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Saturday, February 13, 2010

24756

Procura no meu peito seu abrigo
Aquela que se fez dama e rainha
A sorte quando outrora se fez minha
Deixara para trás o desabrigo
E tendo esta ilusão estrelas sigo
Vencendo a solidão que ora se aninha
No peito sonhador por onde vinha
O gozo em dissabor, amargo trigo.
Sentir em minhas mãos anelos vários
E deles não conheço os adversários
Vibrantes emoções, fogo singelo
Ousando no momento imaginar
Invés deste terrível lupanar,
A deusa se entranhando em seu castelo.

24755

O tempo que se passa, traz a fera
E nela se demonstra o quão sombrio
O mundo que deveras inda crio
E nele a sorte amarga me tempera,
Vencer a qualquer custo tal quimera
É mais do que um simplório desafio
E nestes versos toscos balbucio
Palavras que traduzem tal espera.

E quando se fizesse mais sublime
Além do que em verdade já se estime
O tempo se transcorre mansamente
Vencido pelas ânsias do passado,
Agora tão somente abandonado,
A vida sem futuro não desmente.

24754

O medo não resolve este perigo
E deixa como herança algum momento
Aonde se pudesse ter no vento
Ao menos a impressão mansa de abrigo,
E quando tu decifras eu persigo
Depois de certo tempo algum alento
E dele se desvenda o que inda tento
Vencer a cada curva, mas nem ligo,
E tudo se passando sem resposta
A mesa de um banquete assim disposta
Não traz sequer a fleugma necessária,
E tudo se transcorre desta forma,
A vida paulatina nos transforma
Desejo em desenha em face vária.

24753

Amar quem nunca amei, enfim, quem dera
E ter outro caminho onde seguir
Somente uma visão do meu porvir
Esconde desde sempre a primavera
O tempo na verdade não espera
E tudo o que é melhor não há de vir
Perdido sem saber como pedir
À vida que deveras gira, esfera

Que tente pelo menos num relance
Lembrar o que vivi e ainda alcance
Com toda a sutileza alguma marca
Do bem que imaginara e já não tendo
Transporta no final o mesmo adendo
Aonde uma ilusão em vão embarca.

24752

O fogo que me queima já nem ligo;
Pudesse traduzir felicidade,
Por mais que a Natureza em fome brade,
Eu sei que em tuas mãos há tal perigo
E sinto que por vezes não consigo
Chegar a te trazer a claridade
E enquanto a fantasia ainda invade
Decerto tu me tens qual fosse abrigo,
Mas logo que a verdade se apresente
O encanto sensual logo aposente
Verás que não passei de ledo engano
E mesmo se profano e até vulgar,
Jamais imaginei tal lupanar,
Diverso do discurso que ora explano.

24751

A língua que me lambe, da pantera
Prepara-se pro bote inevitável
Por mais que talvez pense ser amável
A sorte se desnuda em fria fera
Que enquanto acaricia em vã espera
Ao mesmo tempo expõe seu deplorável
Prazer insaciado e indecifrável
Que em ânsias e delírios se tempera.
Andara por estrelas, vago sonho
E quando um novo templo – amor- proponho
As garras sendo expostas sutilmente
E mesmo quando em êxtase sacia,
A fera mata a fome em agonia
E novamente em cio, ainda mente.

24750

Temor que me domina tão antigo
E dele se fizesse novo canto
Podendo ter nas mãos algum encanto,
É tudo desde agora o que persigo
A cada nova curva outro perigo,
Porém vibrando amor, desejo tanto
E sei que se deveras inda canto
No fundo é por saber que em paz prossigo.

Vivendo tão somente esta emoção
Sabendo dos fantasmas que trarão
O entardecer em trevas se formando,

E sei que na verdade desde quando
O amor nos dominou sem mais defesas,
E sigo sem pensar tais correntezas.

24749

Amor não é servil nem é qualquer
E dele se percebe quão profundo
Desnuda-se deveras o meu mundo
E seja da maneira que quiser
O gosto do delírio em nosso affaire
Trazendo o pensamento que oriundo
Dos sonhos se demonstre enquanto inundo
De versos o calor que inda fizer.
Mergulho em teu remanso e bebo a sorte
Que tanto nos encante e nos transporte
Ao mundo que criamos, ilusão,
Não deixe o sonho bom morrer assim,
Vivendo todo amor até o fim,
Sabendo de alegrias que virão.

24748

Sentimento nobre que existiu
Durante certo tempo em nossas vidas
E agora ao perceber que tu duvidas
Do amor que se mostrara mais sutil
Embora o coração seja senil
Após as várias dores, despedidas,
As glórias alcançadas e esquecidas,
Uma alma se mostrara juvenil.
E tudo se transforma em riso e dança
Conforme uma alegria assim se lança
Ao vento mais tranqüilo que prevejo,
Mas logo se percebe que meu rio
Na foz encontra o mar por desafio
Sonega desde agora o meu desejo.

24747

Procuro insanamente esta mulher,
Que agora sei distante dos meus braços
Sequer deixaste ao menos leves traços
O amor que tanto eu quis, se inda puder
Vencer os dissabores e vier
Após a tempestade em dias lassos
Sentindo no calor de outros abraços
Prazer que no teu colo já se quer,

Seguindo cada rastro que deixaste,
A noite em solidão trama o contraste
Com todo o farto brilho das pegadas,
E tudo o que talvez restasse ainda
A cada novo dia se deslinda
Trazido no frescor das alvoradas.

24746

Ninguém sabe, ninguém fala nem viu;
Tampouco isto mudara a nossa história
Bisonha que sepulta em vã memória
Momento desejado em que se abriu
A porta no outonal e frio abril
A senda se moldando merencória
Apenas no que eu quis satisfatória
Mostrando o caminhar bem mais servil
De um tolo viandante pela noite
E mesmo que alegria ainda acoite
O verso mais perfeito não mais cabe,
Mas deixo que se perca assim ao léu
O mundo que trouxeste vil, cruel,
E toda esta mentira enfim desabe.

24745

A vida, sem quimera, ressurgiu
Depois dos cataclismos costumeiros
Momentos de esperança? Derradeiros,
O tempo que buscara mais gentil
Encontra este final amargo e vil
E dele destroçados os canteiros
Aonde se fizeram jardineiros
Amores onde a sorte se evadiu.
Esgoto a minha sanha quando lavras
Insânia costurando tais palavras
Medonho caricato, o meu desejo,
E tudo o que talvez ainda possa
Mudar este caminho diz palhoça
E nela toda a sorte que prevejo.

24744

Bem sabes que não tenho mais futuro
Depois de tanto tempo em solidão
A sorte se guardando num porão
Saltando a cada passo um novo muro,
E tudo o que se fez deveras juro
Transcende aos meus desejos que trarão
Esta aridez perene de um sertão
Sem ter sequer desejo nem apuro.
Galante realidade está desfeita
Enquanto a dor mordaz já se deleita
Algoz de meus caminhos, luz insana,
Mesquinhos os delírios contumazes
Aquém desta ilusão que ainda trazes
Enquanto a falsa paz ilude e engana.

24743

Meu tempo de existência já se acaba
E traz algum alento ao perdedor
Dizendo das demandas de um amor
Do qual a fantasia não se gaba

Herege companheira de viagem
Escute a minha voz e tente ao menos
Vislumbrar os momentos mais serenos
E deixe para traz velha miragem,

Aquém do que talvez ainda fosse
Um resto de esperança em frágil pote,
E mesmo reparando agora, anote
O quão se perde assim sendo agridoce,

E tudo que levares, pois reponhas
Que as noites não serão jamais medonhas.

24742

O mundo que terei será escuro
E dele não verás o quanto espero
Do todo que em verdade se fez fero
Aquém da fantasia que procuro.
E sei que quanto mais querência eu juro
Uma ilusão a mais; busco e tempero
E mesmo que se faça com esmero
É chuva desabando em solo duro.
Escondo as minhas cartas, meu cacife
Será já transformado neste esquife
Presente de um amor que não se deu
Vencido pela angústia de saber
O quanto se desmancha em desprazer
O mundo que pensara todo meu.

24741

Não posso te entregar vida bacana
Aonde possas ter o que quiseres
Banquete com argênteos, bons talheres
E no final do mês, carinho e grana,
Só sei que esta falácia não engana
E seja da maneira que vieres
Terás nos meus anseios bem que queres
Na noite mais gostosa e tão profana.
Ouvindo os teus gemidos, estou pago,
E quando se percebe algum afago
Terás o meu sorriso em doce espera,
Mas saiba que este amor é verdadeiro,
Não tive e não terei nunca dinheiro
E jamais te trarei a primavera.

24740

A sorte me deixou, pulou o muro,
Faz arte esta infeliz que não suporta
Encontrar sempre aberta a mesma porta
E traz tal falsidade; nem aturo.
Esqueço da verdade e te esconjuro
Enquanto a fantasia me deporta
À mesma concordata e o sonho aborta
O amor que não suporta tempo escuro.
Revoltas ondas dizem do passado
E quase que inda sou excomungado
Falando de um momento mais feliz,
Não posso ter nas mãos a realidade,
Enquanto esta bobagem nos degrade
A vida sem amor já nos desdiz.

24739

A casa que prometo é simples taba,
Mas mesmo assim melhor que a solidão
E quando as chuvas fartas de verão
Trazendo este temor, tudo desaba
Qual cura mentirosa em porongaba
E mesmo noutras plantas que virão
Fazer fortunas várias e darão
Falsa ilusão à dor que não se acaba.
Escuto estes pajés, padres, pastores
Enriquecendo às custas dos louvores
E deles só percebo tal malícia
Sorrindo e em voz macia vendem Cristo,
O amor, ah! Deste não; jamais desisto
E nele sei que o Pai manda notícia.

24738

Colchão, onde dormimos; de chão duro
E tudo nos parece muito bem
O amor tanta delícia em si contém
Por mais que o mundo esteja agora escuro
Satisfazendo aquilo que procuro
Nas ondas e nos braços de outro alguém
As luzes no final querida vêm
E nelas com carinho a dor eu curo.
Assépticos momentos, sem temor
Ecléticos desejos diz o amor
E tudo não disfarça o riso enorme
Por mais que depois disso tudo acabe
O amor quando demais em si não cabe,
Poder que nos sanando até deforme.

24737

O teto, se chover quase desaba
E deixa todo mundo em polvorosa
A história costumeira e desastrosa
De quem habita agora a velha taba.
E tudo num momento já se acaba
Por mais que a realidade nega a rosa
O amor quando demais a sorte glosa,
Mas mesmo assim a louca ainda gaba.

Travando com mim mesmo imensa luta
A sorte se esvaindo mais astuta
Não deixa que se pense no final
Aonde poderia ter nas mãos
Além destes momentos torpes, vãos
Sorriso que inda fosse triunfal.

24736

Nascida com certeza em berço d’ouro,
A moça não se faz mais de rogada
Aonde se esperava uma alvorada
E o sol, pois nele sempre enfim me douro
O quadro se transforma e duradouro
Silêncio me transporta ao mesmo nada
Por onde desenhara a velha estrada
E agora só relembra o mau agouro.

Em tudo o que se faz a sorte esboça
Caminho repetido para a troça
E mesmo que esta casa seja minha
Palácio que em palhoça transformaste
Palhaço condenado a tal desgaste
A morte em redenção já se avizinha.

24735

Não sei como consegues ser feliz
Se tudo o que preferes me remete
À lama. Destroçando este pivete:
Amor, fazendo tudo o que bem quis
Na ponta deste olhar o canivete
Sorriso me transporta e traz no bis
O corte que me fez mais infeliz
A morte simplesmente me compete.
No fundo deste poço que me trazes
Os dias repetindo as mesmas frases
Embotam o futuro que não vem,
E quando em solidão chamo o teu nome
A realidade escusa chega e some
Levando para longe o nosso bem.

24734

Jaqueta que vestias puro couro?
Farsante hipocrisia denotava
E quando a realidade se fez lava
O amor se demonstrara um sorvedouro
Aonde se quisera algum tesouro
A sorte transtornando agora crava
No peito de quem sonha a dura clava
Matando desde o tenro nascedouro.

Assisto á derrocada deste intento
E busco novamente enquanto tento
Um novo alvorecer bem mais suave,
Mas tendo a poesia nos meus olhos
Aonde ser feliz? Cevando abrolhos?
O sonho nos liberta, simples ave.

