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Saturday, September 15, 2007

O Cangaceiro

O Cangaceiro

Para a boa compreensão deste poema, peço permissão a Gustavo Barroso, para transcrever as seguintes observações que faz sobre os cangaceiros, no seu livro “Terra do Sol”:

“Anda um desses bandidos românticos por uma ribeira. Chega-lhe a notícia de que um indivíduo por astúcia ou força, desonrou pobre e ingênua moça, sem irmãos ou pai que a desafronte, recusando-se, vilmente, a reparar o mal.

“Dá-lhe caça, alcança-o; e se se recusa à reparação, criva-o de balas, espeta-o na faca e deixa insepulto o cadáver, como lição aos sedutores atrevidos. O cangaceiro desta espécie é incapaz de roubar e jamais consente que os seus acostados roubem.

“Tem em grande conta a sua honra e não há mais susceptível pundonor que o seu. Um chefe de cangaceiros paira por uma região. Todos os foragidos, todos os criminosos, procuram-no para se alistarem no seu bando. O cangaceiro vai recebendo-os, indagando-lhes a vida.

“Fugindo o indivíduo à perseguição por crime de morte, entra para o bando; por atentado ao pudor ou à bolsa, é, imediatamente, fusilado.”
O CANGACEIRO

A Luís Carlos

EU me chamo Sivirino
Sapiranga, sim, sinhô.

Sou fio de Zé Fôstino,
que era fio d’um tropêro,
Frô dos Santo, meu avô.

Sou naturá de Umbuzêro,
da Paraíba do Norte,
a terra das patativa
que eu amo cum todo o amô
de valente cangacêro!...
apois cangacêro eu sou.

Não paga a pena, seu moço,
eu dizê pruquê rézão
já varei cum a parnaíba
mais de vinte coração!

Minha históra é atrapaiada,
é toda cheia de ispinho,
e, cumo lá diz o outro,
seu moço, as água passada
já não move mais muinho.

Óie, moço!... Não há munío,
distante um casa de légua
de S. Migué de Traipú,
eu fisguei um cavaiêro,
o fio d’um fazendêro,
cumo quem fisga um tatu.

Esse garoto e canáia
um dia róbou de casa
a neta de um comboêro,
que era um hôme tão bondoso,
e despois, abandonou
aquele anjo fermoso,
cumo se fosse, seu moço,
um cachorro, um cão leproso!!!

Prú té matado o canáia,
a justicia que divía
me té dado uma medáia,
me chama de criminoso!!

*

Quando meu pae, que Deus tenha
no Santo Reno da Glóra,
ao pé d’um monte de lenha,
mazômbo, os óio fechou;
a fia que mais amava
nestes braço me intregou.

Inda me alembro, seu moço!

Abraçado no pescoço
do véio, que se finava,
eu chorava, eu saluçava,
garrado cum minha érmã,
cumo à boquinha da noite,
chora e geme uma acauã!!

De noite, fazendo quarto,
óiando o pobre do véio,
taliquá, má cumparando,
— São Pedro cum as barba branca,
cum os seus cabelo branquinho,
drumindo o sono da morte
n’um véio banco de pinho...
chorava, cumo, sintido,
o pásso que foi firido,
cum um tiro, dento do ninho!!

E quando, ao rompe da ôróra,
o véio foi carregado
n’uma rede, istrada à fora’!...
Quando ele foi sipurtado
prú báxo d’uns cajuêro,
ali, naquele momento,
eu fiz este juramento:
me torna n’um cangacêro.

*

Dêxei meu pae sipurtado,
vortei lanhado de pena,
chorando a sorte tirana!

Mas porém, quando cheguei,
e intrei na minha choupana,
a minha mãe incontrei
cum o coração mais lanhado,
e mais duente que o meu!!

Prá dizê tudo, seu moço,
n’um domingo amarfadado
aquela santa morreu!!!

A morte era naturá!
Despois da morte do véio,
não poude mais suportá!

*

Meu pae não perdeu a vida
pulos ano!! Não, Sinhô!

Morreu prú via d’um hôme
que era rico e, prú capricho,
uns mulambinho de terra
do pobre véio róbou!

O jaburu quiz um dia
que meu pae jurasse farso
n’uma questã que ele teve
cum um honrado lavradô.

