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Saturday, September 15, 2007

QUINCA MICUÁ

QUINCA MICUÁ
(O GAITEIRO DO SERTÃO)

A Plínio Motta.

NOSSO Sinhô dê bons dia
a vasmincê, meu patrão,
e a toda a sua famia.

Cheguei há cinco sumana
nesta grande Capitá.

Sou musgo!... Musgo gaitêro!.
E, não é prú me gavá,
fui o terrô dos violêro
dos sertão do Ceará.

Os samba daquela terra,
adonde canta a viola,
adonde geme o ganzá,
não via o nacê do dia,
sem o gimido chorado
do gaitêro arriliado,
do seu Quinca Micuá.

Cumo o rio — da nascente;
cumo a pranta — da simente;
cumo a simente — de coisa
que ninguém sabe... ninguém,
nací gaitêro tombém!

Vasmincê póde me crê:
não fazia duas hora
que acabava de nacê,
e já levava parmada
de minha mãe, cumo quê!!

Toda a vez que ia mamá,
a pobrezinha gritava,
pruque eu, mamando, apertava
aquela santa maminha,
pensando já, meu patrão,
que fosse uma sanfôninha!!

Eu sêmpe fui um cabôco
bunito, cumo ele só!
As tapuia lá dos verde
dizia que eu tinha uns óio
facêro de noitibó!

Quando eu intrava num samba,
todo pimpão e gostoso,
cum os cabelo ingurdurado
d’um gósméco, bem chêroso,
a cabrochada assanhada
ficava logo inciumada
de me vê dengoso ansim!

Tudo que era fermuzura
ficava doida prú mim!

Eu tombêm fazia cêra,
mas porém, cumo brinquedo!
Dêxava sêmpe as cabôca
lambendo os óio dos dedo.

Querê bem?! Não! Que isperança!

Nunca pude creditá
im tanta jura de amô
que me fazia a Tudinha,
a Miritinha, a Izabé,
naquelas caraminhola,
que é o visgo que sáe da boca
da pió sucúrújuba
que Deus criou: — a muié!

_________

Agora iscute, patrão.

Prós lado lá do sertão
do meu santinho Ceará,
vivia um homem chamado
— Lotéro Carácará.
Era rico, apois pissuía
uma fortuna de gado.

_________

Findava o mês da mutuca.

Na minhã daquele dia,
tinha chegado da Corte
uma afiada do véio,
cum o nome de Cunceição.

_________

Era um dia de fôncão!

Lotéro, que era casado
cum a sinhora Cunegunde
e tinha um érmão doutô,
tinha mandado inducá,
na Corte... na Capitá,
essa tá de Cunceição,
cum carinho e munto amô!

Tinha a mocinha seis ano,
quando saiu do sertão.

Era férmosa, apois não!
Os óio dela fazia
pipoca no coração.
Tinha um nariz paricido
cum o bico do tinconcão.

As corda dos seus cabelo,
im duas trança ispaiáda,
era cumo dois sedenho
d’uma vaquinha amojada.

Cunceição era sarada!!...
Não tinha a cô das cabôca!

Era da cô da passóca,
tirante a batata assada.
Cantava e tocava musga
n’um caxão grande, — o priano,
que eu vi a prêmêra vez
im casa do seu doutô

Batia língua cum ele,
falando as língua da instranja,
que inté mitía pavô!

Cunceição tinha o segredo
de contá, riscando os númbro
no papé, sem sé percizo
contá cum as ponta dos dêdo!

N’um instantezinho inscrivia
tudo o que ela bem quiria!

Im pé, andando ou deitada,
im quarqué livro ela lia,
si li dava na venêta!
Lia pru-riba e correndo,
que eu ia prá mim dizendo
que era coisa do Capêta!

Quando falava... hinspanhó,
o doutô chamava ela
murzela... ou... miudamurzéla!

Eu vi, patrão, munta vez
que ela logo arrespundia
“murciú“, falando ingrêz!

Cunceição vinha passá
argum tempo no sertão
cum Lotéro e cum sá dona!

Era um dia de fônção!...

Eu ia tocá sanfôna.

Naquela noite, patrão,
meu insturmento gritava,
parece que arrebentava
as tripas do coração!

