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Saturday, December 22, 2007

SONETOS 071 E 072

Sou eu a quem amor não quer que conte
O conto que demonstra amor mais fácil
Do mundo que buscava no horizonte
A paz se demonstrando bem mais grácil
Vivendo da procura desta fonte
Que faz amor verter rei em palácio

Distante
de meus sonhos, noutras plagas;
Desfraldam tantas nuvens, céus, bandeiras..
Os mares se entornando em tantas vagas
A lua derrubando cordilheiras,
Amor que te pretendo não traz chagas
Nem dores e nem flores mais rasteiras.

Eu quero nosso amor em amplidão,
Tomando em força e luz, constelação...

X

Preciso de um amor que me oriente
Que seja companheiro e mais ousado,
Vulcão que me devora de tão quente,
Trazendo o meu futuro iluminado,
Bafejo no meu quarto, incandescente
No fogo que domina, apaixonado...

Nas lavas desejosas que corriam
Inclemente calor qual de deserto,
Nas areias das praias revolviam,
Na afinação mais plena de um concerto,
E mil prazeres na cama te estendiam,
No teu arfar que sinto aqui bem perto,

Amor que em nossa cama qual tufão,
É feito de desejo e tentação!

X

Os corpos que se tocam neste rito,
Abrindo uma ilusão, abaixam véus,
Teus seios me levando ao infinito,
Nos sonhos mais divinos, nossos céus,
Deitados sobre o chão, frio granito,
Altares, nossos sonhos, teus e meus...

Teu corpo reluzente e nu rebrilha,
Trazendo para o quarto mil fulgores
Na soma de nós dois, mesma partilha,
Do amor somos fiéis, bons servidores...
Meus passos e teus passos, nesta trilha,
Não há sequer cativos nem senhores...

Distante, bem distante a solidão,
Vislumbra, o nosso amor, adoração...

X

Um canto que proponho, o da amizade
Se faz tão necessário ou mais distinto,
Roçando todo o bem de uma verdade,
Na cara deste povo mais faminto,
Embriagando logo ansiedade
No gosto da cachaça e dum absinto.

Me tinto de luares pra te ver,
Me pinto de vergonhas pra sonhar,
Sabendo que no fundo, cada ser,
Merece ter seu dia de luar,
Nos braços deste amor irei morrer,
Nos braços deste sonho a me guiar...

Na força que me leva ao desatino,
O mundo delicado do menino...

X

Com sua voz amiga, suave e franca
Me dizes o bom dia que eu sonhara.
A noite que passara toda branca
Perfeita sensação divina e cara,
Que a vida que queremos nunca estanca
O rio de desejo em que se ampara.

Aberta a tua porta, escancarada,
Deixando cada rastro bem marcado,
A rosa que plantamos, encarnada,
No olhar que me deixaste,apaixonado.
Depois de tanto quase tive nada
O resto, no teu peito preservado.

No quanto que queria me perdi,
O bem que sempre quis, estava em ti...

X

No céu azul pintado na janela
Verdejo uma esperança resplendente.
Estrela quem me deu, amor, foi ela,
No sonho de viver, uma aguardente.
A rosa que plantamos, amarela,
A faca que travamos, cada dente...

Brilhar no teu remanso, rio e mar,
Arcar com cada parte desta conta.
O manto que cobriu-nos fez amar,
O mar que no teu peito já desponta.
Tão longe da verdade do sonhar,
Mentira quando muita, desaponta...

Recordo cada dia que vivemos,
Por certo amor jamais esqueceremos...

X

Descendo nas ladeiras da cidade,
Em meio aos casarios mais antigos.
O gosto benfazejo da saudade,
Passando pelas ruas e postigos,
Vivendo nosso amor em liberdade,
Os pesadelos mortos, sem perigos...

Atrás da porta aberta, escancarada
Encontro esta donzela que partiu
Em busca da roseira amargurada
Com gosto de vergonha em ser gentil,
Restando tão somente um quase nada
Daquilo que se fora mais sutil.

As nuvens que se formam em tormentas,
Traziam minhas tardes quentes, lentas...

X

Se viver é amar, armar proponho
Meu barco no teu cais ser ancorado,
Regado nosso canto em mel e sonho,
Vibrando em cada encanto desejado.
Não deixe que um refrão tão enfadonho
Desfaça nosso sonho em outro fado.

Se faço dessa lua minha guia,
Se caço teu olhar estrelas soltas,
Minando todo o som da sinfonia
Dos mares em mil ondas tão revoltas,
O fato é que te quero todo dia,
Na chave coração deu duas voltas

Fechou mas logo abriu sua porteira,
A lua que chegou, é verdadeira...

X

Se a terra não produz ainda as flores
Que um velho jardineiro imaginou
Cevando com ternura mil amores,
Nos jardins e canteiros que plantou,
Mas mesmo assim irei por onde fores
A cor destes teus olhos me guiou...

Amiga quando aramos esperanças
As horas são mais mansas e tranqüilas,
Porém quando negadas novas danças
As carnes se apodrecem, velhas vilas,
Os mares navegados nas lembranças
Espalham suas ondas se destilas

O canto mais preciso que persigo.
Insisto em te dizer: sou teu amigo...

X

Na imensidão do céu, voando uma ave
Liberta das misérias deste mundo...
No coração reflito branca nave
Na qual sem perceber vou mais profundo,
Soltando essas amarras, sem entrave
Circulo a liberdade num segundo...

Expando cada verso, em fogo, em facho,
Na luz que recebi dos olhos teus....
Ao ver uma ave livre, aqui de baixo,
Espero que jamais ouça um adeus
De quem amo demais e que não acho
Cansados nesta busca, os olhos meus...

