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Saturday, December 22, 2007

SONETOS 083E 084

X

Eu vi teu nome exposto na manchete
De todos os jornais e nas revistas.
A foto da nudez que se repete
A deusa principal entre os artistas.

Lembrando o carnaval, tanto confete,
Bebendo teu suor, antigas listas.
Nas cenas já mudaste teu esquete,
Dançaste teu amor em outras pistas.

Dormiste no passado, sem futuro,
Mas foste toda minha, não o negues.
Tomamos caipirinhas, chão tão duro...

Embora outros caminhos já navegues,
Na cama que escolhemos, lua cheia...
Teu nome... Foto exposta... Inda clareia...

X

Pela estrada da vida caminhando,
Levando uma alegria benfazeja.
Pergunto-te querida, como e quando
Terás todo este sonho que deseja.

Os dias pelas ruas desfiando,
No céu que te bendisse e te azuleja
Nas cores e nos brilhos te tomando,
Além do que se quer e se preveja...

Amor que te domina e te refaz,
Na aurora desta vida que cumpriste.
Mostrando o sonho intenso e mais voraz,

Calando a velha dor de não ter sido,
Sorrindo quando ocultas o ser triste
Que vai a cada dia, adormecido...

X

Tomando cada verso como espelho
De um dia que sonhara e nunca veio.
Na vida não ouvi sequer conselho,
Seguindo cada passo sem receio.

Um amuleto trago, um céu vermelho,
Usando a liberdade como um meio,
Eu não irei meter o meu bedelho
Aberto o coração, num devaneio...

Do medo em que emergi, nada mais trago
Nem mesmo a solidão traz dor e pranto.
De tudo o que vivi sobrou o estrago

Dos olhos esquecidos sobre a mesa,
Amiga, não permita que este canto
Te torne bem mais frágil e indefesa...

x

Eu trago para ti meus tristes olhos,
Marcados pelas dores do passado,
As flores prometidas, morrem molhos
Meu medo sempre foi bem demarcado.

Pastores colocaram tais antolhos,
Negando uma visão, não tenho lado,
Sobrando a plantação destes abrolhos
Do amor sempre distante, destroçado.

Mas trago meu olhar, Senhor meu Pai,
Apenas o que tenho nesta vida.
Se a tarde em desespero sempre cai,

Amigos que plantei nao os colhi,
Por isso meu amigo, em despedida,
Tu és a redenção que recebi...

X

Falando deste sonho de moleque
Que soube ser feliz por certo tempo.
A vida vai se abrindo em frágil leque
E nega, por instantes, passatempo.

Carrego no meu peito tal saudade
Das coisas que não fiz, nem mesmo quis.
Agora a noite impede a claridade,
Mas mesmo assim percebo ser feliz.

Por ter essa morena, amor demais,
Rainha dos meus dias de criança.
Amar é descobrir que a vida traz
Além de uma verdade em aliança

Um
canto benfazejo de alegria,
Amor que se faz festa todo dia...

X

Sentir em cada toque mais ardente
Desejos que me invadem, tão vorazes.
Vontade de te ter, amar urgente,
Afetas meus sentidos, perco as bases.

Tu és audaciosa, e sempre quente.
Carinhos que me dás, demais audazes.
Na chama que flamejas se pressente
Muito além do que penso são capazes...

Na perfeição completa-se o desejo,
Fascínio que conquista e me domina.
O quanto que te quero em cada beijo

O quanto que me queres, minha amada,
A boca desenhada me alucina,
Tomando minha sorte extasiada...

X

Cismando pelas ruas, solitário,
Recebo o vento amargo da ilusão...
A vida vai expondo o meu calvário
Formado pelos braços da paixão.

Amar assim demais é temerário,
Dizia a sábia voz do coração.
Amor que não respeita calendário,
Causando a cada dia uma explosão...

Recebo tua carta, marinheira,
Que busca em cada porto uma alegria.
Embora reconheça verdadeira

Esta emoção que dizes em teus versos.
Eu peço meu amor, bem que podia,
Deixar os outros mares tão dispersos...

X

Inundando esta imensa vastidão
De toda uma esperança, reamar.
Na força da enorme da paixão,
A cada novo sonho te encontrar.

Bebendo desta luz em explosão,
Navego tão profundo e belo mar,
Nos vórtices mais altos, coração,
Sangrando e se entregando sem pensar...

As águas tão distantes da amargura,
Se vão em cachoeiras de prazer.
Na noite tão profusa uma ternura,

Tomando pouco a pouco este meu eu,
Na luta por poder sobreviver,
A força deste amor já me venceu...

X

Teu sexo perfumado e tão gostoso,
Exposto nesta noite, acesa a chama.
Escondes um segredo mavioso
Na chave deste cofre que reclama.

Recebo em raro aroma, glória plena,
E vago sem destino nos lençóis,
A mão que me acarinha cedo acena,
No gozo deste gosto mais feroz...

Na doce framboesa que desfruto,
Amoras em teus lábios, sedução.
Meus olhos te vasculham, vou astuto;
Tuas romãs divinas, tentações...

Serpente ,te agradeço num sorriso,
A porta que me abriste, paraíso....

X

Galgando cada parte deste sonho
Vislumbro mil montanhas, belos vales.
Depois deste delírio tão risonho
Debaixo do vestido,saia e xales.

Amor sem sortilégios te proponho,
Não deixo que em mentiras tu me cales,
Vibrando em cada dedo que te ponho,
Gemidos e suspiros, que tu fales...

Num átimo um desejo tão carnal
Vencendo uma razão que se perdeu.
Nesta opereta insana e assim carnal,

Rebenta toda a corda, sanidade,
Teu corpo se confunde com o meu
Nos atos que profanas, liberdade...

