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Saturday, December 22, 2007

SONETOS 073 E 074

Tento te encontrar em cada lume
De estrelas que vadeiam pelo céu.
Nas rosas mais cheirosas, teu perfume,
Na transparência bela tiro o véu
Percebo esta beleza de costume,
Doçura de garapa em pleno mel...

Não podes desprezar quem tanto quer
Teu corpo, teu desejo satisfeito,
Envolto nas magias da mulher,
Invades com certeza um velho peito,
Que espera da maneira que vier
O amor que sempre foi nosso direito...

Eu quero te encontrar aqui, comigo,
Vencendo o teu temor, terás abrigo...

X

A vida simplesmente me devora,
Mas tomo noite e dia talagadas
Desta aguardente imensa que, sem hora,
Encontro neste bar, nas madrugadas.
Amada a quem queria uma senhora,
Se veste de ilusão, já vai embora...

Não quero mais ouvir as zombarias
Que encontro a cada vez que assim suspiro.
Os becos da saudade em noites frias
Ouvindo pelas ruas como um tiro
Que as mãos que me deixaram desferias
No luto merencório do retiro...

Mas sabes da fumaça/coração
Que o gosto desta vida: uma emoção...

X

A sorte não lastimo, minha amada,
Estreita esta prisão que nos uniu.
Na vida que sonhei encadeada
A vida que me deste, bem sutil.
Irreparável sina que adorada
É mais que desejada, amor gentil...

Não temo o que vier, estou contigo,
Nem temo mais a dor de qualquer corte,
Não tenho mais amor como castigo,
Meu braço te envolvendo, bem mais forte.
Vivendo o que queremos vou, prossigo
Distante do temor: adeus à morte...

Vencendo o longo inverno, a primavera,
Se mostra em teu olhar que amor libera...

X


Amor, cavalo solto, bela crina
Que passa galopando em nossa vida.
Na ponta desta faca, aguda e fina,
O corte que se fez, sem dar saída.
Cativo deste amor que me domina,
A sorte não promete despedida...

No pomo deste amor, maçã e medo,
Vestido de ternura e de saudade.
Morrendo em cada verso de degredo,
Vivendo em cada sonho de verdade.
Me prendo nos teus braços, teu enredo,
Embora em nosso amor, disparidade...

Dou asas ao amor, corcel bendito
E vou braços abertos, infinito...

X

As existências todas repartidas
Nas residências mortas em batalha,
Nessas crianças quietas desvalidas,
Nos gumes mais cortantes, na navalha.
Nas ilusões sem par e combalidas
Na forca que nos toca enquanto atalha.

Na velhice do jovem, do skinhead,
Na mentira do sonho de futuro
Além do que se ganha e que se perde,
O nada está guardado atrás do muro.
Meu filho, que outro filho não mais herde
O dia que se escorre e vai escuro...

Ao nada que voltamos, na verdade,
Só resta uma esperança, uma amizade...

X

Às vezes escorrego pelo esgoto
Da porta escancarada do teu riso.
Um sonho mais amigo, estendo roto,
Em ratos e baratas, sempre piso.
Da perna que se foi, lateja o coto,
Meu passo, sendo assim, segue impreciso...

Quem dera me fartar, tanto comer,
Do que foi reservado para mim.
Amiga, não consigo reverter
Nem mais seguir em frente; sendo assim
Não sinto nem vontade de querer,
Apenas vou moendo até o fim...

Alegro-me com pratos e talheres,
Quiçá neste banquete, mil mulheres!

X

Falar do bem, do mal, do mais ou menos...
Do que restou dos beijos mentirosos...
Meus dias se passaram bem pequenos
Cobertos de fantasmas e de gozos,
Bebendo em cada amor, os seus venenos,
Meus olhos se formaram mais brilhosos...

Agora, vou ao nada, nado solto,
Em mar que te pariu e me cevou.
Procelas, celas, túmulo revolto,
O quase que eu não fui, o que restou.
No passo tão mal dado em que me escolto
Sou outro e já nem sinto o que ficou.

Falar do bom de um sentimento amigo
É quase se entregar, correr perigo...

X

"A maior pena que eu tenho,
punhal de prata,
não é de me ver morrendo,
mas de saber quem me mata."
(Cecília Meireles)

A mão que me acarinha esconde a faca
E ao mesmo tempo ri, se escancarando.
Na noite em que dormimos quando atraca
Ataca minha boca, me sugando.
Depois chamo ambulância e vou de maca
Mas volto noutra noite te buscando...

Refaço-me do susto e recomeço,
Bem sei que isto te faz, amada, forte.
Não vejo mais meu rumo ou endereço,
Aceito tão passivo a minha morte.
Talvez reste de tudo algum apreço

Mas sei que morrerei nos braços teus...
Bebendo do prazer em doce adeus..

X


Esta flor caprichosa que nasceu
Num dia de ilusão, o mais perfeito,
Do amor que tanto tempo foi só meu,
Agora se esvaindo insatisfeito,
Se todo este perfume se perdeu
Que faço deste amor dentro do peito?

Quem sabe voltará num dia incerto,
E teu olor virá me socorrer.
Oásis que encontrei em meu deserto,
Talvez seja essa fonte de prazer
Que faz com que este mundo esteja aberto
À fonte que emanou meu bem querer..

Assim quando vieres, flor tão pura,
Termine toda a dor desta tortura...

X

Levados pelo vento, meus amigos,
O tempo se passou, restei sozinho...
Depois de ter sonhado com abrigos,
Depois de ter vivido em outro ninho
Os olhos que me viam, tão antigos,
Agora vou bebendo de outro vinho...

Os dias foram todos tormentosos,
As horas que vieram me sangraram,
Os cantos que aprendi, tão lamentosos,
Por outros mares tortos, ecoaram...
Saudades doutros mundos venturosos
Onde essas amizades triunfaram...