Amada, por favor, volte pra casa,
Que a lua sem te ter, decerto atrasa...

X

Amizade tempera nossa vida
Salgada pela dor de uma distância
Trazendo em cada verso a despedida,
Formada por injusta discrepância
Que faz do diferente voz unida
No passo sem sentido, uma elegância...

Aflitas esperanças de mudança
Deixadas já faz tempo numa estante
Vivendo mais conforme cada dança
Acende cada luz em todo instante
E faz da diferença uma aliança
Defesas que se criam num rompante.

Viemos de lugares bem distintos,
Cachaças misturadas com absintos...

X

Mineiras esperanças bem que quis
Na espera sem ter tréguas nem cansaço.
O gesto da morena mais feliz
No gosto que se acena no seu braço.
Querendo ser da vida um aprendiz
Uma beleza rara pega a laço.

Espera tão feliz, mata mineira,
Valendo a pena ser tão insistente.
Descendo pelo Vale em cachoeira
No Paraíso
o verso mais contente.
Lerdeza de sonhar a vida inteira,
O mundo fica belo, de repente....

Espera Feliz, nunca mais só,
Morena que sonhei, Caparaó.
..

X

Passando no sertão, o sol a pino,
Calor irresistível, sufocante.
A dor da solidão traça o destino
Daquele que sonhou com este instante
Dos tempos esquecidos de menino,
Ninando um sonho leve e aconchegante...

Espero minha força pra dançar
A dança deste amor febre ligeira,
Neste aguaceiro imenso a me tomar,
A paz que procurava, derradeira.
Vestido deste sol a me abrasar,
Aguardo a cada dia a companheira

Que sei que surgirá logo que veja
A lua da esperança, sertaneja...

X

Quero peixe, mar, rede e pescaria
Na colheita divina da amizade.
Plantando meu amor a cada dia,
Granando com certeza a liberdade,
Frutificar meu canto de alegria,
Acreditando sempre na verdade.

Vestir minha esperança, renda e seda,
No linho verdejante de meu sonho,
Andar amor embrenho na vereda
Do mundo que pretendo, mais risonho,
Fazendo do meu canto uma alameda,
É tudo o que mais quero e te proponho...

Bordando em utopia nova fonte...
Forjando novo mundo, no horizonte

X

No ritual divino de te amar,
Tão rotineiro fato me entretém,
É como o bem da vida comungar,
Sabendo que depois a sorte vem
Montada no cavalo a galopar
Nos ápices que só quem ama tem.

Mascaro minha dor com teu sorriso,
Bendigo cada vez que te aproximas,
Saber do teu amor que é tão preciso,
Afaga nos meus versos, todas rimas,
Nos olhos que me beijam, me matizo,
Belezas que são raras obras primas...

Eu amo tua voz ardente e doce,
Como se de uma deusa, assim o fosse...

X

Deixaste uma saudade tão bonita
Que muitas vezes lembro por querer,
Quem sabe se outra dose se repita
E venhas como um raio de prazer
Trazendo teu olhar, tua pepita
Que faz a minha sorte renascer...

Anos passaram, tantos que nem sei,
Só sinto que te quero, amor demais.
Nesta saudade doce eu mergulhei.
Não te esqueci, meu bem, enfim, jamais...
Amar como ninguém, por certo amei,
A porta deste amor não fechei mais..

Nas cores deste sonho me decoro,
E posso enfim, dizer; amor te adoro!

X

Viemos dos botecos, aguardentes
Tomando nosso sangue, nossas veias,
Dos olhos transbordados, dúbios; quentes.
Das luas cobertores, novas, cheias...
Dos vagos pensamentos, onde mentes;
Ilusões em que bebes e recheias

As horas que passamos nas calçadas,
Viver já nos parece um privilégio.
As costas pelas garras bem marcadas,
Os sonhos que se foram, sortilégio
Da sorte sem sentido. Mãos atadas
Unidas desde o tempo de colégio...

Somos dois amigos, companheiros...
Unidos por sangrias e puteiros.

X

Celebrando teu nome com meus versos

Pedindo o teu desejo em meus anseios.

Vagando por centenas de universos

Depois de tudo deito-me em teus seios...

Nossos sentidos que antes bem dispersos

Se encontram, se misturam sem receios.

Viemos de outros mundos tão diversos

Agora nos unimos. Os esteios

Que formam nossa base em tanto amor;

São os meios que usamos sem temor

Nas lutas contra a dor e a solidão,

Deitado nos teus braços; manso, rio.

Deságuo no teu mar, braças do rio

E vivo tão feliz nossa emoção...

X

Querida, é com total felicidade
Que falo deste dia mais feliz.
Trazendo em tua vida, claridade,
Tu és o que sonhei e bem mais quis.
Viver contigo é bom, isso é verdade,
Assim minha alma fala e o peito diz.

Não quero te falar do amor imenso
Que sinto e tu bem sabes que isto é vero,
Nem falo de que sempre em ti eu penso,
Nem tanto quanto amor sempre te espero,
Amor que trago em mim, por ser extenso
Bem sabe que o passado me foi fero...

Por isso e muito mais, no amor que tens,
Feliz aniversário. Parabéns!

X

Meu coração varado por Cupido,
Em flechas tão certeiras quanto audazes.
Agora meu amor, o que decido,
Se falo em sentimentos mais falazes
O que pensara estar mais decidido,
Se perde no caminho num four de ases...

Cupido, esse moleque bem traquinas,
Tomou meu velho peito num assalto,
Já nem sabia mais; pernas, meninas,
Agora vem tropeço no ressalto,
A que será portanto que destinas
Ó deus! Um coração em sobressalto

Te
pede, por favor, não faças isso,
Não quero mais saber de compromisso...

