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Friday, December 21, 2007

SONETOS 014

Eu te amo, minha amada sonhadora;
De uma doce ternura em tanto amor.
Imagem tão gentil e sedutora
Na santidade insana a nos compor...

Eu te amo com meus lábios e teu cheiro,
Nos livros e nas cartas, nos poemas...
Vontade de me dar, de ser inteiro
Fazendo deste amor, os meus dilemas...

Amar quem tanto adoro, bela e nua,
Deitada no meu colo se esqueceu
Das horas, meses, dias... E flutua
Com leveza de quem sempre se deu...

Eu te amo com ventura e com paixão,
Nas loucas tempestades de verão...

X

Eu quero teu perfume, doce rosa,
Florinda num jardim que é todo teu.
De tantos descaminhos verso e prosa,
Amar assim demais, a quem se deu...

Eu quero uma esperança em desventura
Trazendo
uma tristeza delicada.
Mostrando uma alegria sempre pura
Na rosa que se mostra apaixonada...

Eu quero ir morrendo nos teus braços
Depois de tantas horas de prazer,
Colhendo nosso amor nos teus abraços,
Vivendo em plenitude, amanhecer.

Eu quero teu amor, fragilidade,
Roubando em teu perfume, eternidade!

X

Meus olhos te procuram... Minha amada.
Em meio a tantos olhos, quero o teu.
Nas ruas, nas esquinas, bares, nada...
Onde foi que esse olhar o meu perdeu?

Muitas vezes pensava ser sozinho,
Nos meus dias total obscuridade.
Cansado de viver sem um carinho,
Trazendo a solidão sem ter saudade...

Meus olhos em teus olhos, de repente...
Os brilhos refletidos, espelhados.
O mundo, num segundo, diferente;
Trazendo tantos sonhos... Rios, prados...

Porém tu foste embora... O quê que eu faço
Sem ter os olhos teus, por onde passo?

X

Ouvindo na janela, a sua voz,
Longínqua e tão distante, como um eco.
Surgindo do passado, manso, atroz.
Tal qual se fora um baque, meio seco.

O som se repetia claramente
Chamava por meu nome, me assustei.
De tanto que sonhara, num repente,
Um sinal de quem tanto, tanto amei...

Só meu nome dizia nada mais,
Numa doce armadilha da saudade...
Como a dizer do amor que foi demais,
Como a falar em toda eternidade...

A voz do meu amor, meus desenganos,
A voz de quem morreu, há tantos anos...

X


Teus carinhos... Ah! Tantos teus carinhos...
Nossas bocas sedentas se tocando,
Nos carinhos que tocam nossos ninhos
Dos desejos que temos, se trocando...

Carinhos do teu beijo tão suave,
Na vontade gostosa de se dar.
De tirar dos caminhos um entrave
E seguir simplesmente, tanto amar...

Teus carinhos, na noite que persigo,
E já faz tanto tempo, meu amor...
Deste amor que é profano e tão amigo,
Deixa-se seduzir e é sedutor...

Meu amor, como é bom ter-te a meu lado,
Teus carinhos, meus sonhos acordado...

X

Minha amada eu desejo boa sorte
A quem sempre comigo esteve aqui.
O destino desata e bate forte,
Mesmo assim agradeço o que vivi...

Não desejo que sofras mais querida,
A saudade por certo sempre chega.
É preciso que sigas sua vida,
Noutros mares, amores, tanta entrega...

Eu só quero que guarde na lembrança
Esse amor que num dia já foi nosso.
Vivendo sem saber de uma esperança,
Querer-lhe bem feliz, o que mais posso...

Tanto tempo vivi amor consigo,
De tudo o que restou, sou seu amigo!

X

Dos amores que tive, foram tantos...
Eu me lembro que fomos bem felizes.
Embora eu te causasse tantos prantos
Tantas noites passadas nas marquises

Esperando dizer, em serenatas,
Dum amor que trazia tantos versos,
Falando desses rios e cascatas
Em dezenas de sonhos, tão diversos...