X

Vislumbro uma voraz insaciedade
Tomando a bela forma de mulher.
Levando assim a tal insanidade
Do jeito que puder e que vier.

Pedintes, os teus olhos, me suplicam
Amor como um vulcão que não se aplaca,
Estrelas em teu corpo já salpicam,
Nos olhos desejos uma estaca

Que adentra tua sala, cama e quarto,
Em tal sofreguidão que não descansa.
Até deitar contigo, amor bem farto,
Tu sabes e desejas uma lança

Que vem e te sacia num segundo,
Bebendo o teu prazer no qual me inundo...

X

Menino que corria entre bandeiras,
Jogando toda a sorte em laço frouxo.
Depois de tantas horas mais certeiras
O passo se tornando roto e coxo.

Menino entre jaqueiras e quintais,
Olhando sob as saias da morena.
Deitando uma esperança nos varais,
No corpo da menina, a vida acena.

Agora se esqueceu desta criança
E morre de ciúmes sem motivos.
No gosto mais suave da lembrança
Os olhos do moleque sempre vivos...

Amor bateu na porta, um mensageiro,
Safado sem juízo, amor primeiro...

X

Ao ver-te se afastando dos famintos,
Toando um verso frouxo de mentiras.
Amores propagados vão extintos,
A roupa da esperança rota em tiras.

Ao ver-te tão distante das origens,
Rasgando o Evangelho, destroçando.
Numa preservação de velhos bens,
E o novo que surgia já abortando.

Ao ver-te Igreja assim, tão insensível,
Matando pouco a pouco uma esperança.
No Cristo que expuseste o combustível
Que impede amor em paz em aliança.

Tu matas o sentido da amizade,
Negando para nós, a claridade...

X

Viemos de outras terras tão distantes,
Marcados pelo ferro dos grilhões.
Nos barcos que viemos delirantes
Na fome e na desgraça em borbotões...

Viemos desses medos, dos farsantes,
Exclusos e vendidos, sem perdões.
Do ventre de outras terras, mais errantes,
Dos quilombos marcantes podridões...

Viemos não em busca de riqueza,
Sangrados em prostíbulos insanos.
Guerreiros libertários soberanos,

Na marca dos terrores, da tristeza,
No gosto da suprema liberdade,
Clamando tão somente uma amizade...

X


Tua boca desliza mansamente,
Roçando no meu peito, tão voraz...
Meus pelos arrepias levemente,
E mostra-se feroz e mais audaz...

Me entrego nos teus braços totalmente,
Além do que pensara ser capaz.
Sentindo tua boca, doce e quente,
Volúpias e desejos amor traz...

E aos poucos devorando cada gota,
Deitada sobre mim, sorriso branco...
A noite em mil carinhos não se esgota,

Te quero sempre mais, amor sou franco,
Depois de tanto tempo, mergulhando,
Te digo, simplesmente, estou te amando!

X

Sentindo cada dedo deslizando
Nos mapas desta mina, fonte pura,
Menina descobrindo e revelando
Sofreguidão que toca e me tortura.

Distante, na janela contemplando,
O riso que demarca esta aventura,
Da moça que delira, assim, brincando,
Em mãos que vão macias, com ternura...

Sorvendo cada gota do prazer,
Do rosto que se mostra contorcido,
Entranho escura senda pra sorver

As gotas da enxurrada prometida.
Ao ver esta beleza, convencido:
Não há nada melhor que isto na vida!

X

Ah! Como vais negar que foste minha
Se a boca está marcada pelo beijo.
Se a vida te desfez e vai sozinha,
Te quero com a força de um desejo.

Se a sorte no meu peito inda me espinha,
Se o tempo se perdeu, e nada vejo,
Se a morte deste amor já se avizinha,
Se nada mais percebo, e o fim prevejo.

Estás em cada verso que proponho,
Estás na fantasia que alimento.
Tu vives na verdade em cada sonho.

Embora noutros corpos me esquecesse,
Tu és o que me resta, o meu alento,
O beijo que me deste, a minha prece...

Baseado em NEGUE

X

Ouvindo-te dizer: como é tristonho!
Percorro velhas ruas, tantos becos...
Do mundo um paradeiro que proponho
Não ouve e nem recebe mais os ecos...

Quem fora uma alegria, um belo sonho,
Jamais se permitiu os repetecos.
Vivendo o frio vento, tão medonho,
Os olhos sem ter lágrimas, vão secos...

Tomado por tristeza e duro tédio,
Sabendo da enfadonha calmaria,
Não vejo nesta vida outro remédio,

De ter uma esperança que prossiga;
O toque mais sagaz desta magia
Que emana de teus braços, minha amiga...

X

Quando uma solidão bater à porta,
Já tão cansado, inerte, assim vencido;
A vida num segundo se reporta
Ao tempo mais distante, percorrido.

Toda a tristeza muda, se conforta,
Nos olhos de quem sabe já ter sido.
O frio temerário que me corta
Acalma-se depois de ter morrido...

Eu levarei teu nome, minha amiga,
E sonhos que se foram, tanto tempo.
Amar não foi somente um passatempo,

Foi o melhor que tive, nada mais.
Se a solidão no peito enfim se abriga,
Um resto de alegria, amor me traz...

X

Sentir o teu perfume alucinante
Gerado nestes êxtases sem par.
Estar contigo aqui neste rompante
Depor as minhas armas, me entregar
Ao gozo da luxúria deslumbrante
Deste mormaço insano a nos tocar...

Teus frutos, framboesas, mel e cana,
Nessa umidade doce e magistral
De divindade nua e soberana
Rolando nesta chama sensual,
Menina fantasia tão profana,
Um paraíso humano, amor carnal,

Rainha destes sonhos tropicais...
Morena tenho tudo e quero mais...