Agora que te encontro novamente,
Amiga, é necessário amar urgente...

X

No rio caudaloso da paixão
Meu barco com certeza se entregou
E nada mais contendo esta explosão
Nos braços da morena naufragou...

Lambendo com total sofreguidão
As barrancas, amor assoreou
Fazendo em tua foz inundação,
E todas essas margens, alagou...

Amar é ter um mar dentro de si
Sugar de toda fonte do desejo
No meio deste lago me perdi

Chovendo alucinado em teu cais.
Só sinto que te quero e assim prevejo
A tempestade louca, e quero mais...

X

Seguindo de um corcel, largas passadas,
Estrela dos meus sonhos, à terra desce,
Passando pelas mágicas estradas
O teu olhar divino me aparece
E vejo nestas crinas agitadas
Estrela maviosa, amor e prece...

Na luz que tu me mostras, tão potente,
Cavalo, brilho e lume em grande porte,
Vibrando em ti, querida estou contente,
Achei em minha vida, rumo e sorte,
Quem veio de um passado penitente,
Agora não mais teme dor e morte...

Montado no corcel, em destemor,
O brilho de teus olhos, meu amor...

X

Junto ao mar caminhando pela areia
As coxas e as pernas bronzeadas,
No fogo deste sol que te incendeia,
Ao vento estas madeixas balançadas...
Imagem formidável de sereia
Por ondas, tuas pernas vão molhadas...

Ao ver-te numa saia deslumbrante
Inveja desse vento, assim, me dá,
Quem dera te tocar por um instante,
Quem dera se viesses para cá,
Ficar comigo, bela, irradiante...
Ser o sol que contigo deitará

Depois dormirmos juntos sob a lua,
A noite inteira, estrela seminua...

X


Querida, não se apresse de ir embora,
Parece que restei aqui sozinho...
O tempo já faz tempo que evapora
E o que ficou aqui, foi passarinho.
Tentei usar teu braço como escora,
No fim quase que entorno o pão e o vinho.

Amiga, sigo sendo o que sereno
Se enfurna na paisagem, sou mineiro.
Se sou o que querias, concateno
Verdade com trabalho de pedreiro
E faço meu castelo mais ameno
Do que veneno foi o tempo inteiro...

A morte exige tanto pra quem fica,
Aguarda, minha amiga, o tempo estica....

X


Exponho cada chaga ao teu sorriso.
É claro que isto traz muito prazer.
Meu canto se quiser, é de improviso
E nele tenho pouco o que dizer
Somente te falar que meu juízo
Há muito eu fiz questão de não conter...

Quando, horrorosamente fui sensível,
Bordaste mil bordões em meu destino.
Não vejo quase nada, imprevisível
Que alente uma esperança de menino.
Entre o querer e o ter há um desnível,
Embaixo do que fomos não assino...

A cruz que se pintou, velha piada,
Andando em cada templo, destroçada...

X

Do silêncio refaço cada passo
Por horizontes cegos e sem mar.
Carpindo o que me fora, descompasso
Quedando tanto tempo sem falar.
Do corte tão profundo adaga e aço,
O que resta de mim vou te mostrar...

Um cheiro de café refaz do medo
E lembra mãe e filhas tílias, roças.
O gosto da saudade meio azedo
Mostrando quantas lágrimas empoças,
Acordo novamente assim, bem cedo

E parto para o quando sem talvez,
Cadencias meus olhos... perco a vez...

X

Agora é dedicar-me ao nosso amor,
Em frases, pensamentos,atitudes...
Armando meu desejo aonde eu for,
Meus versos planejando plenitudes.
Vestindo meu carinho em tua flor,
Nao boto mais as mãos pesadas, rudes...

A lua em nosso amor sempre desvenda
Segredos que não sei e nem queria.
Deixando suas marcas, seda e renda,
Vivendo em nossa trama mais um dia,
Deitada mansamente invade a tenda
Em raios majestosos, poesia...

As pedras que atiraste são meu chão,
O piso em que tocaste, o da paixão...

X

Amiga, não penteie solidão
Nos bares e nas ruas, sem sentido.
No vasto desenhar, teus pés no chão,
As marcas de um destino mal cumprido.
Carpindo tua dor sem solução,
Amor é sentimento distraído...

No mar que tu guardaste dentro em ti,
Nas ondas, tempestades e marés.
O mundo em que mergulhas bem que vi,
Em vales, precipícios aos teus pés;
O mesmo em que, faz tempo, me perdi,
E guardo em minha vida, qual revés....

Amiga se perceba bem mais forte,
A cicatriz valeu o fundo corte...

X

Trazendo uma batalha a cada dia
Na lida que se espalha pela casa
Ao mar eu entreguei a fantasia
Meu rumo se perdeu em velha brasa.
Se faço da navalha, a poesia,
Disfarço, pois senão a vida atrasa.

Na rua que plantei meus diamantes,
No solo em que cravei minha esperança
Os vermes foram rápidos, instantes
Distantes se perderam desta dança;
Se quero enfim, teus olhos radiantes,
Talvez assim encontre uma aliança

Que faça da amizade mote e senha,
E a noite sem temores, logo venha...

X

Na rua em que brincava sem ter medos,
Criança desfraldando o coração,
Deitando em cada salto seus segredos,
Trazendo para a vida a solução,
Os olhos libertários, nos lajedos,
O canto sem temor, em explosão...

Brindada por delícias em cirandas
Nas
ruas do passado, polvilhei
As flores que guardaste, festas bandas,
No tempo em que menino, já fui rei.
Os anos se passaram... Enfim, desandas,
Saudade a quem sem forças me entreguei.

