Search This Blog

Saturday, September 23, 2006

Ave de Rapina

Minhas costas lanhadas por vergastas
Que disparas, vadio coração.
Amores decompostos viram pastas.
Bebendo mal disfarço a solidão!

Os fortes que lutei dividem castas,
As ruas que marchei, um simples cão!
Se cada vez que nego, mais te abastas,
As pedras construíram meu porão!

Nestas costas sangradas nascem moscas.
Nas feridas estranhas, podres, toscas...
Arranco-te devoras as entranhas,

As dores que provocas são tamanhas!
Gargalhas sem pudores e nem penas.
Das mãos que me torturam nascem penas!

Fugiste

Fugiste... Nem deixaste tuas marcas...
Quando me ensolaravas, foste lépida...
Minha alma bronzeada quis as barcas.
A tarde que negavas, forte, tépida.

As horas de prazeres alçam vôo,
Fugiste... Me roubaste, Messalina!
Messianicamente te perdôo
Não quero me lembrar dessa menina!

Mas, quando a noite chega, velha chaga.
Reflexos desta sobre o mar...
Depressa o pensamento vem e estraga...

Os olhos recomeçam procurar...
Fugiste... Teus caminhos já não sei!
Meu Deus, onde se encontra quem amei?

Solstício

Quando te quis, fugiste num solstício...
Bem antes nem sabias de meus versos...
Agora meu querer não é fictício.
Procuro-te vagando os universos!!

A sorte me legou venal ofício,
Procuro meus sentidos mais diversos,
Nos píncaros mais altos, precipício,
Esses íngremes morros são adversos...

Quando te quis, levaste meu poema,
Sugaste todo sangue que pulsava...
Restando nem sequer um só emblema!

Nas pontes que passei, quedei pinguelas...
Vertidas muitas lágrimas, estava
Fechando tantas portas e janelas!

Racional

Quisera ser por certo racional,
Não pude, nem prefiro ser assim...
Amor que me maltrata, um ser fatal,
A noite adormecida chega ao fim...

Quem dera descobrisse mais leal
Aquela que levou o meu festim,
Quem fora fantasia, carnaval,
Vai agora acendendo o estopim!

Se fui frágil, sou ágil, não me alcanças...
Nas lutas que passei, audazes danças,
Restaram tão somente esse cansaço.

As horas já dormidas, teu abraço...
O rosto que estampaste num retrato,
Traduz num só delírio nosso quarto!

Vermes II

Sobrevivência exige persistência!
A vida se traduz vitalidade...
A fome que corrói, u’a pestilência
Nas torpes caminhadas. Ansiedade

Curtindo nossa gente tão faminta!
Quem já fora repúdio desta raça.
Quem sempre permitiu que tanto minta,
Quem fez em nosso solo tal devassa,


Levanta-se cruel, velha chibata.
A dor que sempre sangra, e que maltrata,
Mitigada por mãos que acariciam...

Agora, esta gente revoltosa,
Espinhos que negaram nova rosa,
Ameaçam calar os que saciam!!

Notório Amor

Em teus braços persisto sempre imerso...
Tu és vulgar, terrível ser ególatra.
Compartilho caminhos, vou disperso.
A boca que beijei, por certo idólatra!

Idolatrada amada. Cadafalsos
Reconheço através de teu delírio!
Os medos que possuo, todos falsos,
Não cabem nem sequer no meu martírio!

Quem me dera saprófita esperança.
Vivesse nos meandros da saudade...
Nos olhos mais sutis nunca se avança,

Quem fora mais criança, nunca há de!
Em teus braços resisto merencório!
Amor te reconheço tão notório!

Serpente II

Perpetuas amor por onde passas...
Nas camas que freqüentas não descansas.
Os corpos que devoras, são carcaças,
As bocas desfraldadas onde danças...

Te conheço, disfarço tuas farsas,
As vezes que te quis, fomos crianças,
Nas camas que dormimos, tão esparsas,
Rolamos amplidões, desesperanças!

Sutilezas profanas, tuas covas...
Amores que perecem já renovas.
Os dentes que me cravas, venenosos...

Nas vezes que apunhalas, distraída.
Escorre neste sangue tanta vida...
Os beijos que envenenas, mentirosos!

Seca

Não te falo em meu nome, sou poeta!
As dores eu encaro com sorriso...
A minha vida segue mais completa
Das trevas vou fazendo o paraíso!

Quando escrevo pensando na miséria,
Eu penso em nosso amado brasileiro.
A treva que se abate é coisa séria,
Orgulho se perdendo num braseiro.

Tendo as filhas vendidas nas estradas,
Tendo os filhos morrendo sem remédio!
Mulheres tão sofridas do sertão...

Os homens engolidos pela fome.
O calor, um incêndio que consome,
O sol vai congelado na amplidão!

A Dor

A dor que dilacera corações,
Reside nas profundas de minha alma...
Herdando velhas chagas, aflições,
Não tenho mais sequer quem me acalma!

As rosas exalando podridões,
Teu nome rabisquei na mão, na palma...
Vermelhos velhos vermes vendilhões,
Meus versos são versões antigo trauma...

Minha dor, resistente não perece...
A cada novo dia me envelhece,
Nas rugas que desenha minha face...

Desdenha sutil corda que embarace
Meus passos sertanejos na cidade.
A dor que já me enluta, a da saudade!

Loucura e Lucidez

Ao te encontrar serena, quis ser lúcido...
Doidivanas pensei que te enganava...
Mas por ser transparente, sou translúcido,
Sorrias, cada vez que me encontrava!

Dos porões, emergindo meus defeitos,
Percebeste num átimo: sou louco!
Não queres mais dormir meus mansos leitos...
Te grito embalde, foges, estou rouco...

A voz não me permite te chamar,
Não posso teus desejos transformar
Em simples valentia nem conquista.

Amor, te imploro, nunca mais insista,
Prazeres não nasceram para ti.
Transtornos são, pois, tudo que vivi!

Gaiola

Como posso cantar nessa gaiola?
Já não tenho horizontes nem futuro.
A dor que me castigam, vem, assola,
As pernas se quebraram, triste muro...

Liberdade, meu peito pede esmola,
Mas negas... Prisioneiro deste escuro,
Procuro me encontrar... Fizeste escola,
Não tenho minhas asas, sou anuro...

Não consigo equilíbrio, vou voar?
As cadeias me prendem, me torturas...
As noites que se foram, ditaduras...

Onde e como consigo meu cantar?
Nos colos desta serra que hoje vejo,
Ali, reside todo o meu desejo!

Adultério

Amanhecer, raiando um novo dia....
Passarinhos cantando na janela,
A boca escancarada, poesia...
Sonhei a noite inteira só com ela!

Nos sonhos tão feliz, a fantasia...
Aurora desfilando cor mais bela,
Acordes dissonantes, melodia...
A vida repetindo essa novela!

Amores são mentiras que sustentam,
Meus sonhos são remotas cachoeiras.
Nas horas mais tristonhas já me alentam,

As asas que voavas, verdadeiras!
Não quero decifrar o teu mistério.
Apenas não me tragas adultério!

Dias Invernosos

Os meus dias mais tristes, invernosos...
Não permitem meu sonho, vil quimera!
Meus tolos pensamentos, andrajosos,
Procuram acalmar aguda fera...

Os olhos que choravam, lacrimosos,
As cordas que jogaste, minha espera!
Os traços que negaste, radiosos,
Os beijos tão mortais desta pantera!

Não quero nem pressinto solidão,
A vida não me deu mas não tirou...
As cordas que ponteiam a canção,

O tempo mais feraz nunca negou.
A vida num silêncio, catedral,
Minha esperança jogo num bornal!

A Vingança dos covardes

A vergonha assolando meu país!
Pelos cantos a fome se aplacava.
Imprensa, oposição qual meretriz,
Ao ver que velha noite se acabava,

Um sonho mais gentil se acalentava,
Já tentam impedir de ser feliz
Aquele cuja fome não calava,
Aquele que vivia por um triz!

Silêncio sobre torpe corrupção
De quem sangrou, roubou,qual vendilhão,
Não deixando sequer resto de esperança...

Ao ver esse sorriso da criança
Faminta, não consegue se calar!
Ao povo por vingança, TRUCIDAR!

Céu

O céu que te guardou era tão límpido,
Os mares que mergulhas quando falas...
Destinos teus, homéricos... Insípido
Pensamento vagueia pelas salas...

Não tive nem sequer uma verdade,
As rosas expulsaram meus caminhos...
Não deram seus ouvidos p’ ra saudade,
Deixaram bem expostos, os espinhos...

Neste céu traiçoeiro, rasga o sol,
Girando transtornado um girassol.
Girando minha vida sem certeza...

Quem dera realidade à realeza,
Adormece segredos. É carnal.
O céu que me enganou, hoje é fatal!

Meus Desejos

Meus desejos transcorrem vivos, plenos...
Transformados em sonhos delicados..
Na beleza que tens, Ó minha Vênus,
Meu mundo viveria sem pecados...

A sorte que me lança de joelhos,
Não deixa mais verter as minhas lágrimas...
Das fontes que bebi, não sei de lástimas,
Os olhos que chorei, estão vermelhos!

Meus desejos deliram seu juízo.
O resto que carrego nem preciso.
O que fizeste enfim, dos tristes versos?

Percorro sem saber, mil universos...
Palavras beijam, cortam, dilaceram...
Amores que criei, nunca me esperam!

Peregrina

Minha vida passando peregrina
Procura por um porto de chegada...
Um medo me transtorna, me alucina,
O de perder-te enfim, não sobrar nada!

Matéria que formou-te era mais fina,
A mata onde brotaste iluminada...
A vida prometida, tua sina,
Descansa seus segredos na calçada...

A minha peregrina solidão,
Esquece de chegar ao teu caminho...
Quem nunca transformou meu coração ,

Procura, de repente, fazer ninho...
A porta já tranquei, passei tramela
A vida vai passando na janela...

Angelical II

O véu que te cobria era tão branco...
As asas que voavas assassinas!
Sorriso meigo, branco, amigo, franco...
Nas asas que voavas, minhas sinas...

O véu que te cobria, belo flanco
Descobria asas, suas asas finas...
Franco sorriso, siso franco. Manco
Coração... Suas asas descortinas...

No véu que te cobria teu sorriso...
Nas asas que voavas, coração!
Francos os teus sorrisos... Te preciso...

Não mintas por favor, não quero o não...
Nas asas que me mostras meu destino...
Os sonhos delicados dum menino!!!

Deusa Casta

Quando te vejo linda deusa casta;
Teus passos flutuando, me alucinam...
A mão mais carinhosa não te afasta,
Mas foges... Torpes dores determinam

Meu sonho tresloucado! Mas, já basta!
Não quero meus mares que terminam,
Na areia triste, vaga, tão nefasta!
Meus dias mais cruéis me desatinam!

Em pedaços ruína do que fui,
Espreito teus carinhos... Não me dás...
Amas, bem sei... Tu chamas por um Rui,

Me arruínas, destróis os meus desejos...
Nas noites que vaguei, fui Satanás...
Agora, mendicante, peço um beijo!!!

Angelical - com estrambote

Adormeces, suave, num divã...
Nunca sonhas comigo, bem o sei.
Os teus olhos fechados. Amanhã
O sol virá beijar o que sonhei...

Adormeces, tranqüila, vida vã...
Em toda fantasia que criei,
Vieste nua, bela cortesã...
Caminhavas, camurça, onde sou rei...

Eu sonhava acordado, nem me vias...
Voavas transparente, num corcel,
Caminhavas, angélica, no céu...

Lambiam-te serenos, ventanias...
As rosas que choravam tua ausência,
Imploravam pediam por clemência.

Mas não ouvias, ias solitária,
U’a passageira alada, temerária...
E a noite te abraçava, solidária!!!

Transparência

Olhava-te... Tão bela deusa pálida...
Na aldeia morta, triste sem sentido.
Meus braços procurando-te, estás cálida,
Deitada, mal percebes... Duvido

Que tenhas tantas luzes nos teus sonhos...
Os dias que virão trarão castelos...
As mãos calejarão-se nos rastelos
Quem dera acreditar dias risonhos!


Mas dormes, não consigo te esquecer...
Nas tuas transparências nem me notas.
Como, meu Deus, irei sobreviver...

Belos seios demonstra teu vestido...
Nossos mundos diversos, outras rotas...
Quem dera não tivesse conhecido!!!!

Estrambótica

Quando te percebi, tão estrambótica,
Pensei ter encontrado enfim, fantasma.
Quem sabe não seria ilusão d’ ótica?
Ou a terra s’abrindo um triste plasma.

