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Friday, May 12, 2006

DA CAPACIDADE DE CONCILIAÇÃO

Uma coisa me chama a atenção: o caráter conciliatório de Lula, surpreendente para quem não conhecia o velho companheiro.
A imagem criada pela mídia de um combatente, de um guerrilheiro, a do homem de barbas e com cabelos desfeitos, das décadas de 70 e 80, dá lugar a de um contemporizador, de um pacifista de lucidez impar.
Interessante esse aspecto desconhecido pela grande parte da população brasileira, a de um homem amadurecido pelas dores e intempéries da vida.
Acostumado ao diálogo e à discriminação absurda, sem curvar a cabeça, mas tendo a paciência de esperar, sem discriminar ninguém. Respeitador e respeitado pelos homens de bem e, capaz de ser um ponto intermediário entre Bush e Chavez, aplaudido em todos os países onde anda, por sua maneira simples sem ser simplória de se expressar.
Lembro-me que desde o começo de seu governo, para espanto da classe média conservadora e da imprensa especular dessa mesma classe média, o líder operário se viu no centro das atenções nos fóruns que participava.
Poderias ser pelo exótico, diziam alguns, poderia ser pelo ineditismo de um operário no poder do Brasil, mas a verdade era bem outra.
Nós, socialistas acostumados à imagem guerrilheira de um Che Guevara, de um Fidel, olhamos, meio que desconfiados para esse homem de sorriso fácil, de bom humor e de empatia contagiante, sendo que muitos pensaram que o homem tinha voltado “americanizado”.
No seu encontro com Bush, alguns imaginaram que Lula iria partir para a “agressão” contra o imperialista americano, mas, ao se perceber que Luis Inácio tratou-o com a simpatia costumeira e surpreendente e com o carinho de um velho camarada, isso passou a ser visto com desconfiança por muitos de nós.
Sua linguagem popular, sem frescuras e de comunicação direta, transformou-o num líder popular de rara estirpe.
Isso foi, pouco a pouco, gerando a inveja em alguns e a admiração em muitos. O lançamento do programa Fome Zero e a capacidade de conquistar corações mais puros, levou o Brasil a se tornar um ponto obrigatório de referência, quando tratávamos de grupo dos 20, dos países emergentes, sendo destacada a liderança assumida por Lula, capaz de conquistar a todos, desde o Governo Francês até lideranças de países árabes, onde foi recebido com todo o respeito e admiração.
A passagem de Lula na Sorbonne, ao responder sobre a corrupção recém denunciada no Brasil, se essa era compatível com a democracia, ao dizer que no Haiti, realmente era incompatível, foi exemplar na forma elegante de responder à deselegância.
Pois bem, a partir daí comecei a entender por que Lula é respeitado por diversos setores, normalmente intransigentes, que vão de Stédile a Chavez.
Esse homem, que teve a sabedoria de não reagir intempestivamente às provocações diárias da oposição durante um ano e meio, percebendo que, como presidente do Brasil, sua função era a de dar a dimensão correta às denúncias e afastando, sabiamente todos aqueles que foram afetados direta ou indiretamente pelas denúncias, sem nunca se esquecer de que o direito à defesa é sagrado e ninguém é culpado até a prova ao contrário.
Poucos de nós teriam a paciência e a serenidade de não responder agressivamente às agressões sofridas de todos os lados, inclusive do nosso próprio lado.
Ao decorrer dessa crise, Lula amadureceu mais, tendo que se desfazer de companheiros de primeira ordem em nome da governabilidade que se fazia absolutamente imperativa naqueles momentos.
Passadas estas tempestades, eis que surge o problema com a Bolívia, Evo Morales, sem perceber está sendo o pivô de uma “disputa” até certo ponto fabricada pela mídia brasileira para tentar fragilizá-lo.
Percebe-se que a tentativa de antepor Lula a Chavez é uma forma de atuação conhecida e manjada, o divisionismo costumeiramente usado pela direita para enfraquecer os dois lados; o problema disso tudo é que, pelo que parece, o Presidente Boliviano não se apercebeu disso, poderá ser muito tarde quando esse acordar.
Não é difícil entender e se solidarizar com o povo boliviano, porém Morales tem sido muito infeliz em algumas declarações, muitas vezes parecendo que não identifica com clareza quem é realmente o inimigo do povo boliviano.
Aliás, essa história toda faz parte da herança maldita do Governo FHC, que criou todo esse problema, tornando a exploração imperialista da Petrobrás sobre o gás boliviano peça fundamental para a indústria paulista.
Esse problema é de fácil resolução, principalmente se tivermos em conta que a capacidade de auto-suficiência de gás natural brasileiro é evidente.
Lula, na sua sabedoria e paciência, sabe disso tudo e tem agido com a serenidade de sempre, inclusive resistindo às provocações mais canalhas, como as feitas pela capa de O GLOBO.
O desenrolar dessa história é claro, a Bolívia necessita essencialmente da Petrobrás e tem todo o direito de buscar em outros países a diversificação extremamente necessária para sua independência, isso é ponto pacífico, porém a forma atabalhoada que tem sido feitas algumas coisas pode, e muito, debilitar o governo popular de Morales.
A coragem, muitas vezes necessária tem que ser aliada à inteligência, pois senão se torna ou bravata ou temeridade, e ambas são deletérias.
Mais uma vez, Lula tem tido a sabedoria de saber negociar sem pressa, sem atropelos, sempre respeitando a soberania do país irmão aliada, é claro à nossa soberania.
O mercado financeiro, mais inteligente, pois acostumado às intempéries, já se apercebeu disso e reage com mais tensão com relação à situação norte americana que, propriamente com relação à Bolívia.
No dia 12 de maio, já tivemos uma reação mais serena de Morales, ao descartar a expulsão da Petrobrás, baixando a fervura desse caldeirão, onde todos poderão se prejudicar.
O caráter de Lula, seu amadurecimento como homem e como líder, mais uma vez se demonstra soberano sobre esse tipo de situação.
Não é a toa que, a cada dia fica mais claro que Lula será o líder natural da América Latina, inclusive sob os aplausos dos EUA, o que é de se admirar, mas parece ser o desenrolar natural dessa página importantíssima para o amadurecimento do socialismo no nosso continente.
Quem viver verá!

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