Search This Blog

Thursday, March 20, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 139

1933

As mãos que se procuram noite afora,

Ao perceberem as delícias tantas

E tal fartura em que tu sempre encantas

Trazendo o belo cais, onde alma ancora.

Amor quando demais cedo apavora

Ao nos cobrir mostrará frágeis mantas

Enquanto tu derrubas me levantas

Por vezes em falsete a velha escora.

Aquece enquanto esfria um sentimento,

Na calmaria nos trará tormento

E sendo assim, do amor espero tudo.

Mas deixe que essa noite seja nossa,

Da força que envelhece e quer remoça,

Nas tramas deste amor, eu não me iludo...

1934

Nas tramas deste amor, eu não me iludo,

Mas seguirei esse caminho audaz

Que enquanto nos maltrata, satisfaz,

Se necessário, a rota então eu mudo.

O sonho me servindo como escudo

Por vezes não consegue ver a paz,

Teimoso coração se crê capaz

Mergulha insanamente e vai com tudo.

Contudo as curvas mostrarão depressa

Que nem todo pecado se confessa,

A praia traz em ondas sol e sal.

Eu tanto desejei e nada vinha,

A solidão se resta, sendo minha

Faz parte dos traquejos do jogral.

1935

Faz parte dos traquejos do jogral

Esse farsante enredo feito amor.

Nos seus meandros poderei compor

Um feliz ou patético final.

Num trágico momento sou venal,

Porém noutro talvez encantador.

Um velho menestrel, um trovador

Brincando com palavras, bem ou mal.

Por vezes com lirismo, eu já me engano,

Ao mesmo tempo enquanto nego o dano

Lamento a minha sorte em gargalhadas.

Andando sempre assim na corda bamba,

A vida num momento se descamba

Trazendo as ilusões já derrotadas...

1936

Trazendo as ilusões já derrotadas,

Metade do que fui não mais terei.

Corsário de mim mesmo, eu não verei

As ilhas tantas vezes procuradas.

Falsário coração de mãos atadas

Um dia vai cativo noutro rei

Quem sabe em outro tempo encontrarei

Ao fim do entardecer, novas estradas.

Tampouco posso crer nestas mentiras

Que às vezes por capricho tu me atiras

Falando da paixão que desconheces.

Tentando seguir sóbrio, eu me inebrio,

Às vésperas do sol, sentindo frio

Minha alma oferecida nas quermesses...

1937

Minha alma oferecida nas quermesses

Vendida a qualquer preço num leilão,

Em lances duvidosos da paixão,

Nem sabe quanto ou quando me ofereces.

Às vezes me escondendo atrás de preces

Dispara no meu peito um carrilhão,

No fundo sempre a mesma negação

Eu sei que no verão já não me aqueces.

Verdade acondoplásica se torna

Quando tu mentes sobre a vida morna

Que adorna cada passo sonegado.

Participando sempre deste engodo,

Buscando o meu retrato então me açodo

Bebendo os erros todos do passado.

1938

Bebendo os erros todos do passado

Serei capaz talvez de refazer

O que busquei em vão já me faz crer

Que o dia não será iluminado.

Matando o que pensara estar errado

Também deixei de lado o meu prazer.

No barco, o meu naufrágio passo a ver

Na tempestade seguirei calado.

Coragem que se faz tão necessária

Metáforas em vida temerária

Macabra decisão de prosseguir.

Vingança do que tive no porvir

Prevendo o que virá; fardo cruel

Das nuvens escondendo o que há no céu...

1939

Das nuvens escondendo o que há no céu

A chuva com certeza limpará,

A vida desse jeito mostrará

Uma emoção que é feita em carrossel.

O barco na verdade é de papel,

Tropeço em cada passo desde já

O quanto amanhecer sonegará

Está detrás da vida, negro véu...

Mas se cabe ou se não cabe uma esperança

Não posso prometer outra aliança

Se a vida não trouxer um lenitivo.

Enquanto sigo meu caminho torto

Amor vai prometendo algum aborto,

Teimoso, ainda insisto e sobrevivo...

