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Saturday, September 2, 2006

Acácias - Soneto com Estrambote

Me recordo, criança temerária;
Acácias no jardim da minha casa...
A dor dessa saudade; vem, arrasa
Quem fora, um dia, vida libertária.

A saudade voando, procelária,
Me traz a sensação cruel da brasa;
O trem da juventude, já s’atrasa,
Deixando tão somente essa cor vária.

Nas flores tão singelas dessa acácia,
Seus cachos amarelos, na fáscia
Dos sentimentos, cortam, fundo talho...

Quem soube de meus dias, já se vai.
A tarde d’existência, triste, cai...
Sobrando do meu mundo, um só retalho...

Saudades das acácias que perdi,
Quando era tão feliz, por ser criança,
As acácias não saem da lembrança;
São marcas desse tempo que vivi!

Almas Feridas

Procuro a alma das árvores, floresta;
Encontro tão somente esse lamento.
Quisera perceber um só momento,
Do duvidoso tempo que me resta...

Sentidos tão banais, a vida atesta
Que nunca mais terei um só tormento,
Nas falsas esperanças em que tento,
Viver das alegrias, finjo festa...

Nas almas dessas matas, sou machado;
Podando o que puder ter encontrado.
Na seiva que seringo, sangra a vida.

Viver? Quem dera! Sigo sem sentido,
Meu mundo vai girando, estou perdido,
Minha alma qual das árvores, ferida...

Tempo Perdido

Eu vi teu nome exposto na manchete.
Procurei encontrar um resto teu,
Um resquício qualquer, tudo morreu!
Muitas vezes, pensei, onde anda Bete?

Nas ruas, caminhando, téte e téte,
Com quem, eu sei, jamais te conheceu,
Buscava em cada rosto; um resto teu...
Agora, simplesmente, isso repete

A mesma sensação: total vazio!
Novas manchetes tolo, prenuncio;
No obituário, vais estar.

Quem fora a sensação de viva luz,
Num nada, simples nada, se reduz.
Tanto tempo perdido, a procurar!

A Música da Saudade

Ouvindo a velha música que fiz,
Homenagem vadia a quem não ama;
Esqueci que vivi sem tua chama,
Mas, falando a verdade, fui feliz.

E brincaste também, assim o quis;
Cúmplices eu sei, fomos dessa trama
Rolávamos, incautos, mesma grama,
Mas, quem dera, pudesse tentar bis.

Bisonhos tais desejos, mas sinceros.
Ouvindo a melodia dessa valsas,
Sentimentos tão falsos, soam veros...

Fustigando, por certo, tal remendo
Que usei, pra disfarçar, nas minhas calças
Dos meus medos. Sofrer, me protegendo...

Varais da Saudade

Nos varais da saudade, quarei Rita.
Pendurei no cabide, minhas dores.
Na tábua de passar, os meus amores;
No concreto da vida, foste brita...

Nas mentiras do tempo, vento agita;
Vem trazendo essas cinzas, seu odores,
Desmatando o jardim, deixei as flores;
Garimpeiro da sorte, nem pepita...

Desfraldando a bandeira do meu sonho,
Procurando a rasteira que tomei;
Esfolando o joelho, me envergonho.

Metade da metade da certeza,
Não cabe nesse mundo onde fui rei.
Meu amor, eu fiz voto de pobreza...

O que tenho com isso?

Nessas horas vagantes, sou procela,
Num sentido senil que tanto arvora...
Nessa fila de banco, uma demora
No final dessa rua, Rua Bela.

Quando fiz papagaio, da janela
Lateral do meu quarto, quis a flora...
Mas nessas tentativas, perco a hora
Da consulta marcada por Gisela.

Fingi que não queria beber cloro,
Tomar um formicida, dar risada.
Nesses vários papéis que mal decoro,

Existe verdadeiro compromisso:
O de nunca ser tudo ao menos nada...
O que tenho, pergunto então, com isso?

Nunca mais

Nunca mais poderei dizer ao vento,
Deste sonho deixado num verão;
Minha velha quimera, solidão,
Nunca me permitiu esquecimento...

Tantas vezes deixei meu sentimento
Coberto pelas luas do sertão;
Descobrindo o sentido do perdão,
Acaricio feras, sem ungüento!

Meus dentes que sangravam, já caídos,
Meu tempo que julguei ser aliado,
Deixaram os meus nervos contraídos.

Percebi, no final dessa jornada,
Que nunca medi, cada passo dado.
Minha vida, no fundo, não foi nada!

Resquícios

Quando esperei saudade encontrei riso.
Quando procurei vida, achei distância...
Quando quis a vontade, eis inconstância!
Nas vezes em que louco; fui preciso...

Quando só busquei guerra, paraíso...
Se quis maturidade, tive infância.
Nesse mar que sonhei, só sei estância...
Quanto mais me escondia; mais aviso.

A saudade brincando foi criança,
Na mortalha infinita do teu canto.
Quem sempre procurava, não avança.

Nos meus sonhos serranos, precipícios;
No que quis ser vadio, resta o pranto;
De teu amor, nada resta, nem resquícios!

Friday, September 1, 2006

Velhice

Juventude perdida como dói,
Maltrata cada dia, sem ter pena,
A distância cruel, de longe acena.
A memória sedenta, se corrói...

Fui feliz não sabia, se destrói
O pensamento busca a velha cena,
Procuro te encontrar, mas a safena
Implantada no peito, como sói

Acontecer, remete ao velho enfarte,
Medo sutil da morte, m’apavora...
Tentando ser feliz, vou até Marte;

Mas quem me espera, cínico catarro,
Que por mais que eu fugisse disso agora;
A velhice emergente tira um sarro...

Fui andando para o norte

Fui andando para o norte
Procurando o meu caminho,
Dei azar, nunca dei sorte,
Por isso estou tão sozinho,
Nas curvas do bem querer,
Eu me perdi de você...

Não quero saber mais nada,
Tenho minhas mãos cansadas,
Mulher, quanto mais amada,
Mais duras, as nossas estradas...
Quero saber de seu colo,
Lhe deitar, mansa, no solo...

Tenho calos nos meus pés,
De tanto que caminhei,
Fui em frente, de viés,
Meu caminho eu já errei...
Mas não passo de idiota,
Perdendo meu rumo e rota...

Vi nas travas do destino,
O olhar dessa quimera,
Meu amor é de menino,
Mas ela é uma pantera.
Tenho sede, um copo dágua...
Para aplacar minha mágoa.

Sei que não teria cento,
Por isso quis a dezena,
Meu amor o seu assento,
Com jeitinho, me envenena.
Quis ter beijo da mulata,
Seu ciúme me maltrata...

Nas bugigangas da vida,
Encontrei o seu retrato,
Minha dor na despedida,
Coração pagando o pato...
Vem pra casa meu amor...
Faz frio quero calor.

Batendo o queixo de frio,
Procurei por meu amor,
Coração bate vazio,
Esperando o cobertor...
Vem pra cá minha menina,
Coração bate em surdina...

No gole desse conhaque,
Vou acabar meu enredo,
Meu amor não é de araque
Sem você, vivo com medo...
Medo de ter solidão,
Sem você não vivo não...

Meu sapato já furou,
Minha calça está rasgada.
Seu amor foi que ficou,
Sem você não tenho nada,
Vi a curva desse vento,
No meio d’esquecimento...

Fui pescar lá no riacho,
Uma sereia peguei,
Bananeira já deu cacho,
Todo menino é um rei...
Quis saber de sua boca,
Acabou, dormi de touca...

Usei isca de primeira,
Pra pegar peixe mulher,
Mas caí, tomei rasteira,
Agora, ninguém me quer...
Não sei mais falar bonito,
Tanto sofro quanto grito...

Joguei rede pra pescar,
Agarrou no meio fio,
Quando a noite é de luar,
Coração bate de frio...
Nas curvas dessa saudade,
Eu só encontrei maldade...

Vou buscar um curativo,
Pra curar minha ferida,
Amorzinho, fica ativo,
Seu amor nem Deus duvida,
Amor bicho interesseiro,
Procura outro travesseiro...

Fiz a cama no terraço,
Esperando pela lua,
Meu amor me deu cansaço,
Minha luta continua...
Procurando por Maria,
Encontrei quem não queria...

Vendo espaço lá no céu,
Quem quiser pode comprar,
Deixa levantar o véu,
Espera o que vou mostrar...
De carroça capotei,
Duas pernas eu quebrei...

Procurei a minha chave,
Não achei nem fechadura,
Ciúme é como um entrave,
Tem gente que não atura...
Quero o gosto da maçã,
O perfume d’hortelã...

Minhas dores são do parto,
Meus amores são de fé,
Vou lhe propor mais um trato
Acho que esse vai dar pé,
Você canta seu bolero,
Eu imito o quero quero...

Quis um beijo me negou
Quis carinho, não me deu,
Andando por onde vou,
Não vai nem ela nem eu...
Meu amor me disse não,
Acabou todo meu chão...

Vou terminar essa joça,
Não tenho mais paciência,
Vou me deitar na palhoça,
O resto é coincidência...
Fiz um verso pra você,
Mas você não quis nem ler...

Nas guimbas dos cigarros que fumei

Nas guimbas dos cigarros que fumei,
A marca do batom que lá deixaste,
É parte do que temo, no contraste
Do que sou e pensava, mas errei...

Teus lábios tão vermelhos que provei,
São como a fantasia que queimaste,
Deixando tão somente, um simples traste.
No lugar de quem ousa ser teu rei...

Vieste, no calor dessa batalha,
Onde fomos unidos nada existe...
A boca transportando essa navalha

Decepa o que já tive d’ilusão...
Teimoso, meu amor então resiste,
Enquanto me restar um coração!

Pantera

Bicho preguiça, quero só teu colo,
Deitado no remanso, curva do rio...
Conhecer teu amor, de pólo a pólo...
Deixar meu coração bater vadio...

Quando estirada estás, no mesmo solo,
Vagabundo procuro, quero o fio
Que me possa prender, dentes amolo
Pronto para morder, quero teu cio...

A pantera cruel, de firmes garras,
Cravando no meu peito, as suas presas.
Nas suas serenatas, as guitarras

Deliciosamente dissonantes,
Refletem teu gemido. Vão acesas
As luzes que refletes, ofuscantes...

Pedágio

Quando pensas fingir, sei do teu jogo...
Disfarças não enganas quem conhece
Teus beijos, alegria duma prece.
Quando finjo temer, peço, num rogo

Que perdoes meus erros, queima o fogo
Ardendo meus sentidos, ator cresce
Nos engodos, mentiras, como houvesse,
Realmente tristezas. Como o sorgo

Cultivo tais mentira, que me dizes.
Nos meus portos, procuro por veleiros,
Mas, insana, por vezes, contradizes

O que sempre parece meu naufrágio,
Mas, no fundo, jamais são verdadeiros.
Mas compensa pagar esse pedágio...

Nudez

Eu vou me expondo assim, num só soneto,
Deixando sangrar cada poro meu;
Mostrando minha face, quis ateu
Mas nada sei, nem sonhos mais prometo.

Voltando ao meu passado, me remeto
Ao princípio da noite, mas morreu
O que foram as trevas, sinto o breu
Tomando cada crime que cometo...

Asmático sentido, me sufoca...
Acendo incensos, alma fica quieta,
Procura renascer da própria toca...

Mas quem sabe meu pálido caminho,
Que se disfarça, a mesa vai completa,
Posta sobre toalhas, branco linho...

Minha vida passando num segundo...

Minha vida passando num segundo,
Traz na tela cinema e fantasia.
Quem me dera morrer por mais um dia,
E ressurgir, nos braços do teu mundo...

Meu coração vagando, vagabundo...
Um cais de porto, tempo, ventania.
Quero poder sangrar, na nossa orgia.
De tantos sentimentos, vou, me inundo...

Minha vida, recebo teu bafejo;
Desde que sei, fugaz enquanto tempo...
Nas alfazemas, lírios, percevejo...

No resto da cantiga não sei mimo.
No resto do meu tempo, contratempo,
Com certeza, quem amo, sempre rimo...

Você aqui comigo..

Você aqui comigo, trouxe vida.
Guardei aquele beijo no meu mar...
Me diga agora então, onde encontrar
O beijo que foi dado, despedida...

Sem você, vou morrendo na partida,
Que farei, meu amor, não sei nadar;
Se soubesse então, como irei roubar?
Netuno, com certeza não vai dar

A pérola mais cara que ele viu,
O beijo mais suave da sereia,
Perto do seu é vulgo, quase vil...

Tanto tormento, dores são marinas...
Depois de tanto sonho, nessa areia,
Morrer, nas mãos amadas, assassinas!

