Search This Blog

Thursday, September 28, 2006

SONETOS 26/09/2006

Paladares
Quando quiseres nunca mais terás...
Minhas quimeras são mentiras tontas...
Nas cotas dessa vida, és o meu ás.
Aos tempos imortais já me remontas.

Não posso te esquecer nem quero mais
As mortes que penei, estavam prontas...
Brinquei de ter saudade, fui mordaz.
Teus olhos refletiam tantas contas!

A minha juventude faz a curva.
Capota nesta estrada, vida turva.
Não restam nem talvez nem faz de conta...

Amar-te nunca foi nenhuma afronta...
Volto para colher mais doce fruto.
Paladares divinos que desfruto!



Girassol
Quando caminho, distante de teu passo,
Dançando no pó livre desta estrada.
Ouro e prata, tesouros, madrugada...
As contas do que devo, não as faço...

Sem degredos, sem medos, devo nada...
A não ser porta aberta do teu braço!
Na dança deste vento, minha amada
Tempero meu cansaço em teu cansaço!

Minha lua mineira, uma cigana,
Respinga nos teus olhos serenatas...
Meus dias são caiados neste sol.

Amor que não machuca nunca engana,
Nas matas que matas as cascatas
Giro o mundo sou feito girassol!


Duas Cruzes
Duas cruzes cravadas no meu peito.
Amores que jamais esquecerei!
Não tenho nem temi, nem peço o jeito,
Nas ondas do remanso fui teu rei!

Teu vestido dourado está desfeito,
Não quero um madrigal porque já sei,
Teus dentes vão cravados... Fino, estreito
O mundo que levavas , mas roubei!

Terei nos meus fantasmas, fantasias...
Farturas e faturas prá pagar
Fraturas, suas curas, infelizes...

Um gosto amargo, trouxe velhos dias,
Um pôster representa esse luar
As bocas que sangrei... Das meretrizes


Viva melodia
Finas mãos fartos balões soltos, partos...
Fortes dentes ferozes noites, farpas...
Músicas mensageiras seios fartos...
Nos acordes guarânias, sons e harpas...

Cavaleiro insensível negras carpas
Aspas castas petúnias nos meus quartos
Dardos soltos, segredos nas escarpas...
Subindo essas paredes seus lagartos...

Nos céus que te omiti nada encontrava...
Nos templos preciosos, tempo passa...
Solidão dissolvendo, cadeados...

Passeio nos teus olhos, viva lava.
Nos anéis de Saturno, viva a caça...
Na viva melodia, jogo os dados!



Ratos
Respirando essa boca bebo luz...
Tens os caminhos livres para a paz...
De cravos e canelas, ser capaz...
De vastas cabeleiras faço cruz...

Escondes tuas peras no capuz...
Esparsas tremedeiras, sou audaz...
Me mordes verdadeira, vero antraz.
Não quero-te primeira, faço pus...

Ratos lambendo a casa, velhos ratos...
São ratos que caminham no porão...
São ratos que te beijam tuas salas...

São ratos que desfrutam dos teus pratos.
São ratos que freqüentam coração
São ratos, simples ratos, nada falas...


Omissão
Vi teu sorriso tímido, safado...
Não quiseste pernoites nem ingressos.
As pragas que roguei, meu velho fado.
Os medos que senti nos teus regressos...

Vi teu sorriso cálido, marcado...
Não quiseste censuras nem congressos,
Nem quiseste palavras, vou calado...
As pragas que te dei viram abscessos

Num domingo qualquer, eu voltarei.
Num momento melhor, nunca te quis...
Nos trâmites legais, a dinamite...

Se quiseres não serei nem sei da lei...
Se pedires não serei sequer feliz...
Mas nada dizes, calas, tudo omite!


Onde te encontrar?
Não sei o que contei nem sei contar...
Respostas nem o vento saberia...
Sou manco, meu remanso foi o mar...
Vinho tinto, sanguíneo, deu Maria.

