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Saturday, November 18, 2006

Um dia, passeando no Estoril;
As águas fascinantes, Tamariz...
Meu coração deixado no Brasil,
Nos olhos de Milena, a bela atriz,

Achando que pudera ser feliz.
Em plena primavera, num abril,
O céu tão gracioso em seu matiz,
Num misto de vermelho com anil.

Ao ver, tão calmamente desfilando
As pernas mais bonitas que já vi,
As cores deste céu foram mudando...

Olhar mais indiscreto não disfarça
Fixo, permanecendo por ali,
Na beleza da deusa lusa, Graça!
Cingindo meus amores, velho sol.
Perdido entre esplendores, morre chuva...
Os olhos disfarçados, sem farol,
Escondem-se em teu pranto de viúva.

Ao gerar este vinho tinto, a uva,
Da mansidão transborda em etanol;
A mão que me maltrata perde luva.
O brilho que me mostras, girassol!

Mas sabes que amanhã já me revolto,
Não quero ser somente teu espelho.
Amarras que me prendes sempre solto;

Amores se repetem, velha história!
Em todos os momentos, me assemelho
Na busca do esplendor que me deu Glória!

Gláucia: Verde claro

Na ponta dos pés, manso e calmamente,
Procuro pelos rastros desta lua...
O rio que me leva, na nascente,
Mostrava uma sereia bela e nua.

Infernos, paraísos, roda a mente;
Mas a busca não pára. Continua...
Lusco-fusco me invade, de repente,
Mas o desejo, ardente, se acentua...

Remansos e cascatas se revezam,
Os traçados lunares são meus guias.
Saudades e tristezas; como pesam!

Caminhos que persigo, são dourados,
Vislumbro, do claror, as fantasias...
Te vejo Gláucia: os olhos esverd’ados...

Gisela: Garantia, penhor, jovem loura

O trunfo que guardei p’ro nosso caso
Esqueci de jogar n’hora fatal.
Amor quando termina, finda o prazo,
Não passa de arremedo, vai sem sal...

O sol poente morre neste ocaso,
Sem brilho não clareia o matagal
Dos sonhos. Não flamejo e nem me abraso
Nos raios deste amor, tolo final...

A noite que pensei que fosse dela
Não veio nem virá, morreu apenas...
As cores desbotadas na aquarela,

Não fazem do cenário bela tela.
Não trazem, no horizonte, suas cenas,
Restando só meu trunfo, amor, Gisela...

Giovana

Ninguém jamais dirá que não te amei;
As nuvens que carrego; testemunhas...
Nos barcos que hoje trago, me atrelei
Na busca d’outros sonhos que compunhas,

(As tábuas deste amor), a dura lei...
Mas quando te cravava minhas unhas;
Por certo, tantas vezes eu pequei,
Distante das promessas que propunhas...

Amor que dilacera morte explana,
O grito da discórdia dominava.
Morreu de inanição a soberana

Lua. Morte sutil e tão temprana,
Saberia que aurora não chegava
Nos ermos desse amor por ti Giovana!

Gilda: Aquela que tem valor, valorosa.

Tantas vezes procuro pelo cheiro
Dos olhos deste amor que não conheço.
Vasculho por planetas, mundo inteiro,
Muitas vezes, eu creio, não mereço!

Amor que se demonstre verdadeiro
Mudou e não deixou seu endereço.
A seta procurando pelo arqueiro
Não sabe, nunca viu, vive do avesso...

Espero companhia que me leve
De novo a tantas praias que esqueci.
Verão que se transborda frio e neve

Não deixa primavera, sol e rosa...
Procuro angustiado, estou aqui,
Por Gilda, companheira valorosa!

Giane: Deus é cheio de bênçãos

Abençoado o dia em que te vi!
Andavas pelas ruas da cidade,
Da bela e tão amada Mirai.
O tempo inda corrói, resta saudade...

Estava passeando por ali
Em férias, a buscar tranqüilidade.
Neste mesmo momento percebi
Um fascinante lume, claridade!

Estava transtornado pela dor,
Dor que nunca pensei que minha.
Juventude se ilude com amor.

Rimas pobres, meus versos juvenis,
Andavam vagabundos, à tardinha...
Giane, aquela tarde fala anis...

Geralda: Aquela que doma com a lança

A vida traz batalhas, armistícios...
Há momentos de guerra em plena paz,
Porém, quando morremos, nem resquícios,
A morte, rigorosa, não compraz...

Há pélagos profundos, precipícios,
Onde quem mergulhar não volta mais,
Quem busca tolamente por indícios
Percebe como a guerra é má, audaz...

Nas lutas sem demora, nada sobra.
Amores e fantasmas dos amores
Por eles, mordazmente, um sino dobra.

Aos olhos sonhadores só desfralda
A lança dos que pensam vencedores,
Nas mãos dessa guerreira que é Geralda...

Não me peças perdão, nunca perdôo.

Não me peças perdão, nunca perdôo.
Meus dias em revoltas, contra-sensos,
Sou pássaro que nunca alcei teu vôo,
Os pesos nessas asas são imensos...

Somente meus martírios sobrevôo,
Nas mãos que não me afagas, brancos lenços,
Teus barcos e fragatas abalrôo
Em meio a procelares mares densos...

Não me peças perdão, isso é difícil,
Em todo o dicionário, esse verbete
Arrancado, queimado e fictício.

Mendigando por luas que perdi,
Nas mãos não mais carrego meu barrete,
O mundo do meu sonho está em ti!






Sonho terrível, sangue e podridão!
Nas ruas, vermes loucos e famintos
Devoram, não permitem solução,
A noite e seu fantasma aperta os cintos,

Forte vento em total destruição
Os olhos marejados morrem tintos,
Toda terra, efeméride vulcão,
Destroçada, resquícios indistintos...

Sobre mar flamejante vejo um vulto
Caminhando, flutua simplesmente...
A voz distante, quase não ausculto...

Neste mesmo momento, um manso brado...
O sonho se desaba num instante
Olhos abertos, vejo-te ao meu lado...

Fabiana: Fava que cresce

Lua sobre esse pampa mavioso,
Eu ando procurando por amores.
O meu tempo passando doloroso,
Horas celestiais, campos, flores...

O céu iluminado por leitoso
Cobertor divinal, tragando as dores
No seu mata borrão mais vigoroso,
Derrama sobre o campo seus pendores...

Na guaiaca repleta, sentimentos
Mais sonhadores, levo essa esperança
Na espreita de que venham os bons ventos.

No meu coração vibrando campana
A me trazer a doçura, esta lembrança,
Tempo em que nos amamos, Fabiana...
Acordo destes sonhos e te vejo,
A sílfide que sempre desejara.
No teu olhar um brilho de azulejo,
Tua boca perola jóia rara.

O manto que te cobre, dum verdejo
Raríssimo. Trazendo ares de Iara
No respiro suave do desejo.
Estrelas te servindo de tiara...

Quem sou eu para estar tão perto assim
Da divindade que chega e me ternura?
(A morte vem raiando e é meu fim)

Depressa, num segundo se desfaz
A imagem dos meus olhos some, pura...
Será que foi um sonho e nada mais?
Os céus não saberiam da semente
Incrustada na areia deste mar...
O rastro das estrelas pertinente
Me leva, sem saber, para o luar.

O mundo vai rodando, de repente,
Não pode nem pretende descansar.
Imagem que se forma em minha mente
Me leva, galopante, ao constelar...

A semente jogada sobre as águas,
Viaja sem destino e sem paragem...
Meus olhos acompanham tantas mágoas,

Encontram uma estrela apaixonada...
O mundo se revela nesta imagem,
Procuro minha amada. Não há nada...
Os seixos e sementes, rio e mar...
Nas cachoeiras, pedras, belo véu...
O brilho refletindo esse luar.
É como mergulhasse, inteiro, o céu.

Percebo o manso vento devagar,
Fazendo uma oração. No meu pincel
Desenho a natureza a namorar,
Cupido se transporta p’ro papel...

Em toda a claridade desta cena,
Amantes pirilampos e corujas...
Meus dedos derramando minha pena

Por sobre as entidades da floresta.
Descrevo, mau pintor, em garatujas
A flora, a fauna, todas nesta festa...
Quem me daria as dádivas divinas
Senão esta princesa rediviva?
As aves delicadas descortinas
Nas pétalas gentis da sempre-viva...