Mas ao ver-te de perto não me engano.
O que me parecia fantasmal,
É por assim dizer um ser humano?
Embora parecesse um espectral

Ser, emergindo fétida, pântanos...
Nem que chovesse tétricos cântaros,
Não consigo chamar-te de querida.

És resto do que fora triste vida;
Hálito sulfuroso queres beijo...
Incrivelmente insano: te desejo!

Mãos

Minhas mãos percorrendo teus cabelos...
A boca aberta... Anseios se procuram...
Sementes que lançamos... Nos novelos
Das línguas mais ferozes se torturam...

Procuro por teus dentes, quero tê-los
Mordiscando... Delírios loucos curam...
Morena tez, serena fez vivê-los
Na fantasia louca se emolduram!

Minhas mãos dedilhando são macias,
Nas noites que brindamos, tão vadias...
Montanhas que escalamos toda noite...

Os beijos delirantes são açoites.
Os portos que naufragam nossos barcos.
As mãos a penetrar todos os arcos!

Anarquia

Quando te conheci eu não sabia,
Nem passava sequer um pensamento,
Um amor tresloucado uma anarquia,
Na nossa tempestade sobra o vento...

Mas, no fundo, bem sabes que este tormento
Esbarra na tristonha noite fria.
Quando juntos, unidos num momento,
Sabemos praticar democracia!

As invenções, amores se completam,
Os turbilhões, devoram-se, vorazes...
Democraticamente vão se injetam.

Nem desconfiam, loucos e audazes,
Que descobrimos... Manso, lasso terno,
O mais completo tipo de governo!

Afrodisíaco

Nosso amor assim paradisíaco,
Não descansa nem pode descansar...
As noites a rolar, afrodisíaco,
Afrodite não cansa de dançar...

Amor espúrio, sexo e caneladas!
As luas sem pecados, voyeuristas;
Não deixam de luzir as madrugadas,
Aplaudem, invejosas, dois artistas!

Nas orgias satúrnicas, bacantes...
A noite velha atriz, nos dá cometas...
As bocas se percorrem, delirantes.

Misturam tantos dedos, pernas, tetas...
Nosso amor, nas ternuras e delícias...
Nos desejos atrozes de carícias!

Amor Esquizofrênico

Este amor que me deste, esquizofrênico,
Às vezes distraído, outras vulcânico,
Nas tuas variantes, pensei cênico.
Quantas vezes traduzo assim, tetânico!

Este amor que se fez mais paranóico,
Quantas vezes machuca-me platônico...
Muitas vezes preciso ser estóico,
Outras, inerte, sinto estar atônico...

Este amor pedregulho sem falácias...
Sangue se anemiando sem hemácias...
Riso solto, meu risco sem esperas...

Um amor mentiroso que temperas...
Esquizóides maneiras de se amar.
Te tenho, não me tens, onde parar?

Minha Alma Vai Perdida

Minha alma, embalde, passa, vai perdida!
Não permita tristezas nem vinganças...
Das voltas que passei sem despedida,
As cordas que cortei das esperanças!

Na plantação dos sonhos, minha vida;
As flores não brotaram... Minhas lanças
Ultrapassam espaços. Já perdida,
A noite que busquei deixou lembranças.

Meu velho camarada não descanses...
A luta que se trava tem segredos.
Batalhas tem matizes, tem nuances,

Não se deixe enganar pelos teus medos...
As mãos que plantam tanto se calejam,
Por amores insanos já pelejam!

Desperta Minha Amada

Meu mundo mais silente e sem teu viço.
Num momento, perdeu o seu sentido.
Espinhos carregando qual ouriço,
Às portas da saudade, deste olvido.

Quem fora tão pudico, tão castiço,
Morreu sem nem saber, mais destruído.
A vida derrubando esse caniço,
A sorte não legava, distraído...

Me deste então sentido, mas sem rumo...
Desfazes todo leito em que descansas.
Nas vezes que tentei não me acostumo...

Desperta minha amada, temos danças!
Ao redor, maravilhas se deslindam...
As horas que sofri, lá fora, findam...

Funeral das Esperanças

Não temo o funeral dessa esperança...
Caminho transbordando meus enfados
Os dias já mataram tal criança,
Sem bosques, campos, perco os belos prados.

Quem me pedia estranha temperança
Prefere perceber seres alados.
Nos salões onde, louca, finges dança,
Meus olhos se fechando, enfim, cansados.

Anda, levante tuas mãos sangrentas!
Não tente sepultar as minhas tardes.
As formas de viver já não enfrentas.

Nas luas que queimaram, já não ardes.
Os olhos empapuças com mentiras.
Nas ondas deste mar, já não me atiras!

Friday, September 22, 2006

Noite dos Amores

Meus olhos decifrando teus problemas,
Decoro minhas tendas com mentiras.
As ruas que iluminas, velhos temas.
As cancerosas bocas que me atiras.

Nas melindrosas luas, meus poemas.
As trevas que me deste, velhas tiras.
Nos medos que segredas torpes lemas.
Nos teus tantos dilemas já me estiras...

Adormecido nas guerras que me fazes,
Iluminando o brilho do meu túmulo.
As vezes que fingiste surdas pazes.

O começo e final, tu és o cúmulo!
As forças que roubaste fazem falta.
A noite dos amores, dorme incauta!

Decadência II

A decadência bate em minha porta...
Não me restam pernas ando cego.
Minha esperança luta, mas vai morta.
As dores do passado inda carrego.

Os tempos já são outros... Quem se importa?
As mãos já calejadas, nenhum prego.
O resto que desaba, sangra, corta...
As lutas que perdi, embalde, nego!

A decadência serve-se do resto,
Não tenho a lucidez para enfrentar
A morte. Companheira a quem empresto

O que sobrou dos raios do luar!
A mão vai descrevendo um simples gesto,
Coragem necessito: me matar!

Medo de Morrer

Olhando meu passado, hoje percebo.
Como pude mudar tão de repente?
Não posso nem pensar como concebo,
Quem fora mais feliz, vai simplesmente...

A morte bafejando me desmente,
Quem outrora já fora bel mancebo,
A pele se desmancha, um velho sebo.
Jogado às traças, morte está presente...

Não quero decifrar nenhuma esfinge.
Parábolas criadas não as temo.
A boca que hoje beijo, mente, finge.

Meu barco naufragado não tem remo...
A dor de não saber já vem, me atinge...
Com medo de morrer, então eu tremo!

Zombar do Amor

Quem zombava do amor, agora chora!
A vida tem perpétuas nuances...
Olhando assim de banda, tais relances,
Balançam derrubando tudo agora!

Quem zombava, jamais perdeu as chances
De sentir que essa vida nova aflora.
A vida repetindo velhos lances,
Quem diz nunca amaria, vai-se embora!

As lágrimas que vertes são piadas,
Contadas num passado inda recente...
As noites mal dormidas, soluçadas...

Verdades doloridas pra quem mente...
As grutas que negaste, nas estradas
Defloram, te penetram docemente!
Nas minhas hemorrágicas saudades,
Nas minhas verborrágicas canções.
As noites foram trágicas verdades.
As dores deram túrgidas sanções...

Ascensão e declínio, veleidades...
Nas manhãs um fascínio, soluções!
Meu amor longilíneo, tantas tardes...
Mas conheci declínio sem perdoes!

Essa penumbra histórica me seduz,
Toda minha retórica desfaz...
A minha dor teórica reluz...

Nos olhos teu martírio já me traz
A porta do delírio que não nego.
Esperanças dos lírios que carrego!

Lendas

Percorrendo teus vértices, natura,
Encontrei as tais sombras que perdi!
Reparei criador e criatura,
No mesmo instante, morte conheci!

Quem fingia viver doce candura,
Me lambia, dizia: Estou aqui!
Serpente disfarçada de brandura.
Em fatais sortilégios eu cai!

Agora, agonizante caminheiro,
As cruzes que me deixas me penetram!
Os sonhos que jamais pensei adentram,

Deixando suas marcas e remendas...
Quem sempre parecera verdadeiro.
No fundo não passou de simples lendas!

Extrato

A vida chega, sangra sem perdão.
Dilacerando todo triste sonho...
Nada mais rutilando, sou o não.
O resto desse barco tão medonho!

Cicatrizes abertas, podridão!
Fraturam minhas pernas.... Me exponho!
Em cada novo verso minha aversão;
Extraída por fórceps. Bisonho...

Nada mais restaria, simples parto...
Abortei das entranhas meu futuro!
De torpes cantilenas já me farto...

Perambulo vielas, salto o muro...
Acaricio vermes. Me procuro
E me encontro, jogado, resto, extrato!

Desdém

Por que me desdenhaste se te quis?
Nunca mais me deixaste, pensamento...
Quem me dera pudesse ser feliz.
A vida não seria sofrimento...

Tento escapar...Atiras... Qual perdiz
Ferida, me levanto. Caio... Tento...
Em vão... Tu conseguiste... Que fiz?
Destino não permite mais invento...

Por que me desdenhaste tanto assim.
A noite tenebrosa cai em mim.
Os olhos lacrimejo num delírio...

Os clarins vão tocando seu dobrado...
Amor que me deixou desesperado.
A vida deixará o seu martírio!

Vida

Tantos medos, sem te ter... És salvadora!
Essa porta entreaberta, a da saudade,
Permite adivinhar a mocidade
Esquecida num canto, redentora!

Não mais te esquecerei, jamais se fora
Quem me riscou os olhos, realidade!
A vida essa poeta e escritora,
Descreve seu lindo arco... Quem há de

Negar a sua força desmedida.
Caçar os teus destinos minha amada...
Verter os meus sentidos, incontida

Fera, que não me pede e perde nada...
Sem teus manejos, perco rumo e estrada.
Que seria de mim sem ti, ó vida!

Cura e Dor

Cadeias da tristeza, me livraste...
Deixando meus pés livres para a vida...
Das dores infinitas, me abjuraste.
Deixando essa mãos livres... Esquecida

Da proteção divina, me negaste...
Então mãos e pés, trazem despedida.
Quebraste sem saber toda fina haste
Que mantinha meus pés. Foste bandida!

Cadeias de tristezas, teu legado...
Preâmbulos mortais, velhas cantigas...
Um coração que fora apaixonado

Percebe velhas dores, tão antigas...
Um coração que bate, vai de lado...
Te imploro, vou tristonho, mas nem ligas!

Embriagado

Acaricio o corpo de quem amo...
Devagarzinho, manso, bem suave...
A voz macia, leve já te chamo
Para a vida, voarmos nossa nave.

Ao não te ver depois, então reclamo.
Não permitindo mais nenhum entrave,
O medo de perder-te. Nele inflamo.
Retirar de teus olhos triste trave...

O corpo de quem amo, acaricio...
Suave noite cai, trazendo ardor...
Em todos os momentos deste cio,

Amo-te demais; fina e bela flor!
Amar-te é droga, nela me vicio...
Embriagado, vivo desse amor!

Sonhos da Natureza

A natureza envolve-se em teus braços.
Adormece silente, tal beleza...
Dormindo calmamente teus abraços,
Esquece-se profana da tristeza!

Natureza adormecida, nos seus traços,
A vida se refaz bela certeza!
Os olhos que choravam, tristes baços,
Abertos, enamoram...Natureza...

Vindo o cheiro da terra que se molha,
Percebendo a meiguice, ser amada.
Acordando, tão mansa, pra tudo olha.

Procura teu sorriso, não vê nada!
A chuva caindo lágrimas, implora!
A natureza, entristece-se, chora!

Motivas

Motivas o soneto que hoje faço.
Manso, doce, pacífico, cru...
Tropeço, mergulhando me embaraço.
Desejo simplesmente o corpo nu.

Amada quero a boca, forte laço.
A rosa apodrecida, um abaju
Aceso, descobrindo meu cansaço.
Novas asas partidas, seminu...

Amor traga paixões e despedidas...
Estragando as cantigas, solidão...
Nossas portas fechadas, divididas...

As noites que enluaram o sertão...
Motivas meus sonetos, fomos vidas.
Destrambelhado bate o coração!

Teus Rastros

Procuro por teus rastros na campina...
A noite inteira, busco essas pegadas...
A lua, companheira me ilumina.
As horas que passei, nas madrugadas,

Nesta busca, beleza descortina...
Te quero, mais que tudo... São aladas
As velhas esperanças. Na menina
Que procuro, as ternuras encantadas!!

Procuro por teus passos, não os vejo!
Ao longe, vai tocando um realejo...
Um verde passarinho, da esperança,

Me mostra teu caminho, uma criança
Que aprendi tão risonho tanto amar!
Teus rastros encontrei. Vão dar no mar!