24733

A vida que te entrego é por um triz
Além deste perigo costumeiro
A seca em aridez deste canteiro
Já mata em nascedouro a flor de lis,
E tudo na verdade assim desdiz
O rumo deste peito aventureiro
Do qual cada momento, o derradeiro
Não pode ser além de cicatriz.

Esboço no final a reação
E sei que tantos erros mostrarão
Apenas a saída; se quiseres
Viver além de tudo destemida,
Por mais que a realidade nos agrida
É bem melhor que o nada; mas não queres.

24732

Receba, com carinho, a flor que eu quis
Criar como se fosse algum poema,
Nas trilhas deste amor, já nada tema,
Serás se me quiseres mais feliz,
E o tempo muitas vezes, cicatriz
Deixada como fora fria algema
Desgasta e no final sem tal problema
Verás o quão formoso encanto eu fiz
Usando para tal cada sorriso
Que deste num momento mais preciso
Gerando este canteiro que cevara
O velho jardineiro sabe quanto
O amor se molda em paz, por isto canto
A jóia deste encanto, imensa e rara.

24731

Nas várias tempestades e batalhas
Se tanto procurara apenas cais
Esbarro nos momentos ancestrais
Repletos de terríveis erros, falhas
E quando noutra senda tu batalhas
Procuro ter ao menos muito mais
Do que me entregarias se jamais
Soubesse na verdade quando falhas.
Escute minha voz e nada faça
A sorte sem segredos toma a praça
E faz de uma esperança barricada,
Metralhas e fuzis, mãos no gatilho
O quanto de desejo ainda trilho
Depois de perceber que não há nada.

24730

Os campos que pretendo além da vida
São todos flóreos bosques da ilusão
E sei que novos dias mostrarão
O que esta realidade não duvida
Por mais que a minha sina se divida
Eu bebo a cada dia este verão,
Embora os olhos foscos não verão
E apenas saberão da despedida.
Aonde se pudesse ver a luz
Encontro novamente a minha cruz
E dela me aproximo em ar solene,
O amor sendo fugaz nos apequene
Aquém do que talvez inda pudesse,
Mas muito além do quanto se oferece.

24729

O corte mais profundo das navalhas
Prepara a sanguinária diversão
Inéditos caminhos mostrarão
Ainda os velhos ritos e batalhas,
Mergulho no vazio em que tu falhas
E sei do tempo amargo e direção
Portanto não conheço a solidão
E nem mais procurei falsas medalhas.
Apenas ser feliz já bastaria
A quem ao se entregar à poesia
Derruba os seus demônios e prossegue
Velhuscas ilusões não me contemplam
Tampouco as falsas luzes inda exemplam
Quem sabe deste amor e a paz consegue.

24728

Os medos de viver, loucos fantoches
Escondem no espetáculo a alegria
E quando a cada tempo renascia
Além das ironias e deboches,
Acendo no final; imensas tochas
E nelas vejo a luz que me guiara
Deixando a minha vida bem mais clara
Por mais que da verdade tu debochas
Assistem afinal à derrocada
De quem mal desejando outra saída
Perdera há muito tempo a sua vida
Vivendo tão somente agora, o nada.
Esgoto os meus fantasmas e prossigo
Vagando sem saber sequer de abrigo.

24727

Amores não se fecham nas mortalhas
Tampouco se entraram ao descrédito
O canto que procuro ter inédito
Diverso que outrora ainda atalhas
Mergulho nas entranhas, velhas falhas,
Porém amor tem sempre em si tal crédito
Além do proclama qualquer édito
Suporta desde agora tais navalhas

E sabes muito bem como é que faz
E neste aprendizado encontro a paz
Que tanto procurara em treva, outrora,
E quando ser feliz é mais palpável
O dia se derrama bem amável
E todo este desejo já se aflora.

24726

Invade tantas lutas e persiste
O coração de um velho aventureiro
Que sabe na verdade quão ligeiro
O mundo pelo qual quedara triste
E mesmo tão distante ainda insiste
Ou quando pelas valas eu me esgueiro
Entrego-me o furor mais verdadeiro
Que ainda mesmo à fúria, em paz resiste.
Andara sem saber se existe um fim
E tanto se albergara em mim jardim
Que ao fundo escuto ainda a melodia
Deveras fantasias são vorazes
E enquanto novos sonhos tu me trazes,
Uma saudade atroz, logo morria.

24725

As roupas que vestimos são frangalhos
Puídos de um passado tão inglório
E nele além do quanto em vão decore-o
O mundo se permite em tais atalhos
E quando vejo a imensidão dos galhos
Aonde encontrarei tão merencório
O rumo que buscara enfim. E aflore-o
Mostrado novamente em atos falhos.
O término dos sonhos pesadelos
E quando volta e meia revolvê-los
Verás que na verdade assim desfio-o
Falando deste verso em luz sombria
No quanto; realidade desafia
O canto em paz suprema ainda crio.

24724

Teimosas, nossas dores inda existem.
E formam como fosse algum novelo
E neles o prazer e o pesadelo
Aos poucos se misturam e persistem
Assim as velhas gralhas não desistem
O amor, como é difícil percebê-lo
Nas ânsias de poder ao recebê-lo
Viver as fantasias que desistem
Da imensa caminhada vida a fora
E todo o meu passado ainda ancora
Tornando inevitável o vazio
Do qual noutra ilusão desfeita em glória
Ainda que se mostre merencória
É nela onde deveras refugio.

24723

Nas roupas e nos medos, nossas lutas,
E delas a vitória, uma inconstante
Por mais que novamente se adiante
Ainda mais distante tu relutas,
E sabes quão sonoras as matutas
Vontades de outro tempo deslumbrante,
E quando se percebe sempre avante
Encontras ao final; sombrias grutas,.

Peculiares dias; naufragaste
Nas ânsias que cometem tal desgaste
Tornando mais difícil ver o porto
Aonde se atracasse a luz sobeja,
Pois tudo o que quem ama mais deseja
Viver esta alegria que ora aporto.

24722

Comportam sem querer final e rumo
As tempestades todas que conheço
E sei que a cada passo outro tropeço
E os tantos desenganos inda assumo,
Bebendo da alegria todo o sumo
Vazio logo após, o que mereço,
E mesmo assim querida eu te agradeço
Por ter em tuas mãos, desvio e aprumo.

Excêntricos caminhos desbotados
Expressam os errôneos do passado
Aonde quis lutar e não sabia
Que tudo sendo exposto neste quadro
O amor torna indomável tal esquadro
E muda com certeza o dia a dia.

24721

As dores, entretanto, são astutas
E causam reboliço no meu peito
Aonde imaginara satisfeito
Apenas vejo aqui as velhas lutas
E quanto ao navegar inda relutas
E sabes que sonhar é meu direito
E mesmo quando solitário deito
Dos sonhos/pesadelos vãs permutas.

E creio que talvez nesta manhã
Além da caminhada outrora vã
Eu possa então tocar a liberdade
Fulguras dentro em mim etérea chama
E o amor quando demais já nos reclama
Tomando toda a luz que nos agrade.

24720

Não deixam nem sequer qualquer aprumo.
Os tempos onde; outrora solitário
O amor se imaginando solidário
Tornando mais sincero cada rumo,
Os erros se são erros, eu assumo
Trabalho a cada dia é voluntário
E sei que no final até de otário
Chamado por quem nunca teve o sumo

Gostoso de um momento mais audaz,
E a quem esta verdade satisfaz
Eu bebo cada gota e me sacio
Vencendo os meus temores, nada além
Da noite prazerosa nos contém
E dela, já não vejo mais vazio.

24719

Amor quando ressurge traz a glória
E estampa outro caminho pelo qual
Pudesse ter sorriso triunfal
Transcendo em fartura a tal vitória
Verdade se tornando peremptória
E sabe da verdade este sinal
Vivendo sem temor, pois afinal
Já sabe que não é simples escória
Atento aos mais diversos dissabores
Sem ter sequer ainda aonde pores
Os restos dos fantasmas que criaste
Vencida cada etapa transparece
Além do gozo insano da quermesse
A dor ao longe expressa este contraste.

24718

Vaticino futuro glorioso
Nas sendas de um amor que se permita
Viver a glória imensa, pois bendita
Levando ao Teu caminho, prazeroso,
E sei o quanto custa ao ser humano
O brilho que não trague este retorno
Visível e tocável, mas em torno
De Ti é que se faz sem desengano
A rota que permita a liberdade
Embora na difícil caminhada
Eternidade mostra esta alvorada
Na força deste encanto que me invade
Trazendo esta esperança de outro dia
Melhor que a cada sol nos irradia.

24717

Nas almas e nos âmagos amores
Dispersas ilusões trazendo o gosto
Do fim que se aproxima em vão desgosto
E sabe como podes se não fores
Seguir destinos toscos, falsas flores
Eternizando em nós inverno e agosto
A sorte necessita do amor posto
Acima da ilusão e desamores.
Um mero escriturário, um retratista
Que bebe do seu tempo e não despista
Encara a faca a frio e férreo corte
Não tendo outra palavra que conforte
Ao fim deste caminho vejo em urzes
O que com cores foscas não reluzes.

24716

Nos olhos tantos óleos. Oloroso
Caminho que ainda tento mesmo atento
Ao discorrer do enorme sofrimento
Aonde se permite riso e gozo
O mundo se mostrando sempre assim
Enquanto uma metade está sorrindo
Metade se percebe destruindo
Reparte-se e o problema não tem fim,
Amargas soluções dizendo balas
E tudo feito em guerra, morte e sangue
Cordeiro que se deu e agora exangue
Embora minha amiga, tu te calas
E vês o derrotar do anjo bendito
Inútil derramar em fúria, um grito.

24715

Perfume que me encharca, raras flores.
Trazido pelo vento da esperança
Enquanto nesta senda não te opores
A sorte a cada dia além me lança
Não vejo no passado mais as dores
E bebo esta alegria em que se avança
A vida sem descrédito ou temores,
Ganhando sempre força na balança.

Mas quando o temporal cai sobre a Terra
E toda a fantasia me desterra
Exílios que a lembrança ainda afaga,
Recebo calmamente a provação
Os dias noutros dias nascerão
Até que a morte chegue, amarga draga.

24714

Decoro com coragem, caloroso
O templo feito em paz e tempestade
Por mais que uma alma sonhe e se degrade
Em Ti encontro o rumo mais airoso,
Vencer os meus temores, caprichoso
Caminho aonde o tempo se degrade
Mudando vez em quando a realidade
Que tanto desafia o temeroso.
Aonde se pudera crer na glória,
Ainda que se veja a merencória
Caída deste arcanjo em treva e ocaso,
Lutando contra todos meus demônios
Aumento com fervor os patrimônios
Dos sonhos que deveras mais aprazo.

24713

Os templos que se ergueram sonhadores
Mudando a direção de minha crença
Aonde se mostrara a desavença
Apenas quero lagos, belas flores
E sigo se em verdade ainda fores
Por mais que a realidade nos convença
Que tudo é fantasia e não compensa
A vida entre diversos refletores,
Não quero e nem permito tal infausto,
Pois Ele que se deu em holocausto
Ainda vive em mim, Senhor da luz,
E a cada novo dia se renova
Em Ti meu Pai, a vida traz a prova
Da eternidade e a glória que reluz.

24712

Meu peito me maltrata tão idoso
E antigo companheiro de desdita,
Mas sei que na verdade ele acredita
Que o sol renascerá mais majestoso
Aonde se mostrou voluptuoso
Delírio de alma tola e até maldita
A história no vazio sendo escrita
Apenas um momento feito em gozo
Deixado como marca algum troféu
Vagando sem destino, sigo ao léu
Sem crer nem mesmo ter felicidade
E quando a morte chega mansamente,
Não tendo quem deveras inda alente
A sombra do vazio chega e invade.

24711

A fome de viver já me domina
Depois da tempestade que assolara
Deixando a vida triste e apronta a escara
Negando da esperança qualquer mina
E quando a realidade determina
O tempo de sofrer que se declara
Enquanto uma alegria sendo rara
Não tem outra saída e se extermina.
As pedras do caminho, meus espinhos
Arranco sem pudores, mesmo assim
Passado inexpressivo de onde vim
Tornando os meus sonhares mais sozinhos
Aonde se pensara em convivência,
Realidade poda uma inocência.

