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Monday, March 24, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 149

2073

A sorte me acompanha lado a lado.

Às vezes benfazeja. Outras nem tanto.

Avança entre verbenas, rosa e cardo

Trazendo fantasia ou desencanto

Na multifacetária confluência

Metamorfose vária; sigo em frente

Do prêmio concebendo a penitência

Detalhes disfarçando o continente.

Felicidade trama o desengano

A luz prenunciando a treva imensa.

Entrando tantas vezes pelo cano

Recebo do vazio, a recompensa.

Mas vale; com certeza, toda a luta

A glória que em vitória nos enluta...

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A glória que em vitória nos enluta

Transformações diversas, momentâneas

A voz que em tempestades não se escuta

Imagens tantas vezes instantâneas.

A cura prometida remedia,

Deixando por seqüela a solidão.

A noite tropical gelada e fria

No olhar de quem amei; a decepção.

Metades inexatas da maçã

Negando o paraíso que eu buscava,

Eclipse escurecendo uma manhã

A neve transtornando toma a lava.

Antíteses perfeitas, gozo e dor,

Olhar em calafrios, puro ardor...

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Olhar em calafrios, puro ardor;

Vontade que não cessa; correnteza.

O fogo da paixão abrasador,

Toda a razão, decerto se despreza.

Incêndios redentores, morte à vista

De um jeito mais sutil me escravizando

Enquanto a liberdade já se avista

Amor vai pouco a pouco devorando.

Não deixa sobrar nada. Nem resquícios.

Jogando contra as pedras, fortalece,

Mergulho dos diversos precipícios,

Nem mesmo ao que pretendo, ela obedece.

Paixão inebriante perde o rumo.

Num gozo sem igual; eu me consumo...

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Num gozo sem igual; eu me consumo

Tornando os meus sentidos mais sensíveis

Bebendo de teu corpo todo o sumo

Compartilhando sonhos invencíveis.

Vestígios de mim mesmo; encontro em ti

Pegadas espalhadas neste porto.

No veio de teus braços me perdi

Ao nosso amanhecer eu me reporto

E faço deste mote o meu cantar.

Tu trazes com firmeza, égide, escudo.

Sem fronteiras, teus mares navegar

Mergulho delicia e vou com tudo.

Ao destemer enganos me liberto,

Contigo o céu jamais nasce encoberto...

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Contigo o céu jamais nasce encoberto

Na clara expectativa demonstrada

Por vezes solidão eu já deserto

E vejo algum sentido nesta estrada.

Fecundidade que trará colheita

Frutificando qualidade rara

Ao mesmo tempo em que comigo deita

E constelar, maravilhosa ampara

Bailando sobre os sonhos, valsa e festa.

Jazigos de nós mesmos esquecidos

Jogados numa senda que funesta

Um dia retocou nossos sentidos.

Porém no limiar da fantasia

Cenário mais sublime, amor recria.

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Cenário mais sublime, amor recria,

Traduzido no olhar desta sirena

Vestindo em meu cantar pura alegria

Tornando a minha noite mais amena.

Quem dera se eu pudesse, num momento,

Beber de tua boca méis tão raros,

Teus seios, teus carinhos, meu ungüento

Minutos tão gostosos e preclaros.

Roçando a tua pele, mansamente

Sentindo os teus cabelos me tocando,

Neste vôo libertário num repente

O amor que a gente faz se derramando,

Beijar teu corpo inteiro, ser só teu,

Num mundo que o desejo concebeu...

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Num mundo que o desejo concebeu

Eu sigo cada passo que tu deixas

Adentro este infinito teu e meu,

Esqueço que tivera, outrora, queixas

A gueixa amorenada Diva bela,

Suaves transparências, fogaréus,

Caminhos delicados que revela

Permitem que se toquem sonhos, céus...

Tua presença aqui, reveladora

Tornando cada passo mais audaz,

Imagem fartas vezes redentora

Um bem insuperável já me traz.

