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Monday, May 1, 2006

DE GUETOS E ILHAS

Interessante como as diferenças entre as grandes e pequenas cidades se tornam evidentes quando o assunto é a pobreza. O contato da classe dominante com a miséria nas cidades pequenas é imediato, através do dia-a-dia, da própria vizinhança física e cultural. Muitas vezes a própria escola, que na maioria dos pequenos municípios é exclusivamente pública, traz a convivência entre esses mundos e, nesse contato as crianças e adolescentes passam a entender e diferenciar pobreza de desvio de caráter ou insignificância. Temos, nesses contatos uma coisa extremamente salutar, ao contrário do que ocorre nas grandes cidades; onde a diferenciação se torna absurda e abismal. Um menino criado num bairro de classe média alta, como o Morumbi, por exemplo; tem uma visão das diferenças sociais como uma coisa gigantesca; criado, muitas vezes, até com medo da pobreza, como se tal coisa fosse uma ameaça à sua vida burguesa. Não falo sobre esse sentimento com uma visão preconceituosa não; esse fato é real, e facilmente observável no cotidiano. Uma criança de classe média, quando tem contato com os desvalidos, apresenta medo como reação natural, qual Buda, em seu contato com os miseráveis; já que a diferenciação urbana se aproxima das castas indianas. Esse contato se torna extremamente difícil, a partir do fato de que são raros e, quase sempre servis, o contato da patroa com a faxineira é puramente ligado ao trabalho, as culturas são extremamente diferentes. Não estou falando sobre cortesia e educação; essas são características individuais, porém ao nível de grupo social, essa diferença se torna evidente. Me lembro, enquanto estudante universitário, no curso de medicina da UFRJ, tal diferenciação ocorria, me sentindo discriminado, muitas vezes; ao ser tratado com certo preconceito por ser pobre, interiorano e não usar as roupas da moda. Ao perceber essa diferenciação, consigo entender a dificuldade da burguesia, aprisionada em suas ilhas, de compreender e entender o quanto é importante o resgate de uma cidadania por esses segmentos maioritários em quantidade e minoritários em relação à representatividade social. A associação da cultura popular com a contravenção é, na cabeça dessa burguesia, um fator de dissociação cada vez mais evidente. Na minha época, assim como o funk de hoje, o pagode era associado ao crime organizado.
Essa visão preconceituosa se demonstra, claramente no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo menos em duas oportunidades: na entrevista dada a Jô Soares e na declaração sobre os aposentados, chamados de vagabundos.
Acredito que a burguesia, atada a suas ilhas, só vai compreender o que está ocorrendo, quando for atendida pelos médicos, advogados, dentistas, professores, etc... oriundos dos guetos; daí, quem sabe, vão começar a entender e aceitar que maravilha que é o socialismo de fato.
A própria imprensa, quando coloca textos como os que afirmam que Alckmin vai ao Nordeste em busca da colheita dos votos apadrinhado pelos coronéis, demonstra o quanto a mídia se distanciou do pobre.
Na roça, todo mundo sabe, que para colher é preciso plantar e o governo anterior plantou o quê? Fome, miséria e desesperança, agora quer colher votos?!
Outra atitude canalha é vincular o crescimento de Lula somente às classes mais desvalidas; isso é de uma ignorância política absurda.
O crescimento de Lula se deve, basicamente a boa qualidade de seu governo aliada a total falta de perspectiva detectada pelo povo, nos outros candidatos, que usando a própria imagem utilizada pela oposição, caem num efeito dominó espantoso.

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