Meu Senhor

Meu Senhor, me perdoe se não posso
Ter minhas mãos tão limpas quanto quero.
Perdi meu tempo, busco amor sincero,
Muitas vezes, percebo, quase roço,

Outras tantas, procuro pelo Vosso
Amor, mas não prossigo. Sei tão fero
Quem me propôs viver, quem dera, vero
Sentimento que, nunca mais endosso...

Nos meus caminhos, tortos e sem nexo,
Busco as mudas gentis dos sentimentos.
Tantas noites, amor dizia sexo...

Agora mais cansado, nada busco.
Eu nem sei de torturas, nem lamentos...
Só sei que na luz, teimo ser tão fusco...

Tua beleza, crime sem castigo

Tua beleza, crime sem castigo,
Me fascina qual fora meu pecado;
Quero viver somente um doce fado,
Poder estar pra sempre, no perigo

Que representa amar, viver contigo;
Cada momento assim, desesperado,
Esperando poder ter encontrado,
Enfim, para essas dores, meu abrigo...

Mas, tantas vezes, foges, sem por que...
Na tua fuga, busco por meus olhos;
Em vão, pois os carregas, tento ver

Mas não enxergarei nem mais um brilho,
A vida aproximando-se, seus molhos
Carrega pelos campos onde trilho...

Quando nada mais disso me restar

Quando nada mais disso me restar,
Seguindo no deserto dos sentidos;
Não sobrar nem sequer os meus olvidos.
Quero poder morrer em denso mar,

Na certeza cruel de não vagar,
Nem por onde andaria, nos relidos
Momentos infelizes, são perdidos
Meus olhos, procurando seu olhar.

O meu caminho, a esmo, sem futuro,
Busco na manhã, cega, sem você.
Não lhe encontro, senão no triste muro

Da solidão, guardado nos meus medos,
Como poderei, livro que se lê,
Simplesmente vazio, sem segredos...

Não quero mais conter tal tempestade

Não quero mais conter tal tempestade.
Recebendo das flores seu perfume...
Vou perseguindo estrelas, vaga-lume,
Quem sabe então, terei felicidade...

Fechando tantos bares, na cidade,
Bebendo muito além que de costume,
Sussurro tão somente esse queixume.
Busquei em meio a sonhos, qualidade...

Não encontrei talvez, nenhum resquício,
D’outra coisa qualquer, senão meu vício.
A cabeça rodando, traz respostas...

Minha vida passando, as mãos impostas
Vou sentindo essas garras, minhas costas
Marcadas pelas garras, precipício...

Sou cornudo mas sou feliz...

Quero a vida bem de manso,
Nunca quero me estressar.
Na cadeira de balanço,
Vivo de papo pro ar .
Quando chove mato a sede,
Deitado na minha rede...

Pingo d’água na goteira,
Não deixou meu bem dormir,
De segunda a sexta feira,
Meu amor, estou aqui.
No sábado e no domingo,
Desse amor quero respingo.

Coisa chata é trabalhar ,
Já dizia meu avô;
Andando de lá pra cá,
Faço o que meu vô falou;
Trabalho cansa demais,
No trabalho perco a paz...

Aprendi somente rima,
Eu nem sei tocar viola.
Minha vida vale a prima,
Mesmo fugido da escola,
Aprendi fazer meu verso,
Olhando para o universo...

Já viu que coisa bonita,
É a flor na primavera.
Bela moça, laço, fita,
Fosse minha, quem me dera...
Mas quê que eu posso fazer?
Só tenho amor pra viver...

Chove chuva pequenina,
Vem molhar o meu chapéu,
A chuva trouxe a menina,
O castigo vem do céu...
Gostei tanto dessa moça,
De chorar, fiz uma poça...

A porta do tempo bate,
Vento batendo na porta.
Amor azul e escarlate,
Teu amor é que me importa...
Arco íris cobre tudo,
Sem teu amor, fico mudo...

Mas não posso ter segredo,
Nem posso falar a verdade.
Tal amor foi meu enredo,
Resultou felicidade.
Quero saber de teu beijo,
Onde está nosso desejo?

Eleição tem nesse ano,
Eu já tenho candidato.
Na terra do desengano,
Eu não vou pagar o pato.
Você governa meu peito,
O seu amor tá eleito...

Vinha na curva do rio,
Quando na margem avistei,
Chamei para o desafio,
Na sua terra fui rei.
A vida andando tão boa,
Nos braços dessa coroa...

Na montanha dos prazeres,
Meu amor encontro fé,
Na placa tem os dizeres,
Minha casa é de sapé.
Tem a moeda dois lados,
Nossos casos separados...

Vim de tarde sem magia,
Procurei por Madalena,
Encontrei só a Maria,
Sem amores, sem ter pena...
Veneno de jararaca,
Se for ela, a vida empaca...

Fui levar o meu amor,
No cinema, prá ver fita.
Nem bem ela lá chegou,
Quis tomar uma birita.
Moça pinguça de fato,
O filme acabou no mato...

Depois dessa choradeira,
De neném no meu ouvido.
Acabou-se a brincadeira,
A vida perdeu sentido,
Todo dia bem cedinho,
Me levanto sem carinho...

A coisa tá diferente,
Já não tenho mais sossego,
Todo dia no batente,
Tenho que estar lá n’emprego...
Patrão é coisa do demo,
Levando o barco com remo...

Cineminha sem vergonha,
Acabou com minha paz.
‘Tô parecendo um pamonha,
Ninguém me conhece mais...
De tarde já ‘tô cansado,
Levando vida de gado...

A cachaça é que tem sido,
Minha leal companheira.
Só ela me dá ouvido,
O resto todo é besteira.
Bebo sim, e bebo tudo,
Nada falo, fico mudo...

A danada da mulher,
Fica em casa o dia todo.
Faz tudo o que bem quer,
Não anda, criando lodo...
Me restou só essa pinga,
Mas um dia, a gente vinga...

Me mandaram um recado,
Pro trabalho seu doutor.
Tinha um cabra bem safado,
Debaixo do cobertor.
Agora virei chifrudo.
É bom que acabo com tudo...

Tão os dois aqui do lado,
Veja que coisa bonita.
Ela nua ele pelado,
Olha a cara da maldita.
Eu é que fiquei feliz,
Tome essa meretriz...

Seu delegado desculpe,
Não quero mais complicar.
Por favor não mais me culpe,
Nunca mais vou trabalhar...
Eu já pedi demissão,
Libertei meu coração!

Sextilhas Seu moço me licença

Seu moço me dê licença,
Vou contar para você,
A vida traz recompensa,
Já não quero mais morrer,
Quero o gosto da partida,
Tudo de bom nessa vida;

Não deixa nem um sinal,
No ranço dessa saudade,
Corro meu canavial,
Vou voltar para a cidade,
Nas ondas do rio mar,
Sem ter hora pra voltar...

Quero o desejo da moça,
Na boca que tanto quis,
Não me interessa essa poça,
Eu só quero ser feliz...
Tenho duas mãos cansadas,
Nas carícias, bem treinadas...

Tenho os pés para pular,
Nas mantiqueiras da vida,
Nem preciso mais voar,
Trago dor já bem curtida,
No couro que Deus me deu,
Quem sabe de mim, sou eu...

Quis ver a banda passar,
Cantando coisa d’amor,
Meu amor deixei por lá,
Chora um peito sofredor,
Pelas bandas do sertão,
Eu deixei meu coração...

Nosso amor que eu não esqueço,
E também teve valia,
Tanta dor que não mereço,
Dói de noite, dói de dia.
Mas agora vou de lado,
Esqueci do teu recado...

Tudo em volta era tristeza,
Eu deixei tudo pra trás,
Agora busquei beleza,
Agora eu só quero paz...
Já não quero mais a morte,
Encontrei saúde e sorte...

Nos braços dessa morena,
Foi a minha solução,
Amor demais me dá pena,
Bate firme coração...
No canto da sabiá,
Meu coração bate lá...

Fiz um verso pra Maria,
Joana quem quis ouvir,
Meu amor, bem que queria,
Meu amor eu bem te vi...
Mas não quero mais mentira,
Nem amarras nem embira...

Caprichoso e nordestino,
Fui seguindo meu caminho,
No meu mundo, meu destino,
Antes só que ser sozinho,
Tenho o canto do tié,
Eu canto, canta você...

Já podeis da terra, filho...
Lembrar dessa cigana,
Da vida sei estribilho,
Ela nunca mais me engana...
Sorte cigana cruel,
Muito amargo, traz o mel...

Eu plantei o meu roçado,
Deu formiga comeu tudo,
Nem fiquei preocupado,
Entrou calado sai mudo...
Formiga tanto que deu,
No seu roçado sou eu...

Meu amor troce de Minas,
Ouro em pó e muita rês,
Nas pernas dessas meninas
Enrosco tudo de vez,
Queria ter meu balanço,
Colado contigo, danço...

Faz frio quero teu colo,
Vem comigo se aninhar,
Eu vou te deitar no solo,
Tanto amor pra se amar...
Não reclame dessa sina,
Relaxe minha menina...

Quis um beijo não me deu,
Um abraço me negou,
Meu amor, então morreu,
Nem quer saber mais quem sou...
Chorei, um choro fingido,
É melhor que eu ter morrido...

A lua é de São Jorge,
O cavalo e o dragão;
A saudade em meu alforje,
Vai pesando o coração...
De banda, então eu caminho,
Já não ando mais sozinho...

Quis ter medo nada tive,
Meu segredo sei de cor,
Tanta dor que me contive,
Não quero viver mais só,
Preciso de companhia,
Seja de noite ou de dia...

Vagabundo coração,
Bate tanto sem ter senso;
Meu amor peço perdão,
Noutra coisa já não penso...
Quero a vida divertida,
Nos teus braços quero a vida...

Meu carro perdeu a roda,
Ao subir nessa alameda,
Vou cantando minha moda,
Queimando na labareda...
Faz assim um só carinho,
Coração apressadinho...

Meu amor, quando se gosta,
Não sei rezar outra prece;
Até mesmo um vira bosta,
Cantando nunca se esquece...
Quero teu carinho amada,
Toda noite e madrugada...

Meu amor tem um cadinho
De tudo que posso ter,
Machucando, vagarinho,
Matando sem perceber...
Amor trouxe novidade.
Agora? Maternidade!

Na fumaça do cigarro,
Amor fez as espirais;
No ronco desse meu carro,
Não te esquecerei jamais...
És a rosa na janela,
Tens o lume dessa vela...

Mas um amor pirilampo,
Não merece essa atenção;
É forte como relampo,
Mas num firma o brilho não...
Acendendo e apagando,
Meu coração vai matando...

Amor tem que ter saudade,
Já dizia esse poeta;
Um grande amor, na verdade,
Que é nossa principal meta,
Tem que deixar ess’azedo,
Certeza cheirando a medo...

Terminando meu cantar,
Eu falarei com clareza;
Não dá nem pra comparar,
É no mundo a realeza...
Bem maior, digo a verdade,
Que todo amor, a amizade!

Nos meus antros sentido vai confuso

Nos meus antros sentido vai confuso,
Não sei das diferenças nem dos fatos,
Eu quero converter os meus recatos,
Na sensação d’amor farto e profuso...

Quem sabe poderei, viver incluso,
Meu mundo tão recluso rompa o trato,
Nessas covas cavadas, sou um rato,
Não conheço sequer, nem roca e fuso...

As minhas soluções são mais problemas,
Não consigo sentir quais os dilemas
Que podem vir, sanar as minhas lendas...

Coberto no deserto, não sei tendas,
A vida nunca soube das agendas
Perdidas nesse espaço, sem algemas...

Vindo lá, do sertão, da minha terra

Vindo lá, do sertão, da minha terra;
Onde cantam segredos, passarinhos...
Lá, onde sol e lua fazem ninhos,
Onde o cio brotando, vem e berra.

Nos gemidos sutis, a noite cerra
Os olhos e permite mil carinhos,
Dos grilos e corujas nos alinhos
Noturnos, nova vida, velha a serra...

Trazendo minha rústica esperança,
Lavada a cada sonho de criança.
Renovando segredos de minh’alma...

Talvez seja por isso, tanta calma;
Natureza conheço, como a palma
Da mão que acaricia, mas avança!

Lavo os olhos na saudade

Lavo os olhos na saudade,
Meu caminho segue o mar
No mote que eu encontrar,
Minha sorte de verdade
É saber da claridade,
É não poder mais ver morte,
Nem cruzar o pólo norte,
Nem sanar essa ferida,
Nem cuidar da despedida.
Nem reclamar dessa sorte...

Minha lida foi marcada,
Pela curva desse vento,
Meu maior, grande provento;
É não saber mais de nada,
Não ser boi nem ser manada,
Nem usar cabeça baixa,
Tanto amor, a gente acha,
Na serra dessa esperança,
Que maltrata essa criança
Cuja morte não se encaixa...

