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Saturday, March 6, 2010

25533

Na cama do hospital pensava em ti
Distante dos meus olhos, solidão.
E quando chega o tempo, a decisão
Deveras muitas vezes me perdi,

E tendo todo mundo bem aqui
Guardada uma devida proporção
Enfronho nos meus olhos a emoção
E dela sem perdão eu me embebi.

E a morte se aproxima dos meus dias
E nela se deixando as utopias
Somente a poesia me acompanha

E o gesto palatável diz amor
Mas quando vejo o rosto sedutor
Da morte já concluo a minha sanha...

25532

O mundo bem depressa modifica
As ordens naturais e transformando
O que pensara outrora bem mais brando
Agora se não luto, mortifica

E tudo transcorrendo não explica
O medo sobre nós já desabando
E o todo a cada dia mais pesando
A teoria aqui nunca se aplica.

Imprevisível passo leva à queda
E quando noutras tramas vida enreda
Percebo quão inútil deve ser

Quem tanto se perdendo em nada crer
No abismo feito em trevas já mergulha
E não vê da esperança uma fagulha...

25531

Com olhos dispersivos, me perdera
Do rumo já traçado em poesia
E a sombra do passado ainda urdia
Matando o que esperança concebera.

E o vento benfazejo de um sorriso
Ameno transformando o gelo em brisa,
Maturidade chega e já me avisa
Do passo necessário e mais preciso.

Vestindo esta emoção que é temporã
O amor rompe barreiras e, acredite,
Não respeitando enfim qualquer limite
Promete um sol imenso na manhã

Legado que pretendo cultivar
Imerso neste encanto a me tomar...

25530

Agora que me chamas também tento
Buscar esta esperança que perdi
E dela redundando sempre em ti
Olhar tão carinhoso e sempre atento,

Vencer os dissabores, meu intento
E deles traduzir melhor aqui
Num verso demonstrando o que senti,
Após um tempo amaro e turbulento.

Estando solitário e a depressão
Negando nos meus olhos um verão
Incendiando em fúria cada dia.

E nele a rotineira dor traçava
Numa alma sem destino e quase escrava
A morte do que fora poesia...

25529

Assisto ao derradeiro sonho que alimento
E vivo entre as neblinas, noites fartas
E quando dos teus dias me descartas
Deveras assumindo o meu tormento.

Assíduas ilusões e o pensamento
Jogando sobre a mesa as mesmas cartas
Dos âmagos profanos nunca apartas
Quem tanto se envolveu em sofrimento.

Perfaço o meu caminho em falso passo
E quando dos meus erros me desfaço
Não traço soluções, apenas sigo

E nesta invalidez uma alma insana
Medonha caricata tanta engana
Sonega ao penitente algum abrigo.

25528

Um mar feito em sargaços e corais
Distintas cores traçam o oceano
E quando se percebe cada engano
Os dias em procelas são venais.

Vagasse por espaços, siderais
Momentos em que vejo o ser humano
Na mórbida impressão de perda e dano,
Vislumbro atocaiados animais

Vorazes e insensatos neste bote
Aonde a mortandade se denote
Por tanta estupidez e vilania.

Porém esgoto pútrido e feroz
Ouvindo mais distante a sua voz
Covardia se torna valentia...

25527

Sequer estrela pálida percebo
Na treva que tomando a minha vida
Há tanto em fúria imensa decidida,
Diversa da esperança que concebo.

Eu sei que novo sonho é um placebo
E a cada amanhecer outra ferida
Expressando uma noite mal dormida
E da aguardente amarga – amor – eu bebo.

Pudesse ter nas mãos o meu destino
A faca, a foice, o tiro em desatino
O medo escancarando este delírio

E vendo tão somente o que hora herdei,
Vazio que deveras encontrei
Traduz sem ter retoques meu martírio...

25526

Das noites que brumosas eu enfrento
Após as tão sonhadas calmarias
Diversas das que em sonho fantasias
Tocadas pela mão de intenso vento.

E quando em luzes frágeis inda tento
Vencer os meus terrores tu me guias
E levas aos demônios que recrias
Tomando este arrebol medo e lamento.

Angústias tão comuns de quem procura
Um tempo aonde possa ser feliz,
E quando mais distante ou por um triz

No olhar ensimesmado, tal loucura
Abisma com seu vário ingrediente
Por mais que a solução audaz se tente...

25525

Horrivelmente imerso em trevas sigo
E tanto quanto posso ainda creio
Que enquanto houver um sonho ou mesmo um veio
Ainda se verá quem sabe, abrigo.

Empesteando a vida não consigo
Vencer a fantasia que rodeio
E dela muitas vezes mesmo alheio
Percebo bem sutil, medo e perigo.

Enveredando sendas mais profanas
Proféticos oráculos; predizes

E tentas discernir gozo de dor,
E quando vejo o encanto decompor
Chagásicas imagens: cicatrizes...

25524

Qual fora um tempestade um porto além
Do que pensara outrora ancoradouro,
Nas ânsias mais vulgares, nascedouro
Do pântano que uma alma vil contém.

E sendo que deveras sou ninguém
E disto faço a glória de um tesouro,
O sonho que pensara imorredouro
Desnudo se transforma e nada vem.

Adentro a fantasia, vil senzala
E a voz que se inebria já se cala
E escalando paredes a alpinista

Vontade transcorrendo em vagas ondas
E mesmo quando fútil me respondas
Nenhum sinal de paz aqui se avista...

25523

Vetustos caminheiros fragilmente
Estendem seus cadáveres em sonho
E quando num conjunto decomponho
A sorte se tornando mais ausente

Em cândidos momentos que se tente
Viver além de um ar tosco e bisonho,
Reconstituo a senda e assim me oponho
Ao que seria inútil penitente.

Azedam-se as vontades e esperanças
Articulando em vão as fortalezas,
E quando em voz sonante tais defesas

Ainda que tão frágil vês e alcanças
Gerando pandemônios entre risos
Legando ao nada ser, cruéis avisos...

25522

Revelas entre velas e velórios
Mordazes emoções em rito falso
E quando bebo em ti meu cadafalso
Momentos que vivera tão simplórios

Atando com denodo em tons mais vários
A cada caminhada outro percalço
E sigo em pregos, brasas, me descalço
Compartilhando tantos adversários.