Esqueci os meus lagos, te encontrar!
Estorvei tanta luz e poesia.
Quero te contar nunca mais viria
Estás ao lado,dardo dado, bar...

Renovas esperanças e me negas...
Ostentas as miçangas que perdi...
Perturbas minhas noites incontestes...

Amor por que jamais eu te esqueci?
Onde estão velhos mares que navegas?
Mar, morte, sorte, norte, rumo, pestes?


Passarinho coração
Passa o vento, tempestas e brinquedos.
Passatempos, florestas e velórios...
Nunca mais passariam meus segredos,
Nas escadas escritas, escritórios...

Às margens de viagens, pajens, medos...
Cerros, berros, meus erros são notórios.
Aços, ázigos, álibis, degredos...
Olhos chorosos, tristes, merencórios!!!

Nas asas colibri beijando a flor...
Passa tempo passando o vento triste..
Haja o que houver, minha solidão.

Nas asas vão batendo o meu amor.
Esse amor qualquer coisa não resiste...
Meu canto, passarinho coração!


Declínio
Na casa casamata e cachoeira.
Nos trapos, meus farrapos e camisas...
A vida vadiou vagou inteira.
As brasas abraçaram mansas brisas.

Repelente, passei, qualquer maneira...
De repente vesti perdi as frisas...
Lá fora vou dormir na trepadeira.
Chegavam as falsárias mona lisas...

Perdido fui vencido sem ter chances...
Nas bocas que beijei forjei romances...
As tralhas carreguei, virei alforje...

Cavalos que fugi, quem dera Jorge.
Dragões que não venci, são meus fascínio.
Amores que perdi, finos declínios!


Revolução
Ira santa tanta luta, bruta força...
Quebram sinas, sinais dos assassinos...
Caçam moças, almoçam mansa corça...
Matam tempo, queimando os meninos...

Canalhas suas tralhas quebram louça
Farsas expostas rostos, desatinos...
Gerações abortadas, sangue, poça...
Destruindo desejos e destinos...

No sem juízo, escarro, convulsão.
Nos sem telhados, fados, riscos, chão;
Dos meus olhos vermelhos, verminose...

Gerações abortadas, fina hipnose...
Prelúdio de canções sem ter beleza
Os mortos esquecidos sobre a mesa!


A Mesma Chama
Na fruteira esquecida vida mansa...
Na dança que dançava minha gente...
Nos versos que entoava num repente.
A morte solitária vem, avança...

Os pés que estão descalços, contradança,
A força que fingi, viva serpente...
Cabelo que cortei não pede pente.
Maior do que a cabeça é vossa pança!

Não pensa que me engana quem não ama.
Amores são sensatas tempestades.
Pois tudo que já tive nada vale...

Na montanha, no campo verde vale...
Nas taperas, sertão ou nas cidades,
Fogareiros fogões, a mesma chama!


Florípedes
Quem fora flor, Florípedes, me mente...
Quem dera amor, quem dera fosse minha...
Nos atos mais felizes foste crente,
Nas aves que voaste mais daninha...

Bastavas não sabias certamente,
Sabiás te sabiam tão sozinha
Nas pontes que partistes, fui premente.
Quem me dera amor, nunca mais vizinha...

Nas cortinas das tardes tatuada.
Ao reboque das flores de Florípedes...
Nos teus passos compassos sempre bípedes!

Me pedes não impedes, peço nada...
Peçonha serpenteias pela sala...
Quem fora flor, morreu, virou cabala...


Falso Diamante
Vou me embora na tarde desse amor...
As horas mais felizes são peçonhas...
Na trava que impingiste furta cor,
As lembranças deixadas são medonhas!

Vai inconstantemente... Quero por
Meus dedos na ferida que hoje sonhas...
Vou delirantemente pr’onde for
O caso que repasso. Me envergonhas!

Dilaceraste o corpo, alma não vês!
Nos pátios destas casas, nos sobrados...
Um falso diamante no teu dedo.