A noite a me trazer tuas mãos finas
E delicadas. Quero sempre viva
Nas águas destas fontes cristalinas,
Suave maciez princesa altiva...

Os rios despencando nas cascatas,
O vento suavemente, doce brisa...
Os pássaros libertos desta mata...

Nas ramas destas árvores, os ninhos,
Os olhos da princesa, Mona Lisa,
O canto sem igual dos passarinhos...
Fadas e gnomos, frágeis criaturas
Siderais te acompanham, nem percebes...
As delicadas bênçãos e ternuras
Estão a cada passo que concebes...

Nuvens, borrões celestes, nas alturas,
Observando teus passos nessas sebes,
Lacrimejam-se plenas, ficam puras,
Trazendo as doces águas que recebes...

Sedenta de carinhos, livre lebre,
Saltando por meus sonhos, nas campanhas,
Ardendo teu amor em louca febre,

Os olhos que te querem, pirilampos...
Nas altas cordilheiras, nas montanhas,
Procuro teu amor por belos campos...
Mansidão de carinho e de acalanto...
No caminho das mãos, porto seguro.
No condão das estrelas, tanto encanto.
A saudade se esconde, manto escuro...

Tropeçando em estrelas sem espanto
Vagando pelos astros salta o muro
Que divide esse amor do triste pranto
E que termina em pleno chão, mais duro...

Eternidade expressa em mansas mãos
Desejos de carícias e de cura.
Tantos dias passaram, foram vãos,

Foram tantas demoras pela estrada,
Que, por fim, este canto de ternura,
Por bem pouco termina em quase nada...
Noites sangrentas devorando tudo...
Vergastas cortam penetrando fundo,
O peito lacerado, fica mudo.
A trágica saudade corre o mundo.

As flores do jardim, manás, contudo,
Lavando o sentimento, mais imundo.
Deveras trazem sonhos.... Não me iludo
Aguardo pelo corte, vão profundo...

Recebo teus recados pelo vento,
Esfinges e romances, velhas tramas...
Prazer de ser feliz, experimento,

Mas nada disso serve pr’a quem ama...
Mergulho meus amores nestas lamas,
A noite, que é sangrenta, ardendo em chama...
No braseiro da tarde de verão,
Adormecida sonha com luares.
Delírios inconstantes, turbilhão,
Alcançam ferozmente seus sonhares...

Desgrenhados cabelos, multidão
De desejos transbordam nos altares
Escondidos no casto coração...
Cáusticos martírios loucos ares...

A mão que percebia sobre o seio,
Os dedos acalmando tal braseiro.
O mundo se desfaz em devaneio.

Nos rastros das estrelas, tanta sede.
A vida é um retrato na parede,
O sol tão penetrante, companheiro...
Nas planícies serenas, tantos montes...
Os olhos desejosos pedem brasa...
Em meio a deslumbrantes, calmas, fontes.
Esfíngica mulher, dolente abrasa...

Desnuda-se esse sol, quer horizontes,
A mansidão demora, tudo arrasa,
Os rios invadindo passam pontes,
Amazônica enchente o leito vaza...

De repente erupções tão indomáveis
Explodem nebulosas, raiam céu...
As almas destruídas, incontáveis...

Depois desta explosão, a calmaria...
Os olhos se reparam lambem mel.
Refaz-se a mansidão, clareia o dia...
As estrelas roubando sua luz,
Invejosas percebem tal beleza...
O manto que lhe cobre, já seduz,
Trazendo, pr’a quem sonha, esta certeza

A vida valerá, decerto, a cruz
Das dores e das sombras da incerteza...
Rogando em tantas preces a Jesus,
Que a vida siga sempre a correnteza...

Na plena sensação dessa existência
Os monstros escondidos na tocaia,
Jamais a profanar tal inocência...

Sentindo exuberância deste instante,
A lua enamorada já desmaia
Nos braços tão serenos, minha amante...

Arroubos da paixão deixando rastros,

Arroubos da paixão deixando rastros,
Os lobos tão selvagens caçam cios...
Desejos explodindo vão aos astros,
Os olhos que lhe miram são vadios...

Não sabe das disputas, altos mastros,
Misturam-se delírios, nervos fios...
O sol procura os seios-alabastros,
A neve se escondendo destes frios...

Passeia calmamente, nem percebe...
Da doce suculência que exubera
Por toda cercania desta sebe,

Numa avalanche louca, a natureza,
Espreita, num segundo, vira fera...
Na púbere menina, esta princesa..
Não vais beber da fonte das quimeras,
As hastes, ramos, folhas mutiladas...
Amores que sonhavas, nas taperas,
Encontras nas cadeiras nas calçadas...

Vencidos tantos dias, priscas eras,
As luas que pensavas desmaiadas,
Escondem-se nas nuvens sem esperas.
Amores destroçados matam fadas...

Não queres mais sutis as velhas chamas.
Nos ramos destas flores, sem espinho...
Percebo que deveras não reclamas.

O sonho foi deixado no caminho.
A dama que se veste de dourado,
Matou doce menina do passado...
Os olhos que pediam inocência
Deitados sobre o manto da saudade
Ao longe desta seiva, florescência;
Transitam pelas luas, claridade...

Perdida, sem pedir sequer clemência,
Esgueira-se sedenta mocidade,
Dormita sobre dores da existência
Embarca nesta nau: felicidade!

Na ramaria, flores e perfumes,
Os cantos mais sonoros revigora.
As noites empapuçam-se, ciúmes,

O manto da vaidade logo aflora,
Nos rastros dos amores, os queixumes,
Amada, se desmancha toda agora...

Trazendo o espetáculo das cores

Trazendo o espetáculo das cores
Envolto nessas carnes lapidadas;
Voltando mais sutil aos seus amores,
As horas que se foram, desmaiadas...

Os Astros e mensagens abrem flores
Decoram meus altares com rajadas
De perfumes e brilhos multicores
Luzindo e devorando madrugadas...

Sonhara muitas vezes seiva e gozo,
O monte dos desejos perde espinhos...
O mar das serenatas carinhoso

Invade cada canto desta areia...
Quem fora esta princesa pede ninhos,
As ondas vão lambendo-te sereia...
Mergulha tantos mares, toda a graça...
O vento desejado, primavera,
Serpente que sonhara não disfarça,
Trazendo sutilmente esta nova era...

Quando, por certo virá em plena praça
Dançando tão faminta quanto fera,
Envolta na tempesta que entrelaça
Gozando do prazer desta pantera...

Mergulhando este louco sentimento,
Vasculha pelas luas os seus raios...
Amante se entregando ao viril vento.

Espera pela luz mais redentora,
Os olhos espraiando nos desmaios
Lunares, da rainha sedutora...
Nos mares que prometes, tempestades...
Crateras e serpentes se entrelaçam.
Amaste sem segredos, veleidades...
Dois seres inauditos já se caçam...

Na cama que prometem claridades,
Os olhos desejosos, nem disfarçam...
Roçam-se demoníacas verdades
Os dedos sequiosos mares passam...

Se interando de tudo, sede exposta,
O rumo, então, perdido vai ao caos...
Salivas misturadas, mar e costa,

Os mares naufragando vastas praias...
Invadindo universos, vai ao Laos,
Nos segredos que escondes, tuas saias...
A boca carmesim, desejo louco...
Nas rubras madrugadas seu delírio...
O grito reprimido quase rouco
Espalha pela noite, num martírio,

Doce martírio, rasga pouco a pouco...
Lembranças juvenis trazendo círio,
Esquecidas num canto, nem tampouco...
Desejo que se explode, bom, satírio...

A mão tão carinhosa, mar explora,
Um mar em borbotões descomunal...
A fome deste amor, tudo devora...

Não deixa nada sobre a terra.
A noite se transcorre canibal,
Amor quase explodindo, forte, berra!
Os olhos procurando estrelas mortas...
A nebulosa da saudade veio...
Trazendo porcelanas, ruas, portas.
Nas ondas dos desejos, ponta e meio...

A mão tão delicada medos cortas,
Calmamente desnuda o belo seio,
As dores se passaram, morrem tortas...
O olhar voa distante, a tudo alheio...

Sonhando com fantasmas irreais,
Beijando a própria imagem, seu espelho...
Os dias a transportam, morrem ais...