Na rua em que viver em liberdade
Traduzia-se
, enfim, numa amizade...

X

Sentindo da alegria, o manso riso,
Que é sorte para a vida e mantimento,
No gesto mais sensível e preciso
Amor tão desejado toma tento
Renasce e com presteza mata o siso,
Trazendo a calmaria no tormento...

Amar assim, um sonho que se sente
Em cada novo brilho bela lua.
Um gesto de carinho que, excelente,
Transporta uma emoção que já flutua
E vai pelas estrelas; envolvente,
E desce em tua casa, sala e rua..

Tu és o meu consolo e minha luz,
O canto que me toca e me seduz...

X

Amiga, uma amizade que deseja
Que o outro seja sempre mais feliz.
Mostrando que o futuro se azuleja
Tomando da esperança o seu matiz.
No Fado delicado relampeja
O brilho deste sonho em que se diz

De toda a sensação mais deslumbrante
Dos raios dum porvir bem mais brilhoso,
Que Deus sempre permita doravante
Que a dor já se transforme em pleno gozo.
Tornando este passado discrepante
Com o futuro belo e mavioso...

Afeito deste sonho mais sincero,
Amiga estar contigo, sempre espero...

X

Desejo te rever amada minha
Perpetuando em mim, uma saudade
De todo o grande amor, que ao certo tinha
No tempo em que vivi tranqüilidade,
O certo é que perdi o rumo, a linha;
Mas ajudar-me assim, Senhor, quem há de?

Caminho natural do pensamento
No puro afeto feito, com certeza
É ver em teu semblante tal tormento
Que negue de per si, tua beleza.
Amada; não pensei um só momento
Usar desta mentira, uma torpeza.

Tu és minha rainha e nunca nego,
Mesmo distante amor por ti carrego...

X

Meu lago se tomou em amargura
Do
sal que sempre teve, nada mais.
No enxoval dos sonhos da ternura
Apenas a metade o tempo traz.
O que logo desfaz, depressa cura,
Mas sempre leva um pouco desta paz.

Na rede das intrigas, fina agulha,
Desfere cedo um golpe contra mim,
O meu olhar tampouco se debulha
Retesa arco com seta, até no fim,
Amor que não se fez canalha e pulha
Guardado no canteiro, no jardim,

Florindo em esperança benfazeja
Que adoça muito mais que se deseja...

X

Minha alma te procura e já se espraia
Deitada no teu braço, amor imenso,
A lua delicada, enfim desmaia
Neste horizonte belo, e tão extenso,
Deitando seu carinho sobre a praia,
O mar ruge voraz, tão forte, intenso...

A solidão que fora tão amarga,
Morrendo de ciúmes, neste inverno,
Ao ver esta emoção, bendita carga,
Procura outro caminho vão, eterno,
Meu mundo desfilando assim à larga,
Distante da tristeza, rudo inferno...

Quem teve uma esperança a vida inteira,
Agora encontra a paz mais verdadeira...

X

Um sentimento assim descomunal
Que toma o coração como de assalto,
Vertendo uma emoção que sem igual
Refaz a vida mansa e sem ressalto,
Tomando as nossas mãos supera umbral
Da dor que nos vigia em sobressalto...

Olhando para longe, na amplidão,
Vislumbro o teu olhar mirando em mim.
Os rumos desdenhados da ilusão,
Tomando o coração fazendo assim,
Que o braço bem mais forte da paixão,
Ganhou e seduziu até no fim...

Por isso, enamorado não me canso,
Enquanto o teu olhar, distante, alcanço...

X

Falar de tal amor que a gente sente
Com tanta mansidão, delicadeza.
Mostrando quanto amar se faz urgente
A quem quer, nessa vida, tal beleza
Que o faça ser feliz integralmente,
Seguindo da esperança a correnteza.

Os olhos perfumados deste amor
Ao verem que este canto não se cansa,
Mirando no futuro promissor
Que a vista de quem sonha sempre alcança
Mostrando quanto a vida tem valor,
Firmando amor e sorte em aliança.

Dois corpos que se sentem bem amados,
São fortes, não se vergam se acoitados...

X

Amor tão engenhoso em seu ardil,
Embora tantas vezes sou esquivo,
Numa palavra mansa ou mais gentil,
Ao ver-me nos seus braços vou cativo.
A flecha que atirou me descobriu
E dessa seta nunca mais me esquivo.

Quem sempre se pensara estar fadado
À dura solidão do dia a dia,
Sentindo o forte amor aqui, do lado,
Entrega-se aos rumores da alegria,
Mesmo que o tempo esteja mais nublado,
Amor descortinando a fantasia.

Nos sonhos que perdera está reposto
O doce do amargor do amor, seu gosto...

X


O vento da saudade que me varre
E leva meu amor por outros montes.
Não quer que minha sorte em ti se agarre
Nem quer que eu te vislumbre em horizontes.
Meu sonho nos varais que eu não amarre
Talvez isso me seque tantas fontes.

Detalhes esquecidos no caminho,
São meras ilusões; isso não nego.
Anárquico desejo: passarinho
Sem asas que em meu peito não carrego.
A noite que virá banhada a vinho,
Travando minha mão, amor e prego.

As trilhas escondidas de tocaia,
Morena o vento beija tua saia...

X

Ao fim da tarde, sinto no crepúsculo
Saudade de quem foi e não voltou.
Amor que em tanto tempo foi maiúsculo
Agora só lembrança, o que restou.
O coração não passa de um corpúsculo
Que ausculto bem distante... e não parou...

A pedra da saudade vai rolando
E traz ponta cabeça, o meu futuro.
De novo quase estou me desatando
Mas vem a solidão, revolta o escuro.
Amor chega ligeiro e tocaiando
Me pega neste salto atrás do muro.