24710

Não quero conhecer eterna treva
Por isso é que talvez não desistisse
Do quanto em ilusão a vida disse
E o tempo sem temor ainda ceva

O amor que se pensara noutra gleba
Aos poucos se transfere e deixa triste
Enquanto a realidade assim persiste
Trazendo o desabrigo. Mera ameba

Tentando ter nos olhos o futuro
O ser humano inútil criatura
Ainda sem sentidos, em vão perdura
Matando o que pensara e até procuro

Ao fim da caminhada pelo menos
Momentos agradáveis e serenos.

24709

Um brilho deste olhar cedo alucina
Deixando extasiado quem se dera
Na busca de uma eterna primavera
No florescer da glória cristalina,
E quando a realidade descortina
O sol queimando lento; amanso a fera
E deixo para trás medo e quimera
A glória de viver então fascina
Quem tanto se entregou aos sonhos vãos
Acostumado sempre aos mesmos nãos
E tudo repetindo a ladainha
Diversa do que agora vejo aqui
Bebendo cada gota do que vi
Felicidade tanta me convinha.

24708

Os olhos de quem morre e já se neva
Aonde poderia ter a glória
Enquanto a vida feita em tal vanglória
Jamais se mostraria ao fim, longeva
Mergulhas teu caminho em farta treva
E bebes solitária promissória
Recebes a verdade merencória
Colhendo tão somente o que se ceva.
Imperecível sonho: ser feliz
Realidade torpe contradiz.
Mas nada impediria teu intento
E sei que no final estás bem certa
Enquanto a fantasia nos deserta
Aonde encontraria algum alento?

24707

És último estertor, bela menina
Da vida que eu sonhara, rica e plena
E quando a sorte exposta se apequena
Apenas ilusão inda fascina
Domando cada estrada me alucina
E quando com prazeres já me acena
O tempo se mostrando em luz amena
Permite esta visão mais cristalina.
Serena madrugada vejo em ti
E encontro a fantasia que perdi
Vagando pelas noites e delírios,
Assim ao perceber que estás comigo,
Descubro mansamente o que persigo
Matando o que restara dos martírios.

24706

Um canto triste vive na gaiola
Qual fora um passarinho, este coleiro
Que tanto traduzindo o verdadeiro
Sentido desta dor que em mim assola
Vestindo a fantasia alma decola
E ganha um novo mundo alvissareiro
Mudando o meu caminho vou inteiro
Bebendo esta ilusão mato a degola
Aonde com certeza existe a foz
Do amor que tanto quis, mas sei atroz
E beijo a tempestade que floreia
Naufrago nesta estúpida quimera
Nefastas madrugadas; resultado
Do quão fui sonhador no meu passado,
E a morte redentora, o que me espera.

24705

Não posso nem ouvir que não resisto
À sombra do passado que nos toma
E quando se percebe a dura soma
Encontro o meu retrato e até desisto,
O sonho de viver em gozo misto
Prazer e dor entornam neste coma
Entorpecida luta que não doma,
Por ela tão somente ainda existo.
E sei que martiriza quem delira
Poeta desprezando o sonho e a lira
Não pode ser feliz, apenas traça
A cada novo verso o seu final,
O amor que ora nos guia, triunfal
Enquanto a vida eclode em vã desgraça.

24704

Amor e liberdade minha esmola
À qual eu me entreguei sem perceber
Que tão somente a glória de um prazer
Ainda dentro da alma faz escola,
E sei que esta saudade já decola
E molda o que deveras não quis crer
Deixando para trás a me envolver
A sombra do que fui e não descola
Das ânsias que procuro disfarçar
Aonde quis promessa de lutar
Apenas a vingança da ilusão
Tomando já de assalto a poesia
Enquanto o nada ser ora recria
Moldando as trevas todas que virão.

24703

Nas lutas que travei nunca desisto
E sei o quanto é válido sonhar
E tendo esta certeza de buscar
Além deste infinito que ora assisto,
Mergulho no passado e tão benquisto
Momento aonde exposto ao farto altar
Mudança paulatina a se mostrar
Até que no final já nem resisto
E entregue de uma vez a tal loucura
Que tanto me destrói e me tortura
Deixando em sangue as marcas do quem sou,
Vestígios de uma vida em vão e luta
Queria a fantasia mais arguta,
Porém esta aridez, o que sobrou.

24702

Tortura sem igual matando, imola
Um Cristo a cada dia; e me aprofundo
Nas ânsias mais vorazes deste mundo
A morte se espalhando faz escola
E o genocídio explícito decola
O verso se tornando vagabundo
E quando o corpo estende moribundo
Realidade amarga nos assola
E traz a cada instante outra verdade
Apodrecido sonho que degrade
A dura caminhada progredindo
Além do que pensara; então eu grito
E sei do quanto frágil, sou finito,
Porém o meu lutar se mostra infindo.

24701

Não posso me calar defronte disto
O mundo que eu sonhara e já perdi
Moldando a hipocrisia e traz em ti
Retrato pelo qual ora desisto,
E sendo muitas vezes tão malquisto
À sombra do passado estando aqui
Resume nos meus versos o que vi
Por vezes noutro rumo ainda insisto
E vendo que afinal não sobrará
Sequer uma promessa desde já
Esgoto o meu viver em utopias
Diversas do que encaro em dor profana
Minha alma intempestiva já se engana
Aquém do todo imenso que querias.

24700

Maus tratos tão cruéis fazendo escola
E deles qualquer sombra nos transtorna
Enquanto a realidade assim retorna
O mundo mal percebe e nem dá bola,
Verdade merencória nos assola
Deixando a vida agora bem mais morna
E mesmo a fantasia que inda adorna
Já não perceberá o quanto imola
Prazer que nos domina a cada dia
E nele o próprio gozo se extasia
Mudando a caminhada vez em quando
Aonde a tempestade se fez luz
Cenário devastado reproduz
Esta esperança aos poucos desabando.

24699

São coisas pertinentes a Mefisto
Amores entre trevas e ciúmes
Aonde se pensaram os perfumes
No vago dissabor inda persisto,
E sei que na verdade nisto insisto
Vivendo tão somente dos queixumes
Por mais que noutras sendas tu já rumes
Eu bebo a fantasia e enfim desisto,
Seguir cada pegada de teus passos
Meus dias vão morrendo amaros, lassos
E deles só percebo a ingratidão
De quem se deu inteiro e nada vindo
Deixando o que sonhara ser infindo
Entregue às vis derrotas que virão.

24698

O pássaro que canta a liberdade
Vagando por caminhos mais distantes
Assim como os meus sonhos são migrantes
Vagando pelo espaço e em vão se brade
Lutando contra o medo que me invade
Mudando o meu caminho por instantes
Promessas de raríssimos, bons brilhantes
Em sonho cristalino que me agrade;
Disfarço a realidade prisioneira
Na fantasia tola e alvissareira
Apenas o vazio ainda eu ouço
Aonde imaginara libertário
O mundo se mostrara temerário
Legando ao sonhador o calabouço.

24697

Neste voo que procuro traz encanto
Aquela que se fez maravilhosa
E quanto a vida estampa a belicosa
História que demonstre o desencanto
Vivendo mais distante deste pranto
Prazeres tão supremos a alma goza
E a sede de viver, voluptuosa
Expressa esta alegria que ora canto.
Num verso mais suave até romântico
Pudesse transformado em algum cântico
Louvando esta delícia que me trazes
E assim ao perceber tão nobre sina,
A sorte novo rumo determina
Mostrando que esta vida é feita em fases.

24696

Amor p’ra ser amor-felicidade
Precisa de um sorriso verdadeiro
E quando se tornar mais corriqueiro
O brilho deste olhar que tanto agrade
Não deixe se perder numa saudade
Aquilo que se fez tão companheiro
E nele com certeza vou inteiro
Bebendo o que sonhei, tranqüilidade.
Nas ânsias e delírios de um poeta
A vida se amor não se completa
E morre sem prazeres enfadonha,
Por isso sem temores venha logo
No gozo mais profundo se eu me afogo
A sorte desejada; em luz, componha.

24695

Busca compartilhar-se em cada canto
A sorte que nos guia até quem sabe
Realidade esplêndida se acabe
Deixando a fantasia em algum canto,
Vencendo as ilusões, deveras canto
Bem antes que o castelo assim desabe
O amor feliz do qual a alma se gabe
Traduz a paz que busco em raro encanto.
Um coração tão leve enfrenta os mares
As honras e os delírios provocares
Com ritos sensuais e transparências,
As horas se desvendam num segredo
E quanto mais em ti eu me enveredo
A vida se promete em mais ardências.

24694

Esqueço minha agrura e meu tormento
Na voz enamorada deste encanto
E sei que se deveras eu me espanto
A sorte se mostrando num alento
Permite que se possa enquanto agüento
Caminho que vislumbro e agora canto
Sem ter nas mãos a luz sigo, entretanto
Buscando por final ao sofrimento,
Alegro-me ao saber tua presença
E enquanto a vida os medos não mais vença
Apenas lenitivos encontrara.
E sei que te sentindo finalmente
O brilho de outro sol a alma pressente
Tornando esta água turva noutra clara.

24693

Passeias pelo campo mais florido
E sabes decifrar cada desejo
E nele com certeza assim prevejo
Um dia mais audaz e decidido
Na força insuperável deste anseio
Mereço a liberdade? Ainda tento
Além de ter somente algum alento
Viver sem tempestades nem receio.
Audazes os meus passos na procura
De um tempo mais suave que permita
Além da caminhada mais bendita
A força que me entranha e assim me cura
Dos vários dissabores vida afora
Na paz que me redima e sei que aflora.

24692

Cristo não veio ao mundo por você
Apenas tão somente por AMOR
E dele a sua morte irá propor
Além do que deveras já se vê
A sanha do SENHOR tem seu por que
Nas ânsias de seu povo sonhador,
Mas bem além de ser a simples flor
A humanidade inteira agora crê
Na força deste Pai grande e perfeito
Aonde e só por onde me deleito
Podendo conhecer felicidade.
E enquanto a raça humana se extasia
Com fútil e terrível fantasia
Criando a cada dia, nova grade.

24691

Os bosques e pomares, a lavoura
Transcendem à beleza que se vê
Sem ter resposta ou mesmo algum por que
Senão o grande amor no qual se doura
A glória de um Senhor que, duradoura
Permite a quem deseja e sempre crê
Num dia bem melhor onde se lê
O Amor que nasceu numa manjedoura.

Cordeiro ao ensinar quanto o perdão
Transforma as nossas vidas, desde então
Percebe-se a saída para quem
Sabendo desfrutar da maravilha
Que o olhar embevecido agora trilha
Trazendo a majestade que convém.
Belo olhar, puro azul por Deus ungido
Reflete o sol e torna este azulejo
O símbolo maior do meu desejo,
Tocando com furor, sonho e libido,
As sombras se perdendo num olvido
Deixando em seu lugar o amor que vejo
Reinando sobre tudo; e relampejo
Um sonho mais audaz, ora sentido.

Servindo como fosse um prato nobre
A densa maravilha nos descobre
E traz um novo rumo ao dia a dia

Acende esta lanterna no meu peito
E agora pelo menos satisfeito
A glória de sonhar se propicia.

24690

Sob uma cabeleira trigal, loura
Beleza incontestável desta diva
Que mesmo sendo às vezes tão altiva
Caminho que procuro, sempre doura.
Minha alma se embalando quase estoura
Por mais que ser contigo traz bem viva
A glória de poder ser mais cativa
Da história que se mostra duradoura.
Supero os desafios e mergulho
Nos braços desta sílfide. O marulho
Ao fundo desnudando tal sereia
Percebe-se deitada sobre a areia
Sublime maravilha que endeusada
Avança a noite e ganha esta alvorada.

24689

O sol fica feliz por ter surgido
Além deste momento em sedução
Quem possa dominar um coração
Há tanto sem sentido, dividido,
Não posso reviver em falso olvido
Momentos que decerto mostrarão
O quanto o caminhar foi sempre vão
Da sorte que virá eu já duvido.
E quando não pudesse ter de fato
Além deste fugaz tormento eu ato
Os nós com o passado e me protejo,
A sombra da ilusão me invade quando
As horas transcorridas transformando
O coração pacífico em andejo.