Um execrável ar empesteando
Aonde se pensara bem mais brando
Fenecendo a ilusão que não sustento.

Ao deus-dará seguindo em prontidão
Vencido pelas trevas que verão
O derrotar de um sonho, violento...

25521

Decorrem dos meus vários pesadelos
Metáforas que traçam morte e dor
E quando me percebo em vão andor
Momentos terminais eu posso vê-los

E bebo da ansiedade seus apelos
Sentindo a minha face a decompor,
E nela se adivinha este sol-pôr
Envolto pelos medos e desvelos.

Incréu vasculho restos do que fora
E a morte mesmo sendo sedutora
Propaga dentro em mim lamas diversas

E pantanoso dia se anuncia
Matizando em gris minha agonia
Inebriantes féis que em mim tu versas...

25520

Se lúgubres parecem paisagens
Os antros que freqüentas dentro em ti
Extraem o que há tanto apodreci
Eternizando assim em toscos gens.

E vândalos porfiam tais miragens
Escandalosamente eu percebi
O quão se faz do nada mesmo aqui
Distante das benditas vãs paragens.

E quando as engrenagens se emperrando
As águias e os demônios revoando
Percebem teu olor adocicado

E o fardo se tornando bem mais leve,
Tua alma em lama feita, já se atreve
Aos prazeres ausentes no passado...

25519

Hominais delírios, Paraísos,
Infestam os meus olhos e não creio
Que apenas tendo enfim qualquer receio
Os dias poderão ser mais precisos.

A sorte em morte trama seus avisos
E goza do final, cruel anseio,
Enquanto do vazio sigo alheio
Vou contabilizando os prejuízos.

Juízos se finais ou nada tendo,
O mundo se desnuda em estupendo
Momento quando estás e nada além.

Após a podridão deste teu cerne
Uma alma em negação, ao fim se hiberne
Enquanto novas levas sempre vêm.

25518

Exóticas visões em contraluz
São fatos corriqueiros e banais,
Mas quando nestas farsas demonstrais
Caminho que deveras nos seduz

Espúrias emoções expondo a cruz
Que tanto, sem saberes desejais
E nela se anuncia o ledo cais
Marcado a ferro e a fogo, peste e pus.

Estéticas diversas vos dominam
E nelas vossos sonhos determinam
Arcaicas fantasias de beleza.

Após a podridão vos conhecer,
E nada do que vedes irei ver
Não há como enfrentar tal correnteza...

25517

Análogos caminhos percorridos
Pelos viventes seres desta Terra
E quando a morte chega e o ciclo encerra
Distantes dias morrem nos olvidos.

E os sons que outrora em vozes já perdidos
A porta com firmeza agora cerra,
Sobrando algum sinal da torpe guerra
Travada contra os sonhos e as libidos.

Assim hereditárias ilusões
Idênticas às tantas que me expões
Mutantes emoções proferem vagas

E quando devorada pelos vermes
Os restos destroçados, pois inermes
Serão do que desejas, tuas pagas...

25516

Iridescências, nega esta manhã
Que tanto desejara em outra face
Esgarço o meu caminho em tal impasse
E a vida preconiza a fria cã

Agrisalhado olhar, espúria e vã
Farsante que meu dia ainda embace
Estraçalhado sonho em que passe
A vida sempre atroz, cruel, malsã...

E vingo-me das hordas que me deste
E bebo mesmo pútrido ou agreste
Em fartos goles, todo o desatino,

E quando me percebes muito além
Sorrir com ironia é o que convém
E vendo o teu esgar, eu me alucino...

25515

Delicado e suave sentimento
Já não comporta um peito que se deu
Ao mais terrível medo e bebe o breu
No qual com mui prazer eu me atormento.

E sendo tão volúvel quanto o vento
O mundo que deveras concebeu
Quem morto em plena vida sabe o seu
Caminho em tempestade e me arrebento.

Nas pedras e falésias, cais distante,
Aonde se entregara um navegante
Se tudo não passou de falso sol.

E tendo inebriado o timoneiro,
O encanto em podridão é derradeiro
E nega a quem veleja algum farol.

25514

Erráticas e espúrias ilusões
Ascendem ao jamais poderei ter
E quanto neste nada o teu prazer
O mundo em crua face tu me expões.

Negrejas os meus dias, vãs neblinas
E tramas com furor outros vazios,
E em plenas esperanças desafios
Que aos poucos com terror tomas, dominas.

E assisto aos meus momentos terminais
E deles purulentas pestilências
Aonde proferisses inocências
Momentos tenebrosos tão iguais

E o pântano que legas como herança
Traçando um vago plano de vingança...

25513

Astênicos momentos desfraldados
Antrazes entre lutas e batalhas,
Nas ânsias mais profundas, as navalhas
E os cortes tão terríveis, lacerados.

Evisceram caminhos entranhados
Ancoram quando ausente tu mais falhas
No peito o falso gozo de medalhas
Ascendem aos inúteis vãos recados,

Terríveis ventanias, porto além
E quando se percebe nada vem
Nem mesmo este prazer em que sacias

Na terebrante e insólita facada
A mesma sensação do eterno nada
E as mãos que tu me deste estão vazias...

25512

Florescem alvas formas nos meus olhos
E delas encetando meus delírios
Crisântemos, verbenas, dálias, lírios
Prazeres reconheço e colho aos molhos.

Por mais que tantas vezes acidula
A vida não se perde em poucas luzes,
Arranco do canteiro torpes urzes,
Mergulho no teu corpo, em fúria e gula

E teimo em descumprir qualquer tratado,
Fronteiras não conheço nem limites,
E quando em minhas mãos, mais te permite
O sonho se desenha desvendado.

E esplêndidas manhãs anunciadas
Em luzes mais profanas consagradas...

25511

Carnais delírios tomam minha rota
E entranham delicadas maravilhas
Aonde com furor as armadilhas
Permitem a delícia em bancarrota.

Minha alma neste instante sente e nota
Diversas emoções aonde trilhas
Molduras tão sublimes formas, brilhas,
E o sonho tal beleza em luz adota.

Arranco do passado a dor venal
Aflora-se o desejo em sol e sal
Mareias com teu corpo em água clara.

Excelsos os caminhos percorridos
E os sândalos que exalas, percebidos
Nos gozos em que a fúria se declara...

