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Friday, December 21, 2007

SONETOS 063 E 064


Cuidando da amizade com carinho
Sabendo quanto é frágil sentimento.
Muitas vezes fiquei aqui sozinho
Jogado, sem saber qual este intento

Que mostrando a nós todos o caminho
Indica a direção de um brando vento.
Pois quando na verdade sempre alinho
Eu sinto que desfaço o sofrimento.

Mas tenho, com certeza uma verdade
Guardada, que aprendi depois da dor.
Toda a delicadeza da amizade

Compensa este cuidado tão profundo.
Espinho desleixado mata a flor,
Não deixe de pensar nisso um segundo...

X

Depois de nosso tempo, samba, cama

Arranco teu decote a boca e dente.

No pátio, no quintal, no seco à lama

Do jeito mais sacana e mais urgente.

Adentro tua casa, exploro inflama.

No manto da loucura amor se sente

E faz de nova lua a velha chama

Amar será pecado ou indecente?

Vizinhos que se danem, risos soltos,

Usando o teu varal como cabide.

Nos turbilhões de estrelas, mais revoltos,

Amar sem ter limites, mato e morro.

Dane-se quem conter ou quem duvide,

No amor, que é vitamina, me socorro...

X

Nós somos a fagulha que incendeia

A terra nos vulcões mais violentos.

Teu fogo em minha chama tanto ateia

Que às vezes entornamos sentimentos.

Desejo inoculado em minha veia

Rompendo tantos diques, pensamentos.

Vermelho nosso mar em branca areia

Vestindo só de pele, barcos lentos...

Aporto nas borrascas nosso sexo

Que é feito com calor, sofreguidão.

Perdendo depois disso todo o nexo

Nessa fagulha intensa vou queimar,

Teu corpo no meu corpo com tesão,

Subindo num segundo no luar...

X

Eu quero o nosso amor imenso e puro
Sem ter tanta vontade de mostrar
Que o chão da solidão parece duro,
Distante de um amor, luz e luar...

Eu quero o nosso amor com paciência
De quem cuida da flor o temo inteiro,
Que tenha em sentimento essa ciência
Do velho, experiente jardineiro...

Eu quero o nosso amor com suavidade
Da mãe num acalanto tão bendito,
Que venha sem resquícios da maldade
Amor que se demonstra mais bonito...

Eu quero em nosso amor perfeita paz
Com a arte de quem sabe o que bem faz...

X

Penetro nos abismos deste mar
Qual fosse submarino submergido
Movido pela força nuclear
Buscando em cada fossa o meu sentido.

Vasculho entre crateras de vulcões
E barcos já faz tempo, naufragados,
Em todos os caminhos, direções,
Um rumo para os sonhos mergulhados...

Encontro meu destino nos tentáculos
Do imenso calabar tão fascinante,
Previsto o meu futuro nos oráculos
Entrego-me aos teus braços, d’ora em diante.

Depois de tantos mares, tantas léguas,
Deitado no teu colo peço tréguas...

X

Eu quero esta alegria de poder
Chamar teu nome sempre que puder,
Na fantasia enorme de saber
Que além de minha amiga é a mulher

Que sempre desejei estar aqui
Compartilhando o sonho mais risonho
Depois de tanto tempo que perdi,
Depois do vendaval forte e medonho

Da solidão dorida que enfrentei
Por vezes, esquecido em algum canto,
E, sinto que depois que te encontrei
Cessaram-se: tristeza, dor e pranto.

No labirinto extenso desta vida,
No nosso amor intenso, uma saída...

X

Matando nossa sede neste rio,
Descendo as cachoeiras mais bonitas.
Sentindo este calor que aborta o frio,
Vivendo as alegrias mais benditas.

Quase sempre olvidamos quanta fome
Que existe neste mundo em desamor.
Ao lado da alegria a dor já some,
O riso não é bom revelador.

Devemos desfrutar desta alegria,
Porém sem nos deixarmos enganar.
Por mais que seja bela a poesia,
Do mal ela não pode se furtar.

Por isso, meu amigo, tanto irmão
Precisa deste amor de salvação.

X

Eu sinto o teu perfume; empesta o ar
Com ânsias e volúpias sensuais.
Vontade de beber e te tragar
Com gosto de querer sempre demais...

Lambendo o teu desejo salgo o mar
Desnudo tua pele e caço o cais
Onde talvez pudesse naufragar
O barco de meus sonhos, noite traz...

Tão quieto; não escuto a minha voz,
Decolo abro meus braços, te farejo;
Na sombra deste vôo, um albatroz

Tomando o camarote onde tu deitas.
Vagueio mansamente o teu desejo
E sinto em teu prazer quanto deleitas...

X

Amor sempre gerando uma esperança,
Braços embaladores de mulher
Que sabe quando a noite já me alcança
E traz uma alegria se quiser.

Pensamento enlouquece e tece veios,
Caminhos tão formosos de alegrias.
A mão que te passeia pelos seios
Bem sabe das delícias que pedias

Com olhos sedutores de pantera
Brilhando em minha cama, está sorrindo,
As garras escondidas desta fera
Aos poucos de prazer vão me ferindo.

Delícia de viver em tal festim,
Inteiro, toda noite, sempre assim...

X

Teus olhos na moldura divinal
São como dois luzeiros poderosos.
Imagem derradeira e sensual
Que levarei dos dias maviosos

Que tive, nesta vida, ao lado teu;
Mulher que me encantou, querida fada;
Num mundo tão difícil quanto ateu
Tua presença meiga é adorada.