X


Depois de ter passado a vida inteira
Numa procura insana por amor.
Uma ilusão completa costumeira
Forrando este meu peito sonhador.

A sorte nunca foi a companheira
Deixando em suas marcas, sempre a dor.
Inverno vem chegando, vou sem eira
Restando só tristeza a me compor.

Quem dera a juventude retornasse,
Pudesse retornar aos belos dias.
Quem sabe assim amor eu encontrasse...

Mas nada me restou. A vida passa,
Retoma o que me trouxe em fantasias,
Cobrando pelo que me deu de graça...

X

Anjo noturno em asas deslumbrantes,
Andando nos meus sonhos, brancas ruas.
Os olhos, dois perfeitos diamantes,
As asas descobertas, carnes nuas.

Sementes espalhadas em rompantes.
Um anjo que me entorna bocas cruas,
Em sombras tão bonitas, radiantes...
Mulher que angelical, assim flutuas...

Virando-te do avesso, sexo e gozo,
Na dor transcendental de ser assim
Desejo que se fez voluptuoso,

Ardendo em sonhos loucos,sede e brasa.
Segredo meus anseios, cedo ao sim.
Desfruto de teu corpo, minha casa...

X

Saber de cada parte, corpo exposto,
Crescendo pouco a pouco, sedução.
Sentindo em tua boca todo o gosto
Deslizo em tua cama, tentação.

Mulher, como é bonito este teu rosto,
Sorriso que se aflora em perdição.
Na gula que te invade, já me encosto
E sinto em teu carinho, a vibração...

A língua me percorre sem segredos,
Aumenta o meu desejo, o teu sabor.
Amor que se faz manso e quer brinquedos

Rompendo estas barragens, tudo inunda.
Deitando levemente um bom torpor
Em sensação diversa e tão profunda...

X

Compondo uma esperança em puro amor,
Destroços rebentando do meu peito.
Abortando em botão matando a flor,
Deveras nada esteve do meu jeito.

Vazio que sobrou, nada compor,
Amor morrendo assim tão imperfeito.
Soçobra meu navio em plena dor.
Do vago que restou, um nada feito.

Mas vejo uma alegria em pleno breu.
Um gosto de ilusão, do sonho meu.
Bonança que se fez da tempestade.

Tocando o coração, fico contente.
Da sensação de paz, mais docemente,
A força benfazeja da amizade...

X

Viver apaixonado, sem medidas,

Saber que a noite chega e o dia vem

Por mais que sejam duras despedidas

Não se poupar jamais. Não morrer sem



Ter tido tantas lutas aguerridas

Na busca da esperança. Nada zen,

Mas é melhor tentar ter tantas vidas

Quantas vidas a vida sempre tem.



Paixão. Um sentimento intenso e soberano

Que amarga com ternura ou com tortura

Rompendo cada dique e todo plano,



Desfazendo o já feito e refazê-lo

Numa velocidade sem brandura.

E depois demonstrar carinho e zelo...

X


Caminho por estrelas quando vejo
Os olhos divinais que tanto quis.
Sabendo que vertido meu desejo
Na boca que me fez ser tão feliz...

Montanhas escaladas nos mistérios
Das noites que passamos acordados,
Amores envolvidos sem critérios
Demonstram velhos sonhos decorados...

Amada que me trouxe liberdade
Das fontes que percebo inigualáveis,
Vasculho pelos becos da cidade
Os olhos divinais inalcançáveis...

Divinos sentimentos são capazes
De penetrar amores mais vorazes...

X

Roçando minha boca em tua pele,
Aos poucos te despindo, mansamente.
Ao mais louco mergulho tudo impele
E avanço tuas trilhas calmamente...

O vento que te toca e te arrepia,
Na brisa tão suave dos meus lábios,
Em tantas profusões desta alegria
Percebo teus carinhos, loucos, sábios...

Me aventurando tanto pelas trevas
Que mostram belas sendas que procuro,
E peço que em meus mundos tu te atrevas
Trazemos nossas luzes, neste escuro...

Amando tão fremente esqueço os breus
Nos lumes, nas lanternas, todos teus...

X

Nossas peles retintas dos matizes

Diversos que o desejo preparou,

Roubando toda a cena, como atrizes

Que o tempo, sem saber, emoldurou.

Noites a fio somos mais felizes

No mar que nosso amor nos preparou.

Deitados sob a lua, nas marquises

Promessas que este tempo enclausurou

Nas nossas aventuras qual dementes

Roubando uma verdura destes matos,

Roçando com as bocas, olhos, dentes...

Impérios dos sentidos todos, tantos...

No sacrilégio insano, os meus retratos,

Fazendo nosso amor, imersos... Santos...

X

Vivendo tantas vezes por viver
Vencido por cansaço e sofrimento.
Espelho onde custei reconhecer
As marcas, cicatrizes do tormento.

Não quero mais um porto, nem um cais,
Seguindo minha vida sem timão,
Um sonho, ser feliz, não sonho mais;
O vento derradeiro, furacão...

Não posso mais falar, vou sem sentido...
Em tudo fracassei, isso é verdade.
Meu mundo, num segundo repartido,
O que posso dizer? Sequer saudade...

E surges mansamente e me domina,
A luz, que ao fim do túnel, ilumina...

X

Amiga, neste mundo triste e vão,
Toda a tristeza imensa, quase nada,
Matando pouco a pouco o coração,
Na sorte que se mostra abandonada...

As flores espalhadas pelo chão,
Na vida que se foi, despetalada...
Envolto pelas garras, solidão,
Amor, uma palavra assim riscada...