A divindade exposta em seu sorriso...
Batom, penteadeira, mar vermelho...
Amar é desfrutar do paraíso!

Coração desfraldado, catedrais...

Coração desfraldado, catedrais...
Seus olhos vasculhando namorados...
Os medos se transformam em banais
Sentimentos que trazem velhos fados...

A menina crescida, são vestais
Os desejos ardentes, pedem prados,
Os amores distantes perdem cais,
Carrega nos seus braços seus amados...

O seio exposto, vida se renova...
A mulher explodindo na menina.
A lua vem surgindo, bela, nova...

As claras fantasias iluminam...
Desejos e delírios tontos, minam
A dor de ser feliz, mansa, termina...

Esperas pela noite, nunca vem...

Esperas pela noite, nunca vem...
Esperas pelo príncipe, fugiu...
Quem sempre procurou vai também,
O tempo conselheiro, já saiu...

O medo de viver nunca faz bem,
A angústia dos amores, seu buril,
Transforma essa vontade noutro alguém
Tatuada no peito como um til...

Amores e promessas, esperanças...
Menina que cresceu vive cansada...
Quem espera por luzes e por danças,

Sentada vai revendo o velho sonho,
A vida vai passando na calçada,
O tempo que promete foi medonho...
Onde couber meu braço e meu desejo
Estarei lá. Sou insensato traste...
Canto que trago, velho mar, arquejo...
O sangramento mais atroz negaste...

Nunca mais te darei sequer um beijo,
O mar do não me queres navegaste
O bem que me quiseste, nunca vejo...
O rumo desta vida: perder haste...

Mais alto canto mas jamais ouviste...
Amor que não pretende morre triste.
Quem pode querer sabe que não vens...

Os olhos que procuram por tambéns,
Não sabem onde encontram nossos bens,
Agora que não vens, já vou em riste...

Quando virás? Embalde peço ao vento

Quando virás? Embalde peço ao vento
A resposta que sempre me repete...
Vasculho meu olhar no firmamento,
Estrelas, profusão, tanto confete!

Minha jangada busca meu sustento,
Ao peixe aprisionado não compete
Qualquer uma esperança; mas eu tento,
Desesperadamente. Dor reflete

Cada momento triste, solidão...
Me esperanço, pergunto, mas inútil...
Nessa luta perdida, sou em vão...

Quando virás? Pressinto que jamais...
Pode até parecer pergunta fútil,
Mas sem essa resposta, cadê paz?

Espero-te

Espero-te
Espero-te no horizonte, de manhã.
Traga teus desejos no cantil.
Buscar felicidade, doce afã,
As horas que vivemos mais de mil.

O céu que nos encontra, todo anil,
A barca dos meus sonhos, temporã,
O mote que te trago, varonil,
A vida não se esquece do amanhã!

Repetidas mentiras, são verdades,
Meus bares e buris, meus canivetes...
Os olhos embargados de saudades...

A mulher agridoce paladar...
Aos beijos e carinhos me remetes,
Horizonte te traga céu e mar...

Não posso ser feliz! Isso não cabe...

Não posso ser feliz! Isso não cabe...
Quem pela vida sempre teve medo,
Alegrias da vida nunca sabe,
Nem sequer conhecerá o seu segredo...

Procura simplesmente não ter tabe
Vai, asfixiado, cruel degredo...
Quem não sabe que sempre então se gabe,
Não conhece da vida, seu enredo...

Não posso ser feliz... Ah quem me dera!
Dissecando meus medos, sempre estás...
És fonte e resultado da quimera.

Não podes prometer, assim, a cura...
Quem trouxe o desespero nega a paz...
Traduzir este amor? Total loucura!

Andarei por ti todos os caminhos,

Andarei por ti todos os caminhos,
Nas aldeias e nos campos, estrelares...
Meus olhos vagabundos pedem ninhos...
As pernas fatigadas querem lares.

Na lareira aquecendo dores, vinhos.
Pela janela aberta, mil luares.
Serenatas distantes, plangem pinhos...
Corcel dos meus amores nos altares...

Vasculho pelos ares, não estás,
Teu canto se repete em minha mente,
Meus sentidos vazios, peço paz.

Ando desfiladeiro, cordilheira;
O mundo se embriaga num instante
Vontade de voar a terra inteira!

Tuesday, November 14, 2006

Sons marinhos trazidos pelo vento,
O canto das sereias inebria...
Impuro, procurando o sentimento
Jogado pelo amor nesta água fria,

Encontro nas falésias que rebento
Razão fundamental desta alegria,
Final deste meu tolo sofrimento:
O rastro da sereia-fantasia!

As andorinhas voam e gargalham,
Se rindo deste pobre sonhador...
Distantes, os golfinhos já se espalham

Ao largo do oceano em calmaria...
O rastro da sereia em estupor,
Os pés da minha amada, encontraria...
Crisaldálias e jasmins, nosso jardim...
As crisálidas presas, borboletas
Prometidas. Guardado tudo em mim,
Estrelas, meteoros e cometas...

Ah! Porque foste embora? Vou assim
Como presas crisálidas, repletas
De esperanças. Mas nada mais, enfim...
Inda são borboletas incompletas...

Eu quero liberdade em pleno vôo,
Quero poder sentir o manso vento.
Meu canto livre pelos céus escôo...

Mas a garganta fecha e nada sai...
Escravo, liberdade é pensamento
Simplesmente. Saudade nunca vai...
Sonho terrível, sangue e podridão!
Nas ruas vermes loucos e famintos
Devoram, não permitem solução,
A noite e seu fantasma aperta os cintos,

Forte vento em total destruição
Os olhos marejados morrem tintos,
Toda terra, efeméride vulcão,
Destroçada, resquícios indistintos...

Sobre mar flamejante vejo um vulto
Caminhando, flutua simplesmente...
A voz distante, quase não ausculto...

Neste mesmo momento, um manso brado...
O sonho se desaba num instante
Olhos abertos, vejo-te ao meu lado...
Mocidade terrível fantasia,
Que nos leva a loucuras e delírios!
Dores e fantasmas numa orgia
Misturando cegueiras e colírios.

Vagando entre mistérios forja o dia
Amiga iluminada dos martírios.
Vencida nunca morre a maestria
Saber que podres águas brotam lírios...

Nascente de fantásticas canções,
Trazendo chocolate tão amargo;
Multiplicam temores, aversões.

Ri-se do que jamais soube enfrentar
E chora, do que sempre passa ao largo,
É noite que promete seu luar...
Não me peças perdão, nunca perdôo.
Meus dias em revoltas, contra-sensos,
Sou pássaro que nunca alcei teu vôo,
Os pesos nessas asas são imensos...

Somente meus martírios sobrevôo,
Nas mãos que não me afagas, brancos lenços,
Teus barcos e fragatas abalrôo
Em meio a procelares mares densos...

Não me peças perdão, isso é difícil,
Em todo o dicionário, esse verbete
Arrancado, queimado e fictício.

Mendigando por luas que perdi,
Nas mãos não mais carrego meu barrete,
O mundo do meu sonho está em ti!
Tua beleza nua no meu quarto,
As mãos se carinhando tatuagem...
Uma força inaudita, essa visagem.
Quero, depois de tudo, morto, farto,

Usufruir prazer igual ao parto.
Explodir em orgasmos, na viagem
Deliciosa, margem contra margem,
Sabendo: solidão fera, descarto...

Aconchego de braços e prazer.
Sorrisos e cansaços, santa benção!
Neste solar momento, me deter...

