Search This Blog

Saturday, November 4, 2006

Cordilheiras gigantes, montes, cumes...

Cordilheiras gigantes, montes, cumes...
No salto extasiante da pantera,
Num laivo mais sutil, tantos ciúmes...
A febre desejosa da quimera...
Na mão que me açoitava, teus perfumes,
Os vértices, os prumos, minha espera,
Deliro mas não ouves meus queixumes.
Ah! Se tu fosses minha... Quem me dera...
Nos olhos vaticínios indefesos,
Traduzes as visões destes profetas.
Cativos meus amores morrem presos
Nos desejos ferozes, domadora...
Porquanto meus martírios quis ascetas,
Desmaiam em teus gozos, redentora!

Nos triclínios orgias e delírios,

Nos triclínios orgias e delírios,
Nas festas sensuais e sedutoras...
Pureza que encontrei nos alvos lírios,
Embalde, se mostraram redentoras...
Mormacentos sentidos abrasantes
Deslumbram maravilhas e tormentos...
Nos lúbricos festins destes farsantes,
A noite se anuvia em pensamentos...
Bizarrices e gozos são normais,
A seda que cobria se esgarçou.
Desejos e prazeres bestiais.
Deslumbres, fantasia cristalina....
A pureza dos lírios se acabou
A gargalhada insana me alucina!

A flor que é divindade marcescível

A flor que é divindade marcescível
Em pétalas debulha tantos hinos...
Amor que se pensara intransponível,
Lateja o coração destes meninos...
Carinho constelar tão impassível,
Se mostra guardião, vários destinos...
No caule destas flores mais flexível,
Desejos se demonstram, mansos, finos...
Resistem a qualquer pressentimento,
Vagueiam pelas hordas estelares...
Jamais se dobrarão ao forte vento.
A flor, embora morta, sobrevive
Nos olhos dos amores, dos luares...
Deste mago pendor, não há quem prive...

Nestes olhos incertos e vazios,

Nestes olhos incertos e vazios,
Meus braços embalaram teu veneno...
Tão distantes, absortos, olhos frios,
Agonizantemente morro pleno.
Quem sabe lividezes mostram cios,
Redundam dum adeus que não aceno.
Perfuro teus humores, ledos fios,
Inverno meus desejos, podre feno...
A campa dos segredos agoniza,
Guardada por duendes e fantasmas...
A vida, torpemente já graniza,
Queimando meu delírio sem delito...
No peito enlameado morrem asmas,
Amor não resistiu, tanto conflito...

Velho mar, na mortalha arquitetônica

Velho mar, na mortalha arquitetônica
Que embalsamas meus erros e tristezas....
Murmúrios indolentes, tua tônica,
Nas procelas demonstras realezas...
Voz calada, garganta queda afônica
Nessas tramas obscuras, embelezas,
Na grandeza sem par, viril, atômica,
Destróis espúrias vidas, indefesas...
Entretanto mais calmo e tão gentil,
Nas praias embalando ondas serenas.
O verde se confunde céu anil,
Transita seus carinhos mais remotos...
Na pele delicada das morenas,
Na fúria dos tsunamis, maremotos!

Nesta noite sombria, impertinente,

Nesta noite sombria, impertinente,
As loucas primazias dum mistério...
Nos passos deste errante penitente,
Nostálgicos carinhos sem critério.
Ruflante coração tão inclemente,
Fingindo-se feliz, estende império
Buscando controlar imersa mente...
Flamívomo vulcão, queima sidéreo...
Nos sóis destes amores tão bravios,
Os átomos desfeitos, explosão;
Recendem os contrastes destes rios,
Escalvam as florestas antes densas.
Em meio a tenebrosa comoção,
As noites dos amores, morrem tensas...

Véus, veludos pudores e bacantes...

Véus, veludos pudores e bacantes...
Nesta purificante conjunção,
Nos seios e delírios dos amantes,
Tempestuosamente, uma monção..
Os fulcros destas festas delirantes
Se embasam num delito da paixão.
Nas luzes, os partícipes farsantes,
Escondendo qualquer uma emoção...
As volúpias carnais loucas brindando,
Nas formas mais banais deste rodízio.
Os sonhos mais febris se revelando.
As bocas devorando cada gota,
A roupa que vestia pousa rota.
Numa oração feroz a Dionísio...

Nas noites explosivas de luxúria,

Nas noites explosivas de luxúria,
Nas tramas entrelaces e prazeres.
Na boca que tortura, vã, espúria
Nas contas dos ganhares e perderes,

A soma destes corpos, tanta fúria!
Tramaste meu futuro, minha Ceres,
Mas, ao me aprisionar, fingiste incúria.
Mórbida, devoraste... Meus halteres

Jogados pelos cantos. Na lasciva
Madrugada, terão vil serventia...
Repasto dos orgásticos pagãos.

Os sucos misturados na nociva
E fantasticamente bela orgia,
No rito, fecundar sementes, grãos!

Te busco como ao sol, o helianto.

Te busco como ao sol, o helianto.
Tua mansa dolência e formosura,
Tua voz inebria, no teu canto.
Languescente delírio da ternura...
Emboscadas terríveis, fero pranto,
Impelem minha essência a tal loucura.
Errante, vagarei por teu encanto,
Qual fora mariposa em noite escura,
Buscando pelo lume desse olhar.
Vagando por espaços, harmonia,
Eu procuro, submerso, por teu ar...
A luz que tanto busco, meu farol;
O sol que tantas vezes irradia,
Encontro nos teus olhos, girassol!

A venusta mulher por quem deliro,

A venusta mulher por quem deliro,
Trazendo teus adornos naturais;
Transladando meus versos faz um giro
Remontando a meus sonhos ancestrais...
O teu nome, incrustado num papiro,
Traduzindo, em vigor, fenomenais
Desejos. Rememoro, num suspiro,
Um tempo que não volta, nunca mais...
As púrpuras saudades inflamadas,
Expõem toda a dor que me entranhou.
As chagas no meu corpo tatuadas,
Não negam, pois eternas cicatrizes,
As horas quando um deus presenteou,
As marcas destes dias mais felizes...

Quem dera eternidade neste sol!

Quem dera eternidade neste sol!
Os ermos desolados e tristonhos,
A lua desfraldando seu lençol
Em meio a pesadelos mais medonhos...
Incêndios invadindo meu paiol,
Eu me embriagarei, doces medronhos...
Licores me farão perder farol,
Martírios e torturas, enfadonhos...
Horrenda garatuja me persegue.
Espectros e fantasmas me torturam.
Embalde, tanta vida foi entregue,
Partícipes fiéis desta agonia...
Mas, paradoxalmente, as dores curam,
Vislumbro, no final, um claro dia...

Alvissareiros dias que se foram,

Alvissareiros dias que se foram,
Nas hordas dos amores, castidade...
As flores que plantamos se descoram,
Pois tentam encontrar eternidade...
Espinhos e torturas já se afloram,
Expostos aos riachos da saudade.
No lodo de minha alma rememoram
Um tempo mais feliz, tranqüilidade...
Imaculado gozo do guerreiro,
Nos colibris etéreos, pirilampos...
Sacrário desse amor, desfiladeiro
Por onde se perderam ilusões...
As cores outonais do belo campo,
Finas fragilidades, corações...

Nos desejos carnais total delírio...

Nos desejos carnais total delírio...
Todas bulhas cardíacas anseiam
Pelo gozo fantástico. Colírio...
Com a pureza láctea de permeio,
Pudores sensuais e latejantes
Misturam-se com sonhos e perfumes...
Nos corpos se misturam viajantes.
Na boca explodirão gozos e lumes...
Reencarnação dos deuses, das bacantes.
Palpitam os sentidos sem razão.
Na guerra inebriante dos amantes,
Nas mãos tão furiosas, belos seios...
Orgasmos multiplicam explosão,
Penetram meus desejos nossos veios...

Minhas lágrimas, gritos e tormentas

Minhas lágrimas, gritos e tormentas
Tolos, vago espaços, mais remotos...
Nas irradiações, rotações lentas.
Guardados os teus olhos, velhas fotos...
Amareladas quedam-se esquecidas...
Os anjos, os arcanjos vão passando,
Proclamam tanto amor por pobres vidas.
Nas tormentas celestes, renovando...
Religiões, enigmas, convulsões
Das hiperestesias, dos portões
Abertos nos castelos do meu sonho...
Deliciosamente uma ambrosia
Regada ao néctar; lúbrica folia...
Transmudam meu delírio, enfim risonho...

Estrelas e quasares, companheiros...

Estrelas e quasares, companheiros...
Nas galácticas plagas te perdi...
Os sonhos dos amores são viveiros,
Essencialmente tudo estava aqui.
Olhos, mares, etéreo... Teu perfume...
Até nosso desejo, anfitrião
Desta festa. Mas trágico ciúme,
Me trouxe, no final, a solidão!
As perspectivas loucas, ser feliz,
Desfeitas nesta curva do caminho...
A vida não merece ser atriz,
No palco da saudade destruída...
Amor que se destrói, sem rosmaninho,
Carrega em sua morte, a própria vida!

tênues borboletas

As tênues borboletas, liberdade...
Nas asas delicadas, belas cores...
Voando, carregando veleidade
Trafegam, constelares, meus amores...
Lactescências lunares, qualidade
Ímpar, as borboletas buscam flores...
Nesse encontro sutil fragilidade...
Vital, mágico encontro, sem pudores...
Diluídas fantasias vaporosas,
Lepidópteros mostram o caminho..
Mesmo com os espinhos, belas rosas...
As asas mansas asas siderais,
Todo sereno encanto... Fazem ninho...
Ah! Vento te levou p’ra nunca mais...

As marcas dos amores, altaneiras.

As marcas dos amores, altaneiras.
Esguias criaturas buscam glória..
Quem sabe suas sagas verdadeiras,
Declinará seu asco na memória..
Nos máximos dos montes, as ombreiras,
Resquício polvilhado desta história.
As horas mais venais, horas primeiras,
Encontram criaturas vãs: escória!
Nos estandartes tolos, a dura haste
Estorvo e negação, guerras insanas...
Amores, violência, num contraste,
Trazendo os pavilhões em decadência.
As podres criaturas são baganas,
Dissimuladas, fingem inocência...

Teus lábios neste cálice de vinho,

Teus lábios neste cálice de vinho,
Mostram sensualíssimos desejos...
Tua boca cintila loucos beijos,
Resplandecente flâmula, meu ninho..
Belas cores carnais, rosas, espinho...
Constelarei delírios e traquejos,
Perpetuarei matas e verdejos.
Embora, tantas vezes fui sozinho...
Travam em meus ouvidos, cantos mis,
Harmoniosamente estrelas giram;
Eternos carrosséis, loucos, febris...
Sonhadores formatos da natura...
Meus olhos tresloucados... Sim, deliram...
Eu respiro teu hálito, loucura...

Luar que brilha a me trazer saudade...

Luar que brilha a me trazer saudade...
Sonho divino, que perdi tristonho...
Em serenata cantarei meu sonho,
Perfeito, radiante claridade...
Por tanto que te quis, felicidade,
O mundo me restou pobre e medonho...
Na luz que me irradia, essa verdade
Escondida, temida, exponho...
Alegria foi farsa, imersa em pranto.
O meu olhar vazio, vai nevado,
Espero teu amor, teu mago encanto.
No rumo que já sei carrego um cardo,
Mas bem sei, em plena dor, eu me agiganto.
Meu verso se desnuda, amortalhado...

No meu sonho eternal, aroma da saudade...

No meu sonho eternal, aroma da saudade...
As rosas que plantei, se esquecem no jardim.
Caminho todo branco, alvura e claridade.
Amor que me maltrata, alma deste festim...
A noite cai, serena, a lua por vaidade
Esconde com pavor, as marcas do alastrim.
Pintarei minha tela em cores da falsidade,
Meu paletó de linho, a saia de cetim...
Formamos par perfeito, audácia e solidão!
Sua saia cetim, meu paletó de linho...
Lua, no céu, brilhando... A noite, mansidão...
A triste serenata, as cordas do meu pinho...
Bater acelerado, um vago coração.
Meu sonho tão banal, perdi rumo e caminho...

Candura que me trouxe amada que sonhei,

Candura que me trouxe amada que sonhei,
É casta em sua alvura, abraços da ventura...
Castelo da princesa espera por um rei,
A vida sem temor, retrata esta aventura.

Por quanto tempo quis, é tanto que nem sei,
A noite terminada, um gesto de brandura,
Na pompa desta festa amar se torna lei!
A sina de quem ama envolta em amargura...

