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Saturday, December 22, 2007

SONETOS 087 E 088

Nas festas que sangramos, dois convivas.
Nas orgias bacantes, feiticeiros.
As carnes que cortamos, foram vivas,
Os olhos que comemos, costumeiros...

As pernas amputadas mais altivas,
Em dentes que mastigam brasileiros
Durante as madrugadas sem esquivas,
Os penhascos saltamos, verdadeiros...

Nesta festa dançavam velhos ogros,
Devoravam crianças sempre rindo...
Mortos mães, pais seus filhos e seus sogros,

A porta da desgraça sempre abrindo..
Os restos da família dei aos cães.
Repartindo, solícito, tais pães!

Em homenagem às elites tão atenciosas deste País

X

Braços brancos abraçam sem brandura.
Das brumas, borboletas e bromélias.
Nas sebes emboscadas de corbelhas,
Beija, abelha, boninas com bravura.

Belezas se embasando na brancura,
De beatas bacantes, de camélias,
Não sabem que soçobram as Amélias
Em burlas belicosas, sobra jura.

Entretanto tentando sentir, tato,
Em fátuo sentimento de prazer
Fazendo tanto amor só por fazer

Retrato meu dilema em cada fato.
Se amar demais foi sempre meu retrato,
Rechaço, em novo fato, o bem querer.

X

Recebo estas palavras; teu lamento,
Deixando-me sem voz. E assim, afônico,
O mundo em que vivera vai agônico
Sem ter de salvação sequer um vento.

Desculpe meu amor, mas eu lamento
Que tudo se perdeu, amor distônico,
Sem ter uma alegria como tônico
Investido de dor e sofrimento.

Saudade? Esteja certa, nada apaga.
Sobrando uma lembrança, mesmo vaga.
É tudo o que percebo que inda resta.

Daquilo que pensava ser granito
Em lamas se desfez, amor finito
Morrendo e me trazendo tanta festa.

X

Insano sofrimento ano que vem
Se vem não desanimo, mas não quero
Se quero não devendo ser sincero
Espero se vieres ir também.

Se sofro não te minto mais, meu bem.
Omito tanto queimo quanto fero
E vago sem sentidos no que gero.
O tempo em tempestade tempo tem.

Ao ver-me, por sinal, tão iracundo,
Não sabes dos ganidos do meu peito
Que sempre se ferindo vai fecundo

E taciturno cala sobre tudo.
Devendo tanto amor como um direito
De amores dos teus mares já me inundo.

X

Meu grito representa um instrumento
Que salva-me dos braços da loucura;
Envolto em desabafo com bravura
Espalha meus sentidos pelo vento.

Numa explosão mais forte, o sentimento
Ao mesmo tempo exponho e traço a cura;
Livrando-me da dor que me tortura;
No desabafo intenso, um bom ungüento.

Sou manso e no remanso é bom viver,
Mas sinto que por vezes incomoda
A placidez de quem amor açoda.

Depois que solto o grito posso ver,
Em calmaria branda que me invade,
Os olhos do meu peito, em liberdade.

X

Aborto um roseiral em primavera.
Na fera que me toca, numa espreita,
A lua enegrecida nada espera
E foge desta noite, contrafeita.

Espinho e vergalhão, a dor desperta
Coroando um caminho com senões.
A porta que nem sempre fica aberta
De tantos e diversos corações.

Vestígios destes tempos me decoram.
Andorinhas perdendo a migração
Os dias de esperança já se foram
Tomados pela turva solidão.

Sem primaveras, flores, roseirais;
Apenas paladares canibais...

X

O tempo vai passando e sem cuidados,
Demonstra nos castigos; os meus erros.
Rasgando as ilusões vai, aos bocados,
Cortando as minhas costas, frios ferros.

Meu destino arrojado em teu destino,
Secando uma nascente, mata o rio.
Polui um lago outrora cristalino,
Já não prossigo mais e nem confio.

Contento-me com pouco, esteja certa.
Não quero nem pedidos de desculpa;
A lua em negras nuvens encoberta
Demonstra obscuridade em tua culpa.

Amor que se fez tonto, sem enredo,
Morrendo e maltratando desde cedo.

X

Febre ardendo... Saudades... Solidão.
Tua distância trama tantas dores.
Mas, porque te esqueceste do perdão?
Opacos; em teus olhos morrem cores.

Angústia se tornando meu refrão.
Não posso compreender. Cadê as flores
Que cismamos plantar noutro verão?
Morreram em tristezas, dissabores

O palco desta vida, peça pobre,
Num melodrama trágico termina...
Amar é, na verdade ser mais nobre.

O céu já se recobre, negros nimbos...
A vida sem esperas, determina:
Cada qual viverá seus próprios limbos...

X

Eu bem sei que me odeias. Tenho pena,
Pois pensava que fosses mais gentil.
De tudo o que vivemos; nada viu,
Nem sombra de saudade ainda acena.

Tua alma é tão vazia e tão pequena
Guardando um sentimento tolo, vil.
Matando toda a cor de um belo abril
Artista que destrói a tela, a cena.

Nas cores e nas folhas espalhadas,
Outono onde tu foste a minha luz.
Nas folhas dos cadernos arrancadas

Depois de tanto lume, tanta briga.
Sereno sentimento vira cruz.
Um coração menor; quanto ódio abriga!

X

Dourado sonho dominando tudo...
Os olhos esquecidos adormecem...
Risonhas esperanças que se tecem
No canto divinal em que me iludo.

Não posso compreender, porém, contudo,
Que as noites que vieram se parecem
Distantes deste sonho e se padecem
Fazendo um coração já tartamudo.