O lavradô era pobre...

Meu pae, que era um hôme nobre
bateu o pé!... Não jurou.

A Justicia que fazia
tudo o que o hôme quiria,
im mêno de duas hora,
butou o véio prá fora!...
E tudo ansim se acabou!!

Despois que eu vim pró cangaço,
há munto que o tá ricaço
cumigo as conta ajustou!!

*

óie, moço: vêje lá
se eu tenho rêzão
ou não.

*

Um dia, eu táva banzando,
deitado n’uma toucêra
de verde sanacurí,
quando vejo vim, d’ali,
o Antônio dos Picapáu,
amuntado n’um quartáu.

O coração piquinino
sartava, cumo um cabrito!

Vendo o Antônio que era eu,
gritou de lá: “Sirvirino!...
“A tua érmã!...“ Dei um grito,
que o cabôco istremeceu!

Apois, quando eu disse: — “Fala”
ele gritou lá da istrada:
“Foi trazontônte róbada!!..”
E alevantando a çoitêra,
deu de ispóra no quartáu,
e se assumiu entre as fóia
de duas guapurinhêra!!

*

Três dia andei a percúra,
atraz do tarapantão,
(o fio d’um figurão...)
mato abáxo, mato arriba,
e só discansei, seu moço,
quando eu tirei o pirão
do buxo daquele cão,
cum a ponta da parnaíba.

*

Gibão e chapéu de côro
n’uma orêia derribado;
um guarda-peito de onça
no peito sarapintado;
cravinóte sêmpe iscravo
dos bom, cumo vassuncê,
aqui tá um cangacêro,
mas um cangacêro honrado,
taliquá, cumo me vê.

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Seu moço, váíncê prégunta
se argum dia eu fui murdido
da tátájuba do Amô?

Arrespondo a vassuncê!

De tanto e tanto sofrê,
o coração, que padece,
fica duro, cumo um calo!
No sufrimento indureceü!!
Calêja na disventura,
cumo as pata dos cavalo
na istrada de pedra dura!

Dêxe acende meu cachimbo,
e iscute um causo, seu moço,
se um causo quê me iscutá.

*

Amuntado no Caxito,
eu siguía de viage,
e passava pula Serra...
d’ali, de Jabitacá,
quando vi uma morena,
fazendo renda de birro,
imbáxo d’uma guaipá.

A cabôca, cum o pézinho
im riba d’um panacú
de páia de burití,
era fermosa, era bela,
e tinha a pele amarela,
cumo a frô do muricí.

Do lado, d’onde se via,
de tarde, o Só se iscondê,
o mio novo cricia
entre os pé de macachêra!!...
E, do outro lado, prú báxo
d’uma grande ribancêra,
o vento fresco da tarde
brincava, cumo um minino,
cum as fôia das goiabêra!

Bem im frente do currá,
da banda do copiá,
as cabra mansa, as ovêia,
cumía o capim mimoso
do mimoso capinzá.

Num lindo itapinhoã,
cantava um guriatã.

Um papagaio, assanhado,
táva gritando, atrepado
na roda véia d’um carro,
e a casa, onde as trepadêra
pulas parede assubia,
tão piquena, paricía
um ninho de João de Barro!

O avô da moça iscutando
as pisada do animá,
trazendo dois pote cheio
de leite fresco, “Bás tarde”
me disse lá do currá.

Pediu que eu disapiasse.

Amarrou o meu cavalo
n’uma cuiêra viçosa,
imquanto a moça, bondosa,
cum os cabelo preto, preto,
cumo os pena dos anum,
me trazia uma tijela
de leite, adonde boiava
o ouro do girimum.

Do girimum tinha ela
o ôrôma, o chêro e a cô!
Tinha uns óio piquinino
de guanumbí, que seu moço
cunhece prú bêja-frô.

Não tinha a boca da rosa
vrêmêia e munto piquena!
Tinha o tamanho d’um bêjo
aquela boca morena!!!

Eu não sei li dizê, não,
o que nós dois, eu e ela,
sintiu, naquele instantinho,
muxurundando, seu moço,
na boca do coração!!

Eu óiava!! Ela me óiava!...
N’um abri e fechá dos óio,
ambos os dois já se amava!

Já era a boca da noite.

E cumo a noite nacía
um bocadinho arrufada,
eu pidi uma apouzada.

