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Monday, March 24, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 151

2101

E o dia com certeza, iluminado

Tramando formas belas, raras, claras

Um sonho que se faz cristalizado

Deidades entre nuvens, vãs, preclaras.

Delírios entre lumes, vaporosos,

Belezas entre tantas, as extremas,

Olhares que se entregam, fabulosos,

Esquecem nas paixões, grilhões, algemas...

Estralas vagam soltas, cristalinas,

Constelares momentos em perfume

Clareando por sobre estas neblinas

Amor imensidade se resume.

Visões inestimáveis mar sereno.

Vagando pelo espaço, ledo e pleno...

2102

Vagando pelo espaço, ledo e pleno

Diáfanas imagens continuam

Volúpia se transforma em bom veneno,

Os olhos entre névoas já flutuam.

Mistérios e delírios, vastidão...

Dispersos infinitos que se tocam,

Amor ao se entregar, diapasão,

Os rios, nossos mares, desembocam...

A poesia em versos multiformes

Esgueira entre as pedras do caminho,

Os dias solitários, vãos, disformes,

Apenas rememoram cada espinho.

Jamais um sentimento atroz e mórbido

Retorna em seu disfarce vil e sórdido...

2103

Retorna em seu disfarce vil e sórdido,

Saudade com seus polens tão funestos.

Não quero mais o riso falso e sórdido

Apenas da ilusão, dormência em gestos.

Nas naves dos meus sonhos, catedrais,

Recônditos diversos que trafego,

Amor vai se afastando deste cais

Negando em minha vida algum apego.

Os astros derramando falsos brilhos,

Diamantes esquecidos nas lapelas,

Os olhos sem destinos, andarilhos,

Dos barcos que sonhei, procuro as velas.

E nada se mostrando em luz cadente

Saudade me tomando, tolamente...

2104

Saudade me tomando, tolamente

Negando as mais sutis delicadezas,

O fim a cada curva se pressente

Etéreas emoções são fortalezas.

Cristais que esparramaste em áureos sonhos

Apenas falsos vidros se tornaram.

Olhares transtornantes e bisonhos,

Eflúvios nauseabundos derramaram.

Aonde eu procurara qualquer graça,

Turbilhões em falsas garatujas

Tomando em seus tentáculos a praça

As sanhas antes flóreas, hoje sujas

Chagásica manhã dor em tropel,

Lembranças desenhando um negro céu...

2105

Lembranças desenhando um negro céu

Legado ao sofrimento não mais creio

Que ainda poderei ter o corcel

Fazendo da esperança algum recreio.

Nevrálgica emoção se desbotando

Amor já sonegando este himeneu

Estrelas fugidias, falso bando,

O céu em brilhos fartos se perdeu.

Quimérica ilusão se quis tesouro,

Fatídica saudade não se aparta,

Das ânsias e desejos frágil ouro

Sem trunfos, desconhece qualquer carta.

O quanto se quisera mais gentil,

O sonho destruindo este perfil...

2106

O sonho destruindo este perfil

Sonega qualquer porto, afunda o barco.

Sorriso que inda estampo de imbecil

Aos poucos no vazio eu desembarco.

Cortejo de fantasmas que inda afague

Aladas fantasias, turbilhão.

Jocosa maravilha, simples blague,

Apenas resultando em negação.

Patranhas da esperança, duro chiste,

Cabalístico sonho tão fortuito

Nos braços da saudade ainda insiste,

Porém a vida esconde em falso intuito

O que o amor em êxtases dizia,

Escorre pelas mãos, hemorragia...

2107

Escorre pelas mãos, hemorragia

Sidéreas ilusões em fatos frágeis

Olhares que talvez em teimosia

Persistem amplidões, mas não são ágeis...

Vestindo uma lembrança solitária

Anéis em jóias falsas decorando,

A mão que se tentara solidária

Aos poucos sem segredos, vai sangrando.

Além do que eu sonhara, nada existe

Somente o riso inerte e tão sarcástico

Na cáustica ilusão caminho triste

Silêncio sepulcral quase monástico.