Fonte dos Desejos

Minha vida, que fora tão perdida,
Ao encontrar-te, livre como o vento.
Deixou a dor fatal na despedida,
E renasceu, matando o sofrimento!

Não quero mais viver tua partida,
Nem deixo suplantar-me tal tormento.
A solidão se encontra adormecida.
Saudade não deixou nem um lamento!

Te quero, amada, minha luz e glória!
A vida não repete velha história.
Quero ser teu eterno colibri.

Amo-te, bem sei, desde que nasci!
Eu encontrei em ti, deusa vivente,
A fonte dos desejos permanente!

Quem me dera...

Quem me dera conter tua saudade!
Quem me dera saber de teus desejos!
A vida não traria realidade
Na fantasia louca de teus beijos...

O dia nos pintando os azulejos
De fina cor mais viva, claridade!
A lua nos cedendo seus cortejos.
A paz dominaria humanidade!

Quem me dera saber de teus caminhos.
Viajando por espaços, passarinhos...
Navegando teu cansaço depois...

Nos mergulhos divinos de nós dois...
Meus sonhos e delírios de menino...
Vivendo até morrer num desatino!

Maior Amor

Não há maior amor, nem mais profundo...
Estrelas vão caindo, nos invejam.
De todos vários cantos, desse mundo.
Pérolas, esmeraldas te cravejam...

De ternuras, paixões, logo me inundo.
Telúricas manhãs já te desejam...
Nos cálices das flores eu vou fundo.
Belos azuis celestes se azulejam...

Não há maior amor, nem mesmo almejo...
Nas esperanças deixo meu barco ir...
Das ondas de teu mar, quero sentir,

As centelhas que brilham mal te beijo...
Não há maior amor, nem vou pedir...
Estrelas testemunham meu desejo.

Ansiada Manhã

Minhas lágrimas caem, são mendigas...
Imploram por teu beijo e tua boca.
As flores que murchamos, são antigas,
A vida que passamos, deixas louca!

Nos caminhos plantaste urzes, urtigas.
Minha voz, de implorar, ficando rouca.
Marinheiro, naufrágios, mas nem ligas.
Restou de tanta luta, luz bem pouca...

A minha namorada, minha amada,
Nas portas d’ilusão, perco meu mar...
Não espero teus ninhos, braços, nada...

Teus caminhos perderam-se... Amar...
Abra teus braços, dê-me esta ansiada
Manhã. Não me canso de esperar!

Negaste a Primavera...

Quando, enfim, me negaste a primavera,
A vida me sorria desdentada!
Não temia naufrágios, nem quimera,
Os meus dias sonhavam madrugada...

Mas vieste e roubaste, cruel fera,
As cores que pintavam deram nada.
As flores que teimavam, numa espera,
Morreram ao sentir tal invernada...

Nossa vida foi barco sem sentido,
Nossos olhos chorando na partida...
Nem posso lamentar tempo perdido.

Nem quero descobrir a nova vida...
Amor que se partiu, foi dividido.
Nada restou, senão a despedida!

Tarde Triste

Essa tarde caindo me entristece...
As nuvens decorando o entardecer...
Te peço, te implorando numa prece ,
Não me deixes jamais, melhor morrer!

Amada, mulher linda, não confesse
Teus pecados nem diga mais porque,
A noite que aproxima não merece...
Essa dor que se emana sem saber...

Capoeiras, sertões, as esperanças...
Trazendo minhas mansas ansiedades...
As forças naturais, nas velhas danças;

As portas se fechando, impropriedades.
Sequer te percebendo, vens, avanças...
A tarde vem caindo, traz saudades!!

E Agora?

Amiga, me trouxeste essa amargura.
Tristezas e saudades me roubaste...
Nas horas que passei, a vida escura,
Meus beijos sem malícias, me levaste...

A vida se passava sem ternura...
Num átimo num lúdico contraste,
Cobriste minha vida, vida dura.
Fizeste dessas dores, ledos trastes...

Amiga, que farei sem poesia?
Não deixaste sequer um só tormento.
Acabaste com todo sofrimento.

Minha vida morreu, sem fantasia...
Baios, os meus cavalos, num momento...
Cavalgam tua bela melodia!

Noite Atroz

Noite trazendo mágoas, não aguarda
Pela alvorada, passa muito lenta...
Serpenteia maltrata, pesa, enfarda,
A dor arrebanhando, violenta...

Noite cruel, vilã, u’a noite parda.
Nem o vento me acalma,nem alenta.
A noite vai passando, a manhã tarda!
Onda que nos penhascos se arrebenta!

Estropiado, morto, fatigado;
Arrasto meus chinelos pela casa...
Saudades e rancores, tudo arrasa!

Meu canto ecoa, vai desesperado!
Pisando tão sedento, dura brasa...
A noite se arrastando e eu parado...

Canto da Morte

Escutava o teu canto, longas noites...
Não te via nem sabia evidências...
Redondezas soavam estridências...
Penetrantes, ardentes feito açoites...

Não queria, mas vinhas,vis pernoites,
A cada instante mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...

Nada mais me restou, um nada ambulante...
Os meus dedos, cortados em teus dentes.
Do que me sobra, andando mendicante,

Farrapos me seguiram tão dementes!
Sem amanhãs, vazios adiante...
Pelo resto da noite, penitentes...

Companheira

A morte me sorria, linda, loura...
Estava angustiado à sua espera!
Meu tempo de viver cedo se estoura,
Não quero perceber sequer a fera...,

Esperava-te, morte redentora!
Perambulava à beira da cratera,
Vulcânica cratera, salvadora!
Da vida, chave d’ouro que tempera...

Nas minhas derrocadas, das batalhas,
Foste esperança trágica vitória!
Repousar meus defeitos, minhas falhas,

Na tua boca amiga, minha glória!
A morte, companheira mais fiel,
Vem, fechando as porteiras do bordel!

Pesadelos

Eu espero os delírios tresloucados
Dos noturnos flagelos... Noite escorre
Pelos dedos... Ouvindo os gritos dados,
Soltos pela altivez que me percorre;

Penso nos meus tormentos desgraçados!
Esperança insensata, porque morre?
Uns restos de tentáculos alados,
Meus pesadelos, nada me socorre!

Rebeliões gigantes, amazônicas...
Centelhas deflagradas dos meus sonhos
Fulguram paralíticas, atônicas...

Nesses redemoinhos mais medonhos,
Os meus delírios, chagas, mais risonhos,
São explosivos, loucos atômicos!

Thursday, September 21, 2006

Versos Mórbidos

Nestes meus versos mórbidos, nefastos,
Um resto de esperança apodrecendo..
Os vermes me passeiam, seus repastos,
Solitário vivi, mal percebendo

Teu afago funéreo, teus emplastos...
Se à sombra das angústias, vou vivendo.
Se a sorte me negou caminhos castos.
A vida vai nefasta me envolvendo...

Ri-se fantasmagórica miragem.
Espelhas meus fatídicos amores...
De tudo que passei, sequer imagem...

Os restos que sobraram vertem dores...
Da lama que me cobre, brotam flores.
As flores que apodreces, fina aragem...

Diamantinas Alvoradas

As cinzas que emanavam dos meus dias,
Criando tempestades sem descanso.
As rondas que faziam poesias
Meu rio procurando seu remanso...

As farpas que me deste, ventanias
Os píncaros sublimes não alcanço.
Não quero mais Renatas nem Marias...
Apenas restos sobram, então danço!

Minhas diamantinas alvoradas
Mentiram semelhanças e defeitos.
Carruagens divinas são levadas

Pelos corcéis velozes... Seus feitos
Espelharam as lendas e as fadas...
Os dias pareciam tão perfeitos!

Velhice

A velhice batendo em minha porta,
Trazendo as tempestades invernais...
A boca que beijava anda mais torta,
As pernas já não dançam carnavais.

O que fora vital, já não me importa.
As horas já não passam, voam mais.
A faca desdentada já não corta.
Os olhos que choravam pedem paz...

A velhice não deixa um só momento...
Não permite sequer esquecimento.
Representa fantásticas nevascas.

Da pele diferenças velhas cascas...
Aprendendo depressa a ter perdão.
Peço: Não envelheça o coração!

Rosas Murchas

As rosas que me destes já murcharam...
Crisântemos perdidos no jardim...
As horas que se foram não deixaram
Hortênsias, lírios, palmas nem jasmim...

Perfumes se perderam, não voltaram.
Adornos que plantaste, foram fim...
Nos campos nem certezas enluaram,
Tantos nãos ouvi, nunca mais um sim...

Mergulhei insensato, sem temor...
Velhas rosas murchadas sem alento...
Ressequidas torradas por calor

Excessivo, queimadas pelo vento...
As rosas vão mostrar o esquecimento.
Qual rosas que morreram, nosso amor!

Naufragando

Naufragando essa vida, num contexto,
Procuro por tais flechas que m’atiras...
Não quero mais saber de teu pretexto.
Nem quero conviver com tais mentiras.

Anos passam, amores são bissextos,
Velhas matas cascatas rotas tiras...
Esquecendo palavras do meu texto,
Nas sanfonas dançavas nos catiras...

As vozes que se calam sabiás;
As bocas que se beijam pedem paz.
Os olhos que se queimam nunca riem,

Impedem os que pensam vidas criem...
Não quero mais naufrágios da saudade...
Madrugaste tristezas falsidade...

Pedras

Das pedras insensíveis do caminho,
Dessas mansas ribeiras sem destino...
Não quero me encontrar jamais sozinho.
Nem quero mergulhar, ser assassino,

Cortar os pulsos, livre sem ter ninho,
As ondas me levaram, desatino...
Os portos que deixei, já me definho...
Vou de banda, pesado, torto, esquino...

Misturando essas dores com prazer,
Vivendo simplesmente por viver...
Não quero combater minhas tristezas,

Nem quero mergulhar nessas represas,
Onde escondes fatal impaciência.
Amar é destruir toda ciência!

Lua Sertaneja

Quem me dera ser lua sertaneja,
Iluminando as grotas da saudade.
Cariciando a mão que se caleja
Nas dores que disfarçam vaidade...

Beijando tão sutil quem se deseja,
Fazendo amor santa liberdade.
As falas já contidas, bela, arqueja...
Roubar dos verdes olhos, claridade...

Quem me dera nascer no plenilúnio.
Não caberia nunca mais esse infortúnio,
Nas carícias das fontes, matas, rios...

Iluminando cantos mais sombrios...
Quem me dera viver essa paixão,
Descansar os meus braços, ribeirão!

Dor Libertária

O que me invade, queima, arde traz luz,
Não me deixou jamais perder o canto.
As bodas entranhadas, minha cruz.
As cordas esquecidas, fino pranto.

Não quero nas esquinas um Jesus,
Já existe um mendigo e seu espanto.
Não quero a casa escura. Jorra pus
Das feridas rasgadas no teu manto...

Uma mortalha assaz fendida, pútrida.
A certeza voraz nova, antipútrida.
Nas esquinas que formam essa rua,

Vertentes solitárias, solidárias...
A tarde enlanguescida anda mais nua...
A dor que nos invade, libertária!

Força do Desejo

A força do desejo pulsa forte...
Cabe-nos simplesmente não temer.
A boca escancarada se é da morte,
Não deveria nunca mais comer...

Pelas ruas dos sonhos que se aporte
O novo, meus meninos, vão vencer!
Quem fora crueldade perca a sorte,
Que nunca mais respire um bem querer!

Nas margens violentas desses rios,
As canções abençoadas são hinos!
Não se permitam tétricos desvios.

Que a coragem de todos os meninos,
Seja a força maior. Seus desafios
Nos tragam novos dias, cristalinos!

Ocidental

Do lado ocidental, fétido lixo...
Das marcas das torturas sem sentido.
As trevas são restolhos, olho fixo.
A fome esmiuçada, sem partido..

O canto de teu povo, mais prolixo,
Traduz a velha forma dum olvido.
Nas paredes do peito, logo afixo
Cartaz, mensagem ,texto nunca lido!

Esqueço as canções, lutas e derrotas.
Destinos se cruzando, tontas rotas,
As vozes que te cantam se esmorecem...

Do lado acidental vidas padecem...
Esperanças transitam, novas, brotas...
Do lixo ocidental, as flores crescem!

Meus Leitos

Joguei todos os sonhos no estuário
Que percorre meus vales e montanhas...
As flores que colhi do mostruário,
Perfumam essas costas onde lanhas...

Não posso me livrar do teu cenário,
Nem posso achar amores nas entranhas.
Meu outubro ou outono passa hilário.
Carcomidos bastardos terços, banhas...

Quando partiste morto me deixaste!
Nas profundezas da alma, tais relíquias...
Nos dedos, dolorosas paroníquias...

