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Tuesday, August 29, 2006

Matemática e Cachaça

Josias era um homem trabalhador, honesto e fiel, muito fiel a Deus e a sua querida Joana. Moça bonita, uma morena exuberante, cerca de vinte anos mais jovem que Josias.
Em Santa Martha, Josias trabalhava como sapateiro, um artista famoso, procurado por vários clientes oriundos das redondezas e até da Cachoeiro..
Acontece que, de uns tempos para cá, a Igreja que Josias freqüentava começara a perceber que aquele antigo fiel tinha desaparecido.
Josias começara a beber, primeiramente sozinho e às escondidas, depois cada vez mais frequentemente e a cada dia com menos recato. Até que, um dia, apareceu no barzinho do Gilberto, ponto de encontro da meninada assaz namoradeira do distrito.
A sua estréia foi inesquecível; acabando com todo o estoque de fogo paulista que tinha no bar. Lá pelas quatro horas da manhã foi levado para casa. Totalmente embriagado.
A expulsão da Igreja foi sumária, principalmente depois do dia em que, além de dormir durante o culto dominical resolveu fazer da perna do pastor um urinol improvisado.
O escândalo tomou conta da comunidade, entre assustada e brincalhona.
Quem não gostou nada disso foi Joana, a bela morena se viu, da noite para o dia, vítima das mais indecorosas e maldosas piadas da comunidade.
Mas, a situação estava indo de mal para pior e, apesar de todas as orações, juras e promessas feitas para a salvação do nosso amigo, tudo estava como dantes no quartel de Abrantes, Josias Abrantes, que esse era o nome completo do nosso sapateiro.
As moças e os rapazes de Santa Martha já estavam sentindo a falta do nosso expoente na nobre arte da sapataria, agora as meia-solas e os consertos impossíveis teriam que ser feitos em outro lugar, para prejuízo dos bolsos e da qualidade dos serviços prestados.
Joana, no começo, ainda se manteve fiel ao nosso alcoólatra mas, como, na porta onde entra a miséria sai o amor; não resistiu por muito tempo...
Naquela época, o Governo do Espírito Santo estava contratando novos policiais e Maximiliano era um desses. Lotado em Santa Martha, tinha chegado a pouco tempo na pacata localidade.
João Polino foi o seu instrutor sobre as almas santamartenses mas, por causa de um descuido, se esqueceu de falar sobre Josias. Mas nem precisava, tal a insignificância do pobre cachaceiro...
Gilberto, com pena de Joana, passou a não vender mais bebida alcoólica para o sapateiro mas, nada disso adiantava. Bebia até álcool puro e, se bobeassem, esvaziaria tanque de combustível.
Na noite gélida daquele julho implacável, Maximiliano fazia a sua primeira ronda noturna quando, sem esperar, encontrou um cidadão tentando, de qualquer modo, acertar a chave na fechadura.
Ajudou-o a abrir a porta mas, por dever do ofício e por desconhecer aquele cidadão, perguntou se era ele mesmo que morava ali.
Diante da pergunta, Josias foi incisivo: “Claro que moro, entra comigo e você vai ver”.
Ao adentrar pela casa, Josias foi logo falando: “Tá vendo aquele cara deitado no sofá? É meu cunhado”.
“Vem cá comigo que eu vou te mostrar uma coisa: Aquela mulher deitada aqui no quarto é minha esposa, e aquele camarada deitado ao lado dela; sou eu”.
Ao que o guarda, sem mais nada a perguntar, se despediu e foi-se embora.
Josias deitou-se na cama e ao contar os pés, reparou que havia algo de estranho:
Um pé, dois pés, três, quatro, cinco, seis pés.
Epa! Tem gato nessa tuba! Mas depois, para se tranqüilizar, se levantou e foi até ao pé da cama e recontou: um, dois, três, quatro!
Dois da mulher e dois meus!
É, eu tenho que parar de beber mesmo!

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