X


A solidão não é nenhum troféu
Que deva ser exposto em galeria.
É raio que riscando o negro céu
Impede novo sonho de alegria.

Amando e transformando fel em mel,
Vencendo a solidão com galhardia,
Deixando bem distante esta cruel
Quimera que nos banha em agonia...

Nas névoas desta tarde solitária,
Em meio a tantas dores incontestes.
A vida se mostrando assim, contrária,

Espero que este caos seja finito,
Vestindo deste amor, contente, as vestes,
Futuro grandioso, enfim, eu fito...

X

Meu canto em liberdade, sem valor,
Não deve incomodar mais a ninguém,
Não sou mais do que simples trovador
Que gosta de cantar, de querer bem.
Não faço de meu verso um sedutor,
Pois sei má qualidade que ele tem.

Apenas vou tentando ser feliz
Da forma que mais quero e mais desejo,
Brincando da maneira que se quis
Um velho sonhador que não tem pejo
De em público mostrar a cicatriz
E mesmo assim sorrir. Por isso vejo

Com pena se meu canto te incomoda,
Desculpe se ele está fora de moda...

X

Contemplando-te esqueço de querer
A mim mesmo me perdendo em tal beleza
Que faz todo o sentido se perder
Nos braços de quem fora, com certeza
Aquela que deu gosto ao meu viver
Matando qualquer fonte de tristeza..


Não tenho mais palavras, minha amada
Tu és tudo o que quis sempre na vida.
Ao sentir os teus passos nesta escada
Percebo que esta sorte resolvida
Dará numa manhã, nova alvorada
Depois da noite imersa, e sem saída...

A nau que no teu corpo encontra o mar,
Agora pode, livre, navegar...

X

As horas se passando sem proveito,
As víboras mordendo um imbecil;
Um verme que ambulando no meu leito,
Vai se mostrando ignaro, o ser tão vil.
Mostrando estupidez, nisto é perfeito,
Não sabe ser tampouco mais gentil...

Os dias se decorrem de outros dias,
Eterno carrossel do meu destino,
Deitando quase perco as fantasias
Mas sigo em meu porvir sendo o menino
Que sempre transbordava em alegrias,
Trazendo uma esperança quase a pino.

De ter amor sincero e mais feliz,
Curando do que fora, cicatriz...

X

Vejo os meus dias todos por fazer;
As vagas emoções findam distantes.
Vasculho cada parte do meu ser
E não resisto às dores terebrantes
Das chagas que carrego sem saber
O que pudera ver por uns instantes...

Vazio, sigo inerte, passos lentos,
Buscando a solução em cada prado
Estás comigo, amor; nos pensamentos,
Às vezes eu te encontro aqui do lado,
Mas passas como um raio, sentimentos
Qual fossem um remendo desbotado...

Inútil sensação que me restou,
Do gosto saboroso que passou...

X


Eu peço tua ajuda, minha amada,
Suavize esta mão que pesa tanto.
De várias cicatrizes, tão marcada,
Que sei, se olhares bem trará espanto.

Quem sabe em teu carinho amaciada,
Consiga te trazer algum encanto.
Não trago flores, risos...trago o nada.
Remendos de magias e quebranto.

Não fira nosso amor, pois ferirás
Não a mim, calejado pela vida.
No corte tão profundo que farás

Trarás somente o resto que perdi.
Porém na pele frágil, m’a querida
Tu ferirás somente mesmo a ti...

X

Passo pela alameda dos meus sonhos,
Ouvindo sabiás e curiós...
Quem teve tantos dias mais tristonhos
Saindo de um passado tão atroz
Sabe dos caminhos mais risonhos,
Do mundo que criou, feliz, após...

Silêncio a traduzir a paz querida,
O vento passa lento pelos galhos,
De tanto que encontrei em minha vida
Projetos que encetei morreram falhos.
Nesta alameda encontro uma saída,
Juntando o coração, tantos retalhos...

Amiga, esta alameda, na verdade,
Demonstra como é bom ter amizade...

X

Sossego, só sossego é que te peço,
Não posso suportar tuas vontades,
Se às vezes os meus erros não confesso
Preciso p’ra viver, tranqüilidade.
Palavras, com cuidado, sei que meço,
Cansado de só ter ansiedade...

Preciso desta paz que não me dás,
Preciso da certeza de um espaço
Que em nome de um amor não tenho mais.
Desfilo pela casa meu cansaço
Que a boca que me beija, morde e traz.
Não vou mais suportar este teu laço,

A corda que me prende, não suporto,
Meu barco irá buscar um novo porto...

X


Vieste com sorriso tão maroto,
Espinhos arranharam tua pele.
Amor fantasiado em um garoto
Trazendo um novo sonho em que se atrele.
Qual fora uma donzela em cerne roto
Que num momento lúdico revele

Prazer de quem comeu e bem gostou,
As marcas do desejo estão no rosto,
Da flor que neste sonho se entregou.
O seio delicado e semi exposto
Guardado cada beijo que o tocou...
Num átimo teu gozo sobreposto

Escorre em tuas pernas, sangue e brilho...
Quem sabe o velho boto em novo filho?

X

Se tudo de repente é oco e frágil,
Se todo o grande amor morre sozinho,
Não quero minha vida como um plágio,
Preciso desabar do velho ninho.
Amor se verdadeiro, sem pedágio,
Num ágil movimento quer carinho.

Me deixo, assim, levar por mais um tempo
De tal arte que trague uma esperança.
Acima de um terrível contratempo
Que impeça novo dia em nova dança.
Amar não é deveras, passatempo
É força que nos alça quando alcança.