O meu sonho de amor, castelos que deliro,
Princesa virginal, mentiras que não vejo.
Na faca que me corta, o gesto que prefiro.

Esqueça tal quimera, esqueça essa ilusão!
Esqueça a madrugada, esqueça o meu desejo!
Esqueça esta princesa, esmague o coração!

Por que me chamas bonzo? Acaso te maltrato?

Por que me chamas bonzo? Acaso te maltrato?
Expresso-me maldoso em busca do pavor...
Por vezes não consigo, é culpa do retrato
Que me deste querida... Omites teu amor.
Muitas vezes, bem sei, escarras no teu prato,
Eu sei que teu carinho esconde muita dor,
Por quantas vezes quis te propor simples trato.
Não me traga teu sonho, em vão fui sonhador...
A flor carrega espinho, eu sei que isso é verdade.
É tanta dor que trago, esqueça o meu passado.
Não quero e não permito esta tal de saudade..
O meu cantar distante estranha esta eloqüência.
Eu não te quero aqui. Pois, saia do meu lado...
Hipócrita? Demente! É tudo coincidência...

Constelação

Constelação perdida em plena imensidão,
Esquecida no céu, carrega tantas luas...
O meu olhar vazio imerso na amplidão,
Buscando por alguém: tolas lembranças tuas...
Noctâmbulo desejo, andante coração,
Mulheres que eu amei, imagens belas, nuas...
A noite se demora, alma, constelação...
Meu pensamento voa... Amada... Já flutuas...
Na seara florida, as pétalas da rosa...
Nos campos, o brilho... A lua, mansa, chama.
Abre seus braços... Louca, a lua vaidosa,
Prateada e tão bonita, esconde o triste breu...
Noturna sinfonia, arde, me queima, inflama.
Pobre constelação esquecida, sou eu...

Quem dera fosse fera: audaz, cruel, fatal...

Quem dera fosse fera: audaz, cruel, fatal...
Nos olhos mago brilho, as garras sempre atentas...
Caçadora mordaz, impura, sensual...
As patas deslizando, avançam, mansas, lentas...
Um gesto qualquer, tenso, a fera perigosa,
Neste segundo a mais, as presas rasgam fundo..
Na beleza venal, força maravilhosa.
Denso turbilhão louco, o bote dá, profundo...
Mas, delirantemente, esta fera tão temida,
Que é, verdadeiramente, um símbolo de guerra.
Ao ver tua beleza... Estranho... Cai ferida.
Não sabe deste amor que é luz e que é quimera;
Arrasta-se gentil, deitada sobre a terra...
É muito bom te ver domando esta pantera!

Fantástico luar, flores da eterna paz.

Fantástico luar, flores da eterna paz.
Na claridade imensa enorme caridade.
Um deus, na fantasia, esboça-se capaz
Na lua; bela, cheia, expressa a vaidade...
Nos seus clarões, amiga, eu sinto ser capaz
De ser muito mais forte. Envolto em claridade,
Na mágica torrente, imenso, sou audaz.
No brilho do luar, esconde-se a verdade!.
Caminho pela rua, a lua é quem me guia,
Inflama-se qual chama amansa minhas dores...
A lua me transporta, em plena fantasia,
Enorme catedral, no pátio dos amores...
Ó lua companheira, amante tão vadia,
Em tua poesia, explodem tantas cores!

Meu Pai onipresente onde estarás agora?

Meu Pai onipresente onde estarás agora?
A solidão consome, expõe o meu cansaço...
Ao nada retornando, a vida não demora,
Meu pranto Te procura. Estás solto no espaço?
Ubiqüitário Deus, vasculho mundo afora
Preciso urgentemente aguardo teu regaço...
Não deixe por favor, minha vida ir-se embora.
Me responda Senhor: me diga o quê que eu faço?
Meu dia já termina em busca deste sonho,
Envolto em densa bruma abraço a noite escura.
Do mar, um pesadelo, um ser forte, medonho
Terrível calabar, se erguendo me devora...
Devolva-me sem medo, a natural ternura...
Meu Pai, onipresente, onde estarás agora?

Jaz tábida minha alma, expressa podridão...

Jaz tábida minha alma, expressa podridão...
Anseio pela vinda amada do festim.
Do nada para o nada: extrema solidão!
Aguardo pelo beijo audaz, feroz, do fim...
Tristeza de viver... Tristeza nesse não
Absoluto, final. O sonho acaba, enfim...
Na boca que sonhei, um riso sem perdão...
A pá da cruel terra expressa-se em carmim...
A larva que me beija, eterna camarada;
Num sonho mau, deliro... Espera pelo véu.
Na festa que termina a luz anunciada
Se esconde, escuridão! Nada mais restará!
Na profundeza espero a salvação do Céu.
Me sobra a solidão! Meu Deus, onde andará?

Hemorrágico amor... Maltrata e me redime...

Hemorrágico amor... Maltrata e me redime...
És altiva esperança, ao mesmo tempo matas.
Me dás a sensação fantástica do crime.
Alucinadamente expõe as densas matas
Da paixão. Me tortura, acalma, cama, vime...
Nas lutas que passei, nas danças, nas regatas,
Momentos que vivi, a dor já não se exprime;
Feliz hemorragia, em mares e cascatas!
Num formidável grito expõe-se, assim, desnudo.
As entranhas à mostra, a beleza da loucura...
É violência no orgasmo, amor forte! Contudo,
Tantas vezes cruel, tantas vezes fatal...
É raio que clareia em plena noite escura.
É lágrima, pierrô, num triste carnaval...

nebulosa noite

A nebulosa noite aproxima-se trágica
No pálido semblante, amada desespera...
Do éter tresloucado a vida sem espera
Deseja tolamente a salvadora mágica...
A morte se redime, audaciosa e fágica,
Num céu avermelhado expõe-se numa esfera.
E num segundo, troa, espírito de fera!
A morte companheira, astral e necrofágica!
As águas na convulsa esperança da luz,
Vão tresloucadamente, as angústias expostas...
A noite cai, pesando, expressa a minha cruz...
Na noite deste amor, que tanto consumiu;
Os raios desta noite invadem minhas costas...
Negridão do oceano... Amor morreu, partiu...

Na vida qual gravela, incrustada neste vinho,

Na vida qual gravela, incrustada neste vinho,
Exposto a podridão, espasmos, convulsões...
Nas flores, no rosal, exposto à dor, espinho;
Busquei a solidão das grandes multidões...
Não sou senão um rastro; um rato busca o ninho,
Viperino veneno, escarro aos borbotões.
Embalde tanta vida, estou melhor sozinho.
Humanidade triste, eunuco das paixões...
Em vão! Se já sonhei, fagulhas impotentes...
Lutando pela vida, esquecido do que sou,
Castelos que criei foram tão imponentes!
Rasguei meu pesadelo imerso em tolo mar...
A noite, imaculada, em sonhos me beijou..
Gravela desgraçada, enfim, a me acordar...

Genesíaco amor, trazendo essas trapaças...

Genesíaco amor, trazendo essas trapaças...
Na fome da loucura a morte vem ligeira...
Protejo o coração, produzo carapaças,
Em vão... Nesta mortalha, a dor é companheira...
A vida se perdeu buscando novas caças.
Amor nunca permite exige verdadeira
Dedicação. Derrota emoldurada em taças...
A lua, em nosso caso, espera ser inteira...
Desprezei teu desejo, aguardo meu castigo...
Mergulho no infinito, embalde te procuro.
Levaste todo sonho embora, foi contigo...
O pouco que restou, triste oceano escuro,
Decerto representa um enorme perigo,
A morte me espreitando ali, detrás do muro...

Embarco um triste sonho, espero pelo cais.

Embarco um triste sonho, espero pelo cais.
Zarpando neste mar, trazendo meu saveiro.
O mar em calmaria é manso companheiro...
A vida me permite um canto mais audaz...
O vento doce, manso, envolto em tanta paz...
A dor ficou guardada, espera no estaleiro,
O mundo se abrirá ao velho marinheiro...
A saudade, a tristeza, o mar deixou p’ra trás...
O céu azulejado a nuvem mais distante...
Navego sem destino, esperanças carrego...
Tanta felicidade expressa neste instante...
Num momento fatal, as ondas anormais,
Os raios na tempesta, o barco não navego.
A morte se aproxima... A vida, nunca mais...

Natura

A natureza amada aguarda a traição...
O século consome a boca desta amada.
Num cataclismo louco espermas da ilusão
A vida adormecida esvai-se, magoada...
A morte da natura eterna e sem perdão,
Renova-se na podre ação desenfreada
Daquele que, por Deus, seria o guardião!
Na flora que se acaba, a vida destroçada.
Já vai, agonizante, empresta a tal cenário
A face da desgraça. Embalde tanta luta
No canto passarinho, a morte do canário,
Um cheiro de queimado abraça a pobre Terra.
Quem pode conquistar não usa a força bruta...
Amor que se conquista, esconde-se da guerra!

Meu verso mais sombrio, as danças neste bar...

Meu verso mais sombrio, as danças neste bar...
Amor que me arrebenta arrebata o que resta.
Um copo de aguardente, o brilho do luar.
Nos umbrais da saudade aberto o peito, fresta.
Nas bocas que beijei, mulher que foi meu par,
Minha alma deslumbrada aguarda pela festa,
Espera teu desejo, ondas do negro mar...
Um tresloucado rito, amor, esgoto empresta...
No gosto desta guerra, amor em forma bruta,
Burilo meu anseio, amanso meu instinto...
Em tua boca o gozo, uma lágrima astuta.
Inebriado sonho, esbanjo-me em delírio...
O vinho que bebi, do meu sangue, retinto,
Na dança sepulcral, meu gozo é meu martírio...

Se esvaecendo o fumo altivo de minha alma,

Se esvaecendo o fumo altivo de minha alma,
Nesta alquimia louca, ardência me consome...
Sozinho procurando a seletiva calma
A noite que sonhava, espreita mata e some...
Convulsa tempestade espectro de meu trauma,
A morte, cavernosa, a carne podre come...
Não resta nem a face, a mão estreita, a palma...
A luta pela vida: a dor, angústia e fome...
Na substância fatal, rasgando horrendo cerne,
Aterradora noite: amantes demoníacos...
O pouco que me resta, enfim não me concerne.
Orgástico fantasma explode de prazer,
O cheiro de tal morte, os ossos meus, ilíacos,
Na dança derradeira, angústia de viver...

Quando chegar a morte, enfim, serei feliz.

Quando chegar a morte, enfim, serei feliz.
Neste cadáver vivo a paz renascerá...
Quem na vida escapou, vivendo por um triz,
Com certeza, por sorte, um dia brilhará...
Procuro pela lua,a velha meretriz.
Sempre que rastejo, o trilho estava lá,
Sanguíneo tal letreiro indica-me, infeliz,
O rumo do meu sonho, onde a morte estará!
Se encontro podridão, Plutão, meu companheiro,
A boca que me beija, inválida se ri...
Abismo que mergulho, é meu, decerto, inteiro...
As noites que sonhei, são tolas, sepulcrais...
A morte, viva em vida, esteve por aqui...
Esperanças gentis, palavras tão banais!

Na treva figurante, abissal, imbecil,

Na treva figurante, abissal, imbecil,
Transponho meu desejo, envolto em tempestade.
Procedo qual artista, inválido buril;
Que em sonho sem futuro, esboço da maldade,
Destrói o que foi lume, esquece a claridade...
Matando sua sede, escarra no cantil.
Esmaga uma criança, espanca o que é sutil,
Vagueia nesse esgoto, espelha a falsidade...
Na treva caminheiro, escalo esta montanha,
Meu sonho mais feliz, limite da esperança,
Saber desta palavra, aguardo nova sanha.
Na treva procurando, espero teu perfume...
O gosto deste amor, liberta-me em fiança,
Desfazendo a vil treva, ateia um novo lume...

louco

Essencialmente louco esperei o final
Se no meu mundo abstrato, espero pelo abismo,
Sorriso da medusa é belo pois fatal...
Meus dentes latejando explodem neste trismo.
Restituo o perdão, traduzo-me boçal,
Neste universo tenso ansioso exorcismo...
Ausculto cada estrela, esfera crucial,
Vitória não permite um laivo de ufanismo...
Mergulho meu desejo em procelas medonhas...
Um louco, extraviado, aguarda novo rumo...
Na cama que durmo, a tristeza traz fronhas,
Noturna, minha chama, incendeia o pavio,
Por mais que sempre tente, imbecil, não me aprumo,
Morro estupidamente, imerso vago e frio...

