Search This Blog

Tuesday, December 14, 2010

Guerra e Paz


Tentaste contra mim tuas mazelas,
E ventos que derrubam meus sonhares,
Amor que sempre encontro nos altares
Em amares, nas estrelas todas belas.

As velas que acendeste sem segredos.
As velas dos meus barcos bem mais fortes
Revelas que nos rumos negas sortes
Atrelas teus amores aos degredos.

Saudades não carrego nem mentiras
Apenas te pressinto mais tristonha.
Quem ama e que deseja mais medonha
A vida de quem ama, perde tiras.

Sem tanto nem tampouco, pouco fiz
De tudo que pretendes, pois sei bem
Que todo o teu amor comigo vem,
Embora tentes outros, és feliz!
Publicado em: 07/12/2006 15:49:49
Última alteração:28/10/2008 20:49:40


Guardada na retina esta lembrança
Olho nos teus olhos, verdades
Numa ânsia de amar, coração
Bate apressado, saudades
Da idade e do tempo, emoção.

Eritania Brunoro

Guardada na retina esta lembrança
De um tempo que se foi pra nunca mais,
O meu olhar atento agora alcança
Passado entre coqueiros, mangueirais.

O riso benfazejo da criança
Que um dia imaginei nos meus bornais,
Jogado pelos cantos da esperança,
Afasta-se da casa, dos umbrais...

Mantendo a porta aberta da saudade,
Quem sabe reviver felicidade,
A idade da razão matou o brilho

O coração naufraga no vazio,
E feito um tresloucado, sonho e crio
Da inútil melodia, um estribilho.
Publicado em: 13/02/2009 20:00:26
Última alteração:06/03/2009 06:37:11



Toda a minha emoção é verso sem sentido.
É canto que maltrata um coração sem lume.
É flor que não encanta, a falta do perfume.
É mar que não navego o leme dividido.
Morto, no esquecimento, a sensação do olvido
Invade minha cama, escuta meu queixume.
Sou boca que te morde, a falta de costume,
Retrato na gaveta, há tempos esquecido.

Sou fumo que evapora esparso em triste vento.
Poeira dessa estrada, o céu sem firmamento.
O pouco do que fui, está guardado em ti.
Mas nada disso importa,agora isso bem sei
Por certo sem amor, ok,não morrerei.
Pois foste um relampejo, um pouco de esperança.
Confesso, nunca mais, saíste da lembrança.
Meu único momento feliz, contigo, me esqueci...
Publicado em: 14/12/2006 18:13:40
Última alteração:28/10/2008 20:32:23


Gotejando em noite quente,

Gotejando em noite quente,
Uma estrela faz feliz
Um mineiro que pressente
Todo o bem que um dia quis...
Publicado em: 03/03/2008 22:09:31
Última alteração:22/10/2008 14:20:58


Grande amor trago no peito,
Dessa vida é a razão
Mas só fico satisfeito
Segurando a tua mão...
Publicado em: 20/12/2009 07:19:19
Última alteração:16/03/2010 08:45:31


GRÉCIA GERAIS

Impulsionada pela vontade irresistível de conhecer o berço da sabedoria e da cultura ocidental, Dra. Bernadete Carneiro foi conhecer a Grécia, numa viagem inesquecível!

Isso não impediu que uma criatura invejosa fizesse o seguinte comentário:

-Conhecer a Grécia não é nenhuma vantagem...

Diante do comentário, perguntamos a essa pessoa se, por acaso, ela já tinha ido á Grécia e ela respondeu:

- Eu ainda não fui, mas tenho um primo que conhece um amigo que tem uma vontade louca de ir.

E por falar em viagem, essa mesma pessoa começou a descrever alguns de seus passeios pelo Brasil, até se fixar nos pampas gaúchos, por ele descritos como sublimes. “Além do mais” – continuava ele- gaúcho é um povo especial! Para dizer a verdade, lá só tem macho!

Um mineirinho que ouvia a conversa, não resistiu:

Tirou um toco de cigarro de palha colocado atrás da orelha, despejou o fumo em outra palha e foi enrolando o novo cigarro, enquanto falava:

-Pois aqui em Minas Gerais é muito diferente. Aqui, nós tem os home e as muié. E você nem sabe como isso é bão!

Mais não disse e não precisava dizer.

Quem não puder ir à Grécia e conhecer aquele maravilhoso país cheio de tradição, basta um passeio por Minas Gerais que, na simplicidade do povo do interior, vai também encontrar muita sabedoria...

Marcos Coutinho Loures
Publicado em: 13/10/2007 19:26:47
Última alteração:29/10/2008 14:46:49



O teu cheiro me alucina
São perfumes do prazer
Venha aqui minha menina
Teu carinho eu quero ter...
Publicado em: 14/08/2008 09:00:48
Última alteração:19/10/2008 20:39:10


Trilhando estes caminhos
Que levam para o céu
Encontro em cada passo,
A fonte feita em mel
Da boca desejosa
De moça tão tesuda,
Menina mais gostosa,
Que Deus então me acuda.
Fetiches não disfarço,
Eu quero te fuder,
Chupando o teu grelinho,
Até te dar prazer.
Depois nos teus mamilos,
Em túrgida vontade,
Mordendo devagar,
Até felicidade!
A bunda tão durinha,
Rabinho genial,
Se abrindo totalmente,
Em gruta sensual.
Fornicação divina!
Na cópula, na entrega,
Na fonte do prazer
Não resta sequer prega!
Publicado em: 29/09/2007 11:35:19
Última alteração:29/10/2008 20:50:02


Bailando no teu corpo
Cigano enamorado
Procuro por estrelas
Num êxtase sublime
Alado, o meu cavalo
Percorrendo o teu céu
Dourando tua pele
Enegrecido véu
Alvorecendo luas
Esqueço desenganos
Verdes os teus destinos
Verde que quero tanto.
Planando por espaços
Um verso enamorado,
Gitana soledad
Se faz erma e sombria
Mas vem o teu brilhar
E molda em poesia
O mar de estelas maris
Que trazes por tiara...
Publicado em: 02/04/2008 15:00:54
Última alteração:21/10/2008 16:50:39


Gosto amargo da saudade
Fica na boca da gente
Quando vem a claridade
Com o sol lá no nascente.

Bem sei que já vai embora
Essa mulher que tanto amo,
Correndo por mundo afora,
Teu nome, somente, chamo...
Publicado em: 18/06/2007 04:07:49
Última alteração:28/10/2008 17:03:51


Vibrante
Prazer
Açoite
Tesão
Que chega
Navega
Te pega
E joga
No chão.
Insumo
Fecundo
Teu sumo,
Meu mundo
Segundos
A mais.
Rondando
Cheirando
Bebendo
Demais
Da boca
Sementes
Espalho,
E louca
Desmaias
Espraias
Sem fôlego.
Apegos
E rogos,
Nos jogos
Safados
Atados
Alçando
Infinito....
Publicado em: 10/04/2008 12:23:53
Última alteração:21/10/2008 18:21:00


Gosto tanto das casadas que até hoje estou com a minha.
141

Gosto tanto das casadas que até hoje estou com a minha.

Mulher casada é comigo,
Pode ser magra ou gordinha,
Gosto tanto deste artigo,
Que até hoje estou co’a minha.

Marcos Coutinho Loures

Toma cuidado, sujeito,
Aprenda bem a lição,
Coma este prato direito,
Senão chega o comilão...
Publicado em: 21/11/2008 13:07:50
Última alteração:06/03/2009 16:59:00


O teu cheiro me alucina
São perfumes do prazer
Venha aqui minha menina
Teu carinho eu quero ter...
Publicado em: 14/08/2008 09:00:48
Última alteração:19/10/2008 20:39:10


Gaúcho não bebe mel, ele chupa a abelha...
14

Mote

Gaúcho não bebe mel, ele chupa a abelha...

Gaúcho, no seu papel,
Sempre ao macho se assemelha,
Pois ele não bebe mel,
O gaúcho chupa a abelha!

Marcos Coutinho Loures

O gaúcho é muito macho,
O resto é provocação,
Olhando de cima a baixo,
Gaúcho chupa o ferrão!
Publicado em: 19/11/2008 14:20:24
Última alteração:06/03/2009 19:00:59


Gavião; jamais eu minto,
É um bicho muito mau,
Traz no bico sempre um pinto
Vive segurando um pau...
Publicado em: 17/01/2010 11:07:12
Última alteração:14/03/2010 20:29:42





Gélida ventania
Invadindo o meu quarto
Canto em agonia
Meu verso se faz parto

Nascendo em sofrimento
Da ausência de teus braços.
Não vivo um só momento
Sem ter notícia ou traços

Daquela que desejo.
Anseio ser feliz,
Bebendo em cada beijo
Vislumbro outro matiz.

Sem tréguas caminhando
Que o tempo nunca pára,
Estou cá te esperando,
Vem logo, minha cara,

O medo desta ausência
Cratera no meu peito,
Amar é penitência
Que me faz satisfeito.

Publicado em: 30/07/2007 14:49:24
Última alteração:14/10/2008 14:41:56



Ah todos somos um; a diferença
Num ímpeto está - em um por cento
Que faz-nos diferentes num momento -
e aí está o amor, a raiva, a crença...

Além do que se quer, o que se pensa
Num mundo tão cruel e violento
A dor que tanto encaro quanto agüento,
Pois que em teu amor uma recompensa.

Sejamos de fato essa unidade
Que poria o mundo em harmonia,
Parecendo ilusão a realidade

No congraçamento da poesia,
Nós seremos felizes, de verdade,
Respeitando o que a natureza cria.


1º quarteto Gonçalves Reis,
2º quarteto Marcos Loures,
1º terceto Demétrio Sena,
2º terceto Mario Roberto Guimarães.
Publicado em: 11/08/2007 19:20:52
Última alteração:14/10/2008 13:19:59


Gente amarga, credo em cruz
É pior que Satanás
Enche o saco de Jesus
Não deixa ninguém em paz...

Publicado em: 20/08/2008 19:35:52
Última alteração:19/10/2008 20:25:43


Gilberto e a Curva do Rio
Gilberto era o maior pescador de Santa Martha, e disso ninguém pode duvidar.
Um dia, a sua sobrinha Alessandra veio passear, em visita aos seus avós, Seu João Polino e dona Rita . Betinho convidou-a para irem pescar no rio Norte, que atravessava a pequena e convidativa Ibitirama.
Alessandra e seu pai, Joãozinho ficaram muito animados com o convite e fizeram todos os preparativos necessários.
No dia marcado para a aventura, fizeram uma massa especial que consistia num misto de ração, com farinha de trigo e queijo. Prepararam duas varas com molinete e partiram para a margem do rio, junto com o nosso herói.
Surpreendentemente, Gilberto não levava nada a não ser um desses caniços de bambuí muito usados pelos sertanejos para a pesca de lambaris e de acarás.
No meio do caminho, o rio fazia uma curva muito fechada e Joãozinho, que passara sua infância naquelas redondezas não reconheceu tal curva.
Lembrava-se que havia um pé de ingazeiro aonde ia, muitas vezes, se deliciar com os ingás que ajudavam passar o tempo.
Pois bem , o pé de ingá tinha desaparecido e no seu lugar, o rio descrevia aquela estranha curva.
Como o poeta dizia que queria ter seu coração enterrado na curva do rio, João logo associou a curva a uma sensação agradável e comunicou a Gilberto como havia mudado a geografia daquele braço do Itapemirim.
Gilberto, sem pestanejar, foi desfiando seu rosário de histórias sobre pescaria.
A curva daquele rio tinha uma explicação, no mínimo inusitada.
Num dia de dezembro, o calor estava escaldante e a pescaria monótona não trazia nada além de lambaris e de pequenas acarás sem graça.
Mas, a vara de bambuí, num instante se envergou com toda a força.
Gilberto, agarrou-se com toda a força possível e impossível àquela vara e tentou, embalde, retirar o peixe.
Vendo que a situação era um tanto quanto complicada e aproveitando-se de que um cavaleiro, por coincidência, João Polino, passava por ali, teve uma idéia brilhante.
Pedindo a Seu João que apeasse, Gilberto amarrou a vara nas patas traseiras do cavalo e solicitou que esse fosse estimulado a tracionar
Tentando retirar o peixe.
Vara amarrada no cavalo, cavalo tentando sair, poeira levantando e nada de se retirar o peixe.
Nesse momento, passa um lavrador muito amigo de Gilberto e de João Polino e, ao ver a situação, teve a idéia de amarrar uma corda no seu fusca e tentar puxar.
Fusca amarrado no cavalo, cavalo amarrado na vara, fumaça nos pneus e nada do peixe sair.
Beto estava ficando desesperado mas, ao se lembrar que ali morava o seu Benedito e que esse tinha um jipe, solicitou ao mesmo que ajudasse.
Jipe amarrado no fusca, fusca amarrado ao cavalo, cavalo preso na vara e nada!
O peixe deveria pesar, por baixo, mais de quinhentos quilos, para poder agüentar tal tranco e nem se mexer!
A situação já estava passando dos limites quando o Seu Benedito recordou-se de que tinha um caminhão estacionado na venda do Paulão, vizinho de propriedade e fornecedor de todas as horas.
Paulão, ao ver a situação não titubeou; com uma corrente de ferro amarrou o caminhão no jipe, jipe preso no fusca, fusca preso no cavalo, cavalo na vara e o peixe teimosamente nem se movia...
A turma já ia desistindo quando surgiu a presença de Mário.
Funcionário da prefeitura, estava patrolando as estradas de terra do município, e ao ver tal fato inusitado, cedeu a patrol para a tentativa de se retirar o peixe.
Patrol atada no caminhão, caminhão preso no fusca, fusca preso no cavalo, cavalo na vara e, mesmo assim, nem se movia...
Alessandra já irritada com a história resolveu dar um basta e perguntou definitiva:
-E aí Gilberto, o quê que aconteceu afinal?
Gilberto calmamente, respondeu: -Ué! Você não queria saber porque que apareceu essa curva?
Entortamos o rio mas não tiramos o peixe....
Publicado em: 27/08/2006 20:49:40
Última alteração:26/10/2008 22:41:09


Gilberto e a viagem
Aquela noite seria fundamental para que pudesse resolver o velho dilema.
Iria ou não para Ibitirama?
Gilberto era assim mesmo, um camarada muito indeciso, medroso e mentiroso.
Não saberia dizer por que mas sempre tinha medo da noite, mesmo que a lua cheia clareasse todos os caminhos...
Aquela noite então era pior que as outras, o tempo nublado demonstrava que poderia encontrar alguns percalços no caminho e isso era assustador...
Dona Rita, como sempre preocupada, tentava demover a idéia fixa de João “Teimoso” Polino. Estava com pena do menino pois sabia que nada iria impedir o velho de executar o plano.
Levar Gilberto pela estrada era uma questão de honra, afinal o garoto já estava beirando os catorze anos e nunca tinha sequer saído dos arredores.
Depois de muita insistência, e de piores ameaças, Gilberto percebeu que não tinha outro jeito. O que não tem remédio, remediado está.
Dadinho, ria-se por dentro ao ver a aflição do irmão caçula.
Ritinha ajudando dona Rita nas preces e orações, estava preocupadíssima com o pobre garoto.
Pobre garoto em termos, pois o marmanjão com um metro e oitenta de medo e de mimo não parecia em nada com um garoto. Barba na cara e músculos expostos, medroso como ele só.
A noite estava fresca e tinha um vento que, ao invés de ajudar, servia para aumentar os temores do nosso herói.
Mas, o que fazer?
Embornal preparado, canivete para cortar o queijo e o pão que serviriam de alimento no idílio...
Tudo bem que eram somente nove quilômetros, mas pareceria uma eternidade...
Os barulhos e sustos noturnos são terríveis, uma simples coruja toma aspectos atemorizantes e Gilberto sabia disto...
Ao passar pela porteira que delimitava o pequeno sítio, fez o sinal da cruz e, cabeça escondida entre os ombros, partiu...
No primeiro barulho estranho, as calças pagaram o preço pela insegurança do rapaz.
Todo borrado, ficou numa situação difícil, tentando andar mas com o passar do tempo, o odor e a consistência do produto do medo foram ficando insuportáveis.
O medo libera toda adrenalina até que, de repente, Gilberto desmaiou.
Os raios do sol mal surgiam no horizonte quando, nosso amigo despertou do terrível pesadelo...
Como chegar em casa e dizer que não tinha conseguido ir a Ibitirama?
Mais que depressa, ardiloso como ele só, teve uma idéia.
Rasgou a blusa e o casaco com o canivete, riscando a pele até sangrar um pouco, não muito, mas o bastante...
Ao chegar em casa, dona Rita extremamente preocupada com o caçula, e ao ver o estado em que o pobre chegara não titubeou, veio correndo abraçar o menino...
Ao perguntar o que tinha acontecido, Gilberto pôs a imaginação para funcionar.
Uma onça, isso mesmo, uma onça havia chegado perto dele e preparava o ataque, os dentes e as garras à mostra, numa cena terrível e pavorosa...
Dadinho, macaco velho, ao sentir o cheiro que Gilberto emanava, começou a olhar meio desconfiado para o irmão, e sentindo que o mesmo estava mentindo, perguntou irônico:
- E aí o que você fez?
Gilberto, reparando que ia ser desmascarado, mais que depressa respondeu:
- Eu? Quer saber de verdade?
- Claro.
- EU ME BORREI TODO!!!!!

Publicado em: 12/10/2006 18:00:31
Última alteração:30/10/2008 19:29:41


Gilberto e o Peixe Estranho
Pescaria boa, somente nos meses que têm a letra R: de setembro a abril, quando está mais quente e os peixes ficam mais espertos.
Pescar no inverno é quase certeza de bornal vazio. Menos para Gilberto, o nosso grande pescador!
A isca não importa, muito menos a vara, ele pesca até sem anzol!
E isso causou espanto em todos os pescadores de Santa Martha, acostumados à pesca menos exitosa, felizes com os poucos bagres, mariazinhas, cambevas e outros peixes noturnos...
Acontece que, naquele dia de inverno; inverno santamartense que, para quem não conhece é de um frio cortante e inesquecível, ainda mais se embalado com a garoazinha chamada de “nublina” pelo povo da região, Gilberto se animou a ir pescar.
Dona Rita quis impedir, mas sabia que seria em vão, Gilberto era de uma teimosia asinina!
Preparativos feitos, Betinho partiu rumo ao delicioso hábito da pesca.
Noite fria e garoenta, os ossos tiritando e as mãos congeladas...
A pescaria ia, como sempre, num marasmo gostoso e, se não fossem os pernilongos e muriçocas, dava até vontade de dormir...
Quando, de repente, a vara enverga com força. Gilberto, numa luta hercúlea, depois de três horas, conseguiu finalmente retirar o peixe do rio.
Peixe estranho, meio cor de rosa, com um nariz diferente, sem escamas.
Beto, desconhecendo o peixe, mas satisfeito com a pescaria, resolveu se dar por satisfeito e mal esperava para mostrar a todos aquela espécie diferente que tinha conseguido pescar.
Ao chegar em casa, lá pelas três horas da manhã, foi se deitar e sem incomodar ninguém, temendo as broncas de Ritinha e de Seu João Polino, foi para a cama, sem ao menos se lavar; trocando de roupa silenciosamente e às escuras.
O peixe fora deixado, estrategicamente, próximo à sua cama, numa bacia bem grande, onde mal cabia o graúdo.
O sol ia nascendo quando Beto ouviu um barulho estranho.
Como se tivesse caído uma panela ou coisa assim.
Espantado, procura pelo peixe e nada.
Procura daqui, procura dali, cadê o peixe, meu Deus.
Algum moleque safado tinha entrado pela janela e roubado o seu peixe estranho. Agora não poderia mais contar para ninguém sobre o que tinha acontecido, sob pena de ser chamado de mentiroso.
E, mentiroso, era coisa que não admitiria, tudo menos mentiroso.
É claro que podia, como todo bom pescador, podia até exagerar um pouco; mas mentira era coisa proibida no seu vocabulário.
De repente ouviu um barulho que parecia vir de cima, com um rabo de olho deu uma guinada e, para sua surpresa, viu o inacreditável.
Um jovem nu, inteiramente nu, em cima do seu guarda roupa.
Ah, Beto ficou furioso, como é que podia ter entrado um sujeito e ainda mais pelado, no seu quarto.
Como iria se explicar ao povo de Santa Martha? Logo ele, tão machista e metido a paquerador!
Um homem bonito, deveras muito bonito, peladinho de tudo, nuinho da silva...
Beto, reparando com mais cuidado, percebeu que na boca do rapaz havia um corte, um profundo corte, que perfurava sua bochecha...
É, por pouco não tivemos o primeiro filho do boto de Santa Martha...
Publicado em: 27/08/2006 21:25:03
Última alteração:26/10/2008 22:41:13


Gilberto, o Caçador...
Gilberto tinha arranjado uma namorada. Uma moça muito recatada, daquelas que o povo da roça diz “que é pra casar”. Menina prendada, filha de um vizinho do Seu João Polino, um homem sério, de poucas palavras, fiel a Deus, um homem honrado.
A moça, apesar de baixinha, era muito apetitosa, dona de um par de coxas roliças e curtas, com um jeitinho de cabocla solta dentro de um vestidinho deliciosamente curto.
As brincadeiras dos namorados, simples e ingênuas, levantavam, de vez em quando o vestidinho da moça, o que deixava Beto totalmente excitado, mas os conselhos de dona Rita batiam fundo, e Beto evitava provocar mais a menina, sob a pena de ser admoestado tanto pelos pais dele quanto pelo sisudo pai da menina.
Aquele domingo estava maravilhoso, um sol claro prenunciava uma noite clara de lua cheia, muito bom para a caça; esporte proibido, ainda mais naquela região próxima ao Parque do Caparaó.
Mas o que é proibido para um jovem inquieto como Gilbeto?
Nada, absolutamente nada e, temerário, combinou com um amigo ir caçar naquela noite.
O problema era a menina, acostumada ao namoro na sala de casa todos os dias, depois da missa.
Conversa vai, conversa vem, Gilberto inventou uma viagem até Ibitirama, naquela noite para justificar a sua ausência.
Depois das lágrimas mal disfarçadas da menina e das desculpas esfarrapadas, Gilberto planejou se encontrar com o amigo lá pelas sete horas da noite e se embrenhar na mata próxima aonde morava, em busca das pacas e tatus que aparecessem...
Naquela noite, lá pelas seis da tarde, Gilberto passou na casa da moça e procurando por ela, obteve a resposta de que ela, já que Beto não passaria por ali naquela noite, tinha ido visitar uma tia que morava lá pelos lados de Iúna, distante então da mata onde iria acontecer a caça.
Caçar é, com perdão dos ecologistas, um dos mais deliciosos esportes; já que faz parte do instinto básico de sobrevivência do ser humano.
A liberação de adrenalina é total, com uma sensação de prazer equiparado com a pescaria, com a conquista de um amor, como a conquista, enfim.
Gilberto, puro e instintivo, obtinha com a caça uma sensação quase orgásmica!
Noite alta, lua cheia, uma espingarda meia boca, os nossos dois heróis, a ponto de realizarem uma das maiores caçadas das suas vidas!
Já tinham matado duas pacas e um tatu, caçada inesquecível.
Mas, de repente, um barulho atrás de uma moita chamou a atenção, pelo tamanho do bicho não era coisa pouca não.
O amigo de Gilberto, Manezinho Chicote, pensou logo em tamanduá bandeira; Beto, mais audacioso, imaginou um veado campeiro.
Veado campeiro é raridade absoluta naquelas bandas, mas se contam histórias da captura de um ou dois exemplares daquele animal, provavelmente, fugidos de algum criador clandestino.
Quietos, sem fazer barulho algum, se aproximaram da moita e mandaram bala.
Se ouviu, neste instante, um grito, muito mais humano do que qualquer coisa.
E, junto com o grito, avistaram uma bunda branca, saindo correndo ensangüentada...
Logo em seguida, uma forma feminina se levantou, e Gilberto reconheceu, sob a luz da lua, aqueles cabelos lisos e aquele rosto por quem tinha se apaixonado!
Xingando a moça, Gilberto partiu atrás dela mas, propositadamente, Manezinho, sabendo da fama de violento de seu amigo, deu-lhe uma providencial rasteira.
Que esfriasse a cabeça e não fizesse besteira.
No dia seguinte, já mais calmo e desiludido, Gilberto saiu de casa para comprar um maço de cigarros na vendinha do povoado e chegou a tempo de ouvir uma conversa esclarecedora.
Doutor Marcos Valério que tinha atendido mais cedo no posto, comentava o fato com o enfermeiro que atendia à população santamartense da necessidade de se encaminhar Pedro Malta, um campeiro que trabalhava para o seu Joaquim, vereador adorado do distrito, para Guaçui.
O motivo: um tiro de espingarda que tinha atingido a bunda do pobre rapaz e parecia ter se alojado perto do quadril do moço.
Gilberto tinha quase acertado na vítima. Campeiro sim, veado não. O chifre ficara por conta dele, Beto...
Publicado em: 03/09/2006 11:24:42
Última alteração:26/10/2008 22:41:53


Gilberto, o pescador
Gilberto é um pescador,
E fala disso orgulhoso...
Mas não chame, por favor,
O pobre de mentiroso!
Publicado em: 11/11/2006 10:26:54
Última alteração:30/10/2008 10:46:07


Gira e ronda em carrossel
Esperança numa espreita
Estrelinha lá do céu,
Do teu lado já se deita..
Publicado em: 04/03/2008 21:34:51
Última alteração:22/10/2008 15:02:18


A cidade adormecida
Aço penetrante
Fogo nas ladeiras
Estrangeiras
Estranhas fogueiras humanas...
À cavalo, malas e estradas.
Terra e barro.
Sertão e seca
Serão e gado
Servidão...
Andando pelos distritos
Cavalo selado...
Povo selado.
Gado...
Publicado em: 26/10/2006 16:41:05
Última alteração:29/10/2008 12:04:13



Nas praias as pernas morenas
As coxas morenas
As cativas coxas morenas
E as cenas longínquas
Das gaivotas
Alçando vôo
Mergulhos e peixes.
As ondas, as coxas, as pernas
A saudade cativa
Espera virar gaivota
E buscar os peixinhos...
Não falo nada,
Apenas observo...
E, sozinho, jogo pedra nas gaivotas.
Quem sabe, afaste a saudade...
Publicado em: 02/01/2007 14:25:41
Última alteração:28/10/2008 19:11:09


Galo cantando, manhã,
O sol vem devagar, manso,
Meu amor sem amanhã,
Maremoto no remanso...
Publicado em: 16/10/2008 11:48:56

]
Galopando à beira Amar


Quando eu conheci Serena,
Num galope a beira mar,
Aquela bela morena,
Tinha tudo pra encantar,
Coração bate, dá pena,
Dá vontade de chorar,
Nunca mais poder cantar
Num galope a beira mar...

Serena foi minha vida,
A razão do meu viver,
Tanta dor já tão sentida,
Sem vontade de sofrer,
Eta vida mais sofrida,
Não cansa mais de doer,
Viola canta, luar...
Num galope a beira mar...

Minha voz anda cansada,
Cansada de tanto pedir,
Minha moda vai cantada,
Cantada móde sentir,
A viola enluarada,
Que canta quase a carpir,
Tanta coisa, sem parar,
Num galope a beira mar...

Levei Serena pra casa,
Como manda o coração,
Tanto casa, quanto embrasa,
O luar do meu sertão,
Meu amor quando se atrasa,
É problema e solução.
Como era belo sonhar
Num galope a beira mar...

Com Serena tive filho,
Dois ou três se não me engano,
Do amor seguindo o trilho,
Passa dia, mês e ano,
Mas o tempo tem gatilho,
Detonando tanto plano.
Nunca mais vou esperar
Num galope a beira mar...

O amor, de maravilha,
Transformado na tristeza,
Na promessa dessa ilha,
No meio dessa beleza,
Toda dor vem de matilha,
Acabando a realeza.
Tanta coisa pra contar
Num galope a beira mar...

Serena foi assassina,
Do que belo, tinha em mim,
Maltratando minha sina,
Fazendo tão trist’assim
Tanta dor que desatina,
Do amor, foi meu Caim.
Me matando, devagar,
Num galope a beira mar...

São tristezas, duras penas,
Têm o gosto da mortalha,
Só pedia a Deus, apenas,
Outro tipo de cangalha,
Noites mansas, mais amenas,
Na minha casa de palha.
Poder sonhar com meu lar,
Num galope a beira mar...

Já cantei minha verdade,
Fiz meus versos sem vergonha,
Procurei felicidade,
Que é coisa que se sonha,
Pelo campo ou na cidade,
Não é coisa medonha.
É meu direito tentar,
Num galope a beira mar...

O veneno em minha veia,
Corre solto, vai matando,
Essa aranha fez a teia,
Minha vida foi sugando,
Minha carne foi a ceia,
Ela foi me envenenando.
Até conseguir sangrar,
Num galope a beira mar...

Quando vi nos seus olhinhos,
Verdes olhos cor de mata;
Percebi que seus carinhos,
Me diziam, ser ingrata,
Aquela por quem meus ninhos
Sonhavam amor em cascata,
Nunca mais eu vou cantar,
Num galope a beira mar...
Publicado em: 07/12/2006 15:03:37
Última alteração:28/10/2008 20:49:30


Horas sombrias

Quando as ruas estão tristes
Vazias até nos bares
As horas mortas sombrias
As nuvens matam luares
Tantas as fantasias
Dormem caladas aqui.

Quando o fantasma liberto
Passeia no coração.
Deixando as ruas vazias
Maltratando uma emoção
Esqueço das alegrias
Que, amor, nunca mais eu vi...

Quando meu medo ressurge
No fim de tanto carinho
Nas ruas que não têm lua.
Ficando assim tão sozinho,
Procuro amor pela rua
De tanto amor me perdi.

Não sobra sequer meu sonho
Que há tanto tempo morreu
Matando, aos poucos a vida,
De tanto que já fui teu
De tanto te quis, querida,
Meus restos morrem por ti.
Publicado em: 02/01/2007 16:34:39
Última alteração:30/10/2008 08:07:37



Hot Dog
Francisco, o nosso prefeito udenista das Minas Gerais do começo da década de 70, tem no seu vasto currículo, uma das histórias mais hilariantes do anedotário político da Zona ops... da Mata Mineira.
Contam que, chegado às novidades que pululavam na ex-capital federal e antiga corte vez em quando descia para o Rio de Janeiro em busca de prazeres e novidades que “poderia utiliza para o desenvolvimento de sua cidade”, se bem que as visitas à Vila Formosa e aos Cabarés da Lapa eram mais freqüentes que às Convenções e Congressos; isso sem contar a museus, teatros, cinemas etc...
Numa de suas primeiras viagens ao Rio, foi surpreendido com algumas novidades inesquecíveis.
A tanga usada pelas cariocas fascinava o nosso pobre Prefeito, excitado pelas belezas das praias e, principalmente das “praianas”.
Uma outra coisa que o deixou muito assustado foi a descoberta dos travestis, que jurava serem mulheres, e das boas!
Pensou até em levar alguns para visitarem a sua cidade, no que foi desaconselhado, prudentemente por seu “Assessor Cultural”.
Pois bem, dizem que uma vez, ao passear pela praia de Copacabana num início de tarde, a fome abateu-se solenemente sobre nosso herói.
Fome muita e dinheiro curto; pois tinha perdido muita grana num cassino clandestino no Centro da Cidade, para onde fora levado por uma das fogosas meninas do Rio, resolveu procurar alguma coisa para comer.
O que mais lhe chamara a atenção foi uma barraca de “CACHORRO QUENTE”. Estarrecido pelo que lera, consultou seu assessor para saber da viabilidade de comer carne de cachorro, hábito desconhecido de seu povo.
Mas, cada roca com seu uso e cada povo com seu uso, e baseado na informação de seu assessor, tão ignaro no assunto quanto ele próprio, pensou, analisou, olhou pro bolso e afirmando que, “pelo menos o cachorro viria quente”; com o asco reprimido, tomou coragem e pediu um para o barraqueiro mais em conta que encontrara.
Nesse meio tempo, o seu assessor, distraíra-se com um belo par de coxas e uma tanga extremamente generosa que passava ao lado.
De repente, para susto e espanto de todos os que estavam por perto, eis que Francisco, enrubescido e em tom de voz elevado, com toda a ira que lhe era permitida grita:
-Tudo bem, até entendo esse negócio de comer cachorro. MAS ESSA PARTE DO BICHO NÃO, POR FAVOR, NÃO! PEGA ESSA COISA E ENFIA...!
CAI O PANO!
Publicado em: 02/12/2006 07:31:24
Última alteração:29/10/2008 18:37:45

Homenagem à Você Marcos Loures


Entre cabos e conexôes me esbarrei com você
Sentí teu calor em teu jeito de ser
Desconheço teu rosto conheço teu gosto
Palavras intensas no escrever

Os dias passam e pemaneço ao teu lado
Em conversas trocadas em algum agrado
Tiras de mim um belo sorriso
Admiro tua força meu querido amigo

Recanto das Letras
Na Alameda da Esperança
Marco minha presença
Agradeçida da compartilha de seu versejar

A tua determinação na força
Dos lindos sonetos ou pensamentos
Se mostra além de ótima pessoa
O Doutor que com alma pura
Coraçôes festejas.
Me levanto da escrivaninha
Pra expressar meu carinho em linhas.

Que o Senhor Deus da vida continue a lhe
Protejar e Nossa Senhora com seu manto sagrado
Te cubra das almas impuras.

POLI SUB


Hora do Amor

As horas senhoras da vida...
Passam e não voltam
Nem se revoltam
Apenas se esgotam.
E a primavera
Se faz tão distante
No outono que cai
O tempo não pára
E a gente é que pesa...
Amor que se preza
Não sabe das horas
Nem sabe do tempo
Descansa...
E cansa...
E canta
E chora...
Depois revigora,
Renasce e ressurge
Na dança da vida
Trazendo este estio
Regozijo e cio
Anúncio de festa
E a porta que se abre
Permite, de novo,
Que o novo renove
E trague este sol
Que a primavera perdeu...
Ah! Tempo que nunca pára,
Faz carinho em meu amor
Que ele hoje acordou
Com vontade de chorar...
Chorar de amor demais
Que a vida sonegou
Botou debaixo da saia
Da senhora da vida...
Agora?
Meu amor e as horas
Tão de bobiça...
Que nasce disso?
Eternidade?
Publicado em: 29/12/2006 19:34:54
Última alteração:30/10/2008 09:09:49

Quem come com muita pressa,
Engasgando, pois afoito
E por crer nesta conversa,
Vou molhando este biscoito..
Publicado em: 07/08/2008 18:03:19
Última alteração:19/10/2008 19:40:43


Não conto mais esta história!
Eu não sou um papagaio.
Não é falta de memória
Nessa mentira não caio...

Sou um bicho que avoa,
Vivendo no meu sertão,
A muié quando é da boa
Avoa em meu coração!

Tatu é bicho guloso,
Avéve nesses buraco,
Os hôme mais orguioso
São os hôme qui são fraco...
Publicado em: 11/11/2006 12:07:45
Última alteração:30/10/2008 10:45:31


Eu pesquei peixe gigante
Pois pensei que era dourado
Minha linha num instante
Já ficou tudo envergado,
Num estado interessante
O bicho que foi pescado,
É deveras intrigante
Pode ser que esteja errado,
Mas pescador me garante
O rio ficou curvado...
Publicado em: 17/01/2010 11:53:29
Última alteração:14/03/2010 20:28:09




HISTÓRIAS DE FAMÍLIA


1

Quer ter uma noite insone?
Receita melhor não há:
É tocar o telefone
Certinho... na hora agá!

Pediatra tem por sina
Uma vida delirante
Ao tentar fazer menina
Telefone é um brochante...


2


Vassouras dão muitas obras,
E você não disse tudo,
Pois nas mãos de certas sogras...
Não há genro carrancudo!

Vassoura na mão da sogra
É um perigo rondando,
Depois de morder, a cobra
Escapole já; voando...

VITÓRIO SEZABAR
ML
Publicado em: 16/12/2007 15:11:31
Última alteração:23/10/2008 08:54:22


HISTÓRIAS DE UM TERAPEUTA SEXUAL

Dizem que mineiro não dá ponto sem nó. Isto ficou claro numa estatística que demonstra ser de mineiros ou minas-descendentes a maioria da população da Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro.

Isto se pode ver, também naquele caso do jovem casal que foi procurar famoso Terapeuta Sexual, para uma consulta.

Ao receber o casal, o médico perguntou-lhes o problema e a resposta foi surpreendente:

- Gostaríamos que o senhor mesmo descobrisse, vendo-nos transar em seu consultório.

Como bom psicanalista, o doutor aceitou o desafio e deixou-os à vontade, para fazer o “serviço”.

Terminada a sessão, o casal de mineiros se vestiu, pagou a consulta, pediu recibo e, após marcar novas vindas ao consultório, duas vezes por semana, despediu-se do médico.

Um ano após indas e vindas, o médico deu por encerrado o tratamento e, para tal chamou o casal e confessou:

-Não encontrei anormalidade alguma na conduta sexual de vocês. Por que, então, é que vocês me procuraram?

O rapaz mineiramente explicou;

- É que eu sou casado com outra mulher e ela com outro homem. Se fôssemos a um motel, além de longe, teríamos que pagar uma “nota”. Assim resolvemos procurar o seu consultório, localizado no centro da cidade. O senhor nos cobra a consulta que é devidamente ressarcida pelo Plano de Saúde...

Mineiro é fogo...

MARCOS COUTINHO LOURES
Publicado em: 16/10/2007 16:04:12
Última alteração:29/10/2008 18:37:20

HISTÓRIAS DE VOVÔ

Mote – Velho não manda brasa, manda fumaça...



Velho sabido, não casa
E, do casório, acha graça;
Pois ele não “manda brasa”:
O velho manda “é fumaça”.