Por isso quero amor, eternidade,
Que tenha como base uma amizade!

X

A minha inatenção por tantas vezes
Causou-te a sensação de ingratidão.
Depois de tantas dores e revezes
Meu barco se perdeu de direção.
O tempo solitário, dias, meses,
No fundo o que me resta é o coração...

Eu me lembro do dia em que perdi
O rumo nesta estrada tão complexa.
Estava tão distante que nem vi
A tua imagem bela, em mim, reflexa.
Agora que percebo estás aqui.
A minha vida corre desconexa...

Neste quarto silente nada vejo
Senão a mão em preces, em desejo...

X

Se neste chão incerto se fez luz

Porque não poderíamos sonhar?

Um mar de vaga-lumes reproduz

Toda a beleza rara do luar?

Amiga um canto raro nos conduz

À força e a vontade de lutar.



A luz que bruxuleia a da esperança

Ao fim do grande túnel da existência

Mostra-nos que em perfeita e calma dança

Talvez venha esse resto de clemência.

Por isso é necessária uma aliança

Untada com perfeita paciência...



Assim é bem possível realidade

Erguida em firmes bases, da amizade...

X

Passando pela estrada vi roseira
Imensa e tão florida no jardim,
Depois de procurar a vida inteira,
Roseira tão bonita e rara assim,
Descobri que a rosa derradeira
Nascera há tanto tempo dentro em mim...

Ao falar da beleza destas flores,
Percebo como Deus foi delicado
Trazendo para a terra seus olores,
Tornando um coração extasiado,
Assim também já fez com meus amores,
Por isso estou por ti, apaixonado...

Falando dessas flores vejo a vida,
Tão perfumada e rara em ti, querida...

X

Coração aboiado em sofrimento
Procura
uma invernada em esperança.
Cansado de entornar tanto lamento,
Espera que esta noite venha mansa
Carpindo toda dor nesse momento,
Os braços da mulher que eu amo, alcança...

Coragem pra poder dizer do amor
Que foi a perdição deste meu peito.
Um boiadeiro em canto sofredor,
Espera seu amor que é um direito
De quem espalha a vida em destemor
E
vive tanto tempo insatisfeito...

Eu quero o teu olhar de pão de mel,
Estrela radiosa do meu céu...

X

A cruz abandonada no caminho,
Traduz a sorte; morte sem perdão.
Quem passa e nem percebe, vai sozinho,
Riscando pelas trilhas, novo chão.

Mal sabe que viveu, nesse sertão,
A dona dos meus olhos, meu carinho,
Razão de vida, pobre coração.
Que teima , vai batendo, passarinho...

Essa cruz foi fincada por alguém,
Que nunca poderia imaginar;
Que ela também fora meu triste bem.

Mas, meu Deus, nunca posso revelar,
Nem a Ti, nem sequer mais a ninguém,
Esse amor consagrado no luar...

X

Tomado pela paz que tanto quis
Fazendo da amizade minha sina,
Vivendo sem guardar a cicatriz
Que corta enquanto queima e me alucina.
Quem sabe poderei ser mais feliz
Sorvendo tua luz mais cristalina?

Na guerra que é prenúncio desta paz,
Eu quase que perdi as ilusões...
De tudo o que sonhei ser mais capaz,
As horas se perdendo nos senões,
O mundo que proponho satisfaz
O todo que traduz revoluções.

Eu quero o teu caminho mais sutil,
Na paz que nos demonstra mais gentil...

X

Teu corpo desejável, belo cálice
Inebriante vinho da esperança,
Por mais distante que este sonho espalhe-se,
Uma avidez intensa sempre alcança.

Tua bela nudez sempre contemplo
Imaginando em sonhos, tal altar
Dourado em mavioso e raro templo,
Exposto aos raios alvos do luar...

Quem dera se pudesse eu, abarcá-lo,
Transcendo uma ilusão, que sei profética,
Em ti, divinamente, sinto, calo...
Uma emoção suprema, enfim poética...

Eu quero simplesmente ao adorar-te
Sentir tua presença em qualquer parte...

X

A morte chega cedo a quem não ama
E mente pra si mesmo, temerário.
Deitado no curral, exposto à lama,
Vivendo o que temera, sem horário.
A sorte solitária não reclama,
No peito que morreu, um relicário.

Ao visto necessário para o riso,
Amor como um sentido além da vida,
Por mais que num amor se perca o siso
É nele que se encontra essa saída
Aberta para eterno paraíso,
Numa escalada mágica e sentida.

Morrer em vida assim é mau presságio,
Cuide então desse amor, embora frágil..

X

.

Na estrela matutina, a noite escorre
Seu último estertor, mal raia o sol.
Amor que em nascedouro, cedo morre,
Transformando em tristezas o arrebol
O tempo soluçante, já não corre,
A vida vai perdendo o seu farol...

Toda a alegria foge e já se esfuma,
Distante desbotando, suas cores,
Uma onda no meu mar, na praia escuma,
Morrendo em fria areia em estertores,
A sorte solta ao vento, leve pluma
Levando para longe os meus amores.

Ah! Como fui feliz e não sabia...
Agora só me resta a estrela fria...

X

Bordar a minha vida em tua vida,
Atando cada laço em forte linha.
Tua palavra amiga que decida
O rumo em que destino nos alinha.
No dia a dia, sempre foste minha,
Agora a nossa sorte decidida

Nos braços deste amor sem fantasia,
Nos olhos de quem sabe o que se quer,
Formando o novo canto em alegria,
Para sempre serás minha mulher,
Guerreira, companheira em sintonia...
Estou contigo venha o que vier...

Na cama, seda, renda e bom veludo,
Aos poucos, tanto amor pr’a mim é tudo...