A minha gaita cantava,
cumo si fosse um vim-vim!

Aquela moça já táva
achamegada prú mim!

Ela se poz cum inxirisse!...

óiáva p’ra mim!... si ria!.

Eu, na sanfona, gimía!...

Ela uma “coisa“ me disse!...

Eu logo me dirritía!...

Mas a canela da onça,
meu patrão, não assubía!..

Foi o diabo, patrão!

O cara de barbatão,
que se danava de fêio,
mais fêio que São Simão,
oiáva ansim de réis-véis,
arripiava a quêréca,
imquanto a véia sapéca
me óiáva cum danação.

A muié tinha o nariz,
(não ofendendo os presente),
— de castanha de caju!...

Era uma véia barbada!...
Tinha uma cô de imbuzada!..
Só tinha uns óio bunito,
cumo os óio do tatu!!

Um gaitêro, o Zé Fréchão,
me óiando, inté paricía
me querê cume cum as mão!

Baxinho, a ruê coirana,
Inluminata, a Rosinha,
a Chica, a Luiza, a Tudinha
xingava a mim e xingava
a sinhora Cunceição.

Quando isquentava a fônção,
apois, agora, o doutô
tava tocando o caxão
prás moça toda porká,
a Cunceição, a danada,
me puxou, num safanão,
p’ra me dizê: “Micuá!

“Eu tôu mêmo apaxonada!...
“Tu firiu meu coração!”

Ela contou que o padrinho
quiría que ela casasse
cum o érmão, o tá doutô,
um moço todo lampêro,
que istudou na Capitá
seis ano, prá curandêro,
e que ela não tinha amô!!!

Que não quiria casá,
somentes p’rú sé doutô,
cum esse cara de intanha
e bico de picapáu.

Levasse a bréca a sabença,
que ela amava uma sanfona,
o insturmento mais bunito
ao despois do marimbáu.

Patrão, este seu criado,
o seu Quinca Micuá,
uvíndo o que ela dizia,
trimía, patrão, trimía,
cumo o junco da lagôa
im dia de ventania!

P’rá pude me arritirá,
ante da festa acabá,
foi perciso que eu jurasse
p’ra sá dona Cunceição
que eu ia no outro dia,
sem fárta, tocá sanfona
no samba do Zé Chícão.

_________

Quando eu cheguei, no outro dia,
na guarapêra do cabra,
já Cunceição incontrei.

Óie, patrão: a verdade
nunca mereceu castigo!

Eu tombêm me apaxonei!!!

No samba do Zé Chicão,
foi o diabo, patrão!

Um cantadô de viola
fez esta impruvisação: —

“Eu já vi um sapo-boi,
“n’um aguaçá d’um bréjão,
“dizendo que a sua gaita
“parecia um azulão”.

Preguntando um outro cabra:
— E o que tu disse, Janjão?!
O prêmêro arrespondeu: —
“Eu varejei uma pedra
“no fucinho desse cão”.

Puxei pula intiligença,
e arrespundi pró zangão:
“Estes verso bem amostra
“que saiu dessa cachóla!
“O sapo-boi, que tu viu,
“táva tocando viola”.

O cabôco tiriúma
cuspiu do couro o quicé!

Eu, no meio das cabôca,
isgruvitava cum os pé!

Se as muié não cunsintía
que eu me ispaiásse à vontade.
(não minto, não, falo séro!)
garrei na minha sanfona,
e... perna p’rá quê te quero!

Apois, esse violêro
do samba do Zé Chicão,
o cabra da gaforinha,
se as muié não me garrasse,
não cumía mais farinha!

Apois, dona Cunceição
me pidía!... Supricava
pula santa de seu nôme!!

Caxinxe, é sêmpe caxinxe,
e um hôme, é macaco é hôme!

Ao despois, o seu Lotéro,
sabendo daquelas coisa,
disse a sinhá Cunceição
p’rá não fala mais cumigo!

Ora, vêje que pirigo!

Sá Cunceição, que era fina,
cumo a gente diz prú cá,
de minhã, todos os dia,
imquanto os véio drumia,
lá ia assuntá cumigo,
imbáxo d’um biribá.

Eu nunca vi coisa ansim:
a muié, que era inducada,
gostava mêmo de mim!