25510

São purificadores os anseios
Que tanto encanto trazem e me tomam,
Poéticas loucuras já nos domam
Com sôfregos delírios, belos seios.

E adentro os teus caminhos sei dos veios
Dois corpos quando em fúria ora se somam
Harmônicos prazeres nos assomam

Tentáculos divinos nos enlaçam
E as trevas bem distante quando passam
Realçam o teu brilho inusitado,

Em abordagem lúbrica um corsário
Tomando de teu corpo este estuário
Luxurioso templo emoldurado...

25509

Venusianos montes versam gozos
Impudicos caminhos entranhados
E neles ânsias feitas em pecados,
Mordazes, mas audazes, maviosos.

Em lúbricos detalhes prazerosos
Olores tão diversos desenhados
Sidérea fantasia em nossos Fados
Volúveis, mas sutis, voluptuosos...

Alvíssima manhã das cãs distante
Imensidade em raio deslumbrante
Partícipes de insânias venturosas

E nelas entre luzes mais profanas,
Deliciosamente tu me explanas
Delírios no momento em que mais gozas...

25508

Véus brancos em venéreas maravilhas
As aves em seus vôos vão levando
Ao vento o tempo atento em raro bando
Enquanto mais atenta em luzes trilhas.

Ancoras em corais, sobejas ilhas
Expressam recomeço imerso quando
Aos poucos furnas, urnas desnudando
Mudando a direção conforme brilhas.

Exalas o perfume e me iluminas
Num lume extasiante e tão fugaz,
Lascívia perpetrada em loucas minas

Esguia silhueta se desnuda
Delírio que em martírio satisfaz
Cenário em tom tão vário se transmuda...

25507

Grinaldas desfraldadas pela lua
No vértice de um céu em pratas feito,
Audaciosamente insatisfeito
O pleito mais distante, atroz, flutua

O sonho que ora enfronho e ledo atua
Enquanto em quarto escuro e frio deito,
A claridade invade e me deleito
Imagem qual miragem bela e nua.

Ondulo entre o não ser e o ser além
E quanto encanto o canto ainda tem
Que possa confessar em versos lúdicos,

Momentos entre tantos temporais
E quando em brando vento mergulhais
Em vosso olhar luares quase lúbricos...

25506

Entoas entre tons mais dissonantes
Momentos variáveis e ferinos
Atando aos nossos pés tais desatinos
Perpetuando luzes deslumbrantes

Bem querência; tomaste em vãos instantes
Dobrando com furor último sino
E quando em brando vento me alucino
Destróis inlapidado diamante.

Embrutecida acidas nossa vida
E trazes em mil fases, despedida
Acidulando agora o que restara.

E a cândida ilusão se torna fútil,
O passo em contrabando segue inútil
O tempo em voz velada se dispara...

Friday, March 5, 2010

25505

São inexatas formas as que trago
E trafegando em ruas mais diversas
Quando deveras vês e desconversas
Percebo como fosse algum afago

O gosto desta insânia quase mago
Nas horas que nos sonhos vão imersas
Imagens desenhadas e dispersas
Versando sobre o nada, não apago.

Acendo outro cigarro e fumo além
Do que em verdade posso ou me convém,
Porém a morte traz esta saída

Que tanto procurara e não sabendo
Na angústia meu legado e dividendo
Uma esperança? Segue ao ar, perdida...

25504

Revelo-me em revólver e engatilho
Pensando no final mais condizente,
Sem ter sequer um porto que apascente
Seguindo este esperado e torpe trilho.

Aonde houvera outrora um andarilho
Agora se percebe em ar demente
Um ser que desta vida vai descrente
Cansado de escutar mesmo estribilho.

Audácia não se faz em suicídio
A vida se transforma num dissídio
E deste caminhar eu já me aparto

Depois de tantos dias e inseguro
Na ponta do revólver asseguro
A solução de um mundo vago e farto.

25503

Na lânguida expressão quase que irônica
Deitada calmamente sobre alfombras
Deixando em minhas ânsias fartas sombras
Nefasta maravilha serpe hedônica

Resumes minha vida em histriônica
Mortalha sobre a qual ainda assombras
Submetes meu olhar quando me alfombras
Com teu delírio atroz em voz harmônica

Numa expressão diversa da que outrora
A vida se mostrara e em paz decora
Perfil de um caminheiro envelhecido

Produzes maremoto em calmaria
Martirizado enredo que te guia
Numa explosão sobeja da libido...

25502

Quebrantados caminhos se perdendo
Em meio aos costumeiros vendavais
E neles percebendo ao longe um cais
Quem sabe meu final seja estupendo?

Em vossas mãos a fúria se vertendo
E quando meus desejos sonegais
Aonde quis agora é nunca mais.
E o sonho em pesadelo está morrendo.

Ingratidão selando o que deveras
Já fora no passado mais sadio
O tempo sem limites desafio

E nele sei que o todo degeneras
Deixando como herança esta mortalha
E a faca que mais fundo corta e talha.

25501

Alinho-me aos anseios que me trazes
E neles me perdendo vez em quando
Porquanto se mostrasse em contrabando
O olhar auspicioso engenha pazes.

Patéticos momentos, toscas bases
E o todo num pedaço se mostrando
Na visceral certeza trucidando
Prendendo-me em algemas e tenazes.

Vencesse calmamente outras manhãs,
Mas herdo prematuras, estas cãs
Que tanto agrisalharam a esperança

Numa irascível sombra de nós dois
O agora se perfila sem depois
Enquanto martiriza, sempre avança...

25500

Recatos entre os medos mais vulgares
Expressam o temor do amor que fere
Ainda que o prazer domine e impere
Estendo esta beleza em meus olhares.

Senzalas, salas, medos, deles pares
E quando o sonho morte regenere
Meu mundo neste mundo já se insere
Quereres redundando dos sonhares...

Antúrio enlanguescente, tinhorões
Venenos maviosos que me expões
Nas ansiosas noites mais veladas.

Das liras bardos fazem melodias
E vendo, temerosa, que tremias
Luxúrias em recatos declaradas...

25499

Na lúgubre figura asseguraste
O peso de uma obesa fantasia
E dela quando em pântanos desfia
Caminho para o sórdido desgaste

Ultraje que geraste como um traste
Que vaga pela insólita agonia
Assoberbadamente em utopia
A senda sendo sóbria; renegaste.