Quero sentir teu perfume,
Acalentar o teu pranto,
Esconder-te em meu recanto,
Não quero mais teu queixume
Não cabe mais teu ciúme...
Quero te dar, namorada,
A minha mão cansada,
Para poder descansar,
A vida inteira, te amar,
Sem ter mais medo de nada...

E quando, enfim, a saudade,
Bater forte sem descanso,
Pensa então nesse remanso;
No lago azul, claridade,
Que te amei, com tal verdade,
Que nunca, alguém amaria,
Te desejei todo dia,
A cada instante sem medo.
De Deus já sei o segredo,
Tanto bem que te queria...

Cordel - A minha sina - capítulo 8 - Na terra do cirandar...

Depois de ter conseguido,
Sair do tal Tororó,
Vazado, comendo pó,
De me sentir perseguido,
Tanto tempo lá perdido,
Nessa ciranda de roda,
Minha vida tendo poda,
Por causa desse diabo,
Tá tentando me dar cabo,
Não vou cantar essa moda!

E quase que ele me pega,
Usando da fantasia,
Que meu peito já queria,
Mas a verdade me nega,
Amor é coisa que cega...
Tenho que ter mais calma,
Pois senão perco minha’alma,
A coisa pode estourar,
Não quero mais complicar,
Nem enfiar minha palma...

Nesse mundo da ciranda,
Pensei sair bem depressa,
Mas a vida me confessa,
Que pra frente é que se anda
Senão a coisa desanda,
Não vai sobrar nem poeira,
Dançarei a vida inteira,
Sem ter como nem dizer,
Eu não quero assim morrer,
No meio dessa besteira...

Bem perto do Tororó,
Tem as terras do De Conta,
Onde tem gente que apronta,
Faz e nem sente mais dó,
Comendo um saco de pó,
A gente passa por lá,
Tem tanta gente que dá,
Vontade de ficar triste,
O meu peito não resiste,
Dessa gente muito má...

Um grito desafinado,
Bem agudo por sinal,
Foi todo meu grande mal,
Eu ouvir o tal miado,
Um bicho pobre felino,
Tava nesse desatino,
Amassado qual paçoca,
Corria de toca em toca,
E pedra em cima, zunino...

Foi pedra e foi paulada,
O bichano quase urrava,
De tanto que apanhava,
Mas não pensei mais em nada,
Também dei u’a cacetada,
Acertei bem de primeira,
Foi uma bruta sangreira,
O gato tá esfolado,
Dessa vez tá bem matado,
Mas vazou na capineira...

Dona Chica s’admirou
Do berro que o gato deu,
O danado não morreu,
E bem depressa escapou.
Pras terras pr’onde vou,
Vou guardar acontecido,
Dele não ter se morrido
Não vou mais m’esquecer,
Quase vi gato morrer,
Mas agora tá fugido...

Saí depressa dali,
Fui em busca d’outro canto,
Mas, logo ouvi novo pranto,
Escorrendo qual xixi,
Nessa mata me perdi,
Procurando quem chorava,
Uma bela moça estava,
Triste que dava pena,
Sua mão de longe acena,
Perguntei que se passava.

A moça então já me disse,
Que um moço cirandeiro,
Acendeu o candeeiro,
Depois fez muita bobice,
Que bem antes que s’ouvisse,
Deixou ela tão sozinha,
A moça era bonitinha,
Minha vontade coçou,
Logo se recuperou,
Pensei logo na Ritinha...

Ela falou da ciranda,
Da meia volta prá dar,
Onde fora cirandar,
Mas caiu meio de banda,
No mundo fez a quitanda,
Mas a vida foi mesquinha.
“O amor que ele me tinha,
Era pouco e se acabou”;
Me mostrou ali no lado,
Um anel todo quebrado,
Foi tudo que lhe restou...

Deixei a moça tristonha,
Não pude falar mais nada,
Passei para outra estrada,
Numa curva mais medonha,
Dessas que nem gente sonha;
Pesadelo sei de cor,
Uma dor foi bem maior,
Quando tive o desprazer,
De perto conhecer,
Uma sina bem pior...

Um moleque bem safado,
Filho do Seu Francisco,
Um pivete bem arisco,
Ria-se tanto o danado,
Um jeito desengonçado.
Quis saber logo o porquê,
Só pedi pra me dizer,
Ele me contou sorrindo,
Foi contando achando lindo
O que passo pra você:

“Pai Francisco entrou na roda,
Tocando seu violão”.
Não fazia nada não,
Mas tem gente que vem, poda,
Nem pode cantar mais moda,
Delegado não quis não,
“Pai Francisco foi pra prisão”.
“E como ele vem faceiro”,
Contava pro mundo inteiro,
O seu filho, sem perdão...

O pobre tão machucado,
Depois de tanto apanhar,
Não podia nem cantar;
“Vem todo requebrado,
Boneco desengonçado”.
Eta filho desumano,
O velho entrou pelo cano,
Tomou tanta da porrada,
Inda agüentar a gozada,
De beltrano e de sicrano!

Deixei depressa esse mato,
Fui buscando outra paragem,
Mas a tal da sacanagem,
Não respeita nem regato,
Como digo, assim, de fato.
Percebi, numa sacada,
A rosa despedaçada,
Que, por causa dum entravo,
Brigou com um velho cravo,
E saíram na pancada...

E logo ali, adiante,
Vinha moça bem tristonha,
Roupa amarrada na fronha,
Que por tristezas que cante,
Me mostrava estar diante,
Dum caso que me entristece,
A moça bonita padece,
Duma pobreza sem dó,
A vida fazendo nó,
A dor no meu peito cresce...

Me dizia não ter cobre,
Tanta coisa assim perdi
De marré, marré, dici;
Eu sou pobre, pobre, pobre...
Eu tentei um gesto nobre,
Mas reparei meu bornal,
Não dava nem pro mingau,
As migalhas que trazia,
Meu bem, fica proutro dia,
Quem sabe lá pro Natal?

Andando mais um pouquinho,
Passando naquele rio,
De noite um tremendo frio,
Reparei, bem de mansinho,
Um sapo dando pulinho...
Mas não era um pulo só,
Tanto pulo dava dó,
Tava todo jururu,
Era um sapo cururu,
Cum frio no fiofó!

No meio do sururu,
Uma coisa também vi,
Me deu vontade e eu ri,
Um tremendo brucutu,
Falando assim pro bitu:
“Vem aqui, bitu, vem cá”,
“Não vou lá, eu não vou lá”,
Respondia o bicho arisco,
“Você me quer de petisco,
Não quero mais apanhar”.

Saindo desse buraco,
Passei por rapaz chorão,
Chorava de borbotão,
Eu fui logo dar pitaco,
Me respondeu num só taco:
“Deus, o que será de mim,
Como vou viver assim.
O meu boi, tadim, morreu”...
Mas antes ele que eu:
“Vai buscar no Piauí!”

Depois de tanta mazela,
Encontrei uma saída,
Dei um tchau na despedida,
‘Tô ficando matusquela,
Escapei dessa esparrela,
Mas pra nunca me esquecer,
Do meu grande bem querer
Pra não perder a centelha,
Peguei a rosa vermelha,
Hei de amar até morrer!

Salmo 9

Senhor, eu te louvarei,
Com todo meu coração,
Suas maravilhas são,
As coisas que contarei,
Eu, em Ti, me alegrarei.
E saltarei de prazer,
Cantarei louvor, por crer,
Ao teu nome, Meu Senhor.
Meus inimigos, com dor,
Viste todos, perecer!

Meu direito tem sustento,
A minha causa, também,
Injustiças? Sei não tem,
No tribunal, seu assento;
Justiça é o teu provento!
O ímpio, tu destruíste;
Pois seu nome não resiste,
Para o sempre, eternamente.
Meu Senhor, perpetuamente,
Assentado, sempre existe!

As cidades arrasadas,
Teu Tribunal preparado,
Para julgares qual fardo,
Terão as vidas erradas,
Serão, enfim, alcançadas,
A justiça e a retidão.
Oprimidos, lá terão,
Um refúgio abençoado,
E para o angustiado,
Encontrará firme chão!

Os que teu nome conhecem,
Nunca estão desamparados,
Louvores serão cantados,
Dos aflitos que padecem,
Teus olhos nunca se esquecem!
Misericórdia Senhor!
Repare bem minha dor,
Causada por quem m’odeia,
Levanta então tua teia,
Para que eu cante louvor!

M’alegre essa salvação,
Os gentios, enterrados,
Nas covas de pés atados,
Pelo Senhor do Sião,
Ao inferno, eles irão!
Como, também, as nações,
Que, de Deus, e seus portões,
Fecharam a sua entrada.
A necessidade azada
Terá suas provisões...

O homem não prevalecerá.
Aos gentios, julgamento,
Que padeçam do tormento,
O Pai amedrontará,
Em todo temor que há!
Para que saibam, verdades,
Que essas nações e cidades,
São por homens nada mais,
Que julgam ser demais,
No fundo, são veleidades...

Thursday, August 31, 2006

Eu temo teus segredos, pois são meus...

Eu temo teus segredos, pois são meus...
Cada vez que fugia proutros braços,
Eu sempre me encontrava em teus abraços.
Comparsas, tantas vezes, meros breus!

Em todos os pecados, bem ateus,
Vivíamos correndo os olhos baços,
Cruzando esses limites sem cansaços,
E sem temer, ao menos, sequer Deus...


Não podes confessar, pois, a ninguém,
O que tanto tramamos, nossa história...
Fingimos comportar querermos bem.

Mas, em verdade, fomos essa escória.
Fazíamos da noite, uma refém.
Por isso, por favor, cegue a memória...

Velha Praga

O seu caminhar célere na sala;
Passando por qualquer novo orifício,
Demonstra o quanto audaz, no seu ofício.
Perturba totalmente, e sequer fala...

Não respeitando nada, sal ou bala,
Qualquer coisa servindo como vício;
Nas mais altas montanhas, precipício,
Vive qualquer lugar, mesmo na vala...

Com certeza não sabe ser amiga,
Companheira de todos, tão antiga.
No campo, na cidade vem, estraga,

Seu nome representa vera praga;
Roubando, produzindo velha chaga
Não posso suportar essa formiga...

Trovas - Medo trago na bagagem

Medo trago na bagagem,
Na barragem do segredo,
De enredo sei a coragem,
Na aragem do meu degredo...

Ostra traz na sua dor,
A riqueza delirante,
Tanto quanto meu amor,
Traz a dor a cada instante...

Nas cercanias da vida,
Encontrei a minha sorte;
Se não sei da despedida,
Como irei saber da morte?

Recebi tantas propostas
Para conhecer a lua.
Se não me deres resposta,
Minha vida será tua...

Meus velhos penduricalhos,
Carrego sem ter mais dó;
Dessas árvores, seus galhos,
Vão me deixando tão só...

Fiz meu ninho na mortalha,
Das dores fiz o meu mar.
Meu amor não me atrapalha,
Senão falha esse cantar...

Minha lábia foi pro brejo,
Meu olhar fugiu de ti;
Meu amor morreu no Tejo,
Desde o dia em que nasci...

Tenho cais, quero navio,
Tenho luta, quero guerra,
Tenho luz, quero pavio,
Quem tem seu amor não berra!

Vida traz tal saliência,
Que revela o bem querer;
Não vem me falar clemência,
O meu amor é você!

As teias vou ateando,
No campo das azaléias;
Nessas atas vou atando,
As asas dessas atéias...

A beleza que não salta,
Nem revolta quem não é;
A tristeza quando assalta,
Acaba com toda fé...

Na metade do caminho,
Cama dei para Luzia,
Ninho para meu benzinho,
O resto deixei pra Lia...

Mar trazendo maresia,
Vida trazendo vingança.
Desse pó a poesia,
Da minha espera, esperança...

Não temo trem nem tremor,
Nem quero vintém, tostão...
Nem amoras nem amor,
Violência e violão...

Num bolero, dançando com Teresa

Num bolero, dançando com Teresa,
Nossa noite transcorre macia,
As costas semi-nuas, melodia
Transformando, levito em tal beleza...

O perfume Gardênia, traz leveza,
A mão mais audaz, lúdica, vadia...
Quem me dera morresse nesse dia...
Minha alma espalharia natureza...

Nesse ritmo frenético da dança,
A noite sem sentirmos, mansa, avança...
Flutuando, seus passos são divinos,

Procuro me conter, meus desatinos;
Trago felicidade de meninos,
E ao beijar esses lábios, esperança!

Amor Rebaixado

A minha amada Maria,
Depois de muita conversa,
Todo dia me exigia,
Casamento assim depressa...