Na vida que me roubas, mergulhaste.
Não quero conhecer os teus defeitos.
Somente irei dormir meus vários leitos...

Bocas Que Beijei

Nas bocas que beijei, um só veneno...
Na luz de um dia nasce meu amor!
As cordas que se cortam, sou pequeno.
Vou fazer faca, prata, luz e cor!

O brilho das mudanças, já te aceno.
Cabeças vão rolando meu torpor...
A dor sorrirá campos rios, fenos...
Não restará sementes nem calor...

Tanto sal escorrendo meu trabalho...
Venenos nas bocas que beijei.
As horas sem verdades que passei,

Temperam meus martírios, al dente, alho...
Amores que neguei num ato falho...
Nas bocas que beijei, nunca fui rei!

Meu Canto

Corro a te encontrar, triste como o vento...
As tortas caminhadas, céu de prata.
Perfazem meu telúrico lamento...
As flores se perderam, minha mata...

O pranto perseguindo novo invento,
As várias compleições dessa cascata.
Não quero saber pátria, me apascento...
Não tenho mais sustento nem bravata...

Todo meu canto, faca, enxada e foice,
Perdido navegante sem ter praia.
As hóstias engolidas, tudo foi-se,

Restou tal solidão que já se espraia...
Venha depressa ouvir o trem chegando...
Corro a te encontrar, vou procurando...

Burguesia

Os ratos devoraram sensatez...
Nas retinas queimadas pela luz...
Os ratos mortos pedem sua vez,
A carcaça inebria... Me seduz.

Olores decompostos, pequenez,
Abro a boca, escancaro velha cruz...
Nauseabundos seus beijos, mal me fez...
Os ratos devorando um avestruz...

Nas salas, nos meus quartos, meu sofá,
Roedores vorazes fazem festa...
Procurando carniça chegam lá.

As portas não resistem, abrem fresta.
A lua escancarada trava já
Os ratos devorando, pouco resta...

Ratos

As noites que passamos soluçantes...
As cordas do meu pinho te espreitavam.
As vozes que pedimos dois amantes...
Dormiam nas cadeiras nem chegavam...

Nas mortes que mordemos elegantes..
Fruteiras e morteiros misturavam...
As noites que salvamos mais dançantes
Mergulham nos passantes que se amavam...

Estrela que perdi, numa esplanada,
Vagueia poesia pelos bosques...
As frases se jogavam nos quiosques.

As fotos amarelas dizem nada...
Os ratos que comeram almanaques,
Nas nossas festas usam velhos fraques...

Violinos

Ouço, distantes, belos violinos...
Seus sons invadem toda minha vida..
Recordando meus velhos tempos... Hinos
Cantados por suaves vozes... Lida

Diária em busca de límpidos destinos.
A morte não deixou de ser sentida
Companheira fiel, meus desatinos...
Vida longa, arrastando a mão perdida...

Quem dera, violino, não parasses...
As cordas que traduzem fantasias.
Casas iluminadas, meus disfarces

Se escondem nas esquinas e nos dias...
Meu amor, por favor, nossos enlaces
Se repetem ao som das melodias...

Estrofes

Nas estrofes que tento, meu tempo urge.
Marcas de tuas patas não saíram...
Os dentes antes fortes, já caíram,
Antes o sempre bravo já nem turge.

Vai solitariamente, a dor ressurge...
As aves que voavam, descaíram,
Os tempos que sonhara já se expiram...
Da poeira noturna nem luz surge!

Nas estrofes que tento, nada faço.
Não tenho mais canção nem serenata.
A mão que acaricia me maltrata.

O resto que deixei, forjou abraço...
O rosto que t’amei nem ouro ou prata.
A noite vai vencendo meu cansaço!

Dança Delirante

Dançavas delirante, era um dantesco
Espetáculo dado por teus passos...
Nas salas, telas raras, um afresco...
Os medos segredavam seus compassos...

Pergaminhos escritos, arabesco.
Nossos vasos quebrados... Velhos paços
Festivos; nos coretos, um ar fresco

Mentindo nossas dores sem remédio...
O tempo decorando todo tédio,
Os olhos esquecidos pedem óculos.

Nas bocas doidivanas, meus ósculos,
Nos templos bacantes minha fome.
Dançavas delirante, a noite some...

Oligarquia

Nas festas que sangramos, dois convivas.
Nas orgias bacantes sem saveiros...
As carnes que cortamos, foram vivas,
Os olhos que comemos, costumeiros...

As pernas amputadas mais altivas,
Os medos que mordemos brasileiros...
As podres madrugadas tão passivas.
Os penhascos saltamos, verdadeiros...

Nesta festa dançavam velhos ogros,
Devoravam crianças sempre rindo...
Mortos mães, pais seus filhos e seus sogros,

A porta da desgraça sempre abrindo..
Os restos da família dei aos cães.
Repartindo, solícito, tais pães!

Noites Solitárias

Nas noites solitárias, ouço vozes.
Solidárias repetem meus lamentos...
Percebo teus olhares mais ferozes.
Não me deixam sozinho sem tormentos...

Nem quero nos meus barcos albatrozes.
Repetem, escondidas pelos ventos,
Os sons que me dizias mais atrozes.
As alegrias cátedras, fermentos

Dos meus sonhos, felizes companheiros...
Meu caminho é de pedra, sem esperas...
Os meus olhos perdidos nos canteiros.

Nas bonanças sem luta, guardam feras.
Nos momentos melhores, meus braseiros
Das noite solitárias, vis crateras!

Canoeiro

O velho canoeiro busca o mar...
Já sabe todas lendas, das sereias.
Conhece melodia pra cantar.
Descreve seus castelos nas areias.

Constelações são livros... Estudar
As fases, velha lua. Suas veias
Levam sal e saudades. Navegar...
Reconhece qualquer dor, suas teias...


Romarias marinhas, os naufrágios...
Bancarrotas, riquezas e mentiras.
Roupas rotas, os vinhos e presságios.

As rotas sem destino ao mar, atiras...
Nos olhos, seus amores são pelágios...
As correntes marinhas, suas liras...

Sentinela

A dor que me procura sempre estava
Escondida na boca que eu beijei.
Sentinela perdido me enlutava
Das saudades deixadas, falso rei...

O tempo levará toda essa lei
Que não permite sonhos nem os lava...
Nos vulcânicos dias me encontrei,
Escorrem pelos olhos calor, lava...

A despedida feita neste portal,
A amargura da vida, velho sal...
Os restos das fronteiras que não vi.

Os amores fatais que, sei, perdi...
Todas rosas mais belas do rosal.
As flores dos amores que esqueci...

Minas

Do sertão das Gerais trago a saudade,
Fazendo madrigais, cantando a lua...
Na luminosidade, claridade...
Nas trovas a violência nunca atua...

Os portos mineiros na verdade
São lacustres, reinantes... Andas nua,
Tão nua quanto o vento... Veleidade...
A noite com saudade compactua...

Do sertão dessas Minas, meu tesouro...
Da cabocla serena, sem malícia,
Das bocas abertas, da carícia,

Minhas Minas Gerais forjam meu ouro...
Nas dores das montanhas, touro e couro...
A vida apresentando essa delícia...

Cunhã

Minhas noites seriam mais insanas,
Na turbulência giram meus sentidos.
As mãos que te carregam são profanas,
As noites que vivemos seus olvidos...

Perdidas, minhas lutas... Já te enganas,
Nos portais tristes, álgicos, colhidos...
Sempre me restariam as baganas.
Amantes sentimentos esculpidos...

No azimute, no zênite, n’espaço...
Nas alvas tumulares da manhã;
Descansarei sedento o meu cansaço.

Jamais desistirei dessa cunhã,
Adormecida, lassa no meu braço...
Amada desde sempre, cunhantã!

Correnteza

Quando buscavas, déspota sem par,
As horas mais nefastas, solidão...
Nos restos putrefatos desse chão
Buscavas fantasias sem luar...

Decomposto vazio coração
Tentava sobrevida. Sem parar
Completamente, linda podridão
Balançando as mãos fétidas, meu ar!

Tentei a boca amarga da saudade...
Não pude esculpir lástimas nem frio...
Perpetuo essa minha realidade,

Em tais ondas sinérgicas, vazio...
Quem me fora respaldo, nulidade...
A bela correnteza, leva o rio...

Sacrário

Imagem guardada num sacrário.
Absorvo meus estranhos sentimentos....
As pontas deste velho relicário
Transportam mais perenes meus momentos...

Não quero guardar mais o meu sudário,
As ondas se permitem movimentos.
Amores caudalosos n’ estuário
Que recebem, remanso, pensamentos...

Imagem reluzindo na visagem;
Espera refletir no grande céu,
As cores que coraram meu corcel.

As fontes vão roubando esta estalagem;
Corrompem os meus sonhos, sem cartel,
Amores nunca foram u’a bobagem!

Wednesday, September 20, 2006

Se não quisesses luzes nem manhãs

Se não quisesses luzes nem manhãs,
Não devias mentir tais sentimentos
As lutas se vencendo nos momentos
Mais cruéis onde estavas, seus afãs...

As perdas são talvez os meus tormentos.
Nas horas mais febris sem amanhãs.
Rondando minhas lutas, bravos ventos,
As pedras se tornaram as vilãs...

Queria receber os teus carinhos,
Mas não me deixarias viver só.
Quem fora viajante vai sem ninhos.

A vida nunca mais daria dó,
As perdas de quem fora tão sozinho.
A vida me negou seu pão de ló...

Sonhos Tristonhos

Não me permito mais tais devaneios...
As orcas vão tentando me morder...
Não quero nem pretendo ter receios,
Seria bem melhor então morrer.

Não quero me esquecer seus lindos seios,
Nem quero de você me desprender.
Nas horas que senti serem alheios
Os olhos que, por eles, tento ler,

Perdi meu rumo, meta e poesia,
Nas bordas do que fui sem fantasia,
Vencido pelos olhos da vingança.

Crescendo sem poder ter esperança
As horas vão passando como o dia...
De resto me sobrou uma criança...

A criança que fui quebrou os sonhos.
A dor que me restou, mares medonhos,
Amor nunca passou sonhos tristonhos...

À bordo

Tu tens a maciez duma saudade,
As cores que te forjam não esqueço...
As dores que me deste, liberdade.
O teu amor bem sei, eu não mereço!

Espero que me tragas, num tropeço,
O que me restará felicidade.
Não sei se sombreando teu começo,
Me reste qualquer uma qualidade...

As tramas que tramei não te enganaram.
Os ossos que moeste nem sangraram...
Os beijos que me deste nem recordo...

Nas noites que sonâmbulo discordo,
Não traçam novos planos nem amparam...
Só te peço não me deixes a bordo...

Desatino

Jamais pensei perder os teus abraços...
A vida me negava tal hipótese.
Não quero nem pensar em nova prótese.
És feita na medida pros meus braços...

Meus passos definidos por tal órtese,
Não tenho medo, sigo sem cansaços...
Quebrados meus segredos, peço apótese,
Nas horas que vencestes, perco passos...

Não posso definir como te quero,
Apenas que te quero, eu me defino...
Das luzes que queimavam, eu espero,

As cores que causaram desatino...
Os medos me fizeram bicho, fero...
No fundo espero ser o teu menino...

Cordial Coração

Um tento, tanto tempo sem ter tempo
Tempestades temporais, têmporas e temperos...
As algozes são atrizes, meus deslizes minhas vozes...
As mentiras que me atiras são as tiras que me cortam.
As cordas que acordas são as côdeas do meu pão.
Nasço e faço meu abraço, meu cansaço e solução.
Soluço em vão nos teus braços,
Sou um verso sem canção.
Sou um urso sem disfarce.
Nada fácil vir comigo.
Meu perigo é constate.

Minha estante meu conserto,
Meu cometa perde cauda.
Meu piano nunca teve...
Ando sem saber se sou
O que vou por onde fui,
O mundo todo se rui,
Se ri desta balela,
A cela que me cabe
Não cala nem revela.
Se faca fosse fala
Esfaqueava Maria.
Não se ria, não seria séria sina.
Assas asas assassinas...
As partes que enfartas são fartas e falazes.
São capazes sem ter ases de alçarem altos vôos,
Alçapões e soluções.
Insalubres úberes santas.
As forças que me encantas
Nas fossas que me atiras
As piras que me queimas,
As teimas que me dás.
As hastes que ostentas,
Se tentas são tenazes.
Quero descobrir meu gesto,
Se me empresto ou não presto,
Prestativo pensativo, ativo penso
Nas moendas quero rendas e tendas.
Por favor vê se aprendes
Onde tenho e onde vedes se não vedes não verei...
Verdes olhos da mulata
A cor da mata
Acórdão.
Cardio,
Cordia,
Cordial
Coração!