X

Ao me arrastar qual louco, te agarrei

E te levei comigo, dei afeto,

As costas já desnudas arranhei

Vibrando no teu corpo; fui completo...

E nada do que somos duvidei,

Não permiti nem medos, nenhum veto,

Imerso neste mar eu embarquei

Pelo teu corpo nu, fui recoberto...

E fomos noite afora, sem paragens,

Dois viajantes cegos sem limites,

Fazendo nos sentidos, as viagens

Que partem sem temor ao infinito.

Não te contenhas, solte-se assim... Grites...

O nosso amor profano, enfim, bendito...

X

Chamaste-me: teu filho, solidão...
E voluntariamente me entreguei
Sem ter ao menos rumo em precisão,
Os olhos em teus braços, eu salguei.
No barco que emprestei, meu coração,
Por mares tão distantes, naveguei...

Despido do que fora uma esperança
Vivendo em velas soltas, incertezas.
Achando que encontrara uma bonança
Nos braços de quem dera... sutilezas
Da sorte que, longínqua não se alcança;
Povoa minha vida de tristezas...

Eu necessito ao menos respirar,
Quem sabe uma amizade em seu lugar?

X

Se te pareço estranho, amor; talvez
Sejam meus olhos tristes e cansados.
Perdendo todo o foco a cada vez
Que são pelos teus olhos contemplados.

Tua beleza intensa.... Perco a rota
E nem sei mais se rumo irei rever.
A flor que enfim plantamos nunca brota
E o tempo vai passando a se perder.

Pouso um carinho nos teus lábios,
E quase me convences com palavras
Que os dias que se foram, sendo sábios,

Correram bem melhor para estas lavras.
Só sei que te encontrei, alma certeira,
Na vez mais insensata e derradeira...

X

Sílfide de raríssima beleza,
Despida à luz da lua, plena intensa,
Dispersos pensamentos da princesa
Que vive na mulher que em mim não pensa...

Distante dos meus olhos, com certeza,
Espera um outro alguém por recompensa.
Minha alma se sentindo sem defesa
Perdendo toda a fé se esvai sem crença.

Brincando com as conchas na alva areia
Num quadro genial que me apavora,
Sereia que se entrega à lua cheia

Negando-me um sorriso, sem ter dó,
Nas conchas multicores se decora,
E deixa um coração batendo só...

X

Na apoteose imensa da amizade
Que em versos transfiguro em manso cais.
No rosto bem marcado da saudade,
A vida em novo mundo mostra mais
Que apenas o meu canto em liberdade,
Amor em amizade é ser demais.

Além de qualquer porto de partida,
Além de qualquer ponto de chegada,
Ancoradouro raro em nossa vida,
A sensação tão plena e bem marcada
Da sorte que se mostra resolvida.
Nas hostes da alegria anunciada...

A perfeição divina está contigo,
Quando tu és por certo, um bom amigo...

X

Os meus medos rolando escada abaixo;
Deixando o apartamento mais em paz.
Da luz que me queimava nem um facho
Respiro aliviado e mais audaz.
Com riso sorrateiro, quase escracho,
Tu olhas para mim, bem mais voraz...

Esqueça aquela música distante,
Falências e vergonhas... não, não mais..
A vida se tornando num instante
Um barco que assegura bem seu cais,
Teu riso tão mesquinho e triunfante
De quem sempre me soube até demais...

Agora que não temo mais o dia,
Talvez amor renasça em sintonia...

X


Sou um rascunho feito alegoria
Bordado nos teares da paixão.
Acumulando dores, agonia,
Espreito numa curva, a solução

Borradas minhas cores, sem valia,
Meus sonhos esquecidos sem perdão.
Carpindo o que restou da fantasia
Cuspindo mil certezas, sou o não.

Se fiz o meu destino em aquarela,
Rabisco cada parte desta vida
Com gotas derretidas de uma vela.

Das formas que me mostra a parafina
Vislumbro o teu retrato, enfim, querida.
Na sorte que se empresta e me domina..

X

.

Talhada a faca e fogo, minha sorte,
No pôr de uma esperança sob o sol.
O medo se transforma quase em morte
Secando
o que se fora um girassol.

Profunda cicatriz valora o corte,
Na boca resta a marca deste anzol
Felicidade ao largo que me aporte
O brilho defensivo de um farol...

Quem quis ser mais além da plenitude
Agüenta; agora, a vida em dispepsia.
As marcas das paixões da juventude

Colheitas mais ferozes e mordazes.
Restando a solução da fantasia,
Dos beijos que se foram nada fazes...

X


Correndo no quintal em laranjeiras
Mal
sabe que desenha uma obra rara.
O tempo lhe trará outras bandeiras
Aos poucos solidão se mostra cara.

Estas montanhas tão distantes beiras
No fundo do que quis e que sonhara.
São sombras definidas, verdadeiras
Do tempo em que feliz, nunca pensara...

Mulheres, filhos ruas e botecos,
O paletó reflete o desamor.
As laranjeiras morrem sem ter ecos,

O gosto do azedume, verde fruta,
Reforça um paladar tão sedutor.
O amor se transformou em morte astuta...

X


Surgidos do vazio do abandono,
Meus versos te propõem uma amizade
Embora tanto tempo imerso em sono,
Pela janela entrou a claridade

Da lua que se fez sem saber dono,
Do vento que bateu ansiedade.
Não primo por querer, da vida, abono
Nem quero com o raro, paridade...

Não verás aqui nada de novo,
Apenas um vitral esfumaçado.
Do nada de onde vim, não me renovo.

Sou antes, sem depois, venho de outrora,
Mas sei amiga, sempre do teu lado,
Quem sabe eu renascesse numa aurora?