Por um motivo banal,
Não pude nem ofertar,
Sem dinheiro, o principal,
Como vou poder casar?

Maria me disse sentida,
Isso né motivo não,
As coisas boas da vida,
Moram no meu coração...

Pensando nessa verdade,
Olhei pra cima, pro céu,
Reparei na claridade,
Maria, bela com véu...

Ofereci pra beldade,
Um lugar para morar,
Falei, sem falsidade,
O que dava pra comprar...

Lhe disse: que tal Mercúrio,
Ela olhou bem diferente,
O lugar é bem espúrio,
Eta lugarzinho quente!

Sem dinheiro, o que é de menos,
Eu falei em procurar,
Um terreno lá em Vênus,
Nem me deixou completar...

Cheio de carinho e arte,
Belo tom avermelhado,
Eu fui falando de Marte,
Me disse não, é gelado...

Olhei um olhar soturno,
Minha voz, coloquei mel,
Como é lindo esse Saturno!
Nem Saturno, nem anel...

Falei, agora com medo,
Júpiter é maioral!
Foi me contando um segredo,
Muito grande, passo mal...

Pensei, mudando de plano,
Num terreno mais distante,
Fui pensando em Urano,
Me disse: passe adiante...

De nós dois virarmos uno,
Tanto sonho nessa vida,
Nem pude dizer Netuno,
Me falou em despedida...

Mas agora estou ferrado,
Não posso falar Plutão,
Tal qual como estou, rebaixado,
Não é planeta mais não!

Décimas - Saudade

Saudade – mulher amada,
Dos nossos beijos roubados,
Saudade dos tempos passados,
Na noite, na madrugada,
Da tua boca molhada,
Dos corpos entrelaçados,
Dos desejos mais molhados,
Desse tempo que não volta,
E, por não voltar, revolta,
Corações apaixonados...

Saudade da minha infância,
Onde vivi felicidade,
Trazendo tanta saudade,
A quem não teve constância,
Da sorte teve distância,
Mas foi feliz por um dia,
Vivendo da fantasia,
Que nunca mais voltará,
Saudades torrada e chá,
Que minha mãe me trazia...

Saudades da minha terra,
Que ficou no meu passado,
Olho o tempo, vou de lado,
O coração não encerra,
Pesando daquela serra,
Inclinado vai andando,
Tanto lugar se mostrando,
Nas curvas da existência,
Mas, saudade, diz clemência,
Num retrato, recordando...

Saudade da juventude,
Onde não tinha nem medo,
A força era meu segredo,
Onde sempre quis não pude,
Amar assim, amiúde,
Quem nunca mais queria,
Mas a vida era vadia;
Nem sonhava recompensa,
Vida leve, breve, densa,
Saudade faz melodia...

Saudades do grande amigo,
Que ficou lá no sertão,
Seguindo por outro chão,
Nunca mais terei comigo,
No conselho, paz, abrigo...
Na vontade de ser rei,
Tantas vezes que eu errei,
Tive o braço companheiro,
Hoje sei do mundo inteiro,
Mas saudade também sei...

Saudade do Botafogo,
De Garrincha e de Didi,
Do melhor time que vi,
Não tinha nem pena e rogo,
Brincando, ganhava jogo,
Nas pernas tortas e loucas,
Vozes delirando roucas,
No Maracanã da vida,
Pena que vai esquecida,
As lembranças são bem poucas...

De minha mãe a saudade,
Dói essa dor tão cruel,
Mãe na terra, mãe do céu,
Simbolizas claridade,
Se a vida traz falsidade,
A verdade em ti está,
Onde eu estiver, é lá,
Que teus olhos estarão,
Nesse imundo mundo cão,
És um porto mais seguro,
Se me escondo nesse escuro,
Representas o clarão...

Saudades desse meu filho,
Ceifado logo bem cedo,
Deixando meu grande medo,
Novo enredo que hoje eu trilho,
Sua dor, meu estribilho,
Entoando todo dia,
Martiriza a noite fria,
A saudade rasga o peito,
Pergunto qual meu direito!
Vou vivendo essa agonia...

Saudades dessa esperança,
De viver um mundo justo,
De respeitarem arbusto,
De respirar nova dança,
De teimar em ser criança,
De ter um mundo melhor,
Sem diferenças e guerras,
Nossa Terra, tantas terras,
Nosso sonho ser maior,
Justiça saber de cor...

Saudade trazendo um laço,
Prendendo o que for saudade,
Saindo da realidade,
A vida acolhendo meu passo,
Descansar esse cansaço,
Duns olhos de sertanejo,
Na campina, no desejo,
Do trabalho, lindo sonho,
Minha saudade, te ponho,
No canto dum realejo...

Saudade dessa mulher,
Saudade dessa criança,
Saudade dessa festança,
Saudade, jovem, me quer.
Saudade, jogo qualquer...
Saudade tão companheira
Saudade dor parideira,
Saudade doce Natal,
Saudade desse ideal,
Saudade da vida, inteira...

Cordel - A minha sina - capítulo 7- Nas Cirandas do Tororó

E depois da confusão,
E de ter quase morrido,
De ter saído fugido,
Com o coração na mão,
Desse bosque Solidão,
Fui correndo sem olhar,
Não podia nem parar,
E nem prestar mais socorro,
Desce morro, sobe morro,
Nem deu tempo pra pensar...

Fui procurando fugir,
Sem pensar nem um segundo,
Procurando um outro mundo,
Sem medo de prosseguir,
Vou seguindo por aí.
Reparei, dei atenção,
Inda tinha o coração
Da maldita junto a mim,
Pensei bem depressa sim
Me livrei da maldição...

Coração já descartado,
Como sempre vou tão só,
Sem querer tristeza e dó,
Eu vazei no capinado,
Sem olhar pra cima ou lado,
Fui seguindo meu rumo,
Aprumei, enfim o prumo,
Deixei léguas de distância,
Andando com mais constância,
Dessa vida quero o sumo...

Sumo da minha saudade,
Fé na vida e no futuro,
Não temo morte nem muro,
A vida na qualidade.
Amor bom de quantidade,
Que não dá pra nem ter pena,
Na certeza tudo acena,
Pelos campos e sertão,
Procurando esse estradão
Sem ter viagem amena..

Nos trombolhos dessa serra,
Capotado mais de fome,
Não tem tempo que se some,
Nem quem acerta mais erra,
Estradeira, tanta terra,
A vida não deixa só,
Posso até comer timbó,
Mas a sede é mais ingrata,
Se bobeia, vem e mata,
Procurei por Tororó...

Na sede que me encontrava,
Qualquer coisa me servia,
De cacimba ou de bacia,
A sede que me matava,
Nunca mais que se parava,
Pelo Tororó eu sei,
Naquela terra sem rei,
Muita fonte bem servida,
Salvaria a minha vida,
Mas nessa sina eu errei...

Pensando n’água gostosa,
Minha boca até tremia,
Minha vida, nesse dia,
Era coisa perigosa,
Nem dei dedo de prosa,
Fui em busca de beber,
Dando fim ao padecer,
Mas não encontrei a fonte,
Sequinha até nessa ponte,
Agora é que vou morrer!

Mas, parece não queria,
Que essa vez fosse a minha,
Uma bela moreninha,
Com um jeito de vadia,
Beata de sacristia,
Foi a minha salvação,
A sede matei então,
Nesses lábios tão molhados,
Reparei, olhei pros lados,
E segui minha missão...

No Tororó, eu deixei,
Essa gostosa morena,
Fiquei mais morto de pena,
Pelos matos, eu entrei,
Não tenho caminho eu sei,
Preciso seguir viagem,
Não posso fazer bobagem,
Senão estou mais ferrado,
Não sou cabra abobalhado,
Nem posso ver sacanagem...

O sono vinha chegando,
Um sono desavisado,
Me pegou despreparado,
Meu caminho vou andando,
Nem sequer vou reparando,
Nem nas curvas dessa estrada,
Não quero saber de nada,
Não me importa mais a hora,
Pois, se não dormir agora ,
Dormirei de madrugada...

Avistei nesse caminho,
Na ciranda, requebrando,
Esse pessoal dançando,
Coisa de muito carinho,
Mas, pensei, sou eu sozinho...
Não pude nem reparar,
Quando ali, eu vi chegar,
Com a boca tão bonita,
A minha querida Rita,
Que ficou lá no luar...

Essa bonita Ritinha,
Era moça bem prendada,
Numa noite desgraçada,
A lua por ser sozinha,
Roubou o brilho que tinha,
Os olhos dessa menina,
Deixando mais triste a sina,
De um cabra mais infeliz,
É por isso que se diz,
Que a lua é mais cristalina...

Mas nesse momento santo,
Minha vida teve um manto,
A beleza dessa Rita,
Coração vem e palpita,
Calando todo meu pranto,
No mundo do cirandar,
Procurando sem parar,
Sem temer estar sozinha,
A minha amada Ritinha,
Me escolheu como seu par...

Dançando sem paradeiro,
Minha vida ficou bela,
Não queria nem ter vela,
Nem queimar meu pardieiro,
Bastava do mundo inteiro,
Era ali que eu encontrava,
A vida que eu procurava,
Sem ter medo de viver,
Ali posso até morrer,
A morte não me cansava...

Mas, momento distraído,
Olhando pr’essa beleza,
Reparei pr’a ter certeza,
Pensando no já sofrido,
Nesse mundo dividido,
Entre meu Deus e o diabo,
Reparei que tinha rabo,
Naquela moça bonita,
Olhando os olhos da Rita,
Agora é que eu me acabo...

Os olhos avermelhados,
Me mostraram meu engano,
Duas orelhas d’abano,
Bigodes mal aparados,
E dois chifres disfarçados...
Na roda dessa ciranda,
Dei pinote fui de banda,
Correndo sem ter sossego,
Larguei a mão do pelego,
Senão o troço desanda.

Minha sorte foi tamanha,
Que peguei bem de surpresa,
Já contava com a presa,
Mas nem bem perde, nem ganha,
Nem de leve mais arranha,
A garra dess’ animal,
Quarei roupa no varal,
E sumi sem dar recado,
Das vistas do disgramado,
Montei cavalo de pau...

O capeta então sentiu,
Outra vez eu escapava,
Mas sossego não me dava,
A cor então me fugiu,
Meu cavalo, foi, saiu,
Voando pelo sertão,
Como fosse assombração,
Vazando pelo cerrado,
Eu nem olhei para o lado,
Varejei nesse estradão...