1940

Teimoso, ainda insisto e sobrevivo

Depois desta abordagem da tristeza.

Vencer sem ter temores, correnteza

Talvez inda demonstre um ser cativo.

Do quanto é necessário, eu mesmo privo

E vejo o quão difícil é ser presa.

Amor que com firmeza já se preza

Não deve ser jamais, assim, altivo.

A vida traz em si tantas barganhas,

Encontro nos seus vales tais montanhas

Às vezes cordilheiras. O que faço?

Se nada do que eu quis te impressiona

Apenas esperança ainda abona

Deixando bem distante qualquer traço...

1941

Deixando bem distante qualquer traço,

Prossigo em teimosia e não descanso.

Se eu tento e muitas vezes, sigo manso

Não quero me esquecer do teu abraço.

Apenas sobrevivo no mormaço

Que tanto tempo mostra o velho ranço

Nos olhos da morena um embaraço

Os braços de quem quero eu não alcanço.

Melódica ternura? De onde vens?

Se nada do que tive diz de bens

À parte vou seguindo sem sossego.

Amar é traduzir qualquer sufoco,

A casa necessita de reboco

Nas luzes que sonegas, eu me cego...

1942

Nas luzes que sonegas, eu me cego.

Sentindo um calafrio inexplicável

Amor um velho tema interminável

Nas ondas deste sonho inda navego.

Embora na verdade sem apego

O tempo de viver sendo esgotável

Eu quero o desencanto imaginável

Ferindo minhas mãos, amável prego.

Menina que se fez em poesia,

A Diva que eu desejo e nunca veio.

A transparência mostra em cada seio

Promessa do que eu quis, e não sabia

Que não podia ser somente minha.

A noite deslumbrante? Nunca vinha...

1943

A noite deslumbrante nunca vinha

Deixando os meus retalhos no caminho.

Não quero que minha alma vá sozinha.

Que faço se perdi meu velho ninho.

Nas mãos de um sertanejo, lua e pinho,

Enquanto uma emoção já se avizinha

Depois da lida feita enxada, ancinho,

Distância se entalando como espinha.

Televisão a cabo acaba tendo

Macabra dimensão para quem sonha.

Realidade chega tão medonha

Aos poucos meu amor se corroendo

Só deixa uma saudade do que fomos,

Das frutas do desejo? Nem os gomos...

1944

Das frutas do desejo nem os gomos

Tocaram esta vontade mais voraz.

A boca que se quer ser tão audaz

Demonstra o que em verdade ainda somos.

Os versos que na cama nós compomos

Moldando uma alegria que nos traz

O vento que se fez em pura paz,

Jamais sonegará o que nós fomos.

Malabarismos tantos! Noite plena...

Menina a tua boca me envenena

Trazendo na saliva, maravilhas...

Agora que outro dia renasceu,

Amor que foi demais; apodreceu

Prefiro trafegar em outras trilhas...

1945

Prefiro trafegar em outras trilhas

Depois da capotagem; o que resta?

Amor foi na verdade simples festa

As dores ressurgiram em matilhas.

Percebo que não somos simples ilhas

O quanto se deseja é o que nos gesta.

Desmatamento atroz nesta floresta

O barco abalroado em suas quilhas.

Matando o que sobrou de sentimento,

Não vejo na esperança algum ungüento

Tormento de nós mesmos se gerando.

Melancolia é sombra do que flui.

Vivendo o que não pude e o que não fui

Espero amanhecer em fogo brando...

1946

Espero amanhecer em fogo brando

Não vejo outra saída. Sigo em frente.

O beijo que se fora tão ardente

Agora aos poucos sinto se esfriando.

As ilusões partiram noutro bando,

Minha alma se tornando mais descrente

É necessário um sonho em que se invente

Além do coração em contrabando.

Baladas não me dizem quase nada

Senão esta partida anunciada

Mudando todo o curso desde agora.

Não tendo mais teu corpo junto a mim,

Procuro inutilmente de onde vim

As mãos que se procuram noite afora.

No comments:

Post a Comment