulhado em total obscuridade
Meu coração desanda a procurar
Nos raios deste sol e no luar
Amor que me trouxer tranqüilidade!

Depois de tanto tempo de saudade
A vida necessita de outro mar
Que possa finalmente, navegar
Sem temer a terrível tempestade.

Vencido por tormenta e desafio
Andando sem ter rumo neste frio,
Meu coração transtorna e desatina.

Agora que parece que não tenho
Esperanças. Que cego e só já venho,
Encontro meu amor em ti, Sabrina!
Quem, nesta vida, sempre imerso em pleno lodo
Espera pelo mar em noite maviosa,
Aguarda na esperança o perfume da rosa
Não sabe que será simples parte do todo

Que formando um conjunto esparso em todo espaço
Faz parte como tudo em volta, natureza.
Não sabe conhecer sequer uma beleza
E perde todo o tempo em vôo cego e baço.

E tudo que aprendeu esquece totalmente
Não sabe que esta vida esboça a forma santa
Da natura tão febril, dessa alegria tanta
De ser uma fração de tudo, simplesmente...

Pois neste vasto mundo a força mais robusta
Não sabe seu caminho, espera seu destino
Na lua que nasceu a vida de um menino
Não sabe se será ou não será augusta.

Não há sequer quem viva em total claridade
Assim caminha a vida em luta desumana,
A luz que nunca brilha em pouco tempo emana
Aquele que não sabe e perde essa verdade

E acha que desse mundo é parte mais imensa
Um dia saberá imerso em turbilhões
Que fora mera parte, uma gota em bilhões
Felicidade então será t’a recompensa.

Pois todo esse universo em margem infinita
Circula num caminho estranho e sem final
No rumo que não traço imenso e sideral
Apenas uma coisa em todas é bendita

E sempre se trará no rosto mais feliz,
O gosto da conquista, o louro da vitória
Por mais que maiorais não trazem toda glória.
Na opressão de minha alma, o medo me desdiz.

Quem dera se tivesse o rumo que esperei
Por mares sem sentido em busca da verdade
Nas luas que vasculho a mera claridade
Não trazem o que quero, e não serão a lei.

Com meu olhar mais fixo espreito meu futuro
A porta que se fecha, abertos meus umbrais,
Deixa-me nessa espera, aguardo e quero mais
Da vida que não tramo o chão que piso, duro...

A mão do meu destino espera sem demora,
A prece que não fiz, o manto que me cobre
Na noite que não traz o sino que se dobre,
E tudo que não pude o sonho rememora.

Se fiz minha cantiga aguardando alvorada
Que jamais terá sido aquela que esperava,
Talvez sem ter carinho a noite me tragava
E depois me deixava exposto sem ter nada.

Marcadas pelo açoite em busca desta serra
Que pode me levar aos campos que desejo,
A parte que me cabe, em lágrimas, não vejo
Esconde-se ferina e matando desterra...

Por mais que sempre tento esbarro sem resposta
Na dor que não se cala, o gozo e a saudade.
Não sei mais ir liberto, em tal disparidade
Que faz do meu futuro uma simples aposta.

No sonho que propus um pouco de esperança
Espera sem demora o fim desta tristeza
A mágoa e a mentira, o laço da riqueza
Que trava e não perdoa e nem a vida alcança;

Busquei felicidade, essa libertação,
Nas mesas do banquete em festas e navios,
Saveiros, mansos cais, orgias loucos cios,
No rosto da promessa em toda vastidão.

Nas jóias, no castelo, em tudo com fervor,
Por mais que procurasse um sonho tão risonho,
A cada dia via um olhar mais tristonho
Em cada novo rosto expressão de pavor...

Nesta alegria falsa, o riso sem motivo,
Na festa que termina e nunca determina
Nos céus que imaginei, em nada se destina
A tal felicidade, o meu sonho mais vivo.

Depois de, já cansado, esperar pela resposta
Por mundos viajar fiquei decepcionado
E resolvi dormir, exposto ao duro fado.
Nunca serei feliz! Eu perdi minha aposta...
Porém, na noite calma, um suave calor,
Em sonhos, de repente ouço uma mansa voz
Que fala bem baixinho: o mundo é bem atroz
Mas a felicidade? É simples, está no amor!
Minha alma tão inquieta anda por essas ruas
Em busca de uma lira onde se encante a musa.
Por vezes tão sofrida e mesmo assim, confusa,
Espera nesta esquina o brilho de outras luas...

Por mais que siga só, minha alma é de poeta
E sendo assim, espera um minuto de paz
Mas sabe que, por isso a saudade é mordaz.
Amor quando se engana esquece a linha reta...

Quem sabe inda terei a paz mais verdadeira
Que nunca mais deixou o mais leve perfume.
A noite sempre vem escura, esquece o lume
Como se enfim pudesse amar a vida inteira.

Não quero o sentimento exposto a tanta mágoa;
O que resta da vida, a paz não encontrava
Senão um seco rio escorre um fio d’água
Nos olhos que pensei mas nunca imaginava...

Agora que te vejo aguardo tais sementes
Da muda que me deste esqueço a mansa rosa
Os olhos no futuro, a vida gloriosa
Quem sabe no meu sonho, os gozos diferentes...

Do gosto do carinho, a tal felicidade
Virá sem perceber que cala meus soluços
Amores que não vejo em volta são avulsos
E trazem sem querer o gozo da saudade...

Não quero mais levar o peso desta vida
Nas costas, me machuca e nega, sempre o colo.
Quem sabe plantarei semente em novo solo
E minha mocidade em calma, resolvida...

Não quero mais saber do teu e do meu pranto
Quem sabe então a lua em cantos não fulgura.
A noite deixará de ser assim escura,
O mar que me levou trará o teu encanto!

As estrelas virão, trarão todo universo
Total felicidade espalha-se na terra.
No vale, na planície enfim por sobre a serra
E também, finalmente, em todo esse meu verso!
Proteja-me meu Pai pois sofro tanto.
O canto da esperança não escuto.
O vento da maldade, sempre bruto,
Não deixa-me sentir Teu vento, santo.

Por vezes vou sozinho, mas me guias,
Nas noites mais difíceis, tentações.
Espero conseguir das amplidões
As luzes que me tragam novos dias.

Pequei por tantas vezes, meu Senhor,
Nos sonhos, nas palavras, no meu gesto,
Por isso estou aqui, meu canto empresto
Ao pedido maior neste louvor.

Bem sabes que caminho sobre as urzes
Deixadas de propósito, meu Pai.
A treva que em minha alma sempre cai
Lembra-me que temos nossas cruzes.