Mortalha onde queria paz equânime
Teu ódio contra ti em voz unânime
Permite um triste algoz que ora porfias

E nele te retratas muito bem
Fazendo o que deveras te convém
Como se fossem t’as fotografias.

25498

Martírios entre tiros, pedras, balas
E tramas das entranhas teus enredos
Segregas com vigor, falhas e medos
E quanto mais eu peço mais te calas.

As bases do meu mundo quando abalas
Deixando rastros falsos, passos ledos
São lassos os meus dias e em degredos
Transcrevo estes segredos noutras falas.

Falaz hipocrisia cria quem
Sabendo que o desvelo me contém
Aquém do que podia sendo amiga

Vencer a ventania mais freqüente,
Mas quando mais preciso que apascente
Tempesta que geraste desabriga.

25497

Exóticos caminhos, sendas falsas
Florescendo os abrolhos mais temíveis
Refolham-se ilusões em vãos terríveis
E as almas geram traumas, pois descalças

Em espinheiros fartos, cortes alças
Das balsas e dos botes implausíveis
Erráticos desníveis previsíveis
Em insensíveis trevas tu realças

Aonde há cibernético futuro
O passo descompassa e traz o escuro
Negando o resplendor pleno e temático.

Moldando assim enfim caleidoscópios
Porém não resistindo aos microscópios
O teu virulento ar, tão sorumbático

25496

Vagando em noite imensa, penso e crio
Em solilóquio vão venço ou me perco
E as dores entranhando fecham cerco
Acerco-me deveras do vazio.

E o vento vergastando em vasto frio
Do sonho mais bisonho adubo e esterco
E quando de algum terço ou reza acerco
Invernal e abismal granizo estio

Mudando a direção de vento e sombra
A sórdida impressão de novo assombra
Mundana fantasia estribo e açoite

Sem ter quem tentaria trazer luz
O vendaval revolta e me conduz
Traçando em treva e neve o meu pernoite.

25495

Rebeliões; empilhas aos milhões
Humilhas com teus risos vãos, sardônicos
Gerando bandos tantos desarmônicos
Tetânica e apoplética me expões

Esplêndidas belezas, turbilhões
Que tramas entre algemas e histriônicos
Caminhos muitas vezes vis e hedônicos
Voláteis astros e anjos; decompões.

Careço de cadências confiáveis
Padeço das demências mais palpáveis
E nelas são aráveis solos meus,

Angustiadamente a mente enriste
Um ar que, secular e ancestral triste
Prepara a amara morte em vago adeus...

25494

Burburinhos diversos versos versam
Versões de outros verões que não veria
Quem veste vergastada fantasia
Enquanto cantos, contos, desconversam.

Seguindo sem adendo se dispersam
Os passos em espaços, traço guia
E faço se disfarço em agonia
Submersos abissais que em ti conversam.

E arrastando os demônios que converges
Traçando os dias tétricos que imerges
Num âmago insensato atos entranhas

Díspares destes ímpares começos
E as messes que prometes são tropeços
Do avesso tuas vestes vãs e estranhas.

25493

Num êxtase sem luxo e sem estase
Uma explosão sidérea em luz profana
Da qual eclode sonho e voz se emana
Fogoso gozo aonde o gosto apraze

Equânime loucura, escusa base
Avinagrada sorte desengana
Sagrada madrugada ora se empana
E os pântanos diversos versam fase

Acídula vergasta em gesto bruto
Um títere que, lúgubre, reluto
Astuto vendaval verte delírios

E deles círios negam azinhavres
Por mais que na verdade desagraves
Agravam-se deveras meus martírios...

25492

Exorto os meus demônios e exorcizo
Os erros dos medonhos ecos trago
E cada vez venal o velho estrado
Aonde ondeio em dias, impreciso.

Descrédito de um édito sem siso
Proclamo enquanto tramo algum afago
Qual fora algum efebo ingênuo drago
Amores entre cores que matizo.

Esquemas ditam temas entre algemas
Das gemas preciosas que lapido
Furor extasiante da libido

Do pleito insatisfeito faço emblemas
Pulsares e quasares siderais
Em vossas vozes vibram vendavais...

25491

Broqueio cada farsa em falsa espera
Fenestrando deveras teus engodos
E neles transpassando vários lodos
Com os quais a vida degenera

E beijo a boca espúria desta fera
Prazeres enfronhados; quero todos
Nublando brandos bandos, antros godos,
Apenas pênsil pêndulo me espera

E contumazes erros cometidos
Gerados pela insânia das libidos
O olvido não repõe partos erráticos

Nem sátiros caminhos percorridos
Serão de qualquer forma, pois, ungidos
Tampouco os meus enganos sistemáticos...

25490

Revéis já transmudando os meus anseios
Esgoto vãs audácias, passos firmes
E quanto mais deveras reafirmes
Rebeldes caminhares ditam veios

Diversos dos meus vagos vãos rodeios
E neles mesmo quando tu me afirmes
E traces novas bases em que firmes
Os passos se perdendo em devaneios

Revelo-me volúvel, mas velado
As vastidões vasculho e em meu passado
Ventanilhas abertas não mais vejo

Vogara entre naufrágios e procelas
Borrascas entre farsas me revelas
E as velas enfronhando tempestades

À custa do viver incêndio e rosas
Esvaio-me em volúpias vaporosas
Enquanto em tanto encanto tu me invades...

25489

Regalos de uma lúgubre bacante
Enlanguescidamente dita normas
E quanto mais voraz tu me deformas
E tomas minha vida a cada instante

Aonde se pensara deslumbrante
Demônio em que decerto te transformas
E quando do teu âmago me informas
És serpe disfarçada em diamante.

Imagem tão sutil, paradisíaca
Hedônica figura que é satânica
Paralisia causas, pois tetânica

Vulcânica explosão que, demoníaca
Vendendo uma emoção quase que orgástica,
Depois se gargalhando vil sarcástica...

25488

Sistematicamente a mente, mente
Ou omite emitindo falsos guizos
Em vandalismos cismo se imprecisos
Vários versos versando insanamente

E quando tanto ou mais sigo descrente
Atento aos violentos Paraísos
Em virulências feitas ânsias sisos
Conciso ou preciso se envolvente

Venéreas maravilhas vencem sismos
Em viscerais vitórias cataclismos
Abismos, precipícios ócios, vícios

E pendulares âncoras do tempo
Estampam no meu peito o contratempo
Volvendo aos versos frágeis: meus inícios...