Por sobre um triste mar de sofrimento
Na trilha de teus olhos vou seguindo,
Não quero te perder um só momento,
O brilho deste olhar se diluindo

Clareia toda a dor, cruel açoite,
Um rastro de luar, no mar, na noite...

X

Não quero desatar o nó da vida
Nem ter esta tristeza que corrói,
Nem quero este teu verso em despedida;
A vida por si mesma, tanto dói.

Entendo que esse amor seja infinito
Pois sabe suportar qualquer pressão,
Pois todo sentimento que é bendito
Invade, nos tomando o coração.

Não quero que este sonho se deforme
Nem forme o pesadelo que temia.
Amor quando se acaba; bem disforme
Impede qualquer canto de alegria.

Não quero desatar o nó do amor,
Nem tenho pela morte um vão temor...

X

Nas ondas deste amor perdi meu barco
Sou náufrago buscando pelo cais.
A vida se descreve como um arco,
Termina nos seus braços, nada mais...

Não quero me apartar nunca de ti,
Macio e tão suave este teu porto
Formado por teu corpo. Me perdi
Na mansidão divina do conforto

Que encontro tão somente em nosso amor.
Jazendo meu cansaço deste mar
Da vida que se fora sem se por
Em porto onde dormir e descansar.

Nas ondas deste mar achei a vida,
Que andara antes de ti, cega e perdida...

X

Como é difícil ver tanta miséria
Exposta pelas ruas, pelo mundo.
Uma palavra apenas, mesmo séria
Seria muito pouco; quero ir fundo.

Amigos encontrei em toda a parte,
Irmãos que percebi, lutam comigo.
Eu quero, se possível, com minha arte,
Gritar o que sozinho, não consigo.

Ao ver que tantas vezes se recriam
Os mitos das fantásticas batalhas,
Percebo quanto a vida fantasiam,
Os que não sentem cortes de navalhas.

Amigo te proponho, na canção,
Quem sabe, um só minuto em reflexão...

X

Esperança perdida, triste sina
Deste amor que se foi e não mais volta;
Vai turvando a minha alma cristalina,
Inundando meu peito de revolta...

Quem me dera saber de uma saída,
Quem me dera encontrar um novo bem.
Esperança que tinha, já perdida,
Nosso quarto me diz: não tens ninguém...

Mas verei, com certeza, amanhecer,
Depois da terrível tempestade.
Meu amor em desejo converter,
E viver novamente, mesmo tarde...

Esperança, te encontro no sorriso,
Menina primavera, paraíso...

X

Brandura de querer meu bem que quero
Da forma que quiser meu bem querer.
Eu quero teu amor; pois nele espero
Esta querência boa de viver...

Às vezes vou sozinho e, sem querer,
Encontro a solidão que não mais quero
Matando essa tristeza não espero
Que volte e que incomode meu viver.

Entenda como é bom se, por querer,
Eu for um passageiro deste sonho
Que transformará todo esse viver
Num futuro feliz e mais risonho...

Eu quero teu amor, minha mulher,
Nas pétalas do amor do bem-me-quer...

X

Mil beijos prometidos e já dados,
Mil dados onde jogas minha sorte
Amores que tivemos são fadados
Lançando flechas, dardos; bem mais forte.

Sedados pelos sonhos maviosos,
Se dados com amor e com prazer
Sentidos os cabelos mais sedosos
Somados nossos sonhos de viver.

Se somos o que somos temos sumos
Iguais em perfeição, nossos destinos,
Seguimos por iguais sendas e rumos,
Sentindo esses desejos peregrinos...

Que roçam nossas peles e nos tragam,
Para os desejos tontos que se afagam...

X

Nas cores luminosas, teu neon,
Raiando nesta cama seus mistérios,
Amar é se fremente e ter o tom
Do dom de se entregar sem ter critérios.

Eu quero os madrigais esplendorosos
Recíprocos estios numa aurora.
Vestindo nossos sonhos olorosos
Eu quero-te depois, mas venha agora.

De bênçãos e carinhos inundado;
Meu fado é teu destino, sem temor.
Eu trago meu jardim bem cultivado
Pois sei quanto é difícil ter amor.

Nas cores cristalinas, diamantes.
Forrando nossa cama, deslumbrantes...

X

Amigo eu te encontrei pedindo esmola
Nas ruas, nas favelas e nos portos.
Tu eras a criança com a cola
Mostrando teus caminhos, todos mortos...

Tu eras meretriz, pobre menina,
Vendida por centavos, corpo exposto.
Lavavas a tua alma na latrina
Sentias podridão com fino gosto.

Te vi nos miseráveis combalidos,
Vestidos de fantasmas sem futuro.
Os pés já derrubados, distorcidos,
A morte te esperando atrás do muro.

Amigo eu reconheço pela cruz,
Crucificado sempre, vai Jesus...

X

Meu amor não mais permita

Que este sonho, um dia acabe,

Quem provou de uma desdita

Sabe quanto amor já cabe

A minha alma sempre agita,

Do meu destino já sabe,

Encontrar uma pepita

Antes que a vida desabe

E faça-se em sofrimento,

Em tanta dor afinal.

Não esqueço um só momento,

Ao olhar o firmamento,

De teu corpo sem igual,

Minha alegria e tormento...

X

Vestígios deste mar dentro de mim

Trazendo a força intensa da paixão.

Vagando bar em bar amor sem fim

Inebriado, vive de emoção.

A boca desejada, carmesim,

O corpo sensual... Meu coração

Se perde nesta imensa sedução,

Encontra-se em deliro, segue assim

Por rumos e por tramas tresloucadas,

Vibrando no teu corpo, meu afã

Rompendo as noites segue em madrugadas

Sem medo não termina bem pretende,

Depois... No sol tão quente da manhã,

De novo todo o fogo reacende...