Mas, se te fiz feliz, disso eu não sei...
Errei tanto, mas tanto que te amava
Mesmo assim muitas vezes machuquei
Quem, em mim, alegria só buscava...

Minha amada desculpe tanto dia
Que deitei noutros braços... Poesia!

X


Ah! Como é bom poder falar teu nome...
Solto por sobre as pedras, vales, rios...
Ao longe quando falo, no eco some
Percorrendo distantes, os vazios...

Teu nome, minha amada companheira,
Traduzindo as belezas mais gentis.
Dando essa sensação tão verdadeira,
A de que poderei ser mais feliz.

Amada, como adoro ter chamar,
Nas horas mais doídas desta vida.
Distante dos meus portos, do meu mar.
Nessa ausência de mim mesmo, querida...

Teu nome não me sai do pensamento,
Percorre todo o mundo, solto ao vento.

X

Quanto tempo levei p’ra te tocar,
Nossos lábios secando sem saliva,
Saliva abençoada por amar...
Amor... Nessa tal força radioativa...

As chuvas e as pedras, tantas dores,
Distantes dos teus lábios, tão sedento.
Vivendo muito tempo sem as cores
Que trazem nosso amor, solto no vento...

Depois de ter fugido de mim mesmo,
Depois de ter bebido a tempestade
Da vida assim vivida, tão a esmo,
Lutando pelo lume, claridade...

Agora, finalmente, meus desejos,
Trazendo meu estio, nos teus beijos.

X


Nos áridos caminhos desse amor
Que trama tantas urzes quanto espinhos
Trazendo tanto frio no calor,
O medo de morrermos tão sozinhos...

O fogo que queimando nos impede
De termos nossos rumos sempre abertos,
Amor que tanto cobra e tanto pede
Deixando nossos olhos descobertos.

Amor que dilacera, seta, espadas,
Nos campos mais terríveis de batalha;
Nas buscas das manhãs, das alvoradas,
A dor que recolheu também espalha...

Amor de flamejante tentação,
Abrindo em seu caminho, o coração!

X

Nas sendas delicadas, meu jardim,
As flores me encantando em seus perfumes
Trazendo uma alegria para mim,
Envolta nas tormentas dos ciúmes...

As águas que regaram tantas flores
Nascendo do meu peito, meu amor...
No céu as borboletas multicores,
Namoram, sobrevoam, cada flor...

Milhares de desejos polinizam
Em êxtase completo, nossos sonhos...
As flores mansamente se agilizam
E formam primavera dos meus sonhos...

Amor como é gostoso estar contigo,
Deitado em teu jardim, meu santo abrigo!

X


As águas destes rios, transparentes,
São gotas de cristal ao sol feroz..
Nas mansas corredeiras, nas correntes
Que levam calmamente para a foz.

Amada, nos teus olhos, mesmo brilho
Do rio que se entrega ao quente sol.
Amor que tanto tenho segue o trilho
Dos teus olhos, sou qual um girassol...

Nas águas, nas salivas, nos teus beijos
Mergulho tantos sonhos, tanta luz...
Envolto nas delícias dos desejos,
Amor de tanto amor que reproduz

O brilho das estrelas, lua e rio...
De noite se explodindo em louco cio...

X


Sussurro desse vento na folhagem
Murmúrio tão sereno deste amor
Que me traz tantas cores na bagagem
Deixando maravilhas onde for...

Amor que acaricia minha vida,
Com frases e carinhos tão sortidos,
Sabendo que te quero, amor, querida,
Os ventos caminhando, distraídos...

Imerso nos meus dias deste outono
As folhas despencando para o chão,
Promessas de tristeza e de abandono,

Às portas da terrível solidão.
Eu penso no teu rosto... Quem me dera!
Um último estertor de primavera!

X


Eu nunca irei contigo em teu caminho,
Arrasto essas correntes do passado.
Fantasma que nasceu, viveu sozinho,
Por certo irá morrer mais isolado...