OUTONAL

Vou viver sem ter medo, ouvir tranquilamente
O canto da ilusão levando o meu outono.
A cabeça a rodar, voar mais livremente.
A vida me trazendo a calma deste sono.
Teu belo canto, amiga, ouvirei docemente...
No meu olho, fechado, entregue ao abandono,
O tempo vai passando, outro mundo, poente...
No teu colo, querida, asa aberta, ressono...
Amanhã? Outro dia... A luz do sol renasce,
O mundo passageiro, adormece devagar...
A nossa conjunção, brilhante, nosso enlace.
Outonal, vagabundo, espero teu carinho...
Tudo será melhor...Não me custa esperar...
Vagabundo, outonal, não quero ir mais sozinho...

Friday, November 3, 2006

Estava cansado

Estava cansado
Pensando na vida,
Estrela caída,
Morrendo no mar.
Depois a tristeza.
Brincou de princesa,
Ficou do meu lado,
Não quis descansar...
Vestido de forte,
Pensei na saudade
Foi tanta maldade,
Não pude sonhar...
Na vida quem sonha
Deixando a vergonha
Se esquece da morte,
Não quer mais lutar...
Procuro teu beijo
Cadê, meu amor,
Me resta esta dor,
A dor da minha alma,
É tanta que choro,
Te peço, te imploro,
É grande o desejo,
Viver sem ter trauma...
Chegou o momento
De ter teu carinho,
Não vou mais sozinho,
Espero o luar...
Não quero essa cruz,
Procuro essa luz
Vital pensamento
Que possa brilhar...
Meu povo sofrido,
De fome calado,
É gado marcado
Não pode falar.
Senzala resiste
A dor inda existe
Um grito contido
Já tenta ecoar...
Chibata sangrando
O couro cortava
A mãe que chorava
O filho gentil,
Depressa se cala,
No quarto e na sala
Aos poucos matando
O nosso Brasil...

Tantas vezes deixado aguardo pelo vento...

Tantas vezes deixado aguardo pelo vento...
Nos céus um belo astro, o manto constelar...
Nas mãos o teu carinho, o poder desse ungüento.
Nas asas que me deste espero enfim achar
Num gesto mais feliz, poder do pensamento...
Na vida peço bis: como é gostoso amar!
Um coração palpita esvai-se num momento,
Batendo, não se cansa, avança sem parar!
Deixaste sempre alerta um coração que sonha...
Não quero teu perdão, me basta teu carinho...
A noite sem te ter, matando-me, é medonha...
Crepuscular, minha alma, aguarda esta pepita,
Que nunca vou achar, sem ter o nosso ninho...
Princesa do meu sonho: Ah! Como és tão bonita!!

Minha alvorada nasce em meio a tempestade...

Minha alvorada nasce em meio a tempestade...
Procuro pelo canto, um passarinho triste...
No beijo que me deste achei felicidade...
Um deus apaixonado eu sei que, enfim, existe...
De amor embriagado, encontrei a verdade...
Tristeza companheira, adormece e resiste.
Minha alvorada plena esconde-se, saudade...
A lua desejada, estranha, tudo assiste...
Teu beijo traz frescura, as águas deste rio...
Um coração moreno, aguarda nesta curva.
Os trilhos do caminho, escondem todo o cio...
Na calma, na brandura, um gosto do desejo.
Minha alvorada desce, a noite não é turva.
Deslinda-se em beleza, a mansidão do beijo...

Resoluto não temo as dores nem as chagas...

Resoluto não temo as dores nem as chagas...
Enfrento a tempestade, a noite não me assusta.
Viajo pelo mundo, em busca d’outra plagas.
A fonte do desejo, em mim é mais robusta.
Não quero nem saber se mordes ou me afagas,
Não sei de qualquer dor que, trágica, me assusta.
Vencendo o vencedor, minhas paixões são magas...
Depois de ter vencido, alegria não me incrusta.
O gosto da vitória esvai-se num segundo...
Qualquer um desafio esqueço sem querer.
No coração que sonha, aguardo todo o mundo...
Na vida, sem querer, não sigo qualquer plano,
Cansado desta luta, eu sei que vou vencer.
Não tenho sequer medo, eu sou um ariano...

Nos mares uma estrela espera pela lua...

Nos mares uma estrela espera pela lua...
Aguardando outra estrela abertos os seus braços...
Nos sonhos que tivera, acalma-se e flutua.
As ondas deste mar, vencidos seus cansaços,
Estrela maviosa espera toda nua.
Aguarda calmamente em busca d’outros laços.
Paixão igual não vi, refeita continua
Na louca tempestade, entrega-se aos abraços...
Estrela que é princesa amante desejada,
Na certa não se cansa, a pureza desta alma...
Pois, sonhando se entrega, espera ser amada...
Em paz a natureza, observa este delírio.
O mar que estava bravo, em um instante acalma..
Lua se penaliza, ao ver esse martírio...

O vento que balança espera por alguém...

O vento que balança espera por alguém...
As asas que me deste, orgulho dum plebeu,
Na certa vou voar, procuro por meu bem
O coração batendo, um reino que é ateu,
Aguarda com saudade, a noite nunca vem...
A vida, crueldade, esboça um sonho meu,
Me nega claridade, enfim eu sou ninguém.
Ninguém vem me chamar, o meu amor morreu...
Meu mundo sem meu verso, anseia pela cura
Bendito o meu desejo, um sonho de infinito...
Quem dera primavera, a vida é tão escura...
Teus braços, meu abraço, explode coração!
Nas ruas que passei, deliro, solto um grito.
Num êxtase sincero, aguardo teu perdão...

espero pelo sol

Não quero teu despeito, espero pelo sol
As lágrimas afago embalde eu as sequei...
Plantei no meu jardim um pé de girassol.
Castelo que fizeste aguarda um novo rei...
As bocas que beijaste, a vida sem farol.
A febre me queimava, a dor que eu aguardei...
A noite enluarava a pesca sem anzol.
No templo que sonhaste amor virava lei...
Eu, ansiosamente, espero teu carinho...
Vasculho no trigal, pardais devoradores.
Aguardo teu sinal, não quero ser sozinho...
Plantei tanta semente, espinhos deram flores...
Meu pássaro voava em busca d’outro ninho...
Reguei o meu jardim, com todos meus amores...

Quero beber o vento, a tempestade louca...

Quero beber o vento, a tempestade louca...
Sorver o pensamento, a lua a palpitar...
Meu coração sedento espera tua boca.
A porta que arrebento, estrelas a pairar...
O fino mel da abelha espinhos desta rosa...
Do céu, esta centelha, um gosto quase mel...
A violeta vermelha, a cor mais dolorosa.
No meu telhado, a telha espreito um lindo céu...
Meu verso vagabundo estático em teus braços.
Procuro pelo mundo aguardo teu regaço...
Tanto segredo inundo um coração, seus laços...
Na boca trago o beijo, espio teu cansaço...
No fundo o meu desejo, estar nos teus abraços
Amor me fez cortejo; a dor, enfim, desfaço...

A tarde vai caindo, espreita os olhos meus...

A tarde vai caindo, espreita os olhos meus...
Um sino repicando ao sabor dessas horas...
Rezando por Maria, espero por meu Deus.
Lembranças d’outro dia, à noite, enfim, imploras...
Meu olhar embuçado, aguarda pelos breus...
Não posso reclamar, preciso, sem demoras...
Saudade me destrata, aguardo os olhos teus.
A noite então trará certeza das auroras...
Descanso meu cansaço, envolto nos teus braços...
Amor que foi dolente, o sol já não me queima...
Na caça que fizeste, abraços foram laços...
Martírios deste amor, brotando na verbena.
Mal posso traduzir, ressurges nesta teima,
Amor que já floresce, as cores da açucena...

Distâncias que percorro embalde são vencidas...

Distâncias que percorro embalde são vencidas...
O canto que expressava agora vai calado...
Uma ave que voava as asas já feridas,
A noite representa o meu tempo passado...
Por vezes esperava as tuas mãos erguidas...
O gosto do teu beijo, o grito torturado...
A vida não passava, as dores incontidas...
Destino desvendado, amor virou meu fado...
Meu coração batendo afoito sem sentido...
Clarão que iluminava a noite dos meus sonhos...
Amor nunca chegava esboçado no olvido...
A lua clareando o velho e bravo mar,
Estrela que esvoaça os olhos meus tristonhos...
No beijo que eterniza esta certeza: amar!

Na beleza do verso espero encontrar luz...

Na beleza do verso espero encontrar luz...
Na tristeza do canto espero pela vida...
O peso que carrego, imenso desta cruz.
Na curva desta estrada, a vida anda perdida..
No peito machucado exposto a tanto pus,
A noite se mostrava angústia e despedida...
Na mão que guerreava essa expressão do obus,
A hora da chegada é hora da partida...
Não posso perdoar, nem quero essas escusas...
Nos versos que componho espero pelo encanto...
Nas noites que sonhei, por certo tantas musas.
A beleza do sonho está na fantasia...
A singeleza clara espelha um doce canto...
A lua que brilhava espera um belo dia!

Andei por certo triste, esperava teu perdão...

Andei por certo triste, esperava teu perdão...
A chuva maltratando esse pobre andarilho...
No peito disparando um louco coração...
As roupas te cobrindo, encontro este espartilho...
A lua vai brilhando adoça esta amplidão...
Quem fora doce mãe, procura pelo filho...
Luar que sempre brilha, inteiro, no sertão..
A vida procurando, encontra um novo trilho.
As hortas que plantaste, as verduras morreram...
Nas hordas que levaste os medos sobrevivem...
A noite que nevara, os medos percorreram...
Andei por teu caminho, estrelas não brilhavam...
Nos beijos que te dei, destas tristezas vivem.
Na lua que surgira, embalde procuravam...

Tristonho, abandonado espero pela lua...

Tristonho, abandonado espero pela lua...
Aquela que eu amava agora é só desdém...
Caminho procurando essa alma que flutua.
Embalde desistindo a noite diz ninguém...
Teu corpo, sim, desejo a carne exposta, nua...
A vida prometendo, esquece um novo bem...
Tristonho, abandonado, a noite traz a rua..
Espero, angustiado, espero por alguém...
Tragédias que passei perdoam meus pecados...
As noites que varei, revelam os meus dias...
Agora vou buscando, em vão, os teus recados...
Tristeza vem chegando, a noite não socorre...
Depressa me esqueci, daquelas melodias .
O tempo vai passando, amor que tive, morre...

Minha alma, derradeira companhia...

Minha alma, derradeira companhia...
Não leva tais tristezas, magoada...
Por vezes dissimula, mais sombria.
Mas mostra-se em verdade, disfarçada...
Não pode suportar tanta heresia,
Descansa, suavemente, na calçada...
Do beijo que negaste, serventia.
Minha alma vai seguindo apaixonada...
Soturna, tantas vezes é sarcástica...
A vida que me deste, sei monástica.
Meus olhos passeando pelos seios.
A boca escancarada não simula...
Das curvas de teu corpo caço os veios,
A minha alma embriagada estimula...

Liberdade, liberdade...