25487

Um feto que tão fátuo fui fugaz
Das fráguas freqüentara farsas fartas
Fuligem, farpa féretro e me enfartas
Com falsas e falazes, fútil paz

Feneço num falsete ou tanto faz
Se enfados ou fagulhas já descartas
Assisto à derrocada enquanto partas
E atento ao tempo tramo e entranho o antraz.

Noite aterrorizante antes do intento
E quando um brando andor ainda invento
Aceito teus conselhos velhos vãos

Espelho dentro da alma alça o vazio
E quando a vaga eu venço ou desafio
Desfio a fantasia em novos grãos...

25486

Natura se recria em minha vida
Esgotando a terrível mocidade
Enquanto bebo agora a insanidade
Percebo a minha força em despedida

A cada passo a sorte sendo urdida
Vencido pela incúria que me invade
Degrado-me em temível falsidade
Falências que carrego em voz perdida.

Agarro-me aos escombros, vãos destroços
E neles recompostas ilusões
Enquanto reproduzem aversões

Expondo apodrecidos, frágeis ossos
Na carcomida imagem me retrato
Um ser medonho e tênue quase abstrato...

25485

Moléculas diversas me compondo
E delas podridão já se percebe
A vida se perdendo desta sebe
E mesmo que respire decompondo

O que restou de mim agora expondo
Em caricata face que percebe
Do avinagrado sonho que ora bebe
Putrefato caminho em vão repondo.

Descrevo os meus demônios com palavras
Que sorrateiramente ainda lavras
Usando larvas, moscas, vermes, vândalos.

Eviscerada imagem marginal
Mudando o tão profícuo ritual
Negando essencialmente corte e sândalo...

25484

Reboa dentro em mim sombria voz
Danando o meu destino em vagas luzes
Aonde se pensaram flores, urzes
E a própria juventude é meu algoz.

O olhar entediado e quase atroz
Medonhas criaturas reproduzes
E tantas vezes vejo as mesmas cruzes
E nelas ansiedade estreita os nós.

Das díspares noções ações diversas
Imersas emoções ditam quimeras
E quanto mais assim te desesperas

As palidezes tantas vão dispersas
Universalizando o sofrimento
Não tendo noutro tento mais alento...

25483

Na transubstanciada dor presente
Aufiro os meus estranhos caminhares
E se fores astuta ao me notares
Verás o que deveras se pressente

No olhar deste fantasma qual demente
Ansiosa previsão em vagas, mares
Mudando em tempestades mansos ares
E neles permaneço incoerente

Evoco os meus demônios e prossigo
A cada nova espreita um inimigo
Vestindo este fantoche que sou eu

Mortalhas que ora visto visam ter
Após a fúria imensa algum prazer
Devorando o que em mim já se perdeu...

25482

Brados entre brandas madrugadas
Estúpidos gemidos de um fadado
A ter dentro de si sempre o passado
E as horas em penúria decifradas

Escracho caminheiro em vãs estradas
E nelas o meu corpo lacerado
Espalha o cheiro podre e adocicado
Carcaças decompostas, malfadadas.

Satânicas orgias, noite espúria
Nos olhos deste ser a farta incúria
Expressa o nada ter que me incendeia

E a lua em plenilúnio debochada
Transforma em pesadelo a torpe estada
Brumosa criatura segue alheia...

25481

Se resignadamente sigo agora
Depositando em lágrimas o quanto
Encontro a cada canto em desencanto
Certeza do não ser já me apavora.

O bêbado que pária em mim se aflora
Devora cada parte e traz no pranto
A súbita impressão de um vil quebranto
O monstro que assim gero não demora

E torna as minhas garras afiadas
Vasculha deste inferno tais entradas
E grava a ferro e fogo dentro em mim

Temáticas diversas, sonho e morte
E enquanto esta pantera eu não aborte
O corte me levando a espúrio fim...

Thursday, March 4, 2010

25480

Percebo tão sutis quanto inexatos
Caminhos que me levem ao teu braço
E quando nova rota ainda traço
Os dias se perdendo em tolos fatos.

Postergo os meus anseios, sinto ingratos
Momentos em que sigo cada passo
Levando à incerteza de um espaço
Torturas permitindo tais contratos.

Assisto ao meu final de camarote
E quando a realidade dita o mote
Profiro meu poema feito em dor

E sinto ser possível ter na mão
Além de se mostrar a exatidão
Pudesse destilar o bom licor...

25479

Tracejo uma sobeja maravilha
Envolta nos mistérios do desejo,
E quanto mais deveras eu protejo
A estrela com certeza nunca brilha.

E assim tanta tristeza se moldara
No vago de uma vida sem sentido,
O tempo muitas vezes soerguido
Produz imensa chaga, vil escara.

E teimo em prosseguir contra a maré
Sabendo que depois só terei resto
E quanto mais mordaz, torpe e funesto
Mais firmemente sinto tais galés

E delas não consigo me livrar,
E a morte se aproxima, devagar...

25478

Sutis imagens voltam do passado
E trama incoerências onde um dia
O medo que deveras já se urdia
Seguindo da esperança o vão traçado.

E o peso se é menor compartilhado
Ainda mesmo assim em mim ardia
Deixando mais silente a poesia
Moldando o figurino amortalhado.

Tecesse desde então nova saída
E quanto mais atroz a despedida
Maior o meu temor, esteja certa.

E quase ser feliz já não me basta
A face da verdade agora gasta
Aos poucos meu caminho em vão deserta...

25477

Cinzéis em preciosas gemas tramam
Arquétipos de jóias eternais
E quanto em minhas mãos vós derramais
Momentos mais audazes que reclamam

Aquém da realidade em se exclamam
Entranho velhos portos, ledos cais
E neles fantasias sensuais
Saudosas emoções por vezes clamam.

E sendo-vos leal não poderia
Ultrapassar sequer tal fantasia
Vivenciada em pranto, medo e dor,

Mas pálida figura se aproxima
Tornando mais pesado ainda o clima
Gerando tão somente um vil terror...