Amiga teu amor eu não mereço,
Meus passos são doridos pra quem sonha...
Preparo tanta dor, tanto tropeço,
A lua, em vinho tinto, tão medonha...

Quem sabe, encontrarás felicidade,
Nos braços que dominas, não os meus...
Talvez envolta em laivos de saudade,
Descubra que meus olhos são ateus...

Farei a caminhada em dor mais forte;
Rumando sem ter pressa, para a morte...

X

Se não bastasse o brilho dos teus olhos
Se não bastasse o gosto desta boca.
Alegrias e tristeza, sei de molhos,
Na triste fantasia, mansa e louca...

Não bastasse o perfume que exalavas
Não bastassem as flores que plantamos
Nos jardins delicados onde achavas
Os espinhos que lembram: nos amamos...

Não bastasse esse mar onde naufrago
Não bastasse esse sol que tanto queima
Viveria sem saber do teu afago,
Morreria sem te ver, estima e teima...

Como podes pensar: te esquecerei...
Não bastava te amar como te amei?

X

Não quero a sensação sombria da saudade,
Desejo simplesmente tanto amor...
Que traga, ao fim da noite, a claridade;
E toda a fantasia que dispor...

Eu quero a mansidão deste regato
Fluindo calmamente dentre as rochas.
O cheiro tão gostoso deste mato
As horas mais dolentes, calmas, frouxas...

Selando nosso pacto minha amada,
Marcado a sangue e fogo, guerra e paz...
Depois de tantas lutas, madrugada,
Arfando nos desejos, quero mais...

Quero este prazer que me alucina
Nos olhos da mulher, minha menina!

X

Suave poesia nos tocava
Na noite em que vivemos nossos sonhos...
A lua nos seus raios me avisava
Dos braços e carinhos, mais risonhos...

Ao lado dessa fonte, nossos beijos,
A lua testemunha mais silente.
Aflora tanto fogo nos desejos
Nos braços deste amor tão envolvente...

Ao longe nos reflexos desta lua,
A solidão calada qual viúva
Ao ver tua beleza, toda nua,
Enciumada nos manda a triste chuva...

Não há de quê, amando sobre as águas...
Restando à solidão, somente mágoas...

X

A luz que irradiaste sobre mim,
Na turgência dos seios tão famintos..
O brilho desta lua sobre mim,
Em plena embriaguez dos absintos...

Dançávamos na noite, tontos passos,
Nas valsas e nos beijos, danças, sonhos...
Nas pernas e nos braços, loucos, baços...
Nas camas e nas chamas, vis, medonhos...

Nas mãos sertões, promessas, minas...
As bocas procurando turbilhões,
Em danças alucinas, e dominas,
Valsando desatinas excursões

De mãos e doces línguas que se caçam
Nas dança nossas chamas, esvoaçam...

X

Poder acarinhar os teus cabelos,
Deitado no teu colo, bocas, seios...
Envolto na beleza dos novelos
Que tecem nossas teias sem rodeios...

Na lua que rebenta, lume e céu,
O brilho se reflete nas melenas,
Prateando de beleza, como um véu.
Meu coração registra tantas cenas...

Nas sombras desta lua e desse manto,
A cama onde dormimos tão cansados
Depois de tantas noites neste encanto
Depois de tontos sonhos bem amados...

Prá que dormir, pergunto... Nada dizes,
Verei outra aquarela em tais matizes?

X

De tanto que queria teu carinho
De tantas ilusões que me vendi,
Num vôo sem ter rumo, passarinho,
Do bando que migrava me perdi...

Aos olhos sem promessas que deixara
Nos ninhos que jamais retornarei.
Amar vai se tornando jóia rara
Aos braços de quem fui e não voltei...

Amor nas tuas asas sem destino,
Quebradas, machucadas vão as minhas...
Meus sonhos escondidos, de menino,
Se perdem, noutras asas não me aninhas.