Amiga, me perdoe se não falo
Das coisas tão bonitas desta vida.
Destino se tornou um forte abalo

Trazendo para a vida, a tempestade...
A tarde vai morrendo, a dor cumprida,
Restando tão somente essa amizade...

X


Em busca da pantera dos seus sonhos,
Corcel desesperado alça um vôo
Por sobre tantos mares mais risonhos,
Os sonhos do corcel, cedo eu perdôo...

São sonhos como os meus, minha querida,
Envoltos em total ansiedade...
Esqueço destes males, salvo a vida,
Aguardo tanto sonho, liberdade...

Amor como nas tramas mais sutis,
Não cabe mais nos sonhos do corcel,
Que em toda sua vida sempre quis
Alçar um manso vôo pelo céu...

Pantera mostra as garras delirantes
Amor doma o corcel bem cedo e antes...

X


Mergulhando nos sonhos mais bonitos
Abraçando minha deusa tão amada.
Voando por espaços infinitos
Em busca da manhã iluminada;

Os raios deste sol brilhando tanto
Trazendo uma esperança, vivo amor.
Envolto na alegria, enfim te canto
E roubo deste sol todo o calor.

Amada como é bom viver contigo
Sem medo do tormento e da saudade.
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,
Eu posso conhecer felicidade.

Amada, vem comigo, eu te proponho,
Na noite viajar, planeta sonho...

X

O mar que me levou; levou amor
Nas ondas deste mar sempre vou eu
Vivendo destas águas lavrador
Quem lava minhas mágoas, já morreu...

As bocas que me beijam minha e sua
Os beijos que negastes quem me dá?
Desejo por desejo continua
E te pergunto sempre: quem vem lá?

Lá, por onde vou; tento navegar
Os beijos que me destes nada mais,
Eu beijo tantas ondas do meu mar,
Quisera meu amor, chegar ao cais...

As ondas que me beijam, tanto mar,
Pequenas são ondinas, vão passar...

X

Amiga, percebendo que chamaste
Por meu nome no vento que te trouxe,
Em alegria imensa transformaste
Um sonho que jamais pensei ser doce.

A sorte que por certo já banhaste
Muito mais que pensei que um dia fosse;
Quem antes se julgara um simples traste,
Num segundo mais forte iluminou-se.

Amiga assim tocando uma triste alma.
Em benção divinal por certo acalma
Quem antes só sofrera ansiedade.

E assim, pouco a pouco, vai surgindo,
Um dia mais feliz, decerto lindo,
No peito renasceu felicidade...

X

Espreito de tocaia quando passas,
Desfilas tuas pernas geniais.
Nem percebes mas sempre tu me enlaças
Em teus passos macios, sensuais...

Desfilas as belezas, tantas graças
Vontade de querer-te assim, demais.
Acoito meus desejos, minhas caças,
E sinto não terei amor jamais...

Tu olhas para o nunca, nada sentes...
Os dias se tornando bem mais quentes
E a saia se levanta.. Que calor!

Mas sonhos nada custam, o que fazer?
Somente imaginar em forte ardor.
O dia que não vem, tanto prazer...

X

Sem tino e sem juízo, me perdendo,
Percebo em tuas pernas, a tenaz
Que aos poucos sempre vai já me retendo.
Fugir eu já nem tento, e quero mais...

Sentindo tua boca me sorvendo,
Do jeito que eu queria e que me apraz.
O fogo, quente lava, vai correndo
Cada vez mais quente e mais audaz...

As marcas de teus dentes nos meus ombros,
Depois de tanto amor, somente escombros.
Reviro-te querida, corpo exposto.

Me enlouquecendo sigo teus caminhos.
Tomado pelas chuvas, teus carinhos,
Numa garoa intensa no meu rosto...

X

Montado em meu cavalo,o pensamento,
Vagando pelos campos sem destino.
Distante das angústias e tormento
Além do que sonhei ou imagino.

No doce galopar deste momento,
Morena que embalava este menino,
Fazendo meu terreiro, sentimento,
Cabendo em cada canto, em ti me afino.

Da antiga namorada, belos seios.
Em nova sensação tu me revelas.
Cavalo se perdeu sequer arreios,

Galopas noite afora, sem cansaço.
Deitando sobre mim, sequer as selas;
Depois nos entregamos, num abraço...

X

Quem dera prisioneiro em tua cama,
Tomado por desejos quase insanos.
Amara-te nos lençóis, até na lama;
Instintos devorando, tão profanos.

Atado aos teus carinhos, viva chama,
Escravo dos prazeres soberanos.
Certeira sensação em louca trama,
Não permitindo nunca mais enganos.

Na entrega sem limites, com paixão,
Fazendo de teu corpo moradia,
Roubando desta noite a tentação,

Hedônica vontade me domina,
Além de todo o bem que te queria,
Na fome que nos toma, e me alucina...

X

Vieste nestes sonhos benfazejos,
Montada em teu cavalo, nua em pelo.
No fogo sedutor dos meus desejos,
Não tenho mais saída e nem apelo.

Roçando minha pele com teus beijos,
Tocando no meu rosto, o teu cabelo.
Os lábios que me tocam, relampejos,
Forrando minhas pernas, teus novelos...

Os sinos repicando, teus sinais,
Na glória do prazer estrela nua.
Imerso nos teus seios, quero mais.

Na fome de te ter, minha alma sua
E vibra nos esteios, catedrais,
Avança e te invadindo, não recua...

X

Levanta o teu vestido, o vento audaz,
Expondo as maravilhas que escondias.
Tocado pelo fogo mais voraz
Meus olhos rebrilhando em alegrias.

Percebo em tuas coxas tais magias
Além do que sonhara, muito mais.
O pano que teimoso em que cobrias
Ao vento se mostrou mais incapaz.