Farei o que desejas, mas perdoa,
Não deixe que este triste filho Teu
Se perca neste escuro e vago breu,
Meu grito pelos vales sempre ecoa...

Desculpe se perdi o meu caminho,
Desculpe se não pude ser feliz,
A vida me marcando com seu giz
Cravando em cada pé um grande espinho.

Mas saiba que Te adoro e que por isso,
Estou aqui em plena madrugada
A minha voz em prantos, já cansada,
Pretendo, desta vida, ter o viço.

Meus erros cometidos me maltratam
São pedras que carrego, tanto pesam.
Os olhos dos irmãos já me desprezam,
As asas da tristeza me arrebatam...

Somente em Ti encontro a solução,
Não deixe em minha vida essa quimera.
Amor quando em amor, só amor gera,
Por isso é que te imploro o Teu perdão!
Procurei meu amor da mocidade
Esquecida e perdida nos alvores
Neste inverno fatal, nos estertores
Finais, quando me resta só saudade...

Agora em meu jardim, as flores mortas,
Somente erva daninha sobrevive.
São restos que carrego d’onde estive
Penetram minha casa, abrem as portas,

Tomando minha sala, entram no quarto,
Deitam-se nessa cama e já me abraçam.
Envolvem meu pescoço se entrelaçam
E tentam sufocar. Da vida farto

Espero o desenlace deste abraço,
Aos poucos apertando mais e mais
Até que sofrimento e dor, jamais!
Ao fim deste namoro nem um traço

Do que fui restará mais neste mundo.
Coberto pelas folhas, sufocado,
Nesta agonia tudo terminado
Trazendo a liberdade, num segundo...

De tais folhas e galhos, sinto o gosto
Agridoce da vida que se vai...
Em momento algum nada me distrai
Nem mesmo a cicatriz mascara o rosto.

Recordo-me que um dia fui feliz,
Eu tinha todo amor que se deseja.
Meus irmãos, minha mãe, a vida beija
De forma tão sutil... Tudo o que quis

Se perdendo nas curvas do caminho,
A cada dia, aos poucos, foi morrendo
A esperança que tinha. Corroendo
A minha sorte, até ficar sozinho...

Não tenho sequer medo, a dor levou...
De tudo que guardei apenas vento
Da saudade me traz contentamento.
A solidão foi tudo o que restou.

Agora em meu jardim esta quimera
Crescendo pouco a pouco e me matando
Nos galhos e nas folhas me mostrando
Tal qual fosse o sorriso duma fera.

Da venenosa amiga e seus tentáculos
O carinho final que tanto espero.
Em momento algum, nunca desespero,
Talvez sejam meus últimos obstáculos.

A sombra da mortalha que virá,
Nas costas minhas asas já não pesam,
Sem ar, as minhas pernas se retesam
E sinto que minha hora chegará

Nos braços desta amada e doce planta
Que sabe que me cura quando mata
No derradeiro beijo em serenata
O frio dentro d’alma se agiganta

E sigo meu caminho, agora em paz...
Porém quando te vejo do meu lado,
O abraço como fora um apertado
Nó pressinto que amar não fui capaz!...
Devemos desconfiar do amor que nasce antes de criar raízes: o fogo incipiente apaga-se com pouca água.
(Ovídio)
A paixão que devora, simplesmente
Nunca traz a certeza de um amor.
Nem sempre do botão a bela flor
Desabrocha, pois morre de repente.

De tudo que, entretanto, forja a mente
O fogo nos queimando com ardor
Por vezes nos invade de pavor
E o rio não deságua mansamente.

Não falo que não deixe cicatrizes,
São elas inerentes a quem sofre
A chave que se esconde, deste cofre,
Torna-nos quase sempre em infelizes.

Mas nunca tenha medo de viver,
A dor que embalde traz nos purifica.
De cores, a paixão, é sempre rica,
Embora nos transtorne, dá prazer.
Os olhos são os lábios da alma. F. Hebel

Quando a ira transtorna tua vida
E quase não consegues mais viver,
O mundo te tortura, sem querer,
E traz toda saudade renascida.

Não sabes que te quero e nem reparas,
Quem me dera se um dia fosses minha
Minha alma não seria mais sozinha,
As luzes não seriam fracas, raras...

Bem sei que não me queres, longe disto,
Teus olhos nunca negam o que sentes,
Mesmo que em piedade sempre mentes;
Eu, porém, desta luta não desisto!

Um dia tu serás minha mulher,
Companheira fiel de cada passo
Que tento, procurando nosso espaço;
Teremos nossa vida haja o que houver!
Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma. Albert Schweitzer

Envelhecemos juntos, minha amada!
Fantasticamente nos amamos
E cada dia juntos que passamos
Espelham-se nos rumos desta estrada...

Antes, adolescentes mais libertos,
Buscávamos o gozo da manhã
Vivemos sem buscar novo amanhã
Os céus de nossas vidas, sempre abertos.

O tempo nos ensina a cada dia
Que a vida se refaz, rejuvenesce,
Amor quando mutável, sempre cresce
Senão virá fatal melancolia...

Um mês, um ano, décadas afora,
Conjunto que se expande sem ter pressa,
De dois viramos tantos nas remessas
Que Deus sempre nos deu, se comemora!

As rugas que nasceram em nosso rosto
São marcas tão discretas, nem percebo,
De tanta luz que deste amor recebo
A vida se passou sem ter desgosto.

Aprendemos que amor não é instável,
Apenas necessita de amplo chão.
É quase nunca ter que dar perdão
Entretanto, amor sempre é mutável...

Da foto em preto e branco à digital
Do beijo do escurinho do cinema,
Amor que quer-se eterno, o mesmo lema:
A lua continua o mesmo astral.

Amor que nunca cede ao tal marasmo
Renova as esperanças, concretiza.
Se a ruga dentro d’alma nos avisa,
Amor traz, em seguida, entusiasmo!
Onde reina o amor, não há vontade de poder, e onde domina o poder, falta o amor. Um é a sombra do outro. C.G.Jung

Não quero conquistar os teus espaços
É teu. Isso, respeito, é minha luta;
Quando há poder no amor, a força bruta
Vence, irá romper os frouxos laços

Que sempre formarão o nosso caso.
Pois seja quem vencer esta batalha
Está exposto ao corte da navalha
E no final de tudo, só o ocaso...

Eu amo cada dia que passamos
Embora não passamos tantos dias.
Espero a cada dia as melodias
Depois de tantos anos, nos amamos...

Amor sempre mistura tanta cor
Inventa quase sempre um bom matiz
Quem pensa que esqueceu de ser feliz
Jorrando suas forças no pavor.