Uma das coisas que tem me chamado a atenção nesses dias de marasmo foi a decisão da justiça em condenar o sociólogo Emir Sader por ter chamado o homem forte do PFL, Senador Jorge Borhhausen de racista...
Pera aí quando o dito senador disse ao pé da letra que iria se ver livre “desta raça” por no mínimo trinta anos, ele não foi racista?
Ou melhor, explicitamente racista?
Raça não é definição de cor ou de grupo social, é uma coisa mais ampla, sendo que, a bem da verdade, só existe uma raça – a raça humana.
A discriminação de um grupo qualquer e por qualquer motivo é racismo sim senhor, já que ao denominar um grupo e atacá-lo existe uma posição racista por trás disto.
Seria o mesmo que dizermos que iríamos nos livrar de católicos, evangélicos, judeus, brancos, negros ou qualquer forma de determinação de exclusão da raça única que temos: a raça humana.
Podemos ter diferenças políticas mas a discriminação ou a segregação política é criminosa a partir do fato em que é colocado o termo RAÇA para determinar este grupo.
Se tivesse dito por exemplo:”vamos nos livrar dos petistas ou dos esquerdistas ou dos lulistas” tudo bem. Não estaria identificando discriminatoriamente um grupo “racial” e sim ideológico ou político.
Se tivesse se expressado com maior clareza, talvez não tivesse sofrido uma reação como ocorreu.
Mas, sutilmente temos exemplos de discriminação no dia a dia que me causam ojeriza.
Ao me lembrar de um presidente da república dizer que “tem um pé na cozinha” ao tentar justificar antepassados negros é de uma discriminação extremamente asquerosa.
Sou negro de alma e tenho genes negros, indígenas, assim como quase todos os brasileiros.
Tenho minha orientação política e isso é direito constitucional meu. E não admito que alguém com outra opinião tente afirmar que está satisfeito em “exterminar a minha raça”.
Isso me lembra épocas negras da sociedade humana, onde a liberdade de opinião e de expressão eram totalmente tolhidas.
Espero que o bom senso seja restabelecido e que os justos não paguem pelos pecadores.
Afinal de contas, a raça humana agradece...
Vergalhões esquecidos no caminho,
São pedras que procuro disfarçar...
Um pássaro faminto sem ter ninho,
Teimoso se esqueceu como voar!
Nas horas mais difíceis vou sozinho.
Estrelas companheiras a guiar.
Recebo tais promessas, de mansinho,
É certo que jamais vão me cansar...
De todas as promessas mentirosas,
De todas as mentiras que disseste.
Amor que já morreu, vento nordeste,
Jardim que cultivei, morreram rosas..
Fazendo tantos versos sem sentido...
O mundo que sonhei ver dividido,
Depressa se desfaz, provoca guerra;
Saudades de descer da tua terra,
Fazendo minha rede em teus cabelos...
Não posso mais nem quero recebê-los.
A sorte não dá mote pra cantar.
Maria foi pro mar, sabe nadar?
Serviço de primeira, conta cara....
Amor que não maltrata é coisa rara!
Vencido meu desejo de vingança,
Correndo vem dançar na contradança...
Não quero meu emprego, perco viço...
O tempo que não nego, corrediço,
A vida sem saber virou enguiço,
Da feiticeira quero esse feitiço...
Não fale de Maria ou Mariana,
Esqueço que vivi, tanta mentira...
A noite que prometes não me engana,
Sandália que calcei procura tira...
O bom cabrito berra, senão morre...
Aquele que ficou, pobre coitado...
Menina vou tomar um grande porre.
Delícia pra comer: cabrito assado!
No lote das estrelas, Botafogo.
No canto das sereias, teu cantar...
Incêndio que se preza, bota fogo,
Estrelas mais brilhantes? Nem no mar...
Vencemos os problemas que sofremos,
É certo que esqueci de te contar
Na noite dessas bruxas revivemos,
Agora vou morrer neste luar.
Menina me enganaste, que besteira!
Barriga vai crescendo, devagar...
Vai custar muito caro a brincadeira,
Agora é que vou ter que trabalhar!
Cunhado não é sorte nem destino...
É carga que não canso de levar,
Mas também quem mandou o desatino,
A mala me sobrou pra carregar!
No peixe que pesquei, um diamante,
Nas ondas que navego, meus pecados...
Amor que dediquei, era gigante...
Na porta dos desejos, teus recados...
Na curva desta estrada capotei,
Perdi a minha sogra, quero o carro.
No reinado da rainha já fui rei...
Marido da cigarra? Meu cigarro.
Na carta que mandaste, meu amor,
Me falaste de estrelas e da lua...
A noite que não brilha, traz pavor.
Mulher que não amei, caminha crua...
Recebo teu pedido de perdão...
Não posso te dizer que não reparo.
Gordura me faz mal ao coração,
Amor que não sonhei ficou bem caro...
As jóias que pediste, de cristal,
De vidro verdadeiro são bem feitas...
Amor que não conhece carnaval,
Por certo tantas pernas endireitas...
Na doce melodia que me encanta,
A voz desta cantora não faz feio...
Plantei no teu castelo, minha santa,
Amor que já brotou, trouxe receio...
Receita que te dei, felicidade,
Jogada na cozinha, se perdeu...
Não posso te dizer tranqüilidade.
Se não morrer você, já me mato eu...
Mascaro meus desejos com chiclete
Meu hálito melhora e me suporta...
Não venha serpentinas e confete.
A solidão deixei atrás da porta...
Assim vou terminando meu repente.
Amor que não sobrou é paranóico...
Meus versos vão morrendo, de repente,
Decassílabos? Faço! Tudo heróico...
A chuva salpicando, ouvi chamar teu nome...
Pretendo conhecer tuas farsas, enganos...
Vou devagar, sofrendo, o mundo inteiro some...
Ninguém quer mais saber de todos os meus planos...
Estrelas percorrendo, a tristeza consome
Não deixa nem restar sequer sombra de panos.
A noite me trazendo a vigorosa fome.
Os amores, por certo irão morrer tempranos...
Procuro por teu canto, a sombra não ecoa...
Cascalho, o que me resta, a festa terminou...
A minha asa esquecida, inválida não voa..
A noite que se acaba aguarda novo dia...
Um pássaro sem ninho aqui, quieto, ficou...
Não cantarei jamais nosso amor: fantasia...

Triste tempo

Triste tempo que passo, alvo de minhas dores,
Buscando teu remanso, almejo toda sorte...
Nesta noite febril, versos tolos, de amores;
Companheiros que tenho, audazes... Manso, forte,

Estarei sempre em busca, amiga, onde tu fores...
Noite calada, sofro, aproxima-se a morte,
Dona de todo mar, terra, dos homens, flores...
Derrubando viril, seres de qualquer porte...

Os meus versos banais, banidos da existência...
Esperando sutis, qualquer uma clemência,
As desculpas que invento ouvirás no meu canto..
As lágrimas que choro, o tempo não descansa...

Não poderás sentir todo o meu triste encanto...
Triste tempo que trago, a solidão avança...

O CORVO Tradução de Fernando Pessoa

O CORVO
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais
Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este «Nunca mais».

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele «Nunca mais».

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
«Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
EDGAR ALLAN POE

Recado

Recebi teu recado.
É, realmente não temos mais jeito.
Porta bate, frio chega e a danada da solidão enchendo meus copos.
Sei que não virás, muito menos estarás aqui na hora exata.
Firmo meus olhos através da grade da janela.
Vento e frio.
Vazio....
Me deste uma esperança. Vadia esperança...
Não, eu sei que tive culpa, mea culpa, minha tão grande culpa.
Nessas alturas do campeonato qualquer coisa é coisa qualquer.
Beijo, desejo, sexo...
Dane-se!
Tudo bem, eu errei! Pela enésima vez: errei!
Amanhã estaremos todos bem, desfilarás tua nova conquista e ainda por cima carregarás contigo esse insuportável poodle.
Leva e espero que te faça feliz, poodle e namorado novo.
Belos enfeites para um abajur ambulante.
Ficarei aqui. Cinzeiro, cigarro, conhaque, pipoca de microondas, sem microondas, claro.
Esqueceu de levar os Dvds.
Ainda bem que me livrei daquelas sinfonias agonizantes diárias: levaste todos eles.
Estava cansado de ver fio de cabelo em todas as canções que era tortuosamente obrigado a ouvir...
Vou mandá-los pelo primeiro portador que aparecer.
Fique tranqüila...
Os erros são meus, os filhos são teus,
Me sobra o conhaque, o conhaque e a lua...
Agora, esse negócio de ficar comovido...

Fotografia

Metas repletas são cometas
Não cometas os erros que prometo.
Completo meus desejos de poeta
Com certas não concertas nem completas.
Disfarças...
As garças, as graças e as farsas...
Me dano, medonho e sem pano,
Meu plano maior é teu engano...
Acordei tarde, a noite tinha sido terrivelmente difícil. O retrato na parede me persegue como se fosse um cão policial.
Um doberman...
Bem sei que nunca mais terei o prazer de ver teu rosto.
Composto por pedaços dilacerados dos meus sonhos e dos meus amores. Antigos amores...
Nada mais restará nem vaso nem flores, rancores...
Retrato na parede... Composição informe e desinformadora.
Formatei todos os meus delírios em uma única fotografia.
Noites a fio, trabalho fiel de fiadeira...
Fio a fio, talhe a talhe. Uma escultura estranha e temerária...
Bebi tuas gotas e transformei em uma chuva; a bem dizer, em chuvisco...
A infiltração te levou e desmanchou a fantasia.
Do retrato na parede me sobrou somente a sombra.
Sombra de quem se foi e nunca existiu.
Misto de amor e de desejo, desbaratados os meus pesadelos e esperanças, bato a porta e vou, peito aberto, à espera do novo dia...

Doces lagos, amores e poeta...

Doces lagos, amores e poeta...
Fumaças e fogueiras, esperança!
Vida que determina-se incompleta,
Não deixa de saber do deus da dança.
Amar sem sofrimento é minha meta,
Repleta de verdades sem lembrança.
Curva determinada pela seta,
Asceta procurei virar criança...
Na certa não perfumas sobremesa,
Teus costumes e vícios, respeitei.
Quem brincava rainha da incerteza
Escadas das estrelas despencou...
Mal sabes o caminho desta grei
O sol da liberdade? Nem raiou...

Meus sentimentos vagos, vagas buscam

Meus sentimentos vagos, vagas buscam
Nos mares que enfeitiçam navegantes...
As luzes de teus olhos sempre ofuscam,
O medo de saber sonhos distantes...
Palavras que sentidos não rebuscam,
Trazem simplicidade dos amantes...
Titubeantes passos, luscofuscam
Os teus beijos, singelos diamantes...
Levarei a saudade que é comparsa.
Desfeitas tentativas vãs, a farsa
Que produzia tolas esperanças
Descansa nos altares das lembranças...
A vida que sonhei, morrendo esparsa,
Renova-se nos olhos das crianças...

Mocidade, distante, leva o vento...

Mocidade, distante, leva o vento...
Um pálido retrato na parede...
Exponho toda a dor do pensamento,
Procuro meus amores, tenho sede...
Distante, vai ao vento a mocidade...
Ardendo nas fogueiras da beleza,
De um tempo que jamais será verdade.
Dos cantos de esperança, viva presa...
Fecho meus olhos! Nada mais terei...
O gosto deste orvalho, nunca mais...
Rocio de minha alma foi a lei.
Porém essa implacável, fria fera;
Responde: mocidade? Não, jamais!
Inverno destronando a primavera!

Requintes

Requintes dos banquetes deste amor...
Nos talheres de prata dos desejos...
Nos cálices cristais, na fina flor...
Brindando assim a todos os teus beijos,
Nas valsas que dançamos com vigor.
Porcelanas tão raras, azulejos.
Nos lustres de cristal brilho e fulgor...
Distante inda se ouviam realejos...
No baile sensual dos nossos sonhos,
Nos empalideceram tantos planos...
Os dias se transformam, vãos, tristonhos...
Nas pétalas da rosa, sangue, gotas...
Em meio a tempestades, meus enganos.
As roupas da ilusão, desmancham, rotas...

Não guardarei jamais menor rancor...

Não guardarei jamais menor rancor...
A vida não pertence ao meu sonhar...
Bem certo que preciso deste amor,
Mas as ondas não deixam velho mar...
Mentiras e verdades... Qual valor?
A morte sutilmente irá cobrar
As horas que vivemos sem calor,
As luas que tivemos sem luar...
Ódio? Por quê? Sentindo a leve brisa
Afagando os cabelos, ‘stás aqui...
As águas deste mar, meu corpo alisa,
O beijo desta lua que clareia,
Em toda essa carícia que senti.
Eu te trago incrustada em minha veia...

Meus dolentes martírios, vaporosos,

Meus dolentes martírios, vaporosos,
Na rubra boca desta que me encanta...
Os dias que se foram, tenebrosos,
Nos mares dos amores, a voz canta...
Silêncios mais concisos, orgulhosos,
Calados neste peito que me espanta.
Mulher que mergulhei, traz olorosos
Perfumes. Divinal a noite santa...
Sorvendo teus segredos nos meus sonhos...
Os lírios que colheste, solidão...
Os medos se transformam, são medonhos...
A lua me transporta ao teu pomar...
Mais forte, vai batendo um coração,
No ritmo tão robusto deste amar...

Castelos desabados, meus desejos...

Castelos desabados, meus desejos...
Capitulei vencido pela treva.
Nas guias dos luares, sem lampejos,
A morte traiçoeira, sempre ceva...
Passando por terríveis relampejos,
Minha alma no deserto, triste neva.
Meus olhos sem mirada, sertanejos,
Buscando meus castelos, dor releva...
Amar teria sido meu delito?
Viver sempre será fatal conflito.
Da guerra só conheço derrocada...
Não podem rudes pedras florescer...
A morte, enfim, ajuda-me a viver,
É torre do castelo, destroçada...