Passaste doidivanas como rês,
Não ouviste sequer cantos nem brados...
No falso diamante, teu segredo!


Tigresa
Me esqueceste... Perfazes meus caminhos...
Nas tuas vestes, fogo... Covardia...
Nas marcas que deixaste, teus carinhos,
Nas horas que passamos, melodia...

Os rastros que percorro são daninhos,
Me transportam da noite para o dia...
Não me queres, jamais quis outros ninhos,
Uma noite somente bastaria...


Ah Morena, mendigo teus mistérios!
Amores que perdi, pedem critérios,
Perigosa tigresa me naufragas...

Não quero cultivar dores nem mágoas!
Dominaste meus palácios dos desejos...
As flores que colhi, foram teus beijos!


Ronda
Rondando pelas noites te procuro,
Meu tempo vai perdido nestes bares...
Mergulho neste mundo tão escuro,
As noites que sonhei perdem luares...

Intrigas e mentiras, tudo aturo,
Te procuro por tantos vãos lugares...
Noite fria, cansaço, esse chão duro,
Talvez possa te achar nesses altares!

Não quero descansar, sou insensato...
A sede que matei neste regato;
Amores que percebo foram loucos...

Momentos de ternura, são bem poucos.
As hóstias que me deste foram santas...
As bocas que profanas já são tantas!


Loucuras
Loucuras comecei a cometer,
Desde que conheci tal criatura...
Como, então, poderei sobreviver
Como procurar nesta noite escura?

Meus olhos que teimaram te perder.
A boca que me mata é a que me cura!
Quem me dera tivesse um novo ser,
Um misto de brandura e amargura...

No começo, tropeços sem valor...
Pouco a pouco transtornos fui mostrando...
Andava simplesmente por andar.

Lunático bebi ondas do mar.
Fanático caminho delirando;
Estático fiquei sem teu amor!



Palavras...
Muitas vezes pesadas as palavras...
Estúpido, agredindo a quem tanto amo!
Embora nessas flores, minhas lavras...
Embora tantas vezes eu te chamo...

As palavras escapam e maltratam,
Palavras simplesmente sem desculpa...
As mesmas mãos carinham, mansas tratam,
São que cortam, ferem... Minha culpa!

Muitas vezes errante caminheiro!
Busquei teus passos, soltos no deserto!
Amo-te tanto! É certo e verdadeiro...

Meus dias sem te ter nas caminhadas,
São trágicas feridas, peito aberto!
Não sei por que palavras tão pesadas!



Recompensa
Eu acabei com tudo! Não te quero...
Meus olhos lacrimosos nada falam...
O tempo que perdi, jamais espero,
As dores que vivi, jamais se calam!

Nos sonhos que passei, amor tão fero
As flores que plantei, já não exalam
Perfumes... Quem me dera fosse vero
Amor. Mas, maltratando, nos embalam...

Foste força feroz, fera deixaste...
Nas feridas profundas, cicatrizes...
Se nas plagas distantes me cobriste;

Nessa valas abertas, já cuspiste...
Mascaste o coração... Fomos felizes.
A morte, recompensa que pagaste!




Abelha
Abelha que precisa desta flor,
A flor que necessita desta abelha,
Amores que vivemos por amor,
São flores que iluminam qual centelha!

Do pólen produzimos, sonhador!
Das cores que vivemos, a vermelha!
A chuva que refresca esse calor,
Batendo, levemente em cada telha!!!

Te quero, tanto quanto te preciso.
Não sei viver; somente sobrevivo
Nas horas onde estou, de ti, distante!

Não vás, te necessito a cada instante....
Se fores, não terei sequer o siso!
Prisioneiro da abelha, sou cativo!


Como me queres?
Como me queres? Santo ou pecador?
Eu não sei se te trago o meu poema...
Eu não sei se te beijo com furor...
Não sei se mostrarei a piracema,

Ou quem sabe virei tal qual andor...
Não sei se tua clara ou tua gema,
Não sei se transtornado ou cantador!
Não sei se circunflexo ou talvez trema...