X

Amar é descobrir, criar o belo,
Fazer da simples fonte, mar imenso.
Assim como te vejo e te revelo
Além do que tu és, eu sempre penso.

O meu futuro em ti, pra sempre selo
Do jeito e do formato mais intenso
Meu sonho nos teus passos; quando atrelo,
Certezas de que assim me recompenso.

Tu és o que tu és e nada mais,
Não vejo desta forma, és muito além...
Hiperbolicamente; amor demais

Te torna divinal, embora humana,
Na força que transforma todo o bem
Tu és dentre as mulheres, soberana!

X

Não posso perceber quanta vitória
No gozo deste amor que sempre quis.
Se nessa amarga vida fui feliz
O gosto da delícia na memória.

Vencido pelo amor em plena glória
Não deixo meu caminho e peço bis
Recebo do teu céu lindo matiz
E mudo, num segundo minha história...

Bem sei que sempre sofres por enganos.
Teu coração permita novos planos,
Quem sabe encontrarás quem sempre quis.

Nos castelos sem fadas nem princesa
A vida se transcorre em tal leveza
Que sempre sonho ser mais feliz...

X

Não quero que me tragas a rainha
Exposta na nudez de uma derrota,
Desponta na certeza toda minha,
A vida que se fez além da cota.
Não posso permitir que assim sozinha,
A noite traga a festa tão remota...

Meu verso vai buscando o teu cuidado,
Amiga, não me deixes mais partir
O sonho de viver sempre ao teu lado,
Aos poucos sem certeza a redimir,
Vai logo, se esparzindo abandonado,
Não deixa nem sequer amor fluir...

Cuidando do que fora mais querido,
Amiga, meu caminho decidido..

X

Talvez simples tolice cada verso
Que faço qual um tolo trovador,
Soltando minha voz pelo universo
Bem sei que vou sozinho em minha dor.

O quadro que pintei está diverso
Daquilo que sonhei, mau cantador,
O resto do que sou anda disperso,
Na busca sem limites por amor.

Não vejo mais saída, mato o rio,
Porém já não suporto mais algemas,
Prefiro prosseguir, mesmo vazio,

A ter que suportar doridos tédios,
Teus olhos, eu os quero como emblemas,
Últimos estertores, meus remédios...

X

O que trago em meu peito é tão banal
Faz parte deste sonho que não tive,
De um mundo mais preciso e natural
Formado pela luz que se revive
Distante da incerteza; ou bem ou mal,
Maniqueísmo estúpido que vive

Em cada situação mal resolvida.
Nos olhos deste velho feiticeiro;
Amor, que se embargando, nega a vida.
No pranto que se fez som derradeiro
De toda esta esperança em despedida...

O que trago no peito, cessa abrigo
E vive te espreitando, vento amigo...

X

No tropel destas lutas não vencidas
Contra o que se fora mais concreto.
Depois de preparar as despedidas,
O mar que tanto quis morreu em feto.

Não posso desgrudar de tais saídas
Que mostram o caminho mais direto
Embalde misturadas nossas vidas,
Se fazem como um canto mais dileto.

Sou esmo vou em vão, não tenho nada
Senão este cansaço tão antigo.
O verbo a se compor na madrugada

Se mostra como um ermo adormecido,
Prevendo os estertores, vou contigo,
Mostrando-me mais forte, mas vencido...

X

As crianças dormidas como o pão
Jogados pelo esgoto da cidade,
Bebendo da tortura em podridão,
Vasculham cada resto da amizade

Que brote de algum louco coração
Distante deste mundo, da verdade.
Mistura de temor e compaixão,
Negando para outrem saciedade.

A sociedade passa e fecha o cenho,
Vergonhas espalhadas pelas ruas.
No fundo até demonstra algum empenho

Matando ou destruindo esta paisagem.
Escondam suas almas, que estão nuas
Diante deste quadro sem bandagem....

X

Um anjo na minguante, asas cortadas
Sangrantes pelas ruas da cidade.
As hordas que seguia, destroçadas,
Não resta dos bons tempos, nem saudade.

Andróginas figuras desabadas,
Vencidos, bem distante da verdade.
As sombras escondidas, amputadas
As asas de quem quis felicidade...

No oco deste rincão que não vigora,
Traz seca uma esperança como guia.
Vestido do que fora não sei hora

Da volta deste sonho que amputei.
Talvez uma visagem mais tardia,
Ressuscitará o anjo que matei..

X

Meu coração que fora qual mutante
Vestindo toda veste que aprazia,
Recebe tua imagem deslumbrante
E veste-se de gala em alegria.

Me deste teu futuro neste instante
Sou teu e nisso mostro quanto havia
Do todo que se fez mais importante
Que tudo que sonhei em certo dia.

Minha alma em turbilhão se aquece em ti,
Verdeja meu sorriso, inunda a face.
Do medo em borbotões que já verti

Não resta nem sequer sombra e pedaço.
Eu temo a sensação de que isto passe,
No esgotamento claro, no cansaço...

X

Todos os dias canto o bem do amor,
E nada impedirá que seja assim.
Regando com cuidado cada flor,
Terei ao fim da tarde o meu jardim,
Com cheiro de alegria a meu dispor
Perfume que roubei, cada jasmim...

Em mim o vento forte da bonança
Na boca que por certo, enfim, virá.
O tempo de incertezas quando avança
No vento da tristeza fica lá
Distante do que sonho ser a dança
Que em cada novo olhar, já brilhará...

O bem do amor imenso que te trago,
Garante a fantasia deste afago...

X

Nova noite caindo desolada
A tua sombra chega, dolorida
A sorte de meus olhos, isolada,
Na friagem da noite, tão sentida,
Restando tão somente um quase nada
Do amor que me deixou, em despedida...