Retorno para a casa imaginando,
A cena que avistei em plena rua,
Querendo completá-la; tê-la nua...

Enlaço, nos meus sonhos, tuas pernas,
As mãos te percorrendo e te tocando...
As noites se tornando, ardentes, ternas...

X


Querida se percebes meus enganos,
Por que não reparaste nestes teus?
Os erros cometidos, soberanos,
São trevas que transtornam, negros breus.

Se foges dos princípios , dos teus planos,
Teus olhos vão perdidos, são ateus,
Tu causas, sem saber, os desenganos.
Magoas todo mundo, nega a Deus.

Mas logo tu disfarças, minha amiga,
Achando que ninguém vai reparar.
A tanta gente assim, já desabriga

E causa uma tristeza que é sem par.
Eu posso te dizer: sou imperfeito,
Mas tu és igualzinha, o mesmo jeito...

X



Quem pensa que o amor é simples jogo,
Não sabe da potência que ele emana,
Quem brinca sem juízo, com o fogo,
Ardendo totalmente já se engana.

Pois amor nunca admite sequer rogo,
É força que nos doma, soberana.
Nos lagos deste sonho que me afogo
A sorte sem limites, já se explana.

Na chama em que se faz tal sentimento,
Aos poucos nos domina e, assim, clareia.
Teu nome não me sai do pensamento,

Embora me apavore, estou te amando.
A brincadeira agora me incendeia,
Não sei nem responder mais até quando...

X

Tuas palavras sempre me enlouquecem,
Convidam para a festa mais profana.
As dores nos teus braços já se esquecem
A sorte de te ter jamais engana.

Os meus sentidos todos te obedecem,
Tu és a minha Fada soberana,
As pernas sensuais em rendas tecem
A noite que desejo, amor se explana.

Adentro tuas matas, teus mistérios,
Vasculho ponto a ponto teus segredos.
Amar é nunca ter sequer critérios,

Trazendo para a vida o gozo pleno,
Passeio no teu corpo, sábios dedos,
Molhados, saciando o teu sereno...

X

Quando acendeste em mim o teu desejo,
Minha alma iluminou-se sem perdão;
Na febre que tomaste em cada beijo
Uma verdade escondida por refrão.

Agora que esta sorte não prevejo
Sou vítima, querida tentação,
Além de todo o céu que não mais vejo,
Meu mundo se perdendo em explosão...

Vieste, namorada que sonhei,
Estrela que me guia bem além.
Mudando toda a sorte desta lei

Que diz que a noite triste sempre vem
Depois do dia calmo que passamos,
O certo é que talvez já nos amamos...

X

Vontade de sentir tua nudez
Deitada do meu lado, sensual,
Molhando tua pele, tua tez,
Lambendo em teu suor divino sal.

Amar-te novamente e toda vez,
Beijando todo o corpo por igual,
Até perder o senso e a lucidez,
A língua a percorrer, fenomenal...

Vontades me alucinam, meus desejos...
No ardor que nos domina, tanto afago.
Teu toque delicado, doce e mago,

Numa explosão de fogos, nossos beijos
Entorno este querer em chafariz,
Fazendo nossa noite mais feliz..

X

Vasculho, no teu corpo, intimidades;
Procuro pelos rastros que deixei.
Encontro velhas marcas de verdade,
Dos tempos que contigo, amor passei.

Teus seios delicados... que saudades,
Teus mares onde, louco, mergulhei.
Aonde desfrutei felicidades,
Prazer era constante, nossa lei.

De tanto que engolimos nossos sonhos,
De tanto que comemos com fartura,
Os dias que passamos, tão risonhos,

A noite sem te ter, quedando escura.
Agora que te encontro, quero mais,
Não te deixo partir, amor, jamais...

X

As mãos que se procuram, clandestinas,
Derramam seus desejos pelos dedos.
As águas que escorrendo, cristalinas,
Expondo pelas ruas, meus segredos.

Tu tocas mansamente e me dominas,
Provocas entretanto tantos medos.
Beber de tuas fontes, doces minas,
Criando novamente meus enredos...

Amar além de tudo, risco pleno,
Sangrando em mil desculpas os engodos,
As pérolas criadas nestes lodos,

Sorvendo calmamente o teu veneno.
Nos ápices dos gozos sensuais,
As mãos que se procuram, querem mais...

X

Tomar-te em conta gotas, maravilhas...
Sorvendo teu prazer, sofreguidão.
Seguindo tuas matas, doces trilhas,
Inebriado e cego de paixão...

As mãos buscam destinos andarilhas,
Fomentam meu desejo, uma emoção.
Deitando meus prazeres, tuas ilhas,
Num ápice transbordam convulsão...

Sentindo o teu calor, beber teu ar,
Riscando no teu corpo relampejos,
Depois tal qual demente naufragar,

Meu mundo salpicado de desejos.
Morrendo na alegria de teus beijos,
Num gozo tão gostoso de provar...

X

Tu és minha loucura, o supra-sumo
De todos os desejos que pressinto.
Viver assim distante é perder rumo,
Deixando meu vulcão quase que extinto.

Mentira se eu disser que me acostumo,
Teu cheiro em cada canto, amor eu sinto,
Te vejo em espirais no leve fumo,
Te bebo em cada gole, meu absinto.

Comer-te doce fruta em cada gomo,
Abrindo tuas belas framboesas.
Meu mundo sem teus laços não retomo,

Cavalo que se vai, sem ter arreios,
Sou rio que se perde em correntezas
Distante
de teu colo, de teus seios...

X

O vento que te fez em poesia,
Em versos desenhou o nosso amor,
Sorvendo em tua boca esta alegria,
Bebendo de teu corpo, um bom licor.