João Polino e a Caixa de Cedro

Aquela caixinha de madeira era uma das coisas mais importantes que João Polino tinha.
Uma das mais não, a mais importante. Guardada a sete chaves não mostrava para ninguém a não ser para a sua amada Rita, mesmo assim depois de que essa jurou por todos os santos que não iria nunca revelar a existência de tal tesouro.
Não era muito bonita nem apresentava detalhes e nem entalhes, era uma pequena caixa feita de cedro, de forma quadrada com mais ou menos um palmo de altura.
Dentro dela nada havia sendo, por assim dizer, uma caixa rústica e comum; mas raríssima, ao mesmo tempo.
Não pela qualidade ou pela beleza da caixa, nem pela caixa ao menos, o que transformava tal objeto em peça única será explicado a seguir:
Nos idos de 1940, João Polino se tornara caixeiro viajante como pudemos relatar anteriormente.
Nas suas andanças pelo interior de Minas e do Espírito Santo, conhecera um turco, conhecido como Salim, embora seu nome provavelmente fosse outro, que vendia roupas e tecidos para as mocinhas curiosas e elegantes desse interior afora.
Um dia, por uma dessas desventuras que atingem-nos de vez em quando, a vida se tornara extremamente difícil para Salim. Envolvido em dívidas impagáveis, precisava urgentemente de dinheiro. E isso não era fácil, pois estamos falando de uma região decente, mas pobre, muito pobre...
Ao saber que João estava economizando dinheiro para comprar uma casinha onde iria compartilhar o amor de sua vida; Salim resolveu chorar suas mágoas com o velho amigo e pedir algum dinheiro emprestado.
João, como tinha um coração extremamente suscetível e gostava, realmente, do amigo turco, não pestanejou e emprestou cinco contos de réis a Salim.
Essa quantia era extremamente vultosa para os parâmetros da época e do lugar. Uma verdadeira fortuna!
Passados quase dois anos do empréstimo, nada de Salim falar em pagamento e, pelas vestimentas usadas por ele e, principalmente depois da compra de um carrinho, usado é verdade, pelo caixeiro, João começou a ter vontade de cobrar a dívida.
Quando falou em pagamento, Salim desconversou e alegando novas dívidas se disse impossibilitado de pagar o que devia.
João, ao perceber que tinha sido passado para trás, esperneou e falou mais alto, prometendo que iria receber o dinheiro a qualquer preço.
Sabendo da fama de brigão e bom de sela do companheiro, Salim fez uma proposta:
Já que não tinha dinheiro iria pagar com a coisa mais importante que possuía na vida, herança de seus antepassados libaneses: uma caixa.
Mas não era uma caixa qualquer, era uma caixinha de cedro feita pelo maior carpinteiro de todos os tempos.
Ele, Ele mesmo, Jesus Cristo!
Ao saber disso, sem pensar duas vezes, nosso herói aceitou tal objeto sagrado e único como forma de pagamento do empréstimo.
E, todas as noites, rezava defronte àquela relíquia com toda a fé e devoção.
Passou-se o tempo, recomeçou a ajuntar dinheiro, casou-se, mobiliou a casa e teve os filhos, um após o outro até completar seis com o nascimento da caçulinha Ritinha e a adoção do sétimo, nosso amigo Gilberto, a imagem espelhar de João Polino.
Gilberto era muito curioso e não respeitava nada dentro da casa, ainda mais que, por ser mais novo que os netos mais velhos de João e Rita, tinha os privilégios que somente os netos têm.
Um dia, sem mais nem menos, Gilberto pegou a caixa, semi apodrecida pelo tempo e corre pela sala mostrando a todos a sua nova descoberta.
A caixa de madeira, orgulho de João Polino. Ao ver o menino com aquele objeto na mão, dona Rita gritou para que ele a desse antes que João chegasse pois, senão a coisa ia pegar.
Gilberto, assustado com o grito inesperado de dona Rita deixou a caixa cair. O estrago foi imediato, com uma enorme fratura na madeira, deixando uma rachadura de ponta a ponta no objeto sagrado.
Dona Rita entrou em desespero, o que iria dizer para o marido, como impedir que esse desse uma sova em Gilberto, o que iria fazer?
Até que, num momento de serenidade, Loza, sua cunhada, teve uma brilhante idéia.
Levar a caixa até um carpinteiro conhecido em Iúna, cidade próxima, que daria jeito em dois tempos.
Combinaram que levariam a caixa para ser consertada no dia seguinte.
Chegando à carpintaria do “Seu” Juca, tiveram uma decepção gigantesca quando esse disse que não adiantaria tentar consertar o que não tinha mais conserto, devido ao fato de que a madeira estava totalmente apodrecida e não agüentaria nem uma meia sola.
Dona Rita, então, num gesto desesperado, contou a história da aquisição do objeto por João sem omitir sequer os detalhes da origem e raridade do mesmo.
Ao que, Juca não pestanejou e respondeu rápido:
“Dona Rita, o carpinteiro que fez essa caixa pode ser até Jésus mas, jamais Jesus”.
“Repare aqui no canto inferior da caixa”.
Ao que, entre decepcionada e aliviada dona Rita leu : “Fabricado em Ubá MG”.

Wednesday, August 30, 2006

A cada tempo...

No tempo do meu sonhar,
Tempo que vai tão distante,
Procurando a todo instante,
Por tempo, espaço e lugar,
Acreditando passar,
A temporada da vida,
Numa luta divertida
No meio da tempestade,
Trazendo amor de verdade,
Sem ter lágrima sentida...

Tempo me traz essa brisa,
Onde o coqueiro balança.
Traz um guerreiro com lança;
A mão nesse mar que alisa,
O riso da Mona Lisa,
O medo de não prosseguir,
Meu tempo de tempo vir,
Nos contratempos sem medo,
A vida faz arremedo,
Do tempo que já perdi...

Não sei dessas temporadas,
Que a criança guardou,
No tempo que era d’amor,
Agora são massacradas,
Bandas da vida, guinadas,
Nas grinaldas me lancei,
Tanto tempo eu já passei,
Mas não me deixaste em paz,
Tanto tempo fui capaz,
De tentar o que não sei...

Versos trago sem tempo ter,
Tempo tenho pra sonhar,
Temporais para chegar,
Onde teimo me entreter,
Saberia sem saber.
Não vivo sem temporais,
Quero muito e tento mais,
Não sossego com tão pouco,
Tampouco gritando rouco,
Tempo, preciso demais...

Na curva da temporada,
Que passei lá nas Gerais,
Tempo templo até me traz,
O que julguei emperrada,
A sorte já vai danada,
A morte é mote sem fim,
Quero tempo para, enfim,
Firmar o meu pensamento,
Que transforma todo vento,
Tempo que pedi pra mim...

Meus cadernos tão antigos,
Me perco nas espirais,
Num jazigo, aonde jaz,
Os meus sonhos são castigos,
Tempo me aponta os perigos,
Curvando nesse meu lago,
Onde meu tempo eu afago,
Onde não tenho porque,
Quero já ver e vencer,
O meu tempo anda tão vago...

Teimoso sei não caço,
Rãs perdidas no brejo,
Amores lá d’Além Tejo,
Nas vilas perdi meu laço,
Vencendo enfim, meu cansaço,
Quero fazer o meu canto,
Trazendo com tempo encanto,
Nos vales quero profundos,
O melhor de tantos mundos,
Teve tempo pro meu pranto...

Um desejo trem gigante,
Que na vida tem tempero,
Fazer amor com esmero,
Pela vida radiante,
Estando só por instante,
Nos braços da minha amada,
Passando essa temporada,
Deixando o tempo prá trás,
Meu tempo de não ter paz,
Procurando nova estrada...

Tempo de ser mais feliz,
Tempo de ter esperança.
Tempo de ser tão criança.
Tempo que o tempo não diz,
Tempo de ser aprendiz...
Tempo de não ter mais medo,
Tempo de guardar segredo,
Tempo de se ter saudades,
Tempo de dizer verdades.
Tempo que faz meu enredo...

Nesse mundo fugaz, meu maior vício

Nesse mundo fugaz, meu maior vício,
As minhas mãos descem marginais,
Te buscando na veia, quero mais...
És o princípio, desde meu início...

Amor que não se julga, sei fictício,,
Aquele de promessa do jamais,
Aquele que enfim, tanto fez e faz...
Não deixando restar nem mesmo indício...

Viciado, portanto, sem ter cura,
A mão divina deixa a mata escura.
Eu tenho essa criança dentro em mim...

Porém sem aconchego do carmim
Dos lábios que beijei, num sem ter fim...
A tua ausência, amada, me tortura...

Trovas - Temperos

Eu só quero seu tempero,
Misturado na panela.
Meu amor é verdadeiro,
Tanto amor tenho por ela...

Tem a delícia do sal,
No tempero do churrasco.
Bolinho de bacalhau,
Por essa moça eu me lasco...

O sabor de cheiro verde,
Temperando essa morena;
Depois deitado na rede,
Da saudade tenho pena...

Um maço de cebolinha
Temperou o nosso amor,
Depois ela vem, s’aninha,
Esquentando meu calor...

Da salsinha que tempera,
Dá sabor para a comida;
Coração batendo fera,
Temperando nossa vida...

Alho com beijo na boca,
Não combinam na verdade,
Amor al dente, faz louca,
Aquela tranqüilidade...

A cebola no meu bife,
Dá um gosto especial,
Não me chame de patife,
Esqueça esse carnaval...

Noz moscada é o seguinte,
A comida fica boa,
Tem mulher pra mais de vinte,
Tem menina e tem coroa...

Pimenta deixa arretada,
Qualquer comida baiana,
Meu amor, de madrugada,
É gostoso, se sacana...

Erva doce dá tempero,
Na broa fica um encanto.
Amorzim, me dá um chêro,
Senão vai rolar meu pranto...

Mostarda na minha pizza,
Naquela de quatro queijos.
Meu amor vê se m’atiça
Na delícia dos teus beijos...

Catchup tem seu gosto,
Por demais adocicado;
Me deixa beijar teu rosto,
Deixando, fico empolgado...

Um limão cai bem no peixe,
Dá um sabor delicado;
Meu amor nunca me deixe,
O resto deixa de lado...

Se quiser, coentro, te trago;
Ajuda no temperar,
Quero a paz desse teu lago,
Aprender, nele, nadar...

Pimenta do reino traz,
Sabor a mais no salame;
Meu amor vou ser capaz,.
De tudo desde que m’ame...

Se tempero enfim, faltou,
Perdão te peço, querida.
Tanto amor que temperou,
Temperando minha vida...

Quando a minha montanha de desejos

Quando a minha montanha de desejos,
Num momento infeliz, desmoronou;
Nada, a não ser entulho, me sobrou.
Como fora gentil saber teus beijos!

Mas dessa sinfonia, poucos arpejos,
Nem isso mais resta, tudo acabou!
Depois que tudo acaba, quem sou?
Procuro, perguntando aos realejos...

Morenos, os teus olhos, vão sem rastro;
Pergunto por teu colo d’alabastro,
A resposta, nem vento, sabe dar...

Quem dera Deus, pudesse te encontrar,
Mas nem o pó d’estrada, nem o ar,
Meu mundo vai perdido, sem seu astro...

Joao Polino - O mar é azul

O mar é azul, e isso ninguém pode negar. Acontece que, em Santa Martha, distante do mar e próximo da montanha, essa realidade traz fantasias maravilhosas sobre o tamanho, a cor e o sabor salgado da imensidão marinha...
João Polino ,meninote ainda, resolveu ir sozinho ao Rio de Janeiro. Coisa quase impossível àquela época, nos anos trinta. Estradas de terra sem nenhuma pavimentação, teria que ir a cavalo até Alegre e depois pegar um ônibus que o levaria à cidade Maravilhosa.
Mas nada é impossível quando os sonhos são grandes e a força de vontade maior ainda, e esse era o caso do nosso herói.
Num dia de domingo, nos idos de março, montou o seu cavalo, prometendo trazer a água do mar, pelo menos um cantil, para a sua amada irmã e quase mãe Oracina...
Dias longos e difíceis nas costas de um cavalo cansado e envelhecido, um verdadeiro rocim quixotesco, iam os dois, o jovem cavaleiro e o velho animal descendo a serra do Caparaó.
Dinheiro? Quase não levava, o bastante para pagar as passagens de ônibus entre Alegre e o Rio de Janeiro. Coragem muita, dono dos fantásticos e irresponsáveis dezesseis anos de idade.
A noite trazia as suas armadilhas e era melhor dormir, deitado sob a luz da lua e ouvindo a sinfonia de grilos, sapos e corujas. Claridade, somente a dos pirilampos que povoavam os sonhos do nosso amigo.
Passa-se o primeiro dia, o segundo e no terceiro dia da aventura, o imprevisível aconteceu. O cavalo, cansado da viagem, deitou-se e não mais se levantou.
O que fazer? Como poderia seguir adiante?
Para sua sorte, estava próximo de Alegre, deixara Celina para trás e a serra agora estava acabando, numa descida cheia de curvas e desesperanças...
Voltar atrás seria a decisão de qualquer um mas, quem disse que João Polino era qualquer um?
Herói que se preza não pode temer intempéries nem dificuldades e, promessa feita era para ser cumprida.
Faltavam poucos quilômetros para chegar em Alegre e isso era o bastante.
Mas, o dinheiro que levava não daria para a volta, já que teria que comprar ou, pelo menos, alugar um outro corcel.
A decisão cruel, embora a única possível, se apresentou. Teria que comprar um cavalo em Alegre e reiniciar a viagem, de volta...
Mas, pensamento rápido como o de João era raro e, teve uma brilhante idéia.
Água azul, mar azul, água salgada e mar salgado...
Oracina não perdia por esperar!
Numa vendinha no centro de Alegre, João resolveu os seus problemas.
Comprou um tablete de anil e um quilo de sal.
A água poderia ser do rio Norte mesmo, o cantil esperava a água marinha...
Não deu outra, três dias depois, Oracina tinha em suas mãos a mais legítima água azul e salgada do mar nas suas mãos...

Cordel - A minha sina - capítulo 6 - O Bosque Solidão

Passando essa confusão,
Vendo que tava lascado,
Um caminho disgramado;
Minha triste maldição,
O danado capetão,
Num ia deixar barato,
Nem correndo para o mato,
Nem correndo pra diabo,
Minha vida vai ter cabo,
Na beira desse regato...

Fugindo e correndo tanto,
Não queria nem assunto,
Prá terra dos tal pé junto,
Eu num quero virar santo,
Nem quero encontrar encanto,
Mas num tem como escapar,
Se o troço se complicar,
Como vou fazer nem sei,
Nessa confusão, entrei,
Vamos ver no que vai dar...

A terra tem muita liça,
Tem fome de dar com pau,
Cantando o pinica pau,
A coisa toda se enguiça.
Muita gente tem postiça,
A dentada de morder,
Eu juro que quero crer,
Em meu padinho de fé,
Vou correndo vou a pé,
Só num quero, então, morrer...