Meu avô, aos seus oitenta,
Casou de novo; acho graça
Camisinha ele arrebenta
Ou derrete, faz fumaça...

MARCOS COUTINHO LOURES
MVML
Publicado em: 15/10/2007 15:54:10
Última alteração:28/10/2008 14:14:11



Histórias do meu sertão de Marcos Coutinho Loures
I
Se vosmecê me escutasse,
Tarvez aqui li contasse
Um caso que assucedeu;
Vancê pode creditá,
O que venho li contá,
Há muito tempo se deu:

II
Na fazenda que eu morava,
Ansim que Júio chegava,
Tinha festa todo dia;
Eu tirava da cachola
As moda que esta viola
Tocava, cum alegria.

III
No dia de São João,
As viola e os violão
Comandava o rastapé;
Nóis dançava a noite intera,
Tudo em vórta da foguera,
No mei dos buscapé.

IV
Os home, já munto bêbo,
Subia no pau-de-sebo,
Prá móde vinte-mim-ré.
Cumendo batata doce,
De todos doce, o mais doce,
Nóis namorava as muié.

V
Dispois, ispaiando as brasa,
Pelo terrero da casa,
Nóis quiria travessá:
E sobre a brasa vermeia,
Quem tinha sangue nas veia,
Passava sem se quemá!

VI
Mas se conto essa verdade,
O povo, aqui da cidade,
Vem cum muita explicação;
Diz que temo a pele grossa
E que o frio lá na roça,
Isfria a brasa, no chão.

VII
Prá disminti essa gente,
Maria, do Zé Clemente,
Foi na fuguêra, passá;
No mei da travissia,
Iscurregô a Maria,
Sem cum isso se importá.

VIII
Ela que é toda mimosa,
Que mais parece umaa rosa,
Levantô-se devagá;
O seu vistido quemô-se,
Mas ela, que levantô-se,
Travessô, sem se quemá.

IX
Foi milagre de SÃO João,
Que eu vi lá no meu sertão,
Acredite quem quizé!
Sua bondade altanêra,
Num dexaria a fuguêra
Quemá aquela muié.

X
Eis aqui meu tira-teima;
A fuguêra que mais quêma
É a do orgúio, sem perdão!
Orgúio de disprezá
E de nunca creditá,
Nas istóra de São João...
Publicado em: 14/08/2006 17:56:20
Última alteração:31/10/2008 01:56:48



Cai a chuva pequenina
Sobre a casa de sapê
Coração já desatina
Quando encontra com você
Publicado em: 07/08/2008 18:12:03
Última alteração:19/10/2008 19:41:53



HOJE É DIA DE FESTA
No teu aniversário
A festa é tanta
Que todo o coração
Já se agiganta
Fazendo do festejo
A glória imensa
No tempo de viver
Que nos restar
Tua presença
É sempre a recompensa.
Aniversariando o nosso sonho
Palavra de carinho
Ora componho
Somente pra poder
Comemorar!
Publicado em: 20/03/2008 14:40:01
Última alteração:21/10/2008 22:20:40




Nesta data querida
Meu amor comemora
Mais um ano de vida
Vamos lá! Tá na hora.

Vai ter muito presente
E mais uma velinha
Vai chegar muita gente
Para a nossa festinha.

Os colegas da escola
Os priminhos também
Vamos assoprar bola
Para você meu bem!

A mamãe e o papai,
A vovó e o vovô,
Tanta gente que vai
Lhe trazer tanto amor...

Diasbetti
Publicado em: 14/05/2007 23:15:10
Última alteração:27/10/2008 19:18:06


Faço trova e não me canso
Hoje eu quero namorar,
Coitadinho desse ganso,
Toda hora a se afogar.
Publicado em: 06/02/2008 21:21:36
Última alteração:22/10/2008 17:49:16


Quanto tempo tem saudade
Se saudade, tempo tem.
Vou buscar felicidade
Procurando por alguém

Se não tenho mais saudade
Encontrei o meu amor,
Já não quero falsidade
Vou vivendo sem temor...

Temo o tempo que não tenho
Se não temo, o tempo vem,
Neste tempo nunca venho
Com saudade do meu bem...

Passará qual passarinho
Tenho pressa de voltar.
Se voltar vem para o ninho
Hoje eu quero namorar...

Quero o beijo mais gostoso
Que puder amor me dar
Deste amor tão vaidoso
Dá vontade de chorar...

Se não sou eu não seria
E se ria mas não sou,
Todo amor em noite fria
De carinho me esquentou.
Publicado em: 12/02/2007 21:06:41
Última alteração:30/10/2008 06:44:32



A porca que tão gorda já não anda,
Decerto não se manca, enchendo o saco.
Tanto henê na cabeça ela desanda
E leva a paciência pro buraco.
Publicado em: 09/03/2008 15:25:24
Última alteração:22/10/2008 15:33:51



Meu avô, doce lembrança;
Me desmente se puderes,
Só deixou-me como herança
Gostar tanto das mulheres.

Esse velho era danado,
Eu me lembro e não me esqueço,
Tinha fama de safado,
Não mudava o endereço.

Toda moça que passava,
O velho dizia bundinha,
Se a moça bem reparava,
A resposta nunca vinha.

Quando alguém agradecia
Um favor que ele fizera,
-Por nádegas, ele dizia,
E começava a paquera.

Se passava moça feia,
Quem disse que perdoava?
-O coração se incendeia!
Era assim que ele falava.

Eu me lembro do vovô
Sentado numa calçada:
-Meu filho é por que já vou,
E deixar a mulherada!

Marcos Coutinho Loures
Marcos Loures

Publicado em: 24/03/2007 11:32:37
Última alteração:06/11/2008 10:19:58





E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.

ALDA LARA Poetisa Angolana.


Heróica resistência; inda farejo
No rastro das irmãs espoliadas.
Durante tanto tempo maltratadas
Negaram o direito a ter desejo.

A liberdade plena que eu almejo
Pras moças muitas vezes estupradas,
De todos os seus bens, dilapidadas,
Mas um momento em glória enfim prevejo.

Do solo americano de Colombo,
Desta África vestida de Mandela,
Ou da Ásia multiforme e colorida,

Depois da tempestade, em duro tombo,
Brilhando com mais força cada estrela
Nos laços da amizade, construída...
Publicado em: 09/12/2007 17:25:02
Última alteração:10/10/2008 14:06:03


HIBERNAÇÃO

Inóspita paisagem
Refletindo minha alma,
Erma, vaga e fria.
Nem mesmo o horizonte
Livre de nuvens
Permite a liberdade.
As asas cortadas,
Os pés congelados.
E a vontade de prosseguir...
Quem dera hibernação...
Publicado em: 22/05/2008 15:40:12
Última alteração:21/10/2008 06:32:26



Hipnotizado eu sigo e cedo alcanço
Hipnotizado eu sigo e cedo alcanço
O gozo em fantasias, desejado.
A vida prosseguindo sem ter ranço
Das mágoas que eu trouxera do passado.

Sabores se confundem, mel e sal,
O teu suor entranha em minha pele
Na lânguida presença sensual,
A forma mais sublime se revele

Meu sonho te tocando mais voraz,
Expressa o meu desejo sempre audaz..

ML
Publicado em: 28/02/2008 17:31:55
Última alteração:09/10/2008 08:34:30


HÉLICE DE SONETOS- ESPIRAL A. terceira parte

151



Farsantes os sorrisos que legaste
A quem se fez por vezes idiota,
O sol que em minha pele se desbota
Recebe do luar frio contraste.

O quanto tão distante navegaste
Estronda com vigor qualquer compota.
Perdendo esta noção esqueço a rota,
Exposto à erosão, vital desgaste.

De todos os resíduos que coleto,
Pereço sem saber sequer do afeto
Que possa receber assim, de alguém.

Usando o mais surrado paletó,
A quem se acostou a viver só,
Apenas a mortalha me cai bem.



152


Apenas a mortalha me cai bem
E dela faço a veste preferida,
Quem ama com tristezas sempre lida,
No vago que o amor em si já tem.

Olhando tantas vezes para além,
Abandonei o bom que traz a vida,
Por vezes minha mão mais distraída,
Perdeu o seu caminho e segue sem.

A dor já me invadindo por costume,
Tramando no meu céu, vasto negrume
Tiara constelar, o sonho alcança.

Porém este vazio em que me afundo,
Matando um sentimento mais profundo,
Destoa com um resto de esperança.


153

Destoa com um resto de esperança
A foto em alegria sobre a mesa,
O quanto desta vida que se preza
É presa do que trago na lembrança;

Quem tem uma ilusão como fiança,
Não sabe usufruir da sobremesa,
Por mais que se imagine em rua mansa,
Açoda com mais força a correnteza.

Ao menos, já desfruto do pomar
Aonde tantas vezes quis arar
Deixando este abandono no passado.

Quem sabe se colhesse um belo fruto,
O dia não se mostre assim tão bruto,
E mude, num momento, o velho Fado.



154


E mude, num momento, o velho Fado
É tudo o que desejo de um amor.
Do peito tão inglório e sonhador
O sonho possa ser abençoado.

Quebra-cabeças; monto do passado
E sinto que é possível recompor,
Se não houvesse nada a contrapor
O dia nasceria ensolarado.

O peito que se ilude assim se estronda
Porém ao perceber reveses da onda
Na areia, em plena praia se esvaindo.

Encontra o mesmo não, como a resposta
Com alma solitária e fria exposta,
O mundo desabando, vou sentindo.


155



O mundo desabando, vou sentindo,
E busco nos escombros os meus restos,
Os podres de minha alma vão infestos
E em conta-gotas vão já se esvaindo.

O quanto imaginei de um dia lindo,
Trazendo intempestivos duros gestos,
Encharco a minha alma nos asbestos
Que aos poucos, me inundando e me ferindo.

Aufiro as nauseabundas ilusões,
Que formam sempre falsas soluções
E vejo o que buscara e não mais tento.

Olhando para os astros, a esperança
Espalha-se nos vãos de uma lembrança.
Perfaço este infinito em um momento.


156


Perfaço este infinito em um momento
Do antigo riso agora moldo o pranto,
Deixando-me levar por desencanto,
Eu bebo a cada curva um vil tormento.

Nos piercings, de minha alma, o sofrimento
Invade e não respeita qualquer canto.
Do pouco que inda tinha, leva o tanto
Que sobra e não demonstra o sentimento.

Salpico minhas lágrimas no solo,
Talvez inda me reste algum consolo
Nos braços de uma estrela, ou da mulher

A ninfa prometida e que se esvai,
Aos poucos meu castelo rui e cai
Quem sabe noutra vida, se vier.




157



Quem sabe noutra vida, se vier,
Ainda reste um riso disfarçado,
Amor que tantas vezes traz enfado,
Jogado pelos cantos, um qualquer

Ao ter o privilégio que quiser
Talvez resolva estar bem ao meu lado.
Por mais que tenha o senso preservado,
Distante de conter o que puder

Estendendo minha alma na janela
O quanto que não tenho mais se atrela
E aos poucos calmamente, sangra e mata.

Que se pode fazer se a noite vem?
Maltrapilha, deixando sem ninguém
Quem teve uma certeza tão ingrata.



158

Quem teve uma certeza tão ingrata
E resistiu a tudo bravamente,
Já sabe e muitas vezes até sente
Sabor que a vida trama e que desata

Os nós emoldurando toda a prata
Que a lua já derrama, de repente.
Percebe e reconhece plenamente
A vida borbulhando qual cascata.

Ao perceber a curva, abrindo o peito,
Do amor que inda sonhava faz seu preito,
E vaga em liberdade pelo céu.

Ao acordar do sonho é que percebe,
O frio que em verdade encharca a sebe.
Mentira vai cumprindo o seu papel.

159



Mentira vai cumprindo o seu papel,
Nem tudo o que reluz é ouro puro,
O porto que encontrei, não é seguro,
No porão de minha alma escondo o céu.

Girando; o tempo cega o carrossel,
O dia amanhecendo sempre escuro,
A vida se passando em tanto apuro,
O medo transformou o mel em fel.

Cavalo dos meus sonhos galopando,
Formando uma cortina de fumaça,
Enquanto em nuvens negras tu flutuas.

O solo desde então vem desabando,
Atrás eu posso ver minha carcaça
Cobrindo em duro pó todas as luas.

160



Cobrindo em duro pó todas as luas
Deixando para trás uma esperança.
O ser humano em glória sempre alcança
Os corpos esquecidos, carnes nuas.

O sortilégio faz sempre das suas,
E mata a ingenuidade da criança.
Sabendo desta espera, alma se cansa
E mesmo que amputado, continuas.

Esboça a reação, mas obedeces,
Apenas executas tuas preces
E deixa uma esperança no passado.

Contigo, vou seguindo, e a vida flui,
Em outro ancoradouro; se conclui,
O barco que me trouxe; naufragado...


161



O barco que me trouxe; naufragado
Durante a tempestade que é diuturna
Minha alma nos cadáveres se enfurna
E traz o seu bornal muito pesado.

Carrega todo o peso do passado,
A consciência humana é tão soturna,
Na caça, a fera esgueira-se e noturna
Esconde o seu fastio bem ao lado.

Mantendo o seu pecado original,
Orgástico planeta pelo astral
Girando e cultivando um vão deserto,

Assim nós percorremos o universo,
Uma esperança aporta no meu verso,
Quem sabe, no futuro um riso aberto.


162


Quem sabe, no futuro um riso aberto
Estampe cada rosto francamente,
Vagando pela vida qual demente,
Eu semeei tempestades no deserto.

Unidos, mesma voz, igual concerto,
O passo quando dado é conseqüente,
Respeito ao que um irmão, deveras sente,
Trazendo um lenitivo sempre perto.

Porém, quando eu revejo a minha vida,
Percebo que não vi sequer saída,
Espero que este sonho chegue a ti.

Por ter já ter meu tempo se esgotando,
Esboço de uma vida se mostrando:
Tentando ser feliz eu me perdi.


163


Tentando ser feliz eu me perdi
E agora preconizo o meu final,
Jogado em precipício sem igual,
Estendo os meus escombros por aí.

Quasares tão distantes descobri,
Ao ver o quanto inválido e boçal
Uma semeadura feita em sal,
Reflexos do que vejo em mim e em ti.

A raça humana mostra-se longeva
E espalha, neste tempo espessa treva
Deixando os sonhos todos decepados.

Fomenta a guerra estúpida e cruel,
Ao afrontar assim o Santo Céu,
Lançados pelas mãos, os frios dados.




164


Lançados pelas mãos, os frios dados
Demonstram nossa sorte malfadada,
A vida que se ufana em derrocada
Esquece que seus dias ‘stão contados.

Rugindo pela noite em altos brados
Um cão prepara em riso uma dentada,
Ao ver a carne enfim dilacerada
Encharca com meu sangue os mansos prados.

Do pouco que me resta não detenho
Sequer uma impressão de onde venho
Mordido pela fera da ilusão.

E finjo acreditar na liberdade,
Esboço até talvez, felicidade
Depois de ter somente solidão.


165

Depois de ter somente solidão
Colecionando espinhos no caminho,
Vagando pela vida; tão sozinho,
Debruço o meu olhar nesta amplidão.

E vejo o que sonhara em solução
Trazida pelas mãos feitas carinho,
Da sorte de viver eu me avizinho,
Vencido vou, talvez, pela ilusão.

É nesta conjuntura que eu me perco,
O corpo servirá de algum esterco,
Porém uma alma tola se despreza.

Ao ver-me verme só e sem destino,
Com toda realidade eu já me afino:
O fardo que carrego tanto pesa.


166



O fardo que carrego tanto pesa
Que impede a caminhada vida afora,
O vento que em momentos sempre aflora
Ao mesmo tempo nega e põe a mesa.

Meu riso quando usado por defesa
Denota que entendi, pois desde agora,
O mar que me inundou já foi embora
Tocado pelos ventos da surpresa.

Verdades conhecidas nesta andança
Marcando a ferro e fogo uma esperança
Aprofundando a chaga, aumenta o corte.

Sabendo desde sempre deste fato,
Na correta assertiva eu me retrato:
O medo se espalhando, nega a sorte,



167


O medo se espalhando, nega a sorte
Omite a redenção que se procura.
Fomenta uma expressão feita amargura
Arranca dos meus pés qualquer suporte.

A dor que se agiganta, aumenta o porte
E aporta bem distante uma ternura.
No pote que negou uma água pura
A cada novo sonho, outro recorte.

Assédios da ilusão são desastrosos,
Perfazem de per si os caprichosos
Caminhos enganosos do prazer.

Espúrias fantasias são vendidas
Resultam em discórdias pressentidas
No enfado de buscar e nada ter.


168



No enfado de buscar e nada ter.
Esparramo meus olhos pelas ruas
E vejo estas verdades duras, cruas,
Do tempo que perdi por só querer

As rotas mendicantes do prazer
Tocado pelas peles loucas, nuas,
Riscando do meu céu as veras luas,
Estive tantas vezes sem saber

Em vastas amplidões do imenso nada,
Fazendo da ilusão uma escalada
Na busca tão inglória em fantasia;

Eu me esqueci das minhas primaveras
Jogando o coração às frias feras,
Na caça que se faz a cada dia.



169


Na caça que se faz a cada dia
A presa não esboça reação,
Enganos que se extremam, ilusão
Transforma a realidade em fantasia.

A mão que assim tortura, audaz e fria
Ancora em cada peito a negação.
O tempo que passamos foi em vão
A vida na verdade é mais sombria.

Sem jeito de encarar a correnteza,
Vencido pela dor de uma incerteza
Humanidade corre contra o vento

Caminho sempre o mesmo, se perdeu,
Deixando para trás o que aprendeu
Marcado pela cruz, o sentimento.


170


Marcado pela cruz, o sentimento
Deixado no passado e por sinal
Vendido num infame vendaval
Está decerto em nosso pensamento.

Perdão que se tornou um claro alento
Jogado nos escombros do bornal.
Estornos vão moldando um ritual,
Expondo em coação, meu sofrimento.

Talvez se desnudar-me dos desejos,
Vontades sem limites tragam pejos,
E o novo amanhecer, quando vier

Trará já no seu bojo um raro brilho,
Quem sabe se seguindo o manso trilho
Eu tenha esta alegria que se quer.


171


Eu tenho esta alegria que se quer
E faz da vida ser bem mais suave,
Porém a solidão que é duro entrave,
Impede todo sonho que vier.

Nos braços carinhos da mulher,
Uma ilusão do olhar que em medos lave.
O pensamento alçado feito uma ave
Aguarda pelo bem, mesmo qualquer.

Quem dera se pudesse; uma esperança,
Que alcance ao fim do dia, tal fiança.
A vida não seria tão ingrata.

Meu barco que queria placidez,
Neste mundo ilusório em que se fez,
Descendo o rio encontra uma cascata.


172


Descendo o rio encontra uma cascata
Em meio a tempestade mais feroz,
Calado o pensamento, eu perco a voz
E a dor de uma saudade me maltrata.

A lua desnudada em rara prata,
Permite uma emoção sacra e atroz,
Atando enquanto corta nossos nós
Mistérios desta vida, desbarata.

Pois quando em sentimento, a união
Gerando do vazio, uma amplidão
Permite que se alcance, assim, o céu.

Mas quando vou vagando em ledo espaço,
Sem ter afeto, ou mesmo um manso abraço
Sozinho; eu me perdi do meu corcel.



173


Sozinho; eu me perdi do meu corcel
E vago sem destino cais ou rumo,
A vida se esvaindo em triste fumo,
O tempo de viver é tão cruel.

Na noite, a escuridão estende o véu
E mesmo, no vazio eu me acostumo
Tentando conceber algum aprumo,
Espalho sentimentos, vou ao léu.

Enquanto a vida passa, tais tormentas,
Em meio a convulsões tão violentas,
Nas glebas da ilusão, inúteis cevas.

O pantanoso rio de minha alma
Em paradoxo, fere enquanto acalma.
Na madrugada feita em frias trevas.



174


Na madrugada feita em frias trevas
Fomentos da ilusão abrem crateras,
Entregue à dura fúria destas feras,
A solidão cultiva amargas cevas.

Tristezas vão chegando, duras levas
Negando ao sonhador, as primaveras.
Morrendo, desde quando em priscas eras,
Um resto de esperança, ao largo, levas.

Quem fora companheira e já se nega
Permite numa senda arguta e cega
O dia renascendo, vão, nublado.

Expressas num sorriso de ironia
A marca em que sangraste vil, sombria,
Mostrando o quanto inútil meu passado.


175

Mostrando o quanto inútil meu passado
Eu sigo pela vida, simplesmente,
Se tudo se transforma, de repente,
Meu sonho não será mais alcançado.

Vivendo o que pensara demarcado
Há tempos, eu me perco tolamente,
O quanto que se quer e o que se sente,
Navega o tempo inteiro do meu lado.

Um dia, caminhando ao deus-dará,
Estrela que busquei, rebrilhará,
Trazendo um lenitivo a tal deserto.

Uma esperança feita em ilusão
Causando a mais sutil transformação,
Modificando enfim, o que era incerto.

176


Modificando enfim, o que era incerto,
Talvez eu tenha um resto de esperança,
A sorte que se mostra em aliança
Trará um calmo oásis ao deserto.

Na foz de um sentimento, já me alerto
E faço do carinho, a contradança;
No peito tão ingênuo da criança
Eternamente nobre enquanto aberto

Os rastros de uma estrela sem ter par,
Mostrando intensa luz, irei buscar,
Depois de toda a sorte que esqueci.

Quem sabe no final da amarga história,
Terei esta suprema e rara glória,
Olhando para o céu que vejo em ti.



177


Olhando para o céu que vejo em ti
Eu vejo que se espelha uma ventura,
A luz que em farto brilho se depura,
Estende os seus luzeiros, chega aqui.

Das fartas ilusões, eu me embebi,
E o quanto pude ter, paz e ternura,
Secando a fonte inglória da amargura,
Explana todo o bem que recebi.

Fazendo de teu corpo a catedral
Do amor que segue insano e sensual
Destinos paralelos encontrados.

Derramas fartas luzes sobre mim,
E adentro finalmente, sem ter fim,
Desejos em pecados incrustados.



178

Desejos em pecados incrustados
Estendem-se nas noites que vagamos,
Cativas emoções em peitos amos,
Reféns de belas sendas, ricos prados.

Os olhos tantas vezes singram Fados
Diversos das belezas que sonhamos,
Porém quando precoces novos ramos,
Estendem maravilhas, fortes brados.

De toda esta colheita prometida,
Satisfação perene em nossa vida,
Matando com firmeza a solidão.

A vida transcorrendo em manso abrigo,
Discirno entre mil joios, sacro trigo,
Sementes arrancadas deste chão.


179



Sementes arrancadas deste chão
Exprimem os meus últimos desejos,
Cumprindo os mais fatídicos ensejos,
Encontro, ao fim de tudo, a redenção.

A vida numa eterna evolução
Permite que se mostre, sem ter pejos,
Ao emitir em glória seus solfejos
Perfaz rara e sublime, tal canção.

Depois de ter sentido a tempestade,
Bebido desta vida, com vontade,
Do amor e desamor, ser simples presa.

Sabendo deste eterno ritual,
Eu sinto agora perto do final,
A morte consagrando sem surpresa.




180



A morte consagrando sem surpresa
Estende seu tapete merencório.
O mundo se mostrando mais inglório
Enquanto nos maltrata, firme, tesa.

Adaga que ferindo quem despreza
A força deste mar tão peremptório
Deixando simplesmente num velório
Herança que se quer e mesmo preza.

Depois de ser da sorte, assim banido,
Vagando pela vida qual bandido,
Nas súcias da tristeza teve o norte.

Olhar sem expressão vai se perdendo,
As trevas dentro da alma percorrendo
E a vida sente inveja de uma morte.



181

E a vida sente inveja de uma morte
No peito de quem sofre eternamente,
A vida se esvaindo na torrente
Que trama, num segundo, o firme corte.

O rio que se seca sem o aporte
Das águas desta fonte enlanguescente
Sem ter algum oásis que se sente
Aguarda insanamente a sua sorte.

Nos píncaros da dor, na cordilheira
Do nada desfrutado já se esgueira
E tenta inutilmente perceber

Alguma redenção na cruz das almas,
Cerrado o seu destino em suas palmas,
Olhando para espelho sem prazer.


182



Olhando para espelho sem prazer
Eu vejo retratada a mera ausência,
Da sorte sem saber de uma anuência
Seguindo o tempo inteiro a me perder.

O parto renegado já faz crer
Que a vida foi somente penitência,
Cerzido pelas mãos desta inclemência
A sórdida ilusão a recolher.

Espúria sensação de eternidade,
Escória do que fora liberdade,
A farsa já termina; atroz, vazia.

Na escuridão da noite em que me embrenho,
Em meio à negritude de onde eu venho.
Apenas solidão, serve de guia...


183



Apenas solidão, serve de guia
A quem se fez eterno sonhador,
Quarando o sentimento feito em dor,
Explode no meu peito, a fantasia.

Ao mar que me entreguei, quanto eu queria
Saber de cada porto a meu dispor.
Nas díspares vontades, o rancor
Sarcasmos, amarguras e ironia.

Nas lamas movediças, erigido,
Sem nexo, vagamundo, sem sentido,
Nas tramas do vazio, se entranhando,

Ao enfrentar tormentas incessantes,
Tocado pelas fúrias mais constantes,
Aos poucos, meu castelo desabando...


184


Aos poucos, meu castelo desabando,
Incúrias que carrego, aqui comigo,
Condeno meu destino ao desabrigo,
Perversas emoções; vou desfrutando.

Calvários inclementes já tomando
O sonho que, em delírios eu persigo,
A cada amanhecer; cego, eu prossigo
Na espera de encontrar um fogo brando

Que possa me aquecer ao fim da tarde,
Tocada pelas chamas, minha alma arde
E vê a solução, tenta em tocaia

Num último momento, em noite bela,
Vencer a fúria intensa da procela,
Sobrevivendo ao ver enfim, a praia.



185



Sobrevivendo ao ver enfim, a praia,
Um velho navegante inda resiste,
O tempo de sonhar se mostra triste
Porém a fantasia tudo espraia.

Corcel que se entranhou em fria baia,
Teimoso já se sela e ainda insiste
Sabendo que esperança, enfim existe,
Aguarda o plenilúnio que desmaia

Ao largo, no horizonte passa a crer,
No novo e radiante amanhecer.
Assim como o corcel também me iludo,

Porém tendo o vazio por herança,
O tempo de sonhar já não se alcança
Deixando o coração tão frio e mudo.


186



Deixando o coração tão frio e mudo
Estendo minhas mãos em reza e prece,
O amor que se permite e se oferece,
Promete ao fim da vida quase tudo.

Destino, se possível, inda mudo
E um novo alvorecer, o peito tece,
Que bom se uma alegria ainda tivesse,
E o gozo da ilusão, tenaz, estudo.

Nas farpas espalhadas no caminho,
Nas urzes coletadas, vil espinho,
A farsa se tornando bem mais cara.

Ao ver o meu retrato na gaveta,
Matando esta esperança, vão cometa,
Somente a noite fria inda me ampara.



187



Somente a noite fria inda me ampara
Trazendo um lenitivo para mim,
Expondo num momento cada escara,
Aguarda o reflorir de meu jardim.

Na noite imorredoura, a fonte amara;
Demônio disfarçado em querubim,
Matando a mansa fonte, chega ao fim,
A cruz que se abortou longe da vara.

Reflito num instante e nada vejo,
Capacho do querer e do desejo,
Aguardo no final, somente as trevas.

No céu que um dia fora mais brilhante,
Espetáculo frio e fascinante:
Estrelas fugidias, vão em levas...



188


Estrelas fugidias, vão em levas
Deixando escuridão pelo caminho,
O quanto é necessário andar sozinho
Fazendo da ilusão as suas cevas,

As dores são cruéis e tão longevas,
E nelas, sem defesas, me definho,
Nos pórticos dos sonhos, sem carinho
Apenas ilusões nas quais atrevas

A dar um ultimato à esperança
Destroçando, impassível tal criança
Nas trevas insensatas e boçais.

Assim, perambulando o tempo inteiro,
Da negritude da alma, faço o tinteiro,
Jogado pela vida sem um cais...


189

Jogado pela vida sem um cais
Vagando pelos mares da ilusão,
O quanto que mais quis, foi negação
Martírios em terríveis rituais.

Não quis nem perceber este jamais,
As alegrias em plena arribação,
Verdugos encontrei em profusão,
Amores se afastaram; abismais.

Quem dera se eu tivesse num momento,
À mesa como forma de provento
Um dia mais feliz; manso regato,

Talvez inda tivesse algum sorriso,
Num verso tão sublime e mais conciso,
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.


190


Trazendo uma emoção que aqueça o prato
Farturas sobre a mesa, desfrutando,
No doce do acalanto me fartando
Fazendo com a sorte um bom contrato.

No gozo da esperança, enfim eu me ato
Meandros desta estrada decorando
Com flóreas emoções já vislumbrando
Um mundo mais sublime em que eu retrato

O passo que em fantástica ilusão
Permita se pensar em redenção,
Trazendo, finalmente, um farto brilho.

Acordo e ao nada ver, sinto a revolta
De ter usado, insano, como escolta,
A farsa que se fez, mudando o trilho.


191



A farsa que se fez, mudando o trilho
Expressa o que melhor carrego em mim,
Lutando o tempo todo, até o fim,
O coração algoz, fero andarilho.

Fazendo da ilusão rude empecilho,
Estende os seus tapetes no jardim
Fatídica tormenta em noite clean,
Naufraga, rompe assim, meu tombadilho.

Nos estribilhos, ouço o mesmo não,
Fazendo do vazio o meu refrão
Não tenho, no final da vida nada.

Alíquota de sorte, eu sei, vazia,
Há tempos, solitário, eu já sabia:
O jogo sempre foi carta marcada.



192


O jogo sempre foi carta marcada,
A sorte se esvaindo em ledos dados,
Semeio tão somente os meus enfados
E colho em fria e negra madrugada

Colecionando quede e derrocada
Esboço em ironia, novos Fados,
Os versos tantas vezes, destroçados
Prevendo, no final de tudo, o nada.

Nas luzes e nas trevas, mil matizes,
Ao ver em descaminhos, meus deslizes,
Condeno a minha vida a tal desgaste.

No lusco-fusco eterno, apago a chama,
Fogaréu traz neve que me inflama,
O sonho se perdeu neste contraste.




193



O sonho se perdeu neste contraste
E fez da escuridão seu estandarte,
A vida se passando traz à parte
O riso que em mentiras transformaste.

As farsas que em meus dias entornaste
Tramando em cada sonho, um vão descarte
Eu quis e me perdi, porém destarte
Meu barco; em ironias, naufragaste.

Olhando firmemente pro horizonte,
Não tendo quase nada que me aponte
O rumo em que se encontra um manso bem,

Restando tão somente uma esperança
Que feita em orgástica bonança
Depois da tempestade quero e vem.


194



Depois da tempestade quero e vem
O manso amanhecer tão esperado,
Um dia tão sublime e delicado
Suprindo com delícias, farto bem.

Agora prenuncio a voz de alguém
Que mate os velhos trapos do passado,
O sonho que se entranha emoldurado
Nos céus que eternidade sempre tem.

Capacho que se torna assim liberto,
O vento da esperança aqui por perto,
Permite que se fale em contradança.

Porém ao ver surgir o amanhecer,
Inepto, sem resquícios de um prazer
Alegria se omite e não se alcança.


195



Alegria se omite e não se alcança
Arcano sentimento que em esboço
Emerge tantas vezes deste fosso
Criado nas entranhas da esperança.

Tentando já prever qualquer mudança,
Além do que eu desejo e sei que posso,
Nas fontes da ilusão, eu me remoço
Porém a ventania não descansa

E faz da solidão seu estribilho
Monótona canção em frio exílio,
Norteia cada herança do passado.

E assim, numa espiral interminável,
Encontro algoz amor, impenetrável,
Seguindo maltrapilho e maltratado.


esta espiral de sonetos, primeira parte da HÉLICE DE SONETOS, é dedicada para MARCOS VINÍCIUS DOS REIS TIRADENTES LOURES que completa seu primeiro ano de vida hoje, DOIS DE FEVEREIRO DE 2008
Publicado em: 02/02/2008 11:57:26
Última alteração:22/10/2008 16:48:22


HÉLICE DE SONETOS - ESPIRAL B PRIMEIRA PARTE

1

A humanidade vaga sem destino,
Esgarça a necessária liberdade.
Insânia, tresloucado desatino,
Espalha aos quatro ventos, falsidade.

O copo está vazio, em plenas mágoas,
Nos olhos do futuro, a solidão.
Secando ao poluir sonhos e águas,
As águias espalhando a negação.

Nas mãos de quem domina; a vã cobiça
Estende a fome em vastas plantações
A lua se escondendo, tão mortiça,
Encontra; nas manhãs, negros senões.

O amor é tão somente uma palavra,
Uma aridez resume toda a lavra...


2

Uma aridez resume toda a lavra,
O pastoreio é feito em ambição.
A mão que sempre nega é a que mais lavra
Matando uma esperança de perdão.

A podre carne exposta numa esquina
Não vale com certeza algum vintém,
No olhar quase pedinte da menina,
Uma expressão vazia, agora tem.

Escárnio se espalhando sobre a Terra,
Farrapos pelas ruas vão pedindo,
Olhar esperançoso; cego, cerra
A vida qual fantoche, se esvaindo.

Carpindo cada morte anunciada,
No fio da navalha, fria espada.

3


No fio da navalha, fria espada,
Encontra-se o fiel desta balança,
A paz há tantos anos; derrotada
Espera da amizade uma aliança.

O olhar se transformando em cruel arma,
Nos rastros da ilusão, vã meretriz.
O ser humano cumpre o triste karma
Lanhando em cada irmão, a cicatriz.

Escórias nos Congressos, no poder,
Os podres serviçais, velha sarjeta,
Ao gozo simplesmente do prazer
Marcando em crua incúria, uma tarjeta

Jogados nos tapetes da memória
Os fardos tão inglórios da vitória.


4

Os fardos tão inglórios da vitória
Estraçalhando sempre os derrotados,
A sorte se mostrando merencória
Os dias do final, anunciados.

Cadáveres de sonhos pelas ruas,
Argúcia se mostrando assim venal,
As faces da miséria, agora nuas
Numa expressão indigna e tão boçal.

A cada amanhecer, novos canalhas,
Esgoto que se mostra interminável,
Estrumes estampados nas batalhas,
Além do que já fora imaginável.

No afã de ser feliz, já vale tudo,
O sonho, morredouro, segue mudo.


5

O sonho morredouro segue mudo
Estampa em ironia a sua face.
Ferrugem vai tomando quase tudo
A podridão final, seu desenlace.

O quanto somos tolos, meu amigo,
Expressa-se em terríveis sensações.
Condena-se ao mais negro desabrigo
As esperanças morrem nos porões.

Verdugos de nós mesmos, imbecis,
Eternos vendilhões do mesmo templo,
Cordeiros sob os lobos, velhos vis
Apenas o vazio; inda contemplo.

Na morte anunciada a cada dia,
Meu verso se desfaz da poesia.

6

Meu verso se desfaz da poesia,
Retrata tão somente o que hoje vejo,
Reinado em que se fez hipocrisia
Ecoa em cada peito o vão desejo.

Distante do que fora uma partilha,
Algozes, os carrascos se aproximam,
Dos cães que nos atacam em matilha
Os vermes mais temíveis se auto-afirmam.

Parceiros desta estúpida cantata,
Escombros em total autofagia
A mão que nos carinha, cedo mata,
Bebendo cada gota em fria orgia.

O tempo incandescente trama traça
Tranqüilidade esvai-se na fumaça.

7

Tranqüilidade esvai-se na fumaça
Deixando uma tormenta como herança.
A sordidez humana tudo embaça
Apenas o vazio já se alcança.

Farrapos que eu carrego dentro em mim,
Espelham o que somos, na verdade,
A seca toma conta do jardim,
O que dizer da tal felicidade?

Bebendo tão somente deste fel,
A trama prometendo em amargura
Nas nuvens escondendo o claro céu,
A vida prosseguindo, assim, escura.

Nas trevas eu cultivo uma ilusão,
O sonho se demonstra sempre vão.


8


O sonho se demonstra sempre vão,
Moldando o simples nada, duro inverno,
Distante do calor de algum verão,
Veremos ao final somente inferno.

O tempo desfilando a fogo e ferro
Exprime a mais temível heresia,
Os sonhos se perdendo em frio aterro,
A mão volta, decerto, assim vazia.

Do quanto se plantou, velho costume,
Apenas incertezas por colheita,
Frutificando a esmo, cevo estrume
No esgoto sem final, já se deleita.

Trespassa em vergalhão uma alma aberta
A sorte, sendo espúria, nos deserta.


9

A sorte, sendo espúria nos deserta
Arcando com os preços a pagar,
Manhã tão esperada não desperta
Secando gota a gota, extenso mar.

Nos olhos da esperança, uma cegueira
Expressa o quanto somos idiotas
Perfume nauseabundo que se cheira,
Guardamos ignomínias em compotas.

A sórdida presença desta raça
Varrendo toda a Terra qual demente,
De toda a criação, a mais vil traça
Destrói o que não cria num repente.

Capachos de nós mesmos; quais cretinos,
Tramamos solidões, nossos destinos.

10


Tramamos solidões, nossos destinos
A cada novo dia um disparate,
Insanos sentimentos, velhos hinos
Fazendo do demônio, belo vate.

A fome que se espalha em ledos nós,
Expressa o que nós somos, cruel fera.
Depois da humanidade, nada após,
Estraçalhamos nossa primavera.

Qual ave de rapina; destroçamos
As matas e as florestas, rios, mares.
Os sonhos e esperanças nós podamos,
Fazendo das mortalhas, os altares.