Não posso ter escrava do meu ego
Nem vago por esferas solitário
Amor quando conhece itinerário
Não deixa meu caminho torto e cego.

De tantas plantas formo meu jardim
Nenhuma delas manda no meu braço
Em meio a teu perfume me embaraço
O mundo que pretendo está no fim.

Afim de que não deixes mais meu mundo
Não posso e nem quero ser teu dono.
Senão de madrugada perco o sono
E deixo de sonhar por um segundo.

Se és minha é porque sabe que te quero,
Se sou teu é porque queres ser minha
Não é só porque tenho ou se não tinha
Deixaria de viver o que venero.

Ao contrário se perco ou se não ganho
Não deves perceber se tu me queres
Os dentes quando mordem fundo, feres
Cabelo que balança sempre assanho...

Amor que quer poder não é amor
Somente escravidão. Nunca completa
O sentimento breve que desperta,
No látego, o carinho do feitor!
Onde há muito sentimento há muita dor. Leonardo da Vinci

Não posso mais negar a claridade
Embora muitas vezes dolorosa.
Perfume que se livra assim da rosa
Não pode compreender realidade!

Não basta, neste mundo sem fronteira,
Achar que sempre é bom ficar sozinho,
Quem busca pela rua a companheira,
No fundo o que procura é por um ninho...

Mas saiba minha amiga, que, entretanto,
Quanto mais se aproxima deste amor,
A dor se extasiando sem pudor
Espera que decidas, no seu canto...

Se entregas sem pensar seu sentimento,
O bote se prepara e estás na mira.
A dor neste momento já delira
E salta num segundo, sem lamento...

Inda mais se esse amor não for pequeno.
Quanto mais alto o sonho, maior queda.
O rombo, no teu peito, nada veda,
Não há sequer antídoto ao veneno...

Porém eu te aconselho, nunca tema...
O gozo é bem maior que o sofrimento.
Por isso nunca mate o sentimento
Nem mesmo se depois tudo se trema.

“As pernas que tremeram por amor
Também irão tremendo com a dor...”
Ocupar um lugar no coração de alguém é nunca estar só. Alejandro Pérez


Quando pensas que estás mais solitária
Não sabes que jamais estarás só.
Não precisas pedir, não terei dó,
A vida sempre foi tão solidária

E nunca percebeste, num segundo,
Que tudo que clareia pede lume,
Que toda bela flor, em seu perfume,
Traz a felicidade deste mundo.

Mendigas por carinho, não me importo.
O rosto que se vira, tua meta.
Se queres tua vida mais completa
Não venhas ao meu colo como um porto.

Vencido por flagrante desespero,
Vagueio no universo sem parada
A noite se dizia enluarada
Não me trouxe sequer um só luzeiro...

Vestido das estrelas sem juízo
Percorro siderais desilusões
O mundo das eternas amplidões
Negou a quem sonhou um só sorriso.

Os mantos que me deste, tempestade,
Carrego e não desfilo pela vida.
A rua me demonstra a despedida
Meu barco já naufraga, realidade...

Não vejo mais futuro; em desencanto
Espreito pelo salto da pantera.
As presas afiadas desta fera
Meus ossos se quebrando sem espanto.

Não quero mais saber deste teu choro.
A tua solidão ofende quem
Desesperado pede por alguém
Que jamais percebeu que eu tanto imploro

Pelo beijo, carinho e mansidão
Pela noite maviosa, enluarada
Parece que não vê, sou quase nada.
Não demonstra a menor satisfação

Mas perceba que existo companheira
Eu amo-te não vês que estou aqui?
Teu mundo no meu sonho já perdi
Espero teu amor, a vida inteira!
O verdadeiro amor começa quando nada se espera em troca. Saint Exupéry


Quando vieste, lembro-me sereno,
Prometeste-me um mundo delirante
Na chama que incendeia cada amante
Amor um sentimento mais ameno...

Sonhei em cada noite que passamos
Com tempos mais felizes e fantásticos
O medo, a solidão, teriam drásticos
Finais. Mas, entretanto nós erramos...

Quero-te, isto me basta plenamente!
Não quero teu passado e sim futuro
Do chão que já pisaste, mesmo duro,
O vôo que prometes, num repente

Me importa muito mais do que imaginas...
Não quero teu lamento nem teu pranto.
A vida se renova em cada encanto
Que guarde tuas garras assassinas!

Não quero este perfume que carregas,
Olores que tu trazes do passado.
Se foram as estradas, velho cardo.
As horas se partiram, morrem cegas...

Não quero que transformes nosso caso
Em sombras que não posso carregar.
Cada dia trazendo novo amar
Fazendo do que foi simples ocaso.

Não posso te trazer a primavera
Se nunca se esqueceres deste inverno.
Nossa vida será eterno inferno.
Quem nunca se renova, nunca gera.

Percebo que tu queres neste instante
Reviver esta chama que te queima.
Do fogo que trouxeste e sempre teima
Reacender na noite delirante

Onde estamos distantes e tão perto
Teu prazer eu não quero e não preciso
Vá viver teu passado paraíso
E me deixes seguir no meu deserto!
O universo é uma harmonia de contrários. Pitágoras


As nossas diferenças nos uniram
Em versos, ilusões, em poesia
Eu sempre fui a noite e foste o dia
Os sonhos que te trouxe já fugiram...

Embora nossos mundo se conflitem
Em coisas que julgamos importantes
Na soma de diversos mas constantes
Queremos que universos nos habitem

E tragam neste misto benfazejo
As cores mais diversas da aquarela.
A vida que virá me mostra a tela
Pintada com meu medo e teu desejo...

Somos a divisão que não foi feita
Nas somas mais perfeitas anulamos
As dores e os receios que encontramos
Em busca duma vida mais perfeita.

Espero sem saber, tu sempre sabes.
Aguardo o que sonhei, tu nunca sonhas.
Se temos nossas garras mais medonhas,
Quando começas rezo pra que acabes...

Nesta complexidade somos unos
E pólos diferentes sempre juntos.
Por mais que não concebas meus assuntos
Adágios se confundem com noturnos...

Cigarros quando fumo, ecologia.
Bebidas que não bebo, embriagada.
Em minha calmaria és estouvada
Em tua realidade, fantasia...

Mas assim nossas luzes não disputam
E deixam que a penumbra nos carregue
Se em cada afirmação não há quem negue
As bocas ao beijarem nunca lutam.

Em plena mansidão: coexistência
Pacífica nos traz, a cada dia,
A certeza completa da harmonia
Que sempre nos permite coerência.