Nos braços de Jericó,
Vou montado num jerico,
Não tenho outro pro bico,
Minha vida é lida só,
Amargando qual jiló,
Não tem muito jeito não,
Procurando solução,
Fui procurar descanso,
Nas bandas doutro remanso,
Mas descanso é ilusão...

Chegando na mata agreste,
Correndo da assombração,
Desse tal de capetão,
Encontrei cabra da peste,
Que nem centavo que reste,
Valia para pagar,
Mas quem houvera encontrar,
Numa hora delicada,
Qualquer que seja essa enxada,
O que quero é capinar...

Companheiro Virgulino,
Casado lá com Marina,
Deixando da minha sina,
Me disse do desatino;
Te vira com teu destino,
Nessa nem posso falar,
Quem mandou se complicar,
Eu te dei o ajuntório,
Mas agora, no cartório,
Marina quer se casar...

A bichinha tá buchuda,
Num posso deixar de lado,
Você que é muito tarado,
Vai ter que buscar ajuda,
Na terra do Deus m’acuda,
Que fica por outra banda,
Nos reisados de Luanda,
Onde a curva faz o vento,
Nos grotões do esquecimento,
Onde Judas tem quitanda...

Eu montei no jumentinho,
Das asas fiz seu arreio,
Me empaturrei de centeio,
No meio desse caminho,
É só seguir direitinho
Que no final dá em nada,
A vida traz enxurrada,
É só se deixar levar,
Aprendendo a navegar,
Em barro e terra molhada...

Fiz caminho de três luas,
De galope e de pinote,
Encontrei um molecote,
Que me disse então das suas,
Seguindo por essas ruas,
Ladrilhadas de brilhantes,
Com pegadas de gigantes,
Para o meu amor passar,
No bosque vai encontrar,
Um anjo de diamantes...

Seguindo pela alameda,
Passando pelo matão,
Um anjo de coração,
Queimando na labareda,
Me mandou pela vereda,
Ponteada de luar,
Chegando a comemorar,
Cada alma que passava,
Pertinho, eu acho, que tava
Daquele bendito lugar...

Era a minha salvação,
Encontrar Deus me acuda,
Pra sair dessa rabuda,
Não tem outro jeito não,
É deixar meu coração,
Seguindo nessa procura,
Vasculhando noite escura,
Procurando pela sorte,
Prá fugir da minha morte,
Criando essa criatura...

Depois do tal Solidão,
Como se chama esse bosque,
Para que nunca se enrosque,
Travando o coração,
Anjo é famoso ladrão,
Tive que cair n’estrada,
A noite enluarada,
Ajudava no caminho,
Tenho que ir bem sozinho,
Senão não vai dar em nada...

Nem cheguei a dar dois passos,
Uma coisa me parou,
Meu coração caducou,
Não quis sair dos compassos,
Naquele anjo os abraços,
O coração quis trocar,
Não queria me deixar,
Seguir a minha viagem,
Pensei logo na bobagem,
Eu não podia esperar...

Deitado naquela rua,
Nas pedrinhas tão cheirosas,
Pareciam ser de rosas,
Uma linda mulher nua,
Me dizendo: sou sua,
Não podia resistir,
Como é que iria partir,
A vida estava marcada,
Pois, naquela madrugada,
Eu não podia sair...

Meu compadre Virgulino,
Já tinha me alertado,
Preu tomar muito cuidado,
Com tal bosque cristalino,
Esse anjo, de desatino,
Tinha feito muito estrago,
Coração deixava vago
Nem deixava respirar,
Matando bem devagar,
Sangrava fazendo afago...

Eu caí da montaria,
Abracei essa mulher,
Seja o que Deus quiser,
Pelo menos por um dia,
Vou deixar a fantasia,
Dos meus sonhos me levar,
E depois vou viajar,
Sem nunca mais ter paragem,
É preciso ter coragem,
Vou, então, me encorajar...

Um perfume diferente,
Chegou de leve, na boca,
Não posso dormir de toca,
Mas não há quem mais agüente,
Envolvendo toda gente,
Nesse tamanho desejo,
Naquela boca dar beijo,
É sentir que está no céu,
E depois tirar o véu,
Nessa peleja eu pelejo...

Mas nem beijava direito,
E depressa já sentia,
Uma ventania fria,
Uma dor dentro do peito,
Reparando bem direito,
O que parecia um anjo,
Como da viola o banjo,
Ficou coisa diferente,
Meu peito deu na corrente,
Como então, que eu me arranjo?

Uma risada safada,
Bem conhecida por mim,
Com aquela voz chinfrim,
Uma voz bem debochada,
Soltou uma gargalhada;
Foi, então que eu reparei,
Desde a hora que cheguei,
O bosque da Solidão,
Só queria o coração,
Depressa então, eu saquei,

No bornal que tava ali,
O meu punhal de dois gumes,
Acostumado em costumes
De sangrar ali e aqui,
Nesse mesmo instante vi,
O peito da desgraçada,
Aberto, na buracada,
Que aprendi a fazer,
E lá dentro eu vi bater,
O coração da danada!

Meti a mão num segundo,
Arranquei numa mãozada,
Do peito dessa safada,
E vazei correndo o mundo,
Deixei esse bosque imundo,
Sem ter pena nem ter dó,
Eu fui correndo mais só,
Do que nunca tinha feito,
Coração ranquei do peito,
Nessa estrada como pó...

Aquela risada esquisita
Depois me lembrei direito,
A danada tinha o jeito,
Da risada da maldita
Daquela vaca e cabrita
Da mulher do capetão,
Foi nesse momento então,
Que vazei no capinado,
Nunca mais voltar pros lado,
Do tal Bosque Solidão...

O frio traz Regina e chocolate

O frio traz Regina e chocolate,
Minhas mãos procurando por você,
Somente encontram vagos sem por que,
Esse frio aumentando, tudo abate...

Só queria saber, a vida late,
Desavisada a mente me faz crer,
Que nunca mais irei, ao menos, ter
Os carinhos que esquentam, nem chá mate,

Nem os lábios suaves de Regina.
Grávido dos desejos, abortados...
Queria, lhe procuro, pelos lados.

Sua mão que eu queria, mão divina,
Perdida nessa gélida matina,
Somente deixam sonhos congelados...

Música ao longe, canto tão suave;

Música ao longe, canto tão suave;
Noite perpetua-se mais tranqüila,
Nem os grilos entoam nessa vila;
A música distante , lá do vale,

Chega para os ouvidos, traz a chave
Que poderá afinal, fazer d’argila,
Aquela que pensei ser a pupila
Que me fará ver, luzes dessa nave

Que navegado a esmo, pensei morta...
A música atravessa a linha torta,
Deixando a solidão lado de fora...

Quem me dera pudesse crer outrora,
Nesse momento santo que s’aflora,
Música te trouxesse à minha porta...

Eu queria ser livre eternamente

Eu queria ser livre eternamente,
Livre do tédio dessa longa espera.
Livre para tentar uma nova era,
Livre como a criança que não mente,

Apenas sonha. Quero simples mente,
Sem as perguntas tantas, vida impera
Sobre essas vastidões, dúvida fera,
Eu quero a liberdade, simplesmente...

No marfim dessa lua que me cobre,
Não queria jamais ser o que sobre,
Nem perceber vergonha em tantos medos.

Queria conhecer tantos segredos,
Mas não me restariam nem meus dedos,
Ao olhar o teu rosto, d’ouro e cobre....

Minha certeza sofre com mentiras

Minha certeza sofre com mentiras,
Não quero mais colher tal dividendo
Quando o sonho de belo, fica horrendo
A vida sangra, passa toda em tiras...

Meu corpo ao chão, jogado, quando estiras,
Não sei mais se terei, nem bem pretendo...
Passarei a sentir meu mundo, lendo
No carrossel de lendas onde giras...

Nas legendas da sorte, fiz a rima,
Onde tentei poder jogar esgrima,
Com a tenda que cobre meu tesouro;

Meu moinho quebrando, trigo e ouro,
Na tentativa audaz, salvar meu couro,
Procuro a cura, tanta que redima...

Décimas - Falando minha verdade

Falando minha verdade,
Buscando novo cantar,
Procuro tanto teu mar,
Mares dessa saudade;
Reviver a liberdade...
Quero a boca que me nega;
Que nunca, jamais , sossega...
Quero tentar ter amor;
Desses prados sei a flor,
Flores que a lágrima rega...

Falta minha temporada,
A primavera da vida;
Onde não sei despedida,
Na mais feliz alvorada,
Por amores inundada...
Quero ser tua semana,
Uma esperança que emana
De cada novo cantar,
Horizontes por voar...
Minha luta mais temprana...

Turbilhão de sentimentos,
Não queria tempestade,
Mas tudo isso me invade,
Em todos novos momentos,
Tantos velhos tormentos...
A sombra do que já fui,
Nada mais tenho, se exclui
O que tive, o que passei;
Nos braços aonde errei,
Meu mundo se queda, rui...

Num silêncio vou solene,
Buscando por minha luz,
Carregando velha cruz,
Não há dor que não me empene;
Amor que sonhei perene.
Perante tanta vergonha,
Tudo de bom que se sonha,
Passa para pesadelo,
No frio que corta, gelo;
Restará só dor medonha...

Pus meu barco nesse rumo,
Sem leme, o barco virou;
Do nada que me restou,
A saudade dá seu prumo,
Minha vida virou grumo,
Recebi trato da morte,
Não quero ter essa sorte,
Nem quero mais solavanco,
Assisti tudo no banco,
Na arquibancada dei bote...

Fiz a casa desse barro,
Feito de sangue e pudim,
O que mais quero pra mim
É saber que, se me esbarro,
Nas tristezas qu’hoje varro,
Foi revés, mas eu reverto,
Minha dor vive em aperto,
Carteada do destino,
Se tem dor, logo me empino,
No final terei conserto...

Nas matas nos pinheirais,
Tudo que for machadada.
Tudo que suar enxada,
São coisas que pedem mais,
A violência que traz paz,
O corte dessa esperança,
A morte vem de criança,
Nos braços dessa parteira,
Sangrando essa terra inteira,
Engorda a pança se dança...

Desculpe tanta flechada,
Acenderei teu pavio,
Secarei esse teu rio,
Não terás mata fechada,
Não te restarás mais nada,
Nem sombra de natureza,
Quem sabe, sem ter beleza,
Sem ter água pra beber,
Poderá, pois, conceber,
Meu amor em tua mesa...

Tuesday, August 29, 2006

Trago esse amor sentido sobre a mesa Quadras

Trago esse amor sentido sobre a mesa,
Degustas sem ter pena cada gota...
Minha alma foi pro fundo caiu rota,
Nem lágrima, restou por sobremesa...

Tentei permanecer qual vela acesa,
O vento e tempestade foram vis,
Nos dias em que,tolo,cri feliz,
Foram os de maior, grande tristeza...

Não quero mais saber de sina e sorte,
Nem procuro mais luzes onde cria,
Amor sem ter certezas, fantasia;
Fantasmas que perseguem e sei morte...

Não sinto medo, cálice sem vinho,
Nem trafego tão trôpego, vacilo.
Da morte foste lívido bacilo,
Meu Deus porque me deixas tão sozinho!?

Não haverá perguntas sem respostas,
Tampouco tenho lúdicas manhãs,
Acolho restos, fétidas e vãs,
A vida retalhada nessas postas...

Cheguei a crer, estúpido que eu era,
Que foste minha métrica, meus versos,
Agora sei, restou dos universos,
Um só poema, lúbrica quimera...

Minha certeza, vaga e tão serena,
Não poderia lírica e fatal,
Acreditar n’amor tão abissal,
Mas que mal se descuida, me envenena...

Das carteiras, cigarros são tragados,
Num sem sentido, nexo faz falta,
A dor me inclui vazio, nessa malta,
Quem dera não tivesse abandonado...

Meus versos são satânicos e cínicos

Meus versos são satânicos e cínicos,
Nas orgásmicas líricas promessas,
Meus olhos por ofício, sei, são clínicos.
Partilho teus cenários novas peças...

Das uvas feitas vinho passos mímicos,
Tremulam meus penhores sei que engessas,
Mimetizo fantasmas que sei tímicos,
Nos cântaros que pântanos, regressas.

Variólico cético sou pálido,
Métrico cadencio meu poema,
Metódico fiquei tal qual esquálido,

Etílico sabor, nova jurema,
Impávido, pavio sou inválido,
Nesses absurdos versos, sem ter tema...

Sim, nada mais sincero que teu não

Sim, nada mais sincero que teu não,
Aprendi que viver sem ter promessa,
É como conviver sem dor ou pressa,
Na falta de sentido e de razão...

