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Sunday, September 3, 2006

João Polino e as Tanajuras

Nos idos dos anos 40, uma das maiores pragas que assolavam Santa Martha eram as saúvas.
Houve quem disse que “ou o Brasil acaba com as saúvas ou as saúvas acabam com o Brasil”. Na verdade, saúva é nome quase estranho por aquelas bandas, a danadinha é conhecida como “formiga cabeçuda” e é dessa forma mais irônica que irei tratar as famosas destruidoras.
Na época das primeiras chuvas da Primavera, principalmente após um dia muito quente, ocorre uma festa nos pequenos vilarejos Brasil a fora.
As fêmeas e os machos da espécie resolvem sair dos formigueiros para executarem o sacrossanto ato da fecundação e cumprir a norma divina do “crescei e multiplicai-vos”; nesses dias as crianças entram em total reboliço. É um tal de sair correndo atrás das fêmeas, as famosas tanajuras, e dos machos, conhecidos como bitus.
As pobres fêmeas das formigas cabeçudas, são caçadas pelos mais diversos motivos. Me recordo, até hoje, que meu pai pagava alguns trocados para quem levasse algumas guardadas num pote, é uma excelente isca para pescar.
Outras vezes, a criançada faz uma brincadeira um tanto quanto agressiva com as pobres fêmeas bundudas. Introduzindo um palito ou um pedaço de pau na “bunda” de uma tanajura alada, essa começa a bater desesperadamente suas asas, fazendo um barulho peculiar e dando voltas em torno do palito, parecendo um helicóptero tentando levantar vôo, mas com uma espécie de âncora presa na parte inferior.
As pobres tanajuras, depois de fecundadas, iam ao solo já sem as asas, se tornando presas fáceis, mesmo quando conseguiam cavar as tocas onde iriam construir um novo formigueiro.
Acontece que, por seleção natural, uma gigantesca parcela dos animais são devorados ainda no vôo pelos passarinhos ou no solo pelas esfomeadas galinhas, repasto de primeira; outras vezes, vão parar em uma farofa enriquecida com as “nádegas” fritas, servindo como um prato de raro paladar.
Conheci um colega, médico, que não perdia uma revoada de tanajuras. Fazia um dos melhores tira gostos da região!
Pois bem, a cada ano se renova a vida no mundo das formigas, com a possibilidade da criação de novos e temíveis formigueiros.
Os famintos e vegetarianos insetos, com sua capacidade de cortar qualquer tipo de folha, causam destruição ímpar nas lavouras, qualquer uma delas, não respeitando nada.
O uso de defensivos agrícolas faz com que se controle a população desse terrível animalzinho, voraz e destruidor.
Em Santa Martha não era diferente, os lavradores entrando em desespero a cada novo formigueiro criado.
Numa época em que os venenos eram de difícil acesso e de efeitos colaterais muito graves, João Polino, com seu espírito ecológico e inventivo criou uma maneira para que, sem uso de tóxicos, conseguir acabar com os famigerados formigueiros.
A fama do invento correu mundo, até chegar em Vitória, onde um engenheiro agrônomo resolveu ir a Santa Martha para que João lhe mostrasse sua engenhosa descoberta.
Encontrar João Polino não foi muito fácil, pois estávamos em plena primavera, época da reprodução dos insetos.
Mas, depois de vários quilômetros e horas de procura, o nosso engenheiro encontrou João em plena atividade, num dos sítios mais afetados pela peste.
Por mais que João tentasse disfarçar, não teve jeito, o engenheiro vendo o nosso amigo com uma caixinha na mão, perguntou o que era,
João respondeu rápido: rapé!
-Rapé? Perguntou o engenheiro.
-Sim, faz parte do meu invento.
-Como assim?
-Simples, coloque um pouco de rapé na porta do formigueiro.
-E aí?
- Coloque uma pedrinha próxima ao rapé.
-E depois?
-Seu moço, é só a formiga cheirar o rapé e espirra, e quando der o espirro, bate a cabeça na pedra e morre. Assim é que eu acabo com os formigueiros!

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