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Tuesday, February 16, 2010

24890 até 24897

24890

Um deus que é tantas vezes tão medonho,
Arcaica fantasia em ar sombrio
Que ao mesmo tempo mato e até recrio
Enquanto em voz altiva recomponho
O rumo pelo qual ando tristonho
E bebo em temporal etéreo frio
No torvo amanhecer, um ar esguio
E o bêbado luar morre bisonho.
Astuciosamente a insensatez
Devora com terrível fome e gula,
Enquanto a morte chega e mesmo adula
Quem nela e só por ela se desfez
Assisto ao derrocar desta quimera
Na sôfrega ilusão que assim se esmera.


24891



Adentra o mar imenso feito em luz
O mesmo pensamento que movera
Enquanto uma esperança como a cera
Aos poucos se desmancha e isso me induz

Ao tempo aonde quis acreditar,
E sei que a poesia já se cala,
Minha alma de tua alma, uma vassala
Esboça a reação e morre ao mar.

Estrídulos diversos, ânsias loucas,
Erguendo falsos túmulos, a sorte
Sem ter sequer lugar que inda comporte
Sem dúvidas deveras me tresloucas

E trazes gargalhares que histriônicos
Transcendem em momentos desarmônicos.



24892


Jamais perceberia em quantos versos
Eu poderia ter felicidade,
E mesmo que mais alto, insano eu brade
Os dias entre dias tão diversos
Resumem o reflexo de universos
Aonde permitindo o que se invade
Gerando após o medo a tempestade
Em ventos mais profusos e dispersos.
Erguendo além do brilho do horizonte
O olhar que se permite ao que desponte
Num traiçoeiro gesto; em juventude.
Não cabe mais a sorte nem tampouco
O grito desumano ou mesmo rouco
Que a sanha desta vida, ainda mude.



24893


Retiro dos meus olhos, fúria e trava
E delas faço a ti raro jantar
Servindo de bandeja a fome e a clava
Adentro sem pensar o imenso mar,

Salgando a tempestade que nos lava
Escondo em minhas mãos raio e luar
Vulcânica expressão em fogo e lava
Tomando este cenário, devagar.

Ainda não consigo ver após
O que será enfim, então de nós
E atendo aos meus anseios mais vorazes.

Não quero adivinhar dia futuro
Se assim, ensandecido inda perduro
Procuro pelas ânsias que ora trazes.



24894

Nefasta imagem trago do passado
Antevendo afinal, o quão possível
Viver a fantasia, este desnível
Por vezes sem temores, livre brado,

E quando se demonstra este ansiado
Momento em que tornara bem mais crível
O mundo imaginário incorruptível
Infelizmente noutros desmembrado,

Ao perecer inútil fantasia
O quanto se tentara e se esvazia
Assola-me sem paz, a realidade.

E quanto mais procuro e nada vejo,
Audácia se mostrando em ar sobejo
Traduz ao fim de tudo esta ansiedade.


24895

Minha alma desfilando assim sozinha
Sem ter sequer a paz que necessita
A vida que desejo ora maldita
Traduz a solidão que se adivinha

Nas ânsias do viver, ela se aninha
Nos antros mais vorazes e palpita
Destroça qualquer sonho de pepita
E torna a minha senda mais daninha.

Esgarço em tempestade esta ilusão
E traço as desventuras que virão
Numa ânsia sem parâmetro e mergulho

Nas vagas deste insano temporal
E o riso que pensara triunfal
Traduz ora somente um torpe orgulho.


24896


Porquanto um caminheiro amargo e triste
Seguindo cada passo deste nada
A sorte muitas vezes destinada
A quem na caminhada já persiste
Demonstra este vazio que inda insiste
Tornando mais difícil minha estada
E o quase se transborda e desarmada
Uma alma tão ferida, enfim desiste.
Nefasta madrugada, noite fria
Aonde procurar a poesia
Se a vida assim sonega qualquer chance,
E mesmo que se entregue nada vindo
O quanto se deseja belo e infindo
Não tendo quase nada ao fim se lance.



24897



Ecoam dentro em mim vozes dispersas
Falando do que um dia quis em paz
E enquanto fosse à vida pertinaz
As horas em carinho e luz imersas,

Mas tudo não passara de conversas
E o canto se mostrando então mordaz
Herege paisagem que se faz
Diversa da que ainda em sonhos versas.

Escuto em tédio imenso a ladainha
Que aos poucos sem remédio se adivinha
E traz nos mesmos moldes, riso e pranto,

E tudo o que talvez ainda queira
Explode além da fúria costumeira
E indiferente a tudo, ainda canto.

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