Amor interagindo com saudade
Matando, sem querer, felicidade.
Nos braços que me entrego, em fantasia.

Agora o que fazer? Eis meu dilema
Se toda noite amor ainda teima
Além do que quisesse ou poderia...

X

Estrelas deslumbrantes, leves plumas,
Desfilam pelo etéreo em liberdade,
Nas nebulosas mágicas espumas
Serenas expressões de claridade.
Nos versos delicados, tu perfumas
Os astros que clareiam a cidade.

Brancuras esvaecem-se em neblinas
Em
plúmbeas ilusões, em duras fases
Distantes de emoções alabastrinas
Na angústia do vazio quando fazes
Dos sonhos pesadelos, me alucinas.
Matando as esperanças mais vivazes.

Que faço se metade em dor destrói
Enquanto outra metade, amor constrói?

X


Pousando no meu peito um passarinho
Aos poucos, devagar, me dominando
Formando com carinhos, o seu ninho,
Ardendo em mansa chama, em fogo brando.
Mudando assim meu rumo, com carinho;
Aos Céus e ao Paraíso desviando.

A mão deste menino me guiava
Aos braços da mulher que Deus me deu,
Quem tanto quis e nunca mais contava
Em tantas alegrias converteu
O gelo, a neve em chama, brasa e lava;
Fornalhas que incendeiam todo o breu.

Nas mãos desta criança, fui ferido,
Pelas setas certeiras de Cupido.

X

Que faço se procuro e não me calo,
Embora saiba: amor, uma mentira
Na qual por ilusão, eu tanto falo.
A doce solidão fazendo mira
Trazendo em minha vida, o seu regalo.
Amor sem ter limites, verdadeiro?
Bem sei que não. Amor é corriqueiro

E morre mal começa no meu peito.
Um sonho assim imaterializado
Em nada se mostrando satisfeito,
Matando toda flor de simples prado
Desmente-se sem nexo em cada preito,
Resquícios de emoções do meu passado.

Amor quando demais, da dor o fulcro
Prepara em ironias, meu sepulcro!

X

“Beijei a ponta da faca”
Me disse certa menina,
No peito, cravada a estaca,
Da saudade; assassina!

Saudade como faca penetrando

Rompendo o que se fora carapaça.

Aos poucos sem que eu veja, me tomando,

Uma agonia imensa que não passa.

O tempo corre lento, se arrastando,

Toda alegria morre e se esfumaça,

O mundo que sonhara desabando,

O que restou de mim, a dor esgarça...

Talvez essa saudade inda se cure,

Chegando um novo amor. É, pode ser...

Por mais que o mundo caia e me torture

Um dia, no meu peito, nova dança,

Que possa me encontrar e me trazer

O vento tão suave da esperança...

X

Moleque mais travesso e tão traquinas,
Criado em liberdade, sem juízo.
Olhando para as pernas das meninas,
Promessas de encantados paraísos.

Cavalo no galope, soltas crinas,
Na boca iluminando um bom sorriso,
Debaixo dos lençóis as mãos tão finas
No toque mais gostoso, assim, preciso.

Menino que cresceu em águas claras,
Morrendo na velhice sem remédio.
Feridas se transformam em escaras,

As horas de prazer, amigo, raras,
De noite a mocidade faz assédio,
A vida em contraponto é puro tédio...

X

Abarcando o teu barco em noite fria
Em peixes, calabares e sargaços
Os aços penetrando quem devia
Abrindo no meu peito seus espaços.

Confesso que talvez uma alegria
Motiva a cada dia tantos passos,
Mas veja, quem talvez não mais queria
Deitar em minha cama, nos meus braços.

Aquela que regalo com cometas,
Em língua percorrendo céu e boca.
Os erros que te peço que cometas

São meros instrumentos do prazer.
Sentindo que tu queres, quase louca,
Começo cada canto revolver...

X

Maria se não fosse quem amava
Talvez eu não amasse mais Maria,
Maré quando depressa a mim chegava
Mostrava em fina areia que amaria

Quem mares sem temores maltratava
Tratava de saber minha agonia.
A faca penetrando em veia cava
Cavando quem amor não cevaria.

Calvário de quem ama, serpenteia
Na sala disfarçada de perfume.
A lua que não veio, maré cheia,

Estende o rubro pano das promessas.
Maria vê se deixa de ciúme
Pecados sei de ti e não confessas...

X

Entre viços, estrelas e perfumes,
Meus sonhos tolos, líricos; prossigo.
Viajo em cordilheiras, altos cumes,
Sem medo de aventuras e perigo.
Sem asas que me levem, que me aprumem
Em nuvens delirantes peço abrigo.

Meus olhos destemidos e proféticos,
Abrandam o calor das altas plagas
Os ideais distintos, hipotéticos
Prosseguem incansáveis ledas sagas
Em meio a tempestades olhos céticos,
Abrandam tuas mãos enquanto afagas

Obuses que derramas em meus passos,
Em pedras e em espinhos forjas laços.

X

Envolto em triste treva, tão sombria,
No corte da navalha e do machado,
Um canto quase inerte, amargo brado
Estúpida loucura que se erguia

Das turbas sanguinárias, vaga e fria
A mão que me tocara em triste enfado
Ressurge novamente aqui ao lado
Na nebulosa tarde que surgia.

Minha alma, no passado, era canora,
Em liberdade, encantos, passarinhos.
Que uma gaiola em farpas mostra agora

Qual cicatriz e sombras de outros ninhos
Guardados no suplício aonde aflora
A temerária senda, meus caminhos...

X

Ao vê-la se revela o mais velado
Sonho em que me transponho, nave insana.
Farturas de ternuras, cada cardo
Deixado nos caminhos, não me engana.