25476

Mortalha que reciclo a cada verso
E nele me entranhando em sombra plena
Enquanto a fantasia ainda acena
Eu ando sem destino, vou disperso

Adentro esta ilusão seguindo imerso
Nem mesmo a poesia me serena
E quando a morte surge vaga e amena
Permito-me sonhar com o universo

Dicotomias tantas, luzes fartas
E delas sem querer, silente apartas
Os meus momentos sóbrios onde eu creio

Na libertária voz que me sacia
E dela reencontrando a fantasia
Embora prosseguisse em vão e alheio..

25626

Quisera perceber um novo dia
Aonde a fantasia desmorona
Uma alma mais ferina até ronrona
Enquanto cada garra mais afia.

E a sorte que conheço, tão bravia
Durante a tempestade vem à tona
Das estradas que traço já se adona
Fazendo do meu mundo, a montaria.

Por vezes imagino em turbulência
O que pensara outrora em convivência
E sei ser impossível entre dois

Que tanto se engalfinham e se cortam,
E quando as fantasias nos exortam,
Sabemos quão sombrio este depois...

25625

Assumo estas facetas mais vulgares
E beijo o que se fez em luz sombria
Figura melancólica se erguia
Toando os seus acordes nos altares

E vejo recriados lupanares
Em meio a mais soturna fantasia
E dela o meu passado se recria
Atravessando em fúria tantos mares.

E o gosto de vingança ora se apura
A vida perpetua a mesma e escura
Estrada aonde um velho caminhante

Moldara o seu destino de andarilho
E quando sobre o pó ainda trilho
A morte se aproxima neste instante...

25624

Se as lúgubres paisagens descortino
E adentro com furor ou mesmo impávido
O gosto se mostrara bem mais ávido
Tomando sem pensar o meu destino.

O corpo lacerado e quase esquálido,
Restando o velho sonho de menino
E nele com certeza me ilumino
Por mais que o dia siga sempre pálido.

Equânime e sombria fantasia
Aguarda o meu final e se sacia
Nas artimanhas toscas que hoje enreda

E o pano se fechando no cenário,
O que pensara outrora temerário
Nem mesmo a paisagem torpe veda...

25623

Abrindo as minhas cartas encontrei
O fato presumível e esperado
Que tanto demarcou o meu passado
Servindo para mim conforme lei

E dele cada resto eu entranhei
Até ver o meu mundo dispersado,
O gosto tão amargo perpetrado
Adentra o paladar bem mais que sei.

Singela fantasia? Ledo ocaso...
O vento anunciando o fim do prazo
E agora só me resta a despedida.

Articular defesa? Para que?
No fundo te procuro, mas cadê?
Assim se resumiu a minha vida...

25622

Sistematicamente sigo só
E teimo vasculhar minhas entranhas
E quando a realidade tu estranhas
Erguendo do que eu fora, simples pó

O medo se aproxima e em firme nó
Defronte à multidão diversas sanhas
E nelas precipícios e montanhas
Preparam para mim o espelho: Jó.

Ocasos e mentiras se misturam
E delas poucas coisas já depuram
Quaisquer que procurassem desvendar

Retorno ao uterino e bom momento
Somente quando imerso me apascento
Regrido ao nada ser: último lar...

25621

A treva em nuvens densas desce à Terra
E toma esta paisagem ora sombria
E quando a imensidão já se porfia
O medo dentro da alma se descerra

A ventania lembra fome e guerra
A paz que procurei não existia
Tampouco ao encontrar farta agonia
Capítulo da vida não se encerra.

Audaciosamente dera um passo
Alheio ao que deveras já desfaço
Criando com meus pés o próprio abismo

E agora em noite tétrica e fugaz
Distante do que um dia quis ser paz
Molambo sem destino, ainda cismo...

25620

Levito entre os fantasmas que ora trago
E farpas tão comuns devoro e quero,
O mundo que se fora mais austero
Agora não percebo nem afago,

O tempo se transforma em podre estrago
E o corte aprofundado, mas sincero,
É tudo o que carrego enquanto emprego
O verso que pensara outrora mago.

Alquímicos poderes, tal cadinho
Transforma esta esperança em podre vinho
E bebo da vinhaça que me dás.

Da morte quando aos poucos me avizinho
Eu sinto tenebroso e bom carinho,
E nela descansando, enfim, em paz...

25619

Ruidosas esperanças, não floreio
Com verso que talvez não mais traduza
A sorte que deveras tão obtusa
Esgota da ilusão a fonte e o veio,

E quando nos meus charcos banqueteio
Com lúbrica emoção que reproduza
Uma alma tantas vezes tão escusa
Deixando no passado o velho anseio.

Recreio-me com posta apodrecida
E dela se refaz a minha vida
Antraz que ora carrego dentro da alma.

Esmero-me em poder ver no holocausto
Apenas tão somente algum infausto
E a imagem produzida já me acalma...

25618

Metástases carrego vida afora
E pútridas manhãs me destemperam,
E quando os tolos toscos degeneram
Apenas tumular voz já se aflora

A poesia há tanto foi embora
E os restos do que fomos inda esperam
Eméticas delícias onde esmeram
As ânsias mais vorazes. Luz descora...

E o cândido poeta adormecido
Agora pela vida envilecido
Aguarda tão somente este final

E nele se prepara nova senda
Aonde a fantasia se desvenda
Ou nada se transcorre triunfal...

25617

Na lúgubre paisagem desenhada
Pelo meu verso tolo, mas sincero
O fim deste tormento agora espero
Sabendo ao que minha alma é destinada.

Versando sobre a vaga e fria escada
Na qual a queda sempre em gozo fero
Produz esta fratura aonde quero
Ver minha vida em pus já retratada.

O beijo que se escarra em minha face
Aonde se mostrara cada impasse
E nele se refaz a velha história

Por mais que novo mundo ainda trace
Com ares de terror ou de vanglória
Legado ao nada ser, tosca memória...

25616

No íntimo me percebo um morto-vivo
E como fosse assim este zumbi
Vivendo do cadáver que escolhi
Dos sonhos mais felizes eu me privo

E sendo muitas vezes mais altivo
Vazio de esperança chego a ti
Atrocidades tantas mereci
E nelas do que fui anda vivo.

Alvissareiros dias do passado
Apenas um retalho costurado
Em meio aos falsos lumes que carreto

Apesar de saber que inda respiro
Preparo neste instante bala e tiro
Fechando em suicídio este soneto...