Fazendo da receita a fantasia,
Do lago que freqüento sem pudor.
Fartando-se do mel que mais queria,
Te trago noite e dia, aonde eu for.

A calda que me dás, gozo e compota,
De todo amor que a gente sempre quer.
Perdendo nos teus braços, rumo e rota,

Encontro com malícia essa mulher,
Banquete bem servido e devorado,
Com fúria e com paixão, extasiado...

X

De novo retornei a ser criança
Envolto nos teus braços, noite amena,
Depois de ser escravo da lembrança
A sorte benfazeja, amor acena.

No verde dos teus olhos, esperança,
Delícia só se encontra na morena,
Menina, reconheço cada trança,
A flor da minha sorte, uma açucena...

Não falo e nem reclamo da velhice,
Apenas recomeço dia a dia,
Amor que me invadiu sempre me disse

Que o tempo recomeça a cada instante,
Na boca carmesim uma alegria,
No corpo da morena amada amante...

X

Às vezes mal disfarço o sofrimento
Que trago em minha vida, solidão.
No riso em que proponho e me contento,
As marcas desta dor, do eterno não.

No canto em que vislumbro este lamento,
Resquícios do que fora uma paixão.
Meu mundo se perdendo em tal tormento,
O sonho que já tive morre vão...

Mas finjo com meus versos otimistas,
Contenho minhas lágrimas, sorrio.
Tentando não deixar sequer as pistas

Por onde encontrarás toda a verdade,
Se trago no meu peito imenso frio,
Só resta um doce alento na amizade...

X

Embora me negasse teu amor
Não me sinto, por isso, derrotado.
Nem sempre se encontrou um vencedor
Deixando um sentimento bom de lado.

Guardando esta verdade aonde for
Quem perde pode ser recompensado.
Distante de quem vive em desamor,
Uma esperança brota do passado.

E saibas que isso tudo me faz ver
Que a vida traz lições, querida amada,
O dia sempre irá, pois, renascer,

No brilho de outro sol, noutra alvorada.
Quem tudo nesta vida pensa ter,
Depois de certo tempo, vai sem nada...

X

Amor quando impossível traz tristeza,
E faz de um sonhador um vago ser;
Nadar assim, ir contra a correnteza,
Depois de tudo sempre faz sofrer.

Um rei sem ter reinado nem princesa
Vai vendo o seu castelo fenecer.
Uma alma tão sozinha, sem defesa
Prefere tantas vezes ir, morrer...

Julgando-se vazia e desprezível,
Fazendo da amargura seu refrão.
Um sonho tão longínquo e impossível

Muitas vezes nos toma todo o chão.
Por isso, minha amiga, só te peço
Teu colo carinhoso; isso eu mereço!

X

Nas espirais, cigarros me consomem,
Pela fumaça, vejo teu semblante,
Fui um dia, talvez, tão inconstante,
Mas as minhas lembranças, fogem, somem...

Pois quisera poder ser um outro homem,
Ser tão menino, embora ser gigante
Ser teu par, teu parceiro, teu amante,
Mas todas as lembranças, matam, comem

O que me restaria, contrafeito
Do que pudesse vida, me restar,
Mas trago em meu cigarro esse defeito:

Tentar caber no brilho do luar,
Tentar fingir que estou mais satisfeito;
Vou tentando obrigar-me a não te amar...

X

Quem amor com amor retribuir
Será bem mais feliz; eis a verdade,
No brilho desta luz a reluzir
Segredo para a tal felicidade.

Amar é conceder e repartir,
Acalma toda a dor em tempestade.
Toda a alegria assim a repartir,
Num ato de carinho e de amizade.

Assim a solidão fica distante,
A glória se faz clara e transparente.
Tomando o coração de toda a gente.

Jamais se apaga o brilho radiante
De quem fez de um amor o bem constante.
Por isso não desista, amiga, tente.

X


Tocando nos teus seios, festa boa.
Menina tão sapeca quer brincar.
O pensamento solto sempre voa,
Querendo sempre, sempre, namorar.

A vida vai passando assim, à toa,
Com jeito de querer comemorar.
Estamos, meu amor, mesma canoa,
Cuidado senão pode revirar...

Expondo em transparência, a silhueta
Em formas magistrais, moça bonita.
Percorrendo teu corpo qual cometa,

Meus dedos e os meus lábios cima em baixo.
Meu coração se apressa e já palpita,
No esconde-esconde, rápido; amor acho...

X

Reflito os mil fulgores desta lua
Que invadiu o teu quarto sem licença
E flagrou-te deitada, toda nua,
Ganhando o teu perfume em recompensa...

Do lado que me cabe desta rua
Não há sequer no mundo que convença
Minha alma a desistir, e continua
Até que meu desejo enfim te vença.

As horas se passando, são eternas,
Os raios do luar, te possuindo...
Quisera ser um deles nestas pernas

Marcando de prazer minha morena
Distante, bem distante vou pedindo,
Abra as portas; te juro... Vale a pena!

X

Plantei minha esperança no jardim
Das flores mais cheirosas deste mundo.
Batendo uma saudade dentro em mim,
Viajo nos teus braços, num segundo.

Na rosa que colhi, cor carmesim,
Perfume delicado e mais profundo.
Canteiro de ilusões morrendo assim,
Sangrando um coração tão vagabundo...

Somente o teu sorriso brotará
Em meio a tantas plantas sem semente.
Perfume de mulher, de resedá,

Beleza que me fez ser mais contente.
Espalhas teu sorriso o tempo inteiro,
Certeza que valeu fazer canteiro...

