Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...
Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!
Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!
Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!
Álvares de Azevedo
Pudesse ter a sorte ainda mesmo apenas
De ter em minhas mãos aquela a quem amando
Percebo que talvez, trazendo um dia brando
Não deixe se perder, as noites que serenas.
São poucas, na verdade, as alegrias. Condenas
Quem se faz sonhador e tendo assim se desviando
Do velho caminhar que escapa-te ao comando
Mudando desta peça; antigas, velhas cenas.
Assim não poderei sequer falar do sonho
Aonde mergulhara e dele inda componho
Os versos que ora trago a quem desejo tanto.
Falar de estrelas, lua e não se perceber
Este gozo absoluto e imenso de um prazer
É deveras morrer em vida, sem encanto...
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