24688

E em raios carinhosos desce à Terra
O encanto deste amor que nos protege
Passado se mostrara quase herege
Enquanto a glória aos poucos se descerra,
Olhando para baixo sobre a serra
A lua se deleita enquanto rege
Desejo que deveras já lateje
E mude nossa história em paz e guerra
Descreves com teu gozo minha vida
E sei que quem se quer nem mais duvida
E segue cada passo, sem perguntas,
As almas gemelares neste encanto
Delírio deste anseio se faz tanto
Enquanto nossos corpos tu ajuntas.

24687

Nas pastagens, o sol amanhecido
Tocando cada braça deste rio,
Que em versos novamente assim desfio
Expondo mansamente esta libido
Desejo que pensara mais contido
Agora se tornando quase um cio
Acende deste incêndio o seu pavio
Num furioso encanto, enternecido.
Audácia se traduz em louca espera?
Reavivando assim a imensa fera
Que tanto procurava disfarçar,
Mas quando sob a força deste sol
Que entorna este delírio no arrebol,
Endeusado senhor em claro altar.

24686

A lua em belos raios nos prateia
E torna a nossa vida iridescente
Enquanto a maravilha não desmente
A deusa perambula, plena, cheia,
E sob suas fráguas incendeia
Incrível que pareça, desce ardente
Brilhante caminheira que envolvente
A terra num instante assim clareia,
Pudesse pelo menos ter a chance
E ter tanta beleza ao meu alcance
O quanto me daria a tanta luz
Inebriado sonho se desfaz
E em meio aos seus clarões, por mais que audaz
Apenas a saudade reproduz.

24685

A dona desse olhar vai distraída
E sabe muito bem como é que faz
Deixando no tormento a antiga paz
A sorte na desgraça resolvida
E quando perpetua esta ferida
Sorriso falso e meigo, tão mordaz
Nas mãos a presa fácil e a tenaz
Vontade de impedir qualquer saída.
Pudesse não ter mais outro momento
Aonde sem defesas me atormento
E beijo a morte feita em plena treva
Audaciosamente assim desnuda
A moça a cada instante a rota muda
Na sordidez terrível e longeva.

24684

Mal percebem meus olhos sonhadores
Os brilhos inefáveis deste intento
Aonde muitas vezes sigo atento
Seguindo cada passo e aonde fores,
Terás a companhia dos ardores
Que a cada novo tempo reinvento,
Tocando a tua face o manso vento
Promessa de momentos entre flores
Seguindo a flórea senda tu terás
A imensidão sublime feita em paz
Que tanto em tua vida desejaste,
E saiba que este amor que se arremete
Além do que pensaras ser confete
É firme e nos mantém qual fosse uma haste.

24683

Encontro noutros olhos, minha vida?
Pergunta que talvez nem mais fizesse
Se a sorte feita em luz caminhos tece
Aonde encontraria outra guarida?
Por mais que a mesma história recomece
O quanto se mostrara distraída
Uma alma com certeza enlouquecida
Erguendo aos Céus a derradeira prece
Permite que tenhamos outro Fado
E quando me sentindo enamorado
Escuto vozes tantas; maravilhas
E mesmo que talvez ainda insista
Ao coração a voz mais pessimista
À noite entre mil trevas, inda brilhas.

24682

A natureza absorta, mansa e sábia
Expressa em cada flor a magnitude
Por mais que a realidade isto transmude
O amor com seu furor, incrível lábia
Bem antes que afinal em treva acabe-a
A vida se moldando em atitude
Trazendo à humanidade mais saúde
Natura se refaz em cor; agrade-a
E verás resultados no futuro
No sonho que se mostre mais maduro
A senda descoberta em luz intensa
Trará em belos frutos e florais
Caminhos que julgara terminais
E a vida se fará por recompensa.

24681

Respeitando esta cena vejo a foto
Do quanto foi feliz nosso passado
E tendo este impressão aqui do lado
Percebo o canto em paz já tão remoto,
E quando a tua sombra invade e noto
Recebo da ilusão este recado
E o quanto se mostrara degradado
O mundo que eu busquei, perpétuo moto.
Num átimo mergulho neste sonho
E quando a fantasia; em vão, componho
Audaz eu já nem sinto a realidade,
Porquanto me tocando assim em fúria
Transporta dentro em si a farta incúria
Tramando este final que me degrade.

24680

Lua sobre esse pampa divinal
Derrama-se altaneira e tão suave
Por mais que a solidão diga do entrave
O riso se demonstra triunfal,
O amor se espalha e vejo em ritual
Este vôo migratório da bela ave
Trazendo da emoção, caminho e chave
Permite que se suba este degrau

Levando ao infinito além da lua
Que exposta sobre a Terra continua
Mandando em cada raio uma esperança
À qual idealizo num soneto
E nela sem defesas me arremeto
Enquanto a noite clara e imensa avança.

24679

Eu ando procurando por amores
E sei que nada além de uma ilusão
Deveras os meus olhos tocarão
Por onde tu seguires e compores
O quanto do vazio em estertores
Trazendo a quem sonhou a involução
E reafirmo o bote, qual leão
Matando em sutileza, sem pudores.
Astuciosamente a vida traz
Além de um sonho frágil e fugaz
Ferrenhos e terríveis pesadelos
Medonhas tempestades noite afora
E enquanto o medo atroz já me devora
Momentos delicados; quero vê-los.

24678

O meu tempo passando doloroso
E aquilo que pensara fosse vida
Agora se mostrando ausente. Acida
A estrada onde seguira audacioso,
Buscando um renascer aventuroso
Que tanto se proclame, mas decida
Além do que já fora qual ermida
E possa ser ao fim vitorioso,
Revejo os meus inglórios caminhares
E teimo mesmo quando me tocares
Perecendo no vago em que fizeste
A tenda onde me escondo; vaga sorte
Negando a própria luz, já não consigo
Vivenciar a sombra de um abrigo
Tampouco esta alegria que conforte.

24677

Horas celestiais, campos e flores,
Vagando por caminhos mais audazes
E enquanto em minhas mãos, frias tenazes
Se expressando o terror, diversas dores
Aonde tu seguires e te opores
Trazendo esta alegria que ora trazes
Sorrisos tão malignos e mordazes
Não deixarão sobrar sequer as flores
E como um vendaval que arrasta tudo
Na fúria da lembrança me transmudo
E como fosse um louco não resisto
Desfaço cada passo um vão Mefisto
E tudo o que pensara em mansidão
Destruo com venal sofreguidão.

24676

O céu iluminado por leitoso
Caminho que me leva à eternidade
Enquanto a maravilha já me invade
Conheço da ilusão terror e gozo,
Revendo este cenário, torporoso
A vida se transforma e a saudade
Que há tanto adormecida rompe a grade
Tornando o meu caminho majestoso,
Andasse nestas sendas por instantes
Meus dias, de repente, radiantes
E a fúria do passado eu mataria.
Mas quando acordo e nada vejo aqui,
Refaz-se a consciência; eu te perdi
Ao largo tão somente a fantasia.

24675

Cobertor divinal, tragando as dores
A lua se deleita inteira e bela
E quando acende à noite a rara vela
Suprema deusa explode seus pendores
Reinando absoluta até os albores
E assim emoldurada em rara tela
A dama prateada se revela
Aos olhos mais profanos, pecadores.
E quando um pária vê tal maravilha
Seguindo a deusa nua também brilha
E sente ser alguém, mesmo que pouco
E enquanto enamorado desta cena
Minha alma se entregando, não condena
Os erros do passado e me treslouco.

24674

No seu mata borrão mais vigoroso
Chupando cada marca da tortura
O sol se transbordando em vã ternura
Prepara um raio belo e majestoso,
E quando se percebe o fino gozo
Da mão que se prepara em amargura
Alguma solução já se procura,
Porém o coração segue andrajoso.
Vacâncias da esperança dizem nada
E tento na manhã ensolarada
Reflexos do que outrora teve vida,
Mas sei que nada disso tem valor
E enquanto a realidade ainda for
Utópica, minha alma está vencida.

24673

Derrama sobre o campo seus pendores
A lua desejada por poetas
E quanto mais dispersa tu completas
Os rumos que levassem aos albores,
Expressas; solitários, os rumores
As formas descartáveis, prediletas
E nelas observando toscas metas,
Mas sigo sem perguntas onde fores.

Às vezes, por momentos, eu me afasto
Prevendo o meu futuro aqui, nefasto,
E o quase ser feliz ainda viça.
Ao longe se percebe um som aflito
E quando escuto além, paro e reflito;
Porém minha alma segue em vão e omissa.

24672

Na guaiaca repleta, sentimento
Que podem me trazer alguma luz
E quando este vazio me conduz
Dormindo solitário no relento.
Por vezes reagir; eu juro, tento
Porém se à realidade assim me opus
Que faço se o não crer já se deduz
Exposto aos terremotos; bebo o vento
Na fé que não possuo, a solução?
Na crença que cultuo; perdição?
Não posso responder e então me calo,
Ao longe se percebe algum reflexo
Do quanto me perdi em falso nexo,
Mas sigo sem sequer ter um abalo.

24671

Um sonhador; eu levo essa esperança
E faço este rosário feito em versos
E neles sentimentos mais perversos
Enquanto a solidão envolve e alcança.
A vida predispõe a tal mudança
Colhendo sentimentos tão dispersos
Gerando variáveis universos
Tal luta vez em quando já me cansa.

Eu quero ter somente algum remanso
E assim quando nos sonhos eu me lanço
Enfrento estes gigantes quixotescos,
Aonde quis mais simples, tão prosaico
Amor se contorcendo num mosaico
Desenhos que perfila; mais grotescos.

Friday, February 12, 2010

24670

Estraçalhado barco enfrenta os mares
E deles não consegue outra visão
E sei que na verdade traçarão
Destino bem diverso em vários bares.
Por onde sem bom senso navegares
Os dias sem calor ou mansidão
Medonhas fantasias me trarão
Invés de solução, toscos esgares.
Não posso mais conter farsas nem risos
E aonde procurara mais concisos
Momentos revelados no vazio
Ainda se talvez restasse ao verme
Uma figura sóbria ou quase inerme
Que mesmos sendo inútil fantasio.

24669

Na espreita de que venham os bons ventos
O velho marinheiro teima em crer
Possível novo porto alvorecer
Mudando sem pensar os sentimentos
E dele com denodo os meus alentos
Explodem neste rito de prazer
Podendo num instante perceber
O que deixara atrás tais sofrimentos;
Vestindo esta ilusão adentro em mares
Além do que talvez já não pensares
Altares da emoção real, sobeja
E tendo em minhas mãos este timão
Já não temo as borrascas que virão
Além do que eu bem sei a alma preveja.

24668

No meu coração vibra esta campanha
De tempos ancestrais eras distantes
E quanto mais se mostrem radiantes
A vida não se fez deveras ganha,
Medonha fantasia trama a sanha
De loucos e sobejos caminhantes
Pensara no futuro em provocantes
Delírios onde uma alma já se assanha.
Hipnotizado encontro a solução
Nas aves que fazendo a migração
Retornam ao seu lar depois disso,
E tendo assim a sorte feita ao léu
O tempo que é do tempo bacharel
Exporta esta esperança que cobiço.

24667

A me trazer a doçura, esta lembrança
De um dia feito em festa e derramado
Nas tantas ilusões do meu passado
Enquanto sem sentido a vida avança
Mudasse pelo menos a aliança
Que é feita quando o tempo desolado
No vento se anuncia desprezado
E deixa nem sequer a temperança
A velha história então já se repete
Não vou ficar lançando em vão confete
Tampouco desfilar em fraco enredo,
Assim a cada passo que mal dei
Fotografando escura e turva grei,
Um riso de ironia; a ti concedo.

24666

Olhos distantes, mares que não tenho
E deles vejo a praia aonde aporto
O gozo que se fez feito um desporto
E tudo se moldando sem desdenho,
Especiarias tantas que contenho
Assim esta esperança em vão aborto
E quando a própria carne, rindo; eu corto
Nas sombras das vergastas eu me embrenho
E tendo esta certeza feita em fel,
O peso diamantino deste céu
Emaranhados vários que desfio,
Assino o velho ponto de presença
Aquém do que deveras já se pensa
E tudo não passando do pavio.

24665

Amores que passaram sem perdão
Seriam caminheiros do futuro?
Aonde cada vez que te procuro
Encontro por resposta este senão,
E sinto que outros tempos mostrarão
O quadro novamente amargo e escuro,
Cevando em solo agreste não maduro
Sequer verei brotar talvez um grão.
E tudo se perdendo em frágil canto,
E quando em tal mosaico eu já me encanto
Versando sobre a paz que assim refuga
Escondo o meu olhar e só percebo
O amor como se fosse algum placebo
E dele só por ele, nova ruga.