Deixar isso de lado? Não compensa,
Quem sabe chegue um dia, a recompensa...

X

Desejos tão vaidosos e profanos,
Habitam nosso quarto a noite inteira.
Dos gozos mais divinos e mundanos
Da forma mais gostosa e corriqueira
Os beijos e delírios mais insanos,
A noite sempre é nossa companheira...

Fazendo tanto amor sem piedade,
Bebendo de nós dois, nada separa...
Num raio trovejando claridade,
No gosto desta boca doce e rara;
Tornando nosso amor, cumplicidade
Num jogo que começa e nunca pára...

Abrindo calmamente tua blusa,
Os seios maviosos, deusa, musa...

X

Ao te sentir sonhando junto a mim,
Sorrisos escapando de soslaio
Tu tens todo o perfume do jasmim,
Delicadeza de uma flor de maio...
Teu nome tão sublime digo enfim
Em toda prece e quase que me traio

Na santidade imensa deste amor,
No templo e nesse altar que é divinal,
Beijando mansamente este esplendor,
Teu corpo aqui sereno, sem igual.
Depois de tanto tempo de torpor
Acordo no teu sonho magistral.

E vejo a noite inteira se passando,
Tua beleza rara, eu adorando...

X

A pomba da esperança me deixou
Sozinho neste cais, ao vento breve,
O meu canto impreciso, o que restou
No tempo que se foi, que a dor não leve
O gosto desta vida que amargou
Somente teu carinho que me enleve

E salve desta errante caminhada
Por entre mil jazigos da saudade.
Depois de tanto tampo quase nada
Do que tive na vida foi verdade,
Somente a mão divina abençoada,
Que trazes companheira em amizade...

Meu coração que estava assim sem rumo,
Depois de te saber, acerta o prumo...

X

Desejo tão profano e animal
Tomando nossos corpos, vou faminto...
Sorvendo este prazer de mel e sal,
Em cores variadas eu me pinto
E sinto o teu perfume sensual,
Me inebriando sempre teu absinto...

Tu danças, cavalgadas, noite ardente.
Na febre que nos toma, loucas horas...
Sentindo em tua boca cada dente,
Carinhos, mais carícias, tu me imploras...
E a cama se tornando mais fervente
Mais vezes, muitas vezes... me decoras...

E sinto tua gula mais audaz
No amor que a gente fez, e quero mais...

X

Sem ter o teu carinho, nada sou;
Um barco que se perde num naufrágio,
Vazio que a saudade me deixou
Num coração sensível quase frágil,
Do mundo que meu sonho imaginou,
Apenas o que resta é como um plágio...

Espero tuas mãos como se um bote;
Fossem neste mar tão revoltoso...
Pra quem só teve amor como seu mote,
Perder o teu carinho é doloroso,
Secando logo a fonte, quebra o pote
E vivo o que me resta sem ter gozo...

Amada, sei que fui só teu, inteiro..
Amor que sempre tive, verdadeiro....

X

Ao vê-la, companheira de viagem,
Sorrindo, tranqüilizo meu viver.
A sorte que não seja uma miragem,
Depois de tantas dores, do sofrer.
Que a vida te permita nova aragem
Que o mundo traga a paz. Já posso ver

Neste sorriso calmo, uma esperança;
Que nada mais prossiga em sofrimento.
Nos vales prometidos, nova dança,
Dos dias mais doídos de tormento
O amor com sua forte temperança
Refez esta alegria num momento....

Amiga, estou feliz vendo-te assim.
Teu canto tão bonito ecoa em mim...

X

Em todos os caminhos o perigo
Se esconde em cada curva, em cada risco.
Te quero, companheira e já nem ligo
Se tenho que ficar assim, arisco.
Depois da caminhada o meu abrigo
Debaixo desta lua, argênteo disco.

Um sonho que se torna uma quimera,
De tudo o que mais caro possuíra,
O amor que, sei, embalde já quisera,
Morrendo entrelaçado com mentira,
Amiga, tu bem sabes desta fera
Do amor quando em rancor afinal vira,

Mas tendo o teu carinho, um braço forte,
Amiga não temi nem mesmo a morte...

X

Manhã trazendo todo o seu frescor

Invade nosso quarto e nos provoca;

Deitados, mergulhados no torpor,

O deus enamorado nos convoca.

No cheiro de lavanda que se espalha;

Percebo tua boca desejosa,

Unidos pela mesma cordoalha

Deslumbro essa manhã maravilhosa.

E vamos; navegantes sem destino,

Rompendo mais um dia prazeroso.

Hedônico delírio de um menino,

Passando com amor em pleno gozo;

Sem hora de chegada ou de partida,

Os dias mais felizes desta vida.

X

Passar pela janela enquanto sonhas,
É como viajar pelos espaços,
Sentindo o teu perfume nestas fronhas,
No travesseiro solto, tantos laços...
As noites em promessas tão risonhas,
Terminam sem poder te dar abraços...

A lua que em teu quarto sempre via
A tua transparência que revela,
O mundo mais bonito em fantasia,
Na luz bruxuleante de uma vela,
Compondo no teu corpo a poesia,
Que sempre desejei fazer, mais bela...

Na rua, caminhando tão sozinho...
No teu quarto, tão próximo, um carinho...

X


À luz da lua, pálida, dormia,
Sua nudez mostrada na janela,
A natureza em festa, então sorria
Deitando o doce vento em torno dela.
Ao longe um coração tudo sabia,
Mas não podia estar junto com ela...

Os anjos passeando pelo céu
Ao verem tal beleza esculturada
Clamavam pelo amor, lindo corcel
Que vinha assim deixando-a extasiada.
Meus lábios ao sentirem raro mel,
A vida se tornou mais encantada...