X

Eu me queimo no fogo da paixão
Buscando tua sombra pelas ruas.
Vagando nada encontro. Solução?
Deixar teu nome entregue às loucas luas...

Olhando para as luzes da cidade
Apenas os anúncios, néons mudos.
Rasgando escuridão vã claridade
Os gritos e as buzinas tons agudos...

As janelas são pontos luminosos
Em qual delas se esconde esta mulher?
Os sonhos vão famintos andrajosos
Apelo para o santo que vier.

Um anjo exterminado sorridente
Abrindo suas asas; ri... Demente...

X

Dessa Janela Sozinha
Olhar A Cidade Me Acalma
Estrela Vulgar A Vagar
Rio E Também Posso Chorar.

Jards Macalé



O Rio aqui de cima neste hotel
Milhões de focos soltos como estrelas
Multicores caídas lá do céu,
Parecem pisca-piscas, lumes, velas...

Estrelas vão desnudas num bordel,
Na Lapa, tantos gringos para vê-las
No bolso do marujo mel e fel,
Em sangue canivete a convertê-las

Ouvindo o burburinho das buzinas
Revejo boa parte do que fui.
No caos e desencontros das esquinas

A calma me tomando, solto o sonho.
O Rio que deixei já não me influi
Mas mesmo assim, saudoso... Olhar risonho.

X


Me Calo Ouvindo Seu Nome Por Entre A Cidade
Jards Macalé

Busco em cada sinal, em cada esquina
A sombra de quem foi morte e começo.
Qualquer sinal chegando me alucina
E nos meus pés, teus rastros, eu tropeço.

Corto meus pulsos, sangro; cego a sina
Que muda todo instante de endereço.
A lua penetrando esta cortina
Servindo de consolo e de adereço.

Como o Rio de Janeiro me inebria!
Teu nome repercute como um eco.
A noite tropical depressa esfria

Esguia esta cidade é muito pouca.
Entrando num cortiço ou num boteco
A corda em meu pescoço abrindo a boca

X

Não quero mais qualquer insensatez
Somente o que restou do coração.
No couraçado perco minha vez
Invado a carapaça da emoção.

Não sei nem me pergunte o que se fez
Do verso que em feitio de oração
Foi mártir, despedida onde fui rês
Sonante como um sonho em explosão.

Sou bicho mansa fera sem clemência
Vingando cada ausência repartida.
No fundo não sou mais que uma excrescência

Sou vago, vou vazio, ganho o fim.
Percalços? Encontrei em minha vida,
Amante desta sombra que há em mim...

X


O amor só mostra a face quando acaba,
Em plena despedida se agiganta.
O mundo que sonhávamos desaba
A sorte num momento já se espanta.

Se quando verdadeiro nos maltrata
Ao mesmo tempo esgota-se sem dor
Quando vazio e tolo se descarta
Bem antes já morrera em desamor.

Um sofrimento imenso se prepara
Na morte de um amor em redenção.
A perda desta jóia fina e rara
Trasborda em sofrimento o coração.

A face derradeira bem ou mal,
Só mostra-se sincera no final...

X

Não basta tu amares quem te odeia,

Embora; tão difícil ser assim.

O sangue que percorre tua veia

É tão vermelho quanto. Mesmo assim

Às vezes nos parece inalcançável

Perdoar quem nos ofende e nos magoa.

Mas se tu conseguires; invejável!

Merece ter a vida sempre boa...

Agora; não se esqueça dos amigos...

São anjos que permitem teu caminho

Alertam para as urzes e perigos.

Quem tem um bom amigo tem carinho,

Amar os inimigos? Sim, convém.

Mas faça desse amigo o maior bem

X

Meus olhos no futuro, quando os ponho;

Vislumbro a maravilha da esperança.

Embora nos pareça tão medonho

O grito da injustiça nos alcança



E penso que este canto tão tristonho

Proponha para todos nova dança

Vibrando com tal força em nosso sonho,

Possamos relembrar do amor-criança



Que teima em nosso peito resistir

Trazendo neste vento que promete

Beleza e sensação de um bom porvir.



Eu sei que te pareço sonhador;

Porém minha ilusão já me remete

À promessa aromática da flor...

X


Tocar todo o teu corpo com meus lábios,
Vertendo em mil desejos e vontades
Guiado por carinhos, dedos sábios
Deslumbro tocas, grutas, tempestades...

Exposta, inteira, nua em pleno cio,
Num ápice, excitada, vem inteira...
Em plena sensação de desvario
Cavalgas meu amor, tão verdadeiro...

E chega na amplitude, sensual,
Farejo o teu prazer, bebo sedento.
Num êxtase profano, amor carnal,
De tanta maravilha, meu sustento...

E singro por teus mares, adentro o cais,
E quero repetir, nunca é demais!

X


Buscando conhecer quem sou, quem fui,
Procuro em ti querida esta resposta.
De tanto que amizade nos influi
A face que ocultei; em ti exposta.

O tempo tantas vezes tudo pui
E corta um sentimento, aberto em posta
Tudo
o que vivemos já conflui
Para quem sabe e mesmo assim nos gosta.

Amiga me conheces muito bem
Valores que carrego, sabes todos...
Uma amizade intensa sempre tem

Poder de nos mostrar quase que inteiros
Não admite nem erros nem engodos.
Espelhos que nos mostram verdadeiros...

X

Não temo nem a dor nem a saudade
São pedras principais do meu cantar.
As asas preconizam liberdade
A liberdade busca o vôo, o ar

Não acredito em medos, veleidade,
Espalho meu tormento, intenso amar,
Bebendo temerário, a tempestade
Soltando a minha voz, vou sem parar...