Vislumbro precipício onde me enfado
E fujo em alva lua, uma cigana
Que vaga pelo espaço iluminado
E morre nos meus braços, soberana.

Prevejo o que não quis ver os meus olhos,
Agudos pedregulhos, meu antolhos,
Impedem a clareza necessária.

Qual fossem mil corcéis, estrelas vagam
Imersas entre nuvens que as apagam.
Noite em látego açoite, temerária...

X

Quando, faz tanto tempo, eu esperava
Amores que enganavam, nunca vinham.
As cores de tristeza sempre tinham
As horas mais certeiras, e chorava.

Sem versos e tão débil me lavava
Nas ondas deste mar onde se aninham
As dores mais terríveis que se alinham
No coração entornam frio e lava.

Quem já se viu contente não prospera
Em penas desfazendo manso canto.
Rodando nos espaços, qual esfera

Repara que viveu só no mormaço.
Sabe que amor se encanta com seu pranto,
E dorme, desleixado, no seu braço...

X


No sonho ressuscito uma criança
Que há tempos adormece dentro em mim.
Tomando-me de assalto vem assim
Na placidez da noite que se avança.

Cabeça vai rodando, o tempo dança
E traz do meu passado, flor, jardim,
Futuro se aproxima e sem ter fim
A roda se confunde, louca e mansa.

É nele que refaço a minha vida
Em dias que vieram e virão.
Voando sem tirar os pés do chão

Prevejo a própria vida a ser cumprida
E sou o que não fui e não serei,
Cativo, marinheiro, deus ou rei.

X

Quem dera se, de lágrimas isento,
Passasse a minha vida sem saber
Do verdugo voraz deste prazer
Que mina e já demanda sofrimento.

Amores quando soltos, bebem vento
E dormem envolvidos em lazer.
Procuro, nos teus seios, acender
O fogo que sossegue o pensamento.

Quem sabe a recompensa mais completa,
Cobiças e delírio tão dileto.
A vida remoçando em nova meta.

Desejos explodindo! Assim, repleto,
Marcado por Cupido, em doce seta
Renasço em teus carinhos, tanto afeto...

X

Quanto terror latente
nesse mar gelado
que desde sempre
levamos na alma.

António Castañeda



Em duros pesadelos, a noite passa
Expondo estas que verdades que eu carrego.
No dia, a claridade já disfarça
E oculto de mim mesmo, mudo e cego.

Porém o que fazer? Expor-me em praça
Pública
? Meus temores, quando os nego,
Guardados na gaveta, exposta à traça;
Em falsa sensação à qual me apego,

Ressurgem toda noite a me assombrar.
Latentes, estas dores latejantes
Explodem num gelado e imenso mar.

Tomada sem ter tréguas por terror
Minha alma nas procelas perturbantes
Demonstra-se refém deste pavor...

X

Primavera trazendo suas flores...
As cores divinais da primavera
Prenúncios naturais destes amores
Da natureza em cio sem espera.

Assim também seguimos nossa vida,
Em fase diferente a mesma lua.
A sina necessita ser cumprida,
Estrada tão comprida, continua...

Crisálidas renascem borboletas
As flores já granando geram frutas.
Distantes viajantes, os cometas

Retornam e embelezam todo o céu.
Delicadeza em jóias, gemas brutas,
Do pólen da esperança um doce mel...

X

Qual fosse uma esperança que adormece
No peito solitário de quem ama.
A vida se irrompendo em uma prece
Calando o que restara desta chama.

Um coração vadio que obedece
À voz que não percebe, mas reclama.
Futuro desdenhoso que se tece
Nas hostes de quem sabe a mesma trama.

Tudo o que mais quiseres eu faria
Em veras fantasias mais profanas.
Sangrando sem desculpas cada dia,

Morando nos teus olhos, velha chaga.
Se amares for demais, tanto me enganas,
Sorriso que me mordes, logo afaga...

X

A noite nos tomando, verão pleno,
Na cama em que dormimos, sempre alertas.
Depois de termos tido amor ameno,
Sonhamos bem debaixo das cobertas...

Talvez eu não perceba um novo aceno
Que mostre tuas pernas mais abertas.
Prazer que se transborda no veneno
No fogo em que te escondes não despertas....

Mas sinto que preciso de teus seios
E quero o recomeço mais audaz.
Perdido nestes velhos devaneios

Te busco por instantes, mas não vejo.
O frio que esta noite sempre traz
Adormecido, inerte, sem desejo...

X

Tu freqüentas as minhas fantasias
Povoas madrugadas sonho e glória.
Nas noites solitárias, antes frias,
Mudaste todo o rumo desta história.

Revelas esperanças tantos dias,
A vida já não passa merencória.
Que bom se me quisesses, me dirias
Do amor que se perdeu, triste memória...

Eu quero que tu penses; necessito.
Tu és a redenção de minha vida.
Meu sonho mais gostoso e mais bonito,

Um rito de alegria em salvação,
Depois de tanto tempo, alma perdida,
Me encontro em tuas asas; Ah! Paixão!

X

Bendito seja o vento que te trouxe
Em meio a tempestades que passei.
Tua presença calma e sempre doce;
O mundo em que vieste me fez rei.

Tu trazes teu sorriso como fosse
A glória de quem ama, como amei.
Com força de quem quer já que remoce
A sorte que se fora em dura lei.

Te quero, benfazeja e mais serena,
Amiga amada, luz que enfim rebrilha.
Menina que sonhei; a vida acena

E traz uma esperança, maravilha,
De ter em cada dia em rara cena,
Uma alegria imensa em bela trilha...