Às noites vou velando o seu cansaço,
Decoro de seu corpo todo traço...

X


Incandescentes lavas borbulhando
Nesta cratera imensa do desejo.
Paixão sem precedentes nos tomando,
Nos corpos dominados, um latejo..
Um látego prazer nos devorando
As línguas são açoite em cada beijo...

Mistérios ministrados em paisagens
Bordadas
nestas telas, carne viva,
As mãos vão vasculhando uma pilhagem
Que faça nossa noite mais altiva.
Os rastros desejosos da viagem
Marcados pelos mucos e saliva...

Pois ébria destes vícios mais profanos,
A noite se desnuda em vários planos...

X

Por mais que assim disfarce minha dor,
Sorrindo pelas ruas, até brinco.
Mostrando-me iludido em meu penhor,
Tentando demonstrar algum afinco,
Meu coração se mostra como for,
No desabrigo o vento leva o zinco,

Da casa desabada nada resta
Senão esta risada pobre e vil.
O gosto desta vida já não presta
A sorte me prepara o seu ardil,
Perdido sem ter rumo na floresta,
Meu rosto já me espelha: um imbecil...

Meu grande amor, eu sei que te perdi,
Vivo fingindo então que te esqueci...

X

Perdoe se não pude oferecer
Meus olhos como peça em sacrifício,
Além do que pretendes posso ver,
O sentimento amargo deste ofício
De amar além de tudo e perceber
Depois que para ti, somente um vício...

Sou mar que não tem praias nem fronteiras,
Sou esmo vou tão ermo e morro só.
As luzes que te dei tão verdadeiras,
Mas volto novamente ao mesmo pó,
Cansaste meu amor, da brincadeira,
Destino me moeu, foi pedra e mó.

Mas trago minha amada, doces, flores,
Quem sabe inda vislumbre meus amores?

X

Os teus olhos abertos pro futuro
Percebem outras luzes bem mais fortes.
Indefinidos véus tomando o escuro
Fantasmas variados, vagos portes.
Mas sabes discernir o chão mais duro
E mudas meus caminhos, nossos nortes...

Tu és o meu farol em ilha morta,
Vigora teu bom senso e lucidez.
A senda que eu seguira, mouca e torta
Agora a se tomar de sensatez.
Com calma, devagar abrindo a porta
Indicas o caminho em que se fez

Os rumos mais serenos e cordatos
Logrando os pensamentos insensatos...

X

Velhas tristezas morrem sem remédio
Quando uma amizade se faz forte,
Não deixa mais que a dor em duro assédio
Revolva e transtorne nosso norte.
Amiga, não permita mais que o tédio
Invada a nossa vida como a morte.

A voz que nos guiou tão impoluta
Convida para a festa em galhardia.
Não teme nem disfarça, quer a luta
Que traga novamente a fantasia.
Silêncio em nossa vida não se escuta,
Mais forte grita o canto em poesia.

Uma saudade foge amortalhada,
Pelo clivo da amizade bem marcada...

X

Teus sonhos de grinalda, véu, vestido;
Há muito se perderam pela vida.
Jogado pelos cantos, esquecido;
Numa visão distante, de saída...
O príncipe morrendo em triste olvido,
A noite sem prazer, mal resolvida...

Prá que tanto pudor querida amiga?
O mundo que sonhavas não existe.
Castelo desabou em frágil viga,
Ao vento da verdade não resiste.
Impede que ilusão, enfim prossiga,
A boda terminou. De velha e triste...

Depois de tanto tempo amordaçada,
A mão que te tocou não é da fada...

X

Vibramos nossos sonhos em luxúria
Rolando
a noite inteira sem pecados.
Na fortaleza imensa em louca fúria
Destinos são cumpridos, nossos fados,
A paixão nos tomando, nessa incúria
Os beijos desejosos, altos brados...

Caminhos percorridos pelas mãos,
Entregues à loucura, insensatez.
Desejos mais profanos e pagãos
Tomados pela noite a cada vez,
Adentram os sentidos, fendas, vãos,
Destroem o que fora lucidez...

Te quero, minha deusa tão lasciva,
Na noite de paixão, mais permissiva...

X

Persigo-te em caminhos, flóreas sendas,
Dolentes os teus passos, meu encanto...
Essências magistrais em belas rendas
Enlanguescente mostras o teu canto.
Que à sorte tuas sanhas, sempre ascendas,
Tu és da plena glória, um helianto..

Desfilas teus olores divinais
Em todas as andanças que perfazes;
Teus olhos são por certo, magistrais,
Fulguram como a lua em suas fases,
Te quero bem assim, e muito mais.
Tu és do meu porvir colunas, bases...

Harmoniosamente vivo em ti,
A gênese do amor que, enfim, vivi...

X

Se saio na noitada, na balada,
Bebendo tanta boca por aí,
Até me embriagar da madrugada
Amando simplesmente o que senti
Nas horas que passamos, minha amada,
Na roupa que contigo, desvesti.

Se cabe mais um gole, não dispenso,
Tomar teu corpo todo para mim.
Acalma e não me deixa assim tão tenso,
Viajo sem destino até o fim.
E sei que tu trafegas no que penso,
Aos olhos do vestido, puro brim,

Jogado neste quarto de motel,
Sugando gole em gole todo o céu...

X

Não sabe que sozinho, aqui, padeço
Desta vontade enorme de você.
A cada novo passo, outro tropeço;
Não tenho nem mais sei deste por que;
Aos poucos vou sentindo que enlouqueço
Procuro por seus braços, mas cadê?

Apenas solidão bate na porta;
No frio desdenhoso da saudade.
Esperança agonizante e quase morta
Reflete o que mais sinto, na verdade.
A vida não seria assim tão torta
E nem seria dura a realidade

Se amor soubesse assim quanto desejo,
Apaixonadamente só um beijo...