Caisse as água do céo,
ou fizesse o Só bom dia,
certinho, toda a minhã,
o biribá já me via
tocaiando a Cunceição!

Na minhã que ela não vinha,
era que o véio babão
e a rabujenta madrinha
tinha acordado mais cedo.

Ora, um dia eu tive medo!

O coirão da marvadinha
me catucou p’rá fugi!

“Sá dona!” eu arrespundi:
“váincê é moça inducada!
“Eu sou um pobre gaitêro,
“um tocadô de sanfona!
“Isso é coisa munto feia
“p’ra uma mocinha dizê!
“Não fale nisso, sá dona!...

“Óie, Sá dona, o Tinhoso
“tá tentando vasmincê!”

Inda eu táva supricando,
e a muié me dava as costa,
indo imbóra, arresmungando.

*

Passêmo duas sumana,
sem tá junto... sem nos vê!

Despois que a gente arengou,
de minhã, naquela hora,
eu passava munto longe,
iscundido atrás das moita
das verde jaráuácíca,
p’rá vê se via o diabo
da mocinha tiririca!

Tinha perdido a aligria!

Nunca mais toquei n’um samba!

E a minha gaita gimia,
cumo a curuja avuando,
quando a noite côme o dia!

A tia Angérca, uma véia
da casa de seu Lótéro,
que cumigo se incontrou,
me disse que o tá doutô
fazia cêra cum ela!...

Cum ela!... Sim!... Sim, sinhô!

Senti nos bófe um calô!...

O carcanhá me trocêu!...
Eu juro a váíncê, eu juro,
que, sem tocá cum estes dêdo,
a minha gaita gemêu!

Naquela noite eu andei!...
Andei pulas mataria!...
A sanfona não tocava!...
Táva muda!... Não gimia!

Eu apertava... afróxava!!...
táva sem voz!... Só bufava!

Quando se perde a vrégonha,
abasta o amô querê,
faz do hôme uma pamonha!

Fui pedi a tia Angérca
p’rá dizê p’rá Cunceição
que eu táva isperando ela,
ante do Só acordá,
no outro dia, cumo sêmpe,
imbáxo do biribá.

Dito e feito. No outro dia,
naquela hora marcada,
eu isperava a marvada!

A sanfona, pindurada
n’um ramo, a se imbalançá,
quando uviu ela falá,
sem eu tocá cum estes dêdo,
introu de novo a cantá!

Pula arage balançada,
no ramo, d’aqui p’ra lá,
parecia inté, patrão,
que a gaita era o coração
do férmoso biribá!!!

Eu entonce preguntei
se ainda me tinha amô.

Não disse nada!... Calou!

Eu falei nesse inxirído,
no moço... no... no doutô!

Foi entonce que falou,
dizendo que ela falava
siturdia cum esse moço,
prú via d’um má de rengo...
e prú via d’uma dô.

D’outra feita, foi prú via
d’uma grande narvragía
no miolo do coração!

Mas porém já táva boa,
despois que o doutô fisgou
nos dois braço uma injerção..
(lá nela)... de fôia sêca,
e simente de gervão.

Despois, zangada, me disse
que eu amava sem calô!!!
Que eu tinha sido o prêmêro,
o prêmêro que ela amou!

Que tinha munto dinhêro
p’rá nós vivê afórgado,
sem se importá cum o Lótéro,
nem cum o diabo do doutô.

Entonce, apouzando o braço
cá prú-riba do meu ômbo,
sintí cumo uma friáge
nos grugumío do istômbo!

Trimí, seu patrão, trimí!
Mas porém, quando outra vez
me catucou p’rá fugí,
não sei cumo não murri!

Ai, que moça tão marvada,
mas porém... tão bunitinha!

Despois, me disse no uvido:
“Micuá, uma boquinha!...”

Apois, juro a vasmincê!...
Eu não sabia o sintido
da palavra... Pode crê!

Quando ela me disse o que era,
gritei: “Dona Cunceição!!!

“Não quero sabe de nada!!!

“Eu amo váincê, sá dona,
“cum todo este coração,
“que bate aqui neste peito!
“Não tire paluxo, não!...
“Não me farte cum o arrêspeito!”