X

Ajoelhado aos pés de minha amada,
Pedindo que ficasse mais um dia.
A noite que chegava, enluarada,
Montada num corcel, plena magia.

Trilhando pelos céus a bela estrada,
Num fulgor todo pleno em fantasia.
Estrelas constelares, mãos de fada,
Além de sonho que podia...

Distantes dos teus olhos, sem carinho...
Espero tua volta, estrela/lua.
Perdendo a noite clara, vou sozinho

O teu colo, os teus seios, um veludo...
Tua presença amada, bela e nua,
Agora sem amor, morrendo mudo...

X


Ao ver-te caminhando em plena graça,
Rainha de meus sonhos, sedutora.
No véu de uma beleza que esvoaça,
Te quero, minha amada; vem agora.

Tesouro que buscara, não disfarça
Em brilhos redentores, sem demora,
O tempo do teu lado nunca passa,
Minha alma, te deseja e tanto adora...

Murmuro em cada verso esta esperança
De ter essa mulher sempre comigo.
Vivendo nossa vida, eterna dança,

Vibrando sem temores, esta emoção,
Do amor no qual navego e tenho abrigo,
Carinhos em feitio de oração....

X

Meus erros, da fortuna derivados
Trazendo a perdição em vil serpente.
Em látegos caminhos, num repente,
Por sombras e fantasmas desviados.

O rosto da verdade, deturpado
Por vezes tão voraz e incoerente.
Recebo teus ciúmes calmamente,
Embora, de queixumes, vá cansado.

Usaste as ferramentas mais profanas
Fingindo a salvação que não me deste.
Carícias mentirosas, desumanas

São contas que pagamos da vingança.
O canto que demonstra a que vieste
Levando o que me resta de esperança!

X

Meu sonho vai vestido de saudades;
Invade tantas noites sem descanso
E mesmo se sereno, não alcanço
O manto que vestia, veleidades;

Entranho podres flores com maldades
Maleitas e defluxos, meu ranço,
No rancho deste tempo quando tranço
Os pés se distanciam das verdades.

Amor armado mostra-se sem nexo
E verte meus desejos no infinito.
Sem mar que me dê formas em reflexo,

Deformas esplendores e metais.
Alegre não consegues ver meu rito
Em doces e profanos festivais...

X

Teus olhos cintilantes e venais
São partes inerentes, mas descarto,
Da dor que me promulgas, estou farto
E deixo teus olhares para trás

Se fomos não deixamos de ser mais
Assim tu pensarias, mas reparto
Os sonhos desde sempre, e sempre parto
Em busca do silêncio d’outro cais.

Alagas com teus risos minhas sendas.
E mordes com irônicas moendas,
Fazendo minha vida terebrante.

Mostrando-te meus cântaros vazios
Tocando assim teus nervos, olhos, fios
Cortando a nossa vida, num rompante!

X

Históra que me assombra, eu vô contá.
Dos tar de lubisome, bicho fei,
Que aparece nas noite de luá,
Mordeno todo o povo sem ter frei.

Um dia passeano num lugá
Dispois de tanto tempo, eu encontrei
Um bicho ansim piludo, de assustá;
Pois quage que, te juro, eu desmaiei.

A sorte foi que Juca de Maria,
Um cabra desses bão, trabaiadô,
Com espingarda em punho apreparô

O bote contra o bicho disgramado,
E bão de mira em boa pontaria
Dexô esse mostrengo ansim, capado...

X

Seu moço, te pregunto, me arresponda
Pruquê tem tanta inveja nesse mundo.
Se a lua lá no céu brilha redonda
Crareia toda a terra num segundo.

Murdido por corar ou anaconda
O corte do invejoso é bem profundo.
Pru mais qui o rabo grande ele inda esconda
A cauda apareceno nesse fundo.

Qui Deus nos dê a sorte merecida,
Sem vê pros lado, fico mais contente.
A Bunda se demais aparecida

Dá logo um resfriado para a gente;
Inveja que faz mal pru toda a vida,
Dexano esse caboco, ansim, duente...

X

MINHA AMIGA

Negaste cada sonho, minha amiga,
Usando os subterfúgios mais banais.
Quem sabe se depois em nova intriga
Transforme calmaria em vendavais.

Permita-me então que eu já te diga
De todos os meus medos colossais
Mas saiba que talvez; em nobre liga,
O tempo enfim vislumbre amor e paz.

Das preces que fizeste, das quermesses,
Confesso meu perdão, mesmo sem crer.
O corpo em sacrifício me ofereces,

Mas nada disso importa em ter prazer.
Dos sonhos que tiveste, o nada teces,
É tudo o que consigo te dizer.

X

A NATUREZA HUMANA

Cansado de ser verme, um ser humano,
Exposto a hipocrisia e pedantismo.
Refém da podridão de um egoísmo
Achando ser o ser mais soberano.

Espalho o desencanto e o desengano
Cortando minhas veias sem lirismo.
Matando quem passeia neste abismo
Na fúria que me embala sou insano.

Andando calmamente pelas ruas,
Vomito em fedorentos esmoleres.
Ao mesmo tempo quero todas nuas,

E ataco sem motivos mil mulheres
Meu corpo está pendido em fino arame,
Assassino depois quem já reclame.

X

Expondo o meu cadáver em visagem
As
cenas se refazem bem confusas,
Aberrações explícitas difusas
Complicam mansidão desta viagem.

Teu gesto de vingança, tão selvagem,
Em cenas violentas, tu abusas
E cospes no cadáver, tira as blusas
Deixando este festejo todo à margem.

Histrionicamente continuas
Neste desfile aberto pelas ruas
Até chegar ao fim, sem ter mistério.