25615

Na farsa que traduz inútil vida
Cenário mais propício: ato final
E nele se perfaz o ritual
Aonde se vislumbra a despedida.

A faca pelas ânsias sendo ungida
E o bêbado caindo em meu quintal
Sarjeta dentro da alma é tão normal
E dela uma esperança segue urdida.

Perene poesia este soneto
Ao qual com virulência me arremeto
E bebo cada gota que espalhara

Do pus que dentro em mim ora alimento
E faço da carcaça o meu provento
Na imagem destroçada a vida amara...

25614

Astuta caçadora, uma esperança
Fugaz imagem trama após o nada,
E a carne pouco a pouco devorada
Traduz em sentimento esta vingança

Ao peso do que fui a alma balança
A cada novo dia a vergastada
Reacendendo a morte desejada
E nela a minha cruz, o tempo lança.

Obesas ilusões já não profiro,
E quando se prepara último tiro
A bala se entranhando no meu cerne

Acasos entre ocasos pretendidos
E os corpos de esperanças estendidos
É tudo o que me resta ou me concerne...

25613

Rebeldes caminheiros noite afora
À sombra do que tanto desejei
A podre sensação tomando a grei
E nela uma alma aflita se decora,

A fera que no espelho me devora
E beija este cadáver que entranhei
Mortalha em poesia deslindei
Vagando pela noite sem demora.

Escravizado sonho se moldando
De um tempo mais feliz, quiçá mais brando
Em criminosos passos assassinos

Expressa o suicídio inevitável
E o corpo em rapineiras palatável
Espera ao fim dobrar de vários sinos.

25612

Uma ávida quimera me destroça
E nada se percebe como herança
No olhar desta pantera uma vingança
Que quanto mais voraz melhor desossa

Abrindo esta cratera imensa fossa
A sorte mal assombra enquanto avança
E ao fundo desta poça ora me lança
E a vida gargalhando tudo endossa.

Esgarçado por garras tão venais
Restando ao sonhador os vendavais
E neles o vazio agora traz

A imagem decomposta da ilusão
E vejo se formata desde então
No espelho que ora miro: Satanás!

25611

Esgoto dentro da alma traduzindo
A vermiforme noite em pesadelos
Pudesse pelo menos revolvê-los
Teria sob o olhar fúnebre e findo

O tempo de viver que assim deslindo
Em trágicos momentos, percebê-los
E quanto mais possível envolvê-los
Tecendo a solução, mas eu prescindo.

Acostumado ao mesmo descaminho
Prefiro que me vejas já sozinho
Do que pensar ser minha salvação.

A morte não perdoa quem se entrega
E mesmo quando exposta e quase cega
Momentos mais tranqüilos se farão.

25610

O feto que abortara: fantasia
Em pútrido cenário se desfaz
E mesmo num sorriso tão mordaz
Soergue-se emoção e o dom recria

A morte vai tomando a poesia
E como fosse assim fria tenaz
Deixando esta emoção que sei fugaz
Amortalhado sonho em agonia.

Espúria lividez que, cadavérica
Traduz esta ilusão falaz e homérica
Vinganças preparadas pela sorte.

E tendo sob os olhos o horizonte
E nele cada lua que desponte
Trará um sonho em paz que me conforte.

25609

Pisando na carcaça que hoje sou
Estúpidos os passos que programas
E neles posso ver cadáver, lamas
E delas tradução do que restou

De um ser inusitado e aonde vou
Carrego nos meus olhos falhas chamas
Meticulosamente enredo dramas
E neles minha vida mergulhou.

Na lividez do sonho tumular
Putrefação se expondo devagar
E enquanto a cada estágio mais avança

Certeira caminhada para o fim,
Dourando em poesia o meu jardim
O medo se transforma em esperança.

25608

Ermos dentro da alma soam tristes,
Mas quando me percebo mais desnudo
Deveras caminhando quieto e mudo
Diverso do calor aonde existes,

Por mais que outros motivos bons me listes
O coração sem foco é tão miúdo
E nisto me percebo em tom agudo
Discernindo o terror por onde insistes

Tomar as minhas mãos e ter nos dentes
A clara tentação de uma mordida
E nela cada lacerando em vis gementes

Delírios satisfazem tua fome?
A carne que te entrego, carcomida
Enquanto a própria sorte me consome...

25607

Consola-me saber que a morte vem
E dela bebo a pálida quimera
Aonde se pensara fim se gera
A vida mais tranqüila em novo bem.

O peso do passado segue além
Do que suporta uma alma, mesmo fera
E quando a solidão me desespera
Revejo este cenário. Sem ninguém.

Apodrecendo aos poucos nada tenho
E nem sequer faria mais empenho
Já que descubro ser a negação

E a sórdida manhã beija a carcaça
O tempo sem remédios segue e passa
Espelha as noites frias que virão.

25606

Quem dera se pudesse ser teu alfa,
Mas Omega não posso mais sonhar
Buscando ter meu sonho em preamar
Correndo contra tudo, uma alma esfalfa.

E falo francamente sem refolhos
Que tudo tem decerto solução
E os dias mais sobejos mostrarão
Além de simplesmente vãos abrolhos.

Mas tudo se presume e nada faço
E o bêbado procura a luz, falena.
Minha alma a cada passo se apequena
Não deixo nem sequer um rastro ou traço

E entranho-me na morte que me espera
Atocaiada e bela, sutil fera...

25605

Agrestes as montanhas onde cevo
Mortalha que deveras caberá
E nela o meu destino se fará
Bem mais do que nos versos eu me atrevo.

Envolvo-me nas teias e longevo
O medo persistindo aqui ou lá
Meu erro a cada instante moldará
Invernal garatuja aonde nevo.

O prazo se findando e nada vem
Somente a frialdade e fico aquém
Do passo que permita da cratera

Vislumbrar uma luz que não existe,
E se pareço assim, mordaz ou triste
Que faço se matei a primavera?

25604

Negar a própria essência e prosseguir
Por vias tão funestas que me trazes
E nelas perceber as várias fases
Oráculos discernem meu porvir?

O peso de deveras conseguir
Enquanto prenuncio mais mordazes
Momentos onde pústulas e antrazes
Permitem a minha alma refletir.

