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Monday, May 29, 2006

CRÔNICAS - DA TOLERÂNCIA E DA DISCRIMINAÇÃO

Muriaé tem uma feira livre que ocorre, todos os sábados, próximo à casa de meu pai, na beira rio.

Essa feira é extremamente movimentada, e tem de tudo se preza; desde garrafadas até queijo, passando por verduras, frutas, lingüiça, geléia de mocotó com vários sabores. Enfim, é uma maravilha.

Num desses sábados, há uns meses atrás, aconteceu um fato insólito.

Zé do Burro é um dos feirantes mais assíduos e conhecidos da cidade, participando há muitos anos ininterruptamente.

Tem um jumentinho que é extremamente pacífico, pacífico e passivo, como veremos adiante.

A barraca do Zé é muito freqüentada por apresentar verduras fresquinhas, cuidadas sem agrotóxicos, tipo orgânicas mesmo.

Além da alface, do repolho e da mostarda, Zé traz as frutas da ocasião, colhidas no seu sítio.

As suas laranjas, mexericas, abacates, acerolas, entre outras são, realmente deliciosas.

Acontece que a Prefeitura, num esforço para aumentar a oferta de hortifrutigranjeiros, resolveu ampliar o número de licenças concedidas a outros feirantes.

Entre esses beneficiários, estava Ronaldo, filho da dona Zefa, lá de Itamuri, distrito de Muriaé.

Esse fatídico sábado era a estréia de Ronaldo como feirante, sua primeira e ansiosamente esperada vez.

Emocionado, ele saiu de Itamuri, de charrete com seu belo cavalo, o “Dengoso”, cavalo bonito, forte, um campolina de fazer inveja a muita gente.

Ele já tinha enjeitado mais de mil reais no animal, e tinha muito orgulho do bicho.

Arrumou o cavalo, atrelou o bicho à charrete e carregou-a com as mercadorias que iria vender.

As abóboras e as espigas de milho verde quase não cabiam, de tão grandes e bonitas estavam.

Pois bem, ao chegar à feira, e procurar o local que lhe fora destinado pela prefeitura, deu o azar de passar perto do Zé do Burro.

Não é que Dengoso, não sei por que cargas d’água, ao se deparar com o jumentinho quieto, pacífico, se apaixonou?

Um cavalo campolina apaixonado é um perigo, ainda mais se correspondido.

O animal sem dar a mínima para o fato de estar atrelado, resolveu, bem na hora do rush, com a feira apinhada de gente, “namorar” o pobre do jumento.

Entre relinchos e mais relinchos, com as patas dianteiras levantadas e as “armas” em riste, Dengoso partiu para cima do jumentinho que, passivamente acolheu o enamorado colega.

Zé do Burro ao presenciar a cena, sacando do chicote que, raras vezes usava com o jumentinho, começou a bater, desesperadamente no pobre Dengoso.

Batia e praguejava, xingando o pobre amante de todos os nomes possíveis e imagináveis, para susto duplo das senhoras e crianças que presenciavam a cena.

Susto inicialmente causado pelo Dengoso que, sem nenhum pudor, “cobria” o pobre jumento, numa aula ao ar livre de erotismo, mas de um homossexualismo estranho e nem um pouco romântico.

Depois os palavrões e chicotadas soltos a esmo, sem nenhum controle...

Ronaldo, ao ver seu animal sendo atingido, resolveu “tomar as dores” do bicho e aí o trem desgovernou de vez.

Zé chicoteava Dengoso e Ronaldo que, por sua vez, batia no pobre jumento e em Zé.

A polícia militar teve que intervir e levou a todos, inclusive os “amantes” para a delegacia.

Obviamente os animais ficaram de fora, ou pelo menos os quadrúpedes, quanto aos bípedes, ao darem suas explicações ao delegado travaram um intenso e confuso diálogo

Deste não tive muitas notícias, a não ser do começo da argumentação de Zé do burro que saiu-se com essa pérola:

-Doutor, eu trabalho mais meu jumento, nessa feira há muitos anos, e nunca tive problema. Mas, agora vou ter que sacrificar meu jumentinho doutor.

Esse cavalo safado desse moço desmoralizou o pobre bichinho doutor.

Agora como é que eu vou poder trabalhar com esse bicho, todo mundo vai chamar o pobrezinho de veado!

Moral da história – até com relação ao reino animal o preconceito existe!

Zé voltou à feira e com o seu jumentinho mostrando que, a tolerância deve sempre prevalecer.

Ronaldo agora, só vai à feira com um outro cavalo seu, o Pneu, devidamente castrado...

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