No riso que disfarças, gozo frio
Mostrando que esse amor, por ser sombrio,
Resiste à solidão de um cemitério.

X

Trazes formigamento da saudade.
Por isso é que, querida, eu não te esqueço.
Das dores, muita vez, a liberdade.
O teu amor? eu sei que não mereço.

Espero que tu venhas num tropeço
Da sorte, isso trará felicidade.
Amor que ando errado no começo
Por certo não terá tranqüilidade.

Nas tramas que eu enredo, meus enganos.
Espúria sensação de falsos planos.
Meus erros? Se eu os tive não recordo.

Apenas te direi meias verdades
Daquilo que se foi, só veleidades...
Mas quero o teu amor, comigo, a bordo...

X

Em minha alma, velórios e varizes
Recebe tantas gotas de veneno.
Teus lábios; dois sedentos infelizes
Bebendo todo o sangue num aceno.

Mas peço, se vieres logo avises
Num tiro ou explosão, ou algo ameno.
Carinhos penetrantes, lutas, crises,
Em todos, estou certo, eu me enveneno.

Coberto por mentiras, t’as mantilhas,
Não restam deste amor sequer mobílias.
Apenas tanta dor em procissão.

Remendos não resolvem o fiasco,
Tu sabes, não preciso de sermão.
Se a boca que me beija é meu carrasco...

X


Tantas vezes errei... Mas isso eu reconheço
Tudo em minhas mãos queria num segundo;
Se as falhas que carrego invadem nosso mundo,
O teu olhar mordaz, eu bem sei que mereço.

Às vezes perturbando, ao me virar do avesso,
Jogando-me num mar tão negro e mais profundo
Aprofundas assim o meu erro, o tropeço

Gerando tempestade em simples copo d’água;
Sem perceber, querida, isso me trará mágoa.
Peço-te a caridade, enfim de perdoar.

Perdendo pouco a pouco, o nosso amor sem paz.
Eu não quero verdugo e nenhum capataz.
Perdendo, em julgamento, o tempo que é pr’a amar!

X

Os meninos brincando... o ribeirão...
Delícias de uma fruta amadurada...
Peixes fisgados.. o luar... o chão...
A vida prometendo longa estrada.

Meninos traduzindo este sertão.
A viola tocando, enluarada.
Frágeis dedos repletos de emoção.
Estrada, depois, dicomotizada.

Patrãozinho partiu, voltou doutor.
O outro está trabalhando na fazenda...
Os dedos que tocavam já não sabem.

Agora numa enxada, sol, calor.
Os seus dedos? Cortados na moenda...
O riacho e a saudade? Não mais cabem...

Em Homenagem a Fernando Brandt

X

Muitas vezes brincaste com, simplesmente
De forma leviana e tão venal.
Uma alma que se faz tão tola e mente
Não deixa nem resquícios no final.
Errante, sem sentidos, tolamente
Se coloca em distante pedestal.

Depois de tanto tempo percebi
O quanto fora estúpido, querida.
Em toda esta alegria que há em ti
O
brilho mais sensível desta vida.
Sorriso de menina que perdi
Jogado em algum canto, em despedida.

Nesta amargura insana, o meu caminho,
Trilhado entre mil pedras, tanto espinho...

X


Entre meus dedos, passa o tempo todo,
Brincando com a sorte, louco ri.
Permite tanto engano, tonto engodo,
Depois, finge que nunca esteve aqui.

Moleque solitário não dispensa
A gargalhada firme depois disso.
Por mais que tolamente, a recompensa,
Se mostra numa flor, quase sem viço.

O tempo é companheiro predileto
De uma saudade feita em mil lembranças.
Por vezes tão vazio, outras repleto
Matando devagar as esperanças.

Agora que se foi o bonde e o trem,
Amor fora do tempo, sinto, vem...

X

Ciúmes são perfume de uma flor,

Maiores quanto mais queremos bem.

Vivendo em nosso caso, tanto amor,

Não quero te perder para ninguém!

Eu sei quanto é bobagem; o temor,

Tu és toda a certeza que se tem

De um mundo mais suave e sedutor.

Mas sei que tens ciúmes sim, também...

É claro que te tenho confiança,

Não nego que jamais desconfiei.

O amor entre nós dois, forte aliança

É mais do que pensei ter algum dia.

Por mais que tantas vezes disfarcei,

Minha alma, mil loucuras, fantasia...

X

Eu sou o resto podre da maçã

Que foi abandonado em praça pública.

Um quase sem ter nexos, amanhã

Jogado nem sou bola nem sou búlica.



Apenas vago o mundo, vida cã,

Nesta quaresma a esmo, perco a túnica

Despido do que fosse uma manhã

Nos trâmites, trambiques da república.



Sedado se fui dado ou se fugido

Não vivo mais em buscas estrambóticas.

Exóticas verdades tenho tido,



Há sido o que bem ácido, contei.

As ilusões que tenho são as de óticas.

Perdido no que fui nem quem sou sei...

X

O céu em tantas cores sempre borda
Teu rosto, nuvem clara, amada amiga.
Atando o pensamento em forte corda
A vida não se marca e nem periga.

Depois de sono breve já se acorda,
Forrando minha sorte em forte liga,
Tropeço o sentimento nesta borda
E caio nos teus braços, fonte e viga.

Na linha de teus olhos, horizonte.
Na fonte dos desejos, me inebrio.
Não deixe que este mundo te desconte

E leve nosso amor em vaga sorte.
Matando o que se fora tão sombrio
Trazendo este universo bem mais forte...

X

Não temas este abismo, tempo/vida.
Retorno depois disto, amada minha.
Buscando em precipício outra saída
Do amor que tão estranho nos aninha.

