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Monday, April 24, 2006

POR RITA DE CASSIA - MUDANÇAS


Sou pedagoga e trabalho em duas escolas, uma com contrato pelo estado na APAE de Alegre - ES e, à noite numa escola estadual em Anutiba, zona rural também de Alegre, como efetiva.
Trabalhei durante 12 anos em Santa Marta - Ibitirama, ES, minha terra natal, dando aula pra o ensino médio e fundamental. Durante um tempo, entre 2002 e 2004, morei em Espera Feliz, MG; e nesse período fiquei afastada das salas de aula, o que me permite traçar um paralelo entre esses dois períodos, antes e depois do PROUNI e da volta do crédito educativo.
O que se via antes, era a desesperança tomando conta dos meninos e dos jovens, o que refletia no baixo aproveitamento escolar, na desordem e até na agressividade contra colegas e professores, o ensino médio por si só era o objetivo máximo, apenas um ou outro tinham a perspectiva de crescimento e isso tornava o ambiente escolar desalentador para quem trabalhava, como eu, com os ideais de mudança e de esperança.
Como poderia dizer aos alunos para estudarem, se esforçarem se, no final de tudo nada havia, era praticamente impossível para as crianças pensarem no amanhã que nunca viria.
Ao retornar, esse ano, a escola regular, já que no ano passado somente trabalhei na APAE, deparei com uma mudança radical.
Santa Marta e Anutiba se equivalem por serem distritos, basicamente rurais e tendo a cafeicultura como base da economia, portanto servem de parâmetro comparativo.
Semana passada, alguns alunos começaram a se reunir para tentarem contratar os próprios professores para organizarem aulas de reforço visando o ENEM e o vestibular. Há uma perspectiva de realização dos sonhos; o terceiro grau se tornou assunto imperativo entre os alunos;
com isso, está acontecendo uma revolução na cabeça desses adolescentes e jovens, tornando-se cada mais viável a continuação de seus estudos, diminuindo a desordem, o uso de drogas e outras mazelas que estavam infestando as escolas.
Tenho tido notícias, por colegas, do grau de interesse nos cursos supletivos, com a perspectiva dos adultos de cursarem cursos técnicos e de ensino superior. Isso é o resgate desse povo, lavrador ou subempregados dessa região pobre do vale do Itabapoana, tida como uma das treze mais pobres do Brasil; terra do monopólio do café e do eucalipto.
A melhoria do salário e a democratização da informática já torna o computador, de máquinas digitais assunto do dia a dia do nosso proletariado.
Me lembro que quando eu estudava, proletária, filha de lavradores, utilizava um sapato só, herança que "roubei" do meu irmão, que ganhara de uma tia após muito tempo de uso.
As nossas roupas eram motivo de risinhos e chacotas da filhas da classe média, estava escrito nas nossas vestes e na nossa cara - POBRE e isso me marcou muito, discriminada e como adolescente, me envergonhava.
Hoje vejo os filhos dos agricultores, empregadas domésticas, pequenos proprietários, vestidos com as mesmas roupas de seus colegas da classe dominante da região, e me lembro do que passei...
Essas boas novas, a dignidade e a esperança, me fazem crer que, realmente estamos vivendo a maior revolução da história desse país.
A revolução pacífica e maravilhosa do dia a dia, do resgate da cidadania, sempre negada ao nosso povo mais pobre.
Essas coisas não aparecem na mídia, mas são elas que transformam, a transformação da maioria pobre e desvalida.
Muitas das vezes abandonada ao vento, sem apoio, sem luz no final da estrada.
Muito obrigada SENHOR pela possibilidade que meus irmãos estão tendo de conhecerem melhor a esperança.
Muito me orgulho de, como professora de roça poder doar meu quinhão para que esse país seja realmente não só o páis do futuro, mas sim o país do amanhecer.

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