E assim vamos vivendo
Completos em nós mesmos...
O sorriso é o idioma universal do amor e até as crianças o compreendem. Paul Evdokinov

Mesmo que a dor, quimera em tempestade
Tente-te destruir a cada dia,
Não mate nunca tua fantasia
Não deixe que esse mundo, em crueldade,
Desgrace teu caminho e nem permita
Que a sorte, por pior e por maldita

Trazendo por final uma amargura
Deite-te nos tapetes doloridos
Dos sonhos que julgamos esquecidos
E sempre nos revelam noite escura...

Nos beijos que pretendes, seja manso
O mundo não te deixa outra saída,
O riso que trouxeste em despedida,
O canto que promete sem descanso
Adormece na boca que não beijas.
A dor sempre virá e não desejas...

O mar que te acalenta te naufraga,
O rio em que pescaste já te afoga
A mão que te tortura, em prece roga,
A boca que te lambe roga praga.

Porém ao perceberes com cuidado,
O sorriso não custa e nem destrói.
Uma alma sem sorriso se corrói
E não deixa sobrar ao menos brado,
A quilha do navio se perdida
À deriva esse barco e toda a vida!

Veja que na natura tudo existe,
A força das correntes, a tempesta,
Todo acasalamento traz a festa,
A morte em cada canto já resiste.

O gozo da coruja e da pantera
O bote da serpente e do leão,
Em todo esse universo, coração,
Em tudo a garantia duma fera.
Porém a diferença, o paraíso,
Se encontra na pureza do sorriso!
O relógio não conta nas horas felizes. Vyâsa


“O relógio não conta horas felizes!”
Nem deixa que lembremos da saudade
Que em momentos sublimes não invade
E nem deixam expostas cicatrizes...

Horas felizes, poucas, mas marcantes.
Cadáveres guardados não as deixam
E fazem com que todos que se queixam
Não se lembrem das horas delirantes.

Vivemos e passamos, segue a vida.
Não posso reclamar de ter perdido,
Muito pior seria não ter tido
O gosto do prazer. Volta sem ida...

Vencidos os momentos da quimera
A sorte me revela meu destino
Tudo o que fora um sonho cristalino
Adormece no colo da pantera

E deixa um sentimento mais mordaz
Do gosto da derrota em minha boca.
A minha juventude fera louca
Esquece que também existe paz...

A tal felicidade é companheira
Que, percorrendo certo trecho, volta
E deixa quem não sabe na revolta
Que marca e que maltrata a vida inteira!

Porém meu querido camarada,
A vida me ensinou uma lição:
Que semeando amor no coração
Tua vida será sempre encantada.

Não culpes teu passado pelas dores,
Elas sempre brotaram do prazer.
Neste jogo: ganhar, gozar, perder,
Guarde todo o perfume destas flores!
O que um homem deseja, ele também imagina ser verdade. Demóstenes

Desesperadamente creio em ti,
No teu amor, em tudo o que me dizes!
Desejo que sejamos mais felizes
Depois de tanta dor que já sofri!

Eu creio nas palavras que disseste
Na noite em que juramos nosso amor.
Vento da solidão, pleno pavor,
Desvia seu caminho para leste

E me deste carinho e liberdade
No gozo do prazer que desfrutamos.
Eu mal posso entender, mas nos amamos;
Prefiro acreditar nessa verdade!

Quando estamos tão pertos, tudo some,
A vida se transcorre como um rio
Que, indo para o mar, trama nosso cio
E mata nossa sede e nossa fome...

Acredito nas luzes que iluminam
As beiras das estradas que fizemos
Com sangue e com suor que já bebemos
Nas noites que devoram e alucinam!

Eu creio em nosso caso de loucura
Que traz a faca exposta quando beija
Que traz a lua ingrata se deseja
E mata ao mesmo instante que me cura!

Eu creio em nossa vida entreaberta
Não posso duvidar deste teu seio
Exposto nessa noite sem receio
No gozo que me fere e que me alerta.

Eu creio em tuas mãos tão delicadas
Percorrendo os caminhos sem paragem,
Eu creio que no fim desta viagem
As mãos que se procuram, mãos de fadas
Depois de tantas grutas e mergulhos,
Rolando pelos seixos e cascatas
Entrando pelos bosques, pelas matas,
Subindo e derrubando pedregulhos,

Não possam se dizer mais inconstantes
Não deixam de viverem nossos sonhos,
Momentos de prazer bem mais risonhos,
Vértices abissais de dois amantes!
O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano. Newton


Eu só quero saber o que não sabes
Embora sempre mostres arrogância.
Duma flor desconheces a fragrância
No mundo que pretendes já não cabes...

Tu pensas que és maior e que domina.
A vida te dará sua lição.
Se julgas que conhece essa amplidão,
Tua alma te acompanha pequenina...

Bem sei que nada sei mas acredito
Talvez eu possa um dia saber mais.
Agora em universos maiorais
Todo o conhecimento é infinito...

Um grão de areia em gigantesca praia
Todo o nosso saber é quase nada,
Não consegues falar da madrugada
Nem da lua que em areia já se espraia.

Um pássaro perdido em pleno céu,
Uma gota minúscula no mar.
Não sabes nem sequer o que é amar
Nem da morte que traz seu negro véu...

Desculpe minha amiga, ser tão duro.
Não posso te omitir esta verdade.
Quem pensa que conhece a claridade
Pode se preparar para o escuro!
O que mata um jardim não é o abandono. O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente. Mário Quintana

Quando a vi percebi que não notara
Nos olhos que seguiam cada passo...
Mudando meu olhar logo disfarço
Embora é tão difícil, jóia rara...

Cada vez que procuro pelas ruas
Não deixa nem sequer uma esperança.
Sei, ao chegar em casa, nem lembrança
As vozes da verdade são bem cruas

Mas devem ser ouvidas, com certeza...
Me sinto tão sozinho, abandonado...
Quem sabe se terei num novo fado
Um mundo mais repleto de leveza...

Qual flor que sempre fica no jardim
Esperando o carinho de quem passa
A morte já me ronda e me desgraça,
Indiferença mata. Estou no fim....
O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda chance. Lawrence Peter

Resistir aos teus olhos, não consigo...
Sou como um helianto apaixonado!
O grito deste amor, desesperado,
É tudo que desejo e que persigo!

Não sabes que caí em desespero,
Mas juro que não tive outra saída...
És tudo o que sonhei, és minha vida.
Por isso meu completo destempero...

Andavas pelas ruas sem sentir
Que dois olhos seguiam cada passo.
Sonhavam com teu beijo ou teu abraço
E quase que sem jeito, fui pedir

Um pouco de atenção e de carinho...
Por sorte percebi que tu querias
Trazer também teu brilho para os dias
Que em meio a tantas trevas fui sozinho...