O quanto nos foi dado por amor,
Carcome-se com ar devorador.

11


Carcome-se com ar devorador
Até não sobrar nada, simplesmente.
A criatura mata o criador,
Poder que usufruíra impunemente.

A vítima promete em contradança
Um contra-ataque firme e sem engodos.
Cerzindo; a cada dia, uma vingança
Mostrando o quanto amor é bem de todos.

A fera irá moldando novas garras
Cobrindo toda a Terra em aridez,
Rompendo, finalmente tais amarras,
Criadas por cruel insensatez.

Das sombras emergindo em convulsão,
O fogo da natura em explosão.


12

O fogo da Natura em explosão
Rasgando a face inepta desta corja.
O vento transformado em furacão,
Que a mão da raça humana agora forja.

Partícipes excêntricos, escória,
Atônita, esta espécie, má e algoz,
Promete noite longa e merencória,
Deixando como herança o nada após.

Farrapos indigentes do que somos,
Vagando por desertos sem oásis,
Escombros do que outrora, ainda fomos,
A vida se perdendo sem ter bases

No céu enegrecido do futuro,
O dia amanhecendo sempre escuro...


13

O dia amanhecendo sempre escuro
Não deixa que se veja alguma luz.
O solo carcomido, seco e duro,
Apenas o vazio reproduz.

A par deste fantasma que virá,
O fim já se tornando imaginável.
Quem sabe uma esperança brotará
Nas mãos de um ser diverso e mais amável.

Um sonho que se faz a cada dia,
Galgando a mais sublime realidade,
Nas mãos imaculadas da poesia
O gozo mais sublime da amizade.

No canto deste louco trovador,
Uma ilusão se faz em pleno amor.



14

Uma ilusão se faz em pleno amor
E deixa as suas marcas sobre nós.
Espalha nos jardins, perene flor,
Matando em seu perfume, o medo atroz.

Ourives da esperança, um verso insano,
Ao pressupor eterna fantasia,
Do nada em que se molda o desengano,
Um raro amanhecer, cedo anuncia.

Fatídica mortalha que nos cobre,
Nas ledas emoções, tanto soçobram,
Cortando o franco amor, deveras nobre,
Temíveis ilusões são as que sobram.

E o tempo em que se mostra iniqüidade.
Esgarça a necessária liberdade.



15


Esgarça a necessária liberdade,
O fardo que eu carrego; vil cativo.
Aquém do que se pinta em liberdade,
Apenas, na verdade, sobrevivo.

Ao homem se permite quase tudo,
E nisso se percebe o quanto é vago,
A paz que na qual, ingrata, eu já me iludo,
O medo de sonhar, agora eu trago.

A par do que não sei, seguindo só,
Do outrora sacro amor, nada mais resta,
Tomado pelo extenso e triste pó,
Vazio dentro da alma, assim se empresta.

Do amor que se mostrou pleno perdão,
O pastoreio é feito em ambição.



16



O pastoreio é feito em ambição,
Gerando apenas ódio e solitude.
O vento em que se fez a anunciação
Mudando, de repente de atitude

Esgarça o que tramara simplesmente
A mão que, abençoada, nos tocou.
Agora, solitário qual demente,
Vagando eternidades, sei que vou.

Do desamor insano, fazem hinos
Vendendo tanto a cruz quanto as algemas.
Entranham na pureza dos meninos,
Cobiças e mentiras, os seus lemas.

No algoz que mata, aos poucos, a esperança,
Encontra-se o fiel desta balança.



17


Encontra-se o fiel desta balança.
Na podre e esfacelada luz inglória.
A força que em luxúrias nos alcança,
A lúgubre ilusão finge vanglória.

Nos louros, nossos fardos esculpidos,
Os cardos espalhando os seus espinhos
Amores tão diversos, corrompidos,
Os cantos destruindo tantos ninhos.

Quem sabe no final da amarga chuva
Virá em outra forma, mais gentil
Que caiba aos sonhadores feito luva
Deixando para trás amor servil.

Não quero mais ouvir antigos brados
Estraçalhando sempre os derrotados.



18

Estraçalhando sempre os derrotados
A fúria desta fera ensandecida
Esmaga os pobres seres destroçados
Na dura sensação de insana vida.

O pão tão bolorento que se serve,
Aos servos por pastores mais cruéis,
Fazendo com que o fogo se preserve
Distante dos suaves, doces méis.

Usando os mais terríveis instrumentos
Entranham nos cordeiros, seus arpões.
Ao cobrarem com ágio estes proventos,
Canalhas, usurários, rufiões.

O sol que redentor assim se embace
Estampa em ironia a sua face.



19

Estampa em ironia a sua face,
A sórdida vendeta que se faz,
A morte da esperança é o desenlace
Desta profana, orgia, Satanás.

Vestindo paletós, negras batinas,
A carcomida estampa que se vê
Turvando as águas puras, cristalinas.
Matando a fantasia que se crê.

Capachos do dinheiro, seu profeta,
A turba não se cansa mais da cruz,
Comida em que esta fome se completa,
Destrói em pleno altar, pobre Jesus.

A fonte inesgotável do desejo,
Retrata tão somente o que hoje vejo.

20

Retrata tão somente o que hoje vejo
Um Deus tão temerário quanto atroz.
A morte em vida, insana, sem ter pejo,
Espalha entre os cordeiros o vil algoz.

A canalhice estampa tais mentiras
Expostas nas igrejas, nos altares,
Cortando uma esperança, agora em tiras,
Secando em nascedouro meus pomares.

O pobre de um cordeiro, tão cordato,
Por lobos, iludido, é seu refém,
Da doce placidez feita em regato
Um turbilhão insano sempre vem.

Farrapos estendidos na lembrança,
Deixando uma tormenta como herança.


21


Deixando uma tormenta como herança
Subtraído desejo de igualdade,
Espalham Deus objeto de vingança
Forjado por demente falsidade.

Aos olhos dos famintos, catedrais
Espelham o poder da corja insana.
Em lúbricos prazeres, sensuais,
A força se mostrando soberana.

De um Éden prometido, há tanto tempo,
Vassalos de uma tétrica partilha
Criando a cada passo um contratempo,
Matando cada rês, cada novilha.

Do amor que se mostrara manso e terno,
Moldando o simples nada, duro inverno.


22


Moldando o simples nada, duro inverno
Nas névoas mais profundas de minha alma.
Acendem as fogueiras deste inferno
Aonde a solidão jamais se acalma.

Mergulho em cada verso; estou liberto,
Trazendo a liberdade ao dia-a-dia.
O que se fora, outrora tão deserto
Aguado pelo bom da fantasia

Esconde-se nos olhos de quem ama,
Mesmo que percebendo a negação
O fogo do perdão a nós inflama
Mostrando ao puro amor, cada estação.

A mão que vem a glória anunciar.
Arcando com os preços a pagar.


23


Arcando com os preços a pagar
A Igreja coleciona seus fantasmas,
Carrega em cada parte de um altar
O gozo do suplicio dos miasmas.

Em nome do Cordeiro, expõe um Deus
Canalha, vil e torpe, um assassino,
Jogando sobre as costas dos hebreus
A morte do cadáver do menino.

Arguta, tal raposa de batina
Escarra sobre as chagas, nega a cruz.
A fome de poder, logo domina,
Escárnio que se mostra em podre pus.

A luta pelo amor assim combate.
A cada novo dia um disparate.


24


A cada novo dia um disparate
Decora as procissões dos infelizes.
Trazendo em romaria o que retrate
As marcas das terríveis cicatrizes.

Vendendo como vinho, este vinagre,
Entranha na miséria suas garras,
O lucro que se aufere no milagre,
Permite as mais loquazes, frias farras.

Dourado se espalhando em catedrais,
Forrada pelo sangue dos cordeiros,
Orgia feita em trevas infernais,
Em nome do divino carpinteiro.

Goteja este hemorrágico demente
Até não sobrar nada, simplesmente.


25


Até não sobrar nada, simplesmente
Do quanto foste, Pai, ludibriado,
Vendido a cada pobre penitente,
Por este lobo em padre disfarçado.

Da salvação se faz a jogatina,
Restando tão somente a podridão,
A glória feita em vida se extermina,
Deixando uma esperança no porão.

Quem dera se eu tivesse aqui a adaga
Tramada na palavra com firmeza.
Louvando a verdadeira e santa chaga,
Nadando contra a amarga correnteza.

Meu canto que em amor, assim se forja.
Rasgando a face inepta desta corja.


26

Rasgando a face inepta desta corja
A verdade se estampando em placidez.
A mão que se permite em mansa forja
Ascende à plenitude de uma vez.

Coberto pelo manto da esperança,
Meu canto não se mostra agora inútil.
A plena lucidez tão calma e mansa,
Calando o burburinho farto e fútil.

Deparo-me com vasta escuridão,
Cobrindo com mortalhas, o meu céu.
Um Deus que é feito amor, paz e perdão,
Não pode ser vendido como fel.

A treva que esta imagem reproduz
Não deixa que se veja alguma luz.


27


Não deixa que se veja alguma luz
A fonte dos prazeres desenhada
Ao nada a vaga estrada nos conduz,
Deixando uma verdade desdenhada.

Lacaios do dinheiro e do poder,
Emanam nos seus olhos, podridões.
O lobo travestido nos faz crer
No reino dos bandidos e ladrões.

A mão vai escondendo uma navalha,
Debaixo de um sorriso de ironia,
A morte em plenitude já se espalha,
Carcaça carcomida em agonia.

Aumentando, nos púlpitos, a voz,
E deixa as suas marcas sobre nós.



28


E deixa as suas marcas sobre nós
As garras desta fera, solidão.
Rasgando da esperança; antigos nós,
Espalha o vento espúrio na amplidão.

Comportas; arrebenta, invade tudo.
A lápide esculpida como altar.
Estampa o coração que se faz mudo,
Tomando o corpo inteiro, devagar.

Vergastas entranhando as minhas costas,
Espalham pelos cantos todo o sangue.
Minha alma se cortando em frias postas,
Deixando uma esperança quase exangue.

Ourives da ilusão, cruel destino:
Insânia, tresloucado desatino.



29

Insânia, tresloucado desatino
Adentra o sentimento, leva ao fosso,
O sol quando voraz, extenso, a pino,
Causando sobre a Terra, um alvoroço.

Destroços que pululam dentro em mim,
Na visceral vontade em que se fez,
O vértice dos sonhos, nega assim,
Ao fim de cada noite, a lucidez.

O quanto cultivastes os meus sonhos,
Depois não me entregaste quase nada.
Os dias que se passam mais tristonhos
Renegam, em suplício, uma alvorada.

Secando a fonte, mata a minha lavra,
A mão que sempre nega é a que mais lavra


30


A mão que sempre nega é a que mais lavra
Capaz de transformar, revolução
Na força que se estampa na palavra,
O medo se tornando um furacão.

Sentido que se faz em tanta lábia
Mudando com constância cada tema;
A força feita ofídica eu sei, sábia,
Legando à panacéia, a dor extrema.

Telúrica expressão sendo esquecida
Expõe a vida ao fado mais amargo.
Negando ao labirinto uma saída
À sorte de viver já traz embargo.

Sofrida fantasia ainda aguarda
A paz há tantos anos; derrotada


31


A paz há tantos anos; derrotada
Expressa em cada rosto a cicatriz
Do quanto sempre fora anunciada
A sorte em que se tenta ser feliz.

Ao se afastar assim do antigo rumo,
Estrídulos se escutam pela noite.
A glória se perdendo em ledo fumo,
Entranha em cada pele, o duro açoite.

Misturas que avinagram todo o vinho
A cargo de um eterno pesadelo.
Não posso conceber que um ser sozinho,
Já sabe como amor pode retê-lo.

Nas mãos tão fugidias sem vitória.
A sorte se mostrando merencória


32

A sorte se mostrando merencória
Transforma-se num fardo, de repente.
Legado o que nós fomos à memória,
Já torna a nossa vida inconseqüente.

A voz que em emoção cedo se embarga,
Aguarda um riso franco da esperança.
Tornando a fantasia mais amarga,
Olvida uma promessa de mudança.

À margem dos meus passos, vou perdido.
Não tendo mais sequer um riso franco.
Por dor e tanta angústia vou vencido.
Corcel perde o galope e segue manco;

Num toque lancinante e mais agudo
Ferrugem vai tomando quase tudo.

33


Ferrugem vai tomando quase tudo
Esgarça uma ilusão, redunda em nada.
O passo num instante audaz eu mudo,
Tentando vislumbrar uma alvorada.

Titânica vontade já se cala,
Esboço, num momento a reação.
Quem fora comensal da mesma sala,
Agora se escondendo no porão.

Partícipe voraz deste festim,
A fera se mostrando em frias garras,
O vento derrubando tudo em mim,
Rompendo da esperança, tais amarras.

Nos lúdicos castelos da alegria.
Reinado em que se fez hipocrisia.



34


Reinado em que se fez hipocrisia
Negando do amor, a majestade,
Reféns do sortilégio da agonia,
Espelha-se em meus olhos, falsidade.

As noites envolvidas em néon
Enganam os meus olhos sonhadores.
Destoa o coração perdendo o tom,
Aborta em meu jardim, antigas flores.

No peito que se mostra em plenitude,
A faca que se entranha não perdoa.
Carrasco de uma falsa juventude
Meu barco vai sem rumo, rompe a proa.

Cortina em que se mostra vil fumaça,
A sordidez humana tudo embaça.


35


A sordidez humana tudo embaça
Exprime a solitária companhia
Quem fora outrora fera se faz caça
Nos olhos de quem trama a rebeldia.

Aos borbotões as águas inundando,
Tornando inadiável cada plano,
Amor que se esvaiu, fugindo em bando
Deixando em meu caminho, o desengano.

Aporta-se em meu peito, inverno e neve,
O quanto que já fiz e se perdeu,
A mão que me fustiga, enfim se atreve
Trazendo tal mortalha feita em breu,

A gélida expressão da solidão
Distante do calor de algum verão.


36

Distante do calor de algum verão
Uma andorinha foge deste inverno,
Riscando em bando faz arribação,
Num mote que se mostra, assim, eterno.

Do caos preconizado há tantos anos,
Recebo a frigidez de tua ausência.
Os olhos que se buscam, soberanos,
Esperam ter da glória, a convivência.

O sonho que esperança em si atrela,
Esconde a realidade mais cruel,
No céu de minha noite sem estrela,
A solidão estende um negro véu.

Depois da noite insana, vã, deserta,
Manhã tão esperada não desperta.


37

Manhã tão esperada não desperta
Esfarrapado sonho que eu carrego,
A dor que já me entranha logo alerta
Fazendo do meu passo, frágil, cego.

Estampa tão somente a falsa pedra,
Dourada sensação que me faz tolo,
A força da vingança, cedo medra,
Não deixa nem um riso por consolo.

Olhando o tempo inteiro para além,
Vasculho cada ponto do infinito,
A noite solitária quando vem
Impede da esperança qualquer rito

No verso que assim teço; desatinos,
Insanos sentimentos, velhos hinos.


38


Insanos sentimentos, velhos hinos.
Avassalando toda cercania,
Nos dias esquecidos, os meninos
Tramando o que esperança já dizia

Alagam com as mágoas, cada rio,
Arcando com os as dívidas humanas,
O vento que se entranha, nega o estio,
Matando as esperanças mais tempranas.

Carcaças carcomidas pelo tempo,
Vestido das estúpidas mortalhas,
A cada novo dia, um contratempo
Forjado pelos cortes das navalhas.

Numa expressão temível de rancor
A criatura mata o criador.


39

A criatura mata o criador
Deixando este cadáver insepulto,
Raiando em tempestade o desamor,
Na glória que se louva em cada culto.

Pertuitos que se abriram nestas fontes
Impedem que o regato assim prossiga,
Enegrecendo os belos horizontes,
A marca da pantera avilta a viga.

Nas vozes que se escutam, vagos sons,
Repetem as antigas ladainhas,
No céu que se amortalha, toscos tons
Colheita que se faz em outras vinhas,

Quando ao sabor cruel da solidão,
O vento transformado em furacão.


40



O vento transformado em furacão
Não deixa sobrar nada, esboça o fim.
Sabendo desta sina de antemão,
Cultivo uma esperança dentro em mim.

Marasmos dominando toda a cena,
Qual ostra; desta dor gero a nobreza.
Buscando ao fim da vida, a sorte plena,
Lutando contra a eterna correnteza.

Um lavrador já sabe da colheita,
Entregue às intempéries, não mais teme.
A dor que se entranhando vem e espreita,
O barco da existência quer um leme.

Uma esperança lavra em céu escuro,
O solo carcomido, seco e duro.

41



O solo carcomido, seco e duro
Por mais que tenha afagos e carinhos,
Estampa a solidão em cada muro
Fatal desesperança em desalinhos.

Destroços que carrego dentro da alma,
Espalho pelas ruas e calçadas.
Nem mesmo o paraíso já me acalma,
As horas prometendo derrocadas.

Estrela que perdi já não me guia,
Meu karma se mostrando mais voraz.
Escravo da ilusão, da fantasia,
Distante de meus olhos vejo a paz.

O vento da amizade, promissor,
Espalha nos jardins, perene flor.



42


Espalha nos jardins, perene flor,
Perfume que inebria enquanto engana.
Vergando quando ao vento em seu sabor,
À força sem igual, pois sobre-humana.

Em altas cordilheiras, cismo à toa,
Vagando qual cometa, perco o rumo.
Um verso que minha alma, cedo entoa,
Pressente a solução na qual me aprumo.

Ao ver descrito assim, o teu retrato,
Encontro insensatez, mesmo tardia.
O amor se verdadeiro é bom de fato,
Moldado em cada sonho com magia.

Agora, quando expresso na inverdade
Espalha aos quatro ventos, falsidade.


43



Espalha aos quatro ventos, falsidade
A voz que insanamente nos comanda.
O verbo traduzindo iniqüidade,
Disfarça o puro enxofre com lavanda.

O peito decorado por medalhas,
Trazendo no seu bojo, assassinatos,
Herói nas cruéis guerras e batalhas,
Nas mãos ensangüentadas, vãos retratos.

Ao espalhar impune tal terror,
Nas fardas ideais mais mentirosos,
Abutre travestido de condor,
Da morte em profusão são orgulhosos.

Trazendo sobre si, putrefação,
Matando uma esperança de perdão.


44



Matando uma esperança de perdão,
A turba numa herege insensatez,
Fazendo da esperança, maldição
Cordeiros; sacrifica em altivez.

Poder que assim se encontra no dinheiro
Transformando um amigo em um vassalo.
Distante do que pensa um companheiro,
Apenas um parceiro de regalo.

A vida é um simples jogo e nada mais,
Derrotas e vitórias são contábeis.
Aluga-se em momentos, qualquer cais,
Heróis são, na verdade aqueles hábeis.

Mas quem, sinceridade plena alcança,
Espera da amizade uma aliança.



45

Espera da amizade uma aliança
O coração de um pobre sonhador,
Toando uma cantiga de esperança
Espalha aos quatro ventos, pleno amor.

Fazendo da alegria, eterno mote,
Encontra por resposta, a liberdade.
Que a fonte deste sonho não se esgote,
Trazendo imensa paz, tranqüilidade.

Alçando à mais perfeita sensação
Da glória feita em luz e calmaria.
Nos braços de um amor, revolução,
Cobrindo toda a Terra em tal magia.

Na paz dos corações apaixonados
Os dias do final, anunciados.


46


Os dias do final, anunciados
Nas velhas e terríveis profecias.
Riscando em fogo intenso; mansos prados,
Negando alvorecer de novos dias.

Desastres e tremores repetidos,
O sangue que se espalha sobre nós.
Castelos em mentiras construídos
Mostrando um Deus carrasco, duro algoz.

Ao homem que se mostra tão submisso,
A triste sensação da dor imensa.
Não restará sequer beleza e viço,
A morte será santa recompensa.

Do todo construído, o vago nasce
A podridão final, seu desenlace.


47


A podridão final, seu desenlace
Cadáveres servindo de repasto
A quem se fez um deus em vil disfarce
Do qual, conscientemente eu já me afasto

Buscando perceber o Deus amigo,
Que traz em suas mãos, todo o perdão.
Ao deus que é vingativo eu não consigo
Abrir completamente o coração.

Que fosse sempre assim, e para todos.
Um Pai que amasse tanto cada filho.
Porém os vendilhões fazem dos lodos
Da morte insana e inglória um rico trilho.

Sabendo ser difícil o que eu almejo
Ecoa em cada peito o vão desejo.


48


Ecoa em cada peito o vão desejo
Que traga ao fim do dia, a bela lua
Ouvido que recende a um realejo
Ainda no passado continua.

Estrelas em fantástica explosão
Rolando pelos céus vão sem destino.
A cada novo rito a negação
Daquilo que ensinara o Deus menino.

Ofertas enriquecem salafrários,
Pastor só quer da ovelha o vil metal.
Cordeiros imbecis são voluntários,
Servindo de alimento ao bacanal.

Depois de satisfeita a gorda pança,
Apenas o vazio já se alcança.



49

Apenas o vazio já se alcança
Na formidável cena que se vê
A traça como enquanto faz a dança
E vende o quê da graça em que não crê

Trazendo em suas mãos a falsa espada
Matando o imaginário Satanás
Jogando o seu cadáver pela escada,
Pergunta depois disso: “Quanto dás?”

Um rufião em guizos vocifera
Espanca qualquer vítima imbecil.
Da ovelha que inda pensa cria a fera.
Com olhos de ganância, pobre e vil.

Cuspindo neste Deus do amor eterno,
Veremos ao final somente inferno.



50



Veremos ao final somente inferno
Criado pela estúpida mentira.
De um pai tão amoroso e sempre terno
A lança que ao irmão, já se desfira.

Na gula desta súcia inesgotável,
Não restará sequer um só centavo.
Lutando contra um demo imaginável
Decerto o bom pastor fica mais bravo.

Jogando assim por terra o que dizia
O Rei que se fez pobre carpinteiro.
A faca com que corta; amarga e fria
É sustentada apenas por dinheiro.

Numa sede impossível de aplacar
Secando gota a gota, extenso mar.



51

Secando gota a gota, extenso mar
Do sangue de uma ovelha já se farta,
Aos berros, não se cansa de gritar,
A paz celestial, logo descarta

Melhor uma batalha a cada dia.
Vendendo este armamento numa igreja,
Criando a mais temível fantasia,
Riqueza pelos cantos já poreja.

Os pobres cordeirinhos não percebem
Que o rumo em que se busca a claridade,
Não é o que os pastores preconcebem
Fantástica guerrilha-falsidade.

Cansei-me enfim de ouvir tal disparate,
Fazendo do demônio, belo vate.


52

Fazendo do demônio, belo vate
Levando assim pro abismo cada ovelha,
Qual fosse, de um leilão, vil arremate,
Não deixam sobrevir qualquer centelha.

Em todos os canais, rádios, estão
Comprando além de horários, consciências.
Ao ver a tal infausta procissão
Legando aos mais humildes; penitências

Eu sonho com a volta de Jesus,
Que o joio seja agora dizimado.
Não basta o seu martírio, dura cruz
Agora é patrimônio do prelado.


Tomando da canalha inconseqüente
Poder que usufruíra impunemente.



53

Poder que usufruíra impunemente
Os vermes disfarçados de pastores,
Exercito criado, de dementes,
Espalham pela Terra dissabores.

Gargalham-se depois desta colheita
Que é feita na voraz e má rapina.
Em Lúcifer a corja se deleita
Enquanto a vã ovelha se alucina.

Na fonte inesgotável e teatral,
Demônios sustentando os vis instintos
Deixando para traz paz divinal,
Amores e amizades vão extintos.

Um novo deus nascido em plena corja
Que a mão da raça humana agora forja.


54


Que a mão da raça humana agora forja
Um pai desnaturado e sem amor.
Vendido nos balcões por suja corja
Que espalha sobre tantos, o terror.

Riquezas prometidas, salvações.
Não cabem mais palavras pra dizer,
Paguemos em suaves prestações
A eternidade em glória e bel prazer.

Nos ofertórios, mesmo sacrifício,
Misérias são furtadas, dia-a-dia.
Os mestres deste “nobre” e caro ofício,
Refazem num altar, nigromancia

Quem rouba, da verdade, a plena luz
Apenas o vazio reproduz.




55


Apenas o vazio reproduz
O olhar de quem se faz o supra-sumo.
Das chagas do Senhor jorrando pus,
Ao ver os filhos todos sem ter rumo

Um dia, enfim cansado disso tudo,
Virá com fogo e ferro, uma mensagem.
Deixando este universo quieto e mudo,
Trazendo uma verdade sem miragem.

Assim ao se mostrar um Deus amigo,
Que busca nos doentes seu rebanho,
Aos pobres infelizes, bom abrigo,
No amor que é sem igual, vivo e tamanho.

Tocando suas mãos por sobre nós,
Matando em seu perfume, o medo atroz.


56

Matando em seu perfume, o medo atroz
Floradas de esperança em primavera,
No aroma que se espalha espanta o algoz
E mostra ser possível a nova era

Aonde uma amizade seja santa,
E o amor, marca sublime de um Deus bom.
Na força e na beleza em que se planta,
A natureza traz o sacro dom

Que um dia glorifique toda a Terra,
Marcando cada face com sorrisos,
Negando qualquer luta e qualquer guerra,
No alvorecer dos sonhos, paraísos.

Porém secando a fonte perco as águas.
O copo está vazio, pleno em mágoas.


57


O copo está vazio, pleno em mágoas
Abrindo das saudades, as comportas
Inunda o coração em negras águas
Ao fechar, atroz, antigas portas.

No rosto adolescente que lagrima,
As marcas da vendeta pelas ruas.
Só tendo algum trocado que redima,
As moças vagam cegas, seminuas.

As pagas por serviços mal prestados,
Resumem a loucura em que chegamos,
Depois de tantos séculos passados,
Cativas prostitutas com vis amos

Infância que tão cedo determina
A podre carne exposta numa esquina.


58

A podre carne exposta numa esquina
É como um bofetão dado em MEU PAI,
O bem de uma esperança assim se mina,
E a máscara canalha, agora cai.

Cruel insensatez que nos carcome,
Mostrando uma heresia sem igual,
Quem planta em covardia a dura fome,
Recolhe esta verdade bestial.

Poder que é feito assim, em grana e sexo,
Extrema a nossa luta, num momento.
Humanidade segue sem ter nexo
Espalha sobre tantos tal tormento.

Sob os olhos satânicos, tal karma,
O olhar se transformando em cruel arma.


59


O olhar se transformando em cruel arma
Nos morros e barracos da cidade,
Nem mesmo a fantasia já desarma
A vítima cruel da iniqüidade.

Na cocaína, tráficos, maconha,
Nos tráfegos, os carros virulentos,
Espalham depressa tal peçonha
Amor segue sem rumo, perde os ventos.

Na capa das revistas, nos jornais,
Notícias tão diversas nos dão conta
Do mundo em que o domínio é dos boçais
A liberdade segue cega e tonta.

Na exploração das carnes quase nuas
Cadáveres de sonhos pelas ruas.


60



Cadáveres de sonhos pelas ruas
Demonstram demos vivos e canalhas,
Banquete que se faz das carnes cruas
Esconde; em seus talheres, vis navalhas.

Ao ver no olhar faminto da criança
As mãos endereçadas ao bom Pai,
A sede de justiça já se alcança
O músculo com ira se contrai.

A porta da esperança está fechada,
Nem mesmo nas igrejas vejo amparo.
A vida se perdendo, derrotada,
Amor puro se torna um bem mais caro

Na porta que se fecha; eu já te digo
O quanto somos tolos, meu amigo.


61


O quanto somos tolos, meu amigo;
Expressa-se em verdades absolutas.
Do quanto eu nada sei, agora eu digo,
Nestas metamorfoses, nossas lutas.

Conhecimento mostra este paiol
Na explosiva e mimética mistura,
Da luz que nos domina, um girassol
Saber em plenitude já procura.

Aos poucos nos perdemos; insensatos,
Olhando para o sol, seguimos cegos.
A fonte não prossegue nos regato,
O mar traz dura seca em vagos egos.

Assim matamos logo a cara trilha,
Distante do que fora uma partilha.

62


Distantes do que fora uma partilha
Perdidos, prosseguimos pela vida.
A solidão nas curvas já nos pilha
Ao encontrar minha alma distraída.

Esgarça com vigor uma esperança
Fazendo deste encanto, sordidez.
Olhar que ao simples nada, a sorte lança,
Destrói toda a verdade de uma vez.

Das lúdicas estâncias infantis,
Esquecidas há tempos pelos cantos,
A projeção de um dia em cores gris,
Distribuindo à farta, os desencantos

Seguindo para o abismo até o fim,
Farrapos que eu carrego dentro em mim.


63

Farrapos que eu carrego dentro em mim
Mortalhas espalhadas pelo vento,
Secando sem dar tréguas, o jardim,
Esterco com a dor e o sofrimento.

Partícipe da orgia, duro infausto,
Esqueço os meus sorrisos, ganho a dor.
Encarcerando a vida em frio claustro,
Na plêiade de sonhos, o estupor.

As lavas fumegantes que hoje piso,
Permitem que se espalhe a negação,
Do quanto deseja um paraíso,
Encontro a força vária de um vulcão.

Da negra solidão, nada descerro,
O tempo desfilando a fogo e ferro.


64


O tempo desfilando a fogo e ferro
Não traz sequer um brilho esperançoso,
No frio que se espalha, também me aferro
Moldando amanhecer tempestuoso.

Carcaça do que fora, outrora, luz,
O fogaréu atinge todo o campo.
Olhar que tal cegueira reproduz
Não deixa sobrevir nem pirilampo.

A vida vai passando, simplesmente,
Os rastros se perdendo no vazio.
O canto que tentara, vai demente,
Do passo inebriado, nada crio.

Trazendo a solidão, cruel bandeira,
Nos olhos da esperança, uma cegueira.


65



Nos olhos da esperança, uma cegueira
Não deixa que se veja o cais distante.
Não tendo mais na vida, quem me queira,
O rio se perdendo da vazante.

Mortiças, frágeis luzes não me guiam,
Estrelas adormecem dentro em mim.
As forças do vazio já se aliam
Secando qualquer forma de jardim.

Das correntes, rupturas insensatas,
Nos pulsos vão atadas as algemas
Olhares sem ter brilho, tu retratas,
O nada passa a ser os nossos lemas,

Reflete tão somente agora, após,
A fome que se espalha em ledos nós


66

A fome que se espalha em ledos nós
Tornando esta corrente insuportável.
Nas mãos, cruel verdugo, fogo atroz,
Deixando uma esperança inalcançável.

O quanto que perdi e não sabia,
O verso que se fez tão merencório.
Da carne quase nua que vendia,
As marcas do canalha e vil empório.

Chagásica lição que nos foi dada,
Há tempos esquecida ainda ecoa.
Na marca da pantera tatuada,
O brilho da alegria assim se escoa.

Um amanhã que o sol em fogo alcança
A vítima promete em contradança


67


A vítima promete em contradança,
Nas lutas quilombolas, capoeiras,
Depois da tempestade sem bonança
O sol arrebatando estas viseiras

Queimando sem ter dó qualquer retina,
Ao carcomer os restos desta fera.
Nas mãos ensangüentadas da menina,
Eu vejo renascer a primavera.

Nos tiros espalhados nas favelas,
Nos olhos do menino que trafica,
Riscando o negro céu, claras estrelas,
Futuro sanguinário se edifica.

Deixando um novo rastro em nossa história
Partícipes excêntricos, escória.


68



Partícipes excêntricos, escória
Tomando já de assalto a burguesia,
Matando este dragão, mudando a história
Promessa benfazeja de outro dia.

Fuzis ao tocaiarem numa esquina
Mostrando a nova senda, frágil, vária.
A podridão se entorna e assim domina,
Reinado da vingança traz rei pária.

Na fome cocainômana dos nobres,
Repasto para a nova ordem plebéia
Nos risos desdentados e sem cobres,
Rosnando sobre os mortos, a alcatéia.

O futuro em loucuras nascerá
A par deste fantasma que virá.


69

A par deste fantasma que virá
Arrebentando todas as correntes,
Eu sinto o vento forte desde já
No canto tresloucado dos dementes.

Arpoando caminhos desvairados,
As marcas das galés inda resistem,
Os olhos muitas vezes embaçados,
Tocando os que verdades sempre omitem

Farrapos estendidos nos varais,
Numa esponjosa carne lancetada.
As vozes entoando madrigais,
Prometem lacerar cada alvorada.

Erguido dum escombro desumano,
Ourives da esperança, um verso insano.


70


Ourives da esperança, um verso insano
Espalha pelas ruas da cidade
Um cheiro nauseabundo e soberano,
Causando a mais cruel tranqüilidade.

Macabras gargalhadas são ouvidas
Nos bares e botecos, nos puteiros.
As hordas de molambos, decididas
Invadem os quartéis, mil companheiros.

Famélicas mortalhas esgarçadas,
Olhando para trás, por sobre os ombros,
Na pele, cicatrizes tatuadas
Nascidas e criadas dos escombros.

Tal fênix se refaz da podridão,
Nos olhos do futuro, a solidão.

71




Nos olhos do futuro, a solidão
Espelha o que se fez há tanto tempo.
A morte por total inanição,
Aos olhos do poder, um passatempo.

Na orgástica luxúria do Congresso,
Vendetas sorrateiras; tão abjetas.
E do povo esfaimado, o sol egressa
Abrindo pelos chãos, fartas valetas.

Valetes e janotas, carne farta,
As damas procurando vagabundos,
Sorriso de ironia não descarta
O gozo que terá nos novos mundos.

A vida que a verdade não contém,
Não vale com certeza algum vintém.



72

Não vale com certeza algum vintém
A vida feita em podre serventia,
O tempo amargo nega o que mais tem,
Nefasta claridade cega o dia.

O vaso que se quebra em mil pedaços,
Trazendo o corte insano aos frios pés.
A boca vomitando os estilhaços
Estronda com mais força e de viés.

Abutres lacerando a carne frágil,
Na pútrida rotina, a vida segue,
Cobrando a cada sonho sem deságio
Deixando uma esperança quase entregue.

Vivendo tão somente por um triz,
Nos rastros da ilusão, vã meretriz.


73

Nos rastros da ilusão, vã meretriz
Não vejo nem sinais do que sonhei.
A mão que esconde a cena, cega atriz,
Fazendo desta esbórnia, a nova lei.

Amor que serpenteia mudo e falso,
Empurra o meu futuro ao calabouço,
Ao ver já retratado o cadafalso,
Não vejo, não percebo e não mais ouço.

Calado; eu vou seguindo na calada,
E tento último grito, desespero.
A vida que se fez teleguiada
Encontra na amargura, o seu tempero.

A fera que se entranha em nossos prados,
Estraçalhando sempre os derrotados.



74

Estraçalhando sempre os derrotados
A garra da pantera inatingível.
Os pés dos andarilhos vão atados,
O sonho se demonstra perecível.

Carrasco que se esconde em carapuça,
Portando nos sorrisos, ironia,
A sede de vingança já se aguça
E a gula se transforma: autofagia.

Na fome insaciável, canibais,
À cântaros, as lágrimas escorrem,
Nas danças insensatas, sensuais,
As víboras burguesas, enfim morrem,

O cheiro das temíveis podridões,
Expressa-se em terríveis sensações.


75



Expressa-se em terríveis sensações
O verso que sem dó, convulsiona,
Jorrando a fantasia aos borbotões,
A sorte a cada dia questiona,

Poluem os meus sonhos, pesadelos,
E neles velhos elos reunidos.
Na paz que tanto penso convertê-los
Os medos tomam todos os sentidos.

O quanto que pretendo e nada faço
Trazendo a voz contida, rasga o peito.
Ao penetrar profunda, a faca e o aço
Desviam meu destino de seu leito.

Ao largo do que os sonhos subestimam,
Algozes, os carrascos se aproximam.
Publicado em: 06/02/2008 11:40:57
Última alteração:22/10/2008 18:20:56


HÉLICE DE SONETOS - ESPIRAL B FINAL




151


Rompendo, finalmente tais amarras
Eu pressuponho um canto mais gentil,
Que espalhe sobre a Terra em mil fanfarras
O amor que há tantos anos se previu.

Num gesto humanitário que se espalhe
E crie uma esperança universal.
Livrando todo barco de um encalhe,
Mostrando a paz possível, magistral.

Os fardos bem pesados do passado
Atados sobre nós, dura galé,
Ainda que no mesmo e triste Fado,
Permite um auto feito em plena fé.

Maculam a pureza destes pomos,
Escombros do que outrora, ainda fomos.


152


Escombros do que outrora, ainda fomos
Persistem como enormes pesadelos,
Guardados na lembrança, velhos tomos,
Difícil, na verdade não mais vê-los

Porém ao criar asas, eu percebo
Que resta ainda um brilho de esperança
No vento que mais calmo ora recebo
Futuro benfazejo já me alcança

Quem sabe poderei cantar contente,
Aguando com sorrisos meu jardim,
E o mundo transformado de repente
Mudando cada espinho dentro em mim.

Pressinto o alvorecer de um belo dia,
Nas mãos imaculadas da poesia.


153


Nas mãos imaculadas da poesia
Eu sinto a mansidão que procurara,
O pensamento à sorte já se alia,
Mostrando em meu destino, glória rara.

Esboços dos meus sonhos recriando
Atravessando as noites invernais,
O mundo mais tranqüilo; vou moldando
Fazendo da alegria porto e cais.

Navego em oceanos mais tranqüilos
E sinto a maresia me tocando,
Nos sonhos em bonança encontro asilos
E a vida em calmaria vai passando.

Na dor que fatalmente nos recobre,
Cortando o franco amor, deveras nobre



154


Cortando o franco amor, deveras nobre
Desilusão se mostra claramente,
No solo em que plantamos, seco e pobre,
Não brotará sequer uma semente.