O sinhô Carácará,
que já tinha alevantado,
uvindo eu falá mais arto,
como uma onça n’um sarto,
garrou na minha gaitinha,
que nem cachorro inraivado!

Eu fiquei ajuêiádo,
sem pude arrispirá,
vendo que o hôme quiria
a sanfôninha quebrá!!!

Quando eu disse pró padrinho
que a sua linda afiada
foi e haverá de sé sempre
cá prú mim arrespeitada,
cumo sempre arrespeitei,
o raio da iscummungada
me fez cum os dêdo... uma figa,
que eu nem sei cumo fiquei!!

Seu patrão, não digo nada!!!
A muié táva ispritada!!!

O véio tinha o insturmento
alevantado nas mão,
me óiando cumo o capêta,
cum uns óio de sucuri!

Foi quando, entonce, n’um grito,
ela gritou: “Meu padrinho,
“este hôme sem vrêgonha,
“me achando sozinha aqui,
“me pidíu uma boquinha,
“me catucou p’ra fugi,
“dizendo umas coisa feia,
“que váincê nem faz indéa!”

O hôme entonce, o mardito,
cumo uma fera acuada,
fisgou-me im riba do quengo
a minha gaita adorada!

A minha gaita, a sanfona
que eu não trocava prú nada!

Quanto tempo, quantas hora,
eu ali fiquei ansim!

E, quando dei fé de mim,
táva no meio do véio
e d’uns cabra da Fazenda,
que o diabo mandou chamá!

Entonce levei no lombo
levei tanta gurungumba,
cumo se fosse um zabumba...
tanta corda de crôá,
que se eu vivesse cem ano,
inda guardava siná!!!

Correu prú todo o sertão
que o seu Quinca Micuá
tinha tirado paluxo
cum a dona!... a miúdamurzéla,
afiada do Seu Lótéro!...
A Sá dona Cunceição!

Todo mundo preguntava:
“Cumo é que esse Micuá,
“um sanfonero de nome,
“foi se inxirí cum uma moça,
“que era noiva d’um doutô,
“e afiada desse hôme?!”

Tudo virou contra mim!

Fugi de lá do sertão,
da minha terra!... De lá!!

Despois daquela muxinga,
vim drúmindo pulos mato,
im caminho da cidade,
ispinhando de sôdade
da minha pobre sanfona,
que lá ficou dispenáda
imbáxo do biribá!

Ai, quantas noite, sozinho,
nos mato da minha terra,
gemendo na sanfôninha,
e de barriga prô à,
óiáva o céo e me ria
de vê cumo as istrelinha
lá no céo táva a sambá!

A vida é um samba, patrão!

Apois, quem é que na vida
samba mais?
É o coração!

Leva a cabeça assuntando
todo o dia, mas porém,
de noite, vai discançá!

Somentes o coração,
ante da gente nacê,
inté a gente morrê,
leva a sambá... a sambá!!!

O coração é fié!...

A cabeça, ai, a cabeça
é que é maléva e crué!

Foi a cabeça, foi ela
que me perdeu!... me impuiôu!

Quantas vez o coração
não chorou... e... arresmungou!

Dêxei a Luiza, a Tudinha,
a Inluminata, a Rosinha,
a Craciúna, a Lulú,
a Bastiana Sanhassú,
a Sanda, a Felicidade,
a Vitóca das Sôdade,
a fia do Zé Chicão,
a Chica do Zé da Serra,
a cabôca mais bunita
dos mato da minha terra...
prú móde dessa murzéla
ou dessa miúdamurzéla,
dessa dona Cunceição!!!

A Inluminata, a Rosinha,
a Bastiana, a Tudinha,
nenhuma sabia lê!

Mas porém, p’rá quê? P’rá quê?!
Só p’rá vregônha perdê?!

P’rá jura farso e mintí?!

P’rá cunvidá p’rá fugí?!

P’rá té o discaramento
de me querê dishonrá,
pidindo um bêjo, que é coisa
que a gente não deve dá,
sem prêmêro arrecebê
a santa benção de Deus,
n’uma ingrêja, ao pé do artá?!

Tudinha era uma muié
inguinorante, sarvage!...
Tudo o que váíncê quizé!!

Mas porém, meu patrãozinho,
aquilo é que era muié!