Amor quem dera um dia retornasse,
E jamais desde meu ninho revoasse...

X

Bem conheço teus passos cara amiga,
Vivendo destes restos que morri.
A noite te transforma e me periga
Nas garras destes sonhos que sofri.

Lembro-me quando vinhas pelas ruas
Demonstrando-me garras e rugidos.
Nossas almas estavam quase nuas,
Os corações, sozinhos, distraídos...

Alimentados sempre pela dor,
Jogados quase a esmo pela vida.
Fizemos nosso trato em puro amor,
Tu eras minha fera tão querida...

Porém veio esse vento que em frangalhos,
Deixou o nosso amor, sem agasalhos...

X

Eu amo tuas luzes que sei raras,
Nos astros que caminhas, sem destino...
As noites em teus olhos, sempre claras,
No brilho libertário e cristalino...

A pele que palpita cicatrizes
Marcada pelos ventos que vieram,
Os tempos que pensamos mais felizes,
Guardados, escondidos, desesperam...

Amada como é bom te ver aqui,
Desnuda com teu fel, plena fervura...
Depois dessa ventura que perdi,
As luzes se escondendo em noite escura.

Recorro a triste chama da saudade,
Buscando em nossos restos, claridade...

X

Amo-te obscuramente nas caladas,
Nas sombras e nos restos que sobraram...
As flores por demais são perfumadas
Encantos que produzem as anteparam.

Os brilhos das estrelas e da lua,
A riqueza de rainhas e princesas,
A beleza tão cruel tão densa e nua,
Chamas em tantas camas, bem acesas...

Não, meu amor jamais fomos assim,
Velamos nosso amor tal qual um filho,
Na mansidão completa de um jardim,
Sem mata, sem cascata, mar e trilho...

Apenas um amor manso e tão leve
Nos dando a sensação que a vida é breve...

X

Vieste em tempestade sem ter calma...
Trazendo tanta luz e tanta neve...
O frio da partida dentro da alma
No fundo, vou voando bem mais leve...

No movimento brusco que sumiste
Assustadiça sempre, de tocaia...
De tanto que te amei, sincero e triste,
Te peço que não voltes, que vá, saia...

Amor não se maltrata, nem desdém,
A brisa que te trouxe também leva...
Ter sempre sobressaltos... Ah Meu bem,
Prefiro ao lusco e fusco a plena treva...

Não digo-te, entretanto: sou feliz,
A vida sem amor, perde o matiz...

X

As espumas do mar lambendo os pés
Nas ondas nas estrelas branca areia...
A vida que me deu barco e convés
Agora vem me dar bela sereia...

Amor sou tão feliz por que te quero,
Nas águas mais salgadas deste mar.
No ronco destas ondas, tanto espero
O canto da sereia... Quero amar!!!

Porém, nesta ternura algo assusta,
Amor, amar o mar maré e a praia,
Alegria demais, quanto me custa?
Talvez a solidão faça tocaia

E leve meu amor como me trouxe,
Matando essa ilusão em água doce...

X

Não falo da beleza que não tenho,
Nem canto uma esperança, já morreu.
Saudade nunca soube de onde venho,
Tristeza há muito tempo, me escolheu...

Não falo da manhã que nunca veio,
Não falo dessa boca, não beijei...
Não falo em maciez nem no teu seio,
Não falo dessa luz que eu jamais sei...

Não falo desse canto, desafino...
Não falo desta música, não danço...
Não falo de juízo em desatino.
Não falo em paraíso, nunca alcanço...

Não falo desse amor que foi tão pouco,
Não falo em lucidez, de amor vou louco...

X

Não quero mais a dor em desamor...
Não posso mais viver sem primavera
Brindando cada dia à bela flor
Que nasce em poesia... Ah! Quem me dera!

Porém os ventos frios deste inverno
Insistem em chegar, não mais retornam...
A vida se transforma neste inferno
Que os olhos da saudade já me entornam...

