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Sunday, February 27, 2011

Pudesse livremente
Falar do quanto sinto
E nisto claramente
O tempo em raro instinto
Sem aversão alguma
Numa imensa sensação
Da ação que não se esfuma
Nem perde a direção.
Por uma fração a mais
A lua perde o sol
E vaga em arrebol
Tentando sem jamais
Tocar quem tanto quis
Senão no raro eclipse
Redunda nesta elipse
Traçada em céu não gris,
Mas quando se percebe
O toque sensual,
Amor conceitual
Invade e doma a sebe
Eclode em nebulosas
Galáxias constelares
E se cedo notares
Noturnas belas rosas,
Sem mácula ou espinho
Sem ter qualquer temor
Aonde me avizinho
Deste ideal de amor...

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Jamais pude conter
O tanto quanto quis
Depois de ser feliz
Ou mesmo me perder
Nas ânsias de um querer
Sem mágoa ou cicatriz,
O mundo por um triz,
A vida sem saber
Sentido onde desdiz
Tangendo em chamariz
O amor a se conter,
O risco de poder
E nada conceber
Senão o quadro e o giz
Jogados nalgum canto
Do prazo que se finda
Da vida quando blinda
A sorte em desencanto.
Jazigos entre flores
Invernos onde fores
Buscando a primavera,
Na espera deste bote
O quanto se denote
Aponte a direção
Dos loucos caminhares
Em noites luas bares
Tentando qualquer rastro
E quando além me alastro
Dos claustros do passado
O tempo desenhado
Traduz uma esperança,
Porém novo percalço
E um passo aquém e em falso
Prepara o cadafalso,
Extensa lua deita
Os braços sobre nós
E vejo logo após
A sorte noutra espreita
Vagando sem sentido
Sem rumo e em tom brumoso,
Do sonho majestoso,
Apenas leves traços,
Ou mesmo olhares lassos...
E tento quanto pude acreditar
Nos sonhos de quem tanto desejara
Viver a primavera em noite clara
Nas redes mais suaves do luar,
Porém, ao me perder ou me encontrar
Na solidão diversa que escancara
A luta pouco a pouco se declara
E vejo o quanto pude imaginar
Perdendo no caminho a intensidade
E a fonte fabulosa da saudade
Transcende ao próprio amor que ora alimenta
E vendo-te desnuda em claro sonho,
Um novo palco em brilhos recomponho
Por mais que a vida seja vã, sedenta...


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Noite etérea, eternamente
Mente após o nada ter
Pudesse ao menos te rever
Embora saiba tolamente.
Ouço o mar em fortes ondas
Bebo o fim de cada verso
Rasgo o seio do universo
Sem saber onde te escondas;
E talvez ao te encontrar
Reconheça o velho trilho
Onde agora não palmilho,
Mas teimasse em retornar,
O caminho entre as estrelas
As estradas sem paragem
Preparar cada estalagem
Nas lembranças, ao bebê-las.
Vivo apenas o que possa
Caminhando em passo lento
E se bebo o quanto invento
Esta noite será nossa...
Mas bem sei do quanto é rude
O projeto que se perca
Tão imensa e leda cerca
Mais de perto desilude.
Vendo o quanto desejei
E a verdade ora desnuda
A vontade não transmuda,
Mas refaz a velha grei
Dos amores incontidos
E dos sonhos desenhados
Entre rumos desejados
Ou momentos presumidos.
No final já não me resta
Nem as marcas do que um dia
Talvez louco, ansiaria
Verdejando em rara festa.
Mas a vida continua
De tal forma concebida
Que deveras não regrida
Mesmo quando nua e crua.
A saudade toma parte
Deste palco – estupidez
O que agora se desfez
Na verdade não comparte
Nem tampouco restam marcas
De suor, lábios e seios,
Presumindo claros veios
Outro passo; além, abarcas.
Reunisse parcos gomos,
Lenitivos... Mas não mais
Que a saudade em temporais
Dita o quanto nunca fomos...


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A saudade toma conta
Do que conta o coração
Busca nova dimensão
Conta em olhos que se aponta
No vazio do presente
Já se sente a direção
Da verdade em sedução
Dominando corpo e mente,
Mares, praia areia e sol
Outros tempos, velhas tramas
E deveras quando clamas
Teu olhar, raro farol
Ouro vivo em cada toque
Brônzea deusa, esta sirena
E na pele da morena
Tanta fome que provoque.
Dezesseis ou dezessete
Já não lembro em precisão,
Naufragando a embarcação
Onde o tanto me arremete
E compete ao sonhador
Entre versos consonantes
Ou deveras me adiantes
O que possa em raro amor,
Perco o trem, esqueço o tempo
Descarrilo o meu futuro,
Mas no fundo eu me asseguro
Do que possa ou mesmo invento
O queimor subindo manso
Vento se presume vivo
Onde possa e não me privo
Deste encanto aonde avanço
O cabelo agrisalhado
Minhas cãs proeminentes,
Mas também eu sei que sentes
O fulgor deste passado
Entres mares e montanhas
Entre bares e motéis,
Pensamentos-carrosséis
Desenhando velhas sanhas,
Volto ao Rio de Janeiro
No setembro do viver
E de Minas passo a ver
O que fora por inteiro
Mais que mera fantasia
Ou talvez doce cenário
De algum passo imaginário
Onde o todo poderia,
Rasgo a roupa do passado
Ou mergulho sem defesas?
Vida nova sem surpresas
Outro tanto vejo ao lado
Do que fora e não sentira
Num instante se perder,
Caminhando posso ver
Bem distante a intensa pira
E esta luz que inda me inspira
Noutro verso ou noutro engodo,
E pisando neste lodo
Dos meus dias sem proveito
Pelo menos se me deito
Entre as redes da lembrança
O que fomos já me alcança
E deveras de algum jeito
Renascendo mansamente
Um espectro toma a mente
E refaz o que se fora,
A verdade não me importa
O que tanto bate à porta
Traça em forma redentora
Qualquer cais onde pudesse
Ancorar a velha escuna
E a certeza noutra duna
Noutro mar que se oferece,
Hoje entendo muito bem
O que tanto já não tem
E quisera simplesmente,
Na nudez adivinhada
Na esperança desenhada
Coração tamanho trem
Cabe todo este comboio,
Mas a vida seca o arroio
E decerto nada vem.
Que me importa se da lua
Já bebera inteira e nua
Nos luaus da juventude?
Nada mais hoje me ilude,
E talvez não sendo rude
Possa noutra plenitude
Desenhar novo traçado...
Mas a caixa de remédios
Sem anseios, ledos tédios
Prédio em ritmo de implosão
Refazendo o dia a dia
Onde houvera poesia
Hoje pura introspecção.
Da morena em Ipanema
Fila imensa no cinema
Queda atrás, outra estação...