Na nudez que desfilas, meu regresso
Ao mundo divinal, pleno de unção!
Estrelas que derramas, já tropeço!
Amores e suores, ruas e estrelas
As cordas soltas do violão
Liberdade e esperança.
Versos meus não são lanças,
Mas sangram...
Quem me fez assim?
Fim e precipício
Queria ser início, nem indício...
Indicio meu amor com palavras vãs.
Espero a feliz cidade que ano que vem e nunca vime...
Vi-me esteira e cais, caos...
Nascendo de suores e prazeres,
Deve ser por isso que a vida pesa, preza e não completa...
Reta e meta que me remetam ao final do caos, à fênix...
Egoísta, sim, eu sou profundamente.
Mente profunda, em profusão... Minto mesmo e dane-se!
Cosmo e cais, castidade e castiçais.
Sais de fruta que ninguém é de ferro.
Ferro de Carlos, nas almas...
Mineiro, sou mineiro e matreiro, como todo mateiro...
Minhas fontes e farsas, fomes e fornalhas, são versos e vermes. Veros vermes...
Quero um vermífugo, preciso expirar. Êxtases e estases, canção...
Cigarros e cigarras, primaveras e fumo, me esfumo no ar...
Alma e álamo. Alameda.
Amêndoa e olhos, carinhos, vem prá cá
Que a noite urge, o tempo urge, a vida urge... A morte ruge
E ronda...
Solidão, amiga, amiga, amiga, amiga...
Amanhã irei a Marte, quem sabe à morte
A minha norma é sempre ir, ir , ir.
Ir ermo, eremita e ermitão,
Ereto e retrátil.
Táctil e tétrico.
Métrico e Martinis...
Por incrível que pareça, não bebo, não bato, não firo, não caio...
Não saio e nem saia...
Faz tempo, saias e searas...
Cios e sombras..
Sou o contrário do que quis e não querias.
Sou marceneiro e macerado...
Carpinteiro e carpido,
Sou o fado, o resto deixa pra lá...
Mas te amo, sinceramente te amo, embora não vieste,
Embora não te toque nem existas.
Resistes. E resisto.
Desistes?
Não desisto!

Geórgia: Agricultora

Um grito forte ecoa no meu peito.
Estrela amiga minha, redentora!
O verso que procuro, mais perfeito,
Espelhando teus sonhos de cantora
Adormece buscando-te no leito
Constelar. Quero amar quem já se fora
Cavalgando por mundo. Contrafeito,
Brado-te pelos céus, ó salvadora!
Tropicais paraísos em teus dedos,
A mão que reproduz, fecunda a terra,
Dispondo de fantásticos segredos.
No horizonte meus olhos, um sinal,
Procuro por teus rastros, mata e serra...
Vou te buscar, Geórgia, neste astral?

Gabriela: Força de Deus

Liberdade! Cantando suas lutas,
Suas marcas, ferozes cicatrizes,
As dores e torturas, fortes, brutas...
Os tempos transcorridos, infelizes...
Os homens e seus gritos, não escutas,
As cores vão mudando seus matizes
As penumbras noturnas, duras grutas...
Liberdade sangrando, tantas crises...
Esperança, entretanto, já ressurge
Nos olhos amantíssimos, serenos...
Minha felicidade plena turge
Em braços carinhosos se revela.
Nestes braços amigos, bons, morenos,
Da lua que sonhamos, Gabriela!

Francisca: Uma referência aos franceses, francesa

Coração vagabundo passageiro
De tantas esperanças vãs perdidas...
Procuro por amor o tempo inteiro,
Já não me bastariam nem mil vidas...
Na boca sequiosa, despedidas
E encontros, refazendo seu viveiro.
As noites que vivi mal resolvidas
Esperam pelo verde do tinteiro.
Esperança; poder enfim parar.
Mas alma passageira, tão arisca,
Espera veramente outro luar...
Coração, viajante vagabundo,
Cismando em procurar, no vasto mundo,
Um outro amor igual ao de Francisca!

Flora: Uma referência à Deusa da Primavera

Te cantarei canções do coração!
Naturalmente bela, estrela minha...
Nas cordas do sonoro violão,
A dor desta saudade se avizinha...
Em teus braços, serei uma avezinha
Procurando por tua proteção...
Teu amor, meu amor vem e se aninha
Meu canto está repleto de ilusão...
Cobertor dessa noite longa e fria,
Quem dera regressasse enfim, agora!
Deusa primaveril, das flores guia
Meu amor não suporta tanta espera,
Retorne então, querida, a Primavera
Só poderá chegar contigo, Flora!

Flávia: Dourada

Não quero teu amor, isso não quero.
Quem inventou amores não sabia
Que, mal nasce este amor, morre meu dia.
São versos que não faço nem venero.
Amor é sentimento cruel, fero.
Vem fazendo esta estúpida sangria,
Rasgando, maltratando a melodia.
Nada além de ilusão jamais espero!
Conheço bem promessas e mentiras...
Não quero teus carinhos, quero nada!
Esperanças cortadas, várias tiras,
O canto que prometes, não suporto!
Embora dos meus sonhos, seja porto...
Flávia, vais me cegar, brilhar, dourada!

Fernanda: Ousada, inteligente, protetora

Mais terras que percorra, não terei
Senão brilhos, olhares, e canções.
Em todos os desertos, fui o rei,
Embora nunca houvesse corações!
Procurando esta lua, descasei,
Não me deste sequer os teus verões
As terras sem destino, descansei,
Amores se explodindo em amplidões...
Meu mote falta sorte, sobra morte...
A noite que me trouxe esta ciranda,
Por certo provocando fundo corte,
Não deixa outro caminho em minha sina.
Na boca carmesim desta menina,
Amores se traduzem em Fernanda!

Felícia: Feliz

Equilibrando dores, alegrias
Respiro sentimentos diferentes.
Coração escraviza-se em folias.
Meus medos e quimeras são urgentes...
No picadeiro trago as fantasias,
Dançando sobre luas e vertentes.
As ruas prometem cantorias,
Amores sais refletem tantas gentes...
Palavra e pensamento vêm à tona.
Rodopiar da saia da morena,
A vida me promete não ter pena.
O canto que te trago, de carícia,
Nem medo nem quimera falastrona
Felicidade a se explodir: Felícia!

Fátima: Donzela esplêndida

Beija-me! Necessito teu carinho!
Meus mares e saveiros onde estão?
Meu mundo desabando, estou sozinho,
As luzes, esperanças vão ao chão...
Meu canto, engaiolado passarinho,
A noite me promete sempre o não.
Encharco meu amor, cálice, vinho...
Promessas? Só me fez a solidão!
Nos teus olhos a vida me protege,
Últimas esperanças de viver!
Destrua tal tristeza, a vil herege
Que teima em devorar meu sentimento!
Eu não tenho sequer tempo a perder
Ah! Fátima, me beije... Calmo, lento...

Fabrícia

Ah! Como dói o amor quando distante...
As horas não se passam, vida voa...
O mundo se desaba num instante
Quem dera ser feliz... Rei e coroa...
Nos olhos derramados deste amante
As lágrimas se secam. São à toa,
Jamais renascerá o radiante
Sol... Mas um girassol louro destoa...
Floresce mais teimoso neste prado.
As cores e os brilhos são farol...
Promete ressurgir vital delícia...
Quebranto e solidão meu triste fado,
Mas, entretanto a vida, um girassol;
Promete renascer, loura Fabrícia!

Fábia

Passeias pelo campo mais florido...
Os bosques e pomares, a lavoura...
Um belo olhar, puro azul, decidido,
Sob uma cabeleira trigal, loura.

O sol fica feliz por ter surgido
E em raios carinhosos já se estoura.
Nas pastagens, o sol amanhecido,
O gado, aos belos raios, também doura.

A dona desse olhar vai distraída,
Mal percebe meus olhos sonhadores.
Encontro noutros olhos, minha vida.

A natureza absorta, mansa e sábia,
Respeitando esta cena, manda as flores
Perfumarem teus passos, bela Fábia!


Fábia: Aquela que planta favas







Fabiana



Lua sobre esse pampa mavioso,
Eu ando procurando por amores.
O meu tempo passando doloroso,
Horas celestiais, campos, flores...

O céu iluminado por leitoso
Cobertor divinal, tragando as dores
No seu mata borrão mais vigoroso,
Derrama sobre o campo seus pendores...

Na guaiaca repleta, sentimentos
Mais sonhadores, levo essa esperança
Na espreita de que venham os bons ventos.

No meu coração vibrando campana
A me trazer a doçura, esta lembrança,
Tempo em que nos amamos, Fabiana...


Fabiana: Fava que cresce

Sunday, November 12, 2006

textos

Edwiges




Nas guerras e batalhas siderais,
As expansões celestes num cortejo
Criando batalhões mais irreais,
Desfilam deslumbrando meu desejo.

Entre estrelas, planetas os sinais
Que demonstram verdades num lampejo.
Em tropéis gigantescos, canibais,
O céu perde, um momento, o azulejo...