As sombras me acompanham, não me largam,
Amada que sonhara, não mais volta...
As lágrimas, enchentes, tudo alagam,
Deixando simplesmente dor, revolta...

Eu vejo teu sorriso, na pantera,
Que nunca mais voltou... Sou quimera?

X

Amando-te à distância, sem te ver,
Não podendo tocar nem o teu rosto.
Sentindo tão distante o teu prazer,
Vivendo eternamente, pleno agosto...

Sem ter nem perspectiva em primavera,
À sombra do que fui e já morreu...
Meus versos escondidos; dor, quimera,
O resto do que somos se escondeu...

Neste meu desabafo em agonia
Escolho
meus cascalhos e meu rio...
A noite se promete dura e fria...
O peito que te dei segue vazio...

Amor! Tua distância, eu tão sozinho...
Um pássaro em procura, perde o ninho...

X

Meu amor, onde estavas que não vinhas...
De tanto te buscar em meio aos sonhos,
Por campos, tantas sendas, mares, vinhas,
Nos bosques e nos prados mais risonhos...

Amor que traz cereja nos teus lábios
No beijo prometido e nunca dado,
Os dedos que se julgam bem mais sábios
Vivendo tão somente um triste fado...

De ter, depois de tanto procurar,
A tua ausência sempre anunciada
Em busca de teus braços, perco o mar
E nada me consola, nada, nada...

Apenas a certeza, mesmo triste,
Amor que tanto quis, eu sei que existe!

X

Andava pelas ruas sem destino,
Bem sei que nada tinha nesse mundo...
Perdido vou seguindo e nem me atino
Em tanto sofrimento, mar profundo...

Chegaste prometendo a salvação
Nos braços e nos beijos me entreguei...
Depois de tanto tempo de ilusão,
Em vão eu percebi o quanto errei...

Querias simplesmente uma vingança
De um bem que já se foi e não voltou.
O que fora semente de esperança
Por ter faltado amor, logo gorou...

Amada mesmo assim eu te agradeço!
Me fizeste mais feliz do que mereço!

X

Nada mais que tristeza, meu amor...
Nada além do vazio em desespero
Dessa
vontade louca em desamor,
Da falta de alegria e de tempero...

Nada além de sombras do que fomos
Espalhadas pela alma em abandono.
Jogada nossa história em tantos tomos
Deixadas simplesmente... Perco o sono

E nada mais virá, sequer saudade....
No fundo desejávamos por isso.
Eu nunca pude ter felicidade
A folha que não brilha, perde viço?

Ah! Mas tenha uma certeza minha amada...
Depois de toda noite; uma alvorada!

X


Tua nudez tão simples, delicada...
Nas transparências todas, lisa, mansa.
Deposta sobre a cama extasiada
Exposta a plenitude, amor e dança...

Teus seios sob a blusa, belos montes,
Em meio a tais colinas, minha boca...
Beijando sutilmente, belas fontes,
Arfante, desejosa, a voz mais rouca...

Revigoras meus olhos já cansados,
Depois de tanta vida sem ter porto...
Amores que se foram... Outros fados,
Deixando uma impressão que estava morto...

Mas trazes novo sonho em transparência...
A vida vai mudando de aparência...

X

Vagando nosso amor, tantos planetas,
Em busca da perfeita conjunção...
Depois de tantos rastros e cometas
Encontro-te deitada, mesmo chão...

Querida que busquei, tanto deserto,
Tantos mares, sem nada mais pensar...
Agora que te vejo aqui, bem perto...
Não posso minha amada, mais sonhar.

Meus olhos já não fecho e nem preciso,
Eu sei que te encontrei e estás comigo.
Não busco mais sequer o paraíso,
Pois ele, com certeza é meu abrigo.

Vivendo do teu lado, minha amada...
Que mais quero da vida? Nada, nada...

