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Thursday, May 25, 2006

SÃO PAULO

São Paulo, não te conheço, mas tento te conceber. Nesse teu vai e vem, nessas suas ruas gigantes, avenidas, sangrando pelo teu corpo.

No Rio e nas marginais que te atravessam e te conhecem por inteira.

Marginais, marginais do Tietê, de suas tietes, de teus túneis e viadutos.

Marginais te sangrando e te cortando, mostrando teu coração.

Coração aberto, exposto, vivo e latejando.

Nas favelas e vilas, nas periferias e avenidas.

Nos teu trânsito, no teu tráfego, no teu tráfico. Na dor de todos, no ardor da vida esvaindo-se em sangue.

Em tantos entretantos, de todos os Santos, dos teus braços abertos, mas nem sempre gentis.

És mais que tudo, todos os brasis, todos os brasões, os diferentes e coincidentes amores,

Mineiros, goianos, paraibanos, sergipanos, anos e anos te fizeram, mas nunca te concluirão nem te conhecerão por inteira, por veias e artérias.

Pulsando tresloucada e desvairada, desvaíndo-se desviada de tantas promessas de muitas remessas, de ti para o estrangeiro.

Estrangeiros te adotam e te comportam no cora, na coragem, na carne espoliada, na pele arranhada, na vida abandonada a esmo.

No torresmo a milanesa com ovo frito do “pedreiro” Adorinan, o mesmo da maloca e do velho Arnesto, nada ficou?

Deixa-me saber de ti, velha cidade, Capital do Brasil, locomotiva, tantas vezes sem rumo, sem nexo, com o sexo explorado, o medo, a angústia, o vazio e o pleno.

Na tua garoa, na tua marcha para o terceiro e quarto milênio, mas com os tentáculos suburbanos periféricos, presos, atados ao passado, ignóbil escravidão, marginais...

Nas marginais, teus marginais e tuas damas, teus barões e “mariposas” se entrelaçam e nem se percebem.

Atropelada Iracema, não a de Alencar do mar distante e inerente, em teus Santos e profanos.

Também ela não olhou ao travessar as ruas, e foi atropelada pelo tempo, pelos olhos sem sentido de tantos para quem a “assistência” nunca vem, nem veio, quiçá virá.

São Paulo perdoa este desconhecido, que sem ter te conhecido, sem nunca ter te encarado, te imagina. Misteriosa e bela, ao mesmo tempo assustadora.

Amo-te, dentro do que se pode entender como amor a uma estranha, fascinante e vária, multitemática e emblemática, alucinada e lunática.

Permita-me estar na cena de sangue no bar da Avenida São João...

E me desculpe por querer tocar nas cenas de sangue que padeces, sem o romantismo de outro Paulo, não Santo, mas Vanzolini.

Entre tantos paulos, concebes variedades múltiplas e tantas vezes incompreensíveis para quem não te conhece.

Por isso perdoe esse estrangeiro que nunca poderá te conceber, por seres totalmente inconcebível.

Nas tuas “Panaméricas de áfricas utópicas” do seu “novo quilombo de Zumbis” me dê um rumo que não seja o que fazem de ti nessa hora.

Velha Senhora, te desejo Paz e, se isto for impossível, que o verde dos olhos se espalhe na tua plantação, abandonando os vermelhos dos teus olhos...

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