Deixei as minhas sílabas em vão,
Passei por essa via tão expressa,
Desconhecendo ritmo que se meça
Na dança que começa no salão...

No sal da festa, fresta dessa porta,
A moça estreita a teta, nem me importa,
Queria ter a boca dessa noite;

Deixando minha marca num pernoite;
Mas corta lábio sábio, faz açoite;
De quem nunca queria ver tão morta...

Vencido pela noite e seu cansaço

Vencido pela noite e seu cansaço,
Procuro por sinais de tua vinda;
Teu cheiro ronda a casa. Se deslinda
Em cada canto a marca de teu laço...

Quem me dera dormir no teu regaço,
Sentindo teu perfume que me brinda
Com última esperança; ser ainda
Capaz de conquistar o teu abraço...

Mas, quando a noite some,eu tão sozinho,
Percebo que jamais voltas ao ninho...
Onde fomos felizes de verdade;

Mas bem sei, que querias liberdade,
Voaste, nunca mais, solta; a saudade
Será só minha, livre passarinho...

A noite que me trouxe teu olhar

A noite que me trouxe teu olhar,
Já partiu sem sequer dizer adeus,
Saudade fez adeus dos olhos meus,
Nunca mais poderei saber do mar...

Tua distância,amiga,fez chorar;
Quem sempre quis fugir de escuros breus,
Quem não acreditava, olhos ateus;
Pudesse um dia; cego, procurar,

Pelas vielas; luzes mais audazes,
Quem sempre deparou-se com mordazes
Pesadelos, buscando pela paz;

E agora, quando achava-se capaz,
Teus olhos, de partida, isso me traz
Meus medos, e meus braços incapazes...

Trovas e Contra trovas - Kathleen Mel e Marcos


Saudade, doce lembrança,
Que dói, remói mas não mata...
Da partida fica a data,
No olhar resta a esperança.

Kathleen Mel





Saudade traz calafrio,
No coração de quem ama...
Mesmo no calor, faz frio,
Mas o coração se inflama...

Marcos

Minha vida leva tempo Trovas

Minha vida leva tempo,
O tempo me leva a vida,
Tempo que tem contratempo,
Tenho o tempo da partida...

Espantas minha saudade,
Nesse copo de cachaça.
Amor fiel de verdade,
Me diga aonde se acha!

Vi a curva de Maria,
Restinga de Marambaia,
O vento bem que podia,
Levantar aquela saia...

Em Goiás tem a goiana,
Moça prendada e de fé;
Tem santa e também sacana,
Não pode ver bicho em pé...

Amazonas tem mulher,
Índia morena e mulata;
Seja lá o que Deus quiser,
Eu quero entrar nessa mata...

No Pará tem castanheira,
Tem menina bem bonita;
Quero ter a vida inteira,
Aquela do laço de fita...

Macapá no Amapá,
Tem mulher só de primeira;
Moça bela dá de pá,
Tão perfumada que cheira...

Maranhão foi minha sina,
Quando procurei amar;
Minha bela nordestina,
Tem o cheiro do luar...

No Piauí boi morreu,
E também dói a saudade.
Moça bonita, sou eu
Quem te pede caridade...

Rio Grande lá do Norte,
É a terra de Natal,
Menina que me deu sorte,
Sem você eu passo mal...

No Ceará, Fortaleza,
Encontrei um mulata,
Dona de grande beleza,
Tua fama me arrebata...

Paraíba mulher macho,
Mas bonita como quê,
Tudo que procuro eu acho,
Nesse mapa que é você...

Em Pernambuco, Recife;
A sorte grande, tirei.
Quem me dera ter cacife,
E, da morena, ser rei...

Maceió, nas Alagoas,
É terra que sinto falta;
Dessas mocinhas tão boas,
Uma baixa e outra alta...

No Acre tem Rio Branco,
Tem seringal que fascina;
Subindo nesse tamanco,
Como é boa essa menina...

Em Rondônia, me perdi,
Mas também me encontrei;
Nessa lourinha que vi,
Aprendi tudo que eu sei...

Roraima tem Boa Vista,
Não desisto de você.
Por mais que você resista,
A de amor, depois o bê...

Sergipana foi donzela,
Meu amor foi a pimenta;
Meu coração é só dela,
Faz calor, a gente esquenta...

Baiana, quebro o coqueiro,
Eu dou nó no pingo dágua;
Sem você, o mundo inteiro,
Vive cheinho de mágoa...

Mato Grosso, Cuiabá,
Terra quente sim senhor...
Tanta moça tem por lá,
E também tem meu amor...

Mato Grosso lá do Sul,
Faz a gente suspirar.
Nesse teu olhar azul,
Eu bem aprendi amar...

Em Brasília três poderes,
Três amores para amar.
Tanto quero teus quereres,
Teu querer quero encontrar...

Mineira troce decerto,
Muito ouro e muito brilho.
Olhando assim, bem de perto,
Em você perco meu trilho...

Capixaba de Vitória,
É moça bem envolvente.
Eu te guardo de memória,
Saudade matando a gente...

Carioca moreninha,
Lá n’asfalto ou na favela;
Quem dera; tu fosses minha,
E eu fosse todinho dela!

A paulista tem seu charme,
Elegante pra chuchu;
Não gosta de muito alarme,
Mesmo se for pra Daslu...

Paraná tem moça bela,
Alemoa italiana,
Tem branca, tem amarela,
O meu peito não se engana…

Barriga verde com fé,
Catarina faz estrago;
Vou de a gosto vou a pé,
Quero nadar nesse lago...

Gauchinha bem prendada,
Bem prendada a gauchinha;
Vem cá mulher mais amada,
Vem pra cá ó prenda minha...

Matemática e Cachaça

Josias era um homem trabalhador, honesto e fiel, muito fiel a Deus e a sua querida Joana. Moça bonita, uma morena exuberante, cerca de vinte anos mais jovem que Josias.
Em Santa Martha, Josias trabalhava como sapateiro, um artista famoso, procurado por vários clientes oriundos das redondezas e até da Cachoeiro..
Acontece que, de uns tempos para cá, a Igreja que Josias freqüentava começara a perceber que aquele antigo fiel tinha desaparecido.
Josias começara a beber, primeiramente sozinho e às escondidas, depois cada vez mais frequentemente e a cada dia com menos recato. Até que, um dia, apareceu no barzinho do Gilberto, ponto de encontro da meninada assaz namoradeira do distrito.
A sua estréia foi inesquecível; acabando com todo o estoque de fogo paulista que tinha no bar. Lá pelas quatro horas da manhã foi levado para casa. Totalmente embriagado.
A expulsão da Igreja foi sumária, principalmente depois do dia em que, além de dormir durante o culto dominical resolveu fazer da perna do pastor um urinol improvisado.
O escândalo tomou conta da comunidade, entre assustada e brincalhona.
Quem não gostou nada disso foi Joana, a bela morena se viu, da noite para o dia, vítima das mais indecorosas e maldosas piadas da comunidade.
Mas, a situação estava indo de mal para pior e, apesar de todas as orações, juras e promessas feitas para a salvação do nosso amigo, tudo estava como dantes no quartel de Abrantes, Josias Abrantes, que esse era o nome completo do nosso sapateiro.
As moças e os rapazes de Santa Martha já estavam sentindo a falta do nosso expoente na nobre arte da sapataria, agora as meia-solas e os consertos impossíveis teriam que ser feitos em outro lugar, para prejuízo dos bolsos e da qualidade dos serviços prestados.
Joana, no começo, ainda se manteve fiel ao nosso alcoólatra mas, como, na porta onde entra a miséria sai o amor; não resistiu por muito tempo...
Naquela época, o Governo do Espírito Santo estava contratando novos policiais e Maximiliano era um desses. Lotado em Santa Martha, tinha chegado a pouco tempo na pacata localidade.
João Polino foi o seu instrutor sobre as almas santamartenses mas, por causa de um descuido, se esqueceu de falar sobre Josias. Mas nem precisava, tal a insignificância do pobre cachaceiro...
Gilberto, com pena de Joana, passou a não vender mais bebida alcoólica para o sapateiro mas, nada disso adiantava. Bebia até álcool puro e, se bobeassem, esvaziaria tanque de combustível.
Na noite gélida daquele julho implacável, Maximiliano fazia a sua primeira ronda noturna quando, sem esperar, encontrou um cidadão tentando, de qualquer modo, acertar a chave na fechadura.
Ajudou-o a abrir a porta mas, por dever do ofício e por desconhecer aquele cidadão, perguntou se era ele mesmo que morava ali.
Diante da pergunta, Josias foi incisivo: “Claro que moro, entra comigo e você vai ver”.
Ao adentrar pela casa, Josias foi logo falando: “Tá vendo aquele cara deitado no sofá? É meu cunhado”.
“Vem cá comigo que eu vou te mostrar uma coisa: Aquela mulher deitada aqui no quarto é minha esposa, e aquele camarada deitado ao lado dela; sou eu”.
Ao que o guarda, sem mais nada a perguntar, se despediu e foi-se embora.
Josias deitou-se na cama e ao contar os pés, reparou que havia algo de estranho:
Um pé, dois pés, três, quatro, cinco, seis pés.
Epa! Tem gato nessa tuba! Mas depois, para se tranqüilizar, se levantou e foi até ao pé da cama e recontou: um, dois, três, quatro!
Dois da mulher e dois meus!
É, eu tenho que parar de beber mesmo!

Cordel - A minha sina - capítulo 5 - O Padre e o Sacristão

Depois de ter escapado,
Com ajuda do Saci,
No rolo que me meti,
Por causa de ter botado,
Na cabeça do safado,
Desse maldito diabo,
Uma dupla de quiabo,
Um par de chifre pontudo,
Ajuntando com o rabo,
Quase que nessa m’acabo...

Mas, me lembrei de repente,
Da promessa que bem fiz,
Escapei foi por um triz,
Desd’agora, minha gente,
Tudo ficou diferente,
Não mato mais vagabundo,
Vou ter que correr o mundo,
Que é sina que não escapo,
Partindo noutro sopapo,
Ficando bem sossegado,
É melhor cuidar de gado,
Ou então viver de papo...

Acontece que Marina,
A mulher de Virgulino,
Percebeu logo, deu tino,
Era coisa cristalina,
Pra que eu mude dessa sina,
Era preciso por certo,
Ficar sempre bem desperto,
Senão fazia besteira,
Vou mudar da bandalheira,
Viver um viver correto...

Sabendo que precisava,
Um padre de coroinha,
A moça bem safadinha,
Disse que ali eu achava,
Contadinho como fava,
Um novo rumo pra vida,
Era coisa divertida,
E também mais sem perigo.
Agora; disse, é contigo,
Vai procurar essa lida...

Sacristão foi, na verdade,
Minha nova profissão,
Devida de coração,
Deixei tudo na saudade,
A vida sem crueldade,
Um caso pra se pensar,
Levando a vida a rezar,
Sem ter contrariedade
Os homem dessa cidade,
Não vão ter que reclamar...

Batendo o sino de tarde,
De manhã e de noitinha,
A vida bem de mansinha,
Sem ter mais nenhum alarde
Levando a vida covarde,
Mas com certeza da cura,
Sem ter mais nem noite escura,
Nem buraco adonde eu caia,
Sem preparar nem tocaia,
Vida sem ter amargura...

Passa dia mês e ano,
A lida no mesmo pé,
Sou companheiro da fé.
Vivo a vida sem engano,
Deixando todos meus plano,
Seguindo sem covardia,
Finjo que nunca queria,
Que tivesse mais encrenca,
Tanta beata de penca,
Mas nenhuma merecia...

Acontece que, de noite,
Perto dessa sacristia,
Vez em quando eu ouvia,
Um barulho qual açoite,
E resolvi, de pernoite,
Trabalhar, fazer serão,
Que tremenda confusão,
Eu houvera de escutar,
Parecia complicar,
A minha imaginação...

Saia com saia é fogo,
Duas saias se levanta,
Uma delas era santa,
Outra entrando nesse jogo,
Não adianta nem rogo;
Tá armada essa quizumba,
Preparei a catacumba,
Dessa não vou escapar,
Quando parei preu olhar,
Vi, defrente a minha tumba...

Apois bem, bem reparando,
Uma saia tinha pinto,
Meio branco meio tinto,
O pinto já tava entrando,
Bem devagar, cavucando,
Outra saia bem no fundo,
Nesse buraco profundo,
Nem que todo mundo caia,
Balançando a samambaia,
Quase que se acaba o mundo...

Reparando no saiote,
O outro tinha outra sina,
Não era saia, batina,
Do padre dando pinote,
Remexendo num só xote,
Num tremendo só xotão,
Na tremenda confusão,
A moça num reparei,
Bem quietinho eu voltei,
Silêncio de sacristão...