X

Viemos deste chão tão dolorido,
Da fome, da miséria e do temor...
De tudo que nós somos, eu duvido,
Que exista, neste mundo, tanto amor!

Sangrados pela dor que não tem cura
Da cama que nascemos, mesma luz.
Dois filhos da aflição da noite escura
Que medo desde medo, reproduz.

Da bala tão perdida quanto achada,
Das lutas e guerrilhas do sertão...
Dessa dura certeza de ter nada,
Da vida sem futuro, escuridão...

Nós somos unha e carne, mesmo barro.
Criando nosso amor, escárnio, escarro...

X


A minha companheira tem o brilho
Das manhãs orvalhadas no quintal,
Se no seu canto tanto maravilho
Trazendo tanta luz, puro cristal...

A minha companheira tão viçosa
Robusta com a força lavradora,
Perfume que, emanando, lembra rosa
Certeza de quem sabe, vencedora!

Me dando o mel agreste da vontade
Que sabe bem pedir quanto ordenar...
Fazendo assim total felicidade
Sem medos e segredos, basta estar...

De minha companheira, o sal, sorriso,
O gosto de quem sabe o que preciso...

X

Trouxeste uma esperança adormecida
Nascida desta vida em solidão
Na
boca que me morde, distraída.
Resquícios doloridos da paixão...

Que toma, que transborda e não me deixa,
Falando desse amor como se pensa,
Depois de tantas horas, tanta queixa,
A vida necessita recompensa...

Nos nós que desatamos, nós que somos,
Espelhos de nós mesmos refletidos...
Vivemos desta fruta vários gomos
Em tudo somos nada, repartidos...

Mas quero nosso amor que é manso e fera...
Deitados sobre a relva; urgência... espera...

X

Depois de tantas idas pelas ruas
Buscando por tabaco e por cachaça,
Decerto tu pensaste que flutuas...
Amor, a vida sempre descompassa.

E não é farsa este baile que prometo
Pode ser até sonho, mas, quem sabe?
De todos esses erros que cometo
Mais um ou outro sempre sei que cabe.

Agora vou colher a primavera,
Plantada nas esquinas, nos faróis...
Da vida quase nada mais se espera,
A não ser nossas tramas nos lençóis...

Abelhas, doce mel, e ferroadas,
Amor, a nossa cama, as madrugadas...

X

Se trazes nestas mãos a primavera
Que tanto desejei mas nunca veio...
Do canto e do bafio desta fera
A mansidão suave, o belo seio...

O gosto do veneno tão sublime
O ranço da esperança não cumprida
Vontade de que sempre enfim ultime
Tramando tanta dor em despedida...

A morte como mote predileto
Amor que talha sempre na mortalha
De rumos e desejo o mais dileto,
Viver eternamente na batalha...

Mas, doce como o fel, amarga e tonta...
No amor que procurei, a vida apronta..

X

Teus olhos escapando pelas ruas
Vagando de boteco pra boteco
Até nas madrugadas, bocas cruas,
Que pedem d’outras bocas sempre o eco.

Teus olhos vasculhando sob as mesas
Procuram os meus pés. Vão escondidos...
Na cama nos servimos sobremesas
Rasgando e devorando, mal vestidos.

Nessa nudez completa se completa
A festa deste amor conciliado.
A faca que me corta é a que espeta
Depois da cicatriz, viro pro lado...

E sonho com mulheres impossíveis,
E ronco tantos sonhos mais incríveis...

X

Amor eu te escrevi, não lembro quando,
A carta em que dizia meu amor...
O tempo sem demora foi passando,
Em tudo que escrevi tentei compor...

Fiz versos e manejos mais românticos
Rimando amor e dor como se manda.
Eu peguei até trechos dos tais cânticos
Misturei com baladas e ciranda,

Pra poder te falar disso que sinto...
Falei deste teu sol, da minha lua,
Tanta verdade falo e nunca minto,
Falei até que eu te queria nua...

Meu coração bateu numa alegria...
Mas precisa aprender caligrafia...

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