E assim, dois viajantes do infinito

Fazendo da alegria, o mesmo rito...

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Fazendo da alegria, o mesmo rito

Seguimos pela vida, companheiros.

Da força e da frieza do granito

A mansidão sublime dos ribeiros.

No quanto somos livres e cativos,

O nosso passo é firme, disso eu sei.

Olhares mais sublimes, sempre altivos

Trazendo toda a glória que sonhei.

Eu quero estar contigo a vida inteira

Assim não temerei qualquer espinho,

Sabendo deste amor, nossa bandeira

Jamais me sentirei ledo e sozinho.

A cada novo dia esta certeza,

Um gozo que se quer e tanto preza...

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Um gozo que se quer e tanto preza

Maravilhosamente moldurado

Evita em meus caminhos a surpresa.

A vida se passando com bom grado.

Assim durante um tempo, imaginei

Que nada impediria a caminhada.

Porém na tempestade eu mergulhei

Bonança resultou em simples nada.

Mortalha que carrego no meu peito,

Cadáver insepulto em ilusões

A morte se aproxima do meu leito

Trazendo tão somente negações...

As bodas que eu sonhara ledas festas

Infiltração tomando várias frestas...

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Infiltração tomando várias frestas,

A vida desabando pouco a pouco.

As noites que eu sonhara são funestas

Meu verso se esvazia, frágil, louco.

Quem um dia pensara ser feliz

Desmoronando sabe que não tinha

Senão uma ilusão que por um triz

Pensei durante a vida ser só minha.

A barca dos meus risos, naufragando

Distante do que quis ancoradouro,

O gesto carinhoso sem ter quando

Esconde noutras ilhas o tesouro.

Assim o quanto que pensei e não havia

Simplesmente falsária fantasia...

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Simplesmente falsária fantasia,

Mentiras que eu criei doce ilusão...

Um pássaro morrente em agonia

Não sabe conhecer arribação.

A morte com sorrisos mais gentis,

Espalha seus tentáculos vorazes.

Meu céu amanhecendo sempre gris

As bocas que se mordem quais tenazes.

Abrindo uma janela à esperança,

Teimosa mesmo frágil, vem sutil

E quando em tanto engodo ela me alcança

Espalha uma mentira amara e vil.

Quem dera se eu pudesse. Ah! Quem me dera

Ver renascer enfim a primavera...

2084

Ver renascer enfim a primavera

Um sonho tão distante de meus olhos.

A vida que em tristezas se tempera

Espalha tão somente estes abrolhos...

Não deixa que se veja um claro dia

Imerso entre estas nuvens tão espessas,

O tempo que em delírios se dizia

Deixando bem distante estas promessas.

Irônicas palavras de consolo,

Mentiras esgarçando uma ilusão.

Raízes do vazio invadem solo,

Retinas entranhando solidão.

Imerso no vazio deste jugo

Esperança, meu último verdugo...

2085

Esperança, meu último verdugo

Arrancando dos olhos qualquer brilho.

O resto do que fomos inda sugo

Sem nexo teus caminhos quero e trilho.

Olhando com sarcasmo cada passo

Que tento em multimídica expressão

A mímica ganhando algum espaço

Tecnologia esgarça o coração.

É pertinente um canto feito amor?

Impertinente verso não sossega.

Um barco inda movido por vapor

Em águas tenebrosas não navega.

Pleno de incertezas vejo o vago

Tentando depois disso algum afago...

2086

Tentando depois disso algum afago

Eu vejo em procissão os meus desejos.

Ressacas repetidas, peito gago

Prevendo da mocinha falsos beijos.

Nascido em estilingue nego o tiro

Embora a bala que me toca vem perdida.

O quanto sonegando não prefiro

Velejo em tempestade qualquer vida.

Movido à lenha, amor informatizo

Tentando me adaptar, eu não consigo.

A morte que virá não traz aviso,

Do riso em ironia faço o trigo.

Interior caminho desbravado,

A sorte me acompanha lado a lado.

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