Saudades deste amor que não vivi.

Saudades deste amor que não vivi.
A boca que sonhei, depressa some.
Por vezes imagino que esqueci,
No fundo preservei, decerto a fome...
Distante estás de mim, te vejo aqui,
O brilho dos teus olhos não consome...
Palavras sem sentido, eu não te vi.
Impedem que meus rumos, eu retome.
Ando preso a carinhos que não vejo.
Doidamente procuro por teu colo...
Me resta sombreado, este desejo...
Desejo de viver a claridade...
Levito, mas meus pés presos ao solo,
Não me deixam senão sentir saudade...

Pouso a mão nos cabelos da mulher

Pouso a mão nos cabelos da mulher
Que traçou meus destinos, minha vida...
As ilusões que trago, se quiser,
Nascem na mocidade vã, perdida;
Desabam nas planícies. Sou qualquer
Dos sonhos que destinas: despedida...
Na perfídia dos erros que fizer,
Encontrarás escusas. Somos brida...
Atados meus destinos nos teus braços...
Colados somos gêmeos siameses...
Estreitas nos meus laços os teus laços.
Neste nó que jamais será desfeito...
Restaremos unidos, anos, meses...
Corações se fundiram, trato feito...

Nos crepúsculos vivo meus amores...

Nos crepúsculos vivo meus amores...
Soturnamente tento expiação...
Não guardo no meu peito esses rancores
Que envelhecem quem foge do perdão...
Minha vida, afinal, nos estertores,
Desmancha sem querer, caramanchão...
No palco das torturas, maus atores,
Não sabem sequer rumo e direção...
Horas onde perdi os meus disfarces,
Esquecido de tudo, vago espaços...
Oferecendo triste, tantas faces
Quanto quiseres... Ah! Meus desalentos...
Preciso reviver os teus abraços,
Preciso conhecer teus pensamentos...

Noite se abrindo , mágicos pendores...

Noite se abrindo , mágicos pendores...
Nas esperas, cansaços e canções...
Vestida de ilusão, trazendo flores,
Destroça, mansamente, corações....
Noite, testemunhando meus amores,
Retrata nos seus brilhos, os perdões...
Quem pensa na beleza dos albores
Desconsidera o rumo das paixões...
Imagino um deserto, lua plena.
O vento acaricia um belo rosto.
A vida que sonhamos, tão serena...
Nos olhos dessa amada, fino gosto,
Os nervos, as entranhas, tudo exposto...
Imagino a ternura desta cena...

Pantanoso destino me legaste...

Pantanoso destino me legaste...
Nascido na floresta mais selvagem,
Procurando viver, neste contraste,
Vou buscando espelhar a minha imagem,
Nas matas e nos rios que deixaste
Como oásis, delírios e miragem...
Crescendo, tentarei fincar as hastes
Nesta maravilhosa paisagem...
Mas a charneca nunca me deixou...
Entranhada em plena alma não me larga...
Essencialmente é tudo o que restou...
As marcas deste pântano que trago,
Por tantas vezes meu olhar embarga.
Delas me livrarei neste manso lago...

A lua derramando-se tristonha,

A lua derramando-se tristonha,
Espera pela aurora que se chega...
A luz que brilhará, mais medonha,
Os olhos desta lua sempre cega...
Com outra madrugada, a lua sonha,
Passeando no zênite, trafega...
Deitada, se cobrindo bela fronha,
Os sonhos do poeta já carrega...
Lua amada, querida companheira...
Não te esqueço jamais nos pobres versos...
Tantas vezes procuro-te altaneira
Pelos céus no meu canto desolado...
Buscando por teu brilho em universos..
Mas embalde, o meu céu vive nublado...

Enlanguescente deitas sobre a cama...

Enlanguescente deitas sobre a cama...
Volúpias e desejos no cetim.
Estás sensualíssima: Me chama...
Nas erupções vulcânicas, festim...
No jogo sedutor, acesa a chama,
A fogueira queimando dentro em mim...
Delícias produzindo louca trama,
Quem dera, toda vida fosse assim...
As bocas desbravando cada trilha,
Audazes dedos tecem linda renda...
O mundo transbordando em maravilha.
Buscamos mais ferozes, novo afã
A lua salpicando nossa tenda,
Prepara aurora grávida: manhã...

Vida me embriagando, grandes tragos...

Vida me embriagando, grandes tragos...
As danças e desejos neste vinho...
Dispenso teus solenes, vis afagos...
Mergulho no horizonte, sem caminho...
Os olhos multiplicam, viram magos.
Quem me der novo beijo, seu carinho,
Navegará por certo, loucos lagos...
O meu corpo procura e pede ninho!
Bocas unidas, beijos sensuais..
Os tragos deste vinho, sou refém...
No pêssego do rosto, manuais...
As bocas se procuram, de viés...
Distante desta boca sou ninguém.
Sou monastério que perdeu as sés...

Teu beijo me queimando, uma fogueira...

Teu beijo me queimando, uma fogueira...
Ardendo nos meus olhos, qual fumaça...
Amar-te, prometi, a vida inteira.
O tempo desgraçado, tudo embaça...
Muitas vezes sonhei: minha bandeira
Jogada, abandonada em plena praça.
Amor que não renova faz besteira,
No vento sem saber, depressa passa...
Te quero minha amada sonhadora,
Quero a cada segundo, a cada instante...
Margarida dos sonhos, logo aflora...
A vida sem amor, não vale um riso...
Quem me dera viver amor constante...
Por certo me traria o paraíso!

Cansado desta imensa caminhada,

Cansado desta imensa caminhada,
Nos ermos da floresta me perdi...
Me esperando o vazio, o resto, o nada...
Tantas vezes te espero. Nada aqui...
Minha tola emoção vai exilada,
Nos mares que velejo, me esqueci...
Sonhei com caravela prateada,
Mas somente naufrágios, eu vivi!
Cansado desta noite solidão.
Procuro companhia nas estrelas.
A lua, enciumada, me diz não.
Da lua não recebo uma centelha,
Fazer o que? Acendo algumas velas,
A lua ruboriza, se avermelha...

Noite descendo, triste, sobre a terra...

Noite descendo, triste, sobre a terra...
Os meus olhos cansados desta insônia...
Distante, azulejada, bela serra,
A mão que me acarinha... Não é Sonia...
Por tantas madrugadas, paz e guerra.
Porões que convivemos, cal,amônia,
No caos compartilhamos. Se desterra
Um sonho: conviver... Vida demônia!
Embriagado tento uma saída.
Aurora se demora, perco a paz...
Jogada em algum canto, distraída,
A almofada que foi meu travesseiro...
Ao ver-te imaginei-me ser capaz,
Agora o nosso amor, morre cinzeiro...

Olhando tua imagem, galeria,

Olhando tua imagem, galeria,
Nas portas, num vitral, numa emboscada.
Reparo num segundo como és fria,
A boca que me morde, escancarada...
Uma águia que devora minha cria,
Depois, dissimulando a gargalhada,
Me deixa sem saber se é noite ou dia.
Me deixa abandonado, na calçada...
Heráldica tormenta vai noblíssima,
Escaras meu agreste coração...
A mão que me acarinha, branca, alvíssima.
Não mostra na verdade quem tu és...
Não tenho nem resquícios do perdão,
Embalde me joguei ,tolo, a teus pés...

Olhando tua imagem, galeria,

Olhando tua imagem, galeria,
Nas portas, num vitral, numa emboscada.
Reparo num segundo como és fria,
A boca que me morde, escancarada...
Uma águia que devora minha cria,
Depois, dissimulando a gargalhada,
Me deixa sem saber se é noite ou dia.
Me deixa abandonado, na calçada...
Heráldica tormenta vai noblíssima,
Escaras meu agreste coração...
A mão que me acarinha, branca, alvíssima.
Não mostra na verdade quem tu és...
Não tenho nem resquícios do perdão,
Embalde me joguei ,tolo, a teus pés...

À minha musa II

Se tantas vezes luto, agora festa,
Meus dias vagabundo, agora canto..
Nas horas mais difíceis foste fresta
Nos dias sofredores, meu encanto.
Buscando tuas mãos, encontrei fada.
As marcas do destino nunca saem.
Que bom estar contigo, minha amada,
Os meus olhos sorrindo não me traem..
Querida companheira estou contigo,
Em todos os momentos desta vida.
A curva do caminho traz perigo,
Na curva do teu corpo, distraída,
Derrapo meus sentidos, perco o chão.
Não deixe que se acabe o sentimento,
Amor que não precisa de perdão,
É livre passarinho, solto ao vento...
Vestido de esperanças te procuro,
Encontro um verde prado a me esperar,
Dos males deste mundo, já me curo,
O rumo dos meus olhos, teu olhar...
Menina sei por certo nossos rios,
Deságuam no oceano deste amor...
Não deixe que meus sonhos sempre esguios,
Nas ilusões te traga meu pavor...
Nas noites que lutamos, sem espadas,
As bocas nos servindo de punhais...
São noites mais difíceis, pois geladas,
As ruas vão sonhando seus metais...
Nos cantos desta noite, retratadas,
As dores que se tornam desleais;
Navegam procurando a madrugada.
Por vezes nos amamos, canibais...
Não deixe que se chegue indiferença
Preciso de teus braços p’ra nadar.
Amar quem só recebe recompensa,
É simplesmente troca, sem amar...
Amores que vivemos são tão raros,
Nas noites mais difíceis, aquecer...
Os vasos conservamos, pois são caros,
Assim como é querido o bom viver...
Tua beleza intensa faz feliz,
Viver tuas promessas, me faz rei...
Na cama minha intensa meretriz,
Nas ruas minha dama, disso eu sei...
Morrer ao lado teu. Ó quem me dera!
Viver as fantasias dolorosas...
Nas curvas do teu corpo, primavera,
As tuas mãos sedentas, carinhosas...
Belezas sem igual, ninguém mais tece,
Da forma que forjaram, resta nada...
Amar-te se tornou a minha prece.
Nunca te deixarei abandonada...
Meus olhos esquecidos sem descanso
A musa que me inspira, com certeza,
Promete-me viver doce remanso...
Castelos dos meus sonhos, realeza...
Não deixe que termine nosso caso,
Não quero mais viver sem teu perdão...
A vida sem te ter, me leva: ocaso,
Mas quando junto a ti: é solução!
Menina me ninando teu carinho,
Na rede descansando nossos beijos...
Libertos encontrando um manso ninho,
A vida se renova, nos lampejos.
Musa, minha rainha e minha amada,
Princesa que me fez um sonhador.
Escuta esta canção apaixonada
É feita da verdade deste amor...

Thursday, November 2, 2006

À minha musa

Meus versos, universos procurando,
No seio da mulher que tanto sonho...
Teus mares meus saveiros navegando.
Os olhos que te perdem, mar medonho...
O tempo que não tive, vai passando.
Mortalhas estendidas no porão...
Esparsos, os meus sonhos formam bando,
Invadem teu veleiro e coração...
Mascaro minhas dores com teu riso,
Massacro meus amores sem perdão...
De tudo o que vivemos, teu sorriso,
Reflete tanta luz nesta amplidão!
Na sede que matamos, mutuamente...
Meu canto que persigo não preciso...
As luas vão rodando em minha mente.
Nos olhos, minha amada, o paraíso...
Te faço meus poemas, sem segredos...
Esqueço de minha alma, redundante...
Não deixe que esses torpes, frios medos
Impeçam teu caminho, sempre avante...
Meus versos inundados de desejo
Não trazem suas rimas: solução.
A vida que conheço no teu beijo,
Impede conceber a solidão...
A boca que profanas, sempre mente.
Bem sabes que vivemos sem martírio...
Amamos e sofremos simplesmente,
As luzes deste amor, feliz colírio...
Cantando nas gaiolas tristes cantos...
Amores se tornando prisioneiros...
Não posso permitir os desencantos,
Amor que não morremos, verdadeiros...
Espero por teu verso, minha amada.
Mas não demores nunca, tenho pressa...
A noite que na aurora, vai calada,
Esquece de cumprir sua promessa....
Os raios boreais minha aquarela.
O medo de sofre mais desengano...
Teu rosto emoldurado, bela tela,
Pinacoteca minha, disso ufano...
Afrodite, decerto, tem inveja
Da beleza sutil desta mulher...
Hermes, extasiado te deseja,
Teu brilho é invulgar, não é qualquer...
Dancemos homenagens para o deus
Que permitiu a vinda desta musa...
Teus olhos na verdade são ateus,
Espreito belos seios nesta blusa...
Meus versos desejando: sou feliz.
Não nego meu amor: eu te venero...
Vivendo minha sorte por um triz,
És muito mais que penso, nem espero...
Amada, minha ninfa, meu tormento...
A noite que passamos, sem marasmo...
Esqueço assim qualquer um sofrimento,
Envolto nas delícias deste orgasmo...