A noite que se fez tempestuosa,
Por vezes não permite o alvorecer,
Enquanto a vida segue caprichosa,
Matando qualquer forma de prazer

Eu tento recobrar os meus caminhos,
E vejo a sorte ingrata abandonar
Negando a liberdade aos passarinhos,
Cegando a força plena do luar.

Assim, quem se entregou aos furacões,
Encontra; nas manhãs, negros senões.


155

Encontra; nas manhãs, negros senões
Quem teve insensatez como desdita.
Não tendo no horizonte mais verões
Não pode descobrir ouro em pepita.

Da luz diamantina e gloriosa,
Não sabe discernir sequer o brilho,
A luz tão merencória e caprichosa
Prefere percorrer um novo trilho.

Assim neste negrume interminável,
Eu sigo meu caminho passo a passo,
Olhando para o véu indecifrável
Eu perco lentamente o meu espaço

Num dia prometido, outrora lindo,
A vida qual fantoche, se esvaindo.


156



A vida qual fantoche, se esvaindo
Não deixa sobre o solo nem sinais,
A lua com certeza não mais vindo,
Esquece os raios claros, sensuais

Temível criatura nos domina,
A farpa que se entranha em nossa pele,
Estrela que se perde e se alucina,
A sorte de um desejo já repele.

O riso fora farto, agora frágil;
O paraíso está sempre distante,
Não quero mais pagar qualquer pedágio
Apenas um prazer calmo e constante,

Porém somente encontro a vã sarjeta,
Marcando em crua incúria, uma tarjeta.

157


Marcando em crua incúria, uma tarjeta
Selando em nossa pele, tatuagem,
A vida que se mostra tão abjeta
Trazendo a vã tristeza na bagagem

Expressa o que pressinto em noite tensa,
Deixando para trás qualquer caminho.
Felicidade chega a ser ofensa,
Na outrora flórea senda, resta espinho.

As cinzas dentro da alma proliferam
E criam gestações proibitivas
As dores incontidas vociferam
Matando as mais sensíveis sempre-vivas.

O espaço de viver, intransitável,
Além do que já fora imaginável.


158

Além do que já fora imaginável
Nos tempos de neblina e de rancor,
O sonho se mostrando inalcançável,
Não deixa nem sequer nascer o amor.

Estridulosa noite em vagas ondas,
O mar não se repete, disso eu sei.
As luas que perdi, plenas, redondas,
Durante a vida insana, o nada achei.

Fomenta-se a temível despedida,
Forrando o chão em flores maltrapilhas,
O quanto que tentei herdar da vida
Esvai-se nas estrelas andarilhas.

Do corpo que se fez altar e templo,
Apenas o vazio; inda contemplo.



159

Apenas o vazio; inda contemplo
E nada restará em pouco tempo.
Seguindo na verdade o mau exemplo,
Perdido no primeiro contratempo.

Carcaças espalhadas no canteiro,
Permitem-me dizer do quanto trago,
Resíduo se tornando corriqueiro,
O pé que me machuca nega afago.

Nos bares, as mais puras aguardentes,
Rolando um carrossel dentro de mim,
Os lábios se procuram quais dementes,
Encontram tão somente o mesmo gim.

Fingindo ter comigo uma alegria,
Bebendo cada gota em fria orgia.



160


Bebendo cada gota em fria orgia,
Inebriado e tolo, canto os versos,
Instantes de loucura e de magia,
Amores, sentimentos tão dispersos.

Rascunhos de esperança, caricatos
Extremam os velozes andamentos,
Em novos, repetidos, loucas atos,
Os disparates ganham pensamentos.

A pútrida farsante ganha espaço,
Senzalas que carrego no meu peito,
O quanto nada tive agora eu traço
Açoda-me o vazio de meu leito

Cansado desta insone e vã procura,
A vida prosseguindo, assim, escura.


161


A vida prosseguindo, assim, escura.
Estende em meus caminhos o tapete
Que ao mesmo tempo trama em amargura
Enquanto esta ironia se repete.

Cigarros que esparramo pelas ruas,
Preparam o meu último delito,
Nos arcos dos meus sonhos tu flutuas
E mostras a dureza de um granito.

Assim, perambulando em noite insone,
Escrevo o meu destino a ferro e fogo,
Adentro neste eterno e vário cone,
Perdido ao adentrar o sujo jogo.

Enquanto a dor intensa em fria espreita
No esgoto sem final, já se deleita.


162



No esgoto sem final, já se deleita
Bordando em plúmbeos tons, o desespero
Dejeto se acumula enquanto deita,
Escalpelando a sorte, em gesto fero,

A mordaça já cabe e tem guarida
Nos óstios inseridos no contexto,
Fugazes ilusões negando a vida,
Mudando no final o antigo texto.

Dos seixos que se espalham na cascata
As águas vão rolando, corredeiras,
No fogo que consome toda a mata
Acinzentando o verde das bandeiras

O ser humano, vil fera demente
Destrói o que não cria num repente.


163


Destrói o que não cria num repente
Esgoto a céu aberto poluindo,
Sentido de partilha segue ausente,
O tempo sem limites se esvaindo.

Tomados por cruel melancolia,
Esboços do que fomos; marionetes
Carregam aos jograis sua agonia
No olhar estupefato que arremetes.

Descemos para o nunca, nem talvez,
Argüindo nosso tempo de viver
Sabemos da cruel estupidez
Que doura nossa pele em vão prazer

Ao largo da esperança, meus olhares,
Fazendo das mortalhas, os altares.


164


Fazendo das mortalhas, os altares.
Dos cataclismos faço a minha cama,
Na fétida ilusão, planto os pomares
Arcanas sensações moldando a trama.

Abarco em meus olhares, catedrais,
E vejo em cada abóbada estas marcas,
Da dor que ao se sentir deixa os sinais,
Da solidão que invade velhas barcas.

Minhas retinas seguem tão cansadas,
Presbíope esperança já se esvai
Afônica lembrança destas fadas
Aos poucos me tomando, sempre trai.

Tatuam cicatrizes, podre tez,
Criadas por cruel insensatez.


165


Criadas por cruel insensatez
As lépidas saudades se esvoaçam,
Do mesmo material em que se fez
Sentidos que tocados, nada traçam.

Ourives da esperança morre à míngua,
Por milhas, tantas léguas à deriva,
O gosto da amargura em minha língua
Fazendo da alegria, dura estiva.

Esfacelado sonho, um eremita,
Esconde-se em vital desesperança
O sangue em minhas veias não palpita
Deixando sempre ausente esta aliança

Nas mudanças diuturnas, noutras fases,
A vida se perdendo sem ter bases.


166



A vida se perdendo sem ter bases
Não deixa sequer marca ou cicatriz,
Tocada pelas fúrias dos antrazes
A sorte perecendo, meretriz.

No corpo delicado da ilusão,
Menina que se vende sem juízo,
Apenas me restou a podridão,
E irônico sarcasmo de um sorriso.

O quase se tornando repetido,
O nunca me parece mais real,
O mundo que eu queria repartido
Agora se esvaindo, vão; boçal.

Deixando para trás sem liberdade,
O gozo mais sublime da amizade.


167

O gozo mais sublime da amizade
Esfacelado agora pela dor,
Fazendo do meu canto, insanidade,
Do nada em que surgiu, nada a compor.

Ao decompor das almas pressuponho
O fim de nossa etapa pela Terra,
Deixando sucumbir o raro sonho,
Apenas a tristeza aqui se encerra.

Transborda este riacho, vira mar,
Inunda com mil ratos cada sala,
Olhando para o espaço a divagar,
Quem ama, na verdade nada fala,

Nas dívidas perenes que se cobram,
Temíveis ilusões são as que sobram.



168

Temíveis ilusões são as que sobram
Depois de termos tantas decepções
As parcas alegrias já nos cobram,
Mas deixam como herança evoluções.

Os olhos no futuro, os pés cansados,
Os dias que virão serão de luta,
Os cortes, com certeza, aprofundados,
A voz amargurada inda se escuta.

Na sede de viver e ser feliz,
Espinhos maltratando os nossos pés,
Do quanto que não tive e o que mais quis
Pesando em minha vida, vãs galés.

Pra quem a seca mata cada lavra,
O amor é tão somente uma palavra.


169


O amor é tão somente uma palavra
Aos olhos solitários de quem anda,
Distante do que fora outrora a lavra,
Colheita sem cuidados já desanda.

Servindo como escárnio, tolamente,
Persegue o que não sabe e nem conhece,
A solidão invade, e na torrente,
O dia mal surgindo se escurece.

Aos poucos vai perdendo as esperanças,
Vencido pelo medo de sonhar,
Sorrisos mal guardados nas lembranças,
A vida se transforma devagar

Na dor amanhecida e eternizada,
Carpindo cada morte anunciada.



170


Carpindo cada morte anunciada
O dia-a-dia traz escuridão,
A mão que o apoiara vai cansada,
O desamparo encarna a solidão.

Vontade de morrer, se libertar,
O quanto foi difícil cada passo,
Distante desta praia, o ledo mar,
O vazio ocupando todo espaço.

Nem mais o lacrimejo, a dor mitiga,
O tempo vai girando em carrossel,
Rodando enquanto, rude, desabriga,
Cinzento e tão pesado, o amargo céu.

Sabores agridoces da vitória,
Jogados nos tapetes da memória.


171



Jogados nos tapetes da memória
Momentos de provável ilusão,
O quanto se pensou fosse vitória
Termina nas inglórias do senão.

Ascende dos cigarros espirais,
Imagens refletindo sentimentos,
Felicidade vai pra nunca mais,
Alegrias são raros, bons momentos.

A boca que beijara, não queria,
O corpo que tocara em noite imensa,
Ao menos, num segundo, prometia
O gozo alentador por recompensa,

Um resto de esperança ao peito mudo,
No afã de ser feliz, já vale tudo.


172



No afã de ser feliz, já vale tudo,
Olhando para estrelas vejo o sol,
Sorrisos e palavras, eu me iludo
E sigo a vida feito um girassol,

Buscando em cada réstia a luz intensa
Bebendo da ilusão a me fartar.
Bastando qualquer coisa que convença
Mergulho; destemido, adentro o mar.

Fugindo de mim mesmo, meus reflexos
No espelho desta vida, distorcidos.
Tocando corpos nus, perdendo os nexos,
Herético viver, loucos sentidos,

Numa vã ilusão, falsa alegria,
Na morte anunciada a cada dia.


173


Na morte anunciada a cada dia
Personagens inglórios desta trama,
Nos guizos tão ingratos da alegria,
Tristeza tocaiada logo chama

Tramando tal tormenta em noite clara,
Os raios vão tomando este cenário.
O vento desabriga e desampara,
Espetáculo audaz e temerário.

Num ato mais insano, um vão mergulho,
Bebendo da aridez feita miragem,
Distante desta praia ouço o marulho
Convite ao maremoto, vã viagem.

Do quanto que pensara ter em graça,
O tempo incandescente trama traça.


174


O tempo incandescente trama traça
E tudo desabando, eu vejo agora.
Olhar inebriado já se embaça
O cinza deste céu, tudo decora.

Numa cólera inútil me perdi,
Errante caminheiro pela vida.
O quanto procurara, e nada aqui
Somente a sensação da despedida.

O verso emudecido segue à toa,
Meus dias foram mudos, cegos, tolos;
A chuva em tempestade não foi boa,
Abrindo várias fendas nestes solos.

Herdando tão somente a escuridão,
Nas trevas eu cultivo uma ilusão.


175



Nas trevas eu cultivo uma ilusão
De um dia que virá, mas nunca veio.
O mar que prometeu arribação
Na volta trouxe apenas o receio.

Ourives do vazio; nada fiz,
As marcas do passado, tatuadas,
Na pele a mais profana cicatriz,
Funéreas cores, cruzes demarcadas.

A vida algumas vezes generosa,
Deixou; em meu canteiro estas sementes,
Pensara na colheita, lírio e rosa,
Espinhos proliferam em torrentes.

Entregue tão somente à luz incerta,
Trespassa em vergalhão uma alma aberta.

176


Trespassa em vergalhão uma alma aberta
As falsas esperanças de melhora,
A vida prosseguindo, vã, deserta,
O tempo de viver já se demora.

O quase se tornando uma rotina,
Os medos vão tomando o dia-a-dia.
Apenas o vazio descortina
Aborta a mais ingênua fantasia.

O corte se aprofunda lentamente,
Deixando em carne viva esta ilusão,
O fogo que nos toca, incandescente
Esgota toda a força, joga ao chão.

Cometendo as insânias, desatinos,
Capachos de nós mesmos; quais cretinos.


177



Capachos de nós mesmos; quais cretinos
Algozes da esperança, simples tolos.
Detentos da agonia, peregrinos
Que encontram ao fim de tudo, desconsolos.

Não tendo os argumentos necessários
Qual haste que se verga a qualquer vento,
Mudando tão somente de cenários,
Iguais em solidão e sofrimento.

Nas noites embaladas por mil drogas,
Doutores, prostitutas e mendigos,
Mistura que se faz; farrapos, togas,
Caminham para os mesmos desabrigos.

Destroem sem perdão e sem pudor,
O quanto nos foi dado por amor.


178



O quanto nos foi dado por amor
Jogado pelas ruas, qual dejeto,
Estampa o mais estúpido rancor
Mostrando o nosso rumo predileto

Vadio coração vai giramundo,
Rodopiando insano, não descansa,
O tempo se esvaindo num segundo
A noite não virá; decerto, mansa

Intensa madrugada prometida,
Olhares vão mirando o mesmo nada.
Num labirinto, longe da saída,
Rolando o sentimento pela escada;

No centro disto tudo, um furacão,
Das sombras emergindo em convulsão.


179


Das sombras emergindo em convulsão
Dantesca tempestade, fogaréu,
Alçando num momento esta amplidão
Impede que se veja, enfim, o céu.

Explosões astronômicas, fantásticas,
A cada novo dia, dissabores,
As horas mais confusas e bombásticas
Mistura de loucuras e terrores.

E nesse apocalipse prometido,
O quanto não tivemos é contado,
O mundo em desvario travestido,
Negando qualquer sombra do passado,

Longínquo, bem distante, um claro muro,
No céu enegrecido do futuro.


180

No céu enegrecido do futuro,
Ineptas armadilhas da esperança,
O chão vai se tornando seco e duro,
Alegria, remota e má lembrança.

Redomas erigidas não protegem,
O vendaval não pára, vem mais forte,
As forças da natura agora regem,
Mostrando a negra face, vida e morte.

Rugindo em tempestades desabridas,
Condenam toda Terra ao desabrigo,
Epidemias secam tantas vidas,
Vinganças do universo, sonho antigo.

Restando qualquer forma de calor,
No canto deste louco trovador.


181


No canto deste louco trovador
Um último suspiro da esperança,
Quem traz o peito aberto, sonhador,
Às vezes outro encanto sabe e alcança.

Riscando em claro giz o negro céu,
Espera alguma forma redentora,
Que traga num momento o seu corcel
No sonho que do nada sempre aflora.

Criando a fantasia necessária
Que possa permitir algum remendo,
Aos poucos, da outrora temerária
Luz, em negra noite renascendo.

Enfrenta em destemor, a tempestade,
E o tempo em que se mostra iniqüidade.



182



E o tempo em que se mostra iniqüidade
Permite o mau cultivo, gora a planta,
O que granara outrora em liberdade
Em plena seca agora desencanta.

Os versos se perdendo sem um eco,
O medo se espalhando sobre todos,
Caminho sem saída, escuro beco,
Tramando em festival, erros, engodos.

Mortalha nos servindo de lençol,
A noite interminável se aproxima;
Jamais renascerá, enfim o sol,
O pessimismo entorna e já domina;

Nem mesmo restará qualquer palavra,
Uma aridez resume toda a lavra...


183


Uma aridez resume toda a lavra
Que um dia se mostrara redentora,
Usada como adaga, a má palavra
Insana e tresloucada; já vigora.

Criando multidões teleguiadas
Por mãos que preconizam a aridez.
Espinhos espalhados nas estradas,
O mundo se perdendo, não tem vez.

Pastores vão matando estes cordeiros,
Num sacrifício tolo e ritual,
Jogados dos cruéis desfiladeiros,
Na busca pela paz celestial.

Esperança se encontra derrotada
No fio da navalha, fria espada.



184

No fio da navalha, fria espada
O corte mais profundo se anuncia,
Nos trajes da manhã tão esperada
Ultrajes renovados, dia-a-dia.

Arrastam-se correntes pelas ruas,
Olhares dos pedintes penitentes,
Nas romarias, almas semi-nuas
Mordendo uma esperança sem ter dentes.

O quase se tornou lugar-comum,
O risco de viver se agigantando.
De todos os meus sonhos, restou um,
A paz que espero um dia ver voltando

Trazendo em cor suave, em nova história,
Os fardos tão inglórios da vitória.


185


Os fardos tão inglórios da vitória
Pesando como cruz em minhas costas,
A luta tão cruel e merencória
Cortando qualquer carne em finas postas.

Estrela derradeira que desmaia
Deitada no horizonte enegrecido,
Morrendo bem distante desta praia,
Já deixa o jogo amargo decidido.

Perfumes que se exalam deste esgoto
Que agora enfim domina toda a cena,
O peito lacerado, semi-roto
A vida sutilmente nos apena

Da força em que me perco e já me iludo
O sonho, morredouro, segue mudo.


186


O sonho, morredouro, segue mudo
E mata quem se atreve a desdizer
Lutando a luta inglória, vou com tudo,
Não resta no horizonte algum prazer.

Verdugos espalhados pelos cantos,
A morte se tornou a redenção,
Dos hinos que escutara, desencantos,
Serpentes vindo em minha direção.

As urzes dominando o meu canteiro,
A terra vai se abrindo sob os pés,
Adocicada morte exala o cheiro
Meu barco num naufrágio, sem convés.

O tempo de sonhar vira agonia,
Meu verso se desfaz da poesia.



187


Meu verso se desfaz da poesia
Ao ter a sensação que iminente
Da morte que se aproxima dia-a-dia
Nos guizos desta irônica serpente.

Humanidade cava a sepultura
Com olhos de imbecil transformação
Aquele que se diz caminho e cura,
Deturpa e nega assim, a redenção.

Do Pai que se fez homem por amor,
Sofreu e mesmo em dor se fez amigo
Nas mãos de um idiota é vingador
Deixando tão somente o desabrigo.

Vociferando impune, a sorte esgarça,
Tranqüilidade esvai-se na fumaça.


188


Tranqüilidade esvai-se na fumaça.
E o dia que virá será vazio,
A noite desabando sobre a praça,
Do nada que se fez secou-se o rio.

O peito sonhador perde o sentido,
E vaga neste imenso lusco-fusco,
O coração se mostra empedernido,
Deixando bem distante amor que busco.

Sangrando pelos poros, esperança,
Não tendo mais um cais, segue em naufrágio,
Na força da natura, a dor avança
O ser humano enfim, se encontra frágil.

Depois desta total destruição,
O sonho se demonstra sempre vão.


189

O sonho se demonstra sempre vão
E faz só renascer do todo, o nada.
O rio se perdeu de direção
A vida não terá mais alvorada.

O riso em agonia se espalhando,
Granizos e vulcões, tempo confuso,
O fim aos poucos vai se anunciando,
A Terra já sem rota, perde o fuso.

O quanto que não fomos, cobra o preço,
A morte faz colheita inesgotável,
Sorriso, um estúpido adereço,
O desespero além do imaginável,

Cratera gigantesca, boca aberta,
A sorte, sendo espúria, nos deserta.


190


A sorte, sendo espúria, nos deserta
E deixa uma agonia como herança,
A vida aos poucos, cega, já deserta
Não resta nem resquícios da esperança.

O mar em lava adentra cada casa,
Cidades engolidas pelo fogo,
Nem mesmo uma ilusão agora apraza,
Perdemos, na verdade, o rumo e o jogo.

Cadáveres se espalham nas calçadas,
Num pútrido perfume nos domina,
As casamatas seguem inundadas,
Apenas desvario agora mina,

E filhos, pais e mães dos desatinos,
Tramamos solidões, nossos destinos.



191


Tramamos solidões, nossos destinos
Espúrias criaturas malfazejas.
Dos olhos mais suaves dos meninos
As feras se tornando mais sobejas.

Repasto para abrutres, urubus,
Os vermes se deleitam no banquete,
Os corpos destroçados, todos nus
Memória se perdendo sem disquete.

A gula que gerou tal tempestade,
Da fome inesgotável de poder,
Mostrando a face negra, crueldade,
Na estúpida ganância de prazer.

O ser humano, fera em estupor,
Carcome-se com ar devorador.


192


Carcome-se com ar devorador
Não deixa restar pedra sobre pedra,
O vento que se faz destruidor
Até um ser insano já se medra.

Dos céus os gigantescos meteoros
Explodem sobre nós, incandescentes,
O sangue se esvaindo pelos poros,
Os olhos em cegueira vão descrentes.

Abertas as crateras se aprofundam,
E tudo se transforma num segundo.
Dos sonhos, pesadelos se oriundam,
E sinto que se acaba, enfim, o mundo

Das mãos de quem sofrera tanto em vão,
O fogo da natura em explosão.


193

O fogo da natura em explosão
Não deixa mais resquícios ou pegadas,
Daqueles que em total revolução
Deixaram esperanças destroçadas.

Apenas sobrevivem os insetos
Que agora reinarão eternamente,
Por sobre estes cadáveres, dejetos,
A vida vai brotando novamente.

Aquele que pensara ser o rei,
Debaixo dos escombros, nada vale.
Destruição e morte, a sua lei,
À eternidade impede que se escale.

Apenas no final, temível, duro,
O dia amanhecendo sempre escuro...

194



O dia amanhecendo sempre escuro
Demonstra o quanto vão foi nossa vinda,
Olhar sempre vazio vou; procuro
Não vejo solução; tempo se finda.

Ao ver a ingenuidade da criança
Eu tenho, pelo menos um afago
Da mão que se demonstra em esperança
E bebe da alegria um farto trago.

Quem sabe... Pode ser, mas eu não creio.
O mundo talvez tenha uma saída,
Mudando de repente antigo veio,
Respire algum resquício feito em vida.

No peito deste estúpido cantor,
Uma ilusão se faz em pleno amor.


195


Uma ilusão se faz em pleno amor,
Porém é tão somente uma ilusão,
A vida neste eterno decompor
Não deixa se pensar em redenção.

O fogo que não cessa já nos toma,
A morte se espalhando em cada esquina.
A fera insaciável não se doma,
E mata enquanto; víbora, alucina.

Na sede de poder e de dinheiro,
Numa injustiça, feita em desvario,
Tomando – epidemia – o mundo inteiro.
Apenas legará este vazio.

A fome e o desamor, iniqüidade,
Esgarça a necessária liberdade.

Publicado em: 06/02/2008 11:43:21
Última alteração:22/10/2008 17:49:56


HÉLICE DE SONETOS - ESPIRAL B SEGUNDA PARTE



76



Algozes, os carrascos se aproximam
Mostrando com sarcasmo, suas garras,
Os lábios traiçoeiros que me mimam,
Adentram horizonte em negras barras.

Um viperino beijo, agora sela
Esta amizade feita em falso chão.
A força deste encanto, mesmo bela,
Propõe o fim de tudo, negação.

Os cães que ladram sós na noite em treva,
As presas espreitando de tocaia,
O frio de minha alma quando neva,
As múltiplas passadas da lacraia

Os pútridos vernizes, lábia e grade,
Espelham o que somos, na verdade.


77

Espelham o que somos, na verdade
Os restos que deixamos no caminho.
Depois do sortilégio, em falsidade,
Fingimos adorar o nosso ninho.

Nos cantos de agonia do planeta,
Os versos vão perdidos, sem sentido.
A cada nova insânia que cometa,
O tempo transcorrendo, assim, perdido.

Matando, pouco a pouco, a natureza,
Deitamos sobre nós mesma mortalha,
A vida quando em morte traz a presa
Despreza qualquer luz, nos estraçalha.

Bacante tempestade em leda orgia,
Exprime a mais temível heresia.



78


Exprime a mais temível heresia
O acre gosto mordaz deste sorriso.
Fantasmas que esta audácia cedo cria,
Vestindo contumaz o paraíso,

Argúcia que se mostra nesta espreita,
Estraçalhando o tempo de sonhar.
Cobrindo com urtigas mal se deita
Nega qualquer visão, cega o luar.

O fardo carregado não se esgota,
E o destemor estorva um débil ser.
O que era alegoria segue rota,
Esboça com sarcasmo algum prazer.

Esta ilusão roubada dos janotas
Expressa o quanto somos idiotas,

79

Expressa o quanto somos idiotas
O verso em desespero, proferido.
Expressa a mais vazia das comportas,
O dia que morreu já sem sentido.

Expressa a luz insana que nos guia,
O rumo que nos mira de soslaio.
Expressa o coração sem alegria,
De toda insensatez, pobre lacaio.

Expressa a tempestade que não cessa,
O vento da promessa não cumprida,
Expressa um caminhar louco que apressa
Deixando para trás a própria vida.

Por fim, o assassinar da primavera,
Expressa o que nós somos, cruel fera.

80



Expressa o que nós somos, cruel fera,
Destruidores loucos, sem juízo.
A flor que nascerá jamais espera
O corte sem limites, impreciso.

A poda da esperança pela Terra,
Secando nossos rios e ilusões.
O fim que não represa, sempre encerra
Trazendo ao manso solo, convulsões.

Extingue toda forma de viver,
Grileiros do planeta, sanguessugas,
Estraçalhando tudo ao bel prazer,
Envelhecendo o mundo, frias rugas.

Da terra que será, enfim, de todos,
Um contra-ataque firme e sem engodos.


81



Um contra-ataque firme e sem engodos
Trará ao fim dos tempos, a vingança
Nascendo dos resíduos e dos lodos,
Na forma de um inseto, uma esperança.

Cadáver putrefato, a raça humana,
Exposta em esqueletos, fóssil face,
Outrora tão audaz e soberana,
Não tendo nem noção do desenlace

Servindo de repasto para os vermes,
Apenas um escombro do que fora,
Da força sanguinária do deus Hermes
Vazio sobre o chão, o nada aflora.

Sem rumo, sem destino, sempre atroz
Atônita, esta espécie, má e algoz.


82


Atônita, esta espécie, má e algoz
Ao destruir o prato em que comia,
Secando todo rio, encontra a foz
Da civilização que aqui cerzia.

Pisando sobre a Terra esfacelada,
Jazendo pelos cantos, cria ermidas.
No tumular caminho, negra estrada,
Total carnificina, podres vidas.

Acura, depois disso, um vão lampejo,
Tenta sobreviver no caos imenso.
Assim, futuro inglório, eu já prevejo
Erguendo em cada verso, um branco lenço.

Do rei que se pensou quase intocável,
O fim já se tornando imaginável.


83

O fim já se tornando imaginável
Deixando simples cacos no caminho,
Destino se tornando insuperável,
O ser humano mata o próprio ninho.

Poder, dinheiro, glórias e riquezas,
Motivos para o nobre suicídio.
Não tendo mais sequer as sobremesas,
Antropomorfo deus se mostra ofídio.

Estúpido, pensaras ser o rei
Tudo sendo criado só pra ti.
Da tua mão espúria fez-se a lei,
Matando e destroçando lá e aqui.

Boçalidade imensa te vestia,
Ao pressupor eterna fantasia.


84



Ao pressupor eterna fantasia
Fazendo desta vida um carnaval,
Uma ilusão deveras é sombria,
Tramando quase sempre um vão final.

Inteligência à parte, pobre raça,
Esquece de aprender o necessário.
Nas matas e florestas, a fumaça
Transborda em desencanto temerário.

Fazendo da injustiça o seu regalo,
Expondo as cicatrizes mais profundas,
De uma agonia imensa doce embalo,
As mãos são sanguinárias, vis, imundas.

Do inferno vai tocando suas fráguas,
Secando ao poluir sonhos e águas.


85

Secando ao poluir sonhos e águas
Trazendo ao universo esta aridez.
Deitando sobre todos; velhas mágoas,
Do nada que foi feito, o nada fez.

Purpúreo entardecer em céu vazio,
Tempestas e nevascas se espalhando.
O quanto se mostrou intenso e frio
O sonho em pesadelo, transmudando.

Aos poucos se esfacela o seu disfarce,
Mostrando a garatuja feita rei,
A cada amanhecer, um novo esgarce
Até não sobrar nada, disso eu sei,

Tramando em sordidez, faz a rapina
No olhar quase pedinte da menina.

86


No olhar quase pedinte da menina
Esboço de esperança; sobrevêm
Do quanto se tentou e não termina,
A vida sem surpresas, não vai bem.

Ladrilhas nos caminhos diamantes,
Ladrando, a caravana, logo passa.
Mudando este cenário por instantes,
O caçador se faz, insana caça.

Parceiros deste sonho em derrocada,
As vis caricaturas nos espelham.
A morte numa esquina vislumbrada,
Os olhos quase cegos se avermelham.

Fazendo da injustiça a cruel arma,
O ser humano cumpre o triste karma

87

O ser humano cumpre o triste karma:
Do apogeu do universo volta ao nada,
Faz da voracidade a pior arma
Deixando a terra inteira esfacelada.

No rastro demarcado pela incúria,
Não deixa sobrar pedra sobre pedra,
A mão destruidora em plena fúria
Nem mesmo em frente à fome, ela se medra.

Ao ver na seca eterna esta ruína,
O passageiro acaba com a nave,
Fera tão cruel não se domina,
A liberdade morre em tal entrave.

Nos corpos espalhados pelas ruas
As faces da miséria, agora nuas.


88


As faces da miséria, agora nuas,
Expressam toda a dor da humanidade.
Matando simplesmente, continuas,
Negando a quem vier; a claridade.

A terra escalpelada, sem as matas,
Os rios vão secando, assoreados.
Heróis e semi-deuses, frias latas,
Os dias com certeza, destroçados.

Quem teve em suas mãos tanta riqueza,
Não sabe construir, tudo destrói,
O templo feito em bela natureza,
O rato incoerente sempre rói.

Pois quem faz do poder seu grande amigo
Condena-se ao mais negro desabrigo.


89


Condena-se ao mais negro desabrigo,
Aquele que corrói seu próprio lar.
O homem que se faz do homem inimigo
Vê toda esta estrutura desabar.

Na frágil criatura sem defesas,
Encontra sua vítima fatal,
Expondo as carnes frescas sobre a mesa,
Enchendo de ilusões o seu bornal

Eu vejo retratada a dura cena,
Da caça que se torna caçador,
O nada traz nas mãos e sem ter pena,
Espalha o seu olhar destruidor.

Encontrando em nós mesmos, rastro e trilha
Dos cães que nos atacam em matilha.


90


Dos cães que nos atacam em matilha
As presas vão expostas, ironia.
Destroços da ilusão, frágil novilha
Morrendo pouco a pouco de agonia.

O ser humano após a derrocada,
Procurando pelo Éden, nada vê.
Esperança qual tola, destroçada
Nem mesmo no futuro ainda crê

Atravessando o eterno e vil deserto,
A flacidez de uma alma, não resiste.
Do nada que se fez; no campo aberto,
Felicidade vira um simples chiste.

Nas mãos deste farsante querubim,
A seca toma conta do jardim.


91



A seca toma conta do jardim
Nas rosas de Hiroshima, num Iraque,
Eu vejo que chegando ao triste fim,
Os reis eram falsários, só de araque.

No baque que se estronda ilimitado,
O medo dos pequenos traz o alarde,
Nas trevas que tomaram nosso Fado,
Venceu a súcia amarga e mais covarde.

Nas mãos, o maquinário que desanda
E forja mil exércitos inglórios.
Nas marchas marciais da antiga banda,
Os fúnebres acordes nos velórios.

Nos negros horizontes sobre o cerro,
Os sonhos se perdendo em frio aterro.


92


Os sonhos se perdendo em frio aterro,
Os corpos insepultos não reclamam,
Nos olhos dos insanos, aço e ferro,
Farrapos pelos guetos esparramam.

A morte sendo a última quimera,
Telúrico imbecil morreu há tempos.
Jamais encontrará na primavera
A força pra vencer os contratempos.

No esgoto que se aflora nas calçadas,
Abutres devorando a vil carniça
Das lâminas que foram esperadas,
Carnívoros, os olhos da cobiça.

Da amarga podridão, sutil parceira,
Perfume nauseabundo que se cheira.


93

Perfume nauseabundo que se cheira
Das chaminés, dos rios poluídos,
O canto de uma indústria carpideira
Ferindo assim já todos os sentidos.

Das urzes que se espalham no caminho,
Ericas, mil abrolhos, joio e lama,
Perambulando em vão, sigo sozinho,
Apenas o vazio inda me chama.

Proliferando a dor, invés de risos,
As úlceras e chagas; funda escara,
Os passos sem destinos, imprecisos,
A luz já se tornou espessa e rara.

Da civilização, calada a voz,
Depois da humanidade, nada após.


94


Depois da humanidade, nada após,
Somente a mesma ermida do passado.
O vento que de calmo fez-se atroz
Incendiando o mundo congelado.

Um lerdo moribundo inda caminha
Passeia pelo esgoto a céu aberto.
Apenas o vazio ali se alinha,
O rumo que buscara é mais incerto.

A natureza-mãe tão maltratada,
Matando quem a fere impunemente
Embora tantas vezes enlutada,
Percebe o caminhar do penitente.

A mão que acarinhara não descansa,
Cerzindo; a cada dia, uma vingança.



95


Cerzindo; a cada dia, uma vingança,
Teares da natura dão as dicas,
No corte tão sutil de uma esperança
Brotando nos jardins, trevas e ericas.

Dos ricos palacetes o cenário
Expondo as mais terríveis injustiças,
No canto solitário de um canário,
Os últimos trinados das cobiças.

Na pele que se esgarça em agonia,
As pústulas explodem, tomam tudo.
A sorte eternamente vã e fria
O peito que sonhara segue mudo.

O vago que se espalha em nossa história
Promete noite longa e merencória.


96


Promete noite longa e merencória
O tempo da colheita em mau cultivo,
A cada novo sonho de vitória
Sorrisos de um insano ser altivo.

Ouvindo o canto triste do urutau,
Em meio às cinzas torpes que esfumaçam
Cenário tão dantesco e até normal,
Enquanto estes cortejos ali passam,

Ainda posso crer em algo novo,
Que venha desfazer a profecia.
Surgindo pelas mãos simples do povo
A luz que nos trará bendito dia.

Do canto que se escuta aqui ou lá,
Quem sabe uma esperança brotará?



97

Quem sabe uma esperança brotará
Nos olhos da criança ou do faminto.
Estrela de ilusão rebrilhará
Neste cenário tolo que hoje eu pinto.

Tão frágil quanto a vida, sinto a brisa,
Macia que nos toca mansamente.
Ao mesmo tempo acalma enquanto avisa
Que o dia nascerá tranquilamente,

Depende tão somente destes sinos,
Que possam acordar a fera insana,
Ao ver a placidez destes meninos,
Talvez possa luzir bem mais humana,

Renasça um sentimento soberano,
Do nada em que se molda o desengano.



98

Do nada em que se molda o desengano
Os potes da esperança estão vazios.
O vento que viera mais temprano
Em plena iniqüidade, nega estios.

Carpetes de cadáveres já podres
Enquanto os poderosos se embebedam
Do sangue que acumulam nos seus odres
E todas as verdades emparedam.

Riscando do planeta, lentamente,
Qualquer forma de vida; seguem rindo.
Sarcástico sorriso de um demente
Que assim, prossegue impune, destruindo.

Estraçalhando enfim, a redenção,
As águias espalhando a negação.

99

As águias espalhando a negação
Vem do hemisfério Norte a voz insana,
No bico da canalha, exploração,
Ao mesmo tempo inflama enquanto engana.

Quem pensa ser de Deus a santa espada
Em nome da justiça em larga escala,
Matando com sua alma já lavada
Humanidade inteira assim empala.

Da covardia faz seu heroísmo,
Na burra idolatria, estupidez,
O velho que sorri com tal cinismo
Semeia entre os boçais, insensatez

Olhar que ao destruir já nos quer bem,
Uma expressão vazia, agora tem.


100


Uma expressão vazia, agora tem
A palavra de um santo de pau oco,
Mudança desta história nas mãos tem,
Salvando a terra inteira do sufoco.

Porém águia soberba não percebe
O quanto é necessário um novo rumo,
Da fruta ensangüentada que recebe
Não deixa sobrar nada, seca o sumo.

O povo redentor da humanidade,
Roubando dela mesma, uma esperança,
Aos poucos, em total insanidade,
A morte como lema, vai e lança.

Matando cruelmente pede bis,
Lanhando em cada irmão, a cicatriz.


101

Lanhando em cada irmão, a cicatriz
Exposta num sorriso de sarcasmo,
Negando a sorte, víbora aprendiz
No genocídio expressa o seu orgasmo.

Olhares idiotas, reis supremos,
Enfileirando os pobres infelizes,
Mal disfarçados, velhos, podres demos,
Enegrecendo o céu, plúmbeos matizes.

No inverno que virá, depois de tudo,
A fome se espalhando sobre nós,
Paciente terminal, eu não me iludo,
Aos cuidados do verme mais atroz.

Fazendo da injustiça um ritual,
Numa expressão indigna e tão boçal.


102


Numa expressão indigna e tão boçal
Após a negra noite anunciada,
O verso recomeça sempre igual,
Trazendo para a vida uma emboscada.

Na busca pelo dia que não veio,
Estrelas derramando suas luzes,
No pão embolorado, vil centeio,
Apenas os resíduos feitos cruzes.

Nas mãos que outrora tinham os tacapes
Agora em explosões venais, atômicas,
Sem ter sequer caminho ou mesmo escapes
A podridão se mostra em ledas vômicas.

Hemoptise de uma alma aos borbotões,
As esperanças morrem nos porões.