24664

Os ventos, as procelas, meu empenho
Por onde mergulhara a fantasia
E tendo a solidão que se porfia
Futuro; não conheço e já desdenho
Se apenas ilusão inda contenho
Jamais imaginando novo dia
Escolho com terror a alegoria
E beijo a tempestade de onde venho.
Ecléticos caminhos, variantes
Que se renovarão depois de instantes
Mudando a direção de cada passo,
E assim sem nada ter apensas sendo,
O mundo que se fez em tal remendo
Com erro estrutural qual tolo eu traço.

24663

Em tentar conquistar teu coração
Eu pude perceber quanto é vazio
O mundo que ora em versos já desfio
Trazendo forças tolas que farão
Apenas o que outrora diz porão
E agora novamente em tempo frio
Mesquinha fantasia; ainda crio
Embora saiba ser um ermitão.
Sabia que talvez mudasse o norte
E tendo noutro tanto quem comporte
A vida se transforma em paz perene
Não quero quem me acolha e me apascente
O barco naufragara de repente
Sem ter sequer um cais que ainda acene.
.

24662

Está tudo tão longe... De onde eu venho
Açoda-se uma triste sedução
Mudando vez em quando de estação
O tempo se perdendo sem empenho
E quanto mais audaz já não contenho
Sequer alegorias da emoção
E teimo contra os medos que estarão
Tomando seu lugar e em vão me embrenho
Buscando em turva noite alguma luz
Resquício do passado que me induz
A ter no meu olhar um frágil brilho
Mostrando que talvez inda soubesse
Roubar esta delícia que se tece
Enquanto sob estrelas, manso, eu trilho.

24661

De terras mais longínquas, d’outro chão
Pudera simplesmente além do mar
Ter toda a condição de bem amar
Depois da tempestade de verão
Enquanto meus olhares não verão
Sequer esta beleza a derramar
Encontro a poesia em preamar
Brotando, justifica cada grão
E dele novamente renovada
Refaz o eterno ciclo tudo e nada
Arrefecendo enfim o temporal
O gesto que pareça mais banal
Traduz por tantas vezes o que eu quis
Falar quando pensara estar feliz.

24660

Saudade que me fecha logo o cenho
Dizendo de quem foi pra nunca mais
Aonde no passado derramais
Caminhos pelos quais, ainda venho
E vendo a vós deveras me contenho
Por tanto que vos quero sem jamais
Poder tocar e ter o que entornais
Vagando pela noite em que me empenho
Tentando decifrar qualquer sinal,
O amor como se fora um ritual
Expressa esta saudade que inda trago
E ter-vos tão somente em pensamento
Por mais que tenebroso, eu me apascento
Sentindo deste vento algum afago.

24659

Causando no meu peito uma erupção
Tamanha que jamais comportaria
Além do furacão feito agonia
Apenas as saudades restarão
Vagando sobre pedra e vergalhão
O precipício ainda me traria
Melhor caminho e enfim só bastaria
Mergulho no vazio; a solução.
Embotadas palavras, meras frases,
E nelas cada vez mais satisfazes
Irônico prazer de morte e dor,
Ainda poderia crer na chama,
Mas quando a realidade toca e chama
Encontra solitário, o sonhador.

24658

Fomos felizes? Certo que fugiste
Deixando tão somente uma saudade
Por mais que a vida ainda grite e brade
O coração já quase não resiste
E vivo solitário amargo e triste
A cada novo dia a tempestade
E o medo de viver ainda invade
Passado que tivemos inda insiste
E traz o teu sorriso em despedida
A vida se perdendo uma alma lida
Apenas com as dores, nada mais,
Viver uma esperança mesmo falsa,
Os passos da alegria, a alma descalça,
Momentos que inda restam, são venais.

24657

E levaste contigo as esperanças
Mal deixando as sombras de teus passos
E quando os caminhares feitos lassos
Apenas na alegria ainda avanças
E sabes conquistar tais alianças
E nelas ocupando cada espaço
No enredo deste encanto eu já me laço
Enquanto as fantasias, tu balanças.

Escrevo cada verso em homenagem
Revendo o teu olhar, como miragem
Da qual oásis negam meu deserto
Mantendo o coração a cem por hora
A vida com certeza em luz se ancora
Portão do céu estava em ti aberto

24656

O amor que se fez nosso não duvida
Da sorte garimpada com cuidado
Enquanto desdenhando o meu passado
Agora vejo a luz em minha vida.
Há tempos procurara uma saída
E sempre vendo o rumo já fechado
Encontro neste amor que de bom grado
A cada novo dia revalida
O sonho feito em glória e serpentina
E tanto me domina e me fascina
Vontade de te ter no carnaval
Rainha desta escola onde sou bamba
Requebros nos quadris minha alma samba
Apoteose em rito triunfal.

24655

Vivendo como eternos foliões
Não temos mais sequer o que temer
No amor que se demonstre o bem querer
Espalho pelas ruas os verões
E quando novos tempos tu expões
A sorte se mostrando ao bel prazer
Milagres deste encanto eu passo a ver
Causando neste olhar, inundações.
Navego carnavais e deles faço
Além de meramente grito e laço
Um passo para a tal eternidade
Que dure pelo menos um minuto
Nos sinos e nos pássaros que escuto
O gozo derramando divindade.

24654

Deixando aqui um homem morto, triste
Vazio dentro da alma solitária
A sorte quando dela adversária
Não deixa um sonho só que inda resiste
E quando o vento frio ainda insiste
A noite sem um cais é temerária
Felicidade apenas temporária
Um pássaro sem canto e sem alpiste.

Pudesse pelos menos ter o crédito
E dele se fazer promessa ou édito
Inédito sonhar já se denota,
Saudade faz das suas e me castra
O fogo da lembrança então se alastra
Deixando no ar um cheiro de derrota.

24653

Não posso ser da vida um paradigma
Tampouco quero a rima mais fecunda
Minha alma que deveras já se inunda
Deixando no passado algum enigma

Carrego deste sempre o velho estigma
A sorte de outra sorte se oriunda
E calo-me deveras quando afunda
O mundo se perdendo em alfa e sigma.

Desse magma, vulcânica ilusão
O gêiser se extravasa em coração
E trama com calor, águas diversas,

Nas honras deste encanto satisfaço
O quanto desejara em cada passo
E nele fantasias vão imersas.

24652

Por onde andas, pergunto ao velho mar
Netuno não me avisa e até coíbe
Enquanto uma sereia ali se exibe
Mudando este cenário devagar.
Pudesse nesta praia mergulhar,
Talvez em Curuçao, Guiné, Caribe
Ou comer uma esfirra no Habib
Um quibe com quiabo a me fartar.
Assino cada vez a minha morte
E sem ter nem luar que me conforte
Amar se torna esporte, mas de gala,
Uma alma transparente usa biquíni
A moça rebolando na cabine
Vontade fica quieta e não se cala.

24651

Saudade desses tempos, nossas danças
Das valsas e boleros, noite afora
E quando a realidade não decora
Os tempos morrem todos, vãs lembranças

E quando no presente olhares lanças
Na mulher melancia o sonho ancora
E aquela surfistinha não demora
Aonde colocar as esperanças?

No quadro desbotado da memória
A sorte se mostrou torrente inglória
Floresce no momento esta saudade,

Mas corra antes que a vida nos sufoque
Eu gosto e muito mesmo é de um bom rock
E o sertanejo então? Troço que enfade!

24650

Transito entre os desejos, ânsia e medo
E quando me encontrando junto a ti
Descubro o que deveras percebi
Enquanto me deixaste num degredo,
O dia transcorrendo e se me azedo
No fundo quero estar agora aí
O amor, um bandoleiro que em per si
Descobre enquanto encobre algum segredo.
Veneno tão gostoso de provar
E nele novamente entorpecido
O quanto florescendo esta libido
Expõe de manhã cedo o seu luar,
Do céu em raios fartos, sol emerge
Meu rio pro teu rio assim converge.

24649

Ah! Como dói o amor quando distante
E tudo desabando, casa e teto
Por mais que outra saída, eu arquiteto
O temporal em fúria deslumbrante
Riscando o céu em ânsia galopante
Corcel se perde enquanto o predileto,
Buscando no vazio algum afeto
Cometa volta e meia, o mesmo instante.

Hereges fantasias, tosco mundo
E dele quando nele me aprofundo
Encontro esta sereia em bela praia
E dela procurando algum motivo
Descubro estando atento e sempre vivo
O que ela esconde agora sob a saia.

24648

As horas não se passam, vida voa
E diz dos desenganos a taxista
Que errando de caminho pega a pista
E tomba o meu destino numa boa.
Pessoas que descubro no Pessoa
Por mais que não consiga ser artista
O amor quando se dá e nem despista
Furada desde já; esta canoa.
Esgoto os meus demônios com a prece
E tendo em minha mão medo oferece
E beija qual sacrílego noctâmbulo.
Não vou ficar aqui de picuinha
Enquanto se mostrara esta daninha
Equilibrando os pratos, qual funâmbulo.

24647

O mundo se desaba num instante
E traz o que não fora outro momento
E sendo neste tanto eu me apascento
E bebo o teu caminho triunfante.
Mesquinharia diz do vacilante
Momento em que se mostre solto ao vento
O que se transformara em sentimento
Infausto como o Inferno que quis Dante.

Na fúnebre paisagem vejo as trevas
E quando solitária à noite nevas
Transmites outros tantos males rudes
E assinas com teu sangue o meu exílio
O amor tem seus enganos toscos. Pilhe-o
Mostrando que em verdade já me iludes.

24646

Quem dera ser feliz... Rei e coroa
O cetro se perdeu noutra princesa
E venço a cada dia a correnteza
E sei o quanto a vida é muito boa.
Por mais que esta verdade ainda doa
No quarto de dormir ou sobre a mesa
Percebo no teu corpo tal beleza
A sorte se demonstra igual leoa
E trama com furor caçada e presa
Um velho marinheiro agora arpoa
E tendo esta fartura em sobremesa
Enquanto a fantasia não escoa
Do véu que nos recobre sem defesa
A voz desta emoção em mim ecoa.

24645

Nos olhos derramados deste amante
Delírios entre risos e sarcasmo
O quanto imaginara ainda pasmo
O tempo me provoca e tão galante
Por mais que a melodia se adiante
A vida se repete no marasmo,
Transforma uma alegria neste espasmo
A sorte se mostrando um mau turbante
Desprotegido sigo a tal revel
E sem sequer cumprir o meu papel
Espalho esta poeira sobre os olhos
E colho do passado, velhas cruzes
Pisando tão somente em finas urzes
As dores vou colhendo então aos molhos.

24644

As lágrimas se secam. São à toa,
Qual fosse tempestade em copo d’água
A sorte noutro tanto já deságua
Atinge esta esperança pela proa

E quando imaginara fogo e frágua
Eu tenho esta ilusão que agora arpoa
Aonde a vida fosse e não ressoa
Apenas resumindo nesta mágoa.

Anáguas do passado e os corpetes
Distante deste tanto que competes
Desnuda maravilha nesta cama,

E o tempo em tempestade ou temporal
Demonstra quão diverso o meu astral
Enquanto não me doma, ainda clama.

24643

Jamais renascerá o radiante
E belo sol que outrora se fez farto,
E quando a fantasia eu já descarto
Não vejo outro futuro que adiante.
Querendo lado a lado sigo adiante
E faço a cada verso um novo parto
Partindo do vazio e se reparto
O tempo coaduna o navegante.
Nas dunas, nesta praia, escaldo a pele
E enquanto esta loucura me compele,
Repele-me a verdade que encoberta
Deixara ver apenas de soslaio
Da vida não me faço mais lacaio
A senda que buscara está deserta.

24642

Sol... Mais um girassol, louco destoa
Andando sem destino noite afora
Apenas esta treva inda decora
Enquanto caminheiro segue à toa
Aonde imaginara a vida boa,
A solidão cruel tempera e aflora
Senzala dentro da alma já deplora
O sonho que naufraga em tal canoa.
Esguia a fantasia se arremete
Deixando a realidade qual grumete
No início esperançoso vê que o fim
Ainda que pareça mais distante
Denota este sentido que humilhante
Acorda em dissonante som afim.