Meus versos

Meus versos vão em busca dos teus braços...
Atalhos procurei para dizer.
Espero francamente nossos laços,
Meus braços nos teus braços, meu prazer...
De tanto te esperar, meus olhos lassos,
Perderam a vontade de te ver...
Meus versos descansando meus cansaços,
Nas horas mais difíceis tento crer...
Vieste com palavras mais diretas.
Não posso resistir à negativa...
Desculpe se não sigo tuas metas.
Perdoe se não posso decifrar
Enigmas que te tornam mais altiva,
Meus versos só te falam do luar...

Perfume de mulher

Bem antes de poder te conhecer,
Andava nos invernos desta vida.
Infernos onde pude receber
As chaves desta entrada e da saída...
A sorte não se dava a perceber,
A senda que buscava era perdida...
Jogava simplesmente p’ra perder,
Pairava minha sina, distraída...
Os muros que levantas, dos desejos...
Galgando me trouxeram primavera...
Na noite dos prazeres, nossos beijos,
Queimavam as tristezas, dolorosas.
Verão que me trouxeste, mata a fera,
Perfume de mulher, recende a rosas...

Desdenhei os teus sonhos e recados...

Desdenhei os teus sonhos e recados...
Pela vida, cruel e indiferente...
Os olhos que te viram, vão cansados
A morte se aproxima, lealmente...
Os bosques do prazer, incendiados...
Sobraram carcará, lobo, serpente,
Vivendo nas penúrias destes cardos.
Sonhar deixou de ser vital, urgente...
As asas do albatroz não mais sustentam
Meus braços, sem querer perdendo o vôo.
Os medos que tivemos não agüentam,
Os erros cometidos, não perdôo...
Desculpe, por favor, tanto desdém...
Os restos que carrego, sou ninguém!

Meu pobre amor

Meu pobre amor, descansa nos meus braços,
Meus dias sem teus dias são outonos...
Vagando sem ter rumo, nos espaços,
Os cantos mais tristonhos, torpes sonos...
Não posso descansar, me prendem laços
Atados ao teu corpo, em abandonos;
Me levas tão distante, nos teus passos.
Rainha que me nega santos tronos...
Invoco meus poemas, testemunhas..
Perdidos meus sentidos, meu flagelo...
Nas noites invernadas me congelo.
Em busca dos jardins espinhos, rosas...
Nas mãos que me carinham, garras, unhas.
As noites deste amor, silenciosas...

Sensual

Nas ravinas, nos bosques e nas matas,
Nos feijoais esparsos, nos outeiros...
O rio mergulhando nas cascatas,
Os olhos da saudade, feiticeiros...
A lua transbordando suas pratas,
Os campos,milharais tão brasileiros.
No rumo de teus passos, leite, natas.
Pisando neste solo, meus braseiros...
A benção desses deuses, as cantigas...
As pernas mais trigueiras sensuais...
A noite traz promessas, traz intrigas...
As coxas se confundem, bacanais...
Os seios entremostras bel morena,
Nas danças que, promessa, a noite acena...

Meu amor é fanática emoção.

Meu amor é fanática emoção.
Meus olhos não conseguem tanto brilho.
Passando por amor, vira obsessão.
É mais do que sonhar um novo filho.
Explode, com certeza, o coração.
Não deixa nem permite rumo e trilho...
Rebenta mais feroz do que paixão!.
Detona dinamite no rastilho...
Esse amor, endeusado e tão cruel,
Por certo vasculhou estrela e céu
Um resumo absoluto desta vida.
É ponto de chegada e de partida.
Espreito a divindade em meu dossel,
É sorte que me leva a despedida...
Bem sei que entristecida, me entristeces
Aquela que já sabe quem eu sou...
Nas vastidões tapetes já não teces,
O pouco do que fomos se acabou...
No pranto que vertemos, não aqueces
A noite que passamos, esfriou...
As dores que te causo, não mereces.
O medo do goleiro frente ao gol...
Nas chaminés, fumaça, tanta cinza.
Cinzel dum escultor fazendo mágica..
O céu de tão nublado ficou cinza...
As lágrimas abortam primavera...
Nas tristezas que levas, vida trágica...
O nosso amor profano, uma quimera...

A saudade me clama, (é tão teimosa)

A saudade me clama, (é tão teimosa)
Não se esquece jamais meu sobrenome...
As bênçãos divinais, canteiros, rosa,
Meu tempo indefinido... Tudo some...
Saudade se demonstra gloriosa
Baixinho me chamando pelo nome.
Os marcos do que tive verso e prosa.
Meu fígado, meus olhos, cedo come...
Já vem despetalando o coração.
Afaga-me qual fora um pobre cão.
Alaga-me nas lágrimas que mente...
A vida se resume no perdão,
Saudade vai chegando, lentamente...
Meu mundo já desaba, de repente...

As tristezas me pesam no bornal,

As tristezas me pesam no bornal,
Carregadas, parecem triste fardo.
As estrelas legadas ao astral,
Os caminhos que passo, tanto cardo...
Meia noite, batendo no sinal,
Todo gato que encontro, fica pardo...
As mulheres se entregam, carnaval...
Solidão companheira, nunca tardo...
Meus males são malas que carrego.
Nos antros e nos centros, descarrego...
A saudade que insiste em ser vizinha,
Felicidade encontra ao ver-me triste...
No meu mar simples ilha não resiste.
Tanta dor nesse mundo, sempre minha...

Enigma

Pela estrada da vida, caminheiro.
Nas gargantas e pântanos, nas ilhas...
Decifrando um enigma sorrateiro,
Procurei por diversas maravilhas...
Do deserto, poeira, companheiro,
Tantos mares, Caribe, nas Antilhas,
Vasculhando a resposta, mundo inteiro.
Nos tratados e lendas, Tordesilhas...
Nas estradas cansadas, andarilho...
Nas vertentes dos rios e cascatas...
Na mulher que amamenta um pobre filho.
Nas estrelas, planetas que vivi.
Procurei por fantasmas e por matas,
A resposta de tudo estava em ti...

Tristonha a vastidão deste meu céu...

Tristonha a vastidão deste meu céu...
Nas fráguas que me queimas, simples brasa.
Voando procurei por teu corcel,
O rumo que encontrei, negando a casa...
O gosto da saudade, amargo fel
Em meio a tantas mágoas, água rasa.
Vestido de esperanças, pote e mel.
A lâmina cortante, tudo arrasa.
Neste meu sol nascente, novo brilho.
Se vivo magoado, peço paz...
Procuro por caminhos, sigo um trilho.
A voz que não repete, não ecoa...
Revivo na agonia e nada mais.
Nesta asa que me deste, o canto voa...

Tristonha a vastidão deste meu céu...

Tristonha a vastidão deste meu céu...
Nas fráguas que me queimas, simples brasa.
Voando procurei por teu corcel,
O rumo que encontrei, negando a casa...
O gosto da saudade, amargo fel
Em meio a tantas mágoas, água rasa.
Vestido de esperanças, pote e mel.
A lâmina cortante, tudo arrasa.
Neste meu sol nascente, novo brilho.
Se vivo magoado, peço paz...
Procuro por caminhos, sigo um trilho.
A voz que não repete, não ecoa...
Revivo na agonia e nada mais.
Nesta asa que me deste, o canto voa...

Angústia se transforma em meu remédio...

Angústia se transforma em meu remédio...
No frio que profanas, sem saber...
A noite me permite teu assédio,
O mundo que vivemos, vai morrer...
Em troca me darás terrível tédio...
A chave me levaste, sem querer...
Saltando da janela deste prédio,
Num cântico, em promessas quero crer...
Os passos doloridos da existência
Vontade de gritar, chamar teu nome...
Não posso transbordar-me na demência
O vento que trouxeste, congelou.
A noite que chegava, agora some.
Errante procurando, quem eu sou?

Mocidade perdida nestes bares,

Mocidade perdida nestes bares,
Nos lupanares, tontas borboletas...
Voando livremente, buscam ares...
Nos céus vão navegando meus cometas...
A mocidade morta, velhos mares,
Nas bocas que beijaste, prediletas...
Estrelas e galáxias, constelares
Transcendem as cantigas dos poetas...
Quem dera a juventude desse bis,
Os medos não seriam companheiros...
À noite mariposas mais gentis,
Nos templos da saudade, meus parceiros.
No corpo da fogosa meretriz,
Amores que se foram, verdadeiros...

Caminho pelas ruas do passado...

Caminho pelas ruas do passado...
Meu lago placidez, já se secou.
Meu mundo sem vergonhas, destroçado,
Mostrando que quem vinha já passou.
Recebo, da saudade esse recado:
Esqueça nessa vida quem te amou...
Não posso conviver com tal pecado,
As brasas dos seus olhos me queimou...
Viver é percorrer imenso tédio.
Não posso conceber tanta frieza.
Procuro para a dor, falso remédio.
Espero seu amor, eternamente,
No vento, procurei a natureza
Encontrei triste lago, novamente...

O vento calmaria que te trouxe,

O vento calmaria que te trouxe,
Nas brisas deste amor, cedo aninhou...
O pote prometia ser tão doce,
Mas caído, quebrado, esparramou...
Ventania na tarde aproximou-se,
Nos céus do nosso amor relampejou...
O tempo tão depressa transformou-se,
E tudo no horizonte, já nublou...
À noite, tempestade se formava.
Nossos céus retumbavam os trovões.
Todo o breu, entre raios clareava...
Madrugada rajadas mais rajadas;
A casa, neste instante, desabada,
Sob o peso feroz dos furacões...

Não me restará nada deste mundo,

Não me restará nada deste mundo,
Nem sequer o pó, nada levarei...
Cravaste teu segredo mais profundo,
Pensando que podias com a lei.
Não quero nem me importo se me inundo,
As águas poluídas naveguei.
Meu coração, sincero vagabundo,
Me levará por certo onde cheguei...
Beijos de amor? Mentiras que crivaste
O peito de quem sabe que és feroz...
Meus pés perdidos presos, amarraste
Nos porões da viagem que prossigo...
Distante não conheço tua voz,
As pétalas do amor, levo comigo...

Amor enlanguescente, qual veludo...

Amor enlanguescente, qual veludo...
Nas noites mais benditas, companheiro.
Ao ver-te vou calado, fico mudo.
Te procurei, decerto, o mundo inteiro...
Nas águas do teu mar eu já me iludo....
Prossigo em teu caminho verdadeiro.
Não quero nem por que, sequer, contudo...
És dos meus sentimentos, o primeiro.
As brumas e as bruxas me confundem,
Nas dores, nos humores, todos fundem.
Percebo teus carinhos e desejos...
Amor enlanguescente vivo, cálido...
Distante de teus olhos, morro pálido.
Mergulho no oceano de teus beijos!

Muitas glórias a Deus por ter deixado

Muitas glórias a Deus por ter deixado
Neste momento imenso de beleza;
Um ser repleto, manso, iluminado,
Que não deixasse sombras de tristeza...
Agradeço-te Pai, ajoelhado.
Pelo Teu belo gesto de grandeza,
Permitindo-me, pleno de pecado,
Conhecer tua glória e realeza...
Bendito sejas, Pai, te glorifico.
Perdão pelos meu erros que cometo...
Entre todos os homens, sou mais rico,
Mais feliz... Minha vida abençoada...
Por isso, com certeza, te prometo,
Trazer felicidade a minha amada!

Seu pranto retumbando meu quintal,

Seu pranto retumbando meu quintal,
A noite que passamos, não se cala...
Saudade deste canto, que é fatal,
Penetra no meu quarto, copa e sala.
Guardadas as estrelas no bornal,
Me escuta, não ecoa sequer fala...
Meu medo e sua dor que é ancestral
Parada na garganta, trava, entala...
Se chorava, também derramo o pranto...
A vida sem sentido, morre aos poucos,
Os sonhos vão morrendo, desencanto...
Na noite dos amores, cadê voz?
Um grito que abafado, nos faz loucos,
Meu Deus tem piedade, então, de nós!

o meu mundo..