Nesta hora, te confesso, tive medo;
A vida não permite nova chance,
Agora que vivemos um romance
Divino e estamos longe do degredo,

Entendo, meu amor, falo sem queixa;
Quem quer felicidade não esqueça,
Mesmo que a negação já te aborreça
Uma oportunidade não se deixa...
O prazer dos grandes homens consiste em tornar os outros mais felizes. Pascal

Quero a felicidade de quem amo,
Não posso magoar quem esperei.
Aquele que procura ser a lei
E esquece da leveza deste ramo
Não sabe quanto dói ingratidão.
E, penso, não merece mais perdão!

A vida me ensinou a ver no canto
Um símbolo divino de esperança,
Amor, quando foi feito uma aliança
Exige a cada dia um novo encanto...

Se quero ser feliz, que eu sempre faça
Feliz a quem está sempre comigo.
Senão o vento duro do castigo,
No livro dos meus sonhos traz a traça
Que devora e não deixa nem resquícios.
Amor sem ter prazer: aos precipícios!

Eu quero teu sorriso verdadeiro,
Eu quero essa alegria sem pudor
De quem extasiada em pleno amor
Conhece, num segundo, o mundo inteiro!

Espero pela porta sempre aberta,
A lua nem precisa se esconder
No sonho mavioso de viver,
A mão que te acarinha, sempre alerta!
Amada, amiga, tantas as palavras
Nos campos de esperanças, minhas lavras...
O pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade; o otimista, a oportunidade em cada dificuldade. Albert Flanders


Cada vez que procuras pelo sol
Esqueces deste brilho que há em ti.
Por tantas violências que sofri,
Nunca deixei de crer em um farol.

O brilho das estrelas te magoa,
Pois achas que jamais verás a lua.
Pois saibas nossa vida continua
Embora o nosso canto vá à toa...

Não creia nas quimeras nem nas dores,
Um dia, ao perceber, estás curada.
Depois de tanta dor o quase nada
Assim como também falsos amores...

O vento da mudança sempre vem
Trazendo nossas vidas mais serenas.
As chuvas que virão, bem mais amenas.
Depois de tanto tempo sem ninguém

Tu verás que jamais andou sozinha,
Procura a companhia que precisas
Em meio a tantas luzes imprecisas
Saberás que em teu reino és a rainha.

Nasceste só, assim tu morrerás,
Nasceste nua assim irás ao céu.
A roupa que tu vestes, simples véu,
A tua alma jamais a vestirá!

Te falo desse amor que sempre faz
Da vida uma seara de esperança.
A mão que traz a seta e traz a lança
Depois de tanta guerra pede paz...

Não queiras as riquezas mais profanas
Nem mesmo quem bajule e que te agrade.
Te perderás nas travas desta grade.
Não se esqueça, na terra és soberana!


O temor interposto com a sorte
Não permite que renasça o belo dia.
Entretanto, conheça a fantasia,
Ela ameniza a dor do duro corte.

Não sigas as saudades pois morreram,
Beije-as como se fossem um retrato,
A vida nunca volta, isso é um fato.
As horas que se foram, se perderam...

Mas saiba que a manhã sempre retorna
E traz uma certeza que não falha.
Por mais que seja dura essa batalha
No fim de tudo o louro sempre adorna

Pois és vitoriosa, minha amiga
O fato de existires nos gloria
Sem ti a nossa vida é sempre fria
Da humanidade inteira és uma liga

E sem a qual jamais serei feliz,
Das tristezas escrevas teu futuro
Todo lume precisa que esse escuro
Venha, senão cadê a diretriz?

Toda dificuldade traz ensino
Mas aprender nem sempre vem sem dor.
Do barro, sem sentido e por amor,
Fomos feitos num sonho mais divino!
O amor é uma actividade, não um afecto passivo; é um acto de firmeza, não de fraqueza...é propriamente dar, e não receber.
(Erich Fromm)
Amor sempre nos traz felicidade
Mesmo que esteja envolto na tristeza.
A mágica da vida com certeza
É sempre perceber variedade.

A mão que nos afaga e que nos corta
Decerto também teve muita dor.
Mas saiba que é preciso, para o amor,
Que a vida se renasça mesmo torta

E traga novo brilho e nova estada
Sabendo que teremos fantasia
A vida nos permite, a cada dia,
O gosto do nascer d’uma alvorada.

Nem sempre conseguimos ser amados
Mas isso não se pede, se conquista.
Não há um simples ser que inda resista
Aos ventos que lhe tragam mansos fados.

Porém, mesmo que a sorte lhe proíba
De ver o seu reflexo neste espelho,
De tudo nessa vida que assemelho
Amor sempre carrega e nos arriba.

Portanto minha amiga e companheira
Não deixe de sonhar, pois desengano
Faz parte desta vida e traça o plano
Que sempre te fará mais verdadeira.

Embalde muitas vezes, sem luar,
A noite deste amor é sempre bela;
O sentimento nobre nos revela:
Bem mais que receber é sempre dar!
Nas horas derradeiras desta vida
Que à noite nas boates terminava
Sem medo de viver a despedida
E nas dores cruéis agonizava
No prazer maior destes bacantes
Trazendo tantos gozos delirantes...

Investido de lágrimas e sonhos
Abraço teu cadáver, triunfante
Os gozos que me deste enfadonhos
Teu fim é meu começo, delirante.
O corpo desta fera pesa tanto
E traz ao meu destino, um novo encanto...

Ao me ver assim bêbado infeliz
Escarrado pelas ruas, um mendigo,
Buscando meu prazer na meretriz
Meu último quinhão, o meu abrigo
Nas noites friorentas deste inverno
Que sempre se traduzem como inferno!

Nas portas que fechaste com teus pés
A vergonha invadindo minha vida
Meu barco naufragado sem convés
Amargo da saudade desvalida
E o fel deste teu beijo envenenado
Teu fim sempre sonhei, tão desejado...

Mortalha não carrego, comemoro!
Em cálices de amarga lucidez.
Os olhos sobre o corpo já demoro
E rio, me gargalho dessa tez
Lívida, arroxeada e sem mistério.
A morte executada sem critério...

Agora que me livro desta fera
Encontro meu destino mais feliz.
O rosto venenoso de quimera
Não guarda mais sequer a cicatriz
Marcada pelo golpe que te dei
Nas horas onde foste a triste lei...

Vencida esta batalha, resta o sonho
Em busca d’outros dias sem fronteira.
Vejo-te em podridão, acho bisonho
Quem fora sempre forte, a vida inteira,
Coberta pelas lavras se destrói
O mais mísero verme te corrói.