Amei moça delicada

Amei moça delicada,
Não deu jeito, deu no pé
Nessa vida não sou nada,
Eu levo a vida na fé!

Meu amor bateu as asas

Meu amor bateu as asas,
Foi-se embora do sertão.
Os meus pés queimando brasas
Incendeia o coração!

Trovas

Eu sou colibri, querida,
Sempre vivo por amor.
A melhor coisa da vida
É viver beijando a flor...


Da roseira quero o espinho,
Pois todos querem flor.
Quem viveu sempre sozinho,
Não pretende ter amor...


Rita me levou saudade,
Acabou inspiração,
Vivendo felicidade,
O meu verso vai em vão!

Trovas

Quem me dera, passarinho,
Te encontrar na solidão;
Voltaria pro meu ninho,
Salvaria o coração!

Te busquei nesta saudade,
Procurei por teu abraço,
Se perdi a claridade,
Nos teus olhos eu me embaço!

Procurei felicidade
No canto do bem te vi
Encontrei a liberdade,
Foi então que te perdi...

Recomeço

Procurei as frases feitas, as festas e frestas...
A noite me nega um novo dia...
A poesia, a posse, o poço e o fosso, são fósseis.
As asas e os corcéis.
Os meus dias, mel e mal, mãe...
A trama desanda, a vida anda andor e dor. Condor!
Conforto e carinho, ninho e certidão.
Bodas, cordas, colas, compras, colméias...
Mesas, salas, copas, berços, filhos...
Ilhas filhas, milhas e milho. Manhas e manhãs...
Cãs, cães, chão, repouso e pouso, fossa e conversa.
Aço penetra, aço corta, corta a luz, a água, mágoa, penso
Pensão.
Parto, marte, morte, sorte ressurreição...
Natação, menino, hino, escola, cola, bola, fome e tráfego.
Moto, carro, escola, cola, estrada, fado, sina, tino, barba.
Namoro, filho, neto, remeto e não comento.
Espero e não desminto, belos velos, velozes os triciclos,
Os ciclos se refazem. Refazendo a fazenda, a velha lenda.
Cordas, pescoço, imensas prendas, velhas rendas,
Mentiras e verdades, sangue e corte.
Suor, andor,
Amor
Ar
A vida recomeçará.
Conforto e carinho, ninho e certidão....

Crematório

Meu cigarro aceso, penso e não revelo.
Atropelo meus medos.
Os dedos
As cinzas
As cinzas do cigarro.
As cinzas da noite
As cinzas esparsas.
As cinzas fumaça
As cinzas açoite.
As cinzas espalhadas.
Os ventos e as cinzas
Queimam corpo e alma!

Amores Vãos

Não quero falar de amores tontos,
Nem quero perceber quais foram os sonhos...
As madrugadas parecem mais risonhas,
Os meus dias são pétreos abandonos...
Queria navegar teu horizonte.
Da fonte dos desejos, uma moeda;
A mordaça cansaços e delírios.
As crisálidas que fomos não vingaram...
Quero o defeito de não ter solução,
Quero o direito de não ter mais meu fracasso.
Aço fraco, frascos, ascos e escusas...
As blusas abertas, o blues que tocas..
As tocas onde deixo meus degredos e segredos...
Meus medos, sutis medos, temerário...
Meu salário que recebo, um passo sem estrada...
Uma escada sem degraus. Um mar sem ter naus...
O caos absoluto...
Me enluto e não te esqueço. Tropeço, vou do avesso...
Me arremesso, não peço nem prossigo.
Se persigo não consigo consistência. A ciência
Da consciência esparsa, farsa...Belas taças
Jogadas num vago espaço...
Trago o aço da batalha, navalha, falhas e pecados...
Quero o acero da alma, a chama, acalma e tramas sem nexo...
Quero o frio gosto do rosto exposto sem rugas...
As rusgas as tropas e as trôpegas pegadas...
As pegas, os rogos, os lagos e barcos.
Arcos, areia, marcos, penteia a sereia os cabelos...
A morte não traíra nem traria uma traição.
Ação e coragem, aragem e sertão.
As serralhas e as fornalhas, acendidas.
As mãos descansadas, o peito aberto.
Meu medo completo, a nau, o sol...
Quero teu prazer e tua lei.
Quero poder ser teu rei
Quero o que não sei,
O seio, o veio,
O meio
Um mar
Distante mar,
Luz e luar, plenilúnio
Quero saber teu infortúnio.
Quero nada mais que minha sina.
Um frágil delírio, um vício, um principio.
Um banal gesto trazendo um desencontro louco,
As tarde sem Marina. Saudades fúteis e inúteis, fétidas...
Se ainda me quisesses não poderias dizer adeus...
Quem sabe os sonhos meus te trariam de novo.
O gosto amargo da saudade... Olhos tristes,
A vida resiste e não insiste, existe. Exige!
A face da esfinge se finge ágil e frágil.
As horas não passam, nem peço.
Meus passos, tropeço.
Me apresso
E não
Vou....

Nova Estrela

Quando vejo teu corpo divinal,
As tardes passam sempre mais felizes...
As dores esquecidas num bornal,
Escondem-se fugindo, más atrizes...
No teu rosto, manchetes de jornal,
As cores do universos, seus matizes...
Pergunto ao vento: Posso te encontrar?
Me respondendo, aponta pro luar!

Quando te percebi, voavas livre...
Meus olhos reflexivos, te buscaram.
De todas essas coisas que já tive,
As horas te esperando não passaram...
O amor que de teimoso, sobrevive,
Nasceu quando meus olhos te encontraram...
Voavas pelos céus qual fosse um anjo;
Na vida sempre quis o teu arranjo!

Fortuitas madrugadas, passo cego.
Na busca violenta e sem demora...
Os mares que não sei, nem os navego,
A vida me parece, vai embora...
Procuro e satisfaço, um atroz ego;
Minha alma, num suplício, vem e chora...
Os dedos que desfiam esse canto,
Acariciam t’a boca e teu manto!

Melindras meus amores com teu riso...
As forças da natura sempre invejam...
Pois quando ris, tão bela e sem aviso,
As tempestades loucas já trovejam.
Comemoram teus lábios tão precisos,
Amores mais divinos, pois, farejam...
Quem dera não tivesse mais tristezas.
Te traduzir beleza em fortalezas...

Foste íris, pupila, até retina...
Sem te ter, para que saber do mundo?
A luz que me irradias, cristalina,
O céu que te concebe é mais profundo...
Azulejas meus dias sem rotina,
De ternuras sem fim, então me inundo...
És maciez de pêssego querida.
As tuas mãos acalmam minha vida!!

As vagas estendendo os seus abraços,
Encontraram –te linda como a lua...
E rasgaram, ferozes, os espaços.
Sem saber que essa vida continua.
Então vens, apertando os velhos laços,
Uma deusa caminha pela rua...
Sempre serás, revives Afrodite,
Nova estrela brilhando no Zenite!

Nudez Fantástica

Tua nudez fantástica deslindas...
Me deixas transtornado, em ti flutuo...
As formas que me mostras, são tão lindas.
Eu que sempre fui uno, sonho duo...

Nos teus desejos, bela, as dores findas...
Ao te ver assim, queimas-me, então suo...
As noites que te busco são bem vindas,
Meus medos se esvaindo num recuo...

Tua nudez delira meu soneto.
A pele mais formosa, sem defeitos...
Mil versos em teu nome já cometo.

Procuro-te por cantos santos leitos...
Nos dias frios, tontos, me remeto
Quem dera mergulhar teus lindo peitos!

Morrer de amor?

Morrer de amor... Sentindo meu cansaço
Invadindo cruel, um coração...
Não pertencer sequer nenhum espaço.
Morrer de amor... Problema ou solução?

As buscas inauditas pelos traços
Deixados na maldita procissão
Dos erros cometidos. Os meus laços
Romperam, destruídos, podridão!

Morrer de amor, despesa sem proveito...
No pulso esquerdo sangue congelando...
Não quero nem me dás esse direito.

Amores sem respostas, meu defeito...
Um coração sequer se apaixonando...
Já zomba dos meus versos, gargalhando!

Moto Perpétuo

A vida se repete feito as ondas...
Solidão, sofrimento são constantes...
As mãos que se percebem como sondas,
Nos deixam sensações mais delirantes...

As horas que passamos são redondas,
Os dias que perdemos tarde ou antes...
Parecem os sorrisos de Giocondas;
Mistérios a rondar, estimulantes...

As ondas que te levam não me deixam.
Na solidão persisto meus desmaios.
Quem fora sempre rei, não tem lacaios.

Nunca mais saberei dos que se queixam;
Nem tampouco me importa tuas queixas...
Minhas rainhas d’hoje foram gueixas...

Celeste

Quando eu te encontro, subo aos céus sem asas...
Descrevo uma parábola celeste...
Celeste... No teu nome tantas brasas...
Tanto tempo distante e não vieste...

Tanto tempo perdido nessas casas,
Nas tristes casas, farsas sem Celeste...
Destruindo essas dores, tudo arrasas!
Pois elas são a roupa que me veste.

Desnudado, terei acaso lua?
Liberdades não vivem sem cativos.
O espelho ao mostrar a alma toda nua,

Pode –se quebrar... Nada resta então...
Liberdades, Celeste, mitos vivos;
Precisam, p’ra viver: escravidão!

Companheira Predileta

Minha dor, companheira predileta,
Volta e meia disfarça-se esperança.
Quando penso que não, a dor avança
Ressurge violenta e vem completa...

As noites que passei, bolero e dança,
Sem ela, minha amiga tão dileta;
Se foram... Nem ficaram na lembrança...
Sem ela não seria mais poeta!

A cúmplice constante nunca parte...
Resiste ao tempo, segue todos passos...
Fiel nunca abandona, fortes laços!

Não deixa de cumprir, com gênio e arte,
Meu destino feroz, Nem nos abraços,
A dor me deixa; nunca me reparte!

Simples Desencontro

Te conheci, por certo, em outras eras...
Andávamos dispersos pelo mundo.
Perdidos conhecendo tais quimeras
Que tornam nosso amor vagabundo...

Expostos, conhecemos tantas feras...
Turbilhão miserável, giramundo...
Nos palácios, mansões simples taperas,
Rodamos universos... Eu me inundo

Do destino cruel que nos separa.
A rosa que plantamos nos jardins,
Em outras terras surge, rosa rara...

Os anjos que escutamos, querubins...
As horas que passamos tristes fins.
Na noite que dormimos sós nevara!

Rasgar meu peito

Rasgar meu peito, expor meu sentimento;
E mostrar cada amor que tanto dói.
Levar meu barco livre do tormento
Da dor cruel que tanto me corrói...

Deixar assim, viver cada momento
Em paz; Profunda paz que se constrói
Com amores, jamais com meu lamento.
Rasgando o peito mostro quem destrói.

Uma mulher insana mais cruel.
Que fora minha estrela, mar e céu.
Andando nua pela sala aberta;

Vestida em minhas lágrimas, desperta.
Caminha bem solene sem paragem...
Fantasma que reflete minha imagem...

Couraça

Quando eu vejo a couraça que me dava
A impressão de ser forte, já quebrada.
A vida que alegrias me negava,
Num canto solitária, abandonada...

Minha alma transtornada, enfim nevava;
A dor que se mostrava disfarçada,
Tão calmamente vinha, aproximava...
Minha rosa dos ventos tresloucada.

A carne exposta, sangram os meus dentes.
A voz contida, quieto, nada falo...
Todos cantos que tento, são dementes.

A morte s’aproxima, dói o calo...
Os meus restos expostos sob couraça,
Meus ossos, os meus nervos u’a carcaça!

Castelos

Meus castelos tombados pelos ventos,
Meus passos desviados do caminho.
As pedras que trouxeram sentimentos,
Destruíram castelos, passarinhos...

Nas travessas saudosas sem tormentos,
A paz e a alegria foram ninhos...
Recebendo a visita, meus lamentos,
Meus castelos ruíram, pobrezinhos...

Quando durmo, sonhando com castelos;
Meus castelos, castelos meus, tão belos,
Minha noite parece enluarada!

As dores que se perdem nessa estrada,
Parecem nunca terem existido...
Eu piso nos castelos, distraído...

Réu Confesso

Sou o resto do nada; vou ao acaso...
Não tenho porto, pária sem parada...
Vivendo tão somente ledo ocaso.
U’a lâmpada queimada, sou o nada...

O meu tempo está vencido, o meu prazo...
Um resto de comida abandonada,
De todos sentimentos, o descaso...
Minha vida esquecida, vai jogada.