Nas flamejantes lanças, holocausto!
Toda a dor explodindo neste infausto...
Miasmas e matérias se confundem...

Por um instante louco, uma viseira
Se ergue. Meus olhos noutros olhos fundem,
Meu amor, Edwiges, a guerreira!

Edwiges: Guerreira rica










Elaine


Nas origens da Terra, escuridão
Absoluta, total... Nem sequer brilho!
Na treva verdadeira, céu e chão
Se confundindo... Qual um andarilho

Caminha no deserto, no sertão,
Sem ter sequer noção, precisa trilho,
Assim também caminha um coração,
Vai buscando ecoar seu estribilho...

As luzes que surgiram sobre a Terra,
Exaladas da estrela que ensolara,
Florescendo nas mata, campo, serra,

Permitindo que tanto sonho plaine
Embelezando etéreos. Jóia rara,
Amor, também rebrilha em ti, Elaine...


Elaine: Tocha, luz






Helena


Tal qual uma princesa cintilante,
És dona dos mistérios de um farol.
A lua, nos teus olhos navegante,
Ardendo muito mais do que o sol.

Transbordas de emoção a cada instante,
Cobrindo este universo com lençol
De estrelas coloridas, delirante...
Ao vê-la no castelo, sou reinol,
(Um brilho em teu sorriso, diamante!)

Por vezes nesta esplêndida visagem,
Meus olhos qual falenas pedem lume,
Escravos, imploravam à paisagem,

Um resto deste brilho encantador...
Nos raios, um incrível bom perfume,
(Helena), Esta princesa e seu amor...


Elena: Tocha, luz






Eliana

Raios solares, vida em tempestade!
Nos brilhos ardorosos, queima, em brasa...
Pois todos os recônditos invade
E violentamente tudo abrasa!

Ardendo com possante claridade,
Penetra cada cômodo da casa,
Eflúvios de beleza e de saudade,
Minha vida, seus brilhos, já se embasa.

Procuro por teus raios sedutores,
Neste fototropismo alucinante!
Agitando, potente, meus amores,

Trazendo aos meus sonhares tanta gana!
Ó deus destes delírios seu amante
Já busca por seus raios: Eliana!


Eliana: Sol, de beleza resplandecente;
Marcos Loures






]
derradeiro sonho
Se quando eu te encontrei num derradeiro sonho,
Tivesses me negado amor que nunca cri.
Talvez tivesse sido um tempo mais risonho...
Amor que nunca soube; ainda estou aqui...

Por mais que te pareça incrível, é medonho!
Muitas vezes esqueço as dores que senti,
Em outras, esperança, o meu canto tristonho
Me lembra simplesmente, o que jamais vivi...

Amor que não brotara espera por um parto.
A vida se demora, aguarda um sentimento.
Dessa dor gigantesca eu ando meio farto.

O beijo que não tive espero em minha boca.
Um cata-vento espera um pouco deste vento.
O meu mundo passando, a minha vida louca..








Quando partires
Quando partires vou procurar pelo brilho
Que deixas no teu rastro, estrelas radiosas...
Com toda esta certeza amor igual de filho,
A mão que me domina espinhos traz das rosas!

Meu canto procurando o mais belo estribilho
Encontra teu perfume em flores olorosas.
Por tantas vezes tonto, em vão, eu sou bisbilho,
Perdendo meu sentido, as mãos maravilhosas...

Meu gélido suor, meu medo de costume,
Seguindo nesta espera encontro um vasto não,
Mergulho na quimera e perco teu perfume.

A lágrima infinita aguarda quem recolha
Nos lastros da memória agüenta coração
Flutua o pensamento: é ar levando a folha...









A saudade é tormento

A saudade é tormento, esmaga o coração...
Procura pelo porto, encontra podre cais...
Saudade dolorosa em busca do perdão
Esbarra na vontade, e vai pr’a nunca mais...

Saudade que me corta, em tanto sonho vão,
A resposta, sempre ouço, a mesma, pois jamais
Saudade terá mesa em toda essa amplidão.
A dor dessa saudade a saudade me traz...

Me recordo do beijo, amor que já morreu...
O céu que sempre brilha, invernoso nublou.
A noite que era clara e já se escureceu

Demonstra quem eu fora e nunca mais serei,
O tempo que sonhava e que já se acabou
Foi um tempo feliz onde amar era a lei!





Quem me dera
Quem me dera quem dera não me desse.
Os rumos e as rimas mais atentas
O céu que não clareia me escurece
A prece que não fiz as águas bentas

No medo que arremedo a noite desce.
Consegues não consigo bem que tentas.
Os trâmites tramitas tanta prece
Os térmitas entrando em minhas ventas.

Ventas e não revelas revés velas
Vagas velhas vontades vate vá-te
Rés e restos protestos me revelas.

Na boca cabe beijo bela bate
Na paz capaz chispar cobrir cabelo
No nó que não notaste no novelo...



Que se dane!
Me perco, manso e safado, asco e desejo,
Arpejo e salamandra, enormes vagalumes...
Colibris e paraméceos, cios e senzalas...
Sou mar e marina, amaria e não amar
Rumar por ruas e aspas, métricas e rimas,
Cismas e sismos. Cinismos.
Me perco...
Nada mais posso dizer, viver é saber mar.
Mar que não freqüento, vento que não tenho,
Cenho já fechado, arado que não ara, ar, aragem...
Paragem, freno e fornalha, parafernália.
Meu último segundo, mundo que inibe, bélico...
Eólico, fatídico, fraternal e farsante.
Farsa andante, ando meio à toa. À tona. Átona...
Teimo com tremas e temas, átomos, tomos
E temeridades.
Temer idades.
Temer cidades.
Temer os hinos,
Termino
Término.
Termos e hinos,
Meninos...
Meus hinos e meus mimos, martírio.
Quero o gosto, gozo e gesto.
Vivo pro gasto, pro fausto e pro fastio
Pro afã, profano...
Giro por entre gestos incontestes com testes, contextos.
Com textos e texturas.
Puras peraltices.
Altas pernas, pernaltas, pernas longas...
Pernilongos, longos, logos, lagos, escunas
E lagunas.
Lacustre sonho, medonho me exponho e me ponho no mar...
Ar e medo, arremedo absoluto. Absurdo,
Surdo a soldo, sola, soldado...
Calo e refaço,
Farsa e cobrança
Aliança.
Mansidão....
Te amo e que se dane!





lusco-fusco
Amor que se fizera lusco-fusco,
Em plena calmaria se rebela.
Não creio em sentimento pobre, fusco,
Que sempre que se acende pede vela.

Nas sombras deste amor eu não me ofusco,
A vida pintaria nova tela...
Nos horas mais difíceis eu me enfusco
Cavalo que não trota, perde sela...

Vivendo nessa espreita, nas ruelas,
Amores que pensei, não mais retornam...
Firmando os parafusos, arruelas,

Firmando o pensamento, trago o sonho,
As horas mais difíceis se contornam,
Meu medo deste amor se faz medonho!



pergaminhado
Estou pergaminhado, tanta ruga...
O mar que naveguei virou um rio...
A casa que vendi ninguém aluga.
O cobertor usado traz o frio.
Vencido por outonos, já me inverno.
A lágrima rolava? Já secou.
As traças devoraram velho terno,
O barco dos meus sonhos naufragou!
Não ouço mais teus cantos, estou surdo.
As luzes que trouxeste? Vago cego.
Nas guerras que inda enfrento, morro curdo.
Amor que me trouxeste, já renego.
Meu mundo
Num segundo
Vira mundo
Vagabundo...
Afundo o travesseiro
Travessas e viseiras
Trastes velharias
Se gostas de velórios
Passas satisfeita.
Não falo de despeito
Nem medo e tentação
Ação que não se tenta,
Morre sem perdão.
Perdendo já me perco
Perdido me perdi.
Achei um firmamento.
Momento que me firmo.
Afirmo que sou vão,
Verão já nem conheço
Remessa vou avesso,
Me deste o meu norte.
A morte que rodeia
Na veia inoculada.
Na beira da calçada.
A banda já passou!