Partindo por distantes, outras plagas,
Em mares, em falésias, penedias...
As horas se passando, toscas, vagas...
Morrendo o sentimento em agonias.
O vento tão terrível, duras pragas
A morte se mostrando em ventanias...

Só resta disto tudo, uma ilusão,
Envolta nos teus braços, compaixão...

X

No céu de nosso amor, imensa glória,
Calando toda a dor da tempestade,
Guardando uma alegria na memória
Que vem da minha infância, tenra idade.
Refaço, nos teus braços, minha história
Andando em liberdade, na cidade...

Tristeza, do teu lado, cedo some,
Renasce uma esperança a cada dia,
O tempo, como ao bronze, me consome,
Porém nem a saudade tripudia,
Amando, cada vez sei mais teu nome,
Sinônimo fiel de uma alegria...

Teu passo, nem areia apagará
Na eternidade, sempre brilhará....

X

Andando por caminhos mais desertos,
Meus olhos tão cansados nem olhavam,
Dos passos que seguiam; bem incertos,
Romeiros da esperança nem paravam.
Dos medos que são sonhos descobertos,
Nem mesmo um só segundo; perguntavam

Por onde caminhavam mais fagueiras
Além de todo a serra, monte e prado,
As brisas que bem sei são forasteiras,
Passando pelo amor, monte elevado
Nas selvas de carvalhos e palmeiras,
O céu que não querias estrelado...

Falavas deste canto em amizade,
Resíduo que matou felicidade...

X

Amar como quem sabe que perdeu
Intimidade louca com estrelas,
Rateio uma esperança, morro ateu
E vivo sem querer poder revê-las.
Estrelas que sabiam quanto o breu
Ajudaria sempre percebê-las...

Habito a noite vã, o frio amigo,
A lua cortesã, o resto é gelo;
Se caço o que queria, não consigo
Nem sombra deste amor, quiçá revê-lo.
Na busca desta estrela, assim prossigo.
Coração; como faço p’ra contê-lo?

Amar além. Somente o que proponho,
Estrela a pontuar, com brilho, o sonho...

X


Procuro tua imagem nesta casa,
Guardando as proporções, foi meu altar.
A chave que esqueci, já não se casa
Com lua nem com céu, tampouco mar.
Do fogo que restou e não me abrasa,
O quanto que tentei não te adorar...

Mas vejo o quanto errei, amor imenso.
Meus olhos se perderam sem ter rumo.
Saudade quando em branco e puro lenço
Mostrando quanto em ti não me perfumo.
Do cativeiro sempre em versos penso,
A tua imagem sobe como o fumo

Que escorre de meus dedos, meu cigarro...
No que restou de ti, frágil, me agarro...

X

Amor eterno; toma-me nos braços,
Faça de teu colo o meu regaço;
Desfrutar desses sonhos, tantos passos,
Depois deitar contigo, exausto, lasso.
A noite nos tomando, olhos baços
Distantes relembrando o meu fracasso...

Amor eterno, siga em cada dia
Transbordando luzes em meu peito.
Transfunde toda paz e fantasia
Até deixar-me quieto, satisfeito.
Amor eterno em doses de alegria
Curando a velha chaga; uma alquimia...

Amor eterno, o verso fora inútil,
Sem rumo, sem destino... outrora fútil...

X

De súbito me bate uma certeza
Inerente resíduo de uma vida.
Que fora em pleno rio, correnteza,
Descendo para um mar de fantasia...
O reino que encantaste sem princesa
Morreu numa insensata cantoria....

Esqueço-me nos paços e nas ruas,
Nos bares e cantinas, sol e sal.
As fotos de mulheres seminuas
Compondo um ambiente sensual.
As mãos que me acarinham não são tuas
Assim como este sonho é desigual.

Perdendo todo o senso beijo bocas
Que se riem depois. Tu me tresloucas!

X

Num barco abandonado sem destino,
Embarco a solidão que me entregaste.
O vento sem sentido não domino,
Qual galho se vergando em frágil haste
Perdido neste mundo, um peregrino
Que aos poucos se consome em vil desgaste.

Apenas uma porta que se abriu
Permite que eu retorne timoneiro.
Tua palavra mansa e tão gentil
Talvez seja meu sonho derradeiro.
O céu de nevoeiros fez-se anil.
Mergulho nesta bóia por inteiro...

A quilha recomposta, leme solto.
Amiga irei contigo em mar revolto...

X

Amiga eu não pretendo com meu verso
Falar destas saudades, nem dos breus.
Rondando, no teu corpo, um universo
De sonhos que matassem nosso adeus.
No campo dos desejos, mais diverso,
Aguardo teus carinhos; todos meus...

Mas vejo que não tenho outro sorriso
Que seja além de amigo, além do cais...
Com mundos imprecisos já diviso
E sinto que perdi amor demais.
O solo que pensara ser mais liso,
Não posso mais seguir, bem sei, jamais...

Tu és a minha amiga predileta...
Amor, porém, distante não completa...

X

Meu maço de cigarros já no fim,
A noite é longa e nada mais terei,
Senão o que restou dentro de mim,
Do tempo em que vivia sob a lei

Deste amor tão ignaro quanto sei,
Vagando sem destino, mesmo assim,
Na busca mais frenética tracei
Os passos que morreram no jardim

Da casa onde moravas, flores falsas,
Espinhos resgatando cada passo
Perdido em debutantes sonhos, valsas

Amaras experiências mal vividas,
Restando tão somente o meu cansaço
Mas tento renovar-me em nossas vidas...