A fé num novo dia que renasce
Em toda a fantasia que tiver
Vivendo sem segredo e sem disfarce

Meus olhos refletindo os olhos teus,
Tua beleza intensa de mulher
É prova sim, que existe um grande Deus...

X

Quando eu tento cantar uma alegria,

Trazer felicidade para alguém

Na luz deste meu canto que irradia

Um sorriso demonstra um grande bem.

Nos versos que pretendo, a fantasia;

Aos poucos, devagar decerto vem,

E nisso, toda a paz e simpatia

Tomando voz e corpo para outrem.

Às vezes um sorriso te incomoda?

Quem sabe se lembrasses da criança

Brincando com cantigas das de roda

Não possa te mostrar quanto é possível

Viver com alegria na esperança

De um mundo bem melhor em outro nível.

X

“Braços abertos sobre a Guanabara”
Abençoando a todos... Ah! Quem dera
Se a sensação divina, posto rara
Trouxesse para o povo a primavera!

A dor de uma esperança que é tão cara
Morre na realidade triste fera
Que devora, revolta e nunca pára
De matar nossos sonhos, nossa espera...

Na injustiça que rouba uma esperança,
Na fome de ilusões, velhas favelas,
Na chaga que se estampa na criança

Nos dissabores todos, calo a voz.
Acendo o coração imerso em velas
E
peço por favor: Orai por nós...

X

Amor nos traz prazer e sofrimento;
Transforma a nossa vida, fragiliza.
Tornando-nos reféns por um momento
É tempestade imensa e sopra brisa;

Amar é se entregar; vivo tormento;
A mão que nos maltrata nos alisa.
Roubar da fantasia o sentimento,
É dor que nos seduz e não avisa...

Vibrando neste amor, nos conduzimos
Ao céu e o mesmo tempo ao purgatório.
Os erros cometidos; repetimos.

E somos qual criança curiosa
No fogo que nos queima, crematório,
Perfume delicado de uma rosa...

X

Meu verso homenageia-te querida,
A minha companheira nas desditas.
Através dos caminhos desta vida
As mãos que me acarinham são benditas...

Por vezes não achando mais saída
As horas se passando tão aflitas;
A dor já me abandona, vai vencida
Por palavras bem doces, e bem ditas.

Eu faço este meu canto em teu louvor
Ao lembrar quantas vezes me ajudaste.
Meu caminho; douraste com amor.

Se quando necessário, sempre abriga
O peito dolorido, fincando haste
Tão firme. Te agradeço, minha amiga!

X

Não quero mais silêncio concebido

Num momento fatal em despedida,

Pois todo o sangramento foi perdido

Encontro, agora toda a minha vida!

Eu não quero saber se foi havido

Ou sequer se ela vai despercebida,

O sofrimento perde o seu sentido,

Qual fruta sem valor, apodrecida...

Não vou mais só, sem tempo e sem espaço,

Vou levando a paz, perco o meu cansaço,

Nem quero mais saber desse senão.

Recuperando a cor, meu coração,

Não quer mais ter limites neste abraço,

Por onde vou, eu bebo essa amplidão!

X

Minha alegria às vezes te incomoda;

Bem sei que isto parece um contra-senso

Porém eu não admito qualquer poda,

Se trago em minha vida amor imenso

Permita que eu sorria; companheiro...

Se espero desta vida algo melhor,

Talvez pela metade, ou bem inteiro,

Talvez pouco menor, até maior,

Só sei que tenho em mim esta esperança

De que num belo dia, esteja bem,

O bom humor me traz boa lembrança

E dá felicidade para alguém.

Espero em ti, também, esta harmonia

Que traz, em sintonia, uma alegria!

X

Envolto em tanta lava, sangue e terra
Na doce podridão, maduro fruto,
Trazendo uma batalha, intensa guerra,
Mortalha tão voraz em louco luto.

Nesta alucinação que me transporta
Aos gritos desumanos da saudade,
Destroça esta parede, arromba a porta
E mostra em meio ao caos, a liberdade.

Nos uivos da luxúria e do prazer,
Lascivos; os meus lábios te procuram,
Vontade extasiante de beber
Teus gozos que me salvam e me curam.

Nestes punhais secretos do desejo,
As bocas se lambendo em novo beijo.

X

Todos os bens da vida, passageiros,
Não deixam nem sequer algum vestígio
Quando não os tivemos verdadeiros,
E quando só vivemos em litígio.

Portanto não te quero em batalhas,
Nem guerras nem em trágicas disputas.
Não quero perecer nestas navalhas
São tão tempestuosas quanto argutas...

Eu quero o nosso amor em manso lago
Levado com ternura pela brisa,
Na mansidão profunda deste afago,
Toda a serenidade que precisa

Quem faz de tanto amor um porto, cais,
E sabe como é bom amar em paz...

X

Na rajada do vento da loucura

Que trouxe esse desejo, essa paixão...

Buscando em teu castelo a minha cura,

Pintando de rubor nossa amplidão...

Não faça desta noite uma tortura,

Deixe que nos venha sedução

Na forma mais suave da candura,

Depois em nossa cama, uma explosão.

O sol brilhando lento, no mormaço

Amorenando tudo, e me vertendo,

Sofreguidão de um beijo prende o laço

E faz de tua boca a guardiã

Dos raios de teu corpo recebendo

O gosto deste orvalho, na manhã...

X

A flor da mocidade no meu peito
Dormia em berço amado, enlanguescente,
Sem ter acanhamento, insatisfeito,
Buscava do prazer, toda a vertente.