No poço de ternuras dor perdida
Um ave migratória, uma andorinha
Vagueia prometendo despedida,
Mas logo se calando, vai sozinha.

Então guardo de ti perfume raro
Em tantos jasmineiros e roseiras.
Persigo cada passo pelo faro

Encontro-te calada; nas estradas,
Protegida das dores feiticeiras,
Nas mãos as belas flores orvalhadas...

X

Minha cabeça roda sem juízo
Bebendo cada boca diferente.
Em todas, procurei o paraíso,
Que na verdade estava até bem quente

Mais parecendo inferno onde sem siso,
Descubro que valeu ser penitente.
No toque mais veloz e mais preciso,
A boca me mordia, de repente.

Se necessário, amada, beijo os pés,
Molambo desarmado e sem vergonha.
Vivendo quase sempre de viés

No jogo da esperança e da incerteza
Onde quer que essa sorte me componha,
Me deixarei levar na correnteza...

X

Se não houvesse amor o que seria?
Amar é redimir nossos pecados,
Vivendo esta tristeza em agonia
Ouvindo
o coração e seus recados


Tornando todo o sonho em alegria
No
sofrimento imenso, lanço os dados.

Vivendo uma esperança a cada dia
Dos olhos tão queridos, desejados...

A dor vale o sorriso, uma emoção.
O sim é poderoso e cura o não.
No prato em maravilha, riso e gozo.

No gesto sem sentido de um adeus,
Amor é sonho sempre perigoso,
Mas nos leva mais próximos de Deus..

X

Meu bem querer chegando devagar
Em juras e perjuras sempre mais,
Entorna poesia a caminhar
Sem medo de mentir, assim, jamais.

Tornando nossa vida imenso lar
De beijos e desejos mais normais,
Enquanto meu querer que navegar
Por noites e carinhos imorais.

Meu bem querer bebendo cada gota
Se esgota e me amarrota mas disfarça.
Tomando o meu prazer, sua compota,

Recolho cada lágrima em meus lábios,
Depois corro depressa para a praça
Buscando maus conselhos, todos sábios...

X

Amor não paga as contas deste mês
Nem serve em garantia no boteco,
Amor vai se perdendo sem freguês
Depois inda promete repeteco.

Amor não se fez mais do que se fez
Quebrando qualquer asa, teco-teco,
Ainda exige sorte em toda vez
Que grita e não escuta sequer eco.

Amor bem que queria mar de rosas,
Quem sabe da lavanda o seu perfume.
Amor mentindo em versos mata prosas,

Encontra em tempestades porto e cais,
Movido totalmente por ciúme,
Perdendo até batalhas, das navais...

X

Na doce podridão de cada beijo
Roubado nestes becos, nas entranhas.
No cheiro da cachaça e do desejo
Misturas de malícias e de manhas.

Na venda sem pudores, sem lampejo,
Tuas bocas abertas são tamanhas
Vibrando sem sorriso e sem latejo,
Nas procissões diversas, tão estranhas.

Os gritos simulados desta atriz
Deitada em tantas camas, seco o mel.
Fingindo finalmente ser feliz,

Deitada sob o peso desmedido
Brincando de princesa em carrossel,
Os olhos se perdendo, sem sentido...

X

Amor que não valia nem tostão
Depois de ser refém se achou perfeito
E fez deste tormento um turbilhão
Vagando neste beco, satisfeito.

Amor que não valia a precisão
Esgana o sentimento de direito
E mata novamente esta ilusão
Recibo maltrapilho do meu peito.

Causado por engodos, meus enganos,
Se fez em valentia trapo e resto.
Cobrar pelos pecados, erros, danos,

É dar valor demais ao que não tinha.
No fundo talvez seja um manifesto
Da noite que não vinha, toda minha...

X

Eu preparo a canção se for bonita
Pra moça que desfila em meu carinho.
Refeito da surpresa de pepita
Chegança em minha vida de mansinho.

No fundo tanto vejo que acredita
O marco que se fez assim sozinho
Rasgando este vestido, velha chita,
A moça só desfila em puro linho.

No limo que não veio, tecla gasta,
Cheguei quase sem tempo de beber.
A mão que esbofeteia logo afasta

Mas deixa qualquer rastro de prazer.
Meu sabiá morreu em tanto agouro,
Nas penas deste amor apenas couro.

X

Falando deste amor sem ter critério
Mentindo em cada verso, vero gozo.
No prédio de teu braço, um cemitério
Se mostra mais faminto e andrajoso

Nas roupas e trejeitos de outro império
Amor em marcha lenta é mais gostoso.
Agora, desse amor falando sério
Sou quase o que não veio de teimoso.

Mas tenho amor-perfeito no jardim,
E sempre-viva aguada no canteiro.
Das flores que plantaste dentro em mim,

A seca foi voraz, não sobrou quase.
Se falo deste modo mais certeiro
Amor veio por certo em outra fase.

X

Acreditar no amor? Pura tolice...
Amor é qual criança sem juízo.
Por vezes imagino o paraíso,
Mas ao acordar tudo se desdisse.

Portanto; quanto amor vem sem aviso
E em pouco tempo some. Não me atice,
Te peço, por favor. Como eu te disse
Amor não tem prever, escorre liso...

Volúvel sentimento, nos decora
Depois, sem ter motivos vai embora.
Amor não sabe tempo nem lugar

No meio do deserto, amor aflora.
Nos leva, sem sabermos, ao luar.
Mas corta nossas asas ao voar...

X

Viajante desejo pela noite
Na busca do descanso que não veio.
Bebendo a sedução, um vero açoite,
Percebe em transparência, belo seio...