Muié, que teve a corage,
a corage, sim, sinhô,
d’uma noite, lá n’um samba,
no meio de toda a gente,
tirá do pé a chinela,
a chinela, Seu doutô,
p’rá me castigá na cara,
só prú via de eu tê dado
p’rá uma cabôca uma frô!

Isso, sim, é que é muié!...
Isso, sim, é que é o amô!!

A outra butou a rosa
nos cabelo, e, orguiósa,
se pôs-se logo a sambá!

Mas porém, aqui, na cara,
ficou tômbém outra rosa,
vremêia, grande e férmosa,
a frô da dó de canela,
do disispero do amô,
o siná lá da chinela,
que tômbém era uma frô!

Óie, o ciúme é treidô!
É o fio mais macriado
que tem a Amizade e o Amô!

Seus pae, o Amô e a Amizade,
tem munta e munta vontade
de vê seu fio inducado!
O minino é discarado!!
Mas porém, óie!!... é bom fio!

Quando ele vê sua mãe
e seu pae amachucado,
si da muié cá da Corte
faz um bruto assarvajado,
se faz d’um hôme outro bruto,
crué, disprepositado,
séje, como eu, um gaitêro,
ou sêje um doutô fromádo,
quanto mais um coração,
um coração de cabôca,
que não foi cirvilizado!?

Patrão, agora, eu pregunto:
o que era aquilo? O que era?

Vasmincê vai me dizê
que aquilo era estupideza
da muié lá do sertão!...

Que a muié tinha a fêrêza
d’um urutu, d’uma fera!
E vasmincê tem rézão!

Era uma fera, firida
no fundo do coração!

Isto, sim, é que é muié
que sabe amá, meu patrão!

Vindo do amô, do ciúme,
das mãos do amô, das mão dela,
ante o siná da chinela
na cara, cum um bofetão,
que um bêjo, um bêjo de Juda
na boca da Inducação!

A Tudinha não prendeu
a batê língua, ispritada,
cumo essa moça inducada,
que tinha o tempo vadio!...
Mas porém a Cunceição
não sabia batê roupa,
cumo a Tudinha, a cabôca,
lavando à bêra do rio!!

Eu ánte quiria sé
a pedra adonde lavava
sua roupa a lavadêra,
do que sê todos os livro
que ensinava a Cunceição
p’ra falá tanta porquêra!

A muié mais sem vrêgonha
é a Sinhora Inducação!

Inducação!!? Que hirizia!

Danada! Eu te discunjuro,
im nome da Mãe de Deus,
da Santa Virge Maria!

Os mato, as árve, as choupana,
os rio, os córgo, a boiada,
as roça e mais as quêmada,
o machado, a foice, a inxada,
a lua, as noite istrelada,
as viola e as magua chorada
no coração das tuada,
o canto da passarada...
não pércisa de ti, não!

Inducaçãoü Prú piadade!

Tu naceu cá na cidade!!

Não vai mexê cum essa gente
das terra do meu sertão.

VOCABULÁRIO

Ganzá — instrumento de folha, com pedrinhas dentro.
Tapuio — descendente de índio.
Dos verde — do sertão, dos matos.
Pipoca — milho torrado na cinza.
Fazer cêra — namorar.
Sedenho — cauda do animal.
Amojada — que ia dar à luz.
Passóca — carne seca com farinha, socada no pilão.
Instranja — das terras estrangeiras.
Guarapêra — choça.
Imbuzada — comida do fruto do imbuzeiro e leite.
Tiriúma — desconsolado, desconcertado.
Isgruvitá — fazer piruetas.
Jaráuacica — planta.
Gurumgumba — cacete.
Cróá — corda feita dessa planta.
Barbatão — touro bravio.
Capeta — o diabo.
Vim-Vim — passarinho, cujo canto diz seu nome.
Sarado — experimentado na vida.
Inxirido — intrometido.
Ruê coirana — estar enciumado.
Assuntá — considerar, conversar, pensar, etc.
Muxinga — sova.
Caxinxe — macaquinho.
Intanha — sapo-boi.
Sucúrújuba — cobra venenosa.
Dor de canela — ciúme.
Córgo — córrego.
Má de rengo — doença que dá no gado.

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