Curvas
Não poderia ver o vale...
O mundo não deixaria outra escolha.
Cola e cavalo, casa e casal... Casamento!
Pergunta que não se responde,
Bonde vai, bonde vem...
Ninguém poderia saber
Ao certo se duvidoso.
Nascido e criado, talvez morto
No vale que jamais deixaria.
Ria e chorava, rio e riacho,
Diacho de vida!
Maria e casamento.
Momento difícil de escolha.
Escola distante, futuro traz fruto
Semente e sêmen, momento de glória.
Sem ismos e achismos, marcas e marchas.
Festa e refastelo.
Cama e chama
No final, moleque,
Um leque que não abre,
Um mundo que não cabe
Na curva deste rio
Nas ruas da viela,
No vale onde nascera.
Mundo comprido e tão distante.
A cada instante novidade.
O vento da liberdade
Vencido pelo morro,
Trazendo seu socorro,
Maria do Socorro...
Rebentos à vontade.
Qualidade e quantidade,
Eta gurizada bonita!!!
Novilha e cabrita, café e cafuné, resultado: menino!
A vida se passa e se comparsa.
Tem farsa,
Mas disfarça que o cavalo ao vale vem...
Antes tinha trem
Agora ninguém vem,
Somente a vida, trem
Danado de bom...
Não sabe de São Paulo,
Nem Rio nem Belzonte,
O belo do horizonte
Termina ali na curva,
Nas curvas do socorro,
Ancas de Socorro.
Resultado: mais guri...
A mão que se quebrou
O breu logo curou,
Um canto curioso
Na serra curió.
A vida deu um nó,
Nasceu tanto menino...
Na ponta do cipó,
Na curva do destino.
Saudade desse tempo
Do vento em minha nuca,
A vida é arapuca
Não bole nem remexe.
Vazando pelos pastos,
Nos gostos e nos gastos.
Sementes de esperança
Plantadas no quintal.
Do seu canavial, havia novo aval
Ser feliz!






Vale
Vales e cavalos,
Nasci em meio aos vales,
Meus pés transitando
Frios e espinheiros...
Milharal, boneca
Brinquedos e moleque.
Carro de boi, aboiando
Arando, trazendo vida.
Vida e sol, solar e sonata.
Serenata...
Sereno de madrugada,
Manhã nublada
Seguindo a cartilha
Felicidade...
Parceiro dos sonhos
Menino cheira liberdade.
Gravetos e lenha
Fogão e comida. Café, leite e broa...
O que era doce
Foi pro chão,
Pote rachado,
Vida também...
Veludos e cetins eram ilusões
Contadas pelos mais velhos.
Mil e uma noites, mas pra quê?
Sonhar acordado de acordo com o coração.
Cordas e acordes; violão!
Primeiro amor, amor amaro amora, amargo...
No trago o primeiro gole, a gola e a gala.
Danças e remansos riachos....
Achas e rechaços, cachaças e cachaços...
Dia de festa: leitão berrando, faca entrando,
Pururuca!
Nunca mais...



Só sei que te amo!
Noite e dia
Canto e silêncio
Espora e corcel
Lua e sol
Praia e montanha
Vento e proteção.
Relento e agasalho
Certeza e dúvida
Dívida e acerto
Concerto e conserto
Mata e cidade
Perdição e rumo...
As pontas opostas
Dispostas desta estrela
Trazendo um núcleo
Igual, repartido.
Elétron e próton
Platonicamente correto.
Politicamente nem tanto.
Encantos e recantos se misturam
Moscas pousam sobre os talheres...
Segredos com partilhas compartilhados...
Medos e modos distintos,
Distinta e indistinto
Instinto e razão.
Tinto vinho, veneno e verão.
Versos e solidez.
Avesso e reverso
Meu verso procura
A cura e ternura,
Na jura e na rima
Arrimo e contrasenso.
Estrito e imenso,
Imantados
Pólos opostos
Atos e apóstolos,
Postulas e não posso
Pústulas carrego
Nego e me pegas,
Corvos e pegas...
Percas e ganhos...
Enganos e ganas
Gerânios e gerúndios.
Como pode um peixe vivo...
Nas horas mais estranhas
Entranhas e temperos.
Seios e rodeios,
Cavalgada...
Vagas calvas dos montes.
Remontes e desmontes.
Pouso e gozo, órgãos e orgasmos.
Espasmo e espantos,
Contratos e contraltos
Remessas e conversas.
Discutir a relação!
Relatos e remédios
Rotas sem tédios
Temidas e terminais...
Tolas discussões
Sessões de culpa
Desculpa e me culpa
Culpa
Culpa
Quero lupa!
A pupa apupa e apóia
Quase que bóia
A jibóia me aperta.
O nó da gravata
Bravata e graveto.
Vate e barata
Barbatanas
De tubarão
São afrodisíacas!
Paradisíacas misturas, curas e chicotes.
Látegos e latejos.
Polens e pré-juizos.
Prejuízos?
Quem sabe
A porta se abre,
Se cabe ou se acabe não cabe!
Será?
Só sei que te amo





Sina
Vergalhões e vergastas,
Gastos meus gestos e minhas graças...
Garças livres alvas voam.
Ventos e ventanas, vestes e ciganas
Se engana se pensa que não amo.
Amor meu moleque
Brincando de queimada
Se queimou...
Amor que quem dera não daria (faz cócegas)
Não vale a vela nem velório
Valeria?
Valério.
É, eu sou valério por isso vale e rio
Riso e resvale, velando meu cadáver
Cada ver cada via cada veio
Cada não valia.
Porcada por cada porcariada
Escrevo meus versos reversos e incertos.
Corretos e carretos. Sei de cor!
Enfaixas em gazes e faixas de gazas
Azares.
Azedos ácidos e ansiosos
Siso e seio. Parece...
Padeço e não expresso, expressão.
Palavra bonita boa fita boa broa, boda?
Deu bode!
Bodega e botequim
Química danada
Cachaça batizada!
Uísque?
Quem disse?
Cerveja e caninha,
No máximo um rum.
Rumo ruim e remoso.
Reinoso.
Reinado...
Menino malandro,
Urubu malandro
Pixinguinha. Pizindim...
Bateu amor em mim.
Que faço?
Recomeço ou tropeço?
Te peço ou me guias?
Mergulho ou orgulho...
Gorgulho!
Fio fosco e frio.
Fenestrado...
Mestrando e mostrado, amansado
Maestria...
Domesticado fica melhor que amansado.
Doméstico, do mestre, da maestrina.
Minha sina é ser assim?
Asmante.
Aos montes
Amante sem mares
Nem marés,
De viés
Sem fé.
A pé!



Elisângela


Fortuitos sentimentos são ferozes
São facas que machucam com dois gumes.
As mãos que acariciam são velozes,
Amor que não se cuida, sem costumes...

Os cantos que não trazes perdem vozes
Meus dedos não procuram por estrumes
As ruas dos silêncios são atrozes
Nas noites dos meus sonhos cadê lumes?

Singelos meus defeitos são completos
Completam-se nos erros que não fiz.
Amores são meus pratos prediletos,

Embalde nesta vida sou feliz
Violas quando plangem serenata
De amores Elisângela é a nata!


Elisângela: Amor leal




Elza


Das águas surge bela e calma ninfa,
Seus olhos refletindo todo o céu
Das festas e dos cantos paraninfa
Beleza que emoldura, traz no véu.

Ao vê-la, o coração entra em vertigem,
Dispara como fosse carrossel
No corpo dessa amada e linda virgem,
Amores e promessas no papel.

Pergunto aos deuses como te fizeram
Respostas não ouvi nem ouvirei.
A fórmula, por certo não me deram,

Nem eles mesmos sabem com certeza
Amar essa mulher me fez um rei.
És Elza, destas ninfas, a princesa!


Elza: Virgem das águas



Eloisa



Nas guerras e nas camas peço paz!
Meus medos são remédios e doença.
Por vezes me percebo tão capaz
Mas quase não conheço quem convença.

Quem dera ser assim, um bom rapaz,
É coisa que não quero e vou sem crença.
Batuca no meu peito um capataz,
No fundo não me cabe nem compensa...

A noite se refresca em plena brisa,
O manto das estrelas me cobriu.
Nos versos dessa amada poetisa

Meus erros se acumulam, mais de mil.
Desculpe se machuco-te Eloísa,
Amores do meu jeito, mais viril.