Logrado pelo engodo da beleza,
Me acreditava eterno, temerário..
A dor me parecia uma incerteza
Num rol de sentimentos, louco e vário.

Amor era um dilema em labirinto,
Desejo suplantava qualquer senso,
Vivendo sem saber quanto é bonito
Amor em plenitude, amor imenso...

Agora que envelheço a cada dia,
Amor vem renovando a fantasia...

X

Distante de quem quero e que desejo,
Que faço do querer? Valha-me Deus!
Se sonho todo dia com teu beijo,
Na seca que invadiu os lábios meus...

Apenas te procuro e nada vejo,
Temendo simplesmente um triste adeus
Dos olhos tão risonhos num lampejo
Que mate no meu peito tantas breus...

No ribeirão tão fundo da saudade,
O medo de afogar vai me tomando.
A vida é tão doída na verdade

Eu preciso aprender logo a voar.
Tão longe vou vivendo suspirando,
Querendo, nos teus braços, naufragar!

X

A vida se entornando na paixão
Não deixa qualquer força suplantá-la!
No começo e no final de uma estação
Bem mais alto que tudo sempre fala

Trazendo para a vida uma emoção
Que bem dentro do peito tanto cala
Em nosso dia a dia a sensação
Divina de poder sentir a gala

E o glamour que nos traz felicidade.
Embora tantas vezes venha a dor,
Valendo por si só a claridade

Que somente a paixão pode trazer
Abrindo todo o peito em destemor,
Sem medo da amargura e do prazer...

X

Meu desejo é teu beijo rosa bela,
Plantada no canteiro da esperança.
A sorte em tua boca se revela,
Na noite que promete e o bem se alcança.

A rosa que é vermelha e amarela
Não sai do pensamento e da lembrança
A vida que passei foi só por ela,
A rosa não deixou de ser criança

E solta seu perfume por aí,
Deixando o coração tão apressado,
Amor que procurava achei em ti,

Um bem te vi te viu tão verdadeira
Porém um colibri apaixonado,
Sofrendo com espinhos da roseira!

X

A lua varandando em nossa casa
Florindo de algodão forrando a cama.
A sorte generosa nunca atrasa
Na brasa decifrando toda a chama.

Tua nudez, meu peito já se abrasa
O fogo desfilando sempre inflama
No visgo deste olhar não se defasa
Amor vem logo. A cama já te chama.

Encontro no teu seio essa romã
Perfume delicado do desejo.
Não deixe pra depois nem pra amanhã

Agora é necessário se entregar
Ao gosto-gozo-festa em cada beijo
Depois, ir pra varanda enluarar..

X

Tu és minha expressão: felicidade!

Tu és toda a alegria que sonhei.

Perfume que traduz sinceridade.

Meu verso preferido dediquei

A quem ao me trazer a claridade

Foi tudo que o que buscara, e te encontrei.

Por isso meu amor, por caridade,

Saiba que nesta flor me perfumei...

Tu és o meu total deslumbramento

A força que me guia e me conduz.

Jamais te tirarei do pensamento.

Inebriante amor que me domina,

Procuro insano e quero a tua luz,

Neste sorriso lindo de menina...

X


Amor é labareda no começo
Traz fogo incendiando quarto e casa,
Vadeia; travesseiro é um adereço
Que nada ajuda às vezes nos atrasa.

Depois que te virei toda do avesso
A cama incendiando vira brasa
Nem sei se inda te peço ou se mereço
Explode a sensação por pouco vaza.

Depois vai esfriando devagar
Na cinza que restou, o travesseiro
Que tanto começou incomodar

Já passa a ter valor bem do seu jeito
Virando de repente um companheiro
Que abraço e vou dormir. Tão satisfeito...

X


Violeiro tocando seus acordes
Nas cordas do sonoro coração,
Depressa minha amada vem, acodes
Senão irei perdendo a direção.

Acordas coração destemperado
Que em cortes quase perde o seu caminho.
Vivendo o tempo todo apaixonado,
Um coração não sabe ser sozinho...

Eu quero o teu desejo para mim,
Menina que sonhei e Deus me deu.
Não deixe um violeiro triste assim,
Com medo deste amor que já perdeu...

Deitando meu amor em fortes laços
Eu quero adormecer em teus abraços!

X

Bem sei que o fim do mundo é todo dia
Depende de quem vai e de quem fica,
Por isso tantas vezes alegria
Parece sensação boçal. Implica

Em ter todas as gotas de harmonia
Nesta mistura nobre que é tão rica
Um pouco de esperança e fantasia
Encolhe por um lado noutro estica.

Mas vivo na alegria um corte de aço
Fazendo meu sorriso mais profano.
Não digo ser feliz é ser palhaço

Quem pensa desse jeito não resiste
Ao gosto do desejo soberano
E morre mais boçal por ser tão triste.

X

Montado em meu cavalo ganho o céu
Levando na algibeira o teu retrato.
Quem dera galopasses teu corcel
Mostrando este sorriso, nosso trato.

Da boca desejosa escorre o mel
Que beija e que lambuza, raspa o prato.
Deitada em minha cama, tiro o véu
Morena sertaneja lá do Crato

Eu quero o teu desejo, rente ao chão,
Trotando teu cavalo sem parar,
Embola teu prazer neste alazão

Depois de ter matado toda a sede,
Mais gostoso é poder recomeçar
Toda essa montaria numa rede!

X

Não tema nosso amor, ele redime
A todas essas dores que passamos,
Não há ninguém por certo que te estime
Tanto quanto eu; por isso, vamos!

A vida qual cigana nunca pára
Nem deixa que dominem os seus passos
A sorte no futuro se antepara
Nas cores que se pintam, tantos traços...