X

Neste quarto deserto; espelho, sombra e luz

Me mostram o contraste entre o que fomos

E o que penso que somos. Minha cruz

Se faz bem mais pesada. Corto em gomos

Os oscilantes sonhos; me confundem

A cada nova noite. Interessante

Perceber como às vezes me perfundem

Com a tua presença, mesmo distante.

Na luz bruxuleante do abajur

As sombras se misturam. Mal percebo

Amor como se fosse neste tour

Dar e retirar tudo o que concebo.

No espelho vejo as rugas à vontade

Tirando, do amor, possibilidade?

X

Só quero um novo alguém que possa vir

Depois de tanta chuva, para mim.

Não canso de cantar e repetir,

Preciso de um carinho; amor sem fim...

Que venha sem cobrar e sem pedir,

Os erros cometidos? Sei que sim,

Errei, e não concebo mais mentir,

Agora reconheço tudo enfim...

A solidão que queima e me atormenta

Se fez em versos tristes. Mas agora

Que a noite se promete, a dor se ausenta

E deixa uma esperança em seu lugar,

A vida se renova e se decora,

Do sonho de poder de novo amar...

X

A noite está tão fria sem te ter...

A chuva vai caindo lentamente,

Quem sabe meu amor pudesse ver

A dor que me transtorna, totalmente...

Se a chuva perceber o bem querer

Trazia a minha amada novamente.

As águas alagando vêm dizer

Que nada me fará bem mais contente...

Meu sofrimento aumenta com a chuva

Que não respeita nada nem ninguém,

A porta escancarada... A visão turva...

Saudades deste bem, que foi enfim,

Razão da minha vida. E sem ninguém,

A chuva não termina. Chove em mim...

X

A chuva vai caindo e traz teu rosto

Em todos os lugares, eu te vejo,

Meu mundo está desnudo, estou exposto,

Às tramas tão banais deste desejo...

Procuro me sentar, cadê encosto?

A boca está sedenta do teu beijo,

O sol qual esperança morre, posto;

Nublando todo o céu, finda azulejo...

A chuva recomeça nos meus olhos,

Em gotas que se escorrem deste olhar.

As dores me cegando, são antolhos,

A vida vai mudando pouco a pouco,

O mundo num eterno transformar

Só esta uma saudade... E eu... Tão louco...

X

A bela flor de cor tão expressiva,

Inunda o coração de bom perfume,

Te faço esta canção ó sempre-viva

Não deixe que esta dor já se acostume

E venha toda noite, tão altiva

Gerando com certeza o meu queixume,

Minha alma que pretende estar mais viva

Afasta esta tormenta do ciúme...

Brilhando como a lua, areia e mar,

Na noite-imensidão que se aproxima,

Vontade meu amor, de namorar,

Fazendo das estrelas meu colchão,

Voando, vendo a terra lá de cima,

Vivendo coroado de emoção...

X

A mão que carinhosa traz amor,

Não deve ser deixada assim de lado,

Nos dedos divinais de um escultor,

Amor parece sempre engalanado...

Perfume que exalado desta flor,

Merece ser por Deus abençoado.

Inundam nossa vida de calor,

Deixando um coração desenfreado.

Mas quando maltratado, o coração,

Não queira que ele trague maciez,

Se feito com respeito e com paixão,

Amor sempre domina e satisfaz,

Porém quando o desprezo toma a vez,

Quem pode reclamar, quem é capaz?

X

Percebo quanto vale uma amizade

Ao ver a solidão que me devora.

Depois de ter negado a claridade,

Minha alma, sem apoio, sempre chora.

Talvez, quem sabe, nunca seja tarde

Por isso estou pedindo: vem agora,

Mostrando como é boa a liberdade

Sem medo e sem temor, a qualquer hora.

Desculpe este lamento que remeto

Em versos desmedidos e sem métrica.

O que tentei; aborto de um soneto,

Foi para te dizer, querido amigo,

Não deixe que esta vida seja tétrica,

Preciso de teu braço aqui. Comigo...

X


Depois de tanto tempo em lama e treva,
Vagando pelo mundo em duro rito,
Vivendo sem carinho em triste leva
Rendido ao pesadelo mais maldito.

Nem mesmo uma esperança se releva
De uma dor retumbando amargo grito,
Sem sonhos e desejos, sem reserva.
O peito empedernido num granito...

Percebo em tua boca mais voraz,
Promessa de outro mundo mais risonho.
Recendes ao perfume tão audaz,

Que trama na luxúria um louco cio.
Deitando nos teus seios, belo sonho,
Tomando um coração antes vazio..

X

A boca que me beija, venenosa
Transforma cada sonho em pesadelos.
Espinho que brotou em bela rosa,
Medusa em mil serpentes, nos cabelos.

A pele tão macia e veludosa,
Transborda nas escamas, mil novelos,
Quem fora mais bonita e mais cheirosa,
Aos poucos se transforma. Frios gelos...

Do amor que se fizera flamejante
Mulher que se mostrara louca amante,
Tomada num momento por veneno.

Pressinto a languidez de uma serpente,
Matando todo amor que diz que sente,
Da morte sem perdão, um triste aceno...

X


Meus sonhos, belas dálias no meu peito,
Eflúvios da paixão indefinidos.
Num átimo buscando ser eleito
De amore que se fazem dos olvidos.

Num límpido segredo,satisfeito,
Eu adormeço a paz de ter sentido
Em esplendor raríssimo e perfeito
Todo o temor que houvera, resolvido.

Caminho pelas sendas florescidas,
Buscando pelas fontes sempre frescas,
Montanhas, cordilheiras gigantescas,

Não ousam impedir as nossas vidas.
No sonho em que esse amor já me enternece
Eu agradeço a Deus, louvor e prece...

X

Teus seios sem recato em opulências,
Entornam tua láctea brancura.
Amor que já se fez sem reticências,
Envolto em duras garras, me tortura.