Recebe vaporosa sensação
Do vento que rasgou em tempestade,
Dormente, um inconstante coração,
Craveja de ilusões toda a verdade...

Encontra seminua lua cheia
Deitada em algum quarto de motel,
Do frio que se fez já se norteia,
E vaga nos lençóis, a noite fria,

Sangrando em cada raio, sol e céu,
Espera mor milagre, uma magia....

X

Ouvir a tua voz já me apascenta;
Estava aqui por certo, preocupado...
Vivendo a solidão, vital tormenta
Sem ter o teu perfume do meu lado...
A vida vai passando em marcha lenta,
Qual fora o tempo inteiro no passado...

Perfume inebriante de uma flor
Distante, mas tão perto, dentro em mim.
Teu canto; minha amada, sedutor,
Um acalanto doce, até que enfim...
Vivendo com certeza, nosso amor,
O mundo é bem melhor; querida, assim...

Estou feliz por ter esta certeza
Do amor que nos tocou, clara beleza...

X


Contigo quero estar cada momento,
Queimando nossos corpos, fogo intenso
Desejo que se faz no pensamento,
Acalma o que se fora sempre tenso.

Tocar a tua pele, boca em brasa
Desfruta
de teu corpo em ardentias.
Qual fora simplesmente minha casa,
Um reino de delícias e alegrias...

Suores vão molhando a nossa cama,
Salgando estes lençóis, tanto prazer.
Tomando nossa noite em plena chama,
Vontade de; contigo, refazer

Todo o caminho feito no desejo
Imenso e poderoso, nosso beijo.

X


Eu quero em nosso amor tal sentimento
Que não disperse nunca esta emoção,
Levando minha voz solta no vento
Recebo teu carinho na canção.

Vivendo nosso mundo em poesia
Arcando
com a sorte e com desejos.
Vencido pela força da alegria
Prometo-te milhões, zilhões de beijos.

Amor que se envereda pelos sonhos
Em formas mais divinas e gostosas,
Matando os pesadelos mais medonhos
Trazendo esse jardim que é pleno em rosas...

Minha alma te procura e já flutua
No encontro deste sol com alva lua...

X

Eu quero te sentir bocas e beijos

Neste delírio imenso da paixão,

Matando, no teu corpo, meus desejos,

Fazendo a nossa cama pelo chão,



Sabendo teus meneios e traquejos

Singrando por teus mares, emoção,

Bem devagar, carinhos e manejos

Te enlaçando em total sofreguidão...



Vou descobrindo em todos os sentidos,

Olfato, paladar, tato, visão

Ouvindo na loucura dos gemidos

X

Sentir o teu perfume desejado
Beber desenfreado todo o mel,
Vivendo nosso amor, apaixonado,
Roubando a bela lua lá do céu..

Sou teu e o que me importa todo o resto?
Empresto o meu prazer ao teu prazer.
Vibrar nossa alegria em cada gesto,
Nas brenhas de teu corpo me perder...

No paraíso imenso prometido,
Rondar cada pedaço desta fonte
Do toque mais fogoso e desmedido,
Abrindo em nossa cama este horizonte

De pétalas e flores olorosas,
Deitando sobre ti, milhões de rosas...

X


Ilusão, fantasia ou realidade,
Existe sempre um vulto de mulher,
Em cada coração onde há saudade!

O vulto da mulher com quem sonhara,
Distante de meus olhos, tanta dor.
Amar é cultivar pérola rara,
Mistura entre a lama e o esplendor.

Eu sinto que tu queres me deixar,
Não vejo por fazes isso, amada,
A noite se aproxima devagar,
Depois a solidão da madrugada...

Não deixe que emoção termine assim,
Preciso te encontrar, minha alegria.
Matar o que, de amor, existe em mim,
É como me negar a fantasia...

Mulher que tanto quero em realidade,
Não deixe o coração virar saudade!

X

Ao sentires um vento bem macio
Chegando devagar, roçando o rosto,
Lambendo tuas pernas, bem vadio,
De desejo e carinho assim composto,

Um vento que incendeie o quente estio.
Deixando o teu querer bem mais exposto,
Molhando devagar, doce rocio,
Provando em tua boca, todo o gosto.

Ao sentires o vento te tocar,
Audaz já levantando a tua saia.
Sorvendo de teu corpo, devagar,

Verás que enfim cheguei, minha morena.
Sorriso no teu rosto não te traia,
Que a vida em mil prazeres nos acena...

X

EU TE ADORO!

Adoro te sentir colada em mim,

Olhando para as nuvens, sinto o vento...

Roçando tua boca carmesim

A vida se eterniza num momento.



E quase flutuando digo sim

A todos os desejos. Sentimento

Tomando, lentamente até que ao fim

Da tarde, num divino movimento;



Deitados, nos tocando e nos sentindo,

Eu ouça tua voz já me chamando

Num canto tão macio, manso e lindo



Num arrepio intenso, num sorriso,

Suspirando gostoso e me chamando;

Juntos, sem juízo, ao paraíso...

X

Ao te encontrar, amor; eu descobri
Que a vida pode ter felicidade.
Não sabes mas bem antes, tudo aqui
Trazia um triste gosto de saudade

De um tempo que passou, mal percebi,
Deixando em seu lugar, ansiedade.
Agora que encontrei amor em ti
Eu
volto a ser feliz, isso é verdade...

Estrela que vagava sem ter rumo,
Cometa sem paragem nem remanso;
Mas desde que em teus lábios me perfumo

Abri meu coração e esqueço o medo,
Os píncaros da sorte, amor alcanço
Do cofre do esplendor deste o segredo...