Não tenho mais verdades nem as sinto.
Qualquer coisa que diga, sei que minto;
Qualquer vida que tente, sem sucesso...

As ondas do mar sempre me desprezam...
De todos os delírios que de prezam,
Um vago nada. Simples réu confesso...

Sonhos de Amor

Pensei que fosses minha, até sonhei...
Dançavas a nudez dos meus desejos.
Teu corpo, mansamente, decorei
Em carícias, delícias, loucos beijos.

Pensei que poderia ser teu rei...
Me ensinavas seus cantos em solfejos;
Navegávamos mares que não sei.
Nesses belos pomares, frutas, queijos...

Um plenilúnio eterno, minha vida...
Em serenatas, lúdico serão...
A dor envergonhada, vai perdida...

Viver sem conhecer perdas, perdão.
Embalando em teus braços, fantasia...
Acordei solitário... Era ilusão!

Galope à Beira Mar

Não me peças perdão, não te darei...
As mágoas dominaram coração.
Fugiste nunca mais eu te encontrei.
Tua herança maldita, solidão!

Dores... Angústias... Pedras atirei
Nos lagos que pediam solução.
Nas ondas que formaram sua lei,
Jamais me retornaram um perdão!

As mágoas vão pesando no meu ar,
Não posso, simplesmente, respirar.
Quem dera se me desses um alento...

Perdido, procurando por um vento
Que me deixe voar... Meu sofrimento
Traduz-se num galope à beira mar...

As Lágrimas Refletem

As lágrimas refletem, cristalinas,
As dores que transitam pelo peito...
Tristezas, tantas vezes, descortinas;
Como é que posso estar mais satisfeito,

Se nas mágoas te perdes, alucinas...
Não esqueçamos nunca do direito
A tal felicidade. Nas esquinas,
Nas curvas do caminho, dá-se um jeito.

Mas não se perca amiga, a vida segue...
Os dias modificam com a brisa.
Não temas a dor, nunca mais a negue.

A morte não se apressa nem avisa.
A sorte é fugidia, então a pegue;
D’amores e saudades, se precisa...

Amizade

“Amigo é coisa pra se guardar”,
Protegendo de tantas intempéries,
Não importando a luta a se lutar.
Amigo é coisa rara. Nunca em séries...

Nas noites tenebrosas, sem luar;
Nas horas mais difíceis dessa vida,
Quando não há mais porto pra atracar.
Quando não há sequer uma saída!

Quando esta vida sangra sem perdão...
Quando a dor vem, penetra, maldade...
Quando estamos perdidos, solidão.

Quando estamos vagando na cidade.
Quando as portas se fecham... A amizade
Conhece as sete chaves, coração!

Tuesday, September 19, 2006

Poetas - Com Estrambote

Os bardos e poetas reunidos,
Buscavam solução definitiva.
As portas escondiam seus ouvidos,
A noite veio ver meio cativa...

A lua, embevecida, tão ativa,
Lembrava-se dos velhos tempos idos.
A musa, devagar, contemplativa.
Desmaia-se, perdendo seus sentidos...


Depois de tanta luta e discussão,
As horas foram todas debeladas...
Ditaram morte e vida ao coração.


As noites mais calientes e geladas.
Abriram e fecharam o portão,
Raiou o sol em plena madrugada.

São todos vendedores de ilusão!

As Massas

Amassarias massas fazes pão.
Minhas amassarias manipulam...
As fontes que fornalhas seu fogão,
As pontes que atravessas, estipulam...

As massas que, sofridas, vão ao chão,
Nas dores que conferes já pululam...
As portas que fechastes sem perdão,
Nas perdas que carpiram não ovulam...

Os termos que confesso são perdidos,
Os álibis que tive, distorcidos...
As massas que seguiram, multidão,

Os mártires já foram esquecidos...
As massas procurando por patrão,
Das massas manipulam coração...

Gomas Lacas

Restando solução, quero problema...
A vida nega tempo mas não ligo...
Quem sabe contornar o velho tema,
Não vive nem pretende ter perigo.

As letras que maltratas pedem trema,
Os olhos mais distantes não persigo.
Dos ouros que perdi, nem sei a gema...
Meus motes são medalhas, fino artigo.

As pranchas que alisam teus cabelos,
As hordas que venci foram novelos,
Nos cortes que sofri com finas facas...

As mortes que embarquei nas minhas barcas;
Arando toda a terra, meus rastelos,
As bocas já colei com gomas lacas...

A História de Dona Maria e seus Vestidos

Quem me dera pudesse transformar
Num inseto, talvez uma barata,
Só para, simplesmente, revelar,
Um mistério feroz que me maltrata...

Não consigo, sequer, imaginar,
A casa onde se esconde tal bravata
Guarda roupa que cabe sem pensar,
Profusão de vestidos em cascata...

Esse marido é tolo e não sabia,
Que sua pobre esposa escondia,
No closet coleção inigualável!

Centenas de vestidos... Espantável
A falta de cuidados da Maria,
Parece-me que a casa é ingovernável!

Rato Branco

Rato branco, baiano de nascença.
Nunca soube sequer se comportar...
Um doutor que não sabe que é doença,
Não podendo, de resto, consolar.

Não fala, simplesmente, sem ofensa;
Não sabe nem conhece luz solar.
Dos esgotos trazendo a recompensa,
Não brilha e jamais deixa brilhar...


Tristes tempos de gatos e de ratos...
Servil comia nesses mesmos pratos,
Onde o gatuno sempre se servia.

Não podia ver gato que lambia
As patas; com certeza ele sabia
Conviver muito bem com esses gatos.

Noites púmbleas

Nas noites que cantavam serenatas,
As bodas que fizeram tempestades,
As bocas que sangraram tão cordatas,
Nas horas que surgiram mocidades.

Nas fardas que mataram tolas matas
Dos fardos que levaram nas cidades.
Nos bardos que cantaram veleidades,
Cavalos que pisaram duras patas...

As noites que sangraram serenatas,
As bodas que fizemos nas cidades,
Nas horas que levaram veleidades,

Nas fardas que pisaram mocidades,
Cavalos destruíram nossas matas...
As bocas que matavam duras patas...

Fogo Fátuo

Caindo a noite, pântanos brilhando...
As almas subiriam para o espaço.
Azuis com as tristezas carregando,
Não deixam testemunhas nem um laço...

As horas enlutadas vão passando...
A solidão e o medo, meu cansaço...
As almas ao subirem, já deixando
A noite onde mergulho e me disfarço...

As luzes azuladas trazem medo.
A morte se refaz nesse segredo,
Quem são? Por quê? Ninguém responderá!

Mistérios d’existência ficam lá,
Nas almas que fugiram do degredo...
Meu amor, porventura, onde estará?

O Resto

Eu guardo as esperanças, mausoléu...
Adormeço as encostas do teu monte.
As asas alcancei, procuro o céu,
Nas linhas dessa mão, morre horizonte...

Reparto essas partículas ao léu.
Vasculho sem temor sequer que apronte
Meu barco naufragou era papel...
As farsas que montei, cabeça e fronte.

Pedidos de desculpas não me negue;
Não quero transportar minha saudade,
Montado em um cavalo, burro ou jegue.

As voltas que tracei, felicidade...
Nas portas do sertão ou da cidade.
O resto que o diabo, enfim, carregue!

Mundo Risonho

Que a ferida que deste não se inflame.
Que a dor da solidão não me persiga.
Que a morte distraída não me chame.
Que nunca mais se entorte a forte viga.

Que nunca mais me fira cruel flame.
Que sempre que se tente se consiga.
Que eu possa ser teu vero e doce estame.
Que nunca mais te esfreguem essa intriga.

Que a sorte que pensavas ser entrave
Não venha decepar teu lindo sonho.
Que a vida te permita porta e chave.

Os versos onde mostro, onde me exponho,
Não possam se perder da grande nave
Que o mundo seja sempre assim, risonho!

Erica

Nas estradas que passo, pela vida,
Meu passo, tantas vezes se claudica.
A morte vem em quando faz-se rica,
Um corte representa a despedida..

A boca desdentada vem provida
Dos venenos fatais que não se explica.
Pela rua que passo nasce erica,
Por quê? Não sei, pergunta a alma vencida.

Daninha já não deixa nem alento.
Vasculho pois porque que esse excremento,
Não deixa em paz quem pode caminhar!

Não quero nem talvez possa chegar,
Me permita meu Deus, um só momento,
Poder viver sem ter esse tormento!

Disforme

Meu rosto, qual meu peito, está disforme;
As rugas destruíram num repasto.
Nas lutas que sangrei, a vida dorme...
Não deixariam resto, rosto, rasto...

Com calma seguiria, num conforme,
As tropas que pastaram no meu pasto.
Nas horas que te tive, me desgasto,
Não quero que me digas nem me informe.

Teimosamente sigo na batalha;
Não quero mergulhar na tua praia,
Sem tempo p’ra saber da nova falha...

As tarjas cobrirão nossa gandaia.
Não venhas com palavra que te calha,
Levanta, sem pensar, a tua saia!

Fome e Provento

Quando te conheci era um cartuxo,
Vivia fielmente para Deus.
Vieste feito bala, num cartucho;
Rompendo, destruindo os sonhos meus...

Amor, tu és cruel, tu és um bruxo!
Meus olhos transfiguram-se em ateus.
As dores que me trazes, só por luxo,
Malditas; vão sangrando luz nos breus...

Vacilo, retornando cada passo.
As horas de delícia são fracasso;
Os tempos de partilha meu tormento.

As comunhões orgásticas, invento
Satânico que traz um forte laço!
Amor que me traz fome; traz provento!

Mágica

Quando percebi, foste simples mágica;
Não sabia que doías tanto assim...
Quando te encontrei, quase que letárgica,
Pensei que nada fosses para mim...

Depois, a vida calma fez-se trágica,
A sorte que pensei ser querubim,
Soprava dolorosa, cruel, álgica.
Quebrando as resistências , meu fortim...

Um algoz de mim mesmo qual verdugo;
Vasculhei nos meus restos procurando,
Motivos que me dessem sem refugo.

As forças que perdi não te encontrando...
Não restou quase nada, nem sabugo.
As portas do que fui, vão se fechando...

Carcaça

Viajando ao terreno das promessas,
Não posso me furtar a ver teu rosto.
Nas fontes que bebi, em todas essas,
Não sorvi senão dores e desgosto...

Erraste, bem sei, louca me confessas,
Mas nunca mais terei um novo agosto,
Vencidos os venenos, pra que pressas?
Rei morto vem trazendo um novo, posto!

Marta, cadê teus olhos? Não os vejo...
Minha porta entreaberta não disfarça;
Se foste rato, sempre fui o queijo.

A peça que se finda, velha farsa;
As noites que perdi, cego desejo,
Deixaram, tão somente, esta carcaça!

Borboleta

Me dás a sensação de tal brandura,
Que me ergues sutilmente pelos ares...
A noite transformada na ternura,
Ternura que se encontra nos luares...

Tuas mãos amicíssimas... Da dura
Realidade que queima meus altares,
A mansidão que trazes, tua alvura
Aumenta a sinonímia para amares...

Elfo, flutuas zéfiro me acalmas...
Nas janelas abertas dos amores;
Acaricias, plena, mãos e palmas.

Emanas tal perfume em minhas dores...
Não restam nem sequer meus tristes traumas,
Borboleta voando sobre as flores!

Haste

Meus dias se escorrendo preciosos,
Tateiam nesta busca mais sossego.
Nas portas que criei, pedindo arrego,
Peçonhas inoculas. Perigosos

Os sorrisos que trazes... Sempre nego
As cores que não tenho. Melindrosos,
Os caminhos sofríveis que navego.
Meus dias e meus dedos são nodosos!

Renasci dessas cinzas que sopraste.
A pátria que pariu m’abandonou.
As mortes que te dei, tu confrontaste;

E quase nada tive e me restou...
O vento sutilmente quebra as hastes ,
Essas hastes que ergueram quem amou!

Flor da madrugada

Não quero construir u’a fortaleza
Co’ as lágrimas que roubo de teu sono...
Nas portas que fechaste com destreza,
Abri como um ladrão, pensei ser dono

De tua delicada, grã, beleza
De resto, me deixaste no abandono!
Em matéria de fétida vileza,
Me julgavas assim ,como um patrono.

Na verdade, passeio pela vida,
Procurando um ponto de chegada
Nas bordas que me quedam, vã, sofrida;

A vida não permite quase nada!
A não ser a dor da despedida,
A não ser a flor da madrugada!