Discretos os teus gestos de decências,
Fugazes, emergidos em ternura,
Roubando das estrelas florescências
Escrevem meu amor em mão impura.

Sentindo o meu destino em ledo corte,
Sacrários mentirosos e marmóreos,
Engodos em caminhos antes flóreos,

Na presa da mulher feita serpente,
Amar festa impossível, que pressente
Momentos que anunciam minha morte

X

Desfraldam-se desejos, madrugadas,
As horas vão passando, derradeiras,
As fúrias se mostrando arrebatadas,
De todas as insânias, as primeiras.

De todas as vontades vasculhadas,
Loucuras sempre foram as primeiras;
As tramas que traçamos, altaneiras,
Mostrando tuas pernas enlaçadas...

Avanço o território mais gentil,
Tomando cada ponto, na batalha,
Amor vai se mostrando mais sutil,

No corte desejado em que se entalha
As marcas de um querer inebriante,
Saber tuas defesas, doce amante...

..X


A dor que quando vem nos entristece,
Ferindo muitas vezes nos humilha;
Negando ao próprio Deus, calando a prece,
Matando de um amor, a maravilha.

Tanta tristeza e mágoa sempre tece.
Aos corações amantes, cega, humilha
Uma esperança assim, cedo fenece;
Nem mesmo a fantasia compartilha...

Sozinhos, sem ter rumo, nada vem,
O gosto tão amargo, uma quimera.
Distante do que fora nosso bem,

O sol já se perdendo em falsidade.
Só resta em nosso peito a leda espera
Do brilho salvador de uma amizade...

X


Meus sentimentos vãos, loucos, terríveis,
Formando assim tão trágicos aspectos,
Percebem teus sorrisos impassíveis,
Distantes de meus males, mais secretos.

Embora parecendo incoercíveis
Meus medos vão tomando todo afeto.
Os sonhos se parecem insensíveis
Não trazem nenhum fato mais concreto.

Um coração se perde nas fanfarras
Dos dias em que fora mais feliz.
Rompendo, no final tantas agarras,

As dores que se foram, dilaceram,
Apenas noutros dias que se esperam,
Amor que bem distante, eu sempre quis...

X


Meus cabelos tomados pela prata,
As marcas de outros dias dolorosos,
A solidão que conheci já se retrata,
Dos sonhos que morreram, venenosos...

Vida de quem não ama, eu sei; maltrata,
Distante dos caminhos luminosos,
Perdido em ilusão, escura mata,
Somente estes momentos tenebrosos...

Amor que parecera ser bizarro,
Moldando nos teus braços, fino barro
Do qual eu renasci, minha querida.

Do medo que vivera no passado,
Cumprindo minha sina do teu lado;
Salvando, finalmente minha vida..

X

A noite que te trouxe, amargurada
Em fantasia imensa e vaporosa,
Deixando minha vida abandonada
Matando em meu jardim jasmim e rosa.

Depois de certo tempo, um quase nada
Traçando uma esperança dadivosa,
A noite se mostrou mais constelada,
Já menos sofredora e dolorosa...

Dormências em meus sonhos mais secretos,
Aos poucos emoções me dominando.
A chuva mansamente em meu deserto,

Encharca uma alegria em seus espaços.
A vida para mim abrindo os braços,
O sol em alvorada vem raiando..

X

Lamber-te por inteiro, ser teu homem...
Molhando tua flor tão desejada.
Incêndios que nos tocam e consomem,
Na fúria que te fez por mim amada.

Desnuda-te, perfumas e me domas,
Em teu castelo, invado o teu jardim.
Bebendo gole em gole, tu me tomas
Sorvendo intensamente, até o fim.

Sem mais reservas, deixo-me tragar
Te dando todo amor que mais querias.
Alago com prazeres o teu mar.

Nadando em cada sonho, verso e canto,
Mergulho sem limites, fantasias,
E me entrego, sem rumo, ao teu encanto...

X

Teu corpo desejado e tão lascivo,
Deitando em mil carícias violentas,
Num gozo tão terrível e aflitivo,
Em magos sentimentos, me arrebentas.

Teu corpo que possuo, e nisso vivo,
Mostrando estas vontades mais sangrentas,
Hedônico, sedento e convulsivo,
Na força que demonstras e me ostentas...

Num sôfrego fascínio, uma demente,
Um hálito sedento, doce e quente.
Um toque mais audaz, voluptuoso,

Recebo teus carinhos, teus afagos,
Em aguardentes goles, grandes tragos
Que explodem sem limites no teu gozo...

X


Teus olhos me cortando qual espada
Penetram no meu peito, são punhais.
Mostrando minha sorte retratada
Em brilhos tão possantes, divinais...

Recebo em teu olhar forças leais
Que invadem toda negra madrugada
Com lumes mais perfeitos, magistrais...
Aquecem mesmo a noite mais gelada...

Olhar que me denota toda a crença
De quem eu aprendi, bem cedo amar
Fazendo em sua chama a diferença.

Rebrilham toda sorte que há em mim,
Além desta beleza de um luar,
Ajudam-me a querer-te tanto assim...

X


Amiga não invejes mais ninguém,
Às vezes um sorriso só disfarça
Do nada tanto nada sempre vem,
Fingindo ser feliz quem já se esgarça;

Vazio sem sequer saber um bem,
Tentando se esconder de uma desgraça
Na busca da alegria, que não tem;
Volúvel e tão frágil se esfumaça...

Assim há tanta gente neste mundo
Que tenta demonstrar felicidade.
Se perdem da verdade em um segundo,

Sorrisos mentirosos, todos falsos,
Distante do que for sinceridade,
Preparam os seus próprios cadafalsos...

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