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Monday, August 28, 2006

Gilberto e a Apendicite

Na sua adolescência Gilberto era um poço de saúde. Menino criado com vitaminas preparadas por Dona Rita e na base de muita fruta pega nos quintais de Santa Martha, às custas de alguns sustos e um ou outro tiro de sal na bunda, crescia à olhos vistos..
As costas largas cultivadas nos banhos de rio, demonstravam um exemplo claro de que vida livre, com exercícios físicos e boa alimentação fazem, realmente, um efeito maravilhoso...
Mas, num dia quase fatídico, amanheceu com uma dor na barriga. A dorzinha que, de início, era fraquinha, foi se intensificando.
A princípio dona Rita achou que as lombrigas estariam fazendo uma festinha no abdômen do rapaz mas, como as gotas de elixir paregórico não tiveram o efeito esperado, começou a se preocupar.
Em pouco tempo, Beto se contorcia de dores, gemendo e gritando, desesperadamente.
Como Santa Martha não tinha médico e, muito menos, hospital, a solução era levar o pobrezinho para Ibitirama, onde há um posto de atendimento, bem equipado por sinal.
O médico plantonista era um tal de Doutor Marcos Valério, um ortopedista que começara a trabalhar ali há pouco tempo.
Ao ver o rapaz se contorcendo e gemendo, ao apalpar a barriga, percebeu que o quadro merecia uma atenção especial.
A apendicite aguda era uma hipótese que não poderia ser descartada.
Como o laboratório era de difícil acesso, e não conseguia vaga para transferir o pobre rapaz, mandou verificar as temperaturas anal e axilar.
A diferença dessas temperaturas, muitas vezes, demonstra a possibilidade de apendicite ou de processo infeccioso naquela região.
O resultado tinha sido inconclusivo, então mandou pegar uma veia do paciente, colocar um soro e observar.
Passadas duas horas, com a piora do quadro, mandou reavaliar as temperaturas para constatar se tinha havido alguma mudança.
Nada, o resultado tinha sido igual ao anterior. A vaga não aparecia e Beto, entre manhoso e dolorido, parecia um bezerro desmamado, gritando e esperneando a todo momento.
Depois de um outro período, nova averiguação, também inconclusiva...
Nesse meio tempo, começou uma tempestade daquelas que só acontecem nos contos e nas histórias...
A chuva desabando, raios e trovões espocando a cada momento.
Gilberto, por sua vez, gritando e gemendo.
Temperatura vai, temperatura vem...
Tudo correndo desta maneira até que, para desespero de todos, aconteceu o pior.
A noite se aproximara e a luz, não resistindo às intempéries do tempo, acabou.
Sala do repouso lotada, a enfermeira não teve alternativa; acendeu uma vela.
Beto, no desespero da dor, ao ver aquela luz bruxuleante se aproximando e escaldado de tanto termômetro pra cá, termômetro pra lá, não titubeou:
-Tudo bem, mas apaga isso primeiro!

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