Como me queres? Diga-me, te imploro!
Sutil e transparente, manso, rio...
Rápido e voraz, fera louca, cio...

Noite calma serena ou transtornada...
Que te devore inteiro, ou triste choro...
Prefiro vir calado... Não fale nada!


Paixão
Na pálida tragédia irresistível!
Penhasco insensatez e tempestade.
A força que devora, é invencível
Arrasta toda pedra da cidade...

Nas trevas amazônicas, possível,
Nos olhos das serpentes qualidade...
Não cabem nem comportam tal desnível.
As luzes que roubamos, claridade...

Invade, arrebentando me arrebata!
Não sobram nem migalha arquitetônica
Enchentes que transbordam emoções...

Paixão assim, quem dera se platônica,
Me corta, me tortura, é vil chibata!
Sem medo se destrói nas explosões!


Álibi
Teu álibi, disseste é incabível!
Não tenho mais desculpas a forjar...
Olhaste um coração tão impassível,
As pedras sutilmente, vão rolar!

O resto que sobrou, indefectível,
Não passa de penugem sobre o mar...
Meu álibi, pensei fosse infalível,
Agora que percebo, perco o par...

Ávido dessa vida que vivi,
Não devia vestir tal sutileza...
Por favor, não me julgues de per si...

Mentiras fazem parte deste jogo!
Cobri com mil desculpas, na defesa,
Te peço envergonhado, ouça meu rogo!


Confissão
Confesso meus defeitos, são cruéis!
Te magoei por certo, bem o sei!
Na sorte tantas vezes, fui revés,
Nos sonhos que pensei, sempre era rei!

Não olhe assim de banda de viés,
Confesso que pequei, portanto errei!
Se fores nunca flores aos teus pés...
Nas horas que passamos, tanto amei!!!

Bem sei que não consegues perdoar!
Perdão não tem demora nem lugar!
Não quero este perdão, sempre educado!

Prefiro indiferença e solidão!
Perdão pra ser perdão tem que ser dado,
Com uma assinatura: coração!


Recomeço
Bem sei que não te importa como estou!
As dores que senti quase mataram...
As noites que sofri, me congelaram.
Do que eu fora, bem pouco me restou!

Mas, felizmente, tudo já passou.
Feridas que cortei, cicatrizaram....
Outras mulheres tive, e já passaram...
O tempo que maltrata, me deixou...

Os templos que conheço, da alegria!
De novo tatuados no meu peito!
A dança, o riso, toda fantasia...

A vida camarada deu seu jeito!
Agora se me veres posso rir!
Desculpas? Nem precisas mais pedir!


Ouça-me
Não tentes transformar o nosso caso!
A vida não permite tais loucuras...
Quem fora nascedouro morre ocaso
Não posso permitir noites escuras!

A fome não progride nas farturas,
Não tentes mais colar o velho vaso...
Amor sem ter carinho perde o prazo,
As dores que sentimos, tais fraturas...

Não tentes ocultar os teus segredos...
Os dias que perdemos não se voltam!
Mentiras desfiando seus enredos...

Meus passos desviando teu tropeço...
As ondas do que fomos se revoltam,
Amor assim não quero e nem mereço!



Loucuras
Quantas loucuras! Quantas... transtornaste
Meus dias... Já passamos por tempestas
Por orgias... Vivemos tantas festas,
Mas em loucura tantas coisas transformaste!

Na janela entreaberta várias frestas
Permitem penetrar dor e desgaste...
Imploro vorazmente que se afaste
Tentando preservar, mas não me emprestas

As tuas mãos... Teimosa, finges riso...
Gargalhas das desfeitas que me fazes...
Teus beijos tresloucados, são martírios!

Muita vez, a chorar, me martirizo...
Feridas não se curam só com gazes!
Embalde já lutei com teus delírios!

No comments:

Post a Comment