103



As esperanças morrem nos porões
Dos navios negreiros atuais,
Os corpos, aos milhares, aos milhões
Reféns dos carniceiros infernais.

Ao ter deste cadáver, podridão,
A decomposição aguarda a fera,
No rito da esperança amargo e vão,
A morte da possível primavera.

Alimárias eternas, esfaimadas,
Caminham pela terra sem destino,
Nas plantações inúteis, derrocadas,
Aos poucos fantasias; extermino.

Nos olhos que os vazios reafirmam
Os vermes mais temíveis se auto-afirmam.


104


Os vermes mais temíveis se auto-afirmam
E fazendo dos mansos seus reféns,
A dura profecia; já confirmam
Riscando cruelmente os ledos bens.

Ao opacificar a luz divina,
A lua se perdendo, sem sentido.
O vento que nos toca e nos domina,
Jamais pelos vorazes é ouvido.

Cardumes de tenazes gafanhotos,
Devoram toda a nossa plantação,
Os dentes afiados dos escrotos
Trazendo tão somente a negação.

Secando toda a fonte da verdade,
O que dizer da tal felicidade?


105


O que dizer da tal felicidade,
Se eternas tempestades formidáveis,
Invadem todo o céu da humanidade,
Trazendo sentimentos descartáveis.

Navalha que penetra em nosso cerne,
Arranca o que nos resta, coração.
Presume que esta fera não hiberne
Secando qualquer forma de verão.

Agricultor que tem boa semente,
Em solos infecundos, não progride,
Aguado pelos olhos de um demente,
Que à pobre natureza sempre agride

Numa semeadura da utopia,
A mão volta, decerto, assim vazia.


106


A mão volta, decerto, assim vazia.
Depois desta colheita quase inútil,
Numa alma sem aprumo em que cerzia
Um vago céu insano e mesmo fútil.

Participes do estúpido jogral,
Herdeiros das comarcas dos horrores,
Sorrisos de ironia de um boçal
Escondem derradeiros refletores.

Vencidos pela farsa desumana,
Guerreiros em cruzadas pós modernas,
A boca sensual, venal sacana,
Arranca da esperança, as suas pernas.

Tomados pelos gozos idiotas,
Guardamos ignomínias em compotas.


107

Guardamos ignomínias em compotas
Em meio à procissão de amargos círios,
As esperanças restam mais remotas,
Substituídas pelos vãos martírios

A porta que se fecha e não mais se abra
Não deixa que alegria entre na casa.
A boca que gargalha, assim, macabra,
Espalha nos caminhos lava e brasa.

Os olhos indigentes de um pedinte,
Jogado pelas ruas, vil mendigo.
Para os burgueses soam como acinte,
A fome que se estampa é um perigo.

De assassinos impávidos, qual fera,
Estraçalhamos nossa primavera.

108


Estraçalhamos nossa primavera
Ao vermos nestes vermes paletós,
De quem a solução tanto se espera
Vem a resposta crua e mais atroz.

As rapineiras aves do Congresso
Fazendo da fortuna uma partilha,
Sorriso desta hipócrita, confesso,
Não passa na verdade de armadilha.

Talvez nas mãos de um novo redentor,
Que venha transformar toda heresia,
Num outro amanhecer encantador,
Proteja o renascer de um belo dia.

Surgindo das entranhas dos vis lodos,
Mostrando o quanto amor é bem de todos.


109



Mostrando o quanto amor é bem de todos
Meninos vão cantando livremente,
Não sabem dos adultos, seus engodos,
E pensam noutro mundo que os contente.

Depois de certo tempo, fera ou caça,
A vida preparando um carniceiro,
Descortinando a nuvem de fumaça
Morticínio se torna corriqueiro.

O tempo que assim mostra a cada liça,
As diferenças tolas, e abismais,
O pobre já servindo de carniça
Aos ricos, vagabundos e boçais.

Cortando os velhos sonhos, frágeis nós,
Deixando como herança o nada após.



110


Deixando como herança o nada após
Espúrios imbecis fazem a festa,
Calando da verdade a dura voz,
Depois da tempestade, nada resta.

Mas vejo no horizonte alguma chance
De um novo alvorecer em raro brilho.
Se o canto já trouxer maior alcance
Amor pode ser mais que um estribilho.

Assim, dos olhos meigos de um infante,
Uma abolicionista fantasia
Que crie na magia de um instante
O bem que nos aqueça em noite fria.

Um sonho feito em luz, descortinável,
Nas mãos de um ser diverso e mais amável.


111

Nas mãos de um ser diverso e mais amável
Deixando para trás suas amarras,
No beijo carinhoso, um riso afável,
Calando da pantera frias garras.

Quem sabe poderemos vislumbrar
A outrora mansidão que se perdeu.
Tocado pelos raios do luar,
Ouvindo o que dizia o Rei hebreu.

Da hedônica luxúria nem sinais,
O riso se faz franco, esperançoso,
Estrelas são guardadas nos bornais,
Semeiam fartos brilhos, raro gozo.

Palavra que apascenta e mostra o dia,
Um raro amanhecer, cedo anuncia.


112


Um raro amanhecer, cedo anuncia
Os olhos de quem sabe ser feliz,
Trazendo em suas mãos a fantasia,
Moldura a sua vida em bom verniz.

Estende o seu amor ao infinito
E sabe consagrar santa emoção,
Do riso que se mostra mais bonito,
Prepara a farta e doce inundação.

Aduba em alegrias seu canteiro
Colhendo depois disso, flores raras,
Sabendo ser possível, jardineiro
Matar em nascedouro urzes amaras.

Porém a vida segue mais mortiça
Nas mãos de quem domina a vã cobiça.


113


Nas mãos de quem domina a vã cobiça,
Decerto mil espinhos entranhados,
Jardim de uma esperança já não viça
Apenas os abrolhos são gerados.

Fartura tão somente das daninhas
Ervas que se fazem mais presentes.
Voando para longe as andorinhas,
Levando para outrem boas sementes.

Negando um cais, explode o ancoradouro
O barco se perdendo num naufrágio,
Inverno se tornando duradouro,
Deixando o sol tão tímido e mais frágil.

Ao nublar o horizonte, cega a serra,
Escárnio se espalhando sobre a Terra.


114


Escárnio se espalhando sobre a Terra
Proliferando mágoa, insanidades,
O ciclo de esperança já se encerra,
Não deixa mais restar nem amizades.

A vida parecendo um duro fardo,
Pesando em nossas costas, nos lanhando.
Na estrada tão somente brota o cardo,
O dia pouco a pouco, se nublando.

Distantes, os temíveis urubus,
Aguardam pelos restos em carniças,
Vestindo paletós não andam nus,
Olhares expressando vis cobiças.

Ao longe, em tal cenário eu posso ver
Escórias nos Congressos, no poder.


115



Escórias nos Congressos, no poder
Vorazes caricatos da esperança,
Nos jogos desta turba eu posso ver,
Da corja quando em bando, uma aliança.

A temperança fica para trás
Propagam turvas águas, mais salobras,
Nem mesmo algum banquete satisfaz,
Desejam devorar até as sobras.

Quem sabe do plantio, o quanto é duro,
Ao ver tais rapineiros, perde o rumo.
Abortam, sem remorsos, o futuro.
Negando ao passarinho, asa e aprumo.

Crocitam enquanto geram, podres gralhas,
A cada amanhecer, novos canalhas.


116


A cada amanhecer, novos canalhas
Em novos redentores disfarçados,
Escondem sob as roupas as navalhas,
Hipocrisia reina em seus prelados.

A pobre multidão segue faminta,
Atrás de uma promessa em romaria,
No sangue que se mostra em pouca tinta,
Os sanguessugas fazem uma orgia.

Vendido como santo milagreiro,
O Pai que foi deveras maltratado,
De novo a cada dia, num puteiro,
O cadáver em dor, crucificado,

Por sermos coniventes, somos vis,
Verdugos de nós mesmos, imbecis.


117



Verdugos de nós mesmos, imbecis,
Quem cala muitas vezes não diz nada,
Assim o sangue escorre em chafariz,
Os pombos vão fugindo em revoada.

A paz que procurávamos, fenece,
Na dura solidão vejo o cordeiro,
Pedidos idiotas; ouve em prece,
Falando de poder e de dinheiro.

Enquanto a romaria não se estanca,
O velho em misérias já se empapa,
Montando a pobre santa, qual potranca,
Riquezas subtraídas; nada escapa.

Nós somos, ao negarmos a mamata,
Parceiros desta estúpida cantata.



118


Parceiros desta estúpida cantata
Que risca os negros céus deste universo,
Fazendo do sermão pura bravata,
Sentido da amizade vai disperso.

Nas águas deste rio caudaloso,
Milhões de seres vagam, sem destino.
Profeta apocalíptico viscoso,
Cobrando pelo amor, ágio divino.

Da graça recebida, faz fortuna,
E forma legiões em servidão.
Não tendo mais quem cale e sequer puna
Viceja a canalhice, em plantação.

E a pobre multidão que espera o mel,
Bebendo tão somente deste fel.



119



Bebendo tão somente deste fel
Meu verso é pessimista, disso eu sei,
Enquanto nos cobrir escuro véu
E a cretinice for do amor a lei

Eu sempre irei berrando sem descanso,
Ovelha desviada e com orgulho.
Não posso me calar nem ficar manso,
Repasto que se faz em pedregulho.

Não vejo mais o brilho que esperava
Durante a minha infância e juventude.
Forjaram da palavra, dura lava
Que mata impunemente e seca o açude.

Ceifeiro tão velhaco rouba o perfume
Do quanto se plantou, velho costume.


120



Do quanto se plantou, velho costume
Há tempos esquecido por pastores,
Que sabem desfrutar de cada lume,
Fazendo-se de todos, redentores.

Mentiras espalhadas pelo chão,
Aguando a mais cruel e vil semente,
Exalam desde sempre a podridão,
Rastejam com pudores de serpente.

Vendilhões do templo, contumazes,
Não deixam sobrar nada da verdade,
Palavras viperinas e tenazes
Escondem a divina claridade

Condena o bom cordeiro, esconde a graça,
A sórdida presença desta raça.


121



A sórdida presença desta raça
Devora as ilusões dos pobrezinhos,
A sorte de viver já se esfumaça
Deixando tão vazios os seus ninhos.

Aqui eu reconheço os meus pecados,
Burguês que entre burgueses se criou.
Meus pés que agora estão já bem cansados,
Tampouco uma esperança partilhou.

Omisso, tantas vezes nada falo,
Olhando pra mim mesmo, isto me basta,
Percorro minha senda e sigo o embalo,
Criando enquanto mudo; nova casta

Quebrando do arvoredo, flores, ramos,
Qual ave de rapina; destroçamos.


122


Qual ave de rapina; destroçamos
Os sonhos das crianças inocentes,
Enquanto algum futuro devoramos,
Mostramos os sorrisos entre-dentes.

Carcaças espalhadas pela casa,
Jogadas nas sarjetas da esperança.
O fogo nos consome em lenta brasa
E a chama morre aos poucos, sem fiança.

Enquanto a vida mostra em descaminhos
Os rumos preferidos pelas gralhas,
Deixamos os infantes sós nos ninhos
Expostos ao vigor destas navalhas.

Liberta, sem algemas ou amarras.
A fera irá moldando novas garras


123


A fera irá moldando novas garras
Afiam cada dente em nossos ossos,
Nos olhos do futuro fazem farras,
Não deixam mais sobrar sequer destroços.

Noctâmbula, voraz, se refestela
Nas carnes mais macias das crianças,
A cada nova orgia em esparrela,
Recebem dos ingênuos as fianças.

Estrume que se mostra em profusão,
Proliferando a cada anoitecer,
Negando a mais sublime redenção,
Deixando a carne assim, apodrecer.

Cortando uma esperança em finos gomos,
Farrapos indigentes do que somos.



124


Farrapos indigentes do que somos
Espalham-se nos bares e nas ruas,
Refletem na verdade o que nós fomos
As faces que se mostram, seguem nuas.

A carapaça quebra-se de fato
Deixando-se antever o que virá.
Nos lagos ao olharmos tal retrato,
Sabemos necessário desde já

Uma mudança audaz e radical,
Que possa permitir a plena paz
Do quanto nós herdamos vendaval,
Assim será meu canto mais capaz.

Felicidade, mesmo em utopia,
Um sonho que se faz a cada dia.


125



Um sonho que se faz a cada dia
Renova o coração de um homem velho.
Tocado pelo sonho, em fantasia,
A vida nos trará santo conselho.

Marcando em alegria a nova aurora
Que um dia possa ser de todo mundo.
O fogo da esperança revigora
E toma toda a Terra em um segundo.

Quem sabe, assim, podemos perceber
O quanto a vida é bela e necessária.
Podendo desfrutar deste prazer
A noite não será mais temerária.

Que a luz da claridade enfim soçobre
Fatídica mortalha que nos cobre.


126

Fatídica mortalha que nos cobre
Impede que uma luz se descortine.
Do todo não percebo que inda sobre
Um sonho benfazejo que alucine.

Resoluções; aguardo no meu canto
E delas penso crer numa saída
Que possa sonegar o desencanto,
Trazendo um novo rumo à nossa vida.

Porém ao ver que nada, sempre vem,
Eu risco uma esperança dos meus dias.
O medo que se estende mata o bem,
Trazendo ao fim das tardes, agonias.

A tempestade vindo aos borbotões,
Estende a fome em vastas plantações.

127


Estende a fome em vastas plantações
Negando a sobrevida a quem precisa.
Fechando da esperança, os seus portões,
E quando dá seu bote não avisa.

No beijo viperino da traíra,
Inoculas venenos, ser infame,
O pé que num instante distraíra,
Tropeça e encontra as farpas deste arame.

Arranca os olhos puros da ilusão,
Infiltras sobre nós tuas ventosas,
De insanos preconizas procissão
Espinhos descartando as belas rosas.

Enquanto o teu castelo vai surgindo,
Farrapos pelas ruas vão pedindo.


128


Farrapos pelas ruas vão pedindo
Fazendo dos escombros os seus lares,
Pastores que no púlpito mentindo
Espalham tais mentiras aos milhares.

Na exploração indigna do trabalho,
A mão deste carrasco não perdoa,
Jogando pra debaixo do assoalho
O que restou de pau desta canoa.

Políticos, pastores, frias feras,
Ladrões das esperanças, seres vis.
Ao tornar quase impossíveis primaveras
Destroem com esgares mais sutis.

Milagres já permitem que arremeta,
Os podres serviçais, velha sarjeta,

129


Os podres serviçais, velha sarjeta,
Os jogos do demônio não se esgotam,
As lavas invadindo cada greta,
As cores da esperança se desbotam.

Mergulhos em temíveis abissais,
Resquícios de virtude vão sumindo,
Em meio a tais profanos vendavais,
O chão desesperante vai se abrindo.

Fazendo os seus licores das sangrias,
Da pele que se esvai, surgem escamas,
Esdrúxulo diabo em agonias
Prepara dia-a-dia nossas camas.

Nos rastros deste ser insuportável,
Esgoto que se mostra interminável.


130



Esgoto que se mostra interminável
Recende à tão terrível fedentina,
O lobo tantas vezes é afável,
Devora depois disso a luz divina.

Vomitando impropérios e mentiras,
Vendendo este cadáver numa cruz,
Recortam o seu corpo em finas tiras
Expondo em cada esquina o Bom Jesus.

Farsantes com voz mansa e tão macia,
Sugando o que puderem pela frente
Do sangue derramado, a mesma orgia,
Tornando cada ovelha um indigente.

Daqui, estupefato, inda contemplo
Eternos vendilhões do mesmo templo.


131


Eternos vendilhões do mesmo templo
Traindo o Pai amado e tão querido,
Do amor e do perdão maior exemplo,
Agora segue em vão, prostituído.

São tantas as Igrejas que traficam
As chagas deste pobre carpinteiro,
Da venda de esperanças edificam
Impérios saturnais em cada outeiro.

Moribundos famintos seguem loucos,
Os ritos enigmáticos, profanos.
Em gritos de histeria, quase roucos,
Abarcam tais poderes sobre-humanos

Do nada que, decerto assim se cria,
Escombros em total autofagia.


132

Escombros em total autofagia
Expressam o vazio que virá,
O tempo de viver não bastaria
Há quem deseja tanto o que não há.

Inócuos os tentáculos estáticos,
Estampa esta verdade mais cruel,
Olhares mais dispersos de fanáticos,
Procuram desvendar o claro céu.

Desesperança toma cada passo,
Escreve em desafino tal canção,
O quanto nada sei impede o traço
E a vida se repete sempre em não.

Deixando para trás a fonte pura,
A trama prometendo em amargura



133




A trama prometendo em amargura
Anúncios em revistas e tevês,
Vendendo especialistas em tortura
Sem bases, sem verdades, sem porquês

Um padre com sorrisos emblemáticos
Satânico promete o que não sabe,
Pastores com seus ritos enigmáticos
Permite que se salve antes que acabe

Compare qual a farsa que é melhor,
Aquela que deveras te cai bem.
O templo que é mais belo, o que é maior,
Frutificando a fé, dinheiro vem.

Enquanto ao lavrador basta e se aceita,
Apenas incertezas por colheita.


134

Apenas incertezas por colheita
Assim o jardineiro passa a vida.
Pensando no futuro mal se deita
Na prece que se pede, recebida.

Enquanto em romarias, eu garanto,
Produtos da miséria recolhidos,
Vivendo da pobreza e do seu pranto,
Dinheiros dos devotos recebidos.

Assim caminha a pobre humanidade,
Espertos e canalhas pela fresta
Roubando o que vier de claridade,
Promovem bestial e insana festa

E o povo, eterna ovelha penitente
Varrendo toda a Terra qual demente.


135


Varrendo toda a Terra qual demente
A multidão não vê a clara luz,
Do Pai que veio a nós exposto em gente
E ensina que o amor basta e conduz.

Na mística mudança deste rumo,
Poderes bem mais podres ressurgiram
Não me calo, conformo ou me acostumo
Ao ver há quanto tempo nos mentiram.

Criando um deus voraz e tenebroso,
Deixando para trás o sacrifício,
Do vingativo ser tão belicoso
Fizeram sua glória e seu ofício.

Já basta! Reconheço como altares
As matas e as florestas, rios, mares.


136


As matas e as florestas, rios, mares
Extensa e tão divina catedral,
As frutas invadindo os meus pomares,
A sorte repartida por igual.

As mãos que pacificam; olhos mansos,
Palavra de carinho e de conforto.
Assim eu já vislumbro os Teus remansos
E encontro em Teu amor, um claro porto.

A Cesar o que é de Cesar, Tu dizias,
Porém unida ao César de plantão,
Igreja se embrenhando em tais orgias,
Recria a cada dia um vendilhão.

Da chama da esperança se desfez,
Cobrindo toda a Terra em aridez.


137


Cobrindo toda a Terra em aridez.
O vento da esperança segue morto,
De toda uma alegria que se fez,
Não resta mais sequer algum aborto.

Os dias vão seguindo sem notícias,
Aonde se escondeu felicidade?
A morte se fez logo nas primícias
Negando ao ser humano a liberdade.

Nem mesmo o sonho vão inda disfarça
O tempo vai ingrato e determina,
Que a vida a cada dia assim se esgarça
Secando da ilusão a fonte e a mina.

Qual lua que transmuda em várias fases,
Vagando por desertos sem oásis.


138


Vagando por desertos sem oásis.
Um velho beduíno perde o rumo,
O solo vai abrindo e já sem bases
Não tem mais esperanças como prumo.

A morte se aproxima e sem miragem
Que possa dar alento, assim se esvai,
Ao terminar inútil e má viagem
A máscara da vida cedo cai.

Num último suspiro preconiza
Um mundo onde pudesse ser feliz,
O vento das mudanças logo avisa,
Terás em outro mundo o que bem quis.

Descobre no final, a liberdade,
Galgando a mais sublime realidade.



139


Galgando a mais sublime realidade
Meu barco vai singrando ao infinito,
Falena a quem encanta a claridade
Fazendo da esperança um sonho, um rito.

Escuto o burburinho do riacho
Descendo sobre as pedras e cascalhos,
Seguindo da ilusão a fonte e o facho,
Deixando para trás meus atos falhos.

Saveiro que procura pelo cais,
Fugindo do naufrágio inevitável,
Em luzes formidáveis, magistrais
Permite um novo dia mais amável.

As dores que vivi, agora cobram,
Nas ledas emoções, tanto soçobram.

140



Nas ledas emoções, tanto soçobram
As vagas ilusões; morrem na praia,
De todos os carinhos poucos sobram
E o sol de uma esperança já desmaia.

Sobrando no horizonte a nuvem negra,
O tempo vai passando sem descanso,
Quem dera se alegria fosse regra
O dia voltaria e bem mais manso.

Na tela que se pinta em tal cenário,
As cores vão perdendo seus matizes,
Metamorfoseado, o sonho é vário
Deixando em todos nós, as cicatrizes.

Ao ver esta epidêmica cobiça
A lua se escondendo, tão mortiça.


141


A lua se escondendo, tão mortiça
Detrás desta montanha feita em fel,
A voz que agora eu trago mais submissa
Expressa a negritude deste céu.

Aos poucos me tomando a caquexia
Macerando os meus sonhos, os destroça
Deixando como herança a noite fria,
Nem mesmo uma ilusão ainda roça.

Palhoças e palhaços revividos,
Maracutaias; vejo nos plenários
Os dias vão secando distraídos,
E tornam-se vorazes temerários,

Distante do que vejo hoje na Terra,
Olhar esperançoso; cego, cerra.

142

Olhar esperançoso; cego, cerra
E pensa no que foi e não voltou,
Por mais que vã tristeza já descerra
O tempo da colheita enfim chegou.

Dos joios espalhados nos trigais,
Adubos não se mostram seletivos,
Preparam os ditames infernais
Olhares se mostrando mais altivos.

Na insânia que domina e me enlanguesce
O tempo se mostrando inda nublado,
Hedônica emoção que em luzes cresce,
Esconde os maremotos do passado,

Porém não é possível mais viver,
Ao gozo simplesmente do prazer.


143


Ao gozo simplesmente do prazer
Minha alma se perdendo deste foco,
Quem pensa num sublime alvorecer
Precisa ter mais forte este reboco.

Por vezes tal mentira satisfaz,
Mas vejo teus reflexos enganosos,
Negando a calmaria, a santa paz,
Explode na verdade em falsos gozos.

Qual fora uma cortina de fumaça,
Que impede que se veja o claro dia,
O tempo inconseqüente trama a traça,
Devora o sentimento em fantasia,

Das mãos desprotegidas, torpes falhas,
Estrumes estampados nas batalhas.



144




Estrumes estampados nas batalhas
Jamais adubariam esperança,
Não passam de imbecis e vagas tralhas,
Com eles farta espera nunca avança.

Formando ao fim do dia tais jograis,
Soçobram nas primeiras ventanias,
Naufragam aos mais fracos temporais,
Pois falsas suas bases de alegrias.

Não deixam que se mostre a liberdade,
Mosaicos inebriam e torturam,
Ao ver assim distante a claridade,
Sentidos meus olhares já procuram.

Enganoso tormento em pilotis
Cordeiros sob os lobos, velhos vis.


145




Cordeiros sob os lobos, velhos vis
Preparam emboscadas toda noite.
O quanto se imagina ser feliz,
É quanto lanha as costas tal açoite.

No sexo que se compra em cada esquina,
Nos jogos de poder e sedução,
Amor mal percebendo se extermina
Só deixa no lugar, a negação.

Em meio a cocaínas, álcool, risos,
Estranhas gargalhadas da ironia,
Palhaços pelas ruas com seus guizos
Encontram farta venda da alegria.

Do laço que depressa já desata,
A mão que nos carinha, cedo mata.


146

A mão que nos carinha, cedo mata
E faz do nosso corpo seu altar,
Pisoteando ateia fogo à mata
Esconde nas neblinas o luar.

Jocosa procissão de meretrizes
Seguidas pelos donos do poder,
Na cama verdadeiras más atrizes
Na jogatina eterna do prazer.

Permitem que se compre à vista, à prazo,
Fazendo uma total liquidação
Depois, negócio feito, vem descaso
O resto não merece nem tostão.

Refletem este imenso e negro véu,
Nas nuvens escondendo o claro céu.


147



Nas nuvens escondendo o claro céu.
A chuva que virá será de lama,
Uma alma se perdendo segue ao léu,
E mata em vento frio qualquer chama.

Encapuzados sonhos mal disfarçam
O quanto se faz luz ou pesadelo.
Os dias penitentes já se esgarçam,
Rompendo qualquer fio do novelo.

Carpindo sobre os restos da esperança
Os vermes que perfazem tal banquete,
Na lágrima rolada, a morte avança
Fazendo do viver simples joguete

Sabendo quanto inútil tal perfume,
Frutificando a esmo, cevo estrume.


148



Frutificando a esmo, cevo estrume
E colho tão somente a podridão
Além do velho sonho de costume,
Não vejo restar nada na amplidão.

Caminha a humanidade inebriada
Servindo de repasto para as gralhas,
A cada novo passo, a derrocada
Demonstra quão inúteis tais batalhas.

Negando qualquer voz que assim discorde,
Expressa a verdadeira garatuja
Destoa da esperança em cada acorde
Uma alma sem porvir, imunda e suja;

Matando o que o Bom Pai já deu de graça,
De toda a criação, a mais vil traça.


149


De toda a criação, a mais vil traça
Talvez seja em verdade bem mais útil,
Destino que em vazio já se traça
Mostrando a raça humana, sempre fútil.

Partícipes orgásticos, satânicos,
Do fausto fazem glória e qualidade.
Os pés acorrentados criam pânicos
E fogem à mais crua realidade.

Na regra universal da mais valia,
O quanto que nós temos; o que somos,
Poder gerando assim falsa alegria,
Macabros carnavais destes reis Momos,

Entregues aos espúrios, ledos amos,
Os sonhos e esperanças nós podamos.


150



Os sonhos e esperanças nós podamos
Negamos à semente a brotação.
Sem nexo e sem destino já vagamos
Chegando finalmente ao mesmo não.

Quem sabe no final do insano ciclo,
Talvez haja um resquício de esperança;
Aos poucos, fatalmente eu me reciclo
E tento em nova aurora, a nova dança.

Cansado da volúpia destas feras,
Meu corpo lacerado se acostuma,
Ouvindo bem distantes primaveras,
A dor, aos poucos foge, enfim se esfuma.

Sabendo deste abutre e suas garras,
Rompendo, finalmente tais amarras.
Publicado em: 06/02/2008 11:42:16
Última alteração:22/10/2008 17:50:13



HÉLICE DE SONETOS- ESPIRAL A. primeira parte

001

Capacho dos teus sonhos, velho esgoto,
Seguindo maltrapilho e maltratado,
O coração exposto, amargo e roto,
Retrata o que vivemos no passado.

De todos os meus dias, terremoto
Demonstra o vento às vezes disfarçado.
O pesadelo outrora tão remoto,
Agora vem comigo lado a lado.

Macabras sensações se repetindo,
Acordo e nada vejo, sigo só,
Voltando novamente ao velho pó

O mundo desabando, vou sentindo.
Na caça que se faz a cada dia,
Apenas solidão, serve de guia...

002


Apenas solidão serve de guia
A quem por tantas vezes quis liberto
Tocado pela doce fantasia,
O peito escancarado segue aberto.

O passo que se mostra a cada dia,
Seguindo em rumo insano este deserto,
Jogado sempre às traças, ventania
Levando por caminho mais incerto.

Caçando o que não tive, vou sozinho
Fazendo da amargura o doce vinho,
Farsantes sensações vão adentrando

Perfaço este infinito em um momento,
Marcado pela cruz, o sentimento
Aos poucos, meu castelo desabando...

003


Aos poucos, meu castelo desabando
Não deixa nem escombros pelo chão,
Fazendo do vazio o meu colchão
O nada, meu olhar vai vasculhando.

Não quero e nem me importa desde quando,
Apenas encontrei a decepção,
O quanto que eu amei, foi tudo em vão,
Na seca tantas vezes semeando.

Aguardo que inda tenha uma guinada,
Mudando de caminho e de calçada
Ao ver a fantasia em minissaia.

Quem sabe noutra vida, se vier,
Eu tenha esta alegria que se quer,
Sobrevivendo ao ver enfim, a praia.


004



Sobrevivendo ao ver, enfim a praia,
Depois de ter nadado até cansar,
Seguindo cada raio do luar,
Que a sorte transparente não me traia.

Que a vida se mostrando não mais caia,
Promessas que cansei já de escutar,
Rolando a noite inteira bar em bar,
Atrás desta morena e sua saia.

Fumando meu cigarro, na fumaça
O tempo que se quis, agora passa
Formata a solidão depois de tudo.

Quem teve uma certeza tão ingrata,
Descendo o rio encontra uma cascata
Deixando o coração tão frio e mudo.



005

Deixando o coração tão frio e mudo,
Encontro a tempestade dia-a-dia,
Estrela que se perde já não guia,
Prossigo esta viagem, vou com tudo.

Nos olhos de quem quero eu não me iludo
Jamais permitirei tal heresia,
Sonhando com quem nunca me queria
O rumo desta vida; jamais mudo.

Recebo o gosto amargo deste fel,
Disfarce que se esconde sob o mel
Da boca que beijei em noite clara.

Mentira vai cumprindo o seu papel,
Sozinho; eu me perdi do meu corcel,
Somente a noite fria inda me ampara.


006


Somente a noite fria inda me ampara
Fazendo do meu peito um turbilhão,
Vencido por tão dura sensação
Distante desta boca que eu beijara.

Felicidade é jóia sempre rara,
Difícil descobrir a direção
Tomada pelo vago coração
A vida se tornando então amara.

Pedaços do que fui vão pelas ruas,
Jogados nas sarjetas, nas calçadas,
As manhãs que virão; abandonadas

Cobrindo em duro pó todas as luas
Na madrugada feita em frias trevas,
Estrelas fugidias, vão em levas...

007



Estrelas fugidias, vão em levas,
Levadas pela dor seguem sem rumo,
Não tendo perspectivas de um aprumo
Tristezas dos meus olhos fazem cevas.

Do nada que trouxeste; tudo levas,
Roubando gota a gota todo o sumo,
Os erros que cometo, sempre assumo,
Ficando como brinde só as trevas;

O peito amarrotado pelos cantos,
Não ouço nem sequer antigos cantos,
Apenas sou um resto e nada mais,

O barco que me trouxe naufragado,
Mostrando o quanto inútil meu passado,
Jogado pela vida sem um cais...



008





Jogado pela vida sem um cais,
Sequer ancoradouros encontrei,
O quanto que não trago e cultivei
Permite já saber que dói demais

O fato de ter sempre este jamais,
Fazendo do vazio, a sorte e lei,
Distante de teus braços, naveguei
Até só encontrar o nunca mais.

O coração pedinte segue vago,
Buscando uma alegria, bebe um trago
Não tendo por resposta um só retrato,

Quem sabe, no futuro um riso aberto
Modificando enfim, o que era incerto
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.


009



Trazendo uma emoção que aqueça o prato,
O gosto da saudade vai distante,
Mostrando um novo encanto num instante
Amor irá selando o seu contrato.

Um riso que se encontre em desacato,
Sarcástico o meu verso é mais constante,
Não quero mais nem mesmo este rompante
Dizendo do que tive, neste trato.

Mascaro com mil guizos, fantasia,
Forrando a minha noite em ironia,
Recebo deste sol um frágil brilho.

Tentando ser feliz eu me perdi,
Olhando para o céu que vejo em ti.
A farsa que se fez, mudando o trilho.


010



A farsa que se fez mudando o trilho
Desaba desta enorme ribanceira,
Quem ama, na verdade traz bandeira
Diversa deste peito, um andarilho.

A vida vai puxando o seu gatilho,
Deixando para trás a sorte inteira,
Quem sabe alguma luz inda me queira,
Legando ao meu passando este empecilho.

Correndo sempre atrás de uma ilusão,
Vencido pela força do tufão,
Meus trunfos eu perdi não sobrou nada.

Lançados pelas mãos, os frios dados,
Desejos em pecados incrustados,
O jogo sempre foi carta marcada.





011



O jogo sempre foi carta marcada,
Perdendo no começo, vou embora,
O tempo de viver já não demora
Mostrando a mais temível derrocada,

A morte se fazendo anunciada,
Olhar fixo e distante se decora
Apenas solidão vem e deplora
Rompendo em negras nuvens a alvorada.

Parceiros que se foram no caminho,
Prossigo, de teimoso, e vou sozinho,
Farsantes os sorrisos que legaste.

Depois de ter somente solidão,
Sementes arrancadas deste chão,
O sonho se perdeu neste contraste.



012


O sonho se perdeu neste contraste
Mudando todo o rumo de uma vida,
Encontro tão somente a despedida
Deixada nos caminhos que trilhaste.

Às vezes eu me sinto feito um traste,
Parido em uma noite distraída,
Conversa sempre assim mal resolvida
Condena a nossa vida a tal desgaste.

Perdi, sem proteção, rosa dos ventos,
Não vejo solução nem sentimentos,
Apenas a mortalha me cai bem.

O fardo que carrego tanto pesa,
A morte consagrando sem surpresa
Depois da tempestade quero e vem.


013

Depois da tempestade quero e vem
Alagação no peito de quem ama,
Dilúvios apagando qualquer chama,
Não levo com certeza mais ninguém.

Notícias tão diversas do meu bem,
Mentiras espalhadas nesta trama,
Deitando a solidão em minha cama,
Vazio tão somente é o que se tem.

No quarto nem sequer um burburinho,
Ausência de calor e de carinho,
Destoa com um resto de esperança.

O medo se espalhando, nega a sorte,
E a vida sente inveja de uma morte
Alegria se omite e não se alcança.


014

Alegria se omite e não se alcança
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Buscando tão somente por alguém
Sabendo quem espera já se cansa.

Ferrenhas ilusões, dura lembrança,
Perdi faz tanto tempo, antigo trem,
Agora tão vazia a noite vem,
Mexendo com meus sonhos de criança...

Tartamudo, prossigo até que chegue
Um barco que outro mar inda navegue
E mude, num momento, o velho Fado.

No enfado de buscar e nada ter,
Olhando para espelho sem prazer,
Seguindo maltrapilho e maltratado.


015

Seguindo maltrapilho e maltratado
Escondo-me debaixo desta mesa,
Solidão desconhece uma defesa
E chega bem mais forte, aqui do lado.

De tanto que lutei, estou cansado
Nadando contra a dura correnteza,
Da fera disfarçada sou a presa,
O sonho já faz tempo, abandonado.

O peito escancarado, vai mais fundo,
Do quanto que já tive e num segundo
O mundo se levou por rumo incerto.

Meu passo não permite outro caminho,
O dia-a-dia; amargo, nega o ninho
A quem por tantas vezes quis liberto


016

A quem por tantas vezes quis liberto
E vejo rastejando pela casa,
A vida no vazio não se embasa,
Distante muitas vezes é incerto

Se nada vejo enfim quando eu desperto,
A chama se perdeu e apaga a brasa,
Sozinho, nem a glória mais me apraza,
De trevas eu prossigo recoberto.

Carcaça carcomida pelo tempo,
Vencido por terrível contratempo,
Encontro no final alagação.

A noite que se fez deveras fria
No terremoto mata a poesia,
Não deixa nem escombros pelo chão.


017




Não deixa nem escombros pelo chão
O vendaval terrível da saudade.
Matando com firmeza a liberdade,
Não deixa se esboçar nem reação.

Meu dia se perdendo num senão,
Fazendo do viver a falsidade,
Falindo qualquer forma de amizade,
Encontra o mais temível furacão

E o barco naufragando. Um morto-vivo,
Que outrora se mostrara tão altivo,
Perdido sem destino em alto mar,

Enfrenta a tempestade, mas desmaia
E morre mal encontra areia e praia
Depois de ter nadado até cansar.



018

Depois de ter nadado até cansar
Esbarro neste cais e já me afundo.
Perdido sem saber do amor profundo
Vencido encontro a morte no teu mar.

Não tendo nem mais onde te buscar
Eu vago pela casa num segundo,
O coração se veste vagabundo
Torrencial a chuva a me molhar.

Recolho os meus escombros me formato,
Porém sem ter sequer algum retrato,
Eu mato o bem que outrora já queria.

Fazendo deste amor o meu saveiro,
Plantando em solo frio e sem canteiro
Encontro a tempestade dia-a-dia.


019


Encontro a tempestade dia-a-dia
E bebo com vontade cada gota,
Minha alma prosseguindo boquirrota
Roubando do meu verso a fantasia.

Encontro tão somente a caquexia
Aonde o bem querer agora esgota,
Uma ilusão guardada na compota
Expõe o quanto sinto e o que eu queria

Um cão ladrando à lua suas dores,
Horríveis os jardins que não tem flores,
A boca não encontra dentição.

O verso que te fiz, morreu sozinho,
Quem dera se eu tivesse o teu carinho
Fazendo do meu peito um turbilhão.


020

Fazendo do meu peito um turbilhão
Antigas mariposas vão libertas,
As horas e a paragens são incertas,
A luz vai demonstrando a direção.

Fartura que se foi traz negação,
Janelas com certeza estão abertas,
Porém quando do sonho tu desertas
Impedem realmente a solução.

Falenas nesta noite em luz tão vária
A cada nova senda temerária
Na sede que se faz sem água ou sumo,

Perdidas totalmente em vaga-lumes,
Nas tantas sensações, vários perfumes,
Levadas pela dor seguem sem rumo.


021

Levadas pela dor seguem sem rumo,
As horas que passei sem ter ninguém,
O vento alucinado nega quem
Um dia poderia dar aprumo

Ao barco que se fez em desaprumo
Levado pelos lemes de outro alguém,
O tempo que se vai, mas nunca vem
Esquece o que já fui. Eu me acostumo.