Esgarço-me nos fronts e me permito
Saber que mesmo inócuo, sigo aflito
E assino a cada dia esta sentença

Na qual a morte surja deste nada
E como fosse assim predestinada
No túmulo concebo a recompensa...

25603

Corôo com meus temores esta vida
Aonde não podia crer na luz
Deixando os pesadelos quase nus
O medo calcifica enquanto acida.

E tendo neste olhar a despedida
O nada quando em nada se deduz
Prepara esta mortalha e reproduz
Vazio que encontrou, alma perdida.

Acendo este cigarro mesmo quando
Percebo minha vida desabando
Sem ar, já me esfumaço pouco a pouco.

A dívida que tenho não se paga
O beijo da mulher, cruel adaga
E vendo o meu retrato, eu me treslouco....

25602

Descrevo em solitária madrugada
Os vértices de um sonho, um pesadelo
E quanto mais atroz sinto vivê-lo
A imagem desta vida destroçada.

Jogado pelas ruas, na calçada
Condeno o coração a tal desvelo
E quando pelo encanto vago, zelo
Resposta se mostrando o mesmo nada.

Viver e ter apenas o caminho
Que leve á madrugada onde, sozinho
Mortalhas eu carrego e tão somente.

A pútrida manhã em luz desfeita
O medo vendo a cena se deleita
E mata desde já qualquer semente...

25601

Estúpida quimera me rondando
A morte se transforma em solução
E os dias repetindo este refrão
Aonde novos tempos vislumbrando

Já sei que nada tenho desde quando
Fantasmas me tomando a direção
Naufrágio deste barco sem timão
E o vento toda noite me assombrando.

Vivesse mais um pouco e poderia
Realizar enfim a fantasia
De ter no meu olhar um horizonte

Aonde mais sublime luz guiasse,
Mas quando vejo o espelho e o mesmo impasse
Impede que este sol, vago, desponte...

Sunday, February 28, 2010

0016

A Cesar o que é de Cesar, nada além
Assim ao proceder a cada dia
A liberdade plena se sacia
Enquanto outras tormentas sempre vêm.

O Amor que nos transforma, sabes bem
Encanta com sobeja maestria
E mesmo quando a noite se faz fria\
Palavra, o lenitivo já contém.

Não se pode servir a vários amos
Por mais que existam sim, diversos ramos
Somente o tronco à cúpula nos leva

E assim ao respeitares teu irmão
Do Pai terás decerto o Seu perdão
Deixando para trás o medo e a treva.

0015

A cólera que tanto nos maltrata
E ao mesmo tempo leva à perdição
Mostrando a plenitude de um vulcão
Na fúria que deveras arrebata

Produz a reação quase em cascata
E nela se traduz um turbilhão
Diversa magnitude a do perdão
Que até mais dura fera, ele arrebata.

Manter-se mais distante dos que tanto
Provocam e gerando o desencanto
Nos levam aos caminhos mais sombrios

Mais forte não é quem se torna fera
E sim na cautelosa e mansa espera
Decerto assim se vence os desafios.

0014

O ensinamento às vezes traz em si
Desejos que parecem conflitantes
Prazer incomparável por instantes
Diverso deste eterno que há em Ti.

Do todo que deveras aprendi
A dor que nos redime em tons brilhantes
Enquanto nos parecem torturantes
Libertam das algemas que vivi.

Poder me desnudar e ser inteiro,
De quem já me gosta, o companheiro
E amar quem me maltrata e me magoa,

Difícil caminhada? Disto eu sei,
Porém se assim se faz a Tua lei
Seara que virá tão terna e boa.

0013

Não basta conhecer só as palavras
Sozinhas qualquer vento as levará
Agir com consciência desde já
Garantirá decerto belas lavras

O Amor que não se pode mais medir
Traduz a perfeição do Meu Senhor,
E nele todo o brilho Redentor
Transformando o futuro em bom porvir.

Caminho para a Glória e a eternidade
O Pai que nos ensina a perdoar
E nisso; das algemas, libertar
O coração que Amor mais alto brade

Transforme em ação o ensinamento
Terás por recompensa eterno alento.

0012

Ouvir Tua palavra e recebê-la
Nas bênçãos de um Amor que nos liberta
A senda rumo à Glória estando aberta
Permite que se siga a bela estrela

Que um dia três reis mágicos levara
À manjedoura onde uma criança
De toda humanidade esta esperança
Sobeja em luz sublime nobre e rara

E quando necessito de Teus braços
Acolhe-me qual fosse Pai e Irmão
Destinos mais tranqüilos se farão
A quem tentar seguir difíceis passos,

Vencendo a tentação que ora me invade
Conhecerei em Ti, felicidade.

0011

Ainda que eu caminhe sobre espinhos
E veja a dor constante em cada passo,
Aumenta a cada dia mais o laço
No Pai que me permite mansos ninhos.

Meus dias Nunca foram mais sozinhos
Desde que reconheço cada traço
Do Amor inigualável e dele faço
Adega aonde guardo os nobres vinhos.

Percebo quantas vezes infeliz
Quem teima navegar em outros mares,
Por mais que se percebam naufragares

Humana criatura já desdiz
O que se mostra assim tão claramente
E vendo em Ti a Luz, o olhar desmente.

0010

Não Deixe que esta vida seja em vão
Senhor eu venho aqui humildemente
Pedir a piedade novamente
Meus olhos outros dias não verão.

Eu sei que se aproxima o fim da vida
E nisto me percebo tão venal,
Por vezes mais maligno e sensual
Uma alma com certeza já perdida,

Verdades que carrego no meu peito,
Medonhas as crateras, mil abismos,
Insólitos tremores, cataclismos
Qual besta fera; nunca satisfeito.

Mas peço-Te perdão por piedade
Somente em Ti Meu Pai toda a verdade.

0009

Senhor peço perdão por descaminhos
Que tanto freqüentei em minha vida,
A sorte noutra senda decidida
E os dias se tornando mais sozinhos

Enquanto procurara a solução
Em braços mais diversos, ritos vários
Momentos tantas vezes temerários
Levando à mais completa perdição.

E agora que percebo a Tua Voz
Ditando com palavras mais precisas
O rumo onde os pecados exorcizas
Por mais que o coração já fora atroz

Num arrependimento verdadeiro
Caminho para Ti, Pai Companheiro.