24641

Floresce mais teimoso neste prado
Abrolho destoando da paisagem
Enquanto percebera esta visagem
Revejo cada tempo mal passado,
E bebo deste sonho enluarado
Fazendo da emoção, minha pastagem,
O coração procura uma estalagem
Sem pajem nem pajé, abandonado;

Acode-me esta franca fantasia
E quando nova luz ela recria
Revejo o que pensara ser festejo.
E nada além do cais que ainda tento
O amor faz reboliço e o pensamento
Agora se arvorando é o que inda vejo.

24640

Relampejante sonho toma o campo
E dele não se vê sequer mais nada
Somente o que luzia em madrugada
Na fagulha fugaz de um pirilampo.
Enquanto a realidade; enfim encampo
A sorte noutra linha desvendada
Deixando a noite imensa já nublada,
Nas hordas da ilusão, agora acampo.

Nos pampas da emoção velha coxilha,
O coração gaudério busca e trilha
Trazendo na guaiaca esta esperança
Bebendo deste amargo vejo a vida
Nos veios da tempesta quer guarida
E assim nos braços teus, ele se lança.

24639

As cores e matizes são farol
Do dia que deveras reconheço
E teimo desde sempre, do começo
A ter este destino: girassol
Recebo cada gota deste sol
E dele faço o verso sem tropeço
O quão dorido sonho; agora esqueço
Num canto que quisera ser de escol.
Espairecendo à tarde na varanda
Bebendo a fantasia que desanda
Às vezes sou poeta ou já me calo,
Não pude suportar a solidão
E encontro nestas cores que virão
Ao mesmo tempo paz, sorriso e calo.

24638

Promete ressurgir vital delícia
Aonde escancarara a gargalhada
E mesmo esta figura destroçada
Ainda se procura com malicia
Por mais que houvesse luz, tanta sevícia
Mudara o quase todo em simples nada
E a poesia tenta em barricada
Defesa que permita uma carícia.

O corpo se trazendo com astúcia
E tendo a maciez desta pelúcia
Extrai toda a tortura e trama o brilho,
Poeta como fosse um andarilho
Vagando constelares esperanças
Buscando com os sonhos, alianças.

24637

Quebranto e solidão meu triste fado
Azares de uma vida? Não duvido
E quando da ilusão estou provido
Mergulho sem saber se existe enfado
E teimo vasculhando cada lado
Por mais que temerário, não regrido
E tanto quanto posso não agrido
O barco há tantos anos naufragado,
Das fráguas do futuro me incendeio
E tendo nos meus olhos rumo e veio
Anseio uma resposta pelo menos
Será que terei dias mais amenos,
Ou mesmo deste jeito macambúzios
Recorro à cartomante, astral e búzios.

24636

Mas, entretanto a vida, um girassol
Rondando cada instante, carrossel
Enquanto se promete gozo e céu
Às vezes me prepara um caracol,
E sem saber se existe um novo sol
Vasculha o coração corsário ao léu
Pudesse ter novelo e carretel
Assim seria ao menos teu farol
Arcando com arrancos e tropeço
Encontro muito além do que mereço
E bebo sem pudor o cio e orvalho;
E sou feito assoalho em que tu pisas
Aonde tempestade; crio brisas
E em prol de uma ilusão, aqui trabalho.

24635

Beija-me! Necessito teu carinho!
E nada além de um pálido sorriso
Por mais que se perceba algum juízo
Nas ancas da morena eu já me alinho
E vibro com prazer se de mansinho
A gente passo a passo ao Paraíso
Das cores do desejo eu me matizo
Enquanto deste gozo me avizinho.

E sendo que conheço esta textura
Do corpo aonde uma alma ora perdura
Momentos divinais, ternura e gozo,
Aonde se buscar nova senzala
A sorte se entregando nada fala
Mergulha neste mar voluptuoso.

24634

Meus mares e saveiros onde estão?
Não posso prosseguir a vida assim
Transtorno cada instante de onde vim,
Matando o que pensara criação,
Esgoto este riacho e o ribeirão
Trazendo a mansidão água o jardim
E sendo que deságua agora o fim
Escuto a voz em tom de negação.
Esbarro nos meus totens, meus fantoches
E quando noutro tanto já deboches
Assomam-se delírios, convulsiono
Buscando alguns sinais que ora não vejo
E se pudesse um verso mais sobejo
Talvez se transforme em luz meu sono.

24633

Meu mundo desabando, estou sozinho,
E sei dos meus temores; e os cultivo
Vencido pelo medo, sobrevivo
Enquanto noutros cantos vou sozinho,
Esgueiro-me e deveras me avizinho
Do canto que pensara mais altivo
Reavivando a glória de um cultivo
Que possa transformar uma água em vinho.
Ecoam dentro em mim vozes de outra era
E quando a sorte trama e degenera
A fera se transporte e volto ao não
Por onde sonegara algum final
O canto que pensara magistral
Revolve o que vivi noutra versão.

24632

As luzes, esperanças vão ao chão
E teimam entre trevas e nefastos.
Momentos que pensara serem castos
Apenas trazem turva podridão
E mesmo sem saber desta aversão
Os dias entre chamas foram gastos
E enquanto houvesse sonhos e repastos
Os meus cantos jamais perecerão.
E sendo libertário por essência
Não posso crer em tal coincidência
De passos entre espaços mais precisos,
Não vejo outro caminho e se percebes
Fantásticas lições em velhas sebes
Das glebas e grotões aos Paraísos.

24631

Meu canto, engaiolado passarinho
Procura a liberdade noutros versos
E bebe destes sonhos mais dispersos
Fazendo do teu colo e corpo, ninho.
Não posso mais seguir sempre sozinho
Vagando sem destino em universos
Momentos solitários são perversos
E deles desbotado o meu cantinho.
Receba cada frase como fosse
Ao menos um delito que agridoce
Enquanto traz o sol, beirando à chuva
Encaixo coração com coração
E sei das tempestades que virão,
Usando de pelica a minha luva.

24630

A noite me promete sempre o não
Eternizando assim o que retrato
Aonde se pudesse algum destrato
Audácia se transforma em negação
Pudesse ter nas mãos os que oporão
Com ódio este caminho que bem trato
Servindo a podridão em fino prato
Deixando a poesia no porão
Teria sem pudores faca e foice
E quando se prepara um novo coice
Galopo em liberdade, sou corcel
Aonde ser feliz é o que me basta
Por mais que tendo uma alma mais nefasta
Da terra avisto o cimo e toco o céu.

24629

Encharco meu amor, cálice, vinho
E quanto mais eu bebo e me inebrio
Aceito a cada instante um desafio
E neste mundo insano já me aninho.
Não quero nem por isso ser daninho
Descendo mansamente qualquer rio
Até que a foz se houver senão eu crio
Deixando a cachoeira e o burburinho.
Assentando a poeira desta vida
Abrindo vez em quando esta guarida
Escrevo quando quero o que bem sonho
E sendo assim um simples repentista
Visão que se pretende futurista
As sombras do passado eu recomponho.

24628

Promessas? Só me fez a solidão!
E mesmo assim deveras enganosa
Que enquanto ali desfila nega a prosa
E traz do verso apenas aversão.
Versões que se pensara não virão
Do avesso mergulhando espinho e rosa
O beijo me transporta enquanto glosa
Medonha maravilha em podridão.
O gosto amargo e cinza do passado
Ainda nos meus lábios preservado
Transmite um sonho audaz, mas temerário
Voando em liberdade, nada vejo
Sequer o que talvez fosse o desejo
Deste eremita torpe, um solitário.

24627

Nos teus olhos a vida me protege,
Últimas esperanças de viver
Jogadas neste copo de aguardente
A vida de um decrépito demente
Permite novo sonho a se perder
Pudesse transformar e tentar ser
Além do pensara ultimamente
O corpo se transtorna e assim doente
Não tenho outra saída e vou beber.
Esgoto as esperanças nesta taça
E quando a realidade eu vejo, passa
Apenas simples sombra do que fui
Moldando este vazio em cada copo
E até voar sem asas, penso e topo
Enquanto o meu castelo aos poucos rui.

24626

Destrua tal tristeza, a vil herege
E venha para a festa sem pudores
Aonde sem destino tu te pores
Verás o quanto amor já nos protege
E a sorte com certeza nos elege
E dela sei jardins, e busco flores
Diversos os matizes, multicores
Caminhos onde o amor ainda rege.
Resisto, mas não posso me furtar
A mergulhar insano no teu mar
E enquanto canta assim bela sereia
A vida noutra vida já se dando,
Encontro esta saída desde quando
O amor pega de jeito e me incendeia.

24625

Que teima em devorar meu sentimento
Já sei e não me canso de falar
Enquanto sob as forças do luar
Por mais que ainda tente não sustento
O vento se transforma em sofrimento
E o gosto se adequando ao paladar
Ainda que precise mais salgar
No quanto ser feliz, doce tormento,
Assino assim ao fim minha alforria
Nas horas em que tola tu dizias
Do beijo inusitado que te dei,
Fantasmas de nós dois rondando a sala,
Uma alma distraída já se cala
Fazendo da alegria sua lei.

24624

Desejo esta morena, saia e riso
Fazendo da gandaia nossa Roma
O corpo junto ao corpo mais que soma
Transcende nos levando ao Paraíso
E tudo sendo assim, manso e conciso,
Pisando nas estrelas, uma alma doma
E toda a fantasia que ela toma
Espalha o gosto bom do que preciso.
A vida se transforma em fortaleza
E dela sem ter medo nem surpresa
A fantasia lúdica é completa
E sendo assim galgando a bela lua
Que em tantas alegrias já flutua
Cupido pinta e borda com a seta.

24623

Eu não tenho sequer tempo a perder
E tento disfarçar num outro mote
Antes que a própria vida nos desbote
E negue necessário, este prazer.

O beijo que podia reverter
Agora já quebrou a ponta e o pote,
Reconto sem destino até que brote
Na espera do vazio, um novo ser.

Assombreado bosque em luz serena
A calma noutro tanto agora acena
Mudanças prometidas desde quando

Ao perceber o mundo desabando
Tijolo por tijolo, recomponho
O mundo que me deste tão bisonho.

24622

Equilibrando dores, alegrias
A vida de um truão é mesmo assim
Início destroçando cedo o fim,
Cedendo a cada passo em noites frias,

Se o todo num pedaço já desvias
E o quadro se mostrasse mais chinfrim
Não sou sequer demônio ou querubim,
Mas tudo o que eu desejo; fantasias.

Exercitando em mim este alpinismo
Cavalgas e procuras pelo sismo
Que logo se aflorando traz enchente

Depois é só correr e socorrer
Que tudo terminando no prazer
Por mais que me perturbes ou me atentes.

24621

Respiro sentimentos diferentes
Enquanto tempestade e riso aprontas
As horas são deveras tolas, tontas
Bebendo cada gota de afluentes.
E mesmo sendo assim ainda mentes
E no final de tudo em altas contas
Sequer a fantasia tu descontas
Deixando para trás noites gementes.
Orgásticas loucuras? Nunca mais
O barco procurando um novo cais
Encontra fina areia movediça,
E sendo assim perdoe alguma falha,
Minha alma na verdade só batalha
Fugindo deste tédio que cobiça.

24620

Coração escraviza-se em folias
E delas se faz farto e não descansa
Mereço ter alguém? Vaga lembrança
Do tempo que deveras esvazias.
Serenas noites trágicas, vadias,
E delas inda resta esta esperança
Vulgar que enquanto a vida em aliança
Amortalhado sonho que temias.
Perpetuando o jogo- perde e ganha,
Assim eu permaneço sem montanha
Nem mesmo corredeira, nesta fossa
Assoreada vida se transborda,
E vivo em precipício beira e borda,
Até que no final, sorrir eu possa.

24619

Meus medos e quimeras são urgentes
Traduzem o viver de um insensato
Que a cada novo dia cospe em prato
Aonde banqueteia e tu consentes.
Vencer os meus temores e correntes
Algemas fazem parte do contrato?
Não posso e até por isso desacato
Mostrando falsa fera em poucos dentes.
O quanto se fizera com capricho
A cada amanhecer verdade esguicho
Usando da palavra mais mordaz,
Defesa simplesmente ou ironia,
Abandonando à sorte quem me guia,
Apenas o terror me satisfaz.