Tio Luca, que era ansim
que o avô era chamado,
era um hôme arrespeitado
im todo aquele lugá.

Sem medo de não inrrá,
tinha mais de cem jánêro;
mas porém era um véínho
alegre e cunversadêro.

Apois, a noite passei
n’uma cunversa cumprida,
uvíndo o véio contando
a históra da sua vida.

Virúca, (apois era esse
o nome da tentação),
fazia renda do lado!...
Mas porém, moço, o pió,
é que o Amô, esse ispião,
cá dento e lá dento delia,
fazia renda o marvado
nos nossos dois coração!

Tio Luca me contou
que a sua neta quirida
já táva prá se casa
cum o fio d’um fazendêro,
fermoso, rico e bunito!

E, despois, prú via dela
im segredo me tê dito,
súbe que ela não amava
o moço, que munto longe
da sua casa morava!...

Me perdoe, patrãozinho,
se o diabo d’um pingo d’água
me quizé atreiçuá!

E prá cunversa cortá,
no outro dia, patrãozinho,
quando o véio Tio Luca
foi meu cavalo arriá,
eu e ela, ambos os dois,
n’um grande abraço, a chorá,
n’um adeus se adispidíai...

Ela ficava!... Eu partia!!

Nunca mais eu travessei
a Serra Jabitacá.

Apois Virúca não ia
cum um moço rico casá?!

Pulas cunversa do véio,
eu assuntei que ele tinha
pulo moço munto amô,
e se ela não se casasse
cum o moço, o pobre do véio
murria louco de dó!

O moço tombêm amava
Virúca, que era uma frô!
Mas porém, do meu amô,
do prêmêro amô que eu tive,
era pussive isquecê?!

Não, seu moço, era impussive!
Mas porém se era impussive,
era esse o meu devê.

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Já três mês era passado.

Lá, no fundo do sertão,
lá, bem no fundo, patrão,
eu morava num ranchinho,
mais maiô um mucadinho
do que um ovo de jacú.

Lá dento, a casa, a casinha
de riqueza táva cheia!...

Óie só: uma candeia,
um pote d’água, um urú,
uma coitemba, uma cuia,
um tronco de tabibúia,
um couro seco de ovêia,
uma garruncha, um quicé,
a istêra de catolé...
e, na parede apregado,
um Sinhô Curcificado,
uma image do Sinhô,
image que tinha sido
d’um dos meus tataravô.

De tudo que eu pissuia,
(que eu nunca pissuí nada!...)
só tinha aquela riqueza,
aquela image sagrada!

Patrão!... Aquele mucambo,
aquela triste casinha,
adonde morreu meu pae,
e a minha mãe, coitadinha,
era cumo uma ingrêjinha,
lá nos mato do sertão,
adonde, seu moço, eu vinha
fazê minha dévônção!

Crêia váíncê, se eu pudesse,
prá todo lugá que eu fosse,
carregava aquela casa
dento do meu coração!

Mas porém... Sim!... Eu dizia
que três mês era passado.

Uma vez, táva assentado
na porta do meu ranchinho,
quando abispei, munto longe,
n’uma dobra do caminho,
um vurto, vindo da istrada!!

A tarde táva, eu me alembro,
um bucado anevuáda.

Saquei do canto a garruncha,
e, entonce, firme, isperei.

“É um caçadô!... é um tropêro!...”
cummigo mêmo eu pensei.

E o vurto vinha siguindo!...
Vinha vindo!... Vinha vindo!.,.

De repente, se assumia
n’outra vorta do caminho!...
Mas, logo, n’um instantizinho,
outra vez, aparecia!

“É uma muié!” eu dizia!...

E o vurto vinha siguindo!...
Vinha vindo!... Vinha vindo!...

E quando mais se chegava,
sôrtei um grito da boca!

Meus óio não me inganava!

Ora, vêje vassuncê!...

Era... Virúca!! A cabôca!!

Sim!!... Patrão!... Era a Virúca!...
A neta do Tio Luca!!

Agora, vêje, patrão,
o que foi que ela me disse.

“Me disse que há uma sumana
“táva de casa fugida,
“correndo os capão de mato,
“cumo uma pomba perdida!

“Que fartava pouco tempo
“pró dia de se casá!