X

Um mundo de desejos em bacantes
Floresce
em minha cama a noite inteira.
Misturo-me com sombras delirantes
E beijo uma mulher mais verdadeira.

Um sátiro buscando tais amantes
Não sabe usufruí-las sem fronteira
O quadro que se pinta por instantes
Na fome em que se borda é dor certeira...

As sombras que me seguem mais comuns,
Das velhas tempestades que já tive.
Fantasmas? Na verdade tenho alguns,

Mas sei que logo vão, decerto, embora.
Que tanta tatuagem não me prive
Da sede de te ter comigo, agora...

X

Amar a vida intensa e bravamente,
Talvez seja difícil perceber
Que embora se procure ver de frente
A vida muitas vezes nos faz crer

Que tudo que acontece de repente
Faz parte desta luta por viver,
Embora se destine cruelmente,
Em meio a tempestades, dá prazer...

Se faz nesta mulher tão deslumbrante
E mesmo que não seja, assim será.
O verso que te faço minha amante

Endeusa retirando teus defeitos,
A morte num segundo chegará,
Vivamos sem temor os nossos leitos...

X

Se eu te amo? Muitas vezes me pergunto.
Bem sei quanto te quero aqui comigo.
Olhar para teus olhos, seguir junto
Contigo... Mas às vezes eu nem ligo
E mudo bem depressa pr’outro assunto.
Prevejo novamente este perigo..

Mantenho dentro em mim este segredo
Tantas vezes negado. Sim querida;
A culpa talvez seja deste medo
Que aos poucos dominou a minha vida.
De mim, dentro de mim, o meu degredo,
A porta que tranquei não vê saída...

Talvez, quem sabe, um dia com coragem
O nosso amor não seja só miragem...

X

Cadáver insepulto que carrego;
De um tempo que passou, deixou resquícios...
Não sei bem se eu afirmo enquanto nego
Embora saiba bem destes indícios...

Depois de tantos mares que navego
As asas decolando em precipícios,
Distante do que fosse esse meu ego,
Se sigo, talvez sejam só meus vícios.

Os nomes, muitas vezes sepultados,
Volta e meia pululam e renascem.
Diversos, os caminhos, nossos fados,

São mais do que retratos na parede.
Falar neles é como se voassem
Em busca de outras fontes, matar sede...

X


Reclamas se não falo deste amor
Que sinto e que me supre totalmente.
Se em versos, quem me dera um trovador
Pudesse te falar tranquilamente

De quanto o teu carinho é sedutor.
Dizer de tudo aquilo o que se sente
Com toda sapiência, um professor.
Mas nada disso passa em minha mente.

Eu falo deste amor em nossa cama,
Nos beijos que te dou, nos meus carinhos...
Fornalhas flamejantes, fogo e chama.

Meus lábios ocupados silenciam,
Tomando em tua carne, tantos vinhos
Que tanto me inebriam e viciam...

X

Meu peito em terremotos quando vejo
Tua nudez exposta em meu dossel,
Lateja em minha carne tal desejo
De penetrar inteiro neste céu.

Recolho tantos gozos que eu almejo
O coração sem rumo, vai ao léu
Aos poucos vai tomando esse traquejo
De ser abelha farta em tanto mel...

No terremoto extenso que sofri
Na tempestade imensa, um furacão
Sentindo esta presença bem aqui,

Das enchentes, tornados, maremotos,
Envolto nos enredos da paixão,
A pele delicada... Flor de Lótus...

X

Cuidado, minha amiga, com que dizes;
Palavras engatilham tempestades.
Na arte de conviver, as cicatrizes
Ressurgem simplesmente de verdades

Salgando nossos dias infelizes,
Lembrá-las é ferir com crueldades.
As almas tantas vezes são atrizes
Que escondem essas tais fragilidades...

Portanto vê se esquece o que passou,
O que feriu demais, cicatrizou,
Apenas quero olhar daqui pra frente...

Não ceda à tentação de maltratar,
Permita que eu refaça o meu cantar
Em outros rumos breves, mansamente...

X

Em minha timidez, o medo aflora.
E vagando a minha alma na moldura,
Qual tela que me deste, uma escora
Que possa me ajudar na mata escura

Enfrentando fantasmas. Sou agora;
Do verbo original, a criatura
Que em mar tempestuoso não se ancora
E morre simplesmente, sem candura.

Teus pés já foram bases deste sonho,
Amada sensação de fonte e ponte.
Oriundo dum dia mais medonho

Fantasia proposta não me cabe,
Vislumbro uma esperança no horizonte,
E vou antes que o amor, em ti, se acabe...

X

Por ter te amado assim, além da conta,
Dos termos do contrato que fizemos,
Talvez a minha culpa esteja pronta
Nos dias mais serenos que tivemos.

O tempo que vivemos não se conta
Apenas o que nunca mais sabemos;
Do fogo dos teus olhos, cada conta,
Perdida nos olhares que morremos...

Ancoradouro frouxo, o nosso cais,
Vencido pelas brisas costumeiras.
Um até logo vira nunca mais

Das hóstias comungadas nem sinal,
Palavras desabando em corredeiras,
Eu te amo, nada mais, foi tudo igual..

X

Não quero repetir o mesmo engano
De ter a sensação de ser cativo
Fugindo totalmente deste plano
Ao qual me dediquei sem ser altivo.

Este erro cometido é bem humano
Por isso irei manter olhar bem vivo.
Amor é como um raro e belo pano
Que não suporta um gesto possessivo..

Nas nossas diferenças um forte elo
Que faz nosso futuro mais liberto,
Andarmos lado a lado em paralelo,

Sabendo que o caminho é de nós dois.
Na morte ou solidão, pois isto é certo,
Certeza de viver, mesmo depois...

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