X

Te levo para o canto, encruzilhada,
Beijando tua boca, a mão se perde.
Encontra tua porta escancarada
Aos poucos, sem juízo, a noite cede,
Depois a noite plena, enluarada
Juízo não mais pede nem se mede..

Sem farsas nem mentiras, nossa entrega
Nos cantos e nos becos da cidade,
A vida se passando, amor se esfrega
E deixa um bom sabor; felicidade.
Paixão nos devorando, louca e cega;
Explode num prazer, deixa saudade...

Nas camas, cobertores e lençóis...
Depois enfim casamos... E ai de nós...

X

Tua pele de louça, éter e sonho.
Vivendo por um triz a cada dia.
Marujo deste mar, meu barco ponho
Na vida dessa moça, fantasia...
Quem sabe se terei um cais risonho
Depois de naufragar tua magia.

É perigoso ter felicidade
No jogo de perder, nunca ganhar.
Não há nada no mundo que me enfade
Mais do que essa saudade a te buscar.
Por isso, por favor, por caridade,
Depressa vem comigo, mergulhar

Numa ilha bem distante, paraíso,
Perdendo todo o rumo e sem juízo...

X

Amor que já suplanta cordilheiras
Não posso mais conter aqui no peito.
Tocando o teu olhar, amor não queiras
Que eu viva, de outra forma, satisfeito.
As flechas dos teus olhos, tão certeiras,
Convidam para a festa, para o leito...

Embora não desejes meu desejo,
Embora não percebas totalmente
O quanto que em teu corpo, amor almejo,
Viver uma aventura persistente.
Vem logo, me beber em cada beijo,
Amar-te é necessário e tão urgente.

Quem sabe se vier pedirás bis,
Não custa quase nada ser feliz!

X

Pedido que se fez para uma estrela
Cadente numa noite de verão.
Vontade de beijá-la e de revê-la
Tomado pelos laços da paixão.
Depois de tanto tempo, conhecê-la
Foi toda a minha sorte e solução.

Eu quero o teu carinho aqui, comigo,
Não sei mais de outra forma de viver.
O mundo desabando, mas nem ligo,
Não quero outro caminho conhecer.
Estrela prometeu me dar abrigo,
Agora sem te ter, o que fazer?

Bem vi que esta esperança foi morrente,
Estrela que se fez assim, cadente...

X

Não quero mais o mal a me enganar
Forjando uma esperança em cada rosto.
Não quero mais um duro despertar
Nem quero conceber novo desgosto.
Meus olhos nos teu corpo, luz solar,
Trazendo um novo sonho assim exposto...

Quem fora dedicado ao grande amor,
Não deve ser ferido por mentiras.
Talvez uma manhã, neste esplendor,
Refaça um coração cortado em tiras;
Mesmo que seja assim, só por favor,
Desejo que esta boca tu prefiras

E beije-me tranqüila e mais serena,
Senão esta tristeza me envenena...

X

Voando pra distante dos meus braços,
Uma avezinha foge deste amor.
Meus olhos vãobuscando, tristes, lassos.
Aguardam no futuro recompor
O que se fora paz, ganhando espaços
Distantes do meu canto sonhador.

Ferido pela flecha de Cupido,
Que faço se não posso ter você?
O mundo vai ficando sem sentido,
Procuro uma esperança, mas cadê?
Vem logo que eu estou bem decidido
E quero o seu amor, como se vê.

Amor tão descuidado, passarinho,
Maltrata um coração tão pobrezinho..

X

Tão grande esta promessa que te fiz
De ser a ti fiel, a vida inteira,
Pois saibas, um amor se faz feliz
Noutra alma que te seja companheira,
Não trame no meu peito em cicatriz
A
dor que te acompanha, verdadeira.

Não quero te enganar, mas já te peço
Não deixe a solidão chegar aqui,
Querida, em meu caminho não tropeço;
Tu és toda a beleza que vivi,
Amar é renovar mesmo processo,
Vivendo todo o bom que existe em ti.

Mas não me deixe mais, assim, sozinho...
Amar é cultivar pleno carinho...

X

Amiga, com certeza um passo cego
Impede que proclames esperança.
Errei, posso dizer, eu nunca nego,
Minha memória triste já te alcança
Bem perto de teus olhos, eu me achego
E sinto que está vivo na lembrança

Todo este desvario cometido,
Na insensatez terrível de um momento.
O vento de meu passo distraído,
Feriu quem não devia, em sentimento.
Agora chego a ti, vou resolvido,
Falar desta amizade, num alento...

A falha que na vida me acompanha,
Desculpe se te trouxe dor tamanha...

X

Amor que me envolvera totalmente
Não dando sequer chance de defesa,
Pintando mil segredos, de repente,
Invade novo rio em correnteza.
Se fora bem mais calmo, docemente,
Talvez me permitisse a sobremesa.

Senhora de meus sonhos, rigorosa,
Bem sabe dos meus erros do passado.
A mão que cultivou a bela rosa,
Às vezes se esqueceu que existe arado
Maltratando esta flor maravilhosa,
Carinho prometido e nunca dado...

Mas peço, encarecido, o teu perdão,
Quem sabe nosso amor tem solução?

X

Não canso de sonhar e desejar
Rolando em minha cama, estou sozinho...
Comigo só um raio do luar
Tomando em claridade nosso ninho.
Aguardo ansiosamente o teu voltar,
A noite vai passando sem carinho...

Tua pele macia, o teu sorriso,
A boca tão molhada e tão gostosa..
É tudo o que mais quero e mais preciso,
Sentir o teu desejo, amada rosa,
Tua volta ansiada, sem aviso,
Promete nova senda maviosa...