A solidão congela o sentimento
Somente um outro amor vem e degela,
Não deixe que se perca num momento
Teu barco necessita de outra vela.

O leme desta bela embarcação
Encontra um timoneiro na paixão!

X

Com sede nestas noites mais febris
Buscando o teu agreste gosto e gozo.
Balanças tentadora teus quadris
Libertas minha fera. É tão gostoso

Vontade de chegar e pedir bis
Querer cada momento mavioso
Eu sei que se quiseres sou feliz
Senão o que fazer? Sofrer choroso?

Teus beijos me apontando ao infinito
São festas prometidas mas não dadas.
Teu nome nas estrelas foi escrito

Por olhos desejosos e sedentos.
As pernas caçam pernas enredadas
Aumentam as tensões teus movimentos...

X

Passarada cantando em liberdade
saudade do tempo que passou
Passarinho buscando a claridade
Nas mãos de quem sonhara já pousou...

Eu vivo só por que tenho saudade
De quem em solidão triste deixou
Aquele a quem amava de verdade,
Buscando um outro ninho já voou...

Agora minha amada quê que faço?
Deixaste um coração tão sem cuidado
Morrendo só por falta de um abraço

Em meio a tanta seca no sertão.
Batendo devagar, descompassado
Vai preso na gaiola da paixão!

X


Coração passarinho cantador
Buscando, da gaiola, a liberdade
Que somente se encontra em pleno amor
Sinônimo real: felicidade.

Menina teu olha tão sedutor
Bagunça o coração, eis a verdade;
Que faço se me entrego ao teu calor,
Vem logo todo o frio da saudade...

Amada vou contigo em pensamento
Tentando
ser feliz, por isso vem.
Não deixo de querer nenhum momento.

O gosto saboroso do teu beijo
Maltrata o coração tamanho trem,
Saudade vai roendo! Eu te desejo!

X

A beleza total vem do teu ser
Emerge a cada nova temporada
Vibrando esta vontade de viver
De ser a minha amante, amiga, amada.

Deixando devagar, te conhecer
Ternura em tua face decorada,
No coração depressa a debater
Com força e com tesão, apaixonada..

Amar o teu desejo é muito fácil,
Corando tua boca carmesim,
Com beijo em sentimento, frágil grácil,

Desnudo esta vontade louvo a chama,
Ardendo todo amor dentro de mim,
A boca tão sedenta já te chama...

X

Não cruzei o mar em vão
Nas
aventuras vulgares
Só conheci tempestade
Que mora no meu coração

GERALDO AZEVEDO




Em meio à tempestade tanto amei,
Vagando noite e dia pude ver
O quanto neste amor me dediquei
E nada recebi. Quero saber:

Onde foi, meu amigo, que eu errei?
Talvez por ser enorme o bem-querer.
A vida nos mostrando a dura lei:
O fim de quem adora é o sofrer!

Vagando pelas ruas, pelos bares
Buscando em qualquer boca uma ventura,
Nas ânsias tenebrosas tão vulgares

Vivendo tão somente; sem paixão...
Fazendo amor sem gestos de ternura,
Amigo; o que restou do coração?

X

Estrela radiante do recanto
Amiga verdadeira, estou feliz!
Por isso na verdade, este meu canto
Com tanto sentimento já te diz

De toda uma harmonia em teu encanto.
Deslindo este cantar meu, aprendiz
De sonhador, debaixo do teu manto
Que nos irradiando sempre eu quis.

Se faço minhas mal traçadas linhas
Eu devo muito ao teu apoio, amiga.
Os versos que tu cantas, avezinhas

Que ganham liberdade em belo trilho.
Nesta minha homenagem a cantiga
Ao milésimo forte e belo filho!

À QUERIDA HELENA PELO MILÉSIMO FILHO

Obrigado Maysa pela lembrança!

X

Descobrir o bagaço dos engenhos
No melaço da cana mais um beijo

Zé Ramalho


Roubar de tua boca este melaço
Tão doce cana em caldo em mel desejo.
No beijo que procuro em cada abraço
Tão melado sentindo cada beijo.

Forjado pela vida em vil bagaço
O traço do prazer no corpo vejo.
O corte da navalha-olhar em aço,
Riscando céus, espaços, relampejo.

Viola ponteando sertaneja
Trazendo desta lua, raio e gozo.
Neste galope louco sempre arqueja

Rebentos do prazer andando nus.
O beijo cristalino e tão gostoso
Com corte de paixão ardendo em cruz.

X


A noite vai passando amargurada
Distante da mulher doce, formosa
Na beleza noturna constelada
Tua imagem divina, maviosa

Na lembrança restando imaculada
Teu perfume emprestado à bela rosa
Reclama, mas não vejo aqui mais nada.
A noite então se faz tempestuosa...

Partiste por caminhos mais secretos
Deixando esse vazio em meus espaços.
Os verdes campos morrem tão desertos

Vasculho pelas ruas, nada vejo.
Procuro minha cura noutros braços.
Matar a minha sede em outro beijo...

X

Em tuas mãos amigas eu me entrego
Não disfarçando nunca este prazer
Que sempre está comigo e nunca nego
De um dia ter a sorte de saber

Que tu és companheira tão dileta
Disposta a repartir tua amizade
Fazendo minha vida mais completa
Trazendo toda a paz, tranqüilidade

Nesses momentos duros, complicados,
Onde tudo parece terminar
Em tristes descaminhos maltratados

Sem ter sequer um tempo de alegria
Que possa, em nossa vida, clarear;
Gerando tanto mal em agonia...

X

Se um beija flor tocar os lábios teus
Não pense que ele errou o seu beijar.
No beijo que te deu, os sonhos meus
Vontade de teu beijo namorar.