Orgástica manhã nunca mais veio,

Saudade me tomando, sem receio...

2108

Saudade me tomando, sem receio

Estende uma esperança no varal,

Depois de me perder de novo creio

Guardando minhas cartas pro final.

Não vejo outro remédio, sendo assim,

Remediando eu busco algum engodo,

Embora já perceba ter o fim,

A pedra de meus sonhos traz o lado.

A vida em avidez se repercute

No vago quase nada que me dás.

A voz que em teimosia não se escute

Sonega, no final descanso e paz.

Saudade, velha cena, falsa atriz,

Apenas tão somente, meretriz...

2109

Apenas tão somente, meretriz,

Metastática luz que assim falseia,

O quanto de verdade não me diz

Adentra velozmente em minha veia.

Um ópio entorpecendo os meus sentidos,

A gana de viver se sobrepõe

Olhares e prazeres mal fingidos,

O riso em ironias contrapõe.

Palavras soltas, ventos sem bonança

Estímulos diversos nada dizem.

Apenas nos marasmos da esperança

Os dedos que se querem se deslizem.

Coletando os meus pedaços pelas ruas,

Belezas enlatadas, seminuas...

2110

Belezas enlatadas, seminuas,

Conectam os seus fios, eletrizam.

Enquanto neste palcos não atuas

Estrelas no meu peito aromatizam.

Eu quis o que talvez fosse a verdade,

Porém a gargalhada denuncia.

O tempo transcorrendo, ansiedade

Prenunciando o fim da fantasia.

A boca desprendendo a labareda

Vulcânica mulher se fez canina

Por mais que uma alegria me conceda,

Vontade de viver não determina.

Quem dera se eu bebesse o teu carisma,

Minha alma bar em bar, de noite cisma...

2111

Minha alma bar em bar, de noite cisma

Jamais conseguirei algum espelho,

Olhar que se perdendo neste prisma

Apenas refletindo o que avermelho.

Reveses conhecidos, eremitas,

Palavras sem sentido, gratuidade

Os olhos procurando em velhas criptas

Encontram tão somente a falsidade.

Amor que enternecera já perece

Sem prece sem recado ou oração.

A mão que num pecado se oferece

Tecendo no final a negação

Esfacelada teia onde te vi,

Há tempos, sem remendos me perdi.

2112

Há tempos, sem remendos me perdi

Na colcha de retalhos da esperança;

O que buscara sempre vejo aqui

Rondando minha noite em temperança

Pequinês de minha alma traduzida

Na foto que esquecemos na parede.

Após tentar salvar a minha vida

A morte se anuncia em tanta sede.

Mecânicas diversas, erros tantos,

Amor é sempre um jogo, disso eu sei.

Peão se suicida em desencantos

Tentando proteger rainha e rei.

Na boca da morena insensatez,

No tabuleiro a dama de xadrez...

2113

No tabuleiro a dama de xadrez

Tentando ser rainha, mente a sorte

O quanto eu te desejo e não se fez

Pedaço em descaminho segue a morte.

Calando esta carranca que carrego

Cruzando os oceanos, sem destino.

O amor que deixa todo mundo cego

Sequer as suas rédeas eu domino.

Pária sentimento que em discórdia

Anota meus engodos, traz o nada.

Aonde a vida fora monocórdia

Manhã morrendo assim, abandonada.

Eu quis o teu retrato nada veio,

Sobrando sem perdão, velho receio...

2114

Sobrando sem perdão, velho receio

Despisto cada rastro que eu deixei,

Dizendo na verdade por que veio,

Amor vai destroçando o que cevei.

O pântano que trago dentro da alma

Em calafrios mostra esta ironia.

Apenas o vazio inda me acalma

Tentando traduzir o que eu queria.

Não posso mais seguir cada pegada

Deixada pelo amor, inferno em vida.

O que restou de mim, não me diz nada

Estrela em decadência, distraída.

Terei depois da chuva, o mesmo prado

E o dia com certeza, iluminado.

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