A minha mocidade destruíste
Em todos os orgasmos não deixaste
Todos os meus desejos já puíste
E em cada sonho meu sempre escarraste
Não pude decifrar sequer teu rosto
Que agora, está em restos, decomposto...

Meus olhos regozijam com a tela
Demonstrada e pintada em vera cena
No brilho do matiz, esta aquarela
Resume o belo fim de minha pena.
Eu vejo destroçado quem me corta.
Depois deste cenário, a nova porta.

Agonizaste a cada navalhada,
Penetrante e sutil em tal prazer
Dada que esfacelou, não restou nada
Apenas a vontade de viver
Que renasceu com fúria no meu peito.
Descanso no meu leito, satisfeito...

Esperei por tal fato sem descanso,
Lutei tão bravamente e te venci!
Futuro tão distante, sim, alcanço
Num gesto quase heróico estás ai
Morta enfim. Destroçada sem perdão!
Livrei-me da quimera: a solidão!
Nada nasce senão do amor, nada se faz a não ser por amor; só é preciso reconhecer as diferentes fases do amor. C.F. Ramuz


Te amo tanto querida, não se espante
A cada dia amando-te bem mais
O mundo se renova em tanta paz
E se demonstra sempre delirante...

Ao ver-te na janela, uma criança,
Outra criança sonha com um dia
Onde possa viver a fantasia
Trazendo, a cada noite, essa esperança...

O tempo passa, vejo-me distante,
Os olhos que sonhara estão lá longe...
Na solidão doída, qual um monge,
A vida me matando a cada instante;

Pois decerto encontrara um companheiro
Tão bela madrugada espera o sol
E juntos formarão o girassol.
Iluminarão este mundo inteiro...

Também a vida trouxe-me essa lua
Com a qual fui feliz, isso não nego.
Porém essa saudade que carrego
De tudo que passamos, continua...

A tarde chega, e mostra meu verão.
A lua que me acalma sempre fria
O sol queimando tua fantasia
A vida serpenteia pelo chão...

Depois deste verão, o manso outono.
Trazendo a calmaria que me amorna,
A lua já se foi, a vida entorna
A dor que me promete duro sono...

As lágrimas enchendo um triste rio
Em dilúvios, transcorre para o mar.
São tantas que não deixam de salgar
Inda mais, aumentando o meu vazio...

Bem sei que meu inverno se desponta
Ao largo deste mar no meu crepúsculo...
E neste fim, tormento mor, maiúsculo
A vida cobrará por certo a conta.

Não pude ser feliz completamente.
Faltou-me tanta coisa, eu asseguro,
O mundo que vivi, por certo duro,
Não deixa bela marca em minha mente.

Um dia, a solidão queimando fundo,
Ardendo e me matando pouco a pouco
Cortando e me deixando quase louco,
Agozinantemente e moribundo

A porta que deixara sempre aberta,
Num átimo demonstra uma saída.
Quem já pensara estar de despedida
Da treva uma surpresa me desperta!

Ao ver teus olhos mansos tão gentis
Em frente a minha porta escancarada
Ressurge, em minha vida essa alvorada
Embora quase morto, eu sou feliz!!!!
São os caminhos invisíveis do amor que libertam o homem. Saint-Exupéry

Procuro a liberdade pelos ares
Nas asas das fantásticas libélulas.
Em cada criatura, em suas células,
Nas frutas que colhi nos meus pomares,

Nas árvores frondosas, nas cascatas;
Nos passos delicados da pantera,
Nos olhos do leão, de qualquer fera;
Em toda ventania, em densas matas.

Procuro a liberdade no meu canto,
Nos pássaros canoros e libertos.
No rumo das estrelas, tão incertos,
Na lua com seu belo e alvo manto...

Nas ruas e mansões, nas capitais;
Nas praças e coretos das cidades.
Na luz em forte brilho, claridades,
Nas ondas e profundas abissais..

Na força da natura e na beleza,
Nas altas cordilheiras e nos planos.
Em todos os lugares, desenganos.
E mesmo no universo uma incerteza.

Liberdade meu sonho mais feliz,
Onde estarão as asas que procuro?
A busquei no clarão, em pleno escuro,
Nas ásperas escarpas, céus anis.

Esta procura louca já me cansa
Em busca da ansiada liberdade.
Encontrando por vezes a saudade,
Meu olhar mais distante não alcança

O cimo das montanhas e os rios.
A luz de tantos sóis já me cegava.
O brilho da manhã não encontrava,
Amauróticos olhos perdem fios...

Depois, total cegueira em minha vida.
A perda da visão, minha prisão!
Pensara num momento, em solidão;
A luta que travei está perdida...

Porém quando julguei que estava só,
Um pássaro em gaiola, solitário.
Recebendo o carinho solidário,
Amor que não deseja e nem tem dó,

Amor que me acalenta e fortalece
Que traz essa certeza de vitória
Que me mostra o caminho para a glória
Que a cada novo dia me enriquece.

Amor que soluciona meus problemas
E não cobra e nem sabe me ofender.
Que não precisa d’ódio p’ra viver,
E que traz alegrias como lemas.

Amor que me sussurra e me perdoa,
Não guarda nem rancores nem vinganças,
É pleno em atitudes e esperanças,
E mesmo sem ter asas, livre voa...

Num segundo percebo essa verdade,
Cansado da procura e quase cego,
Descubro, em minha busca, o que carrego
Vivo em meu terno amor: a liberdade!

Fraternidade

Força que nos unindo, nos transforma
Recebo dessas mãos o que ofereço.
Ao mesmo tempo peço e agradeço
Tem essa maravilha, em amor forma
Estradas e caminhos de esperança;
Repare que essa lua nos alcança
Nela um imenso brilho soberano
Invade um coração mais desumano.
Demonstra nosso amor perante Deus
Amor que se reparte é luz nos breus.
Das dores deste mundo, traz a cura.
Em total harmonia se perdura...
Estrela que nasceu na morte de Maria
Brilhante qual a lua embeleza meu céu...
Por mais que desejei a beleza do véu
Não mais me trará paz, verei, a cada dia

A marca que deixei da morte que carrego.
Lembro-me, sem querer, de cada nova noite,
Do beijo e do carinho em todo esse pernoite
A morte que te dei, na vida deixa cego...

Agora que morreste, espero meu destino
Em cada tempestade o resto que me trazes
São luas que não vejo, o ferimento, as gazes,
O mar que me devora, o sonho do menino...

Maria nunca mais terei de novo a sorte
De ter o teu desejo e morder tua boca.
A noite que te trouxe e te levou vai louca
Em nosso manso leito, a sombra desta morte!