X

Querida, dentre as flores a mais bela,
Tu sabes deste amor por ti, gigante..
O quanto toda noite se revela
No quadro mais sublime e delirante.
Meu mundo no teu corpo já se atrela
E nada mais importa d’ora em diante...

Saber-te sem espinhos tanto encanta
Aquele que se fez teu devedor,
Ouvindo tua voz quando me canta
As páginas bonitas deste amor.
A força que me move, tanta, tanta...
É feita do perfume sedutor

Que exalas, minha amada e rara rosa.
Por isso estou feliz e vivo prosa..

X

Um rio vai chorando em cachoeiras
Depois
de te banhar, ninfa divina;
As águas te lambendo costumeiras,
Na fonte tão risonha e cristalina.

Se perdem rumo ao mar, em corredeiras;
Tocadas pela pele que alucina.
As línguas destas águas vão inteiras
Depois de te beijarem, bel menina.

E choram por partirem sem poder
Ficarem no teu corpo eternamente.
Usufruindo assim de tal prazer

Que determina a sorte de quem ama,
Pudessem percorrer mais lentamente,
Quem sabe nestas águas, fogo e chama?

X

Minha alegre menina quero a dança

Do teu corpo, requebros sobre mim;

A noite verdadeira já se avança

E a boca mais sedenta,carmesim...



Alegres os compassos da esperança

Que queimam seu pavio até no fim.

No fogo deste estio, não se cansa,

E sabe que me ganha, inteiro sim...



Tua alegria imensa contagia

E faz de cada gesto a sedução.

Que esquenta todo amor em fantasia



E
tudo, sem ter tréguas, contamina,

Ardente como o fogo da paixão,

Na dança tão alegre da menina...

X

Sei que sou desatento, me perdoe,

Às vezes eu me esqueço de dizer

O quanto és importante. Que a alma voe

E possa, meu amor, te convencer



Do quanto que te gosto e que te quero;

Te espero em meu caminho, mil perdões.

Por certo distraído, mas venero

O canto em que me mostras emoções...



Vou preso ao teu encanto, e sinto a falta

De tua mansa voz, de teu perfume.

Por vezes se a saudade já me assalta,

Procuro tua luz em vago lume...



Desculpe, meu amor mas que alegria,

Saber que tu estás já traz bom dia...

X

O dia vem surgindo mansamente,
Uma alvorada calma, sol bem lento...
Um frio aconchegante é o que se sente
As folhas vão dançando ao leve vento...

E já desperto preguiçosamente
Na paz deliciosa do momento.
Neste silêncio mágico, envolvente
Distante da tempesta e do tormento.

Percebo quanto estamos mais unidos
E vejo que ao teu lado, estou feliz.
Nos braços e nos raios envolvidos

Esta manhã convida a ter preguiça
O sol já vai mudando o seu matiz...
Meus olhos se inundando de cobiça...

X

Os vinhos, as champanhas, os motéis.
As festas dos desejos incontidos...
As trocas, os carinhos, lábios, méis,
Sussurros entremeiam os gemidos,
As noites embaladas por corcéis
Que voam na lembrança, nos sentidos...

O rumo se perdendo ao se encontrar
Nudez, seios e peles se entrelaçam.
Estrelas radiantes, o luar...
A vida carregou, bem sei que passam
Sozinho; vou buscando noutro bar,
Imagens me confundem, se esfumaçam...

Amores que se foram... Eu fiquei...
Em que parte da vida, amor, errei?

X

Na dança das palavras deste verso

Vencidos os meus medos insensatos.

O sentimento invade-me diverso

Mostrando na parede teus retratos.

Paredes infinitas do universo,

Desejos instintivos pois inatos

Aos poucos me tornando tão disperso,

Distante das vontades e dos atos.

Mas sei quanto te quero, isso me basta.

Por mais que sejam duros os caminhos,

A sola de minha alma já bem gasta

É testemunha clara dos meus dias,

Buscando noutros braços os meus ninhos,

Tentando em tua boca, as alegrias...

X

MEU AMOR

Amor; que eu não proclame aos sete mares
Teu nome, e que preserve o sentimento.
Além deste quintal, destes pomares,
Silêncio que eu exijo até do vento.

Não saibam deste amor nem os luares,
Não quero mais as dores nem tormento
Pois sei que tanto amor ao dedicares,
Pediste este silêncio, e assim eu tento.

Embora esta vontade de gritar!
Embora esta alegria que incontida
Invade minha vida sem vagar,

Tomando o pensamento, sem parar
Tu és a minha paz, razão de vida,
É duro me conter e me calar...

X

Quem sabe se romântico poeta
Esboço de ilusões eu carregasse.
Na mira mais perfeita desta seta
Não resta nem aresta até disfarce.

Vasculho outro sentido, em nova meta;
Gerando tolamente um novo impasse;
Na sorte que não tenho e se completa
Na oferta que te faço: uma outra face.

Mas louvo o nosso amor em novo cântico.
Encontro-te comigo em sala e bar.
No fundo, bem quisera ser romântico.

Bebesse gota a gota o vasto mar.
Amar já não seria assim tão tétrico
Meu verso não viria escravo métrico.

X

Em brancura suave tal qual neve
Minha alma embevecida te suplica.
Num sonho delirante que a enleve
Não tem porque e nunca sacrifica.

Espera pelo altar manso que eleve
Branduras e carícias, se edifica
Trazendo a calmaria. Quem se atreve
A erguer-se contra uma alma que adocica?

Portando as esperanças de mudança
Levando por caminho deslumbrante.
Convida tão festiva à nova dança.

Nossas almas penetram-se, em conjunto,
Tatuam-se de forma inebriante.
Conversam; calmamente, o mesmo assunto!

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