Porém estás distante... e até quando,
Eu ficarei aqui só desejando?

X

Amor como um clarão relampejando,
Cortando escuridão da solidão
Se faz em sentimento desde quando
Nos toma e nos decora sem perdão.
Queimando fartamente em fogo brando
Provoca vez em quando uma erupção...

Aí, fazer o quê? Seguir seu passo
Deixando o pensamento bem liberto
Voltando pra morena, quero abraço
Desde o momento alegre em que desperto
Depois de tanta luta e do cansaço
Morena quero estar aqui, bem perto

Dos olhos mais bonitos que já vi,
Vem logo não compensa estar aí..

X

Mesmo que pareça mentiroso
Meu canto mais feliz nunca mentiu.
Às vezes te pareço um ardiloso
Que engana com palavra mais gentil,
Porém toda alegria dor e gozo
Por certo quem poeta já sentiu.

No vento que me trouxe veraneio
Na areia em que tostei meu coração,
Nos olhos de quem vive tanto anseio,
Nas mãos sempre perdidas no perdão.
Na doce sensação do belo seio,
No rosto da saudade, na emoção...

Falar do que mais sinto, amor demais,
Se mostra em cada verso e sempre mais...

X

Se tu soubesses quanto quero o canto
Que encanta e não me canso de cantar
Falando deste amor sem desencanto
Que quero todo dia sem cansar.
Amar é conseguir calar o pranto
Que insiste volta e meia a me encharcar.

Te espero no meu leito de batalha,
Navalha exposta em riso flamejante
Para outra estrela sempre amor atalha
Depois solta seu grito triunfante.
Na sorte que não veio me retalha
E sabe quanto quero d’hora em diante.

Amar é beber sorte em canudinho,
Morrendo de saudade em pleno ninho...

X

Teu corpo majestoso em minha cama,
Febril e desejoso, mil promessas,
Querida sou servil e empresto a chama
Te quero conceber mesmo às avessas.
Em todos os carinhos, farta gama,
Com toda paciência sem ter pressas...

Teu fruto tropical, doce umidade,
Luxúrias opulentas, teu frescor.
Dois corpos se entrelaçam, unidade
Vigora em nossos jogos, nosso amor...
Orgásticos jograis, saciedade,
Deslumbre tão lascivo e tentador...

Decoro assim a tua geografia,
Na noite inconseqüente de folia.
..

X

Tomada por luxúria e por desejos
Numa espiral de sonhos belicosos,
Ardência flamejante em loucos beijos,
Fornalhas emanando tantos gozos.
Fúria descomunal em relampejos,
Magias e venenos fabulosos

Requebros tão vorazes, bamboleios,
Sensualidade intensa tão ardente.
Delícia demonstrada em belos seios
Em convulsão feroz e mais freqüente
Cabelos revirados em meneios
Sorriso
cristalino e transparente...

A noite se passando nesta dança
Bacante desejosa, o céu não cansa...

X

Quando ansiosamente te propus
Indômitos segredos palpitantes,
Imagem lacerante que compus
Andanças por estradas mais errantes,
A mão que inebriada nos conduz,
Ao campus soberano dos amantes...

Luxuriantes sendas, carne e gozo,
Num quarto de motel, beira de estrada,
E neste ato carnal, tempestuoso,
Depois de quase tudo, o quase nada...
O vazio onde fora fabuloso,
A queda após a bela cavalgada...

Sorrio, sem sentido e sem vontade...
É duro o retomar realidade...

X

Eu sei que não fui feito pra te dar
O mundo que mereces, meu amor.
Estrela que se fez neste luar
Rompendo toda a noite em esplendor.
Só trago uma esperança em meu olhar,
Bem sei que sou somente um sonhador...

Um resto que caminha pelas ruas,
Nos bares, nos botecos, aguardentes...
Enquanto em pleno brilho continuas,
Sorrisos, lábios, olhos, envolventes.
No palco desta vida, amor; atuas
São tuas minhas horas mais prementes...

Eu te amo e ninguém pode censurar,
O chão, mesmo que em sombra, vê luar...

X

Teu vulto passeando no meu quarto,
Na luz de um abajur, bruxuleante...
Num trêmulo retrato de um instante,
Prazeres... o desejo, calmo e farto...

Ao ver-te passar, sinto o teu perfume,
O rastro da pantera extasiada.
Na transparência bela e demarcada
Por esta claridade vaga-lume...

Teus seios, tuas pernas sombreados
Cabelos soltos... vejo tal beleza
Que traz, neste momento esta certeza
Aos olhos que acompanham cada passo.
Exaustos, satisfeitos e cansados.
Te viras, surpreendendo-me... disfarço...

X

Mordazes sensações, profundas chagas
Mostradas entre sorrisos e carícias...
Resquícios de distantes, outras plagas,
Misturam mansidão, gozos, malícias.
Ferina, mostra os dentes e me afagas,
Palavras carinhosas são fictícias...

Mas cedo ao teu feitiço e fico aqui,
Tal qual presa esperando pelo bote.
A faca que escondida, guarda em ti,
Quebrado há tanto tempo, mel e pote,
Nos olhos viperinos sempre li
Não tenho mais defesa que rebote

Os mórbidos momentos, noite e dia...
Mordazes refletores da agonia...

X

Nossos corpos febris em noite clara,
Nas curvas derrapantes, capotei.
Vibrando a precisão que nos ampara
Invado teus domínios. Encontrei
A jóia que queria, pedra rara
Aos teus fascínios, manso, me entreguei

Tesouro que escondeste bem guardado
Castelo divinal em gruta bela.
Aos poucos, calmamente penetrado,
Riquezas sem igual, logo revela
A chuva vem caindo... extasiado
Meu corpo no castelo quando atrela

Demonstra a tempestade mais gulosa,
E a noite assim se vai, maravilhosa...