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Sertanejo coração
Não largando da viola
Traz o quanto quer agora
Noutra velha dimensão,
Do luar em profusão
A verdade revigora
A incerteza não demora
E presume a solução.
Da aridez de cada passo
Ao vazio deste espaço
Onde traço meu futuro,
Sem temer o quanto apuro
Dos apuros desta vida
Versejando ou ponteando
E decerto desde quando
As salinas dos meus olhos
Espalhando nas daninhas
Tantas vezes foram minhas
As estradas sem proveito
O caminho já desfeito
Entre curvas e cangalhas,
E se tanto ainda espalhas
Com tormentas, velhas gralhas
Entranhando nestas malhas
Os meus versos quase aboios
Ao tanger os meus comboios
De esperanças sem resgate,
Tanto quanto me maltrate
Ou retrate a pueril
Sensação do já não ter
Nem sequer o conhecer
Do que em sonhos ninguém viu.
A incerteza desta rota
A verdade se amarrota
E derrota outra impressão,
Vestimentas já puídas
Pelas ânsias de outras vidas
Nas clareiras do sertão.
Falo tanto do que eu quero
Quero tanto o que não digo
E pudesse em teu abrigo
Coração claro e sincero
Escondendo o medo fero
Do deserto onde comungo
Deste passo mesmo imundo
Feito em mundos mais serenos.
Ouço a voz desta aliança
Quando o vento nos alcança
E me lança para além
Do que o passo me permita
Se eu quisera uma pepita
Encontrara o teu desdém,
Mas não temo o tempo e o vento
Fustigando em temporais,
O que tanto foi jamais
De outra forma agora invento,
De pistola ou de garrucha
A verdade já repuxa
E mergulho nos meus ermos
Se jamais ouvisse em termos
Esta hermética loucura
A senzala se assegura
Na vassala solidão,
Bebo em goles meu presente
Onde quer que se apresente
Desenhando a dimensão
Lua nova ou na crescente
Tanto amor que a gente sente
Perde rumo e direção
Sem aprumo e sem parada
Esperando outra invernada
Neste nada que me deste,
Volto ao tempo que se foi
Remoendo feito um boi
O meu mundo mais agreste.


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Se vencido pelo tempo
Nada mais posso fazer
A não ser outro querer
Ou pudesse contra o vento
Coração; quero e fomento
Nas angústias do prazer.
Tocando o velho medo
Arremedos do que sou
O que tange e se passou
Noutro rumo e desde cedo
Mergulhando neste abismo
Precipícios do delírio
Busco além deste martírio
Algum canto pra viver;
Minha amiga a lua dança
Na janela do passado
Beijo a boca da esperança
Trago o verso decifrado
Nos caminhos sem tocaia
Ou se tanto se contraia
Outra esfera em plenitude
Já não tendo o que me ilude
Visto o canto onde me perco
Pode ser ou não seria
O que se tenta a cada dia
Nesta inútil fantasia
Pendulando noutro sonho
E se possa e recomponho
A vertente mais completa
Do que possa além da seta
De um Cupido sem juízo,
Somo mais um prejuízo
O caminho que impreciso
Não me traz quanto preciso.
Buscando qualquer lua
Que inda possa e não se visse
Novo amor, mesma tolice
Na verdade desvirtua
O que tento com esforço
Coração que inda diz moço
Quem as rugas poluíram
E os meus sonhos se evadiram,
Mas retornam vez em quando
Novo tempo transbordando
No passado ou no presente
Sem futuro que apresente
Nada sente nem simula,
Onde a sorte trama a gula
Fome tanta em noite opaca,
O meu passo agora estaca
Maculado e sem sentido,
O desenho enquanto o olvido
Dilapido e dissimulo,
Minha amiga, novo pulo
E decerto nova queda.
E pagando co’a moeda
Da emoção sem serventia
O ranger da poesia
Adentrando pela sala
Tanto cala e nada fala
A vassala solidão,
Visto o brilho desta deusa
E se possa sobre a mesa
A incerteza do que venha,
Pelo menos nada mais
Do que possa em vendavais
Vias outras, dias mortos
Os caminhos entre portos
Tortas rotas onde esvais.
Um joguete do passado
Ou de um tempo desejado
Mal cumprido e mal traçado
Num tratado sem proveito,
E se possa e me deleito
Desta nossa imprevisão,
Outros dias me trarão
A noção bem mais exata
Do que nada ora constata,
Mas persiste em duro chão.
Tempo aborta outra esperança
E a verdade traz na lança
Puntiforme, mas fatal
Corte em noite desigual
Onde atônita ou atômica
A verdade se resume
No vazio sem perfume
Noutro ocaso e nada mais.

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