Desde que foste embora em triste adeus,
A noite no meu peito sem luar...
Quem dera se eu pudesse ser um deus,
Iria em passarinho transformar

Roubar da boca amada cada beijo,
A flor mais delicada do canteiro.
A dona do meu sonho e meu desejo.

Que vive tão distante e que perdi,
Eu busco o teu amor o tempo inteiro,
Quem dera se eu voasse... Um colibri...

X

No sertão galopando a noite inteira
Voltando para a casa, que alegria!
Rever a minha amada companheira
Que o tempo já passou e deu saudade.


Falando, deste amor sinceridade
Te falo meu amigo de desdita,
Que a vida se parece mais bonita
No colo da mulher que é bem amada.


Poeira acumulada desta estrada
É como vitamina pro meu peito.
Mas vivo, dessa forma, satisfeito


Pois sei que ela me espera na janela.
Estrela que roubei levei pra ela
A vida que sonhei, foi desse jeito!

X

Minha lembrança guarda o teu sorriso,
Serenidade em meio a dissabores.
Roubando uma tristeza, mata as dores
E mostra que viver é mais preciso.


No verde de teus olhos me matizo
E sonho com futuro em outras cores
Recendendo ao jardim repleto em flores.
A sorte que se esvai não manda aviso.

E sinto que te apartas deste sonho
Distância que se aumenta no silêncio...
Coração! Haverá, pois quem convence-o;


Prevendo teu futuro mais tristonho;
Dos erros que cometes tão freqüentes?
Seus sonhos, para sempre, inconseqüentes?

X


A vida nos demonstra tantas chances
De mostrarmos amor a muita gente.
Por mais que te pareça não alcances,
Pequenas coisas fazem tão contente


Aquele que recebe uma atenção
Ou mesmo paciência pra escutar.
Um sorriso, um abraço, uma emoção
Por vezes nos ajudam. Se pensar


Nisso, meu companheiro, tu virás
Como é bom partilhar de uma alegria.
Assim propagarás por certo, a paz.
E viverás a vida em harmonia...


É nas pequenas coisas que sabemos
O bem que ao semelhante nós fazemos...

X

A lágrima mais triste que rolou
Desses meus olhos, velhos sonhadores,
Aquela que num dia te encontrou
A rosa mais bonita dentre as flores

Dizendo que este amor já se findou
Levando ao meu sonhar tantos horrores.
Querida, não pergunte mais quem sou
Meu canto vai morrendo. Os estertores

Daquilo que sonhara ser eterno,
Amor que resistia a tempestades,
A vida se tornou um vero inferno,

Restando tão somente estas saudades
De nosso amor que sempre fora terno,
Lutando pela vida e liberdades!

X

É querida, o amor é mesmo assim
A noite morrerá em outro dia...
E quem pensar que achou amor sem fim,
Tão tolo... Morrerá na fantasia

De que encontrou a boa sorte, enfim...
Quem quiser ser escravo da alegria
Vai ter o meu destino. A dor em mim
Ecoa
refletindo uma agonia...

De tanto que sonhei, nada restou...
Somente uma saudade. O que fazer;
Se eu já nem sei sequer para onde vou?

Eu peço paciência, por favor...
O que eu disse? É melhor já esquecer...
Mesmo com saudade, viva um grande amor!

X


A vida tem histórias tão diversas
Que às vezes nos maltrata sem querer.
Palavras quando soltas vão dispersas
E soltas, sem sentido, por dizer...

Ao lembrar, meu amigo, das conversas
Nas mesas destes bares a beber
Fazemos tolamente mil promessas
Depois de certo tempo? Nem saber...

Por isso já não fio mais no amor
Que a noite traz em meio à festa e som.
O dia amanhecendo a recompor

Esquece o que uma noite prometeu.
Calando o que deveras foi tão bom.
De tudo; o que restou? Ah! Somente eu...

X

Tomado por paixões, meu coração
Exposto ao frio, ao vento, sem sentido..
Vivendo tolamente a sedução
Do sonho que queria repartido.

Cansado de te ouvir somente em não
Meu
peito vai desnudo e decidido
Buscar noutro caminho a solução.
Assim quem sabe alguém me dê ouvido?

Amor veio correndo pro quintal
Depressa qual moleque em desajeito,
Roubou uma esperança do varal,

Soltou a tempestade, meteu medo,
Agora tá se achando no direito
De levar o que resta amanhã cedo..

X

O fogo que queimando me devora
Procura combustível coração
Na chama desse olhar que me decora
Em versos em desejos... Na paixão.

Querendo o teu amor; querida, agora.
Despejo com furor a tentação
Sentindo tal deslumbre que decora
Minha alma de delícia e sedução.

Ditosos os meus dias quando vem
Na força flamejante deste sol
Dourando, incendiando; amor, meu bem...

Flambado em sentimento tão voraz,
Formando em nosso amor, vivo farol,
Somente nos teu fogo encontro paz...

X

Abraço essa morena, meu amor
Com gosto e com desejo persistente
Te quero, moreninha minha flor
Vem logo, o teu amor me faz contente.

Eu quero teu carinho redentor
Beijar a tua boca é mais urgente.
Eu busco o teu amor por onde for,
Não quero mais saber, nenhuma gente.

Lá longe o coração sempre te acena
Chamando para a gente namorar,
Na boca delicada da morena

O gosto do desejo acalentado.
Na fonte, no horizonte ou no luar,
Eu quero amor gostoso e acochado...

X

Meu verso como faca corte e gume,
Vagando pela noite sem limites.
Dos vales mais profundos; ganha o cume
Da dor que não aceita mais palpites.