Cloasma

Do vértice, meu salto, sem vertigem...
Nos cumes altaneiros, cordilheiras,
As buscas destruíram paisagem...
Pertuitos que s’abriram nas ribeiras,

Por onde se adentraram, corredeiras,
As mostras do que fomos, u’a visagem!
Os medos enxovalham as bandeiras,
Os tédios retiraram toda aragem...

Nas pedras que carcomo sou voraz,
Nas lutas que derroto meu fantasma,
A boca que semeia Satanás,

É a mesma que devora sangue e plasma,
As tocas que aprofundo sem ter pás,
As marcas que deixei-te d’um cloasma!

Porões

Não estou preparado para a morte!
A boca escancarada espera o riso.
Nem quero provocar o teu sorriso,
Apenas não me deixe sem meu norte.

Vencido por cruel sonho, indeciso,
Vagando pelos campos vou sem sorte.
A parte que me cabe, roto, liso;
No fundo é a que permite o fundo corte!

Nos porões tenebrosos da saudade,
Morei por tanto tempo, sem esperas.
No cárcere profundo, nas crateras

Por onde procurei felicidade,
Os tempos que passei, por outras eras ,
Não me deixaram ver a liberdade!

Noites Escuras

Fui zoilo deste amor que triste morre.
As portas se fecharam por detrás.
As horas que passei tudo socorre.
Quem quis amar, perdeu ternura e paz...

Perdoe este imbecil; que a noite forre
De pétalas teu mundo, fui falaz..
As flores que me deste, eu, num porre,
Despetalei ,cruel, vazio, audaz...

Não me desculpe pelas vãs traições,
Nem me escuse sofríveis brincadeiras.
As horas que zombei das ilusões,

Não voltam, nem refazem as bandeiras
Rotas que deixei, fétidas e impuras.
Só me deseje, então, noites escuras...

Teu Sorriso

Pruridos em minha alma, teus sorrisos,
Provocam; contumazes mentirosos.
Os dentes que me mostras mansos, lisos,
No fundo são ferozes, perigosos...

Mordendo, não costumam dar avisos.
Mordiscam sorrateiros, majestosos.
Pois não adiantou teres os sisos,
Pois sempre mostrarão mais venenosos...

Sorrisos com tais dentes não desejo.
Muito menos da boca peço o beijo..
Tuas farsas me deram tanto nojo.

Restando só aplausos para o arrojo
Com que, mordendo tentas me beijar.
Sufocas me roubando, então, meu ar...

Resto de Canção

Cansado dessa lida sem sentido,
Percebo que não tenho solução...
Um copo que quebrei, tão distraído,
Nos cacos, seus pedaços, pelo chão,

Me mostra quanto tempo foi perdido,
Me rasga, mais veloz, o coração!
Rompendo esse silêncio, meu ouvido
Percebe, fundo breu, essa canção.

Pintanda de sonora poesia,
A noite que pensei desperdiçada...
Aurora nunca vem adia o dia.

A mansidão dessa alma abandonada...
Não ouço repetir a melodia...
Dos restos da canção não sobrou nada!!!

Cordoalhas

Ao te ver, me enredaste em cordoalha...
Nem tento distinguir os teus enredos.
Os cortes que me deste, de navalha,
Aos poucos, se reduzem aos meus medos...

As linhas que compõe velha toalha,
Se perdem cansaço dos meus dedos.
Nas ondas onde morro, vento espalha
As águas que enfrentaram meus segredos...

Perdido, não pretendo nem temor.
Rotulo minha máscara um tumor,
As párias madrugadas foram frias...

Me roubas, disfarçada em poesias,
O que me resta então de valentia.
Perdi, nas cordoalhas, fantasias...

Córdia Com Estrambote

Blasonava-se, falsa e mentirosa...
As tardes que se foram não deixaram
Nem, ao menos, o olor da pura rosa.
Os pés cansados nunca caminharam

Essas terras bravias. Perigosa
Mata de frondosa arvore. Deixaram
Perfumes, tuas mãos. Misteriosa
A noite tão selvagem. Me mataram

Os engodos cruéis que nem disfarças.
Poderias negar os teus comparsas?
Me viste por acaso, em mendicância?

Na vida coleciono discrepância,
As travas dos meus olhos te ressecam,
Urgentemente mentem, negam, pecam...

Não me dês teu sorriso nem concórdia,
Do que mais eu preciso, te renegam,
O meu peito não bate... Quero córdia!

Rondas Noturnas

Nas rondas das noturnas serenatas,
Acordo meus amores inauditos...
As horas que passamos nestas matas,
Traduzem os meus sonhos tão malditos...

Quem fora cachoeiras e cascatas,
Não passa mais de simples, tristes ritos.
As portas que fechaste com bravatas,
Não abrem-se sequer com os teus gritos...

Percebendo a mordida na maçã,
Desperto-me feroz desta invernada.
A dor que me trazias amanhã,

No gosto desta fruta envenenada...
Não peço nem desculpas nem perdão,
As bocas que beijaste são lufadas

Dos ventos que roubaste. Coração
Perdendo o velho rumo nas estradas!
T’a vida se prendeu n’ escravidão!

Mineiro Mar

Procuro o mar, obsessão mineira.
Navegante sem barco, solidão...
Meus portos, cais, meus mastros sem bandeira;
Meu pensamento cria a embarcação!

Nas horas mais tristonhas, sento à beira
De qualquer novo porto, atracação.
Das rosas que plantei, foi a primeira,
Dos sonhos que sonhei no meu sertão!

Mineiro pesadelo com as ondas.
As horas circulando,vão redondas,
Os medos mais cruéis as tempestades...

Os olhos salpicados das saudades.
A vida me negou tais maresias,
Restam-me tão somente as fantasias!

Gás

O gás aberto, morte s’aproxima...
A vida não passou desse dilema.
Não resta nem sequer minha auto estima;
Quem dera resolver esse problema:

Se Maria está, prefiro que redima
Seus erros, revertendo o velho tema.
Se não, vou procurando, sem ter clima,
Transtornar, transformando meu poema.

O peito aberto, o gás não pacifica.
O cheiro forte, morte e liberdade...
A noite é pobre, como a vida é rica!

Nas trovoadas lânguida tempesta...
O gás aberto, o cheiro forte invade...
Podemos começar a nossa festa!

Porcelana

Não há sonoridade que repita
As dores que senti. Ó minha amada!
Tu foste a maior gema, uma pepita;
Ao me deixar, sobrou bem pouco ou nada...

As cores que roubaste, dor aflita,
Desmaiam-se no fim da madrugada...
Tempestuosamente a vida agita
Os leques, minha luta abandonada...

Perdi os meus resquícios de hombridade,
Verti as minhas pátrias pelo esgoto...
Meu mundo decepado, nem um coto

Restou para trazer felicidade...
Nas lutas que ganhaste, soberana...
Nos vasos que quebraste, porcelana...

Fanatismo

A vida não permite mais lirismos.
Nem quero o sabor desta tal saudade.
Pelas portas do céu, os meus abismos,
Adentram ocultando a claridade...

Não me permitirão meus transformismos,
Nem a solene dor da liberdade;
Herdada pela força d’atavismos...
Permita, pelo menos, falsidade!

Nas pedras do caminho, tento o salto.
A rigidez cruel deste basalto,
Não me restou sequer mais uma curva...

Meus medos, minha fome, tudo enturva...
Fantasias perdidas no egoísmo.
A vida reproduz meu fanatismo...

Amor Raquítico

Não quero mais amores tão raquíticos.
Nem quero mais sonhar com o impossível...
Não quero mais passar momentos críticos
Buscando definir o que é mais crível.

Tentei saber das horas, perdi tempo...
Tentei falar das rosas, nem brotaram;
Sobrou-me tão somente o contratempo.
Nem flores nem espinhos se encontraram.

Bela voz que cantava nem se escuta.
A força que pensei que fora bruta,
Se perde numa curva do caminho.

Não quero mais saber se vou, caminho;
Só quero essas saudades que não perdi...
Eu não sei se te encontro mais aqui!

Dor Pétrea

Minha dor pétrea, tépido deserto..
Míticos sentimentos, dor funérea.
Procuro por minha alma tão etérea...
E, repentinamente, me desperto...

Sunday, September 17, 2006

Desejo de Morte

Um apêndice inútil, sem valências...
Dos pertuitos funéreos da saudade,
Famélicos pendores da clemência.
Teus fálicos delírios, santidade...

Nos vértices dos sonhos, tuas bridas...
Aderes firmemente, sanguessuga...
Lampejos tão mordazes, t’as feridas.
As lágrimas febris, a vida enxuga...

Protéticos refinos da ciência,
Hipotéticos lagos que naufragas.
Tentáculos vorazes, inclemência,

Negas-me sobrevida e boa sorte.
Pestilentas, as bocas rogam pragas.
Desejas, tão somente, a minha morte!

Solitude

Nos sacrários noctívagos lunares,
Plenilúnio reflete meu desejo...
Nos pântanos sofríveis onde vejo
O cadáver d’amor, negados pares;

Percebo quanto dói a solitude!
Solilóquios mordazes sem ter eco,
Perduram nesta fóbica atitude.
As sombras que poluem meu jaleco,

Ficaram sem respostas, catatônicas!
As mãos e minhas pernas ‘stão atônicas;
Paralisadas... Álibis, procuro...

Refrigerando o tempo dessa ausência,
Pedindo a Eros lúdica anuência,
Ávida vida salta sobre o muro...

Coração Voraz

Meus telúricos sonhos, natureza...
Nos antúrios vermelhos, sensuais...
Meus desejos tetânicos, carnais,
Traduzem tuas luzes, realeza...

Píncaros atingíveis, meus anseios.
Nos veios que incendeio, com meu cântico,
Delícias conspurcando belos seios...
Nas viscerais cantigas, sou romântico...

As plagas mais distantes, minha meta..
Pelas fráguas vulcânico, poeta...
As labaredas queimam, lava, chama...

Nas alamedas, traço minhas rimas.
Nas correntezas, caço novas primas...
Um coração voraz, palpita e te ama...

Amores Régios Com Estrambote

Amores régios, sonhos desfiguro,
Mergulho no teu cárcere, marujo...
Marulhos me profanam, transfiguro.
Procuro minha cura, sou sabujo...

Rígidas cútis, mármore, Carrara.
Tertúlias e assembléias que freqüento;
Decidem olvidar a vida cara.
Feridas conferindo meu ungüento...

Repúdios lançarei lanças, adagas...
Distantes dos amores outras plagas...
Castiços olhos, ledos meus enganos...

Cobiço os óleos, medos e mortalhas,
As naves que navego são navalhas.
As travas que retiro, negam planos...

De tais amores rígidos, sem sexo...
Num coração mais frígido, sem nexo.
Nesses amores curo meu complexo...

Teus Sonhos

Sonhavas com momentos maviosos,
Nos dias que passei por tais carinhos.
Portais abertos, olhos invernosos
Pediam, imploravam novos ninhos...

Farsantes, minhas mãos voluptuosas,
Procuravam por outras tantas santas...
Dava-me teu olor, clamor de rosas...
Das pétalas forjavas tuas mantas...

Nos álamos, nos pélagos auríferos,
Nos campos, nos pomares mais frutíferos,
Forjávamos delírios indecentes...

Sentíamos os pântanos carbônicos,
Amores entre flores, são platônicos.
Rolávamos felizes, inocentes...

A Morte

A noite preparou a sua rede,
Espera que me caces sem perdão.
Vingança consumindo tua sede,
Minhas tormentas nunca são em vão...

Jogaste meu cadáver na parede,
Brincando vou fazer revolução.
Nos muros que caíste já me enrede,
Nas horas mortas sigo a solidão...

Não posso examinar tuas mordaças,
As bocas já me mordem, são carcaças.
Teus torpes sentimentos geram asco...

Não me permita sequer ser o carrasco,
Bem cedo te arremeto pois madrugo.
Pois sei que tu serás o meu verdugo!

Morfina

Dás o delírio cruel és morfina.
Tu és fantasmagórica, demente...
Nos versos que me mentes, amofina
A porta que fechaste vilãmente,

Abriram-se nos olhos da menina.
Respeito tuas dores fielmente.
Mas sei que nada tens e me domina
Essa cruel vontade de ser gente.

Nas pás com que cobriste as esperanças,
Dormindo retornei dessas lembranças .
Não foste nem sequer a liberdade...

Não temo nem temer felicidade;
Nem quero poluir minha passagem.
Reflito em ti, portanto, minha imagem...

Horta

Plantei meu coração, reguei tua horta,
Esterquei com teus laivos de mentiras.
Adubos foram vida e sina torta,
Lagartas espalhadas cortam tiras...