Retendo apenas lágrimas, percebo
O quanto que te quis e nunca bebo
Nem mesmo o teu gotejo, disso eu sei.

Vagando no oceano da existência,
Sem ter algum farol, mesmo clemência,
Sequer ancoradouros; encontrei.





022


Sequer ancoradouros; encontrei,
Depois de tantos mares enfrentados,
Às vezes passageiros nauseados
Escondem o que tanto procurei.

O riso que jamais eu poderei
Trazer dos meus resquícios já passados.
Os dias prosseguindo vãos, calados,
Apenas o vazio foi a lei.

Não tendo nem um gesto a relembrar,
Apago o que se fez sem paladar,
Vagando por teu mar tão inconstante.

Jogando uma esperança ali no chão,
Não tendo mais sequer consternação,
O gosto da saudade vai distante.



023



O gosto da saudade vai distante;
Mas deixa no meu peito cicatrizes,
As alegrias foram quais atrizes
Trocando os personagens num instante.

O dia que se fez assim marcante,
Tomado tão somente por deslizes,
Querendo em aquarela que matizes
Fazendo o dia ser mais deslumbrante,

Porém uma esperança vai-se embora
E deixa este vazio desde agora,
Tomando a minha vida por inteira.

Na chuva em que se deu alagação
A sorte procurada vai ao chão,
Desaba desta enorme ribanceira.


024


Desaba desta enorme ribanceira
O sonho de um mineiro em descaminho,
Vivendo a vida inteira sem carinho,
Procuro no final alguém que queira

Fazer do amor perfeito uma bandeira,
E nessas esperanças eu me aninho,
Sentindo aproximar devagarinho
A dama que talvez fosse a primeira.

Mas logo percebi no belo rosto,
A marca mais cruel deste desgosto
Que vem e que destrói sem ter nem hora.

Prevendo uma derrota depois disso
Quem teve em pensamento um compromisso,
Perdendo no começo, vou embora.



025



Perdendo no começo, vou embora.
E deixo para trás somente adeus,
Os sonhos desde agora não são meus,
A sorte já se vai e não demora.

Apenas solidão inda decora
Trazendo com mais força trevas, breus,
Os olhos vão perdidos, são ateus
E nada do que eu quis já se assenhora

Dos dias em pedaços destruídos,
Os medos, com certeza, decididos
Travando o que pensara ser saída.

A negação constante e repetida,
Depois dos sonhos todos, esquecidos,
Mudando todo o rumo de uma vida.


026

Mudando todo o rumo de uma vida
As tramas desdenhosas da esperança.
Já sei que quem espera nunca alcança
E a sorte há tempos fora decidida.

A sina deve ser sempre cumprida
E nela não encontro uma aliança,
Morrendo mesmo assim, quero a pujança
Deixando para trás a alma perdida.

A chuva vem caindo no telhado,
Trazendo em cada gota o meu passado,
Mostrando quanto é dura a velha trama.

Aos poucos vem chegando aos borbotões
A tempestade faz em furacões
Alagação no peito de quem ama.


027


Alagação no peito de quem ama
Não deixam quase nada no caminho,
Dilúvio vem tomando o velho ninho
E molha com meu sangue, o chão e a cama.

Marcando o meu destino, sinto o drama
Deixando em mais completo desalinho
A vida de quem quis acesa a chama
E morre quase louco assim sozinho.

O quanto quis da vida e nada tive,
Lugares onde nunca mais estive,
Demonstram que o vazio sempre vem.

Causando no meu peito calafrios,
Meus olhos vão decerto assim vazios,
Depois de tanto tempo sem ninguém.


028

Depois de tanto tempo sem ninguém
Não tenho mais do amor, sequer o faro,
O tempo se tornando tão amaro,
Negando uma esperança que não vem.

Carrego no meu peito este desdém
E disso faço o sonho em desamparo,
Amor vai se tornando bem mais raro
E apenas o vazio me contém.

Nos rios quase secos da esperança,
Apenas um sorriso na lembrança
Da perna caminheira, resta o coto.

E disso faço um traço e já desvio
Mostrando em duro inverno, sem estio
O coração exposto, amargo e roto.


029



O coração exposto, amargo e roto
Um fardo maltrapilho que eu carrego,
Seguindo estas pegadas como cego,
Não vejo desta planta nem o broto.

O mundo prosseguindo e eu boquirroto
Não tenho mais sequer à vida apego,
Carona no cometa ainda pego
Encontro no infinito o mesmo esgoto.

Apenas nos meus sonhos, um alento,
Sentido como forte e louco vento
Que traz durante a noite esta magia,

Qual Midas, cada sonho traz tesouro,
Transforma qualquer nada no puro ouro
Tocado pela doce fantasia.



030


Tocado pela doce fantasia
Eu tive alguma chance de sonhar,
Porém ao perceber torpe luar
O mundo desabou, matando o dia.

Quem dera inda tivesse uma alforria
Capaz de todo sonho libertar,
Chegasse a um bom destino devagar,
Forrando nos meus pés vasta alegria.

Mas nada do que eu quero consegui,
Vagando sem ter rumo chego aqui
Trazendo tão somente o mesmo não.

A vida decepando algum lirismo
E passo o tempo inteiro em pessimismo,
Fazendo do vazio o meu colchão.


031


Fazendo do vazio o meu colchão
Eu deito uma esperança que não veio,
Espalho em meus caminhos tal receio
Não vejo mais sequer a viração.

O canto se esqueceu lá no porão
Do barco que se fez em puro anseio.
O fogo da paixão; jamais ateio
Vivendo sem sequer ter subvenção.

À noite muitas vezes me demoro,
Olhando para o céu ao qual imploro
Apenas um caminho a se mostrar.

Porém o pensamento se desvia
E passa a noite inteira em fantasia,
Seguindo cada raio do luar.



032


Seguindo cada raio do luar
Eu busco por mim mesmo, e nada achando
O tempo na verdade vai voando
E a noite se perdendo no vagar

Da estrela pela noite a navegar
Aos poucos nova senda vai trilhando
Não deixa mais talvez saber nem quando
Nem mesmo aonde possa se aportar.

Ao ver este belo astro sem um rumo,
Destino que se foi jamais assumo
E morro sem ter luz ou fantasia,

Uma esperança aborta-se depressa
E a voz do coração logo confessa:
Estrela que se perde já não guia.


033


Estrela que se perde já não guia
E deixa minha estrada em puro espinho,
Na curva mais fechada do caminho,
A vida se perdendo tão vazia.

Nos rastros do cometa eu percebia
O quanto é delicado não ter ninho,
Da dor que sempre chega eu me avizinho
E faço dela o mote e a poesia.

Toando no meu peito uma guitarra
Cortando a minha carne, a cimitarra
Penetra bem mais fundo amor em vão.

Cansado da batalha prometida,
Eu sigo o que restou de minha vida
Vencido por tão dura sensação.


034


Vencido por tão dura sensação
Do quase que já tive e se perdeu,
O mundo que encontre jamais foi meu,
Agora só me resta a negação.

Os passos que eu tentei foram em vão,
O dia em sol jamais amanheceu
A morte vem trazendo em himeneu
Aquilo que seria compaixão.

Parturientes sonhos; abortados,
Meus pés estão deveras, tão cansados
Não sabem discernir no triste rumo

Alguma claridade, mesmo fosca,
Na dor que a solidão cedo me embosca,
Não tendo perspectivas de um aprumo.



035



Não tendo perspectivas de um aprumo
Eu tento pelo menos disfarçar,
Caminho tantas vezes devagar
E mesmo assim me perco deste rumo.

À solidão eu sei não me acostumo
E tento muitas vezes me livrar,
Porém nada encontrando, vou buscar
Da vida qualquer gota. Seco sumo...

Às vezes me pergunto sem respostas,
Carrego a fria cruz em minhas costas,
Das hortas semeadas nada sei.

Apenas quero crer e não consigo,
Na seca que carrego aqui comigo,
O quanto que não trago e cultivei.


036

O quanto que não trago e cultivei
Expressa a mais cruel, pura verdade,
Perdendo o que restou, tranqüilidade,
A cada novo sonho naufraguei.

Partindo do que busco e não achei,
A vida só me trouxe esta saudade
Que agora reproduz a falsidade,
Dizendo que da vida nada sei.

Quem dera se forjasse a primavera
Das garras mais audazes de uma fera
Um dia mais perfeito e deslumbrante;

Na luz do imaginário sol imenso
Um belo amanhecer do amor intenso
Mostrando um novo encanto num instante.





037


Mostrando um novo encanto num instante
Uma ilusão se faz sublime e forte,
Cicatriza a ferida e cura o corte
E traz altivo porte, triunfante.

Com passos bem mais firmes, elegante
A vida mudaria toda a sorte,
Porém sem ter um cais aonde aporte
O barco vai sem rumo em mar distante.

Não quero mais mentiras e nem sonhos,
Meus ritos são doridos e tristonhos,
Não tendo a mão amiga e verdadeira.

Futuro desde agora decidido,
Não quero andar sozinho ou iludido,
Quem ama, na verdade traz bandeira.


038

Quem ama, na verdade traz bandeira
E esquece a falsa pedra diamantina,
Apenas a verdade me alucina,
O resto é luz opaca, feiticeira.

Deitando uma esperança nesta esteira
Aguardo algum sorriso da menina,
Nas águas da lagoa cristalina
Reflexos deste amor que um dia queira

Vestir a minha pele em sua tez,
Trazendo à vida alguma maciez,
Jogando este vazio para fora.

Quem sabe poderei dizer um dia,
A frase que o destino mudaria:
O tempo de viver já não demora!


039


O tempo de viver já não demora,
Ouvi esta mentira alguma vez,
Nos olhos de quem quis; tanta altivez
Matando uma esperança desde agora.

O quanto que já fiz e foi embora
Aos poucos vou perdendo a lucidez
A vida em agonia muda a tez
E toda esta amargura se deplora.

Farsantes ilusões foram meus guias,
Estrelas que trouxeram sempre frias,
A mão que encaminhara vai perdida,

Vasculho cada ponto deste chão,
Da casa, sala, quarto, e no porão
Encontro tão somente a despedida.


040


Encontro tão somente a despedida
Aonde cultivara uma esperança,
O tempo preparando uma vingança
Aborta qualquer sonho em minha vida.

A sorte há tantos anos sei perdida,
Apenas solidão inda me alcança,
Saudade cultivada na lembrança
Às vezes mitigando, distraída...

O que fora fogueira já não há
A trama do viver me mostrará
O fim de quem sozinho inda reclama

Trazendo ao fim da tarde, o temporal,
A chuva em tempestade sem igual,
Dilúvios apagando qualquer chama.


041



Dilúvios apagando qualquer chama
Não deixam mais o fogo me queimar,
Paixão morrendo aos poucos, devagar,
Apenas solidão, agora chama.

Torpeza faz das lágrimas a lama
Aonde sigo o duro caminhar,
Mudando as pedras todas de lugar,
Não tenho mais nem limo, sequer grama.

E a queda que se faz em erosão,
Exprime a força inútil da ilusão,
Que toda noite chega, e nunca vem...

Vagando pelas sendas, vou sozinho,
Não tendo mais ninguém vasculho o ninho,
Buscando tão somente por alguém.



042



Buscando tão somente por alguém,
Mineiro coração faz a colheita
A claridade em sonhos sendo feita
Esconde a tempestade que inda vem.

Atrás daquele monte a negra nuvem
Enquanto o sol ainda não se deita
Parece que em tocaia, numa espreita
O dom de destruir, percebo, tem.

Na falsa calmaria desta tarde
O gozo da ilusão que eu sei inda arde
Depois de certo tempo em alto brado

Trará a tempestade mais cruel,
Porém a sensação de um calmo céu
Retrata o que vivemos no passado.


043


Retrata o que vivemos no passado,
O brilho de um olhar que tanto quis,
Pensando muitas vezes ser feliz
Num sonho, mesmo breve, abençoado.

O medo na amargura retratado
Deixando a vida inteira por um triz,
Esperança, uma velha meretriz,
O corte sempre assim, aprofundado

Saudade me marcou qual tatuagem,
Procuro e nada encontro; uma miragem
Do oásis salvador, pleno deserto.

Teimando, eu não me canso de sonhar,
Mostrando que apesar de inda sangrar
O peito escancarado segue aberto.



044



O peito escancarado segue aberto
E trama um novo encanto, uma ilusão,
Que traga ao meu caminho, a redenção
Que o faça navegar, solto e liberto.

Sentindo esta presença aqui por perto
Percebo em vento manso, a sedução.
Porém ao acordar, o mesmo não
Traduz o que eu carrego, um vão deserto.

Procuro pelos sons que recebera
Nos cantos mais diversos, primavera.
Os pássaros se foram, revoando...

A seca se espalhando em meu inverno,
Interminável, duro, frio, eterno...
O nada, meu olhar vai vasculhando.


045


O nada, meu olhar vai vasculhando
Em plena imensidão, sigo vazio.
O vento da ilusão, num arrepio
Aos poucos toda a cena vem tomando.

Olhar tão carinhoso imaginando,
Um novo amanhecer; persigo e crio,
Que possa refazer antigo estio
No peito que se fez frio, nevando.

Ao ver uma presença delicada,
A moça transfigura-se na fada
Que em maga luz, a dor extraia

E faça novamente rebrotar,
Só peço e não me canso de implorar
Que a sorte transparente não me traia.


046

Que a sorte transparente não me traia
E traga finalmente um grande amor.
Trazendo a mais perfeita e rara flor
No sonho que em belezas já se espraia.

Depois de navegar, chegando à praia
Um mundo radioso a se compor,
Farturas de emoções a te propor
Enquanto a solidão, vaga, desmaia.

Sentindo este bafejo da esperança
A lua volta a ser como criança,
O medo adormecido resta mudo

E o tempo passa a ser meu aliado,
Bebendo da alegria em manso prado
Prossigo esta viagem, vou com tudo.




047


Prossigo esta viagem, vou com tudo
Em cada novo passo, um riso franco,
O dia amanhecendo claro e branco,
Felicidade plena, eu já me iludo

Deixando para trás porém, contudo
Corcel já não galopa mais tão manco,
Sangria desatada; agora estanco
E a doce fantasia, amando, ajudo.

Mal chega a noite e a solidão renasce,
A dor vem se mostrando em nova face
Cruel, com ironia, fria, amara.

Unindo suas forças com saudade,
Trazendo sem limites, crueldade,
Distante desta boca que eu beijara.



048


Distante desta boca que eu beijara
Uma amargura toma toda a cena,
Até uma esperança me envenena
A luz se torna frágil, mesmo rara.

A queda se promete e desampara
Saudade se tornando forte e plena,
Corrói o que plantara a paz amena.
Matando o que tão pouco inda restara.

Os dias se tornando pesadelos,
As dores se entranhando, vis novelos
E toda uma existência morre em trevas.

Sem lume, sem faróis, eu sigo cego
Traído pelo barco que navego
Tristezas dos meus olhos fazem cevas.


049

Tristezas dos meus olhos fazem cevas
Criando dissabores mais cruéis,
As dores espalhando amaros féis,
As agonias chegam, vêm em levas.

Os sonhos que em sarcasmo tu me levas
Roubando da ilusão os seus corcéis,
Olhando para a sorte de víeis,
Apenas encontrando tantas trevas.

O corte aprofundado no meu peito,
O mundo que eu queria já desfeito
Os lábios que eu beijara, canibais.

As ânsias dominando este cenário
O rio que se perde em estuário
Permite já saber que dói demais.


050

Permite já saber que dói demais
A angústia de viver em solidão,
Roubando de meus pés apoio e chão,
Deixando mais distante qualquer cais.

As horas que passei são infernais
A vida prosseguindo quase em vão.
Porém no amor senti transformação
E os dias poderão ser magistrais.

Revigorado sonho que traduz
O brilho solitário desta luz,
Tornando bem mais claro o novo fato

Que faz do amanhecer, um ato nobre
E a cada forte sol que nos recobre
Amor irá selando o seu contrato.


051


Amor irá selando o seu contrato
E a vida poderá ter liberdade,
Quem sabe inda terei felicidade,
Meu verso em esperança voando alto...

A paz revigorando-se neste ato
Permite até sonhar tranqüilidade.
Deixando em solidão cruel saudade
A fonte revigora este regato.

Cometa que passeia pelos céus,
Decora-se em diversos, claros véus
E segue sem destino, rumo ou trilho.

Amor trazendo um cais, ancoradouro,
Detendo uma alegria em nascedouro,
Diversa deste peito, um andarilho.



052


Diversa deste peito, um andarilho,
A vida necessita de um suporte,
Trazendo no seu bojo todo o norte,
No amor que se faz sempre um estribilho.

Distante do caminho que ora trilho
Mudando toda vez que sente o corte
Profundo, latejante em que se aporte
O medo de sofrer. Deste empecilho

O muro intransponível pressentido.
O sonho a cada noite destruído
Não deixa depois disso, quase nada.

Seguindo este caminho tão confuso
A terra vai girando em vário fuso
Mostrando a mais temível derrocada.


053

Mostrando a mais temível derrocada
O vento da ilusão já me deixou,
O tempo ao mesmo instante revoltou
A vida se tornando então, nublada.

Mudando a direção, noutra calçada
Passo titubeante demonstrou
Que nada do que fora ainda sou,
Resumo minha vida em quase nada...

Apenas vou seguindo cada rastro
Legado pelo amor, temível astro
Que trama com sarcasmo tal desgaste.

Encontro nestas sendas, simples marca,
Pegada que esperança ainda abarca
Deixada nos caminhos que trilhaste.


054


Deixada nos caminhos que trilhaste
Uma alegria finge e mal disfarça.
Cansado de viver terrível farsa
Encontro a minha paz neste contraste.

Catando as estrelas que espalhaste,
A fantasia segue tensa, esparsa,
Quem dera da ilusão eu ser comparsa,
A vida poderia ter outra haste.

No vazio que encontro, a liberdade,
Mostrando toda a paz, tranqüilidade
Ao saber que na noite o nada vem.

Voando mais liberto, aberto o peito,
Seguindo cada passo deste jeito,
Não levo com certeza mais ninguém.


055


Não levo com certeza mais ninguém
Assim o meu caminho, eu sigo leve,
O tempo de viver mesmo que breve,
Magias na verdade sempre tem.

Olhando para frente, vou além,
E tendo uma certeza que me enleve
O vento calmamente venha e leve
Meu barco para os braços de meu bem.

Porém se não vier, estou tranqüilo,
Um riso mais sincero; inda destilo,
E faço deste nada uma esperança.

De ter amanhecida a sorte imensa,
Viver já é decerto, recompensa,
Sabendo: quem espera já se cansa.


056



Sabendo: quem espera já se cansa
Eu faço do meu verso uma astronave
Vencendo com ternura, vou suave
E chego calmamente à esperança.

Passada prosseguindo bem mais mansa,
Pois tenho da alegria, agora a chave,
Não temo mais qualquer perigo, entrave
Quem sabe caminhar, decerto alcança...

Outrora em desalinho, insensatez,
Perdendo cedo o prumo, sem ter vez
Contínua solidão, perpétuo moto,

Fazendo uma arruaça no meu peito,
Tropeçando, forjava desse jeito,
De todos os meus dias, terremoto.


057


De todos os meus dias, terremoto
Mudando vez em quando o velho rumo.
Pecado cometido; logo assumo
E de ilusões, o peito agora eu loto.

O sonho se mostrara então, remoto,
Negando da alegria o santo sumo,
Nas mãos amareladas pelo fumo
O medo deste amor, decerto esgoto.

E faço do meu verso, uma arma a mais
Querendo bem aqui os magistrais
Delírios deste amor que eu bem queria.

Do quanto que não tive e o que passei
No muito da esperança eu decorei
O passo que se mostra a cada dia.



058


O passo que se mostra a cada dia
Depois de certo tempo faz liberto
O peito que tivera por deserto
Refrão tão repetido em mão vazia.

Inverno de repente já se estia
O quanto que carrego, sem aperto,
Distante se tornando bem mais perto,
Vigora agora a lei feita alegria.

Não quero reviver a dura seca,
Também não necessito de ama-seca
Eu quero simplesmente estar amando.

Se o tempo traz verdade e mata a crença
Começo e recomeço, recompensa,
Não quero e nem me importa desde quando.


059



Não quero e nem me importa desde quando
Apenas quero estar junto contigo.
Se chove ou se faz sol, eu já nem ligo,
O dia em calmaria eu vou passando.

Depois que vi o sonho desabando
Percebo claramente que o perigo
Já mostra o quanto é duro o desabrigo
De quem persegue o sonho, mas negando.

Espero tão somente que esta glória
Criada pelos ventos da vitória
Jamais ao fim de tudo, inda me traia.

Eu peço numa prece, e peço tanto
Temendo o mais terrível desencanto,
Que a vida se mostrando não mais caia.


060



Que a vida se mostrando não mais caia
Na fácil tentação de ser levada
Por terra nunca dantes explorada
Que ao final de tudo venha e traia.

O barco quando chega à mansa praia
Esquece simplesmente da jornada,
Perdida numa insone madrugada.
Que a sorte conseguida, nunca saia

Deixando a tempestade como herança,
Prefiro prosseguir nesta bonança,
Vivendo simplesmente, tenho tudo

Daquilo que julgara harmonioso.
Porém inda prossigo temeroso:
Nos olhos de quem quero eu não me iludo.




061

Nos olhos de quem quero eu não me iludo,
Pois sei que a vida traz tanta surpresa,
Às vezes enganosa correnteza
Naufraga uma esperança. Mas, contudo

Ainda que persista quase mudo
Percebo esta gentil delicadeza
Daquela que se fez vital beleza,
No bem de minha vida, quase tudo.

Tentando preservar este cristal,
A redenção se mostra magistral,
E a sorte transformada, agora ampara.

Tesouro que encontrei em rica mina,
Sabendo mesmo frágil já domina:
Felicidade é jóia sempre rara.


062



Felicidade é jóia sempre rara;
Disso eu sabia há tempos; eu garanto.
Converto uma tristeza em puro encanto,
A vida passa a ser tão bela e cara.

O coração teimoso inda dispara
Ao ver tua presença em cada canto
Da casa que distante, imaginara
Um templo ao temível desencanto.

Um dia, amanhecendo em negras nuvens,
Percebo olhar tristonho que tu tens
Moldando em negação doridas trevas.

E sinto quanto a vida é mais cruel,
Ao desabar em chuva, perco o céu,
Do nada que trouxeste; tudo levas.



063


Do nada que trouxeste; tudo levas;
Deixando para trás o que plantamos,
Distante da emoção que desfrutamos,
Apenas as tristezas sei que cevas.

Por mais que tantas vezes sei que nevas
Quebrando do arvoredo tantos ramos,
Eu sei que na verdade já tentamos
Fugir das solidões, amargas cevas.

A culpa, na verdade está comigo,
Um velho condenado ao desabrigo
Não tem como saber de um manso cais.

A sina deste insano sonhador,
A cada novo dia vem compor
O fato de ter sempre este jamais.


064

O fato de ter sempre este jamais
Esconde uma ironia do passado,
Talvez eu não tivesse imaginado
A falta que me faz seguro cais.

Eu te asseguro e falo sempre mais
Do amor que muitas vezes renegado
Precisa ser deveras cultivado
Com mãos mais delicadas, pontuais.

Às vezes num descuido nós não vemos
Que o barco necessita de seus remos,
Senão capotará mesmo em regato.

Palavras malfazejas que maltratam,
Olhares cabisbaixos já retratam
Um riso que se encontre em desacato.


065



Um riso que se encontre em desacato
Às vezes é capaz de destruir
Mudando toda regra do contrato,
Felicidade eu sei, vai impedir.

Só sei que na verdade cada fato
Ajuda sempre o mesmo nada vir
Transfigurando sempre o meu retrato,
Jogado em algum canto a refletir

O vago que criei como esperança,
Negando em nascedouro uma festança,
Barreira que impediu seguir meu trilho.

Barcaça da ilusão já me mostrou
Que sempre no caminho aonde vou
A vida vai puxando o seu gatilho.




066

A vida vai puxando o seu gatilho
E faz tremer as bases de quem ama,
Recebo ainda o fogo desta chama,
Tentando destruir este empecilho.

Amor é qual cometa, um andarilho
E vaga toda noite em minha cama,
Aos poucos, na verdade já difama
Enquanto não se inflama e muda o trilho.

Percebo em teus retratos na parede,
Que ainda tenho sonho, e tenho sede
Embora no final não reste nada.

A cada novo dia mais vazio,
Usando a tempestade como fio
A morte se fazendo anunciada.


067

A morte se fazendo anunciada
Espreita de tocaia e dá seu bote,
Cansado de beber do mesmo pote
Não vejo no final, sobrar mais nada.

Um vago que caminha em fria estrada,
Repito e não me canso o duro mote,
Espero uma alegria por rebote,
Porém a sorte segue enviesada.

Nas folhas todas brancas do passado,
O vento quando vem é mais gelado
Herança que ao final tu me legaste.

Sem ter sequer um resto de ilusão,
Partindo tão somente deste não;
Às vezes eu me sinto feito um traste.



068

Às vezes eu me sinto feito um traste,
Em outras revigoro o pensamento,
Jogado em algum canto num momento,
Perversas sensações tu me locaste.

De ti, eu sinto, queres que me afaste
Fingindo transtornada, mas agüento
Toda a profusão do imenso vento
Que neste copo d’água provocaste.

Farsante e muitas vezes caprichosa
Espinho disfarçado em mansa rosa,
Com tantas ironias, mostra e tem

Guardadas; num recanto, as novidades
Trazendo com terríveis crueldades
Notícias tão diversas do meu bem.


069

Notícias tão diversas do meu bem
Trazidas pelo vento da saudade,
Fazendo no meu peito a claridade
Que toda noite chega, e mansa vem.

Queria na verdade ter alguém
Que um dia demonstrasse a liberdade
Encontrando afinal, felicidade,
Mas perco na estação o velho trem.

Vagões que imaginara da alegria
No fundo sem calor e sem magia
Negaram qualquer forma de esperança.

Restando este caminho contrafeito
Trazendo toda noite, quando deito,
Ferrenhas ilusões, dura lembrança.




070


Ferrenhas ilusões, dura lembrança;
Invadem os meus dias sem descanso.
O sonho vai distante, não alcanço
E espero tão somente uma mudança

Que faça do amor em contradança
Apenas um regato bem mais manso.
Aos braços da ilusão, quando me lanço
Espreito na verdade uma esperança.

As nuvens que prometem furacão,
Enegrecendo assim todo o meu céu,
No fundo só riscaram a amplidão

Do turbilhão gigante, nada sobra,
O barco em calmaria se soçobra
Demonstra o vento às vezes disfarçado.




071


Demonstra o vento às vezes disfarçado
O leve balançar de cada folha,
Quem dera se eu tivesse alguma escolha
Eu ficaria aqui, sempre ao teu lado.

O dia transcorrendo mais gelado,
Rompendo da emoção a simples bolha
A lágrima que o olhar, às vezes molha
Demonstra entardecer anunciado.

Vazio sem ter sombras de um alguém
Que possa mitigar meu sofrimento,
A noite em mãos vazias logo vem

Tornando o meu caminho mais incerto,
Que faço se prossigo contra o vento,
Seguindo em rumo insano este deserto.



072


Seguindo em rumo insano este deserto
Não tendo mais oásis pela frente
Eu sigo pela vida tão somente,
E aos poucos esperanças, já deserto.

O rosto exposto ao vento, descoberto,
Permite que se veja claramente
A dor que em tanta angústia se pressente
E contra este vazio, grito e alerto.

Mas nada do que tive revigora,
Vontade tão somente de ir embora,
Carregando no peito a negação.

Vencido pelas pedras do caminho,
De tudo plantei, colhendo espinho,
Apenas encontrei a decepção...


073


Apenas encontrei a decepção
Aonde imaginara ver o brilho
De um novo amanhecer, novo estribilho
Mudando a velha e tétrica canção.

Mascando esta terrível sensação
Do tempo se perdendo eu já me pilho
Sonhando com amor sem empecilho.
Acordo e vejo sempre o mesmo não.

O tempo foi em vão, disso eu bem sei,
Estrelas e cometas naveguei
Até ver o meu sonho naufragar.

Mentiras que criei, tais fantasias,
Nos encantos frugais que me trazias
Promessas que cansei já de escutar.


074

Promessas que cansei já de escutar
Repetem as mentiras ilusórias,
De todas emoções, restaram escórias,
Eu não conhecerei a praia ou mar.

No pacto que fizemos, vim buscar,
Revigorando em vão velhas memórias.
São falsas tuas jóias, e as vitórias
Nas Tróias vi meu mundo desabar.

Um anjo dos safados me mostrou,
Que nada, sempre o nada, me restou,
Fazendo deste canto, voz vazia.

Porém eu não preciso mais de pena,
Por mais que seja triste e dura a cena
Jamais permitirei tal heresia.




075


Jamais permitirei tal heresia
De ter um vão sorriso, um beijo falso,
Não quero mergulhar no cadafalso
Que a noite nos teus braços prometia.

Viver tão somente em fantasia?
Um futuro mais digno; eu quero e alço
Vencendo qualquer forma de percalço

Não trago mais descalço um velho sonho.
O canto em harmonia que componho
Talvez inda me trague a redenção.

Mas vejo que, perdido o sentimento,
Eu desconheço a força deste vento:
Difícil descobrir a direção.











Publicado em: 02/02/2008 11:48:11
Última alteração:22/10/2008 19:41:11



HÉLICE DE SONETOS- ESPIRAL A. segunda parte



076

Difícil descobrir a direção
Se o timoneiro está daqui ausente.
Nem mesmo este passado mais recente
Descreve com vigor a solução.

Negando a todo instante paz e chão ,
O medo de viver já se pressente
E trama com saudade novamente
O verso que se fez ingratidão.

Martírios e desejos incontidos,
Contratos muitas vezes descumpridos,
No fundo qualquer erro eu sempre assumo.

Mas vejo minha força se esvaindo
Enquanto a noite fria vem caindo
Roubando gota a gota todo o sumo.


077

Roubando gota a gota todo o sumo
Do resto da esperança que inda trago,
Vivendo sem sequer ter um afago,
Aos poucos no vazio eu me consumo.

A vida se esvaindo em frágil fumo,
Da sorte desejava cada bago,
Agora o restou denota o estrago
Negando no final caminho e prumo.

Vencido totalmente sigo só,
Estrada se tornando areia e pó,
Só me resta um consolo: muito lutei.

Inverno eternamente cai em mim.
Não tendo mais escolha, sigo assim
Fazendo do vazio, a sorte e lei.


078


Fazendo do vazio, a sorte e lei,
Não tenho mais motivos pra sonhar,
O tempo em que distante mergulhei
Secou completamente todo o mar.

Por mais que tantas vezes naveguei,
No fundo nada tenho pra contar,
Apenas esquecido, naufraguei,
Não tenho mais sequer onde buscar

Um último desejo, um dia manso.
Olhar para o passado, quando lanço
Demonstra este vazio extenuante.

Fazendo da ironia a minha lança,
Sem ter o que sonhar, sem ter lembrança,
Sarcástico o meu verso é mais constante.


079

Sarcástico o meu verso é mais constante
E faz o dia-a-dia suportável,
A sede necessita água potável
A dor a se espalhar, contagiante.

Não tendo mais aonde nem diante
Eu tento ser ao menos mais amável.
Embora o mar não seja navegável
Meu barco vai tentando, num rompante.

A triste solidão já me assoalha
Trazendo como brinde uma mortalha,
E toda esta ironia por bandeira.

Fazer o quê? Seguindo a minha sina
Ao nada meu caminho se destina
Deixando para trás a sorte inteira.


080


Deixando para trás a sorte inteira
Bisonhas gargalhadas eu espalho,
Sorriso passa a ser penduricalho
Quebrando o que me resta da viseira.

A mão da solidão é bem ligeira
Trazendo uma ilusão em ato falho,
Andando sem destino eu me atrapalho
E colho tão somente bandalheira.

Nas nuvens tão medonhas, sinto a chuva
Caindo dentro da alma como luva,
Matando o que restou de mim agora.

Sem ter nenhum farol a me guiar,
Perdido bem distante do luar,
Olhar fixo e distante se decora.



081

Olhar fixo e distante se decora
Nas trevas do vazio que me deste.
Amor não pode ser tão cafajeste,
Preciso renascer ou ir embora.

Quem sabe, está chegando enfim esta hora,
Colhendo tão somente a fria peste
Que segue cada passo e me reveste
Do medo sem limites vida afora.

Um velho caminheiro busca o porto
Sonhando solução quisera aborto
Matando em nascedouro a triste vida.

O cais que necessito, eu não alcanço
Um verme sobrevive, sem descanso
Parido em uma noite distraída.


082



Parido em uma noite distraída
Segui a minha sina, tal e qual
Amor que perdeu no vendaval
Deixou já maltrapilha a minha vida.

Etapa que tentei e vi vencida
Jogada pelos cantos, sem bornal.
O dia se fartando traz, boçal,
A noite sempre feita em despedida.

Resíduos que carrego dentro em mim,
Escombro, finalmente eu chego ao fim
Talvez por um momento entenda a chama

Que um dia prometeu um fogaréu.
Recolho caminhando sempre ao léu,
Mentiras espalhadas nesta trama.


083



Mentiras espalhadas nesta trama
Encontram o vazio por resposta,
A mesa quase sempre nunca posta
Não pode e nem convida, nunca chama.

A pele em agonia já descama
E mostra o corte fundo feito em posta
Não tendo mais prazer, perdi a aposta
Quem sonha assim demais encontra a lama.

Nos horizontes nada de montanhas,
Não sei e não terei malícia e manhas.
Apenas solidão é o que convém

Ao velho passageiro em descaminho,
Viajo pelo tempo e vou sozinho
Perdi faz tanto tempo, antigo trem.


084



Perdi faz tanto tempo, antigo trem
Na curva mais fechada do caminho,
A noite vem chegando de mansinho
Mostrando que esperança ainda tem;

Cansado de sonhar, prossigo sem
Certeza que me trague algum carinho.
Não tendo mais o gosto de teu vinho,
Relembro a noite imensa do meu bem...

Pensara ser possível ter algum
Mesmo que pequenino, usando o zoom
O amor pode ser claro. Nele eu boto

O que restou do sonho. O peito segue aberto,
Mas vejo: se aproxima e está bem perto
O pesadelo outrora tão remoto.



085



O pesadelo outrora tão remoto
Chegando tão feroz sem poesia
Transtorna totalmente cada dia,
Do nada que já tive; o vago broto.

O mundo se repete, e neste moto
A gente vai matando a fantasia.
Não tendo mais sorriso que eu queria
Os olhos no vazio, agora eu boto.

Na dura caminhada pela vida,
Estrela que guiara está perdida,
Não vejo nem mais sombra da alegria.

Sombria, cada noite se perdeu
E quem sonhou demais sem himeneu,
Jogado sempre às traças, ventania.



086


Jogado sempre às traças, ventania,
O barco se esqueceu que tinha um leme,
A terra sem um porto sempre treme
E muda a direção que bendizia.

A madrugada segue dura e fria
O peito solitário tudo teme,
O vento em assobio vem e geme
Tornando mais macabra e mais sombria

A noite que se fez sem dar alento.
Distante, bem distante o pensamento
Procura dispersar o furacão.

Minha alma num momento, decomposta
Ouvindo deste amor, cruel resposta:
O quanto que eu amei, foi tudo em vão.


087


O quanto que eu amei, foi tudo em vão,
Farrapos estendidos na janela.
Destino no vazio, a vida sela
E leva o barco em nova direção.

De tudo que se fez recordação,
Eu lembro-me do sonho que revela
Estrela tão fantástica e mais bela,
Brilhando bem mais forte na amplidão.

Depois de ter perdido assim seus rastros,
Vagando sem destino pelos astros
Meus olhos simplesmente irão buscar

A paz que se fez trágica e distante,
Das dores eu me sinto um navegante
Rolando a noite inteira bar em bar.



088

Rolando a noite inteira bar em bar
Entregue à mais completa fantasia,
Enquanto este aguardente me inebria
Começo sem limites a lembrar

O quanto fui feliz, outrora, um dia
Bebendo em ilusão imenso mar,
Trazendo para a cama este luar,
Regando minha vida com magia...

Depois de certo tempo, estou sozinho,
Apenas como amigo, amargo vinho,
Promessa de uma noite mais sombria...

Assim vou repetindo esta rotina,
Que a cada anoitecer já me domina:
Sonhando com quem nunca me queria.


089

Sonhando com quem nunca me queria
Vestido de ilusão, verde eu desboto,
O tempo vai mostrando eterno moto
Girando em carrossel, negando o dia.

Herança deste amor: farta agonia.
Felicidade, apenas vaga foto
Guardada em algum álbum mais remoto.
Espreito numa esquina, uma alegria

Não encontrado nada, volto a casa.
Lareira da esperança já sem brasa
Não traz para este frio, a solução.

Jogando minhas roupas pela cama,
Ao brilho do luar, penso na chama
Tomada pelo vago coração.


090



Tomada pelo vago coração,
Um velho timoneiro sem juízo,
O barco se perdeu, rumo impreciso
O meu porto seguiu arribação.

Quem dera se tivesse a redenção,
Ao menos encontrasse algum sorriso,
Da sorte procurada algum aviso
Que fosse bem distante deste não.

Partilhas já negadas pela sorte
Derrubam minha bússola e sem norte
O barco se agoniza e vai sem rumo.

Minha rosa dos ventos vira espinho
Restando de consolo, aqui sozinho,
Os erros que cometo, sempre assumo.


091


Os erros que cometo, sempre assumo
E sei o quanto é cedo pra partir,
Mas tendo que sozinho prosseguir
O peito solitário logo aprumo.

Nas brumas da manhã, temível fumo,
O barco irá seguindo a descobrir
As ilhas onde eu possa conseguir
De toda a minha vida, qualquer sumo.