Minhas recordações, entranha exposta,
Silêncios esquecidos nestes versos...
A carne despojada, corte, posta...
Os medos e segredos mais diversos...
Meus mares que vivi, de costa a costa
Distantes constelares, universos...
O sol deste deserto queima e tosta,
Meus sonhos presos, trôpegos, submersos...
Em cada verso mostro meus desejos,
O couro que cobria, desnudado...
Da morte anunciando seus cortejos...
As orações que faço, num segundo,
Palavras soltas: sina, medo e fado,
Demonstram, sem pudores, o meu mundo...

velho

Quando me chamas: velho, não percebes
Que tentas disfarçar o teu futuro...
Caminhos que passei, estradas, sebes,
Tanto desfiladeiro vasto, escuro...
Não sentes que o destino que concebes
Se esconde por detrás de baixo muro.
O vento que recebo e não recebes,
Estará bem mais perto sem apuro...
Desfazes da velhice, maltratando.
O fosso que separa nossas vidas...
Implacável, o tempo irá passando,
E nunca mais serás, simples fedelho.
As horas de ventura, vãs, perdidas.
As rugas tomarão teu claro espelho...

Ser teu mar, quem me dera se assim fosse...

Ser teu mar, quem me dera se assim fosse...
Nas horas mais difíceis, navegar
Teus braços, dominar e tomar posse
Da vastidão, por onde te encontrar...
Fazer da água salgada, um mar tão doce,
Ter serpentes marinhas, calabar,
Nos abismos e fossas que me trouxe
As crateras marinas, mergulhar...
Nas nuvens que me cobrem, tempestades,
Olhos que lacrimejam, mansa chuva...
Deitar no teu dossel, calma viúva
Vasculhar abissais profundidades,
Ser teu mar, tão imenso e revoltoso...
Transformar as procelas, fino gozo...

Santo Amor...

Tantas vezes te quis por companheiro...
Nas estradas distantes do sertão...
Planícies, planaltos, mundo inteiro,
Nas horas mais benditas, coração...
Nas cordilheiras altas, sou rasteiro.
Nos templos, doce musa, na amplidão
Procuro por teu braço verdadeiro,
Encontro muitas vezes, pobre chão...
Te canto meus poemas, nada escutas...
Te imploro mas não ouves meus lamentos...
Por tantas vezes grito, mas relutas,
Distante, nem percebes minha dor...
Nos versos que te faço, sofrimentos...
Te quero companheiro: Santo Amor...

Pensamento tortura e desatina...

Pensamento tortura e desatina...
Cada momento que passo, perco o senso...
Meus versos já nem sabem da menina,
Meus olhos já choraram mar imenso...
O brilho desta estrela me alucina,
Estendo meu amor, te recompenso...
No vértice do céu se descortina
Misturo nossos lábios, vivo tenso...
Apagas meus luzeiros, pobre treva...
Vaga recordação, minha memória...
O medo de chover, depressa neva...
Hostes celestiais ecoam grito.
Vestido deste herói, procuro glória.
Meu pensamento perde-se, infinito...

A saudade cruel, me trucidando...

A saudade cruel, me trucidando...
Não permite que te fale, calmamente...
Por mares que não tive, navegando,
Saudade vai cortando, cruelmente...
A noite que se inunda vem chegando,
Trazendo teu veneno de serpente
Amores que vivemos, vão passando.
Me restam míopes olhos, peço lente...
Porque chegaste assim, noite nublada?
Relâmpagos afagos e coriscos...
A voz que te clamava, tão cansada,
O medo de morrer me deixa triste...
Saber de nossa vida, de seus riscos,
Saudade devorando, não desiste...

A flor dos meus receios, temporã,

A flor dos meus receios, temporã,
Aflora em nosso caso, triste amor...
Quem sonha com vitória e talismã
Adormece tremido de pavor...
Vivemos nas esperas, nosso afã
Angústias transformadas em rancor.
A vida desespera e passa vã
O frio congelou nosso calor...
A flor dos meus desejos, despetala,
Não deixa nem perfume nem saudade...
A voz que enamorada, sempre cala.
Nos versos que te faço, nada rima...
Nos meus olhos crispados, falsidade.
Tua boca negando nossa estima...

Vivendo nossa vida sem ternura,

Vivendo nossa vida sem ternura,
Não posso descobrir os teus segredos...
Quem sofre tempestades, noite escura,
Resguarda o coração, conhece medos...
Espero simplesmente esta candura,
Não deixe nosso caso nos degredos...
A mão que acaricia traz ventura,
Os dias que se vão, desmaiam, ledos...
Não quero ser somente um triste cardo,
Nem urze que machuca, quando passas.
A vida não será mais peso, fardo.
Os versos que te faço, amiga minha,
Nos mares que navegas, milhas, braças...
Uma ave que voando, logo aninha...

No rosto delicado da menina,

No rosto delicado da menina,
Perfeito num buril encantador...
Os olhos misteriosos, pequenina,
Nas preces que dedico com louvor.
Remanso que fatídico, ilumina.
Nos raios que emanaste, teu calor...
Descubro de riquezas, rara mina,
Deslinda a madrugada deste amor...
Tua alma graciosa, suavemente,
Eleva-se aos portais do pensamento.
O gosto da ternura docemente,
Espraia-se infinito com o vento...
Espero teu caminho urgentemente,
Assim posso matar meu sofrimento!

No rosto delicado da menina,

No rosto delicado da menina,
Perfeito num buril encantador...
Os olhos misteriosos, pequenina,
Nas preces que dedico com louvor.
Remanso que fatídico, ilumina.
Nos raios que emanaste, teu calor...
Descubro de riquezas, rara mina,
Deslinda a madrugada deste amor...
Tua alma graciosa, suavemente,
Eleva-se aos portais do pensamento.
O gosto da ternura docemente,
Espraia-se infinito com o vento...
Espero teu caminho urgentemente,
Assim posso matar meu sofrimento!

A minha alma embuçada nas torturas.

A minha alma embuçada nas torturas.
Um sino repicando esta saudade...
O gosto tão amargo, desventuras.
Nas neves que me deste, frialdade.
Num tempo que vivemos, as ternuras,
Chuvosas cordilheiras, tempestade...
Amores necessitam de branduras
Decerto não conheces liberdade...
Destino desaprendo tais estradas...
As noites esquecidas, vãs, nubladas.
O vento, calmaria, desconhece...
Meu canto transtornado, vira prece...
O resto do que fui já não existe...
O mundo que me deste, morre triste...

No outono dessa vida, entardecer...

No outono dessa vida, entardecer...
Perdido, procurando meu caminho...
Preciso de teus braços pra viver.
Amores traduzidos em carinho.
O sol morrente, traz anoitecer.
Meu rosto emoldurado em pergaminho,
As rugas não desistem de nascer.
Não posso conceber viver sozinho.
As minhas ilusões, suspira o vento,
Levadas pelas mãos maliciosas...
À flor deste suave pensamento,
A noite delirante nega rosas...
Guardado neste imenso sofrimento,
Outono prometido, mãos calosas...

A juventude morta, escorraçada...

A juventude morta, escorraçada...
Meus olhos na penúria dos enganos.
A vida que passamos, desgraçada.
O tempo tão cruel, estraga os planos..
A noite não permite madrugada,
Meus dedos congelados vão tempranos,
A rota desta vida, desviada.
A morte me trazendo velhos panos...
Juventude se perde sem carinho...
A graça de viver, perdendo encanto...
Prossigo vagabundo passarinho.
Não ouves nem sequer meu triste canto...
Quem sabe viveremos nosso canto,
Quem sabe encontraremos nosso ninho!

Príncipe dos sonhos - com estrambote

Guardada num convento, ela sonhava...
Os olhos encantados, cotovia...
O príncipe dos sonhos não chegava,
A noite não trazia um novo dia...

Os sinos repicavam melodia,
O pranto que escondido não calava...
Quem dera conhecer a fantasia.
Janela entreaberta enluarava.

Deitava-se desnuda, mansa orgia...
Um dia, não se sabe com certeza,
Um príncipe chegou no seu corcel.

Deparando-se, enfim com tal beleza,
Calmamente deitou-se em seu dossel..
As pernas entreabertas da princesa...
(Ergueu-se, levitou, subir ao céu!)

Receba meus castelos, fantasias...

Receba meus castelos, fantasias...
Na torre que me ergueste, vou cismar,
Trazendo as solidões, meus tristes guias.
Buscando pelas névoas, pelo mar...
Desfeito sem saber das alegrias;
A noite que prometes, sem luar...
O canto que embalava, cotovias,
A morte sem vontade de chegar...
Os pátios do palácio, u’a princesa.
Os bardos necessitam toda musa.
Na torre do castelo, fortaleza.
Tristemente perdi minha esperança.
Amor é tempestade tão confusa,
Castelos que pintei, desde criança...

Amor que rememora priscas eras,

Amor que rememora priscas eras,
Me traz tendas, desertos, beduínos...
Nos olhos procurando seus destinos,
Os cantos, madrigais... Do céu, esferas
Brilhantes. Gigantescas, tristes feras,
Mergulham nos meus sonhos cristalinos...
Amor que ressuscita, faz meninos
De todos os que morrem tais crateras...
Nas lágrimas que choro, meu colírio...
O visgo de teus olhos, primavera.
Amor que não vivemos, meu martírio
Abandonos e flores se revezam.
Açúcar acalmando essa quimera.
Carinhos tão profusos que me lesam...

Transbordo, nesta vida, de emoção.

Transbordo, nesta vida, de emoção.
O tempo que passamos, leva o vento.
Não quero desta dor, sequer fração,
Rasgando os infinitos, pensamento...
Meu peito sem coragem, coração,
Esquece todo medo, num momento.
Arrebenta as correntes da paixão,
Mergulho nos teus braços... Me contento!
Sou pó, simples poeira sem destino.
As tempestades levam, fina areia.
Nos sonhos, vendavais, simples menino.
Espero traduzir-te nos meus versos,
Buscando teus carinhos, universos.
Te encontro no meu mar, linda sereia...

No castelo, princesa imaginava

No castelo, princesa imaginava
Com mares e florestas encantadas...
A lua, companheira, transformava
A noite nas corbelhas estreladas...
Castelos e princesa que sonhava,
A vida transcorria... Nas calçadas,
Brilhantes, diamantes, sons e clava
Do sol, iluminando essas estradas...
No castelo, princesa maviosa,
Sonhava com jardins, flores, perfumes...
A vida se mostrava fabulosa,
Sem dores, sofrimentos ou queixumes...
Batia, calmamente, o coração,
Trazendo seu castelo ao barracão!

A sombra do que fomos

A sombra do que fomos me persegue.
Esvaecidos sonhos não me deixam...
O luto de minha alma não consegue
Deixar-me. Então as flores já se queixam
Abandonadas, mortas no jardim.
Tal sombra não me deixa um só minuto.
Devora o restou de bom em mim,
Tão manso que já fui, agora bruto...
Sou simplesmente um nada que passeia,
Na busca da fatal tranqüilidade.
Mergulho, prisioneiro em triste teia.
Não passo do que foi e não voltou.
A vida se transforma iniqüidade,
A sombra do que fui, o que restou...

Sonhei com teus desejos, meus desejos...

Sonhei com teus desejos, meus desejos...
Andávamos felizes pelos campos.
Vertíamos milhares, loucos beijos,
Nosso caminho, estrelas, pirilampos...
Sonhei que te levava pelas mãos.
Castelos e princesas aguardavam.
Os medos estancados, eram vãos,
A poesia e o canto me inundavam...
Sonhei com fantasias de grinalda.
O tempo não passava, era infinito...
Palavras e perfumes, ar desfralda...
Vastos e profundos, nossos mares...
A noite salpicada dos luares,
Amar profundamente, norma e rito...

Meus versos dolorosos, são de mágoas...

Meus versos dolorosos, são de mágoas...
No mundo vou passando sem amor...
Tristezas incendeiam feito fráguas
As ondas que mergulho, de pavor...
Quem dera navegar risonhas águas,
Quem dera me saber um vencedor.
As pernas da saudade, nas anáguas,
Descobrem coração legado à dor....
Olhos empapuçados, ermos, frios...
Pelo mundo, procuro um novo cais...
Meus dias sem sentido são vazios.
Meus versos dolorosos, meu queixume...
A noite que passamos, nunca mais.
No vento, distraído, teu perfume...

Graníticas verdades, naturezas...

