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Monday, May 8, 2006

ASSOMBRAÇÃO

Seu moço presta atenção;
Eu falo de coração,
Não tenho medo de nada
Sei andar na madrugada,
Como se fosse de dia,
E isso não é valentia.

Mas as coisas tão ficando
Complicadas, tão mudando.
Aqui nessa minha terra
Tem dado de aparecer,
Lá pro alto dessa serra,
Coisa estranha de se ver;

Uns bichos meio assombrado,
Um negócio complicado,
Que não dá para entender,
Umas coisas esquisitas
Que só vendo para crer,
E não é das mais bonitas!

Quem viu, me jura por Deus,
Que no meio desses breus;
Pega, sugando o sujeito
Deixa o cabra anemiado,
Não dá para ver direito
A cara desse safado!

Bicho feio deve ser,
É só vendo para crer.
Desses tempos para cá,
O que eu posso te dizer
É que não dá pra apostar
Quando vai aparecer.

Nas noites de lua cheia
Não é sempre que vadeia,
Nos dias de sexta – feira
Às vezes vem, outras não,
Nem sempre ele dá bandeira
E tem fama de ladrão.

Meu companheiro Zé Pito,
Conhecedor, pelo grito,
Dos bichos da região,
Jura, se bem não me engano,
Que o tal do bicho papão,
Tá parecendo tucano.

Pode ser, bem acredito,
Falo de novo, e repito,
Que por ter bico comprido,
Esse bicho é bem capaz,
Sangrar o desprevinido,
Roubar o pobre rapaz.

Destruir moça donzela,
Não deixando nada dela,
Que possa se aproveitar,
Esse bicho é bem safado,
Gosta de ludibriar,
Deixando tudo acabado.

Me contam, os mais sabido,
Que esse bicho deslambido,
Lá na nossa capital,
Andou fazendo seu ninho,
Deixando o povo bem mal,
Roubando até pobrezinho.

Esse bicho só tem medo
Me contaram esse segredo,
Duma coisa diferente,
Quando no céu se incendeia,
Brilhando prá toda gente,
Uma estrela das vermeia.

Então vamos, minha gente;
Deixar o povo contente;
Acabar com ladroagem
Desse bicho fedorento,
O resto tudo é bobagem,
É palavra de jumento.

É preciso estarmos juntos;
Prá transformar em defuntos;
Esses tucanos ladrão;
Bichos amaldiçoados,
Nessas terras do sertão;
Devem ser exterminados.

Não falo nem de tiro e guerra,
Pois aqui, na nossa terra;
Disso não tem precisão;
É só não fazer bobagem
Nos tempos dessa eleição,
Expulsar pra outras paragem.

Pois o bicho é arredio
Num guenta passar o frio,
Num guenta sair do ninho,
Nem fica muito contente
Quando vê povo pobrinho,
Pois o bicho num tem dente.

Só tem bico sugador,
Adora ser chupador
Do sangue desses coitado,
Que num tem quem os proteja,
Nós juntos, não tem mais lado,
Apois então, assim seja!

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