Reguei com minhas lágrimas. Remota
Essa certeza louca em que te miras.
As rúculas colhidas, tudo exorta
A não pensar nas balas que m’atiras...

Rábanos, nabos, feitas as colheitas,
Verduras, hortaliças, já rejeitas.
Colhidas com suave penitência.

As dores que senti, coincidência...
Meus dedos estancaram tal sangria,
As noites que passamos, nossa orgia...

Estilo

Não quero nem permito tanto estilo,
Nas respostas que deste sem pensar...
A vida tonelada me dás quilo,
A lua não reflete teu mirar...

No que concerne, verme sou tranqüilo;
As odes que cantei, levou o mar.
Meus medos pertinentes aniquilo;
As horas que escapei de teu sonar.

Embarco em tua nova embarcação,
Nos lemes e nas proas, tempestades.
Perdendo tanto tempo, o coração,

Não posso mais saber futilidades...
As rotas que me destes, são quimeras.
Saudades de quem fui e quem tu eras...

Minha Alma

Minha alma, sem ternuras, louca; voa...
Percorre sem parar todos os planos.
Mergulha cegamente na lagoa,
Onde nadamos, livres, verdes anos.

Minha alma, sem branduras, vai à toa.
Não cabem mais torturas nem enganos...
A vida que promete ser tão boa,
Desfigurada, segue esses mundanos...

Não quero transgredir mas já transgrido.
E tampouco agredir, mas te agrido...
Minha alma soluçando, perde tino...

Nas horas que tecemos nossos mundos,
Os medos se verteram mais profundos.
Minha alma colorindo meu destino!

As Rosas

As rosas que plantamos, já vicejam...
Brotaram seus espinhos, mas resplendem.
Nas noites que perdemos, sempre alvejam.
As rosas perfumadas nos ascendem...

Os brilhos da natura, tudo acendem...
As portas que fechamos, apedrejam.
As bocas que beijamos se recendem
Do perfume das rosas que se beijam...

Volta, meus dias seguem sem perfume...
Nem consigo ouvir mais teu queixume...
Nossos jardins pedindo teu retorno.

Perderam sem te ter, maior adorno...
As rosas vicejadas também choram,
Sem o teu brilho, morrem, se descoram...

Virgens

Teu amor, sutilmente vem e doma.
Ronrono feito um gato, domesticas.
Mansidão me envolvendo, tudo toma...
Minhas garras, sutilezas, repicas...

Penetraste vazios, alma, estroma...
Os restos que cultivo, cedo esticas,
Somos gomos iguais, perfeita soma...
Notícias que provoco, tu publicas.

Crescemos mentirosos, mas amantes...
Nos leitos que dormimos, tão profanos.
Sentimos o que nunca fomos antes.

A vida nos permite tais enganos,
Por certo tantas camas dividimos,
Mas virgens, cada noite, nos sentimos...

Procuro a Liberdade

Não quero perseguir a minha sorte...
A vida se disfarça em aliada.
Nas farsas que criei a própria morte,
Se esparsa na manhã, falsa, cansada...

Não há porto, porteira que me importe,
Sigo torto, torturo tua estada.
Me corto se me aporto no teu norte.
Sou absorto. Sortida, ensolarada

A estrada que me negas, sem motivo.
Altivo ergo os meus ombros, redivivo...
Nas voltas, já comportas os teus atos...

Nos rogos tuas pragas meus regatos...
Sem regras tantas réguas meu resgate.
Procuro a liberdade antes que mate!

Tua leveza

A vida me cedendo os agasalhos,
Me permite saber da noite e frio...
Não temo meus fantasmas, espantalhos;
Não temo a solidão, eu vou vadio.

Persigo procurando meus atalhos...
As horas se passando, meu estio;
O sol que me tortura; os atos falhos.
Pretendo conhecer desejo e cio...

Minhas certezas, sumo e cercanias.
Minas profundas, resto e valentias;
Rotas perdidas, rumos e incertezas.

Quem fora podridão hoje respira...
Quem fora solidão, hoje transpira.
Flutua, cultuando t’as levezas...

Casa Vazia

Se nada mais pretendo, por que tento?
Esquecido, permito as fantasias...
As noites que vivi me negam dias.
Os dias que não tenho logo invento...

Nas retinas cansadas, trilho lento,
Vagas luas repetem melodias...
Nascemos dessas festas, das orgias...
A noite não permite meu intento...

Minha casa vazia, nada tenho...
Cerro o punho, fechando assim, o cenho...
Estropiado sigo sem aviso.

Não tenho nem pretendo ser preciso,
A paz que transformaste em desafio...
Vida passa, compassos por um fio...

Dora

Onde te encontrarei, querida Dora?
Perguntando, procuro em todos bares...
Vou pelas madrugadas, sem ter hora.
Vagueando sem rumo, até altares...

Nas praias, nas areias, parto agora;
Nas ondas que se quebram, todos mares..
Não me importa sequer: chove lá fora,
Não meço nem procuras nem lugares...

Nos jardins, rosas planto, seus espinhos;
Nos olhos, colho pranto, Dora some...
Ando pobre, mendigo teus carinhos.

A solidão feroz já me consome...
Quem me dera poder Dora encontrar.
Perdido, te persigo no luar!

Quitéria

Recordo-me de teus olhos. Matéria
De tantos sonhos tristes, mas audazes...
A dor coberta, lamas... E Quitéria
Soçobrando, flutua. São falazes

Meus dias. Minha vida traz miséria,
Nessa busca infrutífera. Das gazes
Que cobrem meu porvir, tanta bactéria!
Tento, em vão, suicídio com os gases

Venenosos que trazes no respiro.
Percebo teu fantasma, então atiro...
Flutuas pela casa, me provocas.

Quitéria; meu transtorno e solução!
Ao mesmo tempo cospes, me convocas...
Rasgando, me mutila o coração!

Busca

Teu respiro suave enquanto dormes,
Acalenta esperanças e desejos...
Na manhã que se segue, nos informes,
Eu procuro notícias dos teus beijos.

Em vão, bem sei fugiste. São enormes
Os caminhos que segues; tenho pejos.
Mesmo assim, comportando olhos disformes,
Irei te procurar doces e queijos...

Terminais, rodovias, pensamentos;
Nas praças, nos coretos, nos portões...
Por todos cantos, campos e momentos;

Nos cantos passarinhos e tenores,
Nas luas, nos pomares, nos amores...
Em todos novos rumos, direções!

Colheita

Não quero conhecer teu torpe instante,
Nem quero transtornar minhas correntes.
Abandono-te nesta vil estante,
Onde guardo os abortos e serpentes.

Respeito teu fantasma delirante
Excluído, vencido sem patentes.
Deposito rancores. És falante,
Mas de que valeria se, dementes,

Meus olhos não protegem tua luz...
Mares diversos, pesa-me essa cruz...
Espero-te na curva, minha espreita...

Pudera, não querias meus anseios.
Vou tentando meus versos e ponteios,
Tuas dores serão minha colheita!

Presente

Como é difícil, Pai, saber da vida...
Esqueço do passado, do futuro,
Transcorrendo o meu tempo, nau perdida...
Traspasso espaços, subo neste muro.

Os sinais da manhã, noite vencida;
Claridade vencendo todo o escuro...
Brincando com meus medos, minha lida
Sorridente. Nas queda, nem fraturo

Os meus sonhos, seguindo meu cantar...
As alvoradas claras. Vou buscar
Paz, decididamente, nada mais.

Roubando toda manha da manhã,
Desta antiga e serena cortesã;
Meu futuro e passado, deixo atrás!

Cracas

Meus versos que, pretendo, serem facas.
Universos convertendo em peçonha.
As dores que me beijam não aplacas;
As flores me cortejam. Vida sonha

Com desejos sutis. Cravando estacas
Nos cortejos senis. Lavando a fronha
De tantos pesadelos, usas lacas
Para pintar, vermelha essa vergonha!

Os meus prantos, novelos, blusas rasgas;
A trucidar centelhas cedo engasgas...
Não posso permitir nem um segundo...

Num poço redimir os meus pecados,
Nas barcas navegar um novo mundo.
As cracas que carrego. Tristes fados...

Abandono

As mãos que carinham, maviosas.
Os dedos te percorrem grutas, seios...
A boca procurando colher rosas.
Gemidos traduzindo teus anseios...

As rondas que te faço, glamorosas;
Os cabelos dançando seus maneios...
Nas noites que rolamos, tanto gozas...
Persigo, calmamente, quais os meios

De te causar delírio, maciez...
De te levar total insensatez.
As noites que passamos são cometas...

Não posso permitir que tu cometas
Insana tresloucada fantasia...
A vida não terá mais um só dia...

Presença Materna

Eu nada mais teria dessa infância,
Não fosse teu sorriso, mãe querida...
As dores que trouxeram repugnância,
Por certo amenizadas, tua vida...

Perdida no passado a velha estância;
Meus sonhos pueris, sem ter ferida...
Só para ti terei grande importância!
És o resquício vivo da perdida

Felicidade audaz, da liberdade!
Minha alma virginal, tanta saudade...
As dores violentaram a minha alma.

Caminho carregando triste peso.
Quem me dera escapasse assim, ileso.
Mas a tua presença sempre acalma!

Ronda

De cada nova noite nem restolho...
As pútridas certezas me minaram...
Vazio, perfurando, cego um olho;
As luzes que brilhavam se acabaram...

Tranquei meu coração com um ferrolho.
Vis emanações fátuas soçobraram...
Minha alma estraçalhada qual repolho
Abrindo-se, fenestra-se. Roubaram

Toscos sonhos. Ofusco meus delírios.
Mártires se pretendem meus martírios...
Me deste teus transtornos por herança!

Sorvi dessas matizes as mais tétricas.
Meus versos se perderam nessas métricas.
A morte me rondando, vil criança!

Desilusão

Perdido, passo o tempo, me completo
Nas canções que negavam minha luta...
As marcas, minhas máscaras, meu teto,
São pétalas jogadas, força bruta!

Obstante, me negaste cada afeto.
Farnel que carreguei nessa labuta
Para que jamais fosses um inseto.
Bebeste então, solene, essa cicuta.

Sobreviveste tétrica, vulgar.
As garras amoladas pelo fel,
As farpas arrancadas devagar...

Me deste, sem sentido a solução;
Resistes vorazmente mais cruel.
Eu envenenarei meu coração!

Adultério

Preso, contido em tais cruéis mistérios,
Não me permito as urzes nem espinhos...
Nas marcas de teus passos nos caminhos,
Por certo derrubaste meu império!

Não posso permitir tal adultério,
As bocas que beijaste, teus carinhos.
Do grande amor que tive, cemitério;
Os pássaros procuram novos ninhos!

Não quero mais saber de tuas culpas.
A noite não permite mais desculpas.
Te quis, jamais oculto essa verdade.

Os trapos que deixaste já rasguei;
Em tudo transtornaste minha lei.
De ti não restará nem a saudade...

Amor Único

Amor que não pretendo fosse vário,
Traga minhas sonatas, sem perdão!
Disperse do meu peito a solidão.
Dispense do meu corpo, esse sudário.

Não deixe nunca mais vento contrário,
Proteja das tempestas, mansidão!
Contigo não há medos nem leão!
Nos haras desta vida ganhei páreo!

Não quero mais temores, horas cálidas.
Distante sei as dores, sempre pálidas.
Constantes os pendores desta luz!

Vencidas as moléstias tenebrosas,
Nascidas nos jardins, as belas rosas
Por certo enfeitarão a minha cruz!

Carrasco

Tantas vezes pensei na formidável
Mansidão que mentias, companheira...
Quantas vezes surgias tão amável,
Escondendo uma fera. A verdadeira

Face que me ocultavas, lamentável...
A minha fantasia, tola, inteira;
Não era nem sequer resto, execrável!
Pois rasgaste, puíste essa bandeira

Tão sublime! Escarraste nos amores.
Perniciosamente foste pus.
As mãos que tanto mordes, meus horrores;

Não faz muito, lambias. Me dás asco,
Bem sei que irradiaste podre luz;
A vida te trará o teu carrasco!

Dor Insolente

Catedrais dos meus sonhos, minha crença.
A vida não deixou sequer cascatas,
Viajo num segundo tuas matas;
Queria recolher a dor imensa!

Nas horas que sonhei, cruel doença,
Nas formas desse corpo, me retratas,
A lágrima que tenta está suspensa!
A garganta retêm mas, cruel, matas!

Catedrais, orações, a rebeldia...
Não quero ter sequer um novo dia;
Apenas a verdade é que liberta!

Não temo nem clamor nem fantasia.
Meu mote se perdeu na poesia.
Minha dor, insolente, me desperta!