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Sunday, August 27, 2006

Um caixeiro viajante

João Polino, quando rapaz, era um dos maiores conquistadores de Santa Martha, um verdadeiro cavalheiro, dono dos olhos mais azuis do Caparaó.
O seu atual cunhado, José Reis, irmão de sua amada Rita, tinha um armarinho de secos e molhados naquela terra adorada e fria.
João, dono dos seus dezessete anos, resolveu trabalhar com José, de olho na Rita, menina ainda, mas dona de uma mansidão e serenidade realmente cativantes.
Logo assim que começou a trabalhar, João recebeu um convite irrecusável; uma das maiores distribuidoras de alimentos da região, com sede em Cachoeiro de Itapemirim, resolveu chamá-lo para fazer um teste como caixeiro viajante.
João não pestanejou; a possibilidade de um ganho maior e uma vida de aventuras que se desenhava pela frente eram por demais tentadoras para o nosso herói.
O gostoso da profissão era isso mesmo, a variedade de lugares e de pessoas com que conviveria. Todas essas coisas cativaram João, que começou uma história de aventuras sem par...
Numa dessas viagens, João iria para Guaçui, o que não teria problemas já que a cidade tinha uma infra estrutura até que razoável.
O Hotel Real, no centro da cidade tinha vários leitos à disposição dos viajantes de sempre e dos turistas ocasionais.
Acontece que, por aqueles dias, haveria uma exposição de gado na cidade e a hotel estava totalmente completo.
Nada demais para João, acostumado às intempéries da estrada.
Acontece que, quando se preparava para ir para a estrada, viajando para São Tiago e dali para São Lourenço quando encontraria, facilmente carona ou condução para sua amada Santa Martha, a tempo de ver sua Rita, a chuva despencou.
Chuva não, minto; tempestade, e das brabas.
Chovia como dizem alguns , a cântaros, e até canivete começou a cair sobre as costas dos desavisados.
Procura daqui, procura dali, eis que surge a última esperança: uma pensão lá pros lados da Vila Alta, usada por casais em busca de um local sem testemunhas para a noite de amor que se aproximava.
Mesmo lá, não havia leitos. Mas, com pena de João Polino, Toniquinho, o gerente da pensão deu uma sugestão:
Havia um senhor de avançada idade que, sem parentes e sem amigos, morava na pensão, dono de um quarto vitalício, pago regiamente com seus proventos de ex-militar.
A noite avançava e a chuva nem sombra de amainar...
João aceitou o convite de dividir a cama com aquele senhor, inofensivo e asmático.
Noite alta, madrugada adentro, eis que, de repente, o senhor dá um grito e começa a pedir ajuda de João:
-Meu filho, me arranje uma mulher, pelo amor de Deus, te dou tudo o que tenho, mas me arranja uma mulher depressa...
Ao que João impiedoso, respondeu: -De forma alguma meu senhor, nem por todo dinheiro desse mundo!
-Por que, meu filho, me diga por quê?
-Em primeiro lugar, são duas horas da manhã e eu não vou sair de madrugada procurando mulher, tenha a santa paciência!
-Em segundo lugar, está chovendo muito e eu não trouxe nem guarda-chuvas e não quero ficar doente, muito menos pegar uma pneumonia e em terceiro lugar: meu senhor, o que o senhor está segurando não é o seu não, É O MEU!

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