Dimitri, meu filho

Depois de tantas trevas veio a luz.
Imensa e radiosa como um dia
Me dando a dimensão dessa alegria
Incrível, o seu passo me conduz!
Trazia dentro d’alma tanta dor!
Rasgada toda minha esperança...
Imerso nas tristezas, desamor.

Mostraste que na vida uma aliança
É possível se cremos no futuro
Um dia que passamos neste escuro

Floresce em alvorada mais serena
Invejo toda sua lucidez
Levando em meu caminho bela cena
Hoje sou mais feliz, amor se fez!
O filho que sonhei, minha esperança!
A noite me trará teu canto numa prece
Que me revelará um profundo amargor;
Pois quem sempre mentiu não me trará amor.
Mas mesmo assim, querida, a vida te agradece.

Nas vezes que busquei no céu, no firmamento,
Teu riso se mostrava um rio venenoso
Por onde destilava um ar tão vaporoso
Que sempre me matara a cada vão tormento...

A noite ouve meu canto, um canto de partida,
Que traz o sentimento esparso e violento
Da vida que caminha um rumo manso e lento
E perecendo um pouco a cada dor sofrida.

Embora não deseje, eu sinto que vou tarde,
O gosto da saudade, o cheiro deste incenso,
O mar sem claridade, o meu amor imenso...
A vida me maltrata e corta fundo, me arde.

Bem sei do meu destino, aqui estão as chaves.
Depois de tanta treva aguardo, enfim, a luz
Que sei que não virá, pois nada mais reluz
E nem nestes meus céus, o revôo das aves...

Nas hordas sou falena em busca do luzeiro
Mas nada mais me resta, os olhos tristes nevam...
Aos céus em pouco tempo os braços já me levam
E não ouvirás jamais, meu canto derradeiro...
Não sei se para sempre ou por um dia
Nem quero do teu ser ser simples dono
Não me importa amanhã teu abandono
O que quero é morrer na fantasia...

Minhas mãos percorrendo, não se cansam,
Tua boca traz mel e chocolate.
Não temo nem o frio que se abate
Meus olhos te traduzem e te alcançam

Nas noites que se vão e nem mais sei
Se te quero e desejo mais um tempo.
Mas se vier será um contratempo.
O meu mar no teu barco, naufraguei...

Teu gozo e teu tormento, tudo passa...
A vida continua e não se pára
Depois de tudo feito se antepara
Meu sonho nessas curvas sem desgraça.

Não me deste sinal de que amanhã
Meu mundo no teu mundo viramundo
Meu peito vagará mais vagabundo
Na procura desta febre mais terçã

Que cura noutra febre, noutro colo.
A noite não promete contradança
Nem tampouco viver sem esperança
Apenas te deitar neste meu solo

Que não promete flores nem semente.
Vencido sem jamais ser perdedor
O mundo vai girando neste amor
Que começa e termina, de repente...

Não quero ser escravo nem feitor
Apenas me provoque e vai embora.
Se chove ou se não chove, isto é lá fora
Aqui só se conhece teu calor.

Depois desta loucura e tanto gozo
A lua necessita doutra fase
Feriu-se? Que procure noutra gaze
A cura deste beijo doloroso,

Embora não te quero, te desejo.
Eu te amo como nunca amei ninguém
Verdades mentirosas caem bem
E depois que se dane o doce beijo...
Amar alguém significa ver essa pessoa como a Deus a concebeu.
(Dostoievsky)
Não quero a perfeição de quem desejo,
Na verdade isso nunca seria amor.
Não posso e nem pretendo ser censor,
Espelho que reflete e não me vejo...

Eu quero teu amor por ele mesmo,
Sem máscaras mentiras ou engodos.
Nem sempre maciez nem sempre lodos,
Erros, acertos, jogos vãos a esmo.

Não use mais disfarces, fiques nua.
O manto que te cobre não te cabe,
No fim da tarde o sol de tudo sabe
Não quero que me impeça a bela lua.

Não seja teu caminho o que mais quero.
Apenas vá, prossiga sem demora.
Um dia, com certeza tudo aflora
E o paladar terá outro tempero.

Não veja o que desejo, sou parceiro
E como tal meu brilho não te ofusca,
A vida que procuro nunca busca
Um brilho que não seja verdadeiro.

Senão, quando preciso sempre falha,
Por que não terá sido o que pensava.
Nesta hora a falsa luz que assim brilhava
Em plena escuridão, sem luz, se espalha...

Agora que te mostras mais desnuda
Eu tenho essa certeza que me ampara
Que tudo que vivemos, minha cara,
Jamais, nem mesmo o tempo, nada muda!
Estamos neste mundo de passagem,
A vida é bem maior que se imagina.
O mundo que tu queres ,tua sina
Não passa do começo da viagem.

Os erros cometidos nesta vida,
Muito mais nos ensinam que o prazer.
Não tenha tanto medo de viver,
Pois jamais haverá a despedida...

São fases onde estamos aprendendo,
Eterno crescimento, a cada dia.
A dor nos traz imensa fantasia
A vida se refaz, sempre morrendo...

Não chore minha morte; é necessária!
É por ela, afinal que estou aqui.
Dentre todos os momentos que vivi,
A dor não pode ser totalitária.

Meus átomos estão neste universo
Há milhões e bilhões, há tantos anos.
Reunidos me deram desenganos
Que são toda a matéria do meu verso.

Depois que eu prosseguir para outro plano,
Com certeza estarão aqui na terra
Esta verdade é dura mas se encerra
Em si e não admite mais engano.

Portanto eternidade sim existe,
Deste corpo em diversas formações.
Porém a nossa vida, os corações,
Durante pouco tempo, aqui, resiste!

Não guarde de ninguém sequer rancor,
Também está decerto evoluindo,
Da noite lindo dia vai saindo
E tudo se resume em nosso amor.

Não deixe que a saudade te maltrate
Pois ela se representa um fino gozo
Que sempre te dará maravilhoso
Sentido ao que viveu. Assim, destarte

Perceba que jamais será negado
O gosto do prazer que já tiveste.
O manto da saudade te reveste
Do gozo que será rememorado.

Perdoe quem te fere, pois talvez
As flores se perderam no caminho,
E resta tão somente um vil espinho
No alforje que carrega em sua vez.

E ame profundamente, em tudo Deus
Está presente. Nunca se aborreça
Antes de saber, sempre reconheça
Que os erros poderiam ser os seus.

Amigo, se viveres com fervor
Sem temer nem o vento ou tempestade,
Sabendo: nesta vida a qualidade
Maior que a própria eternidade: amor!