Graníticas verdades, naturezas...
As tramas que forjaste veras redes...
Ascendo a tentadoras, vãs, belezas
Matando nos teus lábios tantas sedes...
As íngremes montanhas, incertezas,
São minhas companheiras, penedias...
Quem sempre se investira de proezas,
Agora representa aves vadias.
Não sabe mais colher o que plantou,
Espinhos e vergões machucam tanto...
Entranhas as mentiras que contou,
Parado, não procuro mais teu colo.
Amor que travestindo-se de santo,
Mergulha das montanhas rumo ao solo...

Perceba que minha alma está ferida,

Perceba que minha alma está ferida,
Lacrada, destroçada pelo vento...
Mortalha caminhando em plena vida.
O luto não me sai do pensamento.
Levaste, sem saber, rumo e guarida;
Deixaste neste escambo, sofrimento...
Não vejo mais a lua Aparecida
Sumiste nos espaços. Peço ungüento.
Misturo meus delitos e meus erros.
Procuro teus olhares, altos cerros,
Não vejo nem sinal da criatura
Que tantas vezes trouxe-me ternura.
Procuro por teu rosto. Noite escura
Reflete meu olhar. Caricatura...

Sou embrião disforme, vago o mundo.

Sou embrião disforme, vago o mundo.
Meus restos dilaceras sem promessas.
Navalhas penetrantes, corte fundo.
Aborto minha vida nas avessas...
Bem sei que não me queres, sou imundo.
Nos trapos que carrego, nas compressas,
Um bote naufragado, vagabundo.
Sorvido pelos vermes, podres peças...
Não deixe por favor, peço clemência,
Que a vida me maltrate sem ter pena...
Meu Deus, o criador, tua incumbência
Cuidar deste restolho. És meu timão...
Repara neste nada que te acena,
Não deixe me devore, solidão!

Febre ardendo... Saudades... Solidão.

Febre ardendo... Saudades... Solidão.
Tua distância trama tantas dores.
Mas, porque se esqueceste do perdão?
Olhando para teus olhos, perco cores.
Angústia se tornando meu refrão.
Não posso compreender. Cadê as flores
Que cismamos plantar noutro verão?
Não percebes, não somos mais atores...
O palco desta vida, peça pobre,
Num melodrama trágico termina...
Amar é, na verdade ser mais nobre.
O céu já se recobre, negros nimbos...
A vida sem esperas, determina:
Cada qual viverá seus tristes limbos...

O silêncio que se escuta

De repente, vivendo a fantasia
Encontrei meu rumo nesta estrada...
O mundo vai girando, a poesia,
Risonha se transforma nesta espada.
Penetra quem pensou que já podia,
Trazer de novo a vida destroçada...
Nos campos já se escuta a melodia,
Por tempos e milênios abortada.
Na boca desta gente, não se escuta,
Um grito que traduz velha mortalha...
O medo de enfrentar a força bruta,
Por certo não vingou, nem atrapalha...
Dos sonhos de igualdade já desfruta
O povo que gritou: Xô, some gralha!

Flores desabrochadas

Flores desabrochadas, primavera...
Nos jardins que cultivo belas rosas;
Esqueço meus tormentos. Quem me dera!
O canto desses pássaros... Formosas
Manhãs... Meu coração sossega a fera
Que sempre me mostrou as horrorosas
Garras. No meu recanto, essa quimera
Arranca pobres flores mais vistosas...
Persigo meus desejos, nada encontro...
Não deixo de tentar um novo dia...
Fina arte de viver, o desencontro...
As gotas deste orvalho, são cristais.
Quem sabe viverei esta utopia?
As flores no jardim, amor e paz...

Amo, sinceramente sei que te amo...

Amo, sinceramente sei que te amo...
Não posso mais fugir à realidade
Nas horas mais tristonhas, na saudade,
Teu nome sempre falo e, manso, chamo!
Desculpe se por vezes te reclamo
Que não estás. Transcendo essa verdade.
Muitas vezes, mal sinto e te difamo,
Por certo, já perdi tranqüilidade...
Amor que tanto mata quanto brilha,
Não posso mais calar o sentimento...
Angústias e delírios, meu tormento.
Guardado, na gaveta, o teu retrato...
Quem teve vida tristonha, andarilha
Não sabe ser amado. E te maltrato...

Doce de Leite

O cheiro do café que estás passando,
Delícias desse tempo que hoje vivo.
A noite que vivemos, terminando,
O mundo se parece mais altivo.
A broa de fubá, a mesa posta...
Desejos de viver eternamente.
O vento me trazendo uma resposta,
A mansidão do corpo em minha mente...
Não deixe que se acabe nosso sonho...
Afaste esta severa solidão...
Meus barcos nos teus mares, sempre ponho...
O gado no curral, porteira e leite.
Amor que não precisa de perdão...
Manhã que sempre traz, doce deleite...

carta

Na carta que enviaste, triste fim...
Chegamos sem querer ao fim do poço!
A dor que sempre esteve, guardo em mim.
As lágrimas me causam alvoroço.
Resumem nossa vida. Do festim
Que preparamos resta o fosso,
As noites debruçadas no cetim
Memórias deste quadro sem esboço...
Não posso permitir que assim termine,
Amores que vivemos, são mais fortes...
Os beijos que trocamos, velho Cine,
Carícias e delírios , não esqueço...
Amor que vai morrendo, fundos cortes,
A carta que enviaste: não mereço!

nunca mais...

Teu rosto emoldurado na memória,
Belezas sem igual, és Mona Lisa.
Roçando teus cabelos, minha glória,
O vento carinhoso, leve brisa...
Deixaste tantas coisas, triste história,
A morte se aproxima e não avisa...
Num átimo mergulha, peremptória,
Só levarei lembranças. A mão lisa.
Querida, não possuo mais segredos,
Rastreio os teus caminhos pelo céu...
Levaram a coragem, deixam medos.
Nas noites que procuro e sei jamais.
O mundo vai girando, carrossel...
Teu rosto, procurando, nunca mais...

Wednesday, November 1, 2006

Parque, roda gigante, algodão-doce...

Parque, roda gigante, algodão-doce...
Brincando com desejos da criança.
O tempo se passou e o que era doce,
Num canto vai guardado, na lembrança...
Na foto amarelada já acabou-se,
Só restam conta gotas de esperança.
Quem tinha liberdade, escravizou-se
Nas danças da saudade, contradança.
Menino vai correndo, liberdade;
As pernas vão traçando em cada passo...
Riachos de total felicidade.
Não sabe das angústias, do cansaço.
Roda tão gigante da saudade...
Meu filho. Vem, me dê um forte abraço!

Tri nitroglicerina

Não quero te contar destas fraturas
Que trago no meu peito sonhador...
Por vezes enfrentei noites escuras.
As portas se trancaram de pavor...
Às voltas me encontrei, procurei curas,
Deixaste teu recado: agüenta a dor!
Mereço teus castigos e torturas,
Jamais me tornarei um vencedor!
Cigarros, vou tragando para a morte...
Palavras demonstrando dinamites.
Tri nitroglicerina pura e forte,
Não vejo disparates que tramites..
Carinhos desdenhados traz má sorte.
Palavras te ensinei, mas logo omites...

Resisto bravamente aos meus anseios...

Resisto bravamente aos meus anseios...
Vou decididamente buscar teus braços.
Quase que me encontrei, teus doces seios.
Nas praças e nos Paços, tantos passos...
Menina, a juventude, sem rodeios,
É fonte inesquecível, deixa traços...
Mas passa, nos restando seus meneios
Os olhos esquecidos, tristes, baços...
Balões e serpentinas foram ritos,
Amores e verdades, simples mitos.
Não canso de buscar tantos entalhes
Em meu rosto, esculpidos nos detalhes.
Cada vez que me vejo neste espelho,
A um velho navegante, me assemelho...

Restariam somente meus segredos,

Restariam somente meus segredos,
Nada mais te darei, senão meu verso...
Os barcos navegando vãos degredos.
Viajo por teus mares, desconverso,
Os anéis saturninos ferem dedos...
Nos sonetos que tento, me disperso
Os papões infantis me causam medos,
Minha mortalha imita este universo...
Não posso traduzir meu sentimento
Em palavras sutis, ledos enganos...
O que não vesti, leva esse vento...
Os tesouros escondes, tantos planos...
Mas, com certeza, sigo um pensamento
Pobres amores morrem, são insanos...

Teu vestido de noiva foi queimado

Teu vestido de noiva foi queimado
Pelos mesmos motivos que negaste.
O tempo não revive teu passado,
Amor que não convence, simples haste,
Não pode suportar quimera e fado.
Um beijo sugeria apaixonado,
Quem fora simplesmente verme e traste.
Amor sempre desiste do contraste.
Alvor desse vestido, enegrecido,
As cinzas transportaram solidão...
Quem nunca mais sonhara, foi vencido,
O medo de viver essa paixão...
Ao mesmo tempo mostra, destruído,
O que, outrora, chamara coração!

Minhas lembranças, vagas como a noite...

Minhas lembranças, vagas como a noite...
Açoites que me levam, desespero...
O tempo que permite meu pernoite,
No fundo me decora, seu tempero...
O pranto que rolei não trouxe festa.
A morte que sonhei não fez promessa,
Do nada que vivi, tampouco resta.
A dor sem teu afeto, me confessa
De todos os meus dias, vãs mentiras...
O barco dos meus sonhos, naufragado..
Esboço meus poemas, fazes tiras.
Nos bares me freqüentas, vou cansado...
Maria me promete versos, liras,
Deveras não me sobra senão fado...

Me trouxeste calor, embora fraco...

Me trouxeste calor, embora fraco...
Gaiolas me recordam passarinho.
Da vida não terei sequer um naco,
Meu canto terminei, irei sozinho...
Nas noites que varei festejo Baco,
No fim de tudo, perco meu caminho.
Da fortaleza imensa, sobrou caco.
Meus olhos aves, procurando um ninho...
Do calor que trouxeste resta a neve.
Amor que não vivemos, morre breve,
Sentimos nossos passos tão cansados...
As noites se encharcaram, pesadelos...
Erramos, tropeçamos nos novelos
Envoltos pelos mantos esgarçados...

esperarei pelos teus beijos...

Por certo esperarei pelos teus beijos...
Esperarei refeito da tristeza
Esperarei com força dos desejos
Esperarei das matas tal beleza...

Esperarei a morte nos cortejos
Esperarei gritar a natureza
Esperarei lunares, seus lampejos
Esperarei, do amor, a realeza.

Esperarei teus braços de princesa
Esperarei as cores, azulejos.
Esperarei a flor desta fineza

Esperarei da noite, relampejos
Esperarei comida e sobremesa...
Por fim, esperarei pelos teus beijos...

Ouvindo tua voz em serenata,

Ouvindo tua voz em serenata,
Amiga me recordo dos teus lábios...
A vida me negara fina nata,
Os medos revestidos, alfarrábios
Esquecidos num canto, estante prata.
Destinos, extravios, astrolábios
Destruídos, perdida esta fragata,
Encontra seu amor. Mares arábios...
Último que saltar apague a vida...
A tua voz serena inda me tenta,
Por onde procurar irá perdida
A manhã dos amores sem sentido...
Um coração disforme se arrebenta,
O mundo que vivemos, distraído...

Ciúmes

Vasculho por teus bolsos, meus ciúmes...
As chaves que encontrei não abrem portas.
Nas blusas que não vestes, teus perfumes.
As horas que vivemos, horas mortas...
Mal posso condenar os teus queixumes,
As bocas que beijamos foram tortas.
Os mantos que vestimos, sem costumes,
Os dentes que mordestes, fundo cortas...
Não podes perdoar quem sofre tanto?
Permita-me dizer do meu amor...
Adormecido tento novo canto,
A voz que me enaltece, do pavor...
Amor que não deseja perde encanto.
Escusa meus ciúmes, por favor!!!

Necessito de um beijo, quem me dá?

Necessito de um beijo, quem me dá?
Amores temerários, não os quero.
Querida, tantas vezes, onde está
A noite que tragamos, peço, espero...
Preciso urgentemente, não dará?
Que faço destas flores? Desespero?
Não sei se Rio Grande ou Amapá
Só sei que sem amor, cadê bolero?
Me visto, me revisto, quedo mudo.
Me mudo me remendo, fico manso.
Não posso nem pretendo, mas contudo,
Meus versos são inúteis, um desejo...
Meu grito segue embalde, já me canso...
Imploro simplesmente por um beijo!!!!