Nas noites das sextas feiras,
Quando a lua se enchia,
A mesma cena vadia,
As mesmas coisas besteiras,
Eram useiras vezeiras...
Depois dessa temporada,
Passei a num crer em nada,
Também queria trepar,
Não importando o luar,
Nem dia nem madrugada...

Uma das beatas novas,
Mola de muito colchão,
Tinha grande coração
Não precisava mais provas,
De santo fez muitas covas,
Mas não quero santidade,
Estando na flor da idade
Queria era safadeza,
E com essa tal pureza,
Treterice de verdade...

Na sacristia, meu canto,
A moça fez o serviço,
Não deu nenhum enguiço,
Que eu também não era santo,
Rezava, orava entretanto,
De noite sentava pó,
Nunca me sentia só,
A beata não falhava,
Toda noite ela me dava,
Eu queria o fiofó...

A moça num reclamava,
Serviço era de primeira,
Nos mato, na barranceira,
Que gostoso que chupava,
De mansinho o pau entrava,
Fazia estrago com fé,
De lado, banda ou de pé,
Da maneira que pudesse,
Bem do jeito que quisesse,
Só num deixava de ré...

E por mais que prometesse,
Que pedisse pra beata,
Naquele ata não ata,
Não deixava que metesse,
Nem tampouco que mexesse...
Mas, depois de tanta reza,
Beata que não se preza,
Não pode mais resistir,
Se, agora, quisesse vir,
Deixava, mas sem reveza!

A danada abriu tudinho,
Arreganhando essa bunda,
É nela que tudo afunda,
Passei a mão com carinho,
Fui botando com jeitinho;
Mas de repente gritou,
Doeu não doeu, chegou,
Era o padre que chegava,
E bem logo me avistava,
Nessa hora tudo brochou!

Me chamando de safado,
Botou a moça pra fora,
To ferrado, disse agora,
Chamei o padre de lado,
E falei ter encontrado,
Ele com a mão na massa,
Depressa perdeu a graça,
Me pediu que eu me calasse,
Que pra ninguém eu contasse,
Que seria uma desgraça!

Prometi, ficar bem quieto,
Não contar para ninguém,
Se calasse ele também,
Que, naquele mesmo teto,
Mulher que entrou saiu reto,
Não precisava ter medo,
Tava guardado o segredo,
O safado então pediu,
A beata que ele viu,
Botasse somente um dedo...

Me falou de troca troca,
Ele me emprestava a sua,
Desde que deixasse nua,
A minha para a minhoca
Entrar de leve na toca...
Falei o troço tá feito,
Assim fica bem direito,
Faça assim como quiser,
Mas pergunte pra mulher
Se ela topa esse malfeito...

Depois de muita conversa,
Ele c’a dele eu c’a minha
Combinamo na noitinha,
Dessa vez sem muita pressa,
Nessa reza que confessa,
A gente ia ter festança,
De comida enche a pança,
Festa nessa noite inteira,
Na próxima sexta feira,
Tava feita tal lambança...

Sexta feira tá chegada,
Lua cheia lá no céu,
Vamos fazer escarcéu,
A noite não vale nada,
Vamos varar madrugada,
Numa boa da suruba,
Quando um entra, outro entuba,
Na beata ponho fé,
Mas também não fico a pé,
Na do padre, pego a juba...

Quando começou a liça,
Reparei meio de banda,
Agora é que se desanda,
Senti cheiro de carniça
Minha vida agora enguiça.
Tô ferrado, Deus me livre,
Das desgraças que já tive,
Nas quebradas dessa vida,
Essa era uma das fedida,
Um gemido não contive...

Ao ver que quem me abraçava,
Coisa que a gente repara,
Quando olhei pra aquela cara,
Vi que a coisa se lascava,
Ferradim agora estava...
A mulher que eu ia ter,
Quando deu-se a conhecer,
Tô fudido nessa peta,
Era a mulher do capeta,
Falta me reconhecer!

A danada então me viu,
E lembrou daquela briga,
Que era coisa bem antiga,
Um sorriso então abriu,
Fui pra puta que pariu,
Com os óio esbugaiado,
No mundo desarvorado,
Corri sem olha prá trás,
A pilantra veio atrás,
Me xingando de viado...

Agora essa minha lida,
Não tem mais nem solução,
O danado capetão,
Chifrudo e fulo da vida,
Por causa dessa bandida,
Não vai me dar mais sossego,
Nem se eu lhe pedir arrego
Não me deixa mais em paz,
E brigar com Satanás,
É não ter mais aconchego...

Bela lua, princesa de cristal

Bela lua, princesa de cristal,
Nos teus braços, tenho o delirante
Sonho de me saber um ser gigante,
Lua, que se fez nova, maioral,

Quando cobres as trevas dess’astral,
Tu és tão envolvente e radiante,
Quedo-me tão silente só, diante
De teu belo luar, descomunal...

Lua, tua distância tão amiga,
Não me permite, nunca mais, consiga;
Na eternidade louca de teu brilho,

Quem me dera saber onde teu filho,
Esse cometa errante que, sem trilho,
Vagueia numa busca tão antiga...

Descansando nos braços da morena

Descansando nos braços da morena,
Eu me lembro da loura que deixei.
Mulata, eu gostaria de ser rei,
Beijando essa boquinha tão pequena...

Amor, quando é demais, logo envenena.
A campina que passo e que passei,
Muitas vezes sem rumo, desviei;
A saudade, de longe inda m’acena...

Quero tanto perguntas sem resposta,
No fundo, todo mundo sempre aposta,
Num amor que era pouco e se acabou...

Mas não quero saber se estou ou vou,
Nem sequer me interessa o que passou...
Eu quero, tão somente, a quem se gosta...

A roupa espalhada pelo chão

A roupa espalhada pelo chão,
Me dá, simplesmente, essa certeza;
De quem me prometeu a realeza,
Devora o vagabundo coração...

Teus passos insensíveis no porão,
As marcas desmentindo uma princesa;
As manchas sanguinárias sobre a mesa,
Demonstram-me verdades da lição

Aprendida na noite que vieste...
Que por mais que se pense no cipreste,
Que por maior que seja seu tamanho,

E por menor que seja, tão tacanho,
O mais rasteiro mato, que eu apanho,
O amor só vale o quanto que se investe...

Bêbado de saudades de você

Bêbado de saudades de você,
Nas madrugadas, fugas e senzala,
Buscando esse perfume pela sala,
O perfume que trouxe, sem querer,

A lembrança do tempo de viver,
Onde estava mil vezes numa gala
Me sentia feliz, minha alma embala,
Mas agora procuro em vão, cadê?

Aprendi com você, felicidade,
É possível viver na claridade.
Foi meu melhor tempo nessa vida,

Mas, bem cedo senti que, despedida,
É palavra cruel, mesmo sentida,
Em pleno amanhecer da mocidade..

Não que me seja assim, muito crível

Não que me seja assim, muito crível,
Mas quem me dera tento com teu laço;
Vivendo desse amor onde embaraço;
O sabor da vitória é impossível...

E chega de tentar subir um nível,
Quando nada farei sem ter cansaço...
O mundo que pensei sem teu abraço,
De tão triste, seria incompatível...

Quero a lembrança límpida e gentil,
De todos os carinhos, sou sutil.
Mergulho nos teus seios, boca aberta;

Esperando, talvez, por esse alerta;
Que nunca mais virá, festa repleta,
Dos desejos mais loucos, meu ardil...

As loas que cantei para você

As loas que cantei para você,
Não foram, simplesmente, as que eu queria.
A noite transformada num quase dia,
Remetendo a alegria, ao meu sofrer...

Nunca foste verdades nem por que,
Mas a quis como nunca mais teria,
Esse calado peito sem Maria,
No mais completo verbo do querer...

Minha palavra tenta ser mais pura,
A vida não consegue mais brandura.
Seu endereço serve de morada,

Para quem já tentou, não deu em nada;
Para quem pensou nova mão pousada
Nas costas da mulher, quadro e moldura...

Monday, August 28, 2006

Trovas Nas ondas do rio mar

Nas ondas do rio mar,
Na cachoeira do santo;
Maria, quero casar;
Saudade traz o seu manto.

Vi nascendo meu amor,
Nos braços do bem querer;
Não me deixe, por favor,
Sem você posso morrer...

Quero o gosto da Maria,
Na boca que Deus me deu;
Meia noite meio dia,
Quem gosta dela sou eu!

Vi carranca no Nordeste,
Em Minas eu vi também;
Eta amor cabra da peste,
Chorando por outro alguém...

Minha vida fez enganos,
Enganei, ela, também.
A vida trouxe seus planos,
Coração tamanho trem...

Beija flor que cria ninho,
Nas asas do seu amor;
Beijando amor vou sozinho,
No fundo nem beijo a flor...

Quis fazer uma trovinha,
Com a cara da Maria;
Difícil fazer covinha,
Meu amor eu não sabia...

Ritinha tem um buquê
De rosas e margaridas,
Meu amor, eu sem você,
Só conheço as despedidas...

Na beira daquele lago,
Tem um canto diferente
Cigarro quando não trago,
Estraga a vida da gente...

Bola que bateu na trave,
Depois entrou gritei gol,
Do coração não sei chave,
Passarinho que voou...

Eu recebi a resposta
Pra carta que lhe mandei,
Eu já perdi essa aposta,
Não tem rainha nem rei...

Trovas são como recados,
Em quatro versos sentidos,
Olhando bem para os lados,
Meu amor, não dê ouvidos...

Vim de terra diferente,
As moças não têm segredo;
Quando o povo tá doente,
O doutor foge de medo...

Nas dentes dessa engrenagem,
Os meus dentes eu perdi,
Vivo fazendo bobagem,
Só por isso, estou aqui...

Vento traz a tempestade,
Raio, relampo e trovão,
Meu amor, que crueldade,
Maltrata meu coração...

Deu coceira no meu pé,
Achei que estava doente,
Não foi nada, foi chulé,
De seu amor, era crente...

Na reza que tanto reza,
Não fala mais em Senhor,
Coração quando se preza,
Dispara forte n’amor...

Fiz um verso bem moderno,
O molde esqueci depois,
Parecendo com meu terno,
Tira cem coloca dois...

Encerrando essa sessão,
De versos bem mal rimados.
Atravesso meu perdão,
Com suor dos desgraçados...

Cantas nos bastidores dessa vida

Cantas nos bastidores dessa vida,
A voz cansada estraga toda a festa.
Muito do que já fomos, pela fresta;
Da janela se perde mais vencida...

Não quebro meu pendão nem vem parida,
A morte que queimava essa floresta;
Tentei fazer sertões, mas nada resta,
Procuro por senões, cadê guarida?

Nas folhas do caderno teu sinal,
As horas que sangramos no jornal;
Serviram de estocada dessa faca.

Não consigo voar, tudo me estaca,
Caminhando serei, sangue e cloaca.
Não quero ser rei, lúbrico sal...

Pernas estão cansadas dessa lida

Pernas estão cansadas dessa lida;
Estrada que percorro não dá mais,
Quisera estar vazio, mas demais,
Não temo nem chegada nem partida...

Vasculho nas gavetas Margarida,
Encontro simplesmente esses boçais
Escritos que fizeste nos jornais,
Dizendo que querias despedida...

No meu cabelo sinto tuas presas,
E no pescoço, tento ser mordaz,
Passando pelos olhos, sinto, tesas.

Servindo coca cola se és capaz,
Mexendo nas entranhas correnteza,
Aperta suavemente essa tenaz...

Quero momento, sentimento e esmo

Quero momento, sentimento e esmo;
Na mesma forma, fornalha e fogo;
No jogo em riste, lanças e dardos...
Meus fardos são falsos e falidos...
Tento intento novo e revisto,
Me desvio e cio, vicio e previsto,
Visto quê, jamais poderei errei e suo...
Sou o que soa, absurdo e vôo, tenaz...
Audaz atroz atriz atrás de tantas quantas
Fossem as possíveis peças...
Me peças nada adia adora, a hora agora...
Me deixo ser seixo, a gueixa se esvai...
Vãos da porta, morta a solidão, dão créditos...
Méritos e atritos, detritos sou mito, minto...
Tinto meu sangue, mangue, zona e ozônio,
Axônio e Estônia, estranho como um trino,
Lá trino e latino, um átimo um último, hino...
Meus olhos, teus óleos, girassol, giramundo...
Vagabundo, sou seu sal, seu céu, véu e ventania...
Visto meus tafetás meus confetes e tapetes...
Visto que fosse um começo de brisa,
A vida me avisa, vista a lua;
Deixe-a nua,
A rua
Lá...