“Que tinha andado iscundida,
“drumindo dento das toca,
“noite e dia, na isperança
“de me vê, de me incontrá...

“Que ante quiria morrê,
“disprezada, cumo o Cão,
“que vendê seu coração,
“cumo o avô ia fazê!”

Chorou, seu moço!... Chorou!...
De vez im quando dizia
que uma coisa só sintia: —
era matá de disgosto
o pobrezinho do avô!

Despois, dizia que Deus
seus pecado perduava!...

Dizia que me adorava!...

Que não casando cumigo,
cum outro hôme não casava!!

E entonce, assungando a sáia,
fazendo a sáia de lenço,
os pingo d’água alimpava!

Apois, eu falei! Eu disse
que tômbém amava munto!
Mas porém, que ante quiria
morrê ansim, cumo o Cão,
que sangrá o coração
d’um véínho, sim, sinhô,
que um dia este cangacêro
na choupana gasaiou.

Pidi que se assucegasse,
e, despois, cunsiderasse
quantos pingo d’água o véio
já não tinha derramado!

Tarvez que, já sipurtado,
drumisse, naquela hora!...

Pidi, supriquei, roguei
que era perciso í se embora!...

Acunsêiêi que casasse
cum o moço, que era inducado,
e só quiria fazê
a sua filicidade!...

Que era uma coisa bunita
fazê, tão perto da morte
do véínho, esta vontade!

Cum mais corage eu lhe disse:
“quatro légua, bem puxada,
“fica o sapé do vovô!

“O tempo amiaça chuva,
“mas porém tenho um cavalo,
“que corre mais que um prêá.

“Vassuncê váe na garupa...
“n’um instantinho tâmo lá”.

Introu de novo a chorá,
dizendo que o aguacêro
não tardava dispencá!

Saluçando, de juêio,
supricava que eu dexasse,
(não pulo amô, — prú piadade)
debáxo daquelas páia
aquela noite passá.

Despois, é que eu vi que a noite
táva mêmo arrenegada!

Gimía a mata assombrada
cum os bêjo bruto do vento,
apois, naquele momento,
arrebentou, n’um tôrrangue,
o istrondo da trêvuada,
e lá no céo, de repente,
uma gibóia de sangue
passou n’uma adisparada!!!

E ela chorava, assustada!

Entonce, forrando o chão
cum o couro seco de ôvêia,
butei a ceia que eu tinha.

Um coração de viado,
im riba da trempe, assado
no brazêro da cuzinha...
Um pouco de macachêra...
Café frivido im chalêra...
e uma cuia de farinha.
Ela, calada, fingia
que cumia um pedacinho
de macachêra... e bibia
uns gólinho de café.

Eu, cumendo, disfraçava!...

Prú báxo dos óio, óiava!...
E o coração me dizia:
“Sivirino!... cumo é triste
“uma casa sem muié!!!”

A chuva braba caía,
e, às vez, inté paricía
querê levá pulos mato
a casinha de sapé!!

Iscouciando e bufando,
se ispojando entre as fôiage,
lá fora, o vento curria,
cumo um cavalo sarvage!

Istremeceu de sobrôço,
pidindo um tiquinho d’água,
fingindo que tinha sede.

Despois, caiu de juêio,
cum as mão cruzada pró Cristo,
que táya im pé, na parede!
Rezava!!!

Ispetada nos cabelo,
trazia uma frô dos mato,
frô quirida das abèia!!
E ela, ansim, istremecendo,
mansinha, cumo uma ovêia!...
Piando, cumo um pintinho,
quebrando a casca do ôvinho,
táva, seu moço, mais bela,
mais triste e mais amarela
que as areia dos caminho!

Quando acabou de rezá,
introu de novo a chorá,
me pidindo que eu dêxasse,
(não pulo amô, — prú piadade,)
debáxo daquelas páia
aquela noite passá.

Cumo táva linda e bela!

Ai, de quem bebe, patrão,
o mais pio dos veneno,
n’uns pinguinho de sereno
de dois óio, cumo os dela!

Entonce, cum mais corage,
eu disse, sem mais aquela: -
“aminhã, de minhã cedo,
“vassuncê vórta cumigo
“prá Serra Jabitacá.

“O noivo não sabe nada!...
“Druma a noite assucegada!