Os três Burros

A vida de um burro é muito difícil e se presta a cada situação no mínimo delicada.
Assim não era diferente a vida de Manhoso, um burrico de idade já meio adiantada, como posso dizer, no outono de uma sofrida vida de trabalhos e de raríssimas recompensas.
Depois de tantas desditas e sofrimentos, aliviados apenas por algumas folhas de uma grama não muito degustável já que, na maioria das vezes vinha acrescida por doses generosas de agrotóxicos usados na lavoura; Manhoso trocara de dono.
O preço de um burro caiu muito nos últimos anos pois a motocicleta substituiu com vantagens o trabalho executado pelos pobres animais.
A moto, além de ser mais rápida, acaba sendo menos custosa e menos trabalhosa já que é mais fácil abastecer um tanque de gasolina do que um estômago de gramíneas, principalmente na época da seca.
Por isso estão desaparecendo os rastros deixados pelos eqüinos, tanto das patas quanto das fezes...
Como havia dito antes, por ser um burro e além de burro, um burro velho, Manhoso foi parar nas mãos de um sujeito meio estranho lá para as bandas do Limo Verde, município de Divino de São Lourenço, no interior do Espírito Santo.
João Traçado, o atual dono do burrico era conhecido por seus porres homéricos e fama de encrenqueiro, tendo tido algumas desavenças com seus vizinhos de propriedade por motivos vários. Somente João Polino, no alto de seus oitenta anos de muita experiência e de autoridade exemplar conseguia dar algum freio às loucuras de João.


Nas redondezas havia um camarada que, entre tapas, pescoções e bebedeiras, tinha um relacionamento estreito com João. Bem mais novo que este, era um rapaz até que bem apessoado mas, como bebia muito e criava tantas confusões quanto o seu companheiro, estava também à margem da pequena e conservadora sociedade do distrito.
Zequinha, como era conhecido, num dia de setembro apostou com João que sabia conduzir com maestria uma carroça.
Ao ver que este duvidava resolveu a questão de uma forma simples.
Pegou “emprestado” uma carroça de um proprietário vizinho e atrelou o pobre do Manhoso ao arremedo de carroça que havia conseguido.
Falo arremedo porque a estrutura desta estava de tal forma deturpada
que, se ninguém dissesse o que era e não reparasse nas rodas nunca imaginaria que se poderia usar aquilo como meio de transporte.

Pois bem, ao ver que o burro estava pacificamente à espera do comando, Zequinha, totalmente embriagado e incapaz de dirigir as próprias pernas, começou a puxar as rédeas de uma maneira totalmente desordenada.
Ao ver que as ordens recebidas eram totalmente incoerentes, o pobre burro que, afinal, não era tão burro como quem o tentava fazer sair do lugar, começou a trocar as patas sem saber se iria à direita, à esquerda ou em frente, ou se voltava, além de tentar decifrar alguns comandos que nunca tinha recebido na sua longa vida de cavalgadura.

Após várias tentativas, João começara a perceber que o seu amigo não entendia patavina de montaria e muito menos das artes de como se comandar uma carroça e começou a sacanear o colega, além de cobrar a aposta que tinha como ganha.

A cada cobrança Zequinha se desesperava mais e mais e com isso virava as rédeas em todas as posições possíveis e imaginárias.
Manhoso que era burro, mas nem tanto, estava exasperado com essa confusa desordem e, cansado da burrice alheia, empacou.

Com o empacamento do burro, os dois bêbados começaram a tentar achar um meio de fazer o bicho sair do lugar, já que o dono da geringonça a essa altura deveria estar começando a dar pela falta dela.

E chama pra cá e rédea pra lá e nada do burro sair do lugar, estava cansado daquela confusão toda.
Até que Zequinha apelou e começou a bater nas ancas do burro.
Cada vez que batia, mais o burro empacava, e neste vai e vem, o dono do burro deu uma pedrada com força.

Ou pela pedrada ou por ter avistado, ao longe, uma moita de capim gordura extremamente apetitosa, Manhoso resolveu sair do lugar.
E começou a correr, num galope inesperado para um velho burro.
Acontece que, ou por um ato de inteligência inesperado ou por uma destas coincidências animalescas, o destino do galope foi a propriedade do dono da carroça que, ao ver aquela cena e reconhecer a geringonça atrelada ao velho burro não pestanejou.
O tiro de garrucha atingiu um burro.
A pergunta que fica é a seguinte:
Qual dos três?

Friday, December 1, 2006

AMIZADE

Em meio ao abandono, na natura,
A aranha tece a teia que protege,
A natureza sábia assim a rege
Num ato de defesa e de ternura.

Aranha, sem saber bem o porquê,
Defende-se das tramas da batalha
Nas tramas que constrói em cordoalha,
Não sabe mas destino se antevê.

Assim como essa aranha, um passarinho,
Demonstrando também sua defesa
Num ato de beleza e de pureza.
Constrói, para os filhotes, o seu ninho...

Ao ver o homem quase abandonado,
Exposto à dor temível da quimera.
Que nasce da paixão e degenera
E traz, sem perceber, um triste fado,

Exposto à valentia e sofrimento
Exposto a tais espinhos, pela vida,
Da solidão, saudade, tão doída...
O Nosso Pai criou um sentimento

Que mata a solidão e a saudade,
Supera o desengano da paixão.
Protege nosso frágil coração:
A força alentadora da amizade!
Trago impressa, em minha alma, a tatuagem
Marcada por amores impossíveis...
As tintas são por vezes invisíveis
Mas trazem os sinais da tua imagem.

Vivemos um amor de mansa aragem,
Em tempos que passamos mais incríveis.
Porém em nossas cruzes indizíveis,
As dores prepararam u’a viagem.

A cicatriz que trago não se acanha.
A mão tão delicada já me arranha,
O medo me transtorna totalmente.

Não deixo de sentir, por ti, desejo;
Embora em teu carinho, um relampejo.
As garras me feriram plenamente.
Ser bom é quase ser feliz; ser bom é ter na tristeza um sorriso e na dor um prazer. Malba Tahan


De tudo que sonhei na minha dura vida,
Achei felicidade em momentos atrozes.
O sorriso que dei nas mãos dos meus algozes;
A lua que ilumina em noite vã, perdida;

A hora em que me encontro, em plena despedida.
A mansidão que tenho, em garras mais ferozes.
Veneno que me cura em tão suaves doses.
A mão que me maltrata, a que é oferecida.

Aprendo com o não, me ensina mais que o sim...
E com isso o perdão, é meio e também fim;
A dor que compartilho ensina-me a viver.

Entendo o sofrimento assim como a alegria.
A noite tenebrosa aguarda um belo dia.
Ser bom, quase feliz, da dor tirar prazer!