24618

No picadeiro trago as fantasias
Vestido de palhaço simplesmente
Aonde se teimava e ainda tente
Uma alma sem caminhos, tu perdias,
Perfilas sob os olhos novos dias
E tudo o que pensaras, inda mente
Omite-se a verdade e num repente
A gente empoeirando as poesias.
Esgoto cada tema no espetáculo
E pondo meu olhar como um tentáculo
Oponho-me ao que outrora verdadeiro
Agora já não serve; pois, puída,
A roupa não traduz a nossa vida,
Apenas o cenário: um picadeiro.

24617

Dançando sobre luas e vertentes
Assistindo o espetáculo, disperso
Os dias entre seios, risos, versos
Expressas os anseios mais urgentes.
E mesmo que deveras já alentes
Vontade de caminho mais diverso
O beijo sem pudores traz imerso
O anseio que nos torne mais contentes;
Vestindo esta emblemática esperança
A vida tanto pede enquanto lança
Aonde, em descaminhos se inda opores
Os passos contra a enorme correnteza,
Permita-se sonhar e em tal leveza
Terás nesta vertente belas cores.

24616

As ruas prometendo cantorias
E festas entre fogos e reinados,
Os dias prosseguindo amarrotados
Nas sendas e veredas onde guias
Na constelar loucura, as fantasias
Momentos com certeza mal passados
Ungidos pelas cruzes, urzes, Fados,
E os gados da emoção que não mais crias.
Vertentes tão diversas; veja e tentes
Buscar noturnos focos mais ardentes
Fraguando o meu delírio em teu calor,
Partícipe da festa feita em vida,
A sorte noutra sorte estando urdida
Traduz ao fim das contas, nosso amor.

24615

Amores que refletem tantas gentes
Fazendo tempestade em copo d’água
Depois de certo tempo já deságua
Em rios bem maiores, afluentes
E as fozes onde ainda me contentes
Não cabem ilusões, tampouco a mágoa
E vendo o sol imenso, cada frágua
Traduz momentos fúlgidos e ardentes.
Excêntricos sabores; medo e gozo,
O tempo se mostrando caprichoso
Premissas de luares e procelas,
No entanto encantos tantos dizem pouco
Do amor em que me perco e me treslouco
Ainda algum futuro inerme selas.

24614

Palavra e pensamento vêm à tona
Depois da tempestade e do naufrágio,
A vida já não tem pena ou deságio
E sempre cada falso desabona,
O ser feliz deveras me abandona
Não resta, por defesa nem adágio,
Porém não pagarei qualquer pedágio,
O mundo transformado numa zona.
Assíduo sonhador ou mesmo otário,
O passo sem limites, temerário
Talvez levando à beira em precipício.
E quase precipito novamente,
Só quero quem deseje e até me agüente,
Um amor que não se mostre assim fictício.

24613

Rodopiar da saia da morena
Deixando um coração tão agitado
Batendo sem limites, o coitado
Jamais ao ver beleza assim serena.
E quando a vida fora mais amena
Uma esperança deixo ali de lado,
E o tempo se conjuga no passado,
Magia que deveras já se acena,
Falando da morena e sua saia
Por mais que o pensamento na gandaia
A trama se desdobra diferente,
A pele neste espelho se enrugando,
E o que sempre quisera bem mais brando
A vida já levou; cruel torrente.

24613

Rodopiar da saia da morena
Deixando um coração tão agitado
Batendo sem limites, o coitado
Jamais ao ver beleza assim serena.
E quando a vida fora mais amena
Uma esperança deixo ali de lado,
E o tempo se conjuga no passado,
Magia que deveras já se acena,
Falando da morena e sua saia
Por mais que o pensamento na gandaia
A trama se desdobra diferente,
A pele neste espelho se enrugando,
E o que sempre quisera bem mais brando
A vida já levou; cruel torrente.

24612

A vida me promete não ter pena
Dos erros cometidos em seu nome,
Por isso mesmo quando a fúria eu dome
A sorte se transforma e não acena,
Minha alma frente ao medo se apequena
E tudo se transmuda em medo e fome,
Nos braços se puder, amor me tome
Futuro, a fantasia concatena

E beija as suas fráguas; bebe a fonte
Por mais que noutro canto se desponte
O verso mais audaz se faz sincero.
Vibrando de emoção só por saber
Do quanto me ilumina este prazer
Que é nesta vida em dor, tudo o que eu quero.

24611

O canto que te trago, de carícia
E gozo prometido sem rancores
Além do que podiam teus pudores
Amor se faz com ares de malícia
E quando dos desejos a notícia
Tocando os corações, por onde fores
Terás em tuas mãos, espinhos, flores
Da dor que nos engana, tal delícia.
Sentindo o teu perfume, deslumbrado
Retorno aos velhos sonhos do passado
E quanto mais mergulho, mais me encanto
Viver a poesia sem temer
O quanto se transtorna o nosso ser,
Em voz suave e mansa, agora canto.

24610

Nem medo nem quimera que me atinja
Podendo destroçar um sentimento
No qual por vezes penso e já me alento
Nas cores e matizes onde tinja
O mundo percorrendo o pensamento
Qual fora samurai, ou mesmo um ninja
Que em lutas desumanas sempre finja
Fugindo o mais depressa do tormento
No qual e pelo qual se existe a vida
Que tanto nos encanto quanto acida
E traz novo viver em tom sombrio,
Vencer os medos tantos que carrego,
Assim fortalecendo enfim meu ego,
O mundo neste instante eu desafio.

24609

Viagem que em teus braços, determina
Caminhos pelos quais posso encontrar
Além do manso raio de um luar
Que ao mesmo tempo dói quando fascina,
E tendo uma alma tola e cristalina
Não temo mais angústias; bebo o mar
E dele a cada lágrima a salgar
Permite inusitada e rara mina.
Examinando os erros percebi
Que tudo me levara enfim a ti
E sei que por talvez amar além
Do quanto poderia; vejo o fim
E transbordando estrelas dentro em mim,
Olhando para os lados; mas, ninguém.

24608

Amor em perfeição quase divina
Não deixa sem respostas um amante
E segue sem perguntas, sempre avante
E a cada novo passo, me fascina.
Não tendo quem o tempo assim domina
Por mais que a cada dia se adiante
Incandescente fúria num instante
Destroça qualquer fonte, ponte ou mina.
Exalas teu perfume e te persigo
Pudera ser além de um bom amigo
Teria finalmente aqui repleta
Uma alma que se fez em fantasia
Tocando mansamente a poesia,
Porém o que fazer: não sou poeta.

24607

Seguindo a nossa estrada para o sol
Mergulho nos anseios da ilusão
E sei que tantas luzes proverão
O amor que se espalhara no arrebol,

E encontro nos teus braços o estuário
Dos sonhos e desejos de um poeta,
Que em ti quando se lança se completa
Por mais que a vida mostre um rumo vário.

Seguindo cada rastro poderei
Chegar a mais sublime cordilheira
Paixão ao se mostrar tão verdadeira
Dourada pelos raios do astro-rei

Não deixa qualquer dúvida e incendeia
Entrando em cada poro, sonho e veia.

24606

Quem nada poderá fazer sozinho
Já sabe dos engodos de uma vida
Enquanto a realidade, distraída
Encontra por resposta algum carinho
Nas ânsias deste encontro eu já me alinho
Minha alma neste instante esmaecida
E teimo em procurar outra saída
Que possa inebriar; diverso vinho
Do qual entorpecido bebo até
Chegar ao tal Nirvana que inda busco
Por mais que o céu esteja turvo, fusco.
Solares maravilhas, rumo e fé
De quem ao se entregar; felicidade
Tocando levemente sempre aguarde.

24605

Derrama-se por sobre a terra inteira
Dourando com sublime maravilha
Seguir deste astro-rei enquanto trilha
Minha alma destes sonhos já se inteira
E segue, alucinada a bela trilha
Além da fantasia corriqueira
Entrega-se deveras companheira
E vendo tanta luz se maravilha.
O sol entorna assim por sobre nós
Porquanto nos atando em firmes nós
Dos quais jamais um dia me liberto,
Num paradoxo sinto que esta algema
Enquanto nos unimos não algema
Mantendo o coração sempre liberto.

Thursday, February 11, 2010

24604

Que mostra em brilho raro o bom caminho
Não tenho quaisquer dúvidas querida,
Perpetuando a sorte merecida
Não quero estar deveras mais sozinho.
Pois tudo se transforma e já me alinho
Nas sendas desta luz fortalecida
Na plena liberdade, em nossa vida,
Servindo com certeza como um ninho;
Se a “liberdade, ainda que tardia”
Não seja tão somente alegoria,
No emblema que nos move, inconfidentes.
Jamais suportaria tais algemas,
Por isso é que repito: nada temas
Aqui terás o amor que também sentes.

24603

Meu coração te busca, um helianto
Inebriadamente se transporta
E toca mansamente a tua porta
Bebendo da ilusão, sobejo encanto
E quanto eu te desejo, aqui eu canto
Meu barco nos teus braços já se aporta
O que virá depois já não me importa
Só quero ser coberto pelo manto

Que trazes com sorrisos venturosos,
Delírios entre mares prazerosos
Uma álgida lembrança se desfaz
E tudo se renova ao mesmo instante
Em que este caminheiro se agigante
Na fúria de um prazer insano e audaz.

24602

Teus olhos me servindo de farol
Não deixam que eu perca em mar escuro,
E quando nesta sanha quero e juro
Além do que talvez um girassol
Dourando-me deveras de teu sol,
São brilhos que com sonhos eu misturo
Angariando ao fim um bom auguro,
A paz se entorna em todo este arrebol,
Serenamente o verso te proclama
Além do que pensara simples cama,
O amor não sossegando um só instante
Ascende ao mais perfeito paraíso
Tramando tudo aquilo que preciso,
Tornando o meu caminho deslumbrante.

24601

Clareiam divinais, o nosso ninho;
Olhares em que vejo o teu fulgor
Expressando com fé o raro amor
Do qual e pelo qual eu já me alinho.
Antigamente andara tão sozinho,
E agora novamente ao recompor
A estada deste eterno sonhador,
Bebendo em tua boca, o doce vinho

Jamais avinagrado, não se acida
E nele resumindo a nossa vida,
Eterna e tão durável quão profunda.
Minha alma se transborda neste encanto
E sabe decifrar o que ora canto
No temporal sobejo que me inunda.

24600

Quem dera se pudesse, um cavaleiro,
Sentir desta princesa uma presença
Que mais do que talvez minha alma pensa
Um extensivo gozo é corriqueiro.
Herege cavalgada e nela inteiro
O sonho que se fez sem desavença,
Gerando do vazio, medo e crença
Mudando este matiz do meu tinteiro.
Argutas melodias espalhadas
Enquanto se preparam alvoradas
Ainda posso ver no fim da noite
As tramas que criaram tal polêmica,
A vida sem amor se torna anêmica
Endêmica tortura de um açoite.

24599

Seguindo num galope, passo a passo
A trilha que deixaste minha amiga
Enquanto a solidão já nos persiga
Nas ânsias de um calor a vida eu traço,
E sem saber se tenho ou não o abraço
Eu sei que tudo então nos desabriga
E quando a sorte assim se desobriga
O amor seria mesmo um erro crasso.
Disfarço com poemas o desejo
E deles a verdade que eu almejo
Tornando-se afinal um subterfúgio
Queria ter somente uma alegria,
Mas solidão chegando desafia
E nega ao andarilho algum refúgio.

24598

Até chegar ao sonho derradeiro
Depois de tanta luta é que percebo
Que aquém deste delírio, não recebo
Sequer o meu cardápio costumeiro,
Vencer estes rancores, mas primeiro
Preciso vislumbrar no que me embebo
O amor jamais seria um bom placebo
Apenas um suave fogareiro.
E gélido caminho se prepara
A quem estando aquém da luz tão clara
Esgota-se em esgotos vida afora,
Estranhas melodias? Não mais ouço,
Quisera candelabro e o calabouço
Realidade torpe enfim decora.

24597

Encontro, mais feliz, no teu abraço
Esboços de uma vida mais audaz
E sei que sendo assim, estou atrás
Do mundo em derradeiro e firme laço.
Se tanto desejei o que desfaço
Num ato audacioso e até mordaz
Não sou sequer teu amo ou capataz
E fênix; do passado, enfim renasço.
O mundo se procura meteórico
Vencer os meus temores, ser eufórico
E tudo sendo lógico serena
Uma alma prisioneira não cativa
Mesmo que se mostrasse mais altiva
Deveras não se dá de forma plena.