O cais que me prometes não me basta,
Minha alma vai cansada, fria e gasta
Num precipício imenso eu mergulhei

Jogado neste mar, busco e cadê?
Procuro em outro amor saber por que
Distante de teus braços, naveguei.


092

Distante de teus braços, naveguei
Por mares tão diversos do que eu quis.
Teimoso, o coração de um aprendiz
Esconde tudo aquilo que busquei.

Reinados dos meus sonhos vão sem rei
De tudo o que eu queria, ser feliz,
A sorte se mostrando meretriz
Expõe em calafrio o que passei.

A vida sempre cobra de quem traz
Intempestivo braço e vai audaz
Tornando o passo frágil e inconstante.

Depois de ter sentido medo e frio,
Perdendo o meu caminho em desafio,
Não quero mais nem mesmo este rompante.


093


Não quero mais nem mesmo este rompante
Que faça desabar inteiro o prédio
A vida vai passando sem remédio
A dor já se tornando mais constante.

Olhar que um dia fora triunfante,
Agora se perdendo em pleno tédio.
A morte vem mostrando num assédio
A solução terrível, mas constante.

Vivendo o tempo inteiro neste escuro,
Pretendo num amor saltar o muro,
Sentindo a claridade verdadeira.

Embora tão somente pirilampo
Abrindo o coração, imenso campo,
Quem sabe alguma luz inda me queira.

094



Quem sabe alguma luz inda me queira
E venha organizar a minha vida.
Por vezes minha mão vai distraída
E quebra esta promessa derradeira.

Do quanto que perdi, faço a bandeira
Capaz de se mostrar mais decidida
A sina dever ser sempre cumprida,
Mas quero outra saída, lisonjeira.

A vida vai seguindo o seu caminho,
Prossigo sempre em paz, mesmo sozinho
Não tendo outro destino, mundo afora

Embora cabisbaixo, sem porém
Comigo, com certeza, tudo bem.
Apenas solidão vem e deplora


095


Apenas solidão vem e deplora
O quanto me perdi do antigo bando,
A vida num momento desabando
Quem sabe da verdade se assenhora.

Vagando simplesmente mundo afora,
Contra esta correnteza vou remando
Não sei e nem pergunto desde quando
A dor promete cura e revigora.

Tocado pelo bom desta aguardente
Às vezes eu me sinto inconseqüente,
Mas guardo uma esperança em minha vida,

De um dia poder ter tudo o que quero,
A bem de uma verdade enfim tempero
Conversa sempre assim mal resolvida.


096


Conversa sempre assim mal resolvida
Depois de tanto tempo gera o nada.
A noite vai passando e na calada
Escuto esta mentira repetida.

A farsa se entranhando em nossa vida,
Derruba com certeza alguma escada,
Jogando o sentimento na calçada
Encontra a velha paz tão distraída.

Amor necessitando de um apronto
Esclarecendo tudo ponto a ponto,
Senão sinto apagar-se a velha chama

No amor que já se fez mal entendido
O dia com certeza é mais comprido,
Deitando a solidão em minha cama.


097

Deitando a solidão em minha cama
Esconde logo a lua que inda teima,
Do amor que fora um dia guloseima
Vivendo em descaminho, perco a trama.

Apenas a saudade vem e chama
Tristeza no meu peito sempre queima
Trazendo para o olhar a velha teima,
Que cisma em maltratar enquanto inflama.

De todos os duendes, gnomos, fadas
Que um dia povoaram os meus sonhos,
O vento traz em outras baforadas

O rosto tão somente de ninguém;
Em meio a versos tristes e medonhos,
Agora tão vazia a noite vem.



098

Agora tão vazia a noite vem
Sem hora pra chegar quer ir embora
Embora tantas vezes sem ninguém
Agora a solidão cruel decora.

Senhora de meus dias, nada tem,
Aflora a sensação por mundo afora,
Sem hora pra cumprir eu perco o trem.
Ancora meu destino e se assenhora.

Revigora meu mundo um canto leve,
Escora cada passo que eu quiser,
La fora a solidão se mostra breve

Vigora a lei que traz extasiado
A âncora nos carinhos da mulher
Agora vem comigo lado a lado.


099

Agora vem comigo lado a lado
Num gesto em que demonstra simpatia,
Trazendo simplesmente uma alegria
Deixando esta tristeza no passado.

O dia nascerá iluminado
Ensolarando toda cercania
Além do que imagino e mais queria
O tempo de sonhar; sinto, chegado.

Andara qual noctâmbulo, bem sei
Distante do que outrora imaginei,
Aguando uma esperança no deserto.

Tua presença amiga já negou
A dor que tantas vezes se mostrou
Levando por caminho mais incerto.


100


Levando por caminho mais incerto
Meu barco tantas vezes se perdeu,
Amor que quando em sorte me escolheu
Mostrou um novo rumo, enfim aberto.

Dos erros cometidos eu me alerto
E vejo ser possível um sonho meu,
Trazendo a claridade para o breu
Servindo ao coração em tempo certo.

Outrora a minha vida foi sem nexo,
Amor é sempre um tema tão complexo,
Por isso e só por isso fui tentando

Até que se esgotassem minhas chances,
A vida sempre traz estes nuances:
Na seca tantas vezes semeando.



101

Na seca tantas vezes semeando
Fiz minhas as palavras de quem amo,
Por vezes a saudade estende um ramo
E os olhos nos teus vou bordando.

Amor não necessita e não quer amo,
Assim novo caminho se mostrando
A quem tem alegrias já em bando.
No novo amanhecer que agora tramo.

Eu vi o meu passado num repente,
Marcado pela dor que a gente sente
E antes que a solidão de novo traia,

Ao gosto do prazer, eu quero e avanço;
Prossigo a tarde inteira sem descanso
Atrás desta morena e sua saia.


102


Atrás desta morena e sua saia
Prossigo sem pensar no que passei,
Agora que o caminho eu encontrei,
Já posso vislumbrar divina praia.

Que a sorte benfazeja nunca traia
Mudando novamente o que tracei,
Não quero ser vassalo nem ser rei
Apenas que a saudade se distraia

E volte pra bem longe e nunca mais
Refaça dos meus braços o seu cais,
Deixando o coração assim miúdo.

Sabendo que meu norte tem teu nome,
Com todo este prazer matando a fome
O rumo desta vida; jamais mudo.



103


O rumo desta vida; jamais mudo
Eu tenho bem aqui esta certeza
Do jeito que enfrentei a correnteza,
Com coisas tão banais eu não me iludo.

Amor vai me servido já de escudo
E nele encontro a paz e tal leveza
Que possa permitir total beleza,
Que com carinho imenso sempre ajudo.

Não quero repetir os mesmos erros,
Erguendo o meu olhar, alçando os cerros
Percebo toda sorte que buscara,

Por isso, tenho a força de saber
Que à margem da alegria e do prazer
A vida se tornando então amara.



104


A vida se tornando então amara
Pra quem não descobriu o seu caminho,
Seguindo pela estrada colhe espinho
E torna a rosa assim sempre mais rara.

Sem ter um bem que cedo ampara,
Um pássaro distante do seu ninho,
Sofrendo ao procurar seguir sozinho
Estrada que alegria iluminara.

Deixando o sofrimento tomar conta,
A vida em emboscada cedo apronta
Trazendo velhas dores, tantas levas.

Quem faz de uma ilusão a sua escora,
Ao ver-se solitário já deplora
Ficando como brinde só as trevas.


105

Ficando como brinde só as trevas
Depois da tempestade, sem bonança
A vida preparando uma vingança
Do jeito que tu sonhas logo nevas.

Não quero nem dizer que ainda devas
Beber alguma gota de esperança,
Mas volte num momento a ser criança
Quem sabe da alegria faças cevas?

Não quero me perder de quem achou
O mapa em que o tesouro se mostrou,
Em luzes mais divinas, magistrais.

De tanto que procura, mas não vê,
Perdendo o que encontrou vai sem por que
Até só encontrar o nunca mais.


106


Até só encontrar o nunca mais
Extremas sensações já se mostraram.
Diversas emoções se desfilaram
Fazendo o coração como seus cais.

Às vezes por querer até demais
Tabus e preconceitos derrubaram
As mãos que num momento bem araram,
Em fontes e carinhos magistrais.

O pouco que vivi trago em memória
Em luta tão difícil, merencória
Derrota se servindo no meu prato.

Nos versos que hoje em dia vão comigo
Confesso o quanto quis, e aqui prossigo.
Dizendo do que tive, neste trato.


107


Dizendo do que tive, neste trato
Esboço tantas vezes reações
Por vezes calmarias e explosões
Realço em meu caminho inútil fato.

Olhando o que se fez fiel retrato
As águas vão caindo aos borbotões,
As lágrimas expressam os perdões,
Na quebra tão comum de algum contrato.

Riscando de uma agenda tantos nomes,
No escuro do caminho logo somes
E escondes o que fora outrora trilho.

O tempo me ensinando a caminhar,
Permite que uma estrada eu possa achar,
Legando ao meu passando este empecilho.


108



Legando ao meu passando este empecilho
Eu tramo com mais força cada passo,
Vencendo cada luta, entranho o espaço.
Liberto, o coração segue andarilho.

A vida disparando o seu gatilho,
No peito de quem sonha encrava este aço,
No verso que em delírios hoje faço
Permito-me falar de cada filho.

Espalho meus gametas, reproduzo
O verbo que se fez, mesmo confuso,
Tem na palavra certa e bem usada

A chama em que se inflama a minha vida,
Nem tanto benfazeja. Decidida -
Rompendo em negras nuvens a alvorada.


109


Rompendo em negras nuvens a alvorada
Promete tanta luta neste dia,
Além do que o profeta predizia
A força da batalha trama a espada.

Quem quer uma esperança enluarada,
Faz do sonho além da fantasia
Motivos para a glória em alegria,
E vence, com vigor, a dura estrada.

Porém, a luta insana e sem motivos,
Trazendo estes olhares mais altivos,
Derruba num momento qualquer haste.

Entregue à ventania, uma ferrugem
Criada pelas trevas que assim rugem,
Condena a nossa vida a tal desgaste.


110



Condena a nossa vida a tal desgaste
O tempo quando inútil e mal cumprido,
Olhar que mostrar mais decidido
Encontra o que decerto tu legaste.

A dor em alegrias traz contraste,
E invade mais cruel qualquer sentido.
O passo que se mostra decidido
Percebe esta beleza que criaste.

Mas que em sentimentos tão diversos,
Invade destruindo os universos
Na busca sempre insana por um bem,

Descobre num segundo esta verdade
Distante do poder de uma amizade
Vazio tão somente é o que se tem.


111


Vazio tão somente é o que se tem
Nas mãos de quem se faz duro e cruel,
Ao largo da emoção de ver o céu,
Não sente mais o brilho de outro alguém.

A solidão temível, agora vem
E gira qual inútil carrossel,
Entrega tão somente amargo fel
Transforma todo amor em seu refém.

Olhar embevecido de que ama,
Ao ver já ser possível bela trama,
Aquece-se depressa em esperança.

A sorte que se mostra num sorriso,
Percebe em cada ser um paraíso,
Mexendo com meus sonhos de criança...



112



Mexendo com meus sonhos de criança
Eu tenho a sensação de liberdade,
Um vento tão suave já me invade
E a vida se percebe assim, mais mansa.

Olhar que numa infância se descansa
Decerto buscará na mocidade
O sentimento pleno da amizade
Que forte e em placidez, a paz alcança.

Sortidas emoções no peito adulto,
Aonde uma tristeza tem seu culto
Matando o que seria bem mais lindo

Se a gente não tivesse se esquecido
Do riso da criança e permitido
Macabras sensações se repetindo.


113



Macabras sensações se repetindo
Tomando toda noite em pesadelo,
Trazendo uma agonia que em novelo
Aos poucos, os meus sonhos, destruindo.

O chão sob os meus pés já vai se abrindo,
Embalde, tento insano revertê-lo,
A pele está marcada pelo selo
Do sofrimento inútil me invadindo.

Assim caminha a louca humanidade
Na busca pela doce liberdade,
Encontra tão somente o descaminho.

Olhando o meu passado passo a crer
Tão fútil o que trouxera algum prazer,
Caçando o que não tive, vou sozinho



114


Caçando o que não tive, vou sozinho
Na inglória caminhada pela vida,
Às vezes percebendo uma saída,
Engano, então retorno ao velho ninho.

O peito aberto imita um passarinho
Que voa em liberdade, construída
A cada amanhecer e concebida
Ao perceber aberto o seu caminho.

Porém na flor da minha mocidade,
Imerso na total iniqüidade
Não tive, na verdade, quase nada.

Agora que o outono rouba a cena
E a vida cruelmente já me apena,
Aguardo que inda tenha uma guinada,


115

Aguardo que inda tenha uma guinada,
Que possa me fazer bem mais feliz.
O tempo vai passando, isso me diz
Que é curta, porém firme minha estrada.

A lua sobre os montes debruçada
Clareia este tapete onde eu me fiz
Eterno sonhador, um aprendiz
Da vida que em momentos foi sonhada.

Minha alma se espelhando no cenário
Invade num extremo temerário
E a liberdade utópica se alcança.

Aos poucos um retrato puro e lindo
Permite que eu prossiga me esvaindo;
Fumando meu cigarro, na fumaça.


116


Fumando meu cigarro, na fumaça
Espalho o que melhor eu sei de mim,
O tempo vai passando e sempre assim
A fome de viver não se rechaça.

Enquanto o vendaval vem e não passa
Expresso em cada flor de meu jardim
O aroma que encontrei na paz, enfim,
Num gesto mais amigo, amor me laça.

Quem dera se tivéssemos pelo ar
Caminhos estercados pra plantar
Trazendo bem mais puro o nosso céu.

Porém ao ver a fome se espalhando,
Os homens outros homens explorando,
Recebo o gosto amargo deste fel.



117




Recebo o gosto amargo deste fel
Que emana a mais terrível criatura
Na fonte que se mostra tão impura,
Difícil conceber suave mel.

Se cada ser cumprisse o seu papel
A terra não seria assim tão dura,
A vida não seria tão escura
Abrindo, com certeza um claro céu.

Fantoches de minha alma que rastejam
Impedem que meus olhos inda vejam
Estrelas da esperança, belas, nuas.

Cortado pelo mal de ser um homem
Os horizontes belos; sinto- somem
Pedaços do que fui vão pelas ruas.


118



Pedaços do que fui vão pelas ruas
Em meio a restos, traças e baratas
Queimando o que restou das tantas matas
Deixando as terras frias, magras, nuas.

No passo em que tu vais e continuas
Nos leilões, esperanças arrematas
E a toda natureza assim maltratas
Pensando permissível que destruas

O canto de agonia ecoará,
Aqui, nos arrebóis ou acolá
No grito desperado, quase em prantos

Eu vejo retratada em forma insana
Deixando como herança à raça humana
O peito amarrotado pelos cantos.



119


O peito amarrotado pelos cantos
Jorrando o podre sangue da esperança,
Aonde o meu olhar não mais alcança
Ainda resta um traço feito encantos.

A mão abençoada com seus mantos
Tentara dar a nós sua fiança,
Matando a cada dia uma criança
Depois não reclamemos dos espantos.

Os olhos de um menino maltrapilho,
Permitem vislumbrar o melhor trilho,
Porém na negação que agora trago

Um cúmplice canalha; reconheço,
Condenado ao eterno e vil tropeço,
O coração pedinte segue vago.



120


O coração pedinte segue vago
Inútil perceber sua agonia?
O tempo de viver já se esvazia
E a vida não permite mais afago.

Na placidez suave quero um lago,
Que possa me dourar com alegria,
Mas vendo a terra insana e tão sombria
Ao coração não faço nem afago.

Nos tragos de aguardentes, no cigarro,
Na fútil ilusão de cada carro,
Escarro sobre a sorte a cada dia.

E faço desta dor crua e boçal
Enredo para cada carnaval;
Mascaro com mil guizos, fantasia.


121

Mascaro com mil guizos, fantasia
Escondo-me nas capas da mentira
Olhar no firmamento sempre atira
Fuzis, metralhadoras, mão sombria.

No sonho tão inútil que se cria;
Do coração se expondo cada tira
O mundo futilmente vai e gira
Fazendo bem mais falsa, uma alegria.

Assim como os irmãos, todos burgueses,
Na mesma procissão, nós somos reses
Tomadas pela tétrica ambição.

Vagando pelas noites, bar em bar,
Pensamento tão somente em desfrutar,
Correndo sempre atrás de uma ilusão.



122


Correndo sempre atrás de uma ilusão
Espelho a natureza desumana,
No falso amor que sempre nos engana
A dor retornará em profusão.

Distante da amizade e do perdão
O peito que em riquezas já se ufana
Encontra glória inútil soberana,
Comendo a podre carne de um irmão.

Amigos, na verdade são comparsas,
Desfrutam das iguais e cruas farsas.
Melhor é caminhar sempre sozinho!

Estúpido capacho da esperança
Espalho nas calçadas da lembrança
Parceiros que se foram no caminho.


123


Parceiros que se foram no caminho
Deixando como herança a solidão,
Vagando pela vida, em negação
Expresso alguma forma de carinho.

O vento que invadira o velho ninho,
Promete em tempestade a viração.
Abrindo num momento todo o chão,
Agora em pleno inverno estou sozinho.

Meu barco se perdendo sem um cais,
Prosseguindo ao sabor dos vendavais
Promete ao fim da vida, sofrimentos.

Que faço? Sem sequer um companheiro,
Estúpido, imbecil, mau timoneiro,
Perdi, sem proteção, rosa dos ventos.




124




Perdi, sem proteção, rosa dos ventos
E vejo que não tenho ancoradouro
O sol vai penetrando no meu couro,
Rasgando em mais temíveis sofrimentos.

Os dias se esvaindo, frios, lentos,
Esqueço o que pensara ser tesouro,
No fogo da esperança não me douro.
Felicidade é feita por momentos.

Na solitária ermida que escolhi,
Não ouço quase nada, e sinto aqui
Neste silêncio atroz em que me aninho

Apenas um distante e vil lamento,
Sentido pelas lentes em que aumento.
No quarto nem sequer um burburinho.


125



No quarto nem sequer um burburinho
E a vida se faz ávida de som.
Pintando o que me resta em mesmo tom,
Espero não morrer assim, sozinho.

A cada tentativa em que me alinho
Percebo-me distante deste dom,
Deitando a solidão neste edredom
Espreito, de tocaia, algum caminho.

A noite prometida na ilusão
Trará, por um momento confusão,
Na luz de tão intensa que me cegue.

Os passos que pressinto nesta estrada
De uma lua vindoura, imaculada,
Tartamudo, prossigo até que chegue.


126

Tartamudo, prossigo até que chegue
Final da caminhada tão inglória.
Quem sonha com laurel de uma vitória
E tem uma esperança que persegue

Por mais que estranhos mares já navegue
Espera ter ao fim qualquer vanglória.
Porém ao perceber na sua história
Apenas solidão, sente-se entregue.

Eu tantas vezes tive em minhas mãos
Ocasiões de ver quantos irmãos
A vida me emprestou. Voltar ao pó

Depois de ter perdido o meu caminho,
Avinagra, decerto qualquer vinho,
Acordo e nada vejo, sigo só.


127


Acordo e nada vejo, sigo só.
Vencido pelas duras ventanias,
Roubando toda a luz dos novos dias,
Estrada me legando apenas pó.

Minha alma num moinho encontra a mó,
Rompendo-se ao final destas orgias,
Nas lúgubres promessas, fantasias,
Estilhaços espalho; fujo à dó.

Não quero mais sarcásticos sorrisos,
A vida se passou sem dar avisos,
Invade a correnteza, velho ninho.

Minha carcaça exposta em cada rua,
E o vento sem limites, continua
Fazendo da amargura o doce vinho.



128


Fazendo da amargura o doce vinho
Estendo pelas ruas, meus resquícios
Jogado nas janelas, precipícios,
Esmago, virulento qualquer ninho.

Matando o libertário passarinho
Em meio à profusão de gozos, vícios
Amores que criei; os mais fictícios
Negaram o verdadeiro e bom carinho.

Os muros da esperança eu destruí,
O tempo de viver; cedo perdi
Felicidade nunca foi alçada

Apenas alcançada a solidão
Reajo quando tenho uma ilusão,
Mudando de caminho e de calçada.


129

Mudando de caminho e de calçada
Ao ter a sensação de uma mudança,
O velho assassinando esta criança
Devora o seu cadáver, resta o nada.

A boca que se mostra escancarada
Impede o revoar de uma esperança.
Pensando: “quem espera sempre alcança”
Mal vê que quem se cansa já se enfada.

O dia não retorna, com certeza,
E a vida se esvaindo em correnteza
Não deixa nem resíduos e se embaça

Ao esperar que volte a primavera
Não vê que uma alma só, se degenera.
O tempo que se quis, agora passa.



130



O tempo que se quis, agora passa
E não deixa sequer suas pegadas,
Nas noites tantas vezes transtornadas,
Às vezes caçador, em muitas caça.

Do pó que fomos feitos, crua massa,
As marcas das mentiras entranhadas,
Eternas procissões vão decoradas
No sangue e podridão que nos enlaça.

A faca que se esconde num sorriso,
Expulsa qualquer ser do paraíso
Jogado nas esquinas, nega o Céu.

Na mão que nos ampara; nossa queda,
Da pobre carne eu vejo a pura seda,
Disfarce que se esconde sob o mel.


131


Disfarce que se esconde sob o mel
Não deixa ver sequer a podre entranha,
A dor que se promete ser tamanha,
Impede, com cegueira ver o céu.

O vento que me assola, o mais cruel,
Já sabe e concatena o quanto ganha,
Na senda de minha alma, tão estranha,
O verbo vem cumprindo o seu papel.

Mas tendo o meu cadáver insepulto,
De toda esta verdade sigo inculto,
Recebo tais mentiras em golfadas.

Olhando para frente escondo os ombros,
Nego-me a ver assim, os meus escombros
Jogados nas sarjetas, nas calçadas.


132


Jogados nas sarjetas, nas calçadas
Na visceral vontade que me nos toma,
O nada que se mostra em cada soma,
Expressa-se nas duras caminhadas,

Nas câimbras de minha alma qual um coma
As farpas penetrantes, entranhadas,
Os olhos vão buscando os mesmos nadas,
Insana dor de tudo já se assoma.

Redomas de ilusões não mais resistem
Embora as cicatrizes que persistem
Demonstrem coleções de desencantos

Eu tento ensimesmado resistir,
Porém com solidão a me impedir
Não ouço nem sequer antigos cantos.



133

Não ouço nem sequer antigos cantos
Perdidos pela vida em emboscada,
Coleto os meus resíduos pelos cantos;
Percebo não sobrou quase mais nada.

Enfrento algumas vezes meus espantos
E ganho como prêmio a mão atada.
No fio tão cortante de uma espada
Preparo em sortilégio, pobres mantos.

Qual fora um peregrino, vago à toa,
O verso proferido já destoa
E nega, sem perdão qualquer afago.

Um andarilho insano, em ilusão,
Da sórdida aguardente, num balcão,
Buscando uma alegria, bebe um trago.


134

Buscando uma alegria, bebe um trago
Do fel que recebera como herança.
Numa macabra insana e louca dança,
Procura em desconsolo algum afago.

O sonho muitas vezes qual um mago
Engana e até promete uma esperança.
Farrapos do que fora uma criança
Jogados das janelas neste lago

Que em tez tão poluída não disfarça.
Repete a tão useira e antiga farsa
Criada em noite insone e mais sombria.

Gargalho sobre os restos que carrego,
Fingindo ser estúpido, vou cego
Forrando a minha noite em ironia.



135



Forrando a minha noite em ironia
Estendo pelas ruas qual mendigo
Em súplica imbecil, caço um amigo
Que possa amenizar a tão sombria

Caminhada que faço em noite fria
Na busca quase inútil por abrigo.
Se eu tento e na verdade, eu não consigo,
Entendo o que ilusão já me dizia.

No cálice partida dos meus sonhos,
Os líquidos amargos e bisonhos
Perfazem com total satisfação

Retrato de quem segue insanamente
Vagante vagabundo, vil demente
Vencido pela força do tufão.



136



Vencido pela força do tufão
Catando meus pedaços bar em bar,
Talvez imaginando transformar
Em algo produtivo o que foi vão.

Embolora decerto, o que era pão
Carcomida alegria, num vagar
Expressa o que inda pude coletar
Da vasta e mais completa negação.

Esgarço-me nos versos que hoje faço,
De mim não sobrará sequer um traço
Aos poucos, sutilmente eu me definho.

Na minha carapaça decomposta
Com toda a minha entranha aqui exposta
Prossigo, de teimoso, e vou sozinho.


137




Prossigo, de teimoso, e vou sozinho
Encontro afrodisíacos na dor,
Partilhas do que outrora quis propor
Espalham-se nas margens do caminho.

Nas vestes que me deste, puro espinho,
O medo faz o passo encantador.
Quisera conceber algum amor
Que fosse a redenção. Em desalinho

Persisto na caçada tão inglória
Legando ao coração somente escória.
Os olhos com certeza, desatentos,

Almejo simplesmente aterrissar,
Porém ao perceber deserto e mar
Não vejo solução nem sentimentos.



138


Não vejo solução nem sentimentos,
Mas busco algum recanto bem mais manso,
O nada tantas vezes eu alcanço
E bebo a tempestade e os vis tormentos.

Apenas solidão traz os proventos
Não tendo nem sequer algum descanso.
Aos meandros do amor, quando eu me lanço,
Estendo os braços, tolo, aos sofrimentos.

Arrasto tais correntes pelo quarto,
Na ausência de prazer, louco me farto
Do inebriante sonho feito em vinho.

Herança que eu recebo? Apenas isso,
Morrendo sem vigor na flor sem viço,
Ausência de calor e de carinho.


139

Ausência de calor e de carinho,
Somando nossos nadas, não dá nada,
Serpenteando a dor em cada estrada
Aguardo o que talvez entranhe o ninho.

A noite se esvaindo de mansinho,
Esgota logo cedo uma alvorada,
Na força do chicote vai lanhada
A pele de quem vive tão sozinho.

A cada nova farpa deste arame,
Eu sinto a minha vida vesga, infame.
Estrábico desejo em que se apegue

O sonho de um estúpido animal
De ter, em comunhão fenomenal,
Um barco que outro mar inda navegue.



140


Um barco que outro mar inda navegue
Expressa o meu desejo mais sublime,
Expondo o coração a qualquer crime,
Permite-se que em becos se trafegue.

Não tendo mais audácia que me entregue
Aquilo que pensara, e tanto estime
Um verme caminhando vai entregue,
Não tendo mais um sonho que suprime.

Sementes esquecidas jamais brotam,
Farrapos estendidos nos quintais,
Quarando uma esperança nos varais

As fontes pouco a pouco já se esgotam.
Estúpido andarilho, eu sigo só
Voltando novamente ao velho pó


141


Voltando novamente ao velho pó
Esgarço cada face da esperança,
O medo se assomando por vingança
Pressente o quão amargo é viver só.

Quisera na tristeza dar um nó,
Porém dura verdade não me amansa,
Meu passo neste abismo, logo trança
Atado pela dor, firme cipó

Verdugo de mim mesmo; nada crio,
Os ventos espalharam meu estio,
O solo movediço desabando.

Na porta que esqueci pra sempre aberta,
Enquanto uma ilusão não me desperta,
Farsantes sensações vão adentrando.

142

Farsantes sensações vão adentrando
Permitem se antever o que virá,
Da sorte maltratada nascerá
O dia que queria se espalhando.

Imensa catedral que vez em quando
Encontro tanto aqui quanto acolá,
Resume o quanto o sol não brilhará,
Enquanto o céu de uma alma está nublando.

Os cacos; realinho em falsa espera,
Falácias iludindo a primavera,
Expressam seus sorrisos na tocaia.

A presa, sem noção da fria fera
Do nada, uma ilusão agora gera
Ao ver a fantasia em minissaia.



143



Ao ver a fantasia em minissaia
Estúpidos ignaros sonham alto,
No frio do granito e do basalto
Espera a quente areia de uma praia.

Torpe ilusão, aos poucos já desmaia
Enquanto uma tristeza vem de assalto,
Rasgando o vil tapete feito asfalto
A dor vem se enfurnando, amor que saia.

Os dedos profanados em temores,
Demonstram sempre em forma de tremores,
A vida que se fez sem conteúdo.

Nas vísceras expostas pelas ruas,
A fome malfazeja em carnes nuas
Formata a solidão depois de tudo.



144



Formata a solidão depois de tudo
Uma alma que se fez melancolia,
O peito que se hiberna e nunca estia
Rasgando este cetim, nega o veludo.

O grito lancinante e mais agudo
Percorre a madrugada, ausente e fria.
Uma ilusão ao sonho já se alia
Resulta no amanhã, vazio e mudo.

Assim tal qual a noite em pesadelo,
Embrenho o sentimento num novelo
Criado pela luz que desampara.

Expresso com vigor em cada verso
O gosto tão sutil, mesmo disperso,
Da boca que beijei em noite clara.


145

Da boca que beijei em noite clara
Sequer sobraram sombras ou resquícios
Quem sabe sejam lúdicos, fictícios
Momentos em que a vida me enganara.

Distante deste rio, esqueço a vara
E volto aos meus antigos precipícios
Dos sofrimentos gozo os seus ofícios
E galgo o mesmo nada que encontrara.

Esboço, agora insone, a reação,
Na mítica e complexa sedução
Das cordas em bemóis desafinadas.

Esgueiro pelas ruas, seus esgotos,
E em meio vagos sonhos, quase rotos,
As manhãs que virão; abandonadas.


146



As manhãs que virão; abandonadas,
Estrias que minha alma já fomenta,
Meu verso em pura insânia violenta
Espalha meus pedaços nas calçadas.

Expresso com palavras demarcadas
O quanto necessito e nada venta,
Toando em meus ouvidos tal tormenta
Adentra pelas portas destroçadas.

Um mar que cultivei no pensamento
Distante se calando já sem vento,
Buscando uma alegria em vendavais.

Do quanto que pensara no começo,
Após o meu caminho vir do avesso,
Apenas sou um resto e nada mais.




147


Apenas sou um resto e nada mais,
Rastejo e serpenteio os meus sentidos,
Carpindo os meus desejos esquecidos,
Morrendo sem saber sequer do cais.

Profanas, as vontades mais carnais
Na pele, os meus terrores tão curtidos
Prenunciando o fim, gozos sortidos
Enfurnam-se nas noites abissais.

Extraio de meus olhos, suas cores,
Apreendo tão somente os vir rancores,
A solidão resulta-se do extrato.

Procuro minha face em cada espelho,
Encontrando o perfil, amargo e velho,
Não tendo por resposta um só retrato.



148


Não tendo por resposta um só retrato
Esboço em garatuja o meu sorriso,
Caricatura em toque tão preciso
Expressa o que em verdade, sou de fato.

Outrora procurara num regato,
A mansidão exata que eu preciso,
Mas vindo o turbilhão cruel, conciso,
Em ondas, persevero e me desato.

Ao vasculhar meus restos pelo chão,
Não tive nem sequer a percepção
De ter amanhecido cada trilho.

Ao pó que me resumo, retornando,
Enquanto o dia frio vai raiando,
Recebo deste sol um frágil brilho.



149


Recebo deste sol um frágil brilho
E finjo me aquecer, pura ironia.
Numa partenogênese sombria
Esboço em solidão, amargo filho.

Procuro algum recanto e sem exílio,
Exponho minha face a tal sangria.
As mágoas se misturam numa orgia,
Meus cacos no amanhã, cedo eu empilho.

Em tal fermentação gero o vazio,
É tudo que de resto ainda crio
Depois da tão espúria e má jornada.

Um jogador que lança mão dos dados,
Traiu os seus parceiros, derrotados;
Meus trunfos eu perdi não sobrou nada.



150


Meus trunfos eu perdi não sobrou nada
Apenas um esboço nas senzalas
Que exponho nas diversas ante-salas
De uma alma que se mostra abandonada.

Ao ver cada palavra decifrada
Enquanto com argúcia tu me falas
Das incúrias cruéis com quem empalas
A vida fortemente destroçada.

Vieste em tumular revolução,
Nefasta; te fingias Nefertite
Perjuras em calúnia sem limite

Tantas vezes vendendo a ilusão
Sarcasmos esboçados num contraste,
Farsantes os sorrisos que legaste.
Publicado em: 02/02/2008 11:54:50
Última alteração:22/10/2008 16:48:28


HAIKAI SEM NÚMERO 74


Olho d’água cego
Abortando um grande rio
Mar vira sertão...
Publicado em: 13/12/2007 17:43:31
Última alteração:23/10/2008 08:24:50

HAIKAI SEM NÚMERO 75


Claro que águia quer
O aquecimento global
Cevando cadáveres...
Publicado em: 13/12/2007 17:45:28
Última alteração:23/10/2008 08:24:55

HAIKAI SEM NÚMERO 76


Bacuraus, corujas
Vagam pela noite escura
Os olhos espreitam..
Publicado em: 13/12/2007 18:01:06
Última alteração:23/10/2008 08:25:15

HAIKAI SEM NÚMERO 77

Nas ondas do mar
Caranguejo não é peixe
Ou será que ele é?
Publicado em: 14/12/2007 16:58:34
Última alteração:23/10/2008 08:32:26

HAIKAI SEM NÚMERO 78

Formigueiro alerta
Aí vem tamanduá
Bicho linguarudo...
Publicado em: 14/12/2007 17:00:26
Última alteração:23/10/2008 08:32:22

HAIKAI SEM NÚMERO 79

Tico-tico sai,
O godero faz a festa
Viva o DNA
Publicado em: 14/12/2007 17:02:32
Última alteração:23/10/2008 08:32

HAIKAI SEM NÚMERO 80

Piranha gulosa
Jacaré nada de costas
Campeão Olímpico!
Publicado em: 14/12/2007 17:04:25
Última alteração:23/10/2008 08:32:14


HAIKAI SEM NÚMERO 81

No rastro de paca
Se tatu caminha dentro
Eros agradece...
Publicado em: 14/12/2007 17:07:12
Última alteração:23/10/2008 08:32:10

HAIKAI SEM NÚMERO 82

Mesmo devagar
O jacaré no seco anda
Mas na areia atola...
Publicado em: 14/12/2007 17:08:44
Última alteração:23/10/2008 08:32:06


HAIKAI SEM NÚMERO 84

O sol de verão
Espalhando o seu dourado
Sobre este arrebol.
Publicado em: 22/05/2008 16:03:41
Última alteração:21/10/2008 06:32:

HAIKAI SEM NÚMERO 85


O verde se espalha
Aonde outrora houve neve
Cores do verão.
Publicado em: 22/05/2008 16:07:17
Última alteração:21/10/2008 06:32:51


HAIKAI SEM NÚMERO..

Um raio que cai
Espalhando em fogaréu
Ais da natureza...
Publicado em: 04/12/2007 19:52:12
Última alteração:28/10/2008 19:26:44


HAIKAI
Noite se aproxima
Num equilíbrio de cores
Ave quieta e só...
Publicado em: 20/08/2008 12:13:56
Última alteração:19/10/2008 20:19:42

HAIKAIS IMPERFEITOS ( mais do que perfeitos)
(VI): Desagregantes...
Ao poeta, sonetista apaixonado, MARCOS LOURES, estas desagregações de seus três sonetos e mais um poema (em tercetos). Peço e confio ser perdoado, porque as fiz [as desagregações] com afeto e admiração: Obrigado!

1.- De «Quando eu te vi, sonhava com estrelas...»
Sonhos luminosos:
Sonhos brilhantes de estrelas:
Teu sorriso manso.
...
2.- De «Nos versos da canção, enamorado...»
Pecado distante:
Convulsões e intenso gozo:
Chama que incendeia.
... ou ...
Mar maravilhoso:
Sereia e chama cativa:
Noite sedutora.
...
3.- De «Beijar a tua boca»
Carmesim Morena:
Teias a tecer em sonhos:
Beijo prometido.
...
4.- De «Saudades»
Estrelas e vento:
«Esperança em fantasia»:
Jardim da Saudade.
...
Beijo perseguido:
Voz, rosto, perfume, flores:
Vaidosa Saudade.
Publicado em: 29/05/2008 12:30:58


Harmonia
O universo é uma harmonia de contrários. Pitágoras


As nossas diferenças nos uniram
Em versos, ilusões, em poesia
Eu sempre fui a noite e foste o dia
Os sonhos que te trouxe já fugiram...

Embora nossos mundo se conflitem
Em coisas que julgamos importantes
Na soma de diversos mas constantes
Queremos que universos nos habitem

E tragam neste misto benfazejo
As cores mais diversas da aquarela.
A vida que virá me mostra a tela
Pintada com meu medo e teu desejo...

Somos a divisão que não foi feita
Nas somas mais perfeitas anulamos
As dores e os receios que encontramos
Em busca duma vida mais perfeita.

Espero sem saber, tu sempre sabes.
Aguardo o que sonhei, tu nunca sonhas.
Se temos nossas garras mais medonhas,
Quando começas rezo pra que acabes...

Nesta complexidade somos unos
E pólos diferentes sempre juntos.
Por mais que não concebas meus assuntos
Adágios se confundem com noturnos...

Cigarros quando fumo, ecologia.
Bebidas que não bebo, embriagada.
Em minha calmaria és estouvada
Em tua realidade, fantasia...

Mas assim nossas luzes não disputam
E deixam que a penumbra nos carregue
Se em cada afirmação não há quem negue
As bocas ao beijarem nunca lutam.

Em plena mansidão: coexistência
Pacífica nos traz, a cada dia,
A certeza completa da harmonia
Que sempre nos permite coerência.