X

Sombras desfilando em nosso quarto
Sombras do que fomos e matamos...
De cada novo amor, marcado parto,
Aromas e perfumes que estragamos.
Agora que afinal estou mais farto
Fingimos delicados: nos amamos...

Teu rosto não rebrilha nem o meu,
Os trilhos se encontraram no cansaço.
Depois deste universo que bebeu
Restou somente o gole deste espaço.
Palavra que este amor me convenceu,
Melhor adormecer que ter teu braço...

As rendas e veludos desbotados,
Apenas velhas penas e os enfados..

X


Ondulas tua língua em meu desejo
Tocando com saliva cada ponto.
Na profusão confusa deste beijo,
Aos poucos me enlevando, fico tonto,
O fim deste caminho já prevejo
Chamas-me pra batalha, eis-me, estou pronto.

Depois, vou divagando em teus caminhos,
E subo devagar, bocas molhadas...
Tocando o mar salgado destes ninhos,
As hordas invadindo, delicadas...
Ao desfrutarmos juntos dos carinhos,
Nas ondas deste mar convulsionadas

Deitamos descansando em plena areia
Tritão apaixonado por sereia...

X

O teu sorriso calmo e tão dolente
Demonstra tanta paz e mansidão.
Refaço minha vida totalmente
Nos braços que prometem novo chão.
A vida se renova de repente
E traz novo futuro e solução.

Amiga, em meus momentos doloridos,
Eu sei que tu me deste teu afeto.
Mostrando novos sonhos coloridos
Um mundo mais gentil e mais dileto.
Os males que passei adormecidos
Em teu carinho imenso me completo

E venho agradecer o teu amparo,
Teu sentimento nobre que é tão raro...

X

Amiga, tanta angústia a me ferir..
Meus versos são navalhas contundentes
Não posso mais calar, nem vou pedir,
Os dias são adagas mostro os dentes
Mas nada do que faço faz surgir
Aquelas emoções mais envolventes...

Eu bebo, fumo, trago, estrago e aí?
Problema meu, a morte vem ligeira...
Se tudo o que queria despedi,
A dor que me acompanha, costumeira,
Meu rumo, minha estrada eu já perdi,
A lua não achei, partiu-se inteira

Teu gesto de amizade, o que me resta,
Amiga, vem comigo para a festa!

X

O som da tua voz, doce e macio,
Chamando para a festa do prazer..
A chuva matizando o tempo frio,
Incenso aromatiza o bem querer.
Volátil coração antes vazio
Agora do teu sonho quer viver..

Rondando nosso quarto, fogo lento,
Ondeias pela cama inebriante.
A fome insaciável toma assento,
Nas sedas e veludos, cada instante
Se mostra mais sutil, lascivo vento...
A transparência viva e provocante

Convida num sorriso, corpo e mente,
A noite vai , despudoradamente...

X

Amor, partenogênese fantástica
Que traz do nada, o tudo insuperável...
Mostrando sua face mais elástica
Nos morde de maneira mais amável.
Notícia que se torna mais bombástica
Bebendo solução mais intragável.

Leva todo o bom senso pra falência
Derruba um matagal de sensatez.
Amar é sucumbir com inocência,
Perder de uma vez só, a lucidez.
Depois pedir por paz, pela clemência
Após a guerra louca que já fez...

Amor é ser cruel, sendo servil.
Amar, trazer remanso, a um ser vil...

X

Viemos das fornalhas ilusórias
Do gosto da senzala e do bordel.
No sangue que vertemos, as histórias
Emanam tantas manchas para o céu...
Na marca em cicatriz, tantas memórias
Dos sonhos que passamos, sujo véu...

Mas temos o sorriso desdentado
Nas mãos que calejaram-se em labuta.
Os olhos num futuro desregrado.
Viemos da tortura em força bruta
Do parto quase aborto, improvisado...
Da fome acumulada em cada luta.

Trazemos nossos olhos por pendor.
E o peito escancarado em pleno amor...

X

Encontrei-te nos ócios desta vida,
Bebendo da sarjeta, o mesmo bom,
Na paz que nunca fora construída
No gosto apodrecido de um bombom,
Por isso é que te adoro, amor, querida....
Roubamos sem saber o mesmo tom...

Fica comigo, amiga, camarada,
A noite se promete em mil relances
Fazer amor debaixo de uma escada,
Sentindo os passos todos nos seus lances,
Transar a luz de cada madrugada
Tomando com prazer estes romances

Do gosto do quem fora, mas se fez,
Nos trapos colorindo insensatez...

X

Quantas vezes perdido pelas ruas
Fiel aos meus desígnos prometidos,
Na busca por mentiras seminuas
Nas saias, nos requebros, nos vestidos,
Nas pernas tão roliças, carnes cruas,
Vivendo das paixões mal resolvidas...

Quantas vezes sangrando em cada porre
Nos becos, nos botecos, nos puteiros,
O sangue em cada corte ainda me escorre
Dos meus velhos entraves bandalheiros,
Nem mesmo o que nós fomos mais socorre
Destes canibalismos verdadeiros...

Quantas vezes risonha meretriz
Me mostra como agora sou feliz!

X

Por esta estrada límpida e divina
Vieste derramando o teu perfume.
Na senda maviosa e cristalina
Teus passos magistrais são de costume.
Tua beleza rara me fascina
O teu olhar de deusa, um mago lume...

Quem dera se pudesse ter abrigo
Nos passos que desfilas no caminho,
Andando a vida inteira assim, prossigo
Por certo não serei jamais sozinho.
Um sonho tão feliz e tão antigo
Se mostra em cada gesto de carinho...

Meus olhos te buscando vacilavam...
Teus pés longe do solo flutuavam...

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