“Aminhã, cumo o avôzinho
“vendo váíncê, vae ficá!”

Butando a istêra no chão,
supriquei: “vá se deitá!”

Tirando o pé da chinela,
na istêrinha se assentou;
n’um véio gibão de couro,
a cabecinha apousou;
e ao despois, a luz dos óio
foi, pouco a pouco, iscondendo,
taliquá dois vagalume
se adispidindo da noite,
quando o dia vem rompendo.

Drumia!... Se não fingia,
paricia tá sonhando!

O azeite de carnaúba
na luz morta da candeia
foi se apagando!... apagando!

Fui de vagá!... de mansinho!...

De vagá!... de vagarinho!...

E a frô dos cabelo dela,
cumo quem bêja uma santa,
não nego, patrão!... Bêjei!

Tive entonce uma vertige!!...

Sinti um gosto na boca
das fôia dos mato virge!!

Correu pru todo o meu corpo
um mistéro, que eu não sei!
Pensei na Virge Maria
e im minha mãe eu pensei!
Despois, a imagem do Cristo
da parede dispreguei!...

Do outro lado da istêra
de catolé, me deitei!!!...
Pra me livrá do pecado,
entre nós dois, eu e ela,
a Santa Image butei!!!

Quando, às vez, o coração
mais dizinquiéto batia,
eu me agarrava cum o Cristo,
rezando uma Ave-Maria!

Quiria a carne uma coisa
que o isprito não quiria!!
E ansim passei toda a noite,
garrado cum Jesú Cristo,
rezando cum devonção!
Pru São Cosme e São Damião!
Im certas ocasião,
quando o diabo nos consome,
um hôme deve sé hôme,
e eu fui hôme e fui cristão!

Váincê me intende, patrão!!

....................
....................

Má vinha rompendo o dia,
ainda a gente sintia
pulos mato mangangá
o ôroma frio da noite
e o chêro do têmpora,
e o meu cavalo curria
cum seu dono e cum Virúca,
prá casa do Tio Luca,
na Serra Jabitacá!

O que eu não posso dizê
é aquela sastifação
que o avô, vendo a netinha,
sintia no coração!

O avôzinho inda chorava
cum a sua neta abraçado,
e cumo um doido, chorando,
eu rumpia pulos mato,
no meu cavalo isquipado.

*

Im riba da serrania,
o girasó da minhã,
lá, munto longe, si abria!

N’uma festa de aligria,
no meio da mataria,
parece que indoidicía
todos os passo, a cantá!!

Paricia uma cabôca,
vistida toda de verde,
a Serra Jabitacá!...

Seu moço!... A minhã chêrava!!

Não vale a pena alembrá!!!

Não vale a pena, seu moço,
pruquê é uma grande verdade: —
que é a mais grande das bestêra,
na bestêra desta vida.
a gente dá de cumida
na boca d’uma sôdade!!

....................
....................

Mas porém, naquela noite,
naquela istêra deitado,
ou, mió, curcificado,
cumo se fosse uma cruz,
sarvei minh’arma, seu moço!...

Seu moço, eu sarvei minh’arma!!
Mas porém, (pul’esta luz!...)
Im nome do Pae, do Fio,
do Isprito Santo e Maria,
e do Amô, prú quem sufria...

— Nosso Sinhô me perdoe!... —
Eu sufri mais que Jesus!!!
VOCABULÁRIO

Parnaíba — faca.
Camboêro — guia dos comboios.
Mazombo — triste, isolado.
Acauã — ave de canto triste e agoureiro.
Carregado n’uma rede — é como se carregam os cadáveres no sertão.
Cangaço — bando de cangaceiros.
Banzá — estar pensativo.
Quartáo — cavalo manso, castrado.
Tarapantão — que diz ser valente.
Caxito — nome do cavalo.
Panacú — cesto.
Burití — espécie de palmeira.
Macacheira — aipim.
Muríci — árvore malpigeácea.
Copiá — alpendre.
João de Barro — pássaro que faz o ninho de barro, do feitio de uma casa.
Guanumbi — beija-flor.
Quicé — faquinha.
Mucambo — choupana.
Sobroço — medo.
Tôrrangue — estrondo.
Sarvei minh’alma — expurguei-a de todos os crimes, pela nobreza da ação.

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