24596

Tomando em cada brilho, o verdadeiro
Sentido que se dá quando se quer
Vencer as intempéries da mulher
Na qual um sonhador se deu inteiro,
O sonho muitas vezes vai ligeiro
E diz do que talvez fosse qualquer
Caminho desdizendo o que vier
Traçando o precipício que ora beiro.
Esqueço-me das vastas amplidões
E sei desta verdade que dispões
Trafega pelas farsas tão somente
E meço tais palavras, com cuidado,
Refaço cada sanha do passado
E mesmo assim, a vida, volta e mente.

24595

Sentido que se empresta ao vero laço
Do qual tu me negaste qualquer trama
Apenas desfilando aqui tal drama
Seguindo este tropeço, este embaraço,
E quanto mais desejo, mais desfaço
O quadro que se molda em luz e chama,
Uma alma transparente já reclama
Deixando-se levar pelo cansaço,
Abraço ao fim do dia, a insensatez
E nela cada passo se desfez
Mudando novamente o que me guia,
E verso sobre o trágico momento
Aonde se mostrando sem alento
Bebi a sordidez da fantasia.

24594

Do amor emoldurada falsidade
Trazendo num momento dor e glória
Semeio da ilusão tal promissória
Que a cada novo tempo mais degrade
E sem saber sequer se ainda agrade
O encanto se perdendo na memória
Restando tão somente a podre escória
Do que deveras foi tranqüilidade,
Mesquinhos descaminhos que assim trilho
E deles cada pedra, um empecilho
Que impede se chegar a tal consenso,
E sei que ser vazio e ter nas mãos,
Aquém desta emoção sobejos grãos,
Plantados na aridez em contra-senso.

24593

Nas telas divinais: felicidade
Expressando a ciência do querer,
Pudesse novamente amanhecer
Rompendo da ilusão, soberba grade,
Serenando este verso que ora invade
E toma com certeza todo o ser
Matando o que tentara até poder
Sonhar com algo além de uma saudade,
Retorno ao descaminho e enquanto audaz
Palavra que o silêncio agora traz
Negando uma clemência ao sonhador,
Desfiro com terror a arma concreta,
Palavra pela qual se faz poeta
Aquele que se entrega ao falso amor.

24592

Sonhos de amor, delícias sensuais
Prazeres que jamais pude tentar
Sabendo quão distante o vosso olhar
Mergulho neste não que ora me dais.

Expressam-se valores rituais
Aonde poderia se notar
O brilho onde deveras encontrar
Além das trevas quase tão normais.

Servindo-vos o amor nesta bandeja
Além do que pensais; a sorte almeja
A claridade intensa que não veio,

E mesmo quando vir alguma luz,
Fatalidade vã se reproduz
Gerando a dor aonde quis anseio.

24591

Palavras e vontades me envolvendo
E deles se permite um novo não
E quando perceber que inda virão
As dores em medonho dividendo,

Atendo aos meus prazeres merecendo
A mais completa e dura sensação
Do quase que se fez oposição
Ao que mais desejara, manso adendo.

Revendo os meus momentos se perceba
Uma inclemente luz em cada sebe
Forrando com incêndios o que outrora

Quisera em placidez, e me devora
Angústia de saber do ausente sim,
Na gélida dureza do marfim.

24590

Querendo de teu corpo sempre mais,
Dispenso os meus valores e mergulho
Sem ter sequer noção qualquer de orgulho
Esgoto os meus desejos animais.
Vê como a poesia quer demais
Servindo esta ilusão vago mergulho
Sabendo que deveras quão hercúleo
Trabalho nestes medos ancestrais.
Velórios entre risos, gargalhadas,
As honras deveriam ser guardadas
E dadas aos perfeitos, grãs heróis,
Mas tudo não passando de um engodo
Apenas se prepara a lama e o lodo
No quanto deste sonho tu destróis.

24589

Meus olhos em desejos sonegados
Expõem o quanto quis, a sorte é breve
E sem ter ilusão que se releve
Os dias que julgara consagrados
Agora se percebem agregados
Ao vácuo aonde a mão suave atreve
E quando este caminho se faz leve
Espalham-se cascalhos sobre os prados.
Perenes fantasias? Tosco brilho,
E dele quando tanto inda palmilho
Os vértices insanos de um minuto
Algozes as matilhas do vazio,
E quando a súcia inteira desafio
O fogo se tornando mais astuto.

24588

Buscando em luz e glória raro cais
Apenas vislumbrando escuridão
Meus versos neste instante sofrerão
Enquanto noutro tanto vós gozais

A voz se refletindo nos boçais
Deforma-se e deveras negação
Aonde poderia imensidão
Vazio noutro tanto se informais.

As fendas são sobejas e sei que vãs
As hordas destroçaram as manhãs
E pútridos caminhos, não permito

Ao velho e destroçado sentimento
Exposto sem limites, já me atento
Ouvindo o mesmo não, prossigo aflito.

24587

Voando em liberdade se deslocam
As aves rapineiras, podres ritos,
E deles os meus cantos mais aflitos
Nas sendas mais escrotas já se alocam,

E quando os burburinhos torpes tocam
Meus versos se moldando em vários mitos,
Transcrevem tais momentos, são malditos
E em rios poluídos desembocam.

Mortalhas que ora visto não impedem
Que enquanto as ilusões hostes depredem
Os vergalhões imergem do vazio,

Espalho odor que fétido se entranha
Alçando deste vale uma montanha,
Que tresloucado, insano; desafio.

24586

Atravessam os mares, vão além.
Meus versos embutidos neste sonho
E quando em ambições me decomponho
Olhando para os lados, vê ninguém.
Perdendo assim o tempo, aonde o trem
Descarrilado vejo e não proponho
Aquém deste fantasma em si medonho,
Velhaca sorte o mundo já contém.

Aonde se pensara em abundância
Esgoto-me em diversa discrepância
Opondo-me deveras mato a luz,
E servindo ao que julgara belo e nobre
Verdade em falsos tons a vida encobre
Onde quisera brilho, bebo o pus.

24585

Beijando a tua boca, poesia
Já não me caberia alguma escolha,
Por mais que a solidão vaga recolha
O tempo sem demora inda recria

O quanto quis demais e se esvazia
Redomas do futuro, etérea bolha
Uma esperança aos poucos se desfolha
Deixando no lugar a fantasia.

Soberbas heresias não dão crédito
Hermético caminho num tosco édito
Somenos importância tem o verso

No torpe imediatismo o que se vê
É a vida entronizada num por que
Aonde e sem saída eu me disperso.

24584

Encontram nos teus braços bens profanos
E deles já se espalha engodo e dor,
Orgásticos caminhos tão mundanos
Transcendem ao jardim, sonegam flor,
E deles se adivinha com pavor
Os pálidos e sórdidos enganos
E a cada novo passo, o decompor
Causando tão somente custos, danos.
Ecléticos prazeres, noite em gala,
E quando a poesia já se cala
Deixando tão somente se antever
A morte de um romântico luar,
A vida se transforma em lupanar
Reinando sobre nós fúria e prazer.

24583

Por tantas vezes vejo o que querias
Deixado sem destino, em luz sombria
Evanescendo assim a poesia
Deitada nos vazios que ora crias,
E quando imaginara alegorias
Restando a solidão onde se via
Estrela que jamais reluz e guia
Matando em nascedouro as fantasias,
Descreves com denodo esta agonia
Da qual e pela qual assim te esquivas
Ardentes ilusões em águas vivas
Aonde mergulhara tosca enguia
Turvando uma emoção, alma plebéia
Atocaia fera, uma moréia.

24582

O vento em fantasia sempre vem
Trazendo abençoadas emoções
E nelas o carinho em que compões
Um mundo mais audaz e sem desdém,

O tempo diz do tempo que contém
Ufana caminhada e em tais verões
Por mais que ainda restem aversões
Versões diversas tramas muito bem,

E tanto que se quis e não podia
Uma alma sem descanso em agonia
Transcende à própria vida e necessita

Do todo em que proclama-se a partilha
E quando em solidão trevas palmilha
Caminho se transforma em pó e brita.

24581

Trazendo em cada verso esta alegria
Escuto a voz do vento nos tocando
E dela a fantasia nos diz quando
A sorte claramente se desfia
E quando a noite chega e o tempo esfria
Um mundo mais suave, ameno e brando
A cada nova luz sinto vibrando
Tomando com prazer o dia a dia,

Aonde houvera outrora sombra e dor
Agora neste encanto a se propor
Revejo os meus conceitos e permito
À rara claridade, este nuance
No qual e pelo qual eu me esperance
Tornando o meu viver bem mais bonito.

24580

Já mostra a liberdade em pensamento
O verso que se faz em parceria
Por mais que velha dor já se procria
Uma esperança dita algum alento
E nele se disfarça o sofrimento
E tendo em minhas mãos o que eu queria
Embalde se transtorna a fantasia
E um novo amanhecer ainda invento.
Vestido de bufão ou de palhaço
O meu caminho em vão ainda traço
Mudando vez em quando de cenário
O tempo sendo às vezes aliado
Quando revolvo as cinzas do passado
Encontro nele apenas o adversário.

24579

Beijando a tua boca, o manso vento
Roçando os teus cabelos, maga luz,
E dela toda a força se deduz
Dizendo na borrasca, deste alento;

Sem ter amor, deveras me arrebento
E morro tão pesada é minha cruz,
Vagando sem sentido, já me opus
Ao tanto que em tão pouco, diz tormento
Sereno-me no fato de saber
Que em ti além do amor, bebo o prazer
Imenso de ser teu enquanto és minha,
E o gozo insuperável se aproxima
Transmuda, amenizando assim o clima
Enquanto a plenitude se avizinha.

24578

Tua nudez deitada em glórias feita
Transborda sensual e rara luz,
E ao fogaréu do gozo me conduz
Enquanto a fantasia se deleita,
Assim a minha sorte sendo aceita
Esqueço do passado, dura cruz
E vejo num delírio, corpos nus
O amor que por si só é crença e seita.

Receitas para ter felicidade
Deixando que este fogo em ti se agrade
Matando o que degrade este queixume,

No quão maravilhoso se perfume
A vida sem terror, temor ou grade,
Trazendo a cada dia, um raro lume.

24577

Dois corpos que procuram por prazer
Deveras dividir: multiplicar
E tendo esta delícia em grã luar
A fúria delicada a se prever
E passo neste tanto então a crer
Na força que irradia quem amar
E dela se moldando este lugar
Altar feito na glória do querer.
Astuciosamente a vida trama
Além do que se fora simples cama,
A divindade expressa num desejo,
Aonde a eternidade é bem explícita
E toda forma agora sendo lícita
Traduz na madrugada o que desejo.

24576

Na noite em fantasia tendo a sorte
De ter aqui comigo quem desejo
Bem mais do que deveras um lampejo
Amor trazendo o quanto nos comporte
E sendo nosso guia, traz no norte
O quanto necessário inda almejo
E mesmo em noite escura me azulejo
E bebo esta alegria que conforte
E possa permitir que se desvende
Um mundo bem melhor; assim acende
Em fria madrugada este farol
Guiando o navegante em trevas tantas
E quanto mais audaz, tu mais me encantas
Promessa de outro dia, imenso sol.

24575

Vivendo esta alegria de querer
E ter possivelmente o amor sincero
Dizendo na verdade o que inda espero
E tenho obrigação de nisto crer.
Vencendo os meus temores posso ver
Além do que deveras degenero
Mudando a minha história, gozo eu gero
E dele reproduzo este poder
Que possa conduzir à mansidão
Meus olhos outros lumes viverão
E quando em paz notar o que se passa,
Uma alma sem disfarces nem promessa
A cada novo dia recomeça
Matando este bolor, ardume e traça.

24574

Colhendo em tua boca carmesim
Divina e tão perfeita sobremesa.
Sentindo este rubor, a framboesa
Plantada há muito tempo em meu jardim,
E sei que finalmente vejo em mim
O brilho que traduza esta leveza
Da qual e pela qual com tal destreza
A vida se apascenta, até que enfim.
Depois dos maremotos, loucos sismos,
Os dias em terríveis pessimismos
Deixando no ostracismo uma esperança
A voz se torna agora bem mais meiga
Por mais que uma ilusão se mostre leiga
O passo rumo à glória e à paz avança.