A flor que pede espinhos sem perfume
Impede que meus olhos; nunca fites.
Um sonho: ser feliz nunca se assume
O risco de viver? Não me limites!

Meus pés são minhas asas, vão libertos
O gosto da discórdia me atraindo.
Tragando os insalubres, vãos desertos

Sou parte do que fora o não ter sido.
As máscaras aos poucos vêm caindo
Na farsa em que imbecil; tenho vivido...

X

Eu peço encarecido à luz solar
Que não desfaça o sonho desta dança
Que sabes muito bem nos faz sonhar
Com gosto e com magia sempre alcança

Os lumes verdadeiros corre o mar
E traz neste seu canto uma esperança
Divina de poder enfim amar,
Com toda uma alegria que não cansa.

Não deixe este poeta solitário
Que vive por teu brilho em seu caminho.
Por mais que o sonho te pareça vário.

No fundo tu bem sabes quanto a quero.
Em teus raios de luz, em teu carinho,
O bem de toda a vida sempre espero...

X

Às vezes não consigo te dizer
O quanto meu amor é importante.
Tu pensas que me esqueço. Pode crer,
Não deixo de pensar um só instante

No enorme amor que sempre quero ter
Vivendo do teu lado, teu amante,
Levando nossa vida com prazer
De um jeito mais sutil e mais constante.

Não pense que por isso não desejo
Eu te amo em verdadeiro sentimento.
E cada vez que venho dar um beijo

Meu coração dispara. Sou feliz
Por ter com toda calma num momento
Amor que já sonhei e sempre quis...

X

Lembrando da menina lá no engenho
Nas festas, nas colheitas, tantas danças...
Meus olhos decorados de esperanças
Deste passado belo; amor, eu venho.

De toda uma certeza que inda tenho
Depois de ter passado mil andanças
A vida promulgando nas mudanças
O corte penetrante, cerrando o cenho.

Velhice vem chegando, sem desgosto,
As marcas do que tive estão aqui
Sulcadas nestas rugas do meu rosto.

São belas e profundas cicatrizes
Trazidas deste tempo em que vivi
Contigo. Tão marcantes, mas felizes...

X

Amiga não se deixe derrotar

Pelos medos da luta e da batalha,

Teus raios são tão fortes, um luar,

Que em mansidão e paz, ao longo espalha.

Em ti tanta certeza de lutar,

Que invejo tua garra que não falha,

Não deixo minha amiga de te amar,

Para isso meu amor sempre trabalha.

Não deixe de saber quanto te quero,

E tanto que confio nos teus braços.

Por mais que o desafio, negro e fero,

Às vezes não concede um só segundo

De paz; eu estarei; estreitos laços,

Contigo nem que seja em outro mundo...

X

Chegaste devagar, bem de mansinho
Já chegou ocupando o pensamento
Tomando para si o sentimento,
Com palavras gentis, tanto carinho...

Na boca que beijamos verde vinho
Sorvendo em cada gota avivamento
Que refazendo a vida num momento
Abriu uma esperança: novo ninho...

O som do teu silêncio se espalhando
Por toda a minha casa-coração.
Quando vi... Reparei; estava amando

A mando do que fala-se tão quieto;
Na voz tão delicada da emoção
Tomando minha vida, por completo..

X

Pareces que enfeitiças quando danças

Me sinto assim cativo e seduzido,

Em cada gesto mais mil esperanças,

Sonhando, inebriado, estou perdido...

Meus olhos eu bem sei que não alcanças

Mas mesmo assim te espero em vão; vencido

Pela tua magia em belas tranças

Largadas sobre os ombros. Iludido

Não paro de pensar na dançarina

Que quase me tocando, me feriu

Na pele amorenada da menina

Adivinho um sorriso encantador,

Um sonho do passado, de vinil,

Tocando uma balada, traz amor...

X

Sentindo no meu peito esta pressão
Que é misto de prazer e de tortura,
Aos poucos me sufoca essa opressão
Numa ansiedade crua que me cura.

Nos montes do desejo, o relicário
De amores que se foram sem ter nexo,
Meu rio procurando um estuário
Encontra sua foz em nosso sexo.

E sinto estes rochedos perfumosos
Nos seios que acarinho e me transtornam,
Os rios caudalosos e fogosos
Assoreadamente já se entornam...

E deito-me depois em manso solo,
Adormecido, imerso no teu colo...

X

Senhora dos meus sonhos tão incertos
A redentora amiga e companheira
Entorna dentro da alma a voz primeira
Que sela meu destino. Nos incertos


Caminhos que me tocam; meus desertos
É sempre a luz que guia, verdadeira.
Carrego desfraldada esta bandeira
Bendita nos meus olhos entreabertos.

Salvando um coração que fora frio
Imerso na tristeza e sem destino,
Fazendo de meu sonho de menino


Um mar. E quem viera tão vazio
Agora com verdades mais sinceras,
Amiga; se preparam novas eras.

X


Essa menina vai levando
Nos corações
Na onda azul
Nos carnavais
À flor da pele

Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

Todos os corações vão te seguindo
Menina; à flor da pele, me enlouqueces.
Estrelas vão contigo competindo
Nem mesmo aos meus instintos obedeces;

A lua no teu corpo vai surgindo
Trazendo uma alegria de quermesses,
No bloco da paixão nem o sol lindo
Consegue demover-te, perco as preces...

Mil ondas galopando lá no mar,
Na praia nordestina carnaval.
Eu verso meu amor a te encontrar

Mas nada do que pude te interessa.
Ondeia meu amor, canavial.
Que faço? Só te sigo, vamos nessa...

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