Eloisa: Combatente gloriosa




Emanuele


Deus existe? Pergunta que repito,
Invariavelmente a cada dia...
Por vezes imagino que acredito,
Por outras me respondo: é fantasia!

Ateu, de vez em quando faço um rito,
Escrevo tantas vezes, poesia.
Nas noites que não durmo, mais aflito,
O frio me trazendo pneumonia...

O medo me refaz desta coragem
Que tantas vezes vem e prejudica
Não quero imaginar sequer bobagem,

Amor que não concebo me repele.
Rainha dos meus sonhos foi tão rica
Quando acordar te encontro Emanuele...


Emanuele: Conosco está Deus



Emilia


Beleza que não tem nenhuma igual
Passeia pela sala, vai desnuda,
É fogo que se alastra, é carnaval.
É pássaro que canta em plena muda.

Doçura tal? Achei canavial,
Meu Deus, eu necessito Sua ajuda,
Me dizes onde andaste neste astral,
O que é que faço Pai? Vem e me ajuda!

Amores quando muitos são terríveis
As brigas e discórdias invencíveis.
Voando meus talheres e mobília

A casa se transforma num segundo!
E tudo se desaba acaba o mundo!
Amor da minha vida és tu, Emília!


Emilia: Rival enciumada


Érica


Teus olhos tão soberbos não encaro!
A vida não me deixa solução,
Quem fora amor mordendo fica caro,
Ajoelhado estou, peço perdão!

Se imaginasse assim, tivesse faro,
Por certo preferia a solidão.
Vagando pelas ruas sem amparo,
Lambendo estes teus passos sou um cão.

Não maltrate quem te ama, minha amada!
A vida sem amor é quase nada,
É rio que se perde do seu leito.

Não precisa gritar assim, histérica,
Nem tudo nesse mundo é tão perfeito.
Mas, por favor, não me abandones Érica!


Erica: Aquela que é sempre poderosa


Estefânia

Minha princesa eu vivo, sou plebeu,
Por certo nunca soube quem eu era
No mundo que vivemos restou eu,
O resto do reinado não espera.

Fingindo ser verdade já morreu,
O tempo que vivemos na tapera,
O manto que te cobre escureceu,
O peito de quem ama, dilacera...

Fagulhas incendeiam toda a mata,
Remates e remendos ficam feios
O tempo que passamos na cascata,

Talvez tenha mudado teus anseios...
Os corações embalde querem meios,
Pois quem ama, Estefânia, não maltrata!


Estefânia Coroa, realeza


Estela


Olhando para o céu vi uma estela!
Estrela de raríssima beleza
Brilhando neste breu fiz uma tela
Que mostra toda a sua realeza.

Princesa das estrelas me revela
O mundo que trouxera com certeza
Nos pântanos e charcos sempre sela
Corcéis de fina estirpe da nobreza.

Vasculho pelo céu e nada vejo.
Sumiste sem sequer deixar sinal.
Agora o quê que faço do desejo,

A vida vai morrendo sideral.
Do brilho que trouxeste sequer vela.
Somente nos teus olhos, minha Estela!



Estela: Estrela



Elisabete


Meus versos revelando velhos vícios
Vontade de viver, vera vertente.
Nas praças e nas poças, precipícios;
Nos vales e nas vias pertinente.

Se vago nunca deixo esses indícios
Vorazes véus velozes vivo urgente.
Amores que me moram são fictícios...
Nos campos de batalha inda sou gente...

Não vejo meus velórios sem confete.
Não tramo meus temores sem tropeços.
Nos ermos escrevi teus endereços,

Nos olhos criminosos, canivete.
Na festa dos amores, adereços;
Nos braços, minha amada Elisabete!





Elisa


Nas horas complicadas desta vida.
Comparsa e companheira, minha amiga.
Navegas por meus mares sem intriga
Minha alma se emparelha, repartida...

Não quero mais saber se vai perdida
Ou se encontra nos braços ou periga,
P’ras dores deste mundo: trago figa,
Nem quero mais ficar, venha e decida!

Meus olhos vagamundos vergalhões.
Vão vesgos vasculhando a decisão.
Embarco-me na toca dos leões;

Do mundo quero amor e mansa brisa.
Aguardas que me exploda o coração?
Te espero atrás da curva amada Elisa!



Alma sem juízo
Não me venha falar de minha alma
Ela precisa de um corpo, o meu não vale...
Esquecido pela sorte dos pintores
Pelo mote dos cantores
Pelos perfumes, flores
Se fores
Não contes com a volta;
Quem quis ás, morre curinga!
Não vinga...
Respingos de vela e mãos talentosas
Até que poderiam dar um jeito...
Mas parto sem partilha
Sou ilha quase vulcânica
Expiro a cada momento,
Não quero falar dessa alma,
Até que não é das piores,
O complemento é que mata.
Matas e cascatas, casas, casamatas.
São metódicas e trágicas retóricas
São fúnebres!
Meus modos e meus medos, medonhos!
Caídos os dentes, o alho inda continua...
A falha da fala o falo falava mas calou-se...
Recipiente sem pente, serpente sem dente...
Peço desculpas se te incomodo
Não tenho modos
Sou assim.
Início sem fim,
Final de feira
Xepa!
Fragatas e fragrâncias: flagrante!
Vísporas e vésperas ; vespeiro!
Não tente temores nem humores,
Sou vão vou vão vivo vão morro vão
Vadio...
Vazio.
Misturo meus mares e meus mundos
Nada sobra,
Sombras e escombros,
Dou de ombros
E vou.
Não me assombro nem somo,
Nem sou.
Restei...
Alma toma juízo e procura um novo porto!
Estou apaixonado pela sereia
Mas e daí?
Não veio nem virá
Nem que seja poente
Nem de repente,
Nem estrelares
Nem aldeias
Minhas veias?
Minhas vias?
Ser feliz!


Eva

Revelas relvas ervas e valores,
Vaticino futuro glorioso!
Nas almas e nos âmagos amores,
Nos olhos tantos óleos. Oloroso

Perfume que me encharca, raras flores.
Decoro com coragem, caloroso,
Os templos que se ergueram sonhadores.
Meu peito me maltrata tão idoso.

A fome de viver já me domina.
Não quero conhecer eterna treva.
Um brilho deste olhar cedo alucina,

Os olhos de quem morre e já se neva.
És último estertor, bela menina,
Primeiro e derradeiro amor, és Eva...


Eva: Vivente, viver, vida




Evelyn


Um canto triste vive na gaiola,
Não posso nem ouvir que não resisto.
Amor e liberdade minha esmola,
Nas lutas que travei nunca desisto.

Tortura sem igual matando, imola;
Não posso me calar defronte disto.
Maus tratos tão cruéis fazendo escola,
São coisas pertinentes a Mefisto!

O pássaro que canta a liberdade,
No vôo que procura traz encanto.
Amor p’ra ser amor-felicidade,

Busca compartilhar-se em cada canto.
Esqueço minha agrura e meu tormento,
Com Evelyn voando, livre vento!



Evelyn: Pássaro

Eunice



Nas várias tempestades e batalhas
Os campos que pretendo não resistem.
O corte mais profundo das navalhas,
Os medos de viver, loucos assistem.

Amores não se fecham nas mortalhas
Invadem tantas lutas e persistem,
As roupas que vestimos, puras malhas,
Teimosas, nossas dores inda existem...

Nas roupas e nos medos, nossas lutas,
Comportam sem querer final e rumo...
As dores, entretanto, são astutas

Não deixam nem sequer qualquer aprumo.
Amor quando ressurge traz a glória,
Nos teus braços, Eunice esta vitória!


Eunice: Vencer, boa vitória


Eva

Revelas relvas ervas e valores,
Vaticino futuro glorioso!
Nas almas e nos âmagos amores,
Nos olhos tantos óleos. Oloroso

Perfume que me encharca, raras flores.
Decoro com coragem, caloroso,
Os templos que se ergueram sonhadores.
Meu peito me maltrata tão idoso.

A fome de viver já me domina.
Não quero conhecer eterna treva.
Um brilho deste olhar cedo alucina,

Os olhos de quem morre e já se neva.
És último estertor, bela menina,
Primeiro e derradeiro amor, és Eva...