E assim vamos vivendo
Completos em nós mesmos...
Publicado em: 24/11/2006 16:01:14
Última alteração:29/10/2008 12:10:07


Hás de ser minha mulher

Hás de ser minha mulher
A companheira dileta
Sabendo bem o que quer
Eros capricha na seta.
Publicado em: 03/03/2008 21:59:33
Última alteração:22/10/2008 14:19:11


HEI. EU TE AMO!
As nuvens vão vagando pelo céu,
Barquinho em correnteza, de papel,
O canto da ciranda cirandou.

Encontrei a morena amor sem dó,
Na terra que sonhara, em Tororó,
Nos braços da morena agora estou.

O anel que era de vidro se quebrou
O amor que era tão pouco se acabou
Apenas a lembrança inda ciranda,

Do bosque solidão achei o anjo
Num grupo sertanejo toca banjo,
Assim a minha infância já desanda.

O gato já fugiu de dona Chica,
Minha morena, agora ficou rica,
Foi de marré, marré, marré d’ici,

Sobrou essa morena em minha rede,
O resto? Pendurado na parede,
Morreu? Bem, na verdade, mora aqui!
Publicado em: 27/05/2008 16:54:39
Última alteração:21/10/2008 15:21:51

HÉLICE DE SONETOS - ALELOS


1




Uma aridez resume toda a lavra
De quem se fez distante de um amor,
Quem sabe e reconhece tal palavra
Permite um novo dia sem rancor,
O lavrador que em festa, a terra lavra
Recolhe com certeza, fruto e flor.

O bem que nos permite eternidade
Adoça nossa boca em raro mel
Vivendo em plena paz, tranqüilidade,
Encontro o meu caminho para o céu
Sabendo vislumbrar felicidade,
Liberto, galopando este corcel.


Porém a quem se esquece da alegria,
Apenas solidão, serve de guia...




2



No fio da navalha, fria espada
A vida não permite uma esperança,
A terra tantas vezes maltratada,
Aguarda tão somente esta aliança
Que possa enfim conter a derrocada,
Enquanto a luz divina nos alcança.

Assim, no bem do amor e da amizade,
Eu creio ser possível caminhar,
Sabendo desfrutar a liberdade
Alçando num momento este luar
Que traz a todos nós, a claridade,
E mostra como é bom poder amar.

Sem ele com a amargura me tomando,
Aos poucos, meu castelo desabando...


3


Os fardos tão inglórios da vitória
De quem venceu o amor o desprezando.
Não posso mais falar de tal vanglória
Que a fonte da esperança vai secando.
A lua sem amor é merencória,
O dia pouco a pouco se nublando.

Porém se pelo amor sou derrotado
E sinto que me invade a brisa mansa,
Sabendo da existência deste prado,
Olhar enamorado não se cansa,
E sente o vento calmo e delicado,
Trazendo para a vida uma esperança.

Qual náufrago que em sonho bom desmaia,
Sobrevivendo ao ver enfim, a praia.

4


O sonho, morredouro, segue mudo.
Se não ouvir a voz dos sentimentos,
Por vezes, na verdade até me iludo,
Mas não deixo de ter os pensamentos
Que mudem, calmamente quase tudo
E tragam calmaria pros meus ventos.

A mão que tanto apóia em força intensa,
A mesma que me tira do naufrágio.
A lua de quem ama, surge imensa,
Tornando o coração firme e mais frágil.
Do amor que tanto quero; a recompensa,
É feita com certeza em gigante ágio.

Quem vive em solidão sofre; contudo,
Deixando o coração tão frio e mudo.



5


Meu verso se desfaz da poesia
Deixando para trás o que sonhara,
Matando em voz cruel o novo dia,
Fragilizado assim, desesperara.
A vida tolamente prometia
A noite solitária, fria, amara.

Na lua que se fez mais clara e forte,
O dia prometendo um novo brilho
Mudando todo o rumo desta sorte,
Trazendo uma esperança como trilho.
Não temo mais sequer a fria morte,
Seguindo sem temer um empecilho,

Imagem que eu tivera agora é rara:
“Somente a noite fria inda me ampara.”


6


Tranqüilidade esvai-se na fumaça.
Enquanto não houver uma esperança,
Um gesto de carinho invade a praça,
Promete uma manhã tranqüila e mansa.
Caminho benfazejo já se traça
Trazendo com mais força, a confiança;

Se a vida não tivesse a fortaleza
Do amor que ao se espalhar forja o sorriso,
Seguindo contra a forte correnteza,
Distante não se vê o paraíso.
A solidão, parceira da tristeza,
Impede um passo firme e mais preciso.

Se o amor, já descuidado, tu não cevas,
Estrelas fugidias, vão em levas...


07


O sonho se demonstra sempre vão
A quem não reconhece o amanhecer
Deixando se levar pelo tufão
Caminha pela vida sem prazer,
A rosa que se faz raro botão
Permite que a beleza eu possa ver.

Assim, continuando o dia-a-dia
Tocado pelos ventos da bonança
O mar vai sossegado em calmaria,
Entregue ao bem supremo: uma esperança,
Vibrando no meu peito esta alegria
Convida para a festa, bela dança.

Porém quem já sucumbe aos vendavais,
Jogado pela vida sem um cais...


08


A sorte, sendo espúria, nos deserta,
E impede que se encontre, enfim, a glória,
Porta que permanece sempre aberta,
Garante ao fim de tudo uma vitória.
O coração amante já desperta
O tempo de viver mudando a história.

Bebendo com fartura amor e paz,
Não temo mais as pedras do caminho.
A noite benfazeja assim me traz
A mansidão perene de meu ninho.
Amor quando demais só satisfaz
Não deixa que eu prossiga mais sozinho.

A placidez suave de um regato,
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.


09


Tramamos solidões, nossos destinos
Se não trouxermos paz à nossas vidas,
Tocados por insânias, desatinos,
Decerto não veremos as saídas.
Mantendo o coração qual de meninos
As horas serão calmas e queridas.

Não deixe que este sonho bom se acabe,
Permita que alegria seja plena,
Castelo de emoções nunca desabe,
A vida assim prossiga mais serena.
Amor nunca é demais e sempre cabe
Tornando nossa história bem amena.

Na noite que se vai sem este brilho,
A farsa que se fez, mudando o trilho.


10



Carcome-se com ar devorador
A fera que não vê mais resistência,
No mundo que se faz em desamor,
A vida se transforma em penitência,
Nos olhos semeando tal pavor,
Não traz sequer um laivo de clemência.

Mas tendo o canto livre e alvissareiro,
A mão se fortalece por encanto,
Depois de mergulhar o tempo inteiro,
Escuto da alegria este acalanto,
A mão de um grande amigo e companheiro,
Protege contra o frio, sacro manto.

Sabendo deste bem grave a jogada:
O jogo sempre foi carta marcada.


11


O fogo da natura em explosão
Aguarda pelo vento da esperança
Que traga ao mais ingênuo coração
A força que se faz em confiança.
Do quanto a vida foi em negação,
Um novo alvorecer, amor alcança.

A dor que se esfumaça pouco a pouco,
Não deixa mais resquícios sobre nós
Distante de um amor, ficando louco,
Não vejo mais futuro, nada após,
Se necessário eu grito até que, rouco
Não tenha mais sequer alguma voz.

Sem lua minha noite não tem haste,
O sonho se perdeu neste contraste.


12


O dia amanhecendo sempre escuro
No peito de quem nunca soube amar,
O chão nega o cultivo e segue duro,
Não posso neste solo cultivar.
O fruto da alegria está maduro,
É hora de colher e festejar.

No peito de quem ama, um sonhador,
O dia se promete libertário,
Um canto que anuncia o pleno amor,
Não deixa um coração mais solitário.
Vivendo esta esperança vou propor
Horizonte mais belo e solidário.


Bonança nos carinhos de outro alguém,
Depois da tempestade quero e vem.


13


Uma ilusão se faz em pleno amor
Deixando um novo dia amanhecer,
Eu tenho tanta vida a te propor,
Um mundo feito em luz, vital prazer,
Vivendo simplesmente, sem rancor,
Consigo o que mais quero e posso ter.

O beijo da mulher enamorada,
O riso da criança pela sala,
A noite sempre bela, enluarada,
O vento que nos toca enquanto embala,
Estrelas se espalhando pela estrada,
A dor em noite imensa já se cala,

Porém se vou distante da esperança
Alegria se omite e não se alcança.



14


Esgarça a necessária liberdade
O tempo que vivemos tão sozinhos,
Distante do poder de uma amizade,
Uma ave não conhece mais seus ninhos.
Procuro pelo amor, felicidade
Que encontro tão somente em teus carinhos.

Amar além de tudo, simplesmente,
Amar sem ter cobranças ou mentiras,
Amar e ter na vida finalmente
O amor que não se esgarça em tantas tiras.
Porém e num momento, de repente,
O não do desamor em mim atiras,

O peito sonhador fica calado,
Seguindo maltrapilho e maltratado.
Publicado em: 06/02/2008 17:50:09
Última alteração:09/10/2008 12:37:04


HAIKAI SEM NÚMERO 69

Haikai meia nove
Uma estimulante idéia?
Um número a mais?
Publicado em: 11/12/2007 19:10:43
Última alteração:23/10/2008 07:39:26


HAIKAI SEM NÚMERO 70

A planta carnívora
Fazendo da podridão
Seu melhor perfume
Publicado em: 12/12/2007 21:43:50
Última alteração:23/10/2008 07:50:54


HAIKAI SEM NÚMERO 71

Galinho da Serra
Cantando numa gaiola
Saudades da mata
Publicado em: 13/12/2007 17:25:36
Última alteração:23/10/2008 08:24:38


HAIKAI SEM NÚMERO 72 - NATALINO


Estrela cadente
Ao passar pelo deserto
Viu extrema luz
Publicado em: 13/12/2007 17:39:19
Última alteração:23/10/2008 08:24


HAIKAI SEM NÚMERO 73

Alecrim dourado
Nasceu sem ser semeado
E reina no campo...
Publicado em: 13/12/2007 17:41:08
Última alteração:23/10/2008 08:24:46


HAIKAI SEM NÚMERO 40

helianto ao ver
a claridade do sol
fica hipnotizado
Publicado em: 08/12/2007 12:57:42
Última alteração:27/10/2008 17:53:


HAIKAI SEM NÚMERO 41


Andorinha voa
Em busca de outras paragens
Mas não faz verão
Publicado em: 08/12/2007 13:03:45
Última alteração:27/10/2008 17:53:38


HAIKAI SEM NÚMERO 42

Pleno carnaval
Bem distante da alegria
Saudoso pavão...
Publicado em: 08/12/2007 13:06:30
Última alteração:27/10/2008 17:53:43


HAIKAI SEM NÚMERO 43

Chovendo verão
Na tempestade, alagados
Arrebentação.
Publicado em: 08/12/2007 14:27:59
Última alteração:27/10/2008 17:54:3


HAIKAI SEM NÚMERO 44


Ar primaveril
Em perfumes espalhados
A vida refeita.
Publicado em: 08/12/2007 14:29:35
Última alteração:27/10/2008 17:54:38


HAIKAI SEM NÚMERO 45

As asas libertas
De um canarinho da terra
Ainda que tardias.
Publicado em: 08/12/2007 14:32:04
Última alteração:27/10/2008 17:54:


HAIKAI SEM NÚMERO 46

Vento cata-vento
Repercutindo num eco
A nova estação.
Publicado em: 08/12/2007 14:33:47
Última alteração:27/10/2008 17:54:48


HAIKAI SEM NÚMERO 47

fogo na floresta
espalhando a novidade
o gado vem aí...
Publicado em: 08/12/2007 15:43:54
Última alteração:27/10/2008 17:55:24


HAIKAI SEM NÚMERO 48

corisco no céu
vai riscando em palavrões
pânico na mata
Publicado em: 08/12/2007 15:46:46
Última alteração:27/10/2008 17:55:53

HAIKAI SEM NÚMERO 49

a montanha escala
cada raio de luar
procurando estrelas
Publicado em: 08/12/2007 20:03:17
Última alteração:27/10/2008 18:07:28



HAIKAI SEM NÚMERO 50

estrela do mar
busca na alga florescência
e asas pra voar
Publicado em: 08/12/2007 20:06:12
Última alteração:27/10/2008 18:07:33


HAIKAI SEM NÚMERO 51

Sementes no chão
A chuva cai mansamente
Proliferação
Publicado em: 08/12/2007 21:05:32
Última alteração:27/10/2008 18:07:56


HAIKAI SEM NÚMERO 52

Rio busca a foz
Nesta luta contra o mar
A fecundação
Publicado em: 08/12/2007 21:07:31
Última alteração:27/10/2008 18:08:01


HAIKAI SEM NÚMERO 53


Terra em alvoroço
A força da natureza
Feita em tempestade
Publicado em: 08/12/2007 21:10:09
Última alteração:23/10/2008 09:25:0



HAIKAI SEM NÚMERO 54


Bilhões de galáxias
E nelas bilhões de estrelas.
Pobre grão de areia...
Publicado em: 08/12/2007 21:11:52
Última alteração:23/10/2008 09:25:09



HAIKAI SEM NÚMERO 55



Chocalhos avisam
Maravilhas infantis
Ou botes certeiros
Publicado em: 08/12/2007 21:16:15
Última alteração:23/10/2008 09:25:


HAIKAI SEM NÚMERO 56

Pássaro liberto
Esquecendo da gaiola
Qual prisão perpétua.
Publicado em: 08/12/2007 21:18:03
Última alteração:23/10/2008 09:25



HAIKAI SEM NÚMERO 57

Nas ondas do mar
Em marulhos e procelas
Santa calmaria
Publicado em: 08/12/2007 21:19:39
Última alteração:23/10/2008 09:25:23


HAIKAI SEM NÚMERO 58

Vento assobiando
Ao espalhar as notícias
Dissemina pânico.
Publicado em: 08/12/2007 21:21:32
Última alteração:27/10/2008 18:08:07


HAIKAI SEM NÚMERO 59


Peixe voador
Invejando a gaivota
Vira refeição...
Publicado em: 09/12/2007 16:45:59
Última alteração:28/10/2008 19:23:4


HAIKAI SEM NÚMERO 60

As folhas caindo,
No outono vão desnudar
A alma do arvoredo..
Publicado em: 09/12/2007 16:49:27
Última alteração:23/10/2008 09:30:35


HAIKAI SEM NÚMERO 61

Ano vai passando
Carregando em suas costas
Erros cometidos.
Publicado em: 09/12/2007 16:50:49
Última alteração:28/10/2008 19:23:37



HAIKAI SEM NÚMERO 62

Esgoto sacia
Baratas, ratos e vermes,
Lauta refeição...
Publicado em: 09/12/2007 16:52:35
Última alteração:23/10/2008 09:30:38



HAIKAI SEM NÚMERO 63

incêndio na mata
a floresta está chorando
em mil galhos verdes...
Publicado em: 11/12/2007 12:50:58
Última alteração:23/10/2008 09:46:2


HAIKAI SEM NÚMERO 64


Jabá jerimum,
Macaxeira e tapioca
Nem cachorro come...
Publicado em: 11/12/2007 19:04:02
Última alteração:23/10/2008 07:39:57



HAIKAI SEM NÚMERO 65

Cuco caipira
O godero faz a festa
Pobre tico tico...
Publicado em: 11/12/2007 19:05:47
Última alteração:23/10/2008 07:39:51


HAIKAI SEM NÚMERO 66

galinha galinha
coitado deste galo.
Vai criar peru...
Publicado em: 11/12/2007 19:07:15
Última alteração:23/10/2008 07:39


HAIKAI SEM NÚMERO 67


Touro mesmo bravo
Leva a pecha de chifrudo.
Marido de vaca...
Publicado em: 11/12/2007 19:08:18
Última alteração:23/10/2008 07:39:41


HAIKAI SEM NÚMERO 68


Urubu rei
Na matilha de chacal
Terá primazia?
Publicado em: 11/12/2007 19:09:23
Última alteração:23/10/2008 07:39:32


HAIKAI SEM NÚMERO 69 /2

num sessenta e nove
minhocas hermafroditas
"dando se recebe"...
Publicado em: 12/12/2007 21:17:55
Última alteração:23/10/2008 07:50:21


HAIKAI SEM NÚMERO 36

cupins e baratas
passeiam pelo deserto
resistência heróica
Publicado em: 08/12/2007 12:40:27
Última alteração:27/10/2008 17:53:03

HAIKAI SEM NÚMERO 37


no último lampejo
charnecas silenciosas
descansam em paz
Publicado em: 08/12/2007 12:44:01
Última alteração:27/10/2008 17:53:16


HAIKAI SEM NÚMERO 38

anfíbios sem vida
nesta carne ressequida
espelhos da Terra
Publicado em: 08/12/2007 12:46:08
Última alteração:27/10/2008 17:53:1



HAIKAI SEM NÚMERO 39


pingo d’água foge
descendo pela cascata
beija grão de areia
Publicado em: 08/12/2007 12:54:53
Última alteração:27/10/2008 17:53:27


HAIKAI SEM NÚMERO 5

Perereca pula
O sapo nem percebeu
Sorriso da traíra...
Publicado em: 04/12/2007 20:14:32
Última alteração:28/10/2008 19:24:0


HAIKAI SEM NÚMERO 6


O macaco prego
Saiu correndo depressa:
Tubarão martelo!
Publicado em: 04/12/2007 20:16:46
Última alteração:28/10/2008 19:26:47

HAIKAI SEM NÚMERO 7

Pruridos da urtiga
Ao se espalhar pelo vento
Sabor de pó de mico...
Publicado em: 04/12/2007 20:20:08
Última alteração:28/10/2008 19:23:59

HAIKAI SEM NÚMERO 8

gambá quis a rosa
incompatíveis perfumes.
Virou cachaceiro...
Publicado em: 04/12/2007 20:23:36
Última alteração:28/10/2008 19:23:55


HAIKAI SEM NÚMERO 9


A Maracanã
Encontrou naquele Galo
O canto mais alto...
Publicado em: 04/12/2007 21:00:16
Última alteração:28/10/2008 19:27:06


HAIKAI SEM NÚMERO 10

Aquela Garrincha
Ao namorar uma estrela
Virou astro Rei...
Publicado em: 04/12/2007 21:01:48
Última alteração:28/10/2008 19:23:46


HAIKAI SEM NÚMERO 11

A areia engravida
A pobre ostra maltratada
Beleza agradece...
Publicado em: 04/12/2007 21:05:55
Última alteração:28/10/2008 19:23:50


HAIKAI SEM NÚMERO 12

Nas pedras rolando
A tempestade mostrou
Poder de mudança...
Publicado em: 08/12/2007 11:00:09
Última alteração:27/10/2008 17:43:41


HAIKAI SEM NÚMERO 13


Morcego dormindo
De ponta cabeça sabe
Traduzir a vida.
Publicado em: 08/12/2007 11:02:09
Última alteração:27/10/2008 17:43:48


HAIKAI SEM NÚMERO 14

Lua se espalhando
Ao deitar sobre este mar
Engravida um sonho.
Publicado em: 08/12/2007 11:03:16
Última alteração:27/10/2008 17:43:52


HAIKAI SEM NÚMERO 15

O outono prepara
Para este invernal caminho
De uma hibernação.
Publicado em: 08/12/2007 11:05:52
Última alteração:27/10/2008 17:43:56

HAIKAI SEM NÚMERO 16

Destino da estrela
A morte espetacular
Trágico poder.
Publicado em: 08/12/2007 11:07:29
Última alteração:27/10/2008 17:44:02


HAIKAI SEM NÚMERO 17

Rastejante cobra
Quando se levanta traz
O poder do bote.
Publicado em: 08/12/2007 11:09:06
Última alteração:27/10/2008 17:44:06

HAIKAI SEM NÚMERO 18

Cigarra cantando
Ao trazer a primavera
Floresce esperança
Publicado em: 08/12/2007 11:10:46
Última alteração:27/10/2008 17:44:10



HAIKAI SEM NÚMERO 19

Na boca da noite
Bela lua engravidada
Parirá o sol.
Publicado em: 08/12/2007 11:13:12
Última alteração:27/10/2008 17:44:14


HAIKAI SEM NÚMERO 20

Frio que enregela
Mostrará depois de tudo
Mais belos matizes.
Publicado em: 08/12/2007 11:15:33
Última alteração:27/10/2008 17:44:19



HAIKAI SEM NÚMERO 21

Ao escorrer, a água
Encontrando as corredeiras
Adivinha o mar.
Publicado em: 08/12/2007 11:18:58
Última alteração:27/10/2008 17:44:26


HAIKAI SEM NÚMERO 22

Do mármore frio
Porém em rara maciez
Belo multiforme.
Publicado em: 08/12/2007 11:21:34
Última alteração:27/10/2008 17:44:31


HAIKAI SEM NÚMERO 24

seca e vendaval
natureza gargalhando,
simples reação...
Publicado em: 08/12/2007 11:27:22
Última alteração:27/10/2008 17:44:38



HAIKAI SEM NÚMERO 25


O sapo coaxando
Vem chamando para a festa
Lua se enrubesce...
Publicado em: 08/12/2007 10:56:23
Última alteração:27/10/2008 17:43:33


HAIKAI SEM NÚMERO 26

mar em tempestade
na procela interminável
praia é tão distante...
Publicado em: 08/12/2007 11:32:09
Última alteração:27/10/2008 17:44:44

HAIKAI SEM NÚMERO 27


estrela enamorada
mergulhando sobre o mar
amor meteórico
Publicado em: 08/12/2007 12:08:07
Última alteração:27/10/2008 17:49:33



HAIKAI SEM NÚMERO 28

geleira desaba
em gotas lacrimejando
causa inundação
Publicado em: 08/12/2007 12:10:03
Última alteração:27/10/2008 17:49:46


HAIKAI SEM NÚMERO 29


grânulos de vida
esporos em liberdade
última esperança?
Publicado em: 08/12/2007 12:12:07
Última alteração:27/10/2008 17:52:07

HAIKAI SEM NÚMERO 30

mar em fogaréu
nos desertos se espalhando
herança vazia
Publicado em: 08/12/2007 12:14:30
Última alteração:27/10/2008 17:52:20


HAIKAI SEM NÚMERO 31

as nuvens passando
numa transfiguração
refletem a vida
Publicado em: 08/12/2007 12:30:25
Última alteração:27/10/2008 17:52:34

HAIKAI SEM NÚMERO 32

carnívora fera
adormecendo em quietude
apascenta a selva
Publicado em: 08/12/2007 12:32:39
Última alteração:27/10/2008 17:52:43


HAIKAI SEM NÚMERO 33


pedra em solidão
recebendo a ventania
desfaz-se: erosão.
Publicado em: 08/12/2007 12:34:20
Última alteração:27/10/2008 17:52:48


HAIKAI SEM NÚMERO 34

sinais de fumaça
se espalhando na floresta
não é fogo fátuo...
Publicado em: 08/12/2007 12:36:37
Última alteração:27/10/2008 17:52:52



HAIKAI SEM NÚMERO 35


decomposição
atingindo estes cadáveres
a vida sorri...
Publicado em: 08/12/2007 12:38:01
Última alteração:27/10/2008 17:52:56

HAIKAI 001



Sol no entardecer
Iluminando o coqueiro
Dourando o verão...
Publicado em: 22/07/2008 18:40:44
Última alteração:19/10/2008 21:49:43


HAIKAI - NOITE EM VENTANIA

Noite em ventania
Pirilampos se perdendo,
Pensam ser estrelas...
Publicado em: 12/09/2007 08:39:01
Última alteração:28/10/2008 19:24:26

HAIKAI PERDI A CONTA
O vento mais forte
Outono se aproximando.
Verão já diz morte...
Publicado em: 14/05/2008 20:06:13
Última alteração:21/10/2008 14:42:49


HAIKAI SEM NÚMERO 1

Vento em temporal
Alagando todo o mangue
mata caranguejo?
Publicado em: 04/12/2007 19:54:05
Última alteração:28/10/2008 19:24:20




HAIKAI SEM NÚMERO 2


olho de água às cegas
no meio da tempestade
vira cachoeira
Publicado em: 04/12/2007 19:57:49
Última alteração:28/10/2008 19:24:16


HAIKAI SEM NÚMERO 3

Refém da saparia
O silêncio da lagoa
Morreu sinfonia...
Publicado em: 04/12/2007 20:04:32
Última alteração:28/10/2008 19:26:46


HAIKAI SEM NÚMERO 4

No raí das cores
Os corais em mil matizes
caem estrelares...
Publicado em: 04/12/2007 20:06:39
Última alteração:28/10/2008 19:24:11

HAIKAI 114
Gato no telhado
Lua cheia iluminando
Olhos são faíscas
Publicado em: 20/08/2008 20:42:39
Última alteração:19/10/2008 20:28:25



HAIKAI 115
Águas entre as matas
Cachoeira forma véu
Estrondosamente...
Publicado em: 20/08/2008 20:46:33
Última alteração:19/10/2008 20:28:29


HAIKAI 116
A chuva caindo
Alagando todo o vale
Mata já se esconde.
Publicado em: 20/08/2008 20:51:05
Última alteração:19/10/2008 20:28:45


HAIKAI 117
Curió cantando
Vento balançando folhas.
Sol deita seus raios...
Publicado em: 20/08/2008 20:54:46
Última alteração:19/10/2008 20:28:49

HAIKAI 118
nascente, olho d’água
aflorando em meio às pedras
cobras sob o sol...
Publicado em: 20/08/2008 21:01:18
Última alteração:19/10/2008 20:28:53


HAIKAI 119
Árido verão
Da solitária palmeira
Sombras são um rastro.
Publicado em: 21/08/2008 21:27:20
Última alteração:19/10/2008 20:32:50


HAIKAI 120
Paineira em flor
Inverno se aproximando
Matizes lilases...

Publicado em: 21/08/2008 22:36:18
Última alteração:17/10/2008 17:05:24


HAIKAI 121
Rolinha no chão
Buscando o seu alimento.
Gavião na espreita..
Publicado em: 26/08/2008 19:58:34
Última alteração:17/10/2008 17:09:11



HAIKAI 122
Vendaval na areia
Os luares sobre o mar
Estrelas acorda.
Publicado em: 26/08/2008 20:00:53
Última alteração:17/10/2008 17:09:16


HAIKAI 123
Fogo em matagal,
Animais correndo a esmo,
Fonte gotejando...
Publicado em: 26/08/2008 20:19:33
Última alteração:17/10/2008 17:09:37


HAIKAI 124
A águia sobrevoa,
Dos filhotes da campina
Tocas e tocaias.
Publicado em: 26/08/2008 20:21:47
Última alteração:17/10/2008 17:09:41



HAIKAI 125
Rios em cascata
Nevoeiros entre as pedras,
Gigantesco estrondo...
Publicado em: 26/08/2008 20:23:11
Última alteração:17/10/2008 17:09:45



HAIKAI 126
Sol atrás das nuvens
Reflexos alcançam lua
Verão anoitece.
Publicado em: 26/08/2008 20:24:12
Última alteração:19/10/2008 20:33:22



HAIKAI 127
Reflexos no mar
Deste sol que se recolhe
Atrás do arvoredo...
Publicado em: 26/08/2008 20:25:30
Última alteração:17/10/2008 17:09:48


HAIKAI 128
Vento balançando
Os coqueiros frente à praia,
Gaivotas voando..
Publicado em: 26/08/2008 20:26:48
Última alteração:17/10/2008


HAIKAI 129
O rio secando
Num verão abrasador.
Ovas hibernando...
Publicado em: 26/08/2008 20:34:02
Última alteração:17/10/2008 17:09:59



HAIKAI 130
Enchente amazônica
Alagando igarapés,
Ilhas temporárias...
Publicado em: 26/08/2008 20:35:25
Última alteração:19/10/2008 20:33:28


HAIKAI 131
Pedra no riacho
Formando em ondas concêntricas
Breve turbulência.
Publicado em: 26/08/2008 20:38:39
Última alteração:17/10/2008 17:10:12


AIKAI 132
Charcos, fogo fátuo
Dos espectros azulados
Corpos decompostos...
Publicado em: 26/08/2008 20:41:44
Última alteração:17/10/2008 17:10:20


HAIKAI 133
Entre ondas bravias
Nos penhascos e falésias,
Pássaros procriam..
Publicado em: 26/08/2008 20:55:43
Última alteração:17/10/2008 17:10:28


HAIKAI 134
Lua sobre o mar,
Os reflexos constelares.
Algas florescentes.
Publicado em: 27/08/2008 20:40:53
Última alteração:19/10/2008 20:35:03



HAIKAI 135
Garça pousa na ilha.
Vento balança palmeiras,
As sombras esguias...
Publicado em: 27/08/2008 20:42:38
Última alteração:19/10/2008 20:38:08



HAIKAI 136
Águas inundando
O mar invadindo o rio,
Salgando as margens...
Publicado em: 27/08/2008 20:44:13
Última alteração:19/10/2008 20:3



HAIKAI 137
O corpo na estrada,
Resto em decomposição
Pousam urubus.
Publicado em: 27/08/2008 20:46:51
Última alteração:19/10/2008 20:35:



HAIKAI 138
Tocas e tatus,
Os cachorros farejando
Refeição se esconde.


Publicado em: 27/08/2008 20:47:07
Última alteração:19/10/2008 20:35


HAIKAI 139
as ondas trazendo
escombros do temporal
verdejam a praia.
Publicado em: 27/08/2008 20:50:40
Última alteração:19/10/2008 20:35:25


HAIKAI 140
Chuvas derradeiras,
O outono se aproximando,
Folhas multicores.
Publicado em: 27/08/2008 20:52:02
Última alteração:19/10/2008 19:23:47


HAIKAI 141
a neve caindo
invadindo este canteiro,
branco toma o verde.
Publicado em: 27/08/2008 20:54:12
Última alteração:19/10/2008 20:35:30


HAIKAI 109
As águas do lago
A seca beirando a margem
Montes verdejantes...
Publicado em: 20/08/2008 18:38:16
Última alteração:19/10/2008 20:20:39


HAIKAI 110
Nuvens sobre estrelas
Lua adentrando uma fresta
Raios trilham mar...
Publicado em: 20/08/2008 20:33:07
Última alteração:19/10/2008 20:27:55


haikai 111
Água escorre lenta
O riacho serpenteia
Ilhas entre curvas.
Publicado em: 20/08/2008 20:35:04
Última alteração:19/10/2008 20:28:00


haikai 112
Sol tocando areia
Vento balança coqueiros
Voam as gaivotas...
Publicado em: 20/08/2008 20:36:37
Última alteração:19/10/2008 20:28:03


HAIKAI 113
Sapo coaxando
Algazarra na lagoa
Bote de coruja.
Publicado em: 20/08/2008 20:41:27
Última alteração:19/10/2008 20:28:15



Pobre borboleta
Sem as asas quer voar...
Mas vento traz chuvas...
Publicado em: 26/05/2007 19:32:01
Última alteração:28/10/2008 19:24:50


HAIKAI 1

Como é belo o dia

Nesta nuvem mutável.

Mas é fugidia

GONÇALVES REIS
MVML
Publicado em: 28/08/2007 22:01:59
Última alteração:28/10/2008 19:24:37



A cobra rasteja
Carregando uma semente
Presa nos seus dentes...
Publicado em: 26/05/2007 19:35:50
Última alteração:28/10/2008 19:26:43


HAIKAI 2

Mesmo em calmaria

Um vento sopra lamento.

Transtornando o dia


GONÇALVES REIS
MVML
Publicado em: 28/08/2007 22:05:34
Última alteração:28/10/2008 19:26:43


HAIKAI 002

Verde sobre azul
nas montanhas, horizontes
os tons do verão...
Publicado em: 22/07/2008 18:47:15
Última alteração:19/10/2008 21:49:38


O vento soprando
Nos coqueirais, nas palmeiras...
Êxtase total...
Publicado em: 26/05/2007 19:52:45
Última alteração:28/10/2008 19:24:44


HAIKAI 3


Borboleta invade

Esqueleto da crisálida.

Mas era saudade...

GONÇALVES REIS
MVML
Publicado em: 28/08/2007 22:08:37
Última alteração:28/10/2008 19:24:33


HAIKAI 003

Deita o sol ao longe
Horizonte em brônzeas linhas
Estio e crepúsculo...
Publicado em: 22/07/2008 18:55:07
Última alteração:19/10/2008 21:49:34


HAIKAI 004

Multicor cenário
Da vida em caleidoscópio
Mosaicos do verão...
Publicado em: 22/07/2008 19:04:58
Última alteração:19/10/2008 21:49:33


AIKAI 005
Tarde iridescente
De um verão, pós tempestade
Multicor mergulho
Publicado em: 11/08/2008 20:50:09
Última alteração:19/10/2008 19:49:00


HAIKAI 006
Nas ondas do mar
As sombras do entardecer
Nuvens negras. Águas.
Publicado em: 12/08/2008 12:51:24
Última alteração:19/10/2008 19:49:39


HAIKAI 106
Resquícios de luz
No sol-pôr de Primavera
A noite chega...
Publicado em: 14/08/2008 12:01:51
Última alteração:19/10/2008 20:09:33


HAIKAI 107
Mar no pôr do sol
Cinzas do céu tocando água
Gotas de dourado...
Publicado em: 17/08/2008 21:05:10
Última alteração:19/10/2008 20:18:23


Há dois mil anos
Há uns dois mil anos, havia no Oriente Médio um líder carismático e popular, nascido no meio do povo e acompanhado por uma turba de miseráveis para os quais prometia um mundo melhor.
Esse cidadão começou a incomodar as elites dominantes da época, representadas por Caifás.
Caifás era o principal líder político dos judeus, povo escravizado pelos romanos e, por conseguinte, interlocutor imediato entre os escravos e os escravizadores ou entre o poder central romano e os dominados ou colonizados.
Ao perceber que, politicamente, o surgimento de um líder popular e carismático poderia causar estragos ao seu papel de líder e representante dos colonizados, Caifás iniciou um movimento de tentativa de desmoralização e de desinformação sobre o seu provável adversário.
Tentou, em primeiro lugar, insurgi-lo contra Roma, no que foi malfadado a partir do momento em que o líder carpinteiro disse a máxima: - A César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Em seguida, tentou desmoralizá-lo a partir do fato de que o líder popular encontrava-se e almoçava com famosos ladrões da época e inimigos das elites judaicas, os cobradores de impostos que, ao cobrarem de quem tinha algum dinheiro (ou seja, a elite econômica) eram acusados de roubarem pró-Roma.
Sabiamente, Emanuel disse que estaria ali para curar os doentes...
Ao ver que o templo onde seu Pai era cultuado tinha servido de local para venda de quitutes e souvenires, Emanuel irou-se e chegou às vias de fato.
O interessante disto tudo é que, Caifás utilizando-se do denuncismo insuflou os romanos contra aquela liderança popular e utilizando-se da corrupção, fez com que um dos principais aliados do carpinteiro o denuncia-se.
Esta denúncia ou traição tem um aspecto interessante: mesmo sabendo que isto ocorreria, Emanuel em momento algum amaldiçoou ou sequer se colocou frontalmente contra a pessoa de Judas, embora tenha demonstrado o erro grave que esse tinha cometido, no que resultou seu suicídio, a posteriori.
Outra coisa interessante de se ver é que, apesar de toda a campanha difamatória contra Emanuel, a corte de juízo na figura de Pilatos, não tendo visto nada que o incriminasse comprovadamente, não o acusou diretamente.
Apenas, temendo o poder político de Caifás transferiu a decisão para que o povo, em eleição direta, escolhesse entre Emanuel e Barrabás.
Quem era Barrabás? Um absoluto desconhecido, simplesmente um Barrabás, totalmente inexpressivo.
Sob a influência dos meios de comunicação da época e baseado em mentiras que não seriam comprovadas ou foram totalmente descartadas, o povo, influenciado pelas elites dominantes na figura de Caifás, absolveu Barrabás e condenou Emanuel.
Faltaram acusar Emanuel de não saber de nada, o resto serviu como motivos para a acusação e condenação.
Isso ocorreu há dois mil anos...
Publicado em: 15/10/2006 15:23:08
Última alteração:26/10/2008 22:45:50


HÁ MALES QUE VEM PARA BEM.
Aquele motorista de caminhão sofre um acidente e tem que engessar os dois braços.

A fim de poder realizar as pequenas tarefas do dia-a-dia, telefona para a ex-esposa, de quem está separado há muitos anos, pedindo ajuda.

Como pessoa civilizada, mantendo um bom diálogo com o ex-marido, ela aceita a incumbência e de mala e cuia muda-se para a casa do ex-companheiro, com a secreta esperança de ainda conquistá-lo.

Ela fez as refeições e, com todo cuidado, alimenta o ex, colocando comida na boquinha do mesmo.

Na hora do banho, a mulher enche a banheira com água morna, coloca perfume na água e ajuda o ex a entrar naquele lugar tão aconchegante.

Cheia de segundas, terceiras e quartas intenções, a mulher começa a esfregar o delicioso sabonete pelo corpo do homem, até que, em determinado momento, nota que ele começou a ficar excitado.

Toda alegrinha, depois de tantos anos em que haviam se separado, a mulher não se contém e comenta com o ex:

- Danadinho. Viu só como ele me reconheceu, depois de tantos anos?

É como se diz aqui por esses lados.

- há males que vêm para o bem...

MARCOS COUTINHO LOURES
Publicado em: 08/04/2008 12:45:00
Última alteração:21/10/2008 18:12:22


Há muito tempo que a “massa” não vê o pão...
40

Mote

Há muito tempo que a “massa” não vê o pão...

Nesta vida – que desgraça,
Há tanta contradição;
Há muito tempo que a massa
Nem passa perto do pão...

Marcos Coutinho Loures


Amassado pela crise,
Sem saber o que fazer,
Eu só peço que me avise
Quando houver o que comer...
Publicado em: 20/11/2008 08:50:43
Última alteração:06/03/2009 18:51:24

No comments:

Post a Comment