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Monday, August 7, 2006

A Isca

Gilberto, filho de João Polino, era o maior pescador de Santa Martha; disso; Dona Rita e Ritinha, não tinham dúvidas.
Todas as noites, Betinho se aprontava para pescar, levando uma vara de pescar, algumas minhocas e um embornal.
No dia seguinte, era batata; Beto trazia uma enorme quantidade de bagres, lambaris, cascudos e acarás de fazer inveja a quem quer que fosse.
Para quem não conhece, o cascudo é o robalo da roça, peixe delicioso e de difícil captura. Vivendo nas locas de pedra, raramente pode ser pego no anzol. Mas isso era desconhecido pelas Ritas, mãe e filha.
Muito menos João Polino, já que odiava pescaria, embora não desprezasse um peixinho frito.
Lambari frito é um dos melhores tira-gostos que existem. Uma cervejinha gelada ou uma dose caprichada de cachaça com um lambari bem tostado é uma iguaria dos deuses!
Pois bem, Betinho se gabava de não voltar sem trazer pelo menos um a dois quilos de peixe. Sendo comum voltar com o embornal cheio, deliciosamente cheio.
Tudo transcorria às mil maravilhas até que sua irmã caçula, a Ritinha, começou a namorar um médico, lá dos lados de Guaçui.
Esse médico, um tal de Marcos, era metido a pescador e, sabendo das habilidades de Gilberto, convidou-o a pescar no rio Norte, braço do Rio Itapemirim.
A pescaria foi ao entardecer, pescaria de piau e de bagre.
No começo, Marcos acreditando que Gilberto era um experiente pescador, ficou meio assustado com a quantidade de isca que o mesmo levara, uma meia dúzia de minhocas.
Depois; a vara, muito curta e frágil, própria para piabas ou acarás de pequeno porte, não tinha muita pinta de que iria agüentar o tranco.
A linha, 0,10, muito fina para peixes maiores, ainda mais para o piau, lutador contumaz.
O mais interessante de tudo era o tamanho da chumbada, muito grande e pesada comparativamente com a vara e com a linha.
Até aí tudo bem, cada um com seu método, embora achasse estranho, Marcos nada comentou.
Mas, passando uns dez minutos sem beliscar, Beto, apressadamente, saiu do lugar e foi para outro lado. Mais dez minutos, outra mudança, assim sucessivamente até o final da pescaria.
Resultado; Marcos pescara dois bagrinhos miúdos e Gilberto, nada.
Como era de se esperar; Marcos, meio desconfiado, resolveu perguntar ao “grande pescador” o que havia acontecido.
Ao que Gilberto, prontamente, respondeu que eram problemas com a isca...
Passando uma semana, Marcos resolveu desafiar Gilberto a uma nova pescaria. Dessa vez não iria mas colocara uma meta para Gilberto, que trouxesse pelo menos dois bagres e se daria por satisfeito.
No final da madrugada, eis que Betinho aparece da aventura. Todo enlameado, com a roupa em petição de miséria; mas trazendo, orgulhoso, uma grande coleção de bagres, mandis, cascudos e, para espanto de Marcos, algumas dezenas de lambaris e acarás.
“Espera aí, Gilberto; que isca é essa que você usou que conseguiu pescar até lambari de noite”. Para os não aficcionados, lambari e acará são peixes diurnos...
Gilberto, todo orgulhoso, falou que, daquela vez, tinha acertado na isca e que isso era segredo.
Em posse dos dez reais apostados, Gilberto saiu todo serelepe.
Mas, depois de uns quinze dias, a isca milagrosa de Gilberto foi descoberta.
Descoberta e bem punida. A tarrafa foi apreendida, junto com a peneira.
Marcos está até hoje cobrando os dez reais da aposta...

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