Eva: Vivente, viver, vida

Eugenia



Bem sabes que não tenho mais futuro,
Meu tempo de existência já se acaba.
O mundo que terei será escuro.
Não posso te entregar vida nababa,

A sorte me deixou, pulou o muro,
A casa que prometo é simples taba,
Colchão, onde dormimos de chão duro,
O teto, se chover quase desaba!

Nascida com certeza em berço d’ouro,
Não sei como consegues ser feliz.
Jaqueta que vestias puro couro,

A vida que te entrego é por um triz.
Eugênia eu te corôo te dou louro,
Receba, com carinho, a flor de lis.

Eugenia: Nobre, nascida em berço de ouro.



Ester

Nas noites mais distantes, a quimera
Procura no meu peito seu abrigo.
O tempo que se passa, traz a fera,
O medo não resolve este perigo.

Amar quem nunca amei, enfim, quem dera!
O fogo que me queima já nem ligo...
A língua que me lambe, da pantera...
Temor que me domina tão antigo...

Amor não é servil nem é qualquer.
Sentimento nobre que existiu.
Procuro insanamente esta mulher,

Ninguém sabe, ninguém fala nem viu;
Num momento deparo com Ester
A vida, sem quimera, ressurgiu!



Ester: Estrela
Marcos Loures




Estela


Olhando para o céu vi uma estela!
Estrela de raríssima beleza
Brilhando neste breu fiz uma tela
Que mostra toda a sua realeza.

Princesa das estrelas me revela
O mundo que trouxera com certeza
Nos pântanos e charcos sempre sela
Corcéis de fina estirpe da nobreza.

Vasculho pelo céu e nada vejo.
Sumiste sem sequer deixar sinal.
Agora o quê que faço do desejo,

A vida vai morrendo sideral.
Do brilho que trouxeste sequer vela.
Somente nos teus olhos, minha Estela!



Estela: Estrela
Marcos Loures

Corcel indomável

Indomável corcel por onde andaste?
Nas estrelas, nos céus, em plena lua?
Espaços siderais te procurei...
Vagando por sidéria tempestade...
Envolto em impossíveis pensamentos,
Nas trevas, sendo luz e claridade?
Trilhando improváveis sofrimentos,
Mansamente, obedeço tua lei.
Nas minhas fantasias, bela e nua;
Provinda dos espaços que criaste.

Indomável corcel estou sozinho,
As fontes dos desejos se secaram?
Olhando para os astros não te vejo...
Decerto tantas vezes te escondeste
Por entre belas nuvens, disfarçado...
Amor tão delirante é inconteste
Percorre por milênios, disfarçado.
A vida sempre traz um novo teste,
Nas festas, nas orgias do desejo.
Quando destino e tempo se encontraram,
Um corcel indomável volta ao ninho...

Meu cunhado Gilberto

Meu cunhado Gilberto
Nas istrada do sertão
Incontrei munta sodade,
Revirei o coração
Incontrei tanta maldade
Mai zóiando lá pru chão
Eu achei calaridade...

Nus trombôio que carrego
Tantas coisa qui num acho,
Essas verdade num nego,
Quem qué pisão é capacho,
E coisa que eu arrenego
É o tar do bicho macho...

É bicho fei, isquisito,
Tem cara di mijacão,
Fedendo mai qui cabrito
Nessa barba de bodão,
Se colá dá logo atrito,
Meto logo um pescoção!

Mas, porém eu li garanto,
Coisa estranha, pode crer,
O meu cunhado, entretanto
Quando esse bicho ele vê,
Amua logo num canto,
Faiz biquim assim procê.

Minha muié num repara,
Falano que eu tô errado.
A verdade tá na cara,
Na cara do meu cunhado,
Cum muié ele num para,
Prus bichim fica assanhado...

Eu aqui ficano quieto
Num vô mexê im vespêro.
Se o cabra qué dá afeto,
Ou qué se dá pur intêro
Qué se dá é pur compreto
Dessas tinta faiz tintêreo...

Minha sogra coitadinha,
Nem repara nu bichano
Quano chega, de noitinha
O cabôco fais seus prano,
Vai botano uma sainha
Daquelas qui fárta pano...

Dispois coloca batão,
Prá boca ficá vermeia.
Dórme di camisolão,
As iscova qui penteia,
Tem forma di coração,
Um tempão pra botá meia...

Eu já falei pra muié,
É perciso sê isperto,
Mas seja u qui Deus quizé
Eu é qui num fico perto,
O meu negócio é muié;
O resto é procê, Gilberto!

Eduarda

Eduarda


Nos teus níveos sorrisos, as promessas...
Sultana que escraviza um coração!
Meu mundo transtornaste e não confessas,
Rastejo te implorando teu perdão!

Tantas vezes, a vida prega peças
É preciso encontrar um guardião.
No meu flácido rumo, não me peças
Que deixe de prestar tanta atenção.

Não posso caminhar sem os teus pés.
Não posso respirar sem o teu ar...
A vida não perdoa: és meu convés!

Guardiã dos desejos e delírios...
De que vale, sem frutas, meu pomar?
Sem jardim, Eduarda, p’ra que lírios?

Eduarda: Próspera guardiã, benfeitora rica

Edite

Edite


Não quero o desconforto da saudade,
Meus dias não serão em vão, perdidos...
Passado me negando claridade,
Os bosques dos prazeres, esquecidos...

A vida sempre nega eternidade
Os tempos mais felizes, tempos idos...
Meus mundos que velei, sem claridade,
As vozes dos amores nos ouvidos...

Cantando, solitário trinca ferro,
Espera pela amada que não vem...
Coração na gaiola solto um berro...

Esperando um amor em que acredite,
Coração passageiro perde o trem,
É tão triste te esperar, amor, Edite...


Edite: Rico presente, rica dádiva

Edna

Edna


Eternidade! Sonho dos mortais
Escombro sem sentido, sentimentos...
As regiões profundas, abissais,
Demonstram minhas ânsias e tormentos...

As sombras dos amores, espectrais,
Vagando por meus loucos pensamentos.
Abrindo seus caminhos, meus portais,
Espraiam-se na fúrias destes ventos!

Quem me dera encontrar a compaixão
De quem fora imortal pressentimento...
Fantásticos meandros da paixão,

Devorando, ignorando resistência,
Amor em desespero bate lento...
És minha razão, Edna, de existência!

Amor matreiro

Meu amor, passageiro de minha alma,
Desliza entre fornalhas e braseiros...
Meu destino se prende à sua palma
Em sentimentos crus, mas verdadeiros...

Nos delírios, defeitos e recados,
Contrafeitos sentidos, se polvilha,
Buscando encontrar novos fados,
Amantissimamente, uma novilha.

Sai vagabundeante pelo astral
Deslizando entre estrelas e luares...
Tantas vezes proscrito e tão banal,
Esperançosamente traz olhares...

Mendigando carinhos e perdões,
Nos desérticos astros do universo;
Procura por temáticas versões,
Maltrata e dilacera cada verso....

Meu amor caçador pede tocaia,
Espreita pelos passos, minha amada...
Derrama-se solar, plena praia,
Amanhece tal gado na invernada...

Vem sorrateiramente, uma serpente,
Preparando finalmente seu bote.
Me cura e tantas vezes cai doente.
Repetindo fielmente seu mote.

Amor moleque, cais e tempestade,
Previne e tantas vezes vaticina.
Nas horas mais difíceis, na saudade,
Nunca se encontrará sequer vacina...

Nas lutas mais homéricas, refém...
Nas procelas, remédio e calmaria...
Maldito muitas vezes traz o bem,
É noite que amanhece em belo dia...

Tantas vezes pilantra, outras é santo,
Aguardente que mata, refresco que ajuda,
Mordida que alivia e traz encanto.
Passarinho sofrendo a dor da muda...

Na dor, prazer, perfeito equilibrista.
No medo e gozo, brinca qual funâmbulo.
Nos arados, natura, um vero artista.
Nas noites, vaga quarto é um sonâmbulo!

No plantio é semente fecundada,
Garapa desta cana adocicada.
Abelhas e zangões resultam mel,
Delícias gordurosas pedem fel...

Imortal sensação de desamparo,
Reflete escuridão trazendo o sol.
Na doçura promete ser amaro,
É ilha em arquipélago, um atol!

Fortaleza traduz fragilidade,
Infinito, termina num adeus...
Mentira que me